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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O nascimento do partido-religiao - Milton Simon Pires

O NASCIMENTO DO PARTIDO-RELIGIÃO
Milton Pires
16/01/2014

Às vezes eu fico me perguntando quanto tempo as pessoas ainda vão reclamar dos “rolezinhos” e dos black blocks...Até quando elas vão se escandalizar com a Marcha das Vadias ou lamentar as invasões promovidas pelo MST além de lamentar o que aconteceu com a nossa Universidade e com a Educação como um todo...Quantos “grupos de médicos” ainda vão ser formados no Facebook e quantos blogs vão surgir para denunciar as barbaridades feitas pelos agentes cubanos?..De uma maneira geral, eu fico curioso em saber até que ponto vai a capacidade das pessoas sentirem que cada vez mais coisas “terríveis” estão acontecendo no Brasil sem que aceitem apelar para uma síntese...para uma visão conjunta do todo que, ao mesmo tempo que esclarece, assusta de uma maneira terrível aqueles que não suportam serem vistos como adeptos de uma “Teoria da Conspiração”..
Tudo que se escreve hoje no meio acadêmico a respeito do andamento da História precisa ter uma base material..Na melhor das hipóteses, pode inclusive não ter base alguma e ser explicado, elegantemente, como mero acaso. É a filosofia da história; não a história da filosofia que nos oferece nesse momento o maior debate, não é mesmo?
Quando li pela primeira vez “O Status Ontológico da Teoria da Conspiração”, de Hakim Bey, mais claro do que a ideia de que ela pudesse servir à Direita ou à Esquerda, o que ficou para mim foi o conceito de “alternativa”....de uma via de saída para aqueles que se negam a aceitar que a história seja um mecanismo..uma máquina com leis próprias de funcionamento que, se conhecidas, podem nos fornecer a “chave da felicidade aqui na Terra”..
Algum de vocês já reparou na confusão que existe entre os termos “Teoria da Conspiração” e “Nova Ordem Mundial”?? Alguém é capaz de separar uma coisa da outra ou vamos aceitar de saída que a “Nova Ordem” nada mais é do que uma das tantas teorias conspiratórias??
Meus amigos, seja entre leigos ou acadêmicos, a ideia de que um grupo de pessoas possa se reunir em segredo tomando grandes decisões em relação ao destino da humanidade se tornou algo risível..alguma coisa digna de “pena” e que não pode ser levada a sério, não é?? De onde vem, pergunto eu, toda essa capacidade de escárnio? Da percepção da fraqueza intrínseca de determinado tipo de pensamento ou da sacralização, eu diria da “santificação”, do discurso que se apresenta como opositor??
Afirmo aqui, e esse é o ponto do texto, que o materialismo dialético permanece invicto como método de análise e como força de entendimento em relação a tudo aquilo que ousamos chamar de “história”... De fato, naquilo que diz respeito a gênese do pensamento marxista, é ele – o materialismo dialético – que ainda fornece, dentre toda baboseira do discurso de esquerda, a fonte de eterna renovação para política econômica e social dos partidos que se autoproclamam higienicamente de “centro-esquerda”. Nada poderia, portanto, ser mais devastador do que uma história “sem lei científica”....do que uma história feita pela unificação de interesses escusos que desconhecem as mais rudimentares regras de conflito entre as classes sociais, não é??
O que faz de qualquer Teoria da Conspiração, do ponto de vista ontológico, um desafio ao exercício intelectual é justamente aquilo que se diz ser a função superior de toda consciência – a capacidade de síntese; jamais de análise pois sabe-se que desta o materialismo dialético apropriou-se de tal modo que pouco resta a fazer na difícil tarefa de enfrentamento intelectual com a Nova Esquerda do mundo ocidental.
Se me fosse pedido para resumir em termos mais simples tudo que escrevi acima, eu diria que é na possibilidade de “juntar as pontas”...de “unificar hipóteses” que reside a força de cada Teoria Conspiratória..de cada “tese absurda” que surge ela mesma, tese, como alternativa ao entendimento de um mundo fragmentado onde tudo parece acaso ou resultado de leis tão complicadas que só podem ser compreendidas por um Partido Salvador...por uma casta de intelectuais (orgânicos como diria Gramsci) cuja função é conduzir os simples mortais à felicidade aqui mesmo, nesse mundo, sem morrer antes...e desgraçadamente por causa dessa busca, sem jamais ter vivido...Quem consegue entender isso, consegue entender como nasceu o Partido Religião..

Em memória de Maria Mercedes Simon (1917-1995)


Porto Alegre, 16 de janeiro de 2014

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