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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Franca, Brasil e a tal de austeridade: mesmos problemas, mesmos erros? - Editorial Estadao

O Brasil e a França, não como países, mas pelos seus supremos mandatários, eram plenamente solidários nos equívocos econômicos: recusa da austeridade, aumento dos gastos públicos, subsídio ao consumo, proteção e apoio às indústrias nacionais, enfim, todas as medidas keynesianas para supostamente sustentar o crescimento.
Deu certo?
Na França ou no Brasil o crescimento é mínimo, e as contas públicas continuam desequilibradas.
Bem, com exceção de aventuras extra-conjugais, até aqui os dois governantes se pareciam.
Não mais: Hollande já se rendeu à austeridade, segundo consta.
E no Brasil, quando será?
Paulo Roberto de Almeida

Hollande se rende à austeridade
Editorial O Estado de S. Paulo, 16/01/2014

Quando tomou posse como presidente da França, em maio de 2012, o socialista François Hollande disse que "a austeridade não tem por que ser uma fatalidade para a Europa". Hollande elegera-se prometendo elevar os gastos do Estado como forma de impulsionar a economia, em meio à grave crise europeia. Menos de dois anos depois, a fatalidade se abateu sobre a França de Hollande, e o presidente se viu obrigado a anunciar um plano de contenção de despesas públicas, entre outras medidas ortodoxas.
Na entrevista coletiva anual em que comentou as mudanças, o constrangimento de Hollande não se limitou ao recuo de suas promessas de campanha - ele se viu obrigado a responder a questões embaraçosas sobre sua vida amorosa. E a vida de Hollande, que ademais enfrenta baixíssima popularidade, em meio ao maior índice de desemprego da história da república francesa, não está nada fácil. Assim, ele manteve a compostura e gastou com essa questão menos de três minutos de uma entrevista que durou três horas, durante as quais explicou os pontos daquilo que os jornais franceses qualificaram de "virada de 180 graus" em sua política econômica.
Hollande anunciou um corte de 30 bilhões em encargos trabalhistas para as empresas e a simplificação da burocracia para realizar empreendimentos. Outros impostos que têm impacto na produção serão reduzidos - o que é irônico para um presidente que passou o início de seu mandato a aumentar impostos. Além disso, haverá corte de ao menos 50 bilhões de gastos públicos até 2017, aliviando essa carga que hoje representa 57% do PIB, uma das mais altas do mundo. Somente neste ano, a redução prevista é de 15 bilhões.
Tudo isso será feito, segundo as palavras de Hollande, para impulsionar o "pacto de responsabilidade" que ele anunciou ter feito com os empresários do país no último dia do ano passado. Com esse pacto, qualificado por ele de "o maior compromisso social em décadas", o presidente espera que sejam criados empregos suficientes para reverter o quadro de estagnação econômica, além de fazer com que as empresas francesas retomem a competitividade.
Várias das medidas de Hollande, como o corte de encargos trabalhistas, constavam do programa de governo do conservador Nicolas Sarkozy, seu adversário na eleição presidencial de 2012. Na ocasião, Hollande ironizou Sarkozy: "Como imaginar que o corte de contribuições do empregador poderia, em uma canetada, melhorar nosso comércio exterior?".
O caso da redução das despesas públicas, porém, é o recuo mais significativo. Alinhado à dura política de austeridade da chanceler alemã, Angela Merkel, Sarkozy, então presidente e candidato à reeleição, prometera fazer da França um exemplo de rigor fiscal. Sua derrota nas eleições para o socialista Hollande, que entendia ser necessário ampliar os gastos estatais para enfrentar a crise da dívida, foi um marco político europeu, pois sinalizou que os eleitores de países ricos do continente estavam inclinados a apoiar medidas de estímulo ao crescimento econômico.
Não foi necessário muito tempo para que a realidade se impusesse, a ponto de fazer o jornal Le Monde agora se perguntar: "Hollande adotou a política econômica de Sarkozy?". Há quem esteja chamando o presidente francês de "François Blair", numa alusão a Tony Blair, o premiê trabalhista britânico responsável por reformas liberalizantes.
A guinada do presidente, contudo, não foi uma novidade para os socialistas franceses. Em 1983, apenas dois anos depois de tomar posse e de ampliar drasticamente a presença do Estado na economia, o presidente François Mitterrand teve de aceitar a pílula amarga da austeridade. "Eu prefiro ser impopular a falhar no meu dever", disse Mitterrand, sobre a necessidade de debelar a inflação e fazer o país voltar a crescer sem a mágica do dinheiro fácil que jorra dos cofres públicos.

Hollande dobrou-se diante de semelhante imposição, mas tentou ao menos manter a pose. "Continuo socialista", disse ele aos jornalistas. "Não fui vencido pelo liberalismo

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