Em todo caso, seguem agora, tal como publicadas no Boletim ADB (ano 20, n. 82, julho-agosto-setembro 2013, p. 30-32; ISSN: 0104-8503).
Já publiquei dezenas de miniresenhas como estas, mas não tenho certeza de te-las postado todas. Em todo caso vou fazer um levantamento.
Paulo Roberto de Almeida
1) Geraldo Holanda Cavalcanti: A herança de Apolo: Poesia, Poeta, Poema (Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2012, 462 p.; ISBN: 978-85-200-1161-4)
Poesia rima com diplomacia? Talvez. A
obra discorre sobre poesias e poetas em todos os seus estados, inclusive os
maus poetas e os suicidas. Impressionante o volume de citações: as obras
citadas chegam a quase 600, duas ou três por página. Sem prefácio, o livro tem
um posfácio dedicado justamente às citações: na esteira de Montaigne e de
Walter Benjamin, o autor certifica que as suas foram todas garimpadas bona fide nos inumeráveis livros que
percorreu em 50 anos de leituras, para nos oferecer o que é, possivelmente, a
maior enciclopédia do poema já publicada no Brasil. Poesia tem tradução? Talvez,
mas ficou faltando a tradução de serendipity.
Em todo caso, os tradutores, para Stephen Spender, são os “embaixadores oficiais
da linguagem” (The Making of a Poem,
1962: p. 113). Bem, pelo menos isso.
2) Luiza Lopes da Silva: A questão das drogas nas relações internacionais: uma perspectiva brasileira
(Brasília: Funag, 2013, 407 p.; ISBN: 978-85-7631-428-8)
A “diplomacia das drogas”, se ela
existe, começa em Xangai, em 1909, mas o problema é mais antigo, secular mesmo.
Surgida em virtude das guerras do ópio, promovidas pelo imperialismo inglês,
até hoje ela não logrou resultados satisfatórios, mas os Estados continuam
tentando limitar os danos. Esta tese de CAE representa o esforço mais
abrangente para circunscrever a questão do ponto de vista brasileiro: do
proibicionismo às soluções alternativas, o caminho ainda é longo para se
vislumbrar uma solução aos problemas do comércio ilegal e crimes associados. O
Brasil parece dotado de instrumentos adequados, mas, como outros países da
região, pouco atuou na construção dos mecanismos de controle e pode ser vítima
deles, como também da “diplomacia cocalera”. Muitos sugerem a liberalização;
seria essa a resposta?
3) Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política internacional e interesses brasileiros
(Brasília: Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4)
O trabalho tem qualidades inegáveis,
ao apontar as inúmeras dificuldades no tratamento dos fundos soberanos. Mas, à
diferença do que diz o prefaciador, o FSB não está voltado para o gerenciamento
das reservas brasileiras (tarefa a cargo do Banco Central), e sim tem sido
usado mais para fins de economia doméstica (como a sustentação da Petrobras). O
Brasil, aliás, tem todas as condições para NÃO ter um fundo desse tipo, já que
não tem excedentes fiscais ou de transações correntes. Seja como for, esta tese
de CAE ilumina o funcionamento desses fundos e os problemas a eles associados. Se
e quando o Brasil dispuser de um fundo verdadeiro, a obra oferece desde já um
panorama muito claro de como se movimentar no intrincado cenário de ganhos
econômicos e ambições políticas que caracteriza sua existência corrente.
4) Celso Amorim: Breves
Narrativas Diplomáticas (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN:
978-85-8240-025-8)
Dos cadernos do ex-ministro, notas
sobre momentos cruciais, de 2002 a 2004 (e alguns desdobramentos ulteriores),
da diplomacia “ativa e altiva”, como ele designa a sua gestão; mais adiante se
acrescentou “soberana” à dita política externa. Trata-se de uma explicação e
uma justificativa, pro domo sua, de
alguns episódios desses anos: a invasão do Iraque pelos EUA, as tribulações do
coronel Chávez, a implosão da Alca, o golpe de truco em Cancun, a aliança com a
Índia e a África do Sul, as origens da Unasul e as andanças pela África. A
história completa ainda vai ser contada, mas os escritos do ministro, entre
eles Conversas com Jovens Diplomatas
(2011), podem ser fontes primárias, desde que se confronte interpretações
pessoais com análises independentes: a historiografia serve, justamente, para filtrar
tais tipos de relatos.
5) Douglas Wanderley de Vasconcellos: Esporte, poder e relações internacionais
(3ra. edição; Brasília: Funag, 2011, 268 p.; ISBN: 978-85-7631-319-9)
Com a Copa das Confederações já
realizadas, chegando a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016), nada melhor
do que refletir sobre os vínculos entre esporte e diplomacia, o que faz este
trabalho antigo, mas ainda plenamente válido. O trabalho vai muito além de uma
simples “diplomacia do futebol”, o que o Brasil já fez no Haiti, por exemplo, e
trata da utilização política, no bom e no mau sentido, das competições
esportivas para o atingimento de objetivos estratégicos ou táticos pelos países
que possuem algum peso nessa arena. Mas mesmo pequenas ou grandes coalizões de
países (os árabes, por exemplo) podem fazer pressão “esportiva” sobre outros
atores (Israel, no caso) para a obtenção de algum ganho diplomático. O
Itamaraty e o Ministério do Esporte formam um time alinhado a tal objetivo.
6) José Vicente Sá Pimentel (org.): O Brasil, os BRICS e a agenda internacional
(2a. ed., rev., ampl.; Brasília: Funag, 2013, 604 p.; ISBN:
978-85-7631-427-1)
O que era Bric virou Brics, embora a
expansão numérica, para incluir a África do Sul coincidiu, na verdade, com a
redução do impacto desse grupo de emergentes na economia e na agenda mundiais,
em vista do arrefecimento do crescimento em vários deles. Diplomatas e
acadêmicos trataram, em seminários realizados em 2011 e em 2012, das
possibilidades e limitações dos países membros, sob diferentes aspectos e em
abordagens complementares. Gelson Fonseca, no texto inicial, formula a questão
de saber se os Brics conseguirão influenciar a ordem mundial, e em qual sentido?
Rubens Ricupero pergunta, por sua vez, se eles não seriam os “monster
countries” mencionados pelo diplomata americano George Kennan, o que não deixa
de colocar o tema da democracia. Boa questão, aliás ainda não respondida.
Relação de Originais n. 2498. Relação de Publicados n. 1106.
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