segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os idiotas vao herdar o mundo? - Luiz Felipe Ponde

Quem herdará a Terra?
LUIZ FELIPE PONDÉ
Folha de S.Paulo, 10/02/2014
A emancipação feminina tornou as mulheres inférteis por escolha. Estranho? Nem tanto
A sociedade secular moderna está condenada. E por quê? Por uma razão muito simples: as mulheres seculares (sem prática religiosa cotidiana) não querem ter filhos. Quando têm, têm um ou dois no máximo.
A emancipação feminina tornou as mulheres inférteis por escolha. Estranho? Nem tanto, vejamos.
Quem herdará a Terra? Os religiosos fundamentalistas cristãos, judeus e muçulmanos. Suas mulheres têm muitos filhos, e as nossas não. Para as nossas mulheres, filhos só depois dos 35, depois da pós, com maternagem terceirizada caríssima. O individualismo moderno nos deixou a todos estéreis e histéricos.
Não, não estou criticando a vida secular nem defendendo a vida religiosa radical. Parafraseando o dito popular, "não é política, imbecil, é demografia".
Nós, seculares, que em grande parte temos simpatia pela teoria evolucionista, esquecemos que seleção natural é demografia. Podemos ter muitas ideias de como o mundo deve ser, mas os fundamentalistas têm mais bebês. E quem decide no final das contas é a população de bebês. Mulheres férteis implicam civilização poderosa.
Essa é a hipótese do livro escrito pelo canadense Eric Kaufmann, professor de política da Universidade de Londres. Claro que os "progressistas" o criticam e acusam a ideia de ser propaganda fundamentalista --como é comum em nosso mundo em que a inteligência cedeu lugar às políticas da difamação.
As suspeitas de que riquezas e conforto (causas culturais e econômicas, e não biológicas) diminuem a fertilidade feminina estão presentes desde a Grécia e Roma (Cícero já falava disso). Adam Smith, no século 18, chamava a atenção para o fato de que o "luxo e a moda" tornam o sexo frágil desinteressado na maternidade.
Já por volta do ano 300 da Era Cristã, os cristãos somavam 6 milhões, enquanto no ano 40 eles eram uns poucos hereges coitados. Logo conquistaram o Império Romano. E não só por conta das mulheres romanas serem vaidosas, ricas e interessadas em sexo, mas não em filhos (exatamente como as nossas). Os homens pagãos eram mais violentos e menos atentos a mulheres e filhos enquanto os cristãos eram do tipo família.
O fator fertilidade não é o único, claro, mas é um fator que em nossos debates inteligentinhos não tem sido levado em conta com a devida reverência.
Enquanto as mulheres seculares hoje têm cerca de 0,5 filho por mulher pronta para maternidade (a partir dos 15 anos), as religiosas (no caso aqui específico de grupos como evangélicos fundamentalistas, amish, menonitas, huteritas e judeus haredi ou ortodoxos) variam de 2,1 a 2,4.
No caso do Estado de Israel, por exemplo, a cada três crianças matriculadas no jardim da infância, uma é haredi. Depois do Holocausto, os haredi eram uma população quase insignificante. Em países do leste do mundo, como Japão, Coreia do Sul, Cingapura, Austrália e Nova Zelândia, o quadro é muito próximo do Ocidente moderno.
A medicina, o saneamento, a tecnologia e Estados mais organizados diminuíram a mortalidade tanto das parturientes quanto das crianças. O efeito imediato foi o crescimento populacional na geração dos "baby boomers". Mas, já no final dos anos 60, as mulheres americanas, canadenses e europeias ocidentais começavam e declinar em fertilidade.
Por quê? A causa são os "valores" seculares. Nós investimos na vida aqui e agora e na realização de desejos imediatos. E, para piorar, as universidades ficam publicando pesquisas dizendo que casais sem filhos são mais felizes. Além de não termos filhos, ainda fazemos passeatas para matá-los no ventre das mães com ares de "direitos humanos".
Família cansa, filho dá trabalho, custa caro, dura muito. Os seculares escolhem não ter filhos, os religiosos escolhem tê-los.
Mas não é só a fertilidade que coloca os religiosos em vantagem. Os grupos mais fechados detêm uma alta retenção da sua prole: colégios comunitários, shoppings, redes sociais, colônias de férias, casamentos endógenos, calendários festivos, baladinhas de Jesus (ou similares). Sempre juntos.
Enfim, a pílula vai destruir a civilização que a criou. Risadas?
Comentário recebido:
Giselle deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Os idiotas vao herdar o mundo? - Luiz Felipe Ponde...": 

Concordo com a conclusão do Pondé, mas não com as premissas. Se a sociedade secular precisa de filhos, deve assumir o custo (ou parte dele). Da maneira como está hoje, o custo está todo com a mulher e nenhuma mulher inteligente o quer assumir.
Terei filhos no dia em que a sociedade me der:
a) creche, próxima à minha casa ou trabalho, com horário suficiente para cobrir o meu tempo de trabalho, o meu horário de almoço e o meu tempo de deslocamento casa-trabalho-casa (de 8hs às 17hs não me serve, este é o meu horário de trabalho);
b) escola com o mesmo horário da creche, já que crianças de até 16 anos não podem ficar sozinhas em casa de acordo com o ECA sob pena de abandono de incapaz;
c)alguém pode me dizer por que cargas d´agua as escolas fecham nas férias por 2 meses no verão e 15 dias no inverno? Eu só tenho 30 dias de férias! Vou fazer o que com as crianças no período? Pagar colônia de férias? Ou deixar com a empregada? (aqui, sou absolutamente favorável aos direitos das domésticas, muitas tratadas como se fossem móveis, mas para fornecer esses direitos, é preciso que a sociedade forneça alternativas);
d) licença maternidade suficiente para educar um filho com seriedade sem ficar atabalhoada de tarefas e colocar o meu casamento em risco tentando dar conta do filho, do trabalho e do sono - não são os filhos que acabam com o casamento, é contexto da vida moderna e corrida atual, em que a mulher simplesmente não tempo para o marido. Aliás,por que conceder às mulheres aposentadoria 5 anos mais cedo se a gente precisa desse tempo para educar meus filhos antes? E no mais, nossa expectativa de vida é maior.
d) saúde. Nem digo gratuita. Digo disponível. A falta de pediatras é crônica até para quem pode pagar. Pediatra não faz exame caro, é só consulta mesma. O que eles ganham não compensa. Os médicos preferem outras especialidades. 

Enfim, do jeito que está hoje, as mudanças que eu teria que fazer na minha vida. O custo, financeiro e de oportunidade - deixando de viajar, de estudar e de tocar projetos profissionais - simplesmente não comporta filhos. 
Minha mãe me criou com ajuda de vó, de tias, de empregada, de amigas, gente que podia ficar comigo? Como o trânsito de hoje, não posso contar com ninguém!
Se a sociedade quer filhos, que dê às mulheres condições. 

7 comentários:

  1. -Não consigo entender o esforço que esse "filósofo" dedica à transparecer original. Talvez eu seja um analfabeto funcional, fora isso, a dúvida persiste...

    ResponderExcluir
  2. Carlos Adriano11/02/2014, 01:26

    Sou fã de Luiz Felipe Pondé, li o livro Guia Politicamente Incorreto da Filosofia e alguns trechos do Contra um mundo melhor e adorei. E aqui estão alguns trechos que gostei:“Mais um dos danos da sociedade do ‘acesso’ em que todo mundo tem ‘acesso’, na qual quase não há conteúdos que falham qualquer ‘acesso’. A maioria da humanidade sempre foi ignorante (nascia, reproduzia e babava na gravata, como dizia Nelson Rodrigues), mas, com o advento da sensibilidade democrática para o número e a estatística, essa maioria tomou a palavra. Toda ‘ética’ democrática é voltada para a banalização do conhecimento a serviço da autoestima dos idiotas. Não os ofenda porque eles venceram. Acreditam firmemente no que pensam enquanto veem novelas na TV. Deduzem argumentos sobre a vida a partir de suas experiências paroquiais. Quando se sofisticam, isto é, quanto atingem um tipo de cartão de crédito mais ‘exclusivo’ ou ‘esquentam’ seus diplomas tirados em universidades periféricas, tornam-se mais ruidosos. E aí pensam que se tornaram indivíduos. Pensam que têm vida interior própria”.
    “Virtude é um conceito que descreve o esforço de uma pessoa em controlar sua vontade e seus desejos em nome de alguma conduta específica: ser corajoso (combater o medo), ser generoso (combater o egoísmo), ser justo (combater a crueldade e a indiferença com o sofrimento alheio), ser metódico (combater o caos interior), ser trabalhador (combater a preguiça), ser fiel (combater a traição amorosa). Para haver virtude é necessário haver combate, sofrimento, dor. Não há virtude no vácuo da agonia. Um dos traços mais bregas da nossa época é supor que se pode ter vida moral sendo feliz”.
    Segundo o livro Contraponto mencionado no Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, são pessoas como Burlap que irão herdar a Terra.

    ResponderExcluir
  3. Concordo com a conclusão do Pondé, mas não com as premissas. Se a sociedade secular precisa de filhos, deve assumir o custo (ou parte dele). Da maneira como está hoje, o custo está todo com a mulher e nenhuma mulher inteligente o quer assumir.
    Terei filhos no dia em que a sociedade me der:
    a) creche, próxima à minha casa ou trabalho, com horário suficiente para cobrir o meu tempo de trabalho, o meu horário de almoço e o meu tempo de deslocamento casa-trabalho-casa (de 8hs às 17hs não me serve, este é o meu horário de trabalho);
    b) escola com o mesmo horário da creche, já que crianças de até 16 anos não podem ficar sozinhas em casa de acordo com o ECA sob pena de abandono de incapaz;
    c)alguém pode me dizer por que cargas d´agua as escolas fecham nas férias por 2 meses no verão e 15 dias no inverno? Eu só tenho 30 dias de férias! Vou fazer o que com as crianças no período? Pagar colônia de férias? Ou deixar com a empregada? (aqui, sou absolutamente favorável aos direitos das domésticas, muitas tratadas como se fossem móveis, mas para fornecer esses direitos, é preciso que a sociedade forneça alternativas);
    d) licença maternidade suficiente para educar um filho com seriedade sem ficar atabalhoada de tarefas e colocar o meu casamento em risco tentando dar conta do filho, do trabalho e do sono - não são os filhos que acabam com o casamento, é contexto da vida moderna e corrida atual, em que a mulher simplesmente não tempo para o marido. Aliás,por que conceder às mulheres aposentadoria 5 anos mais cedo se a gente precisa desse tempo para educar meus filhos antes? E no mais, nossa expectativa de vida é maior.
    d) saúde. Nem digo gratuita. Digo disponível. A falta de pediatras é crônica até para quem pode pagar. Pediatra não faz exame caro, é só consulta mesma. O que eles ganham não compensa. Os médicos preferem outras especialidades.

    Enfim, do jeito que está hoje, as mudanças que eu teria que fazer na minha vida. O custo, financeiro e de oportunidade - deixando de viajar, de estudar e de tocar projetos profissionais - simplesmente não comporta filhos.
    Minha mãe me criou com ajuda de vó, de tias, de empregada, de amigas, gente que podia ficar comigo? Como o trânsito de hoje, não posso contar com ninguém!
    Se a sociedade quer filhos, que dê às mulheres condições.

    ResponderExcluir
  4. Nem tão fora do tópico assim...

    Copio aqui o comentário com que introduzi o seu texto (via Tamba) no meu Facebook (Maria Canedo):

    É voz corrente que eu escrevo bem. Eu diria que por vezes bem e por outras melhor ainda. Mas isto faz parte da meu irônico e bem humorado processo de auto-glorificação. Gosto de ver (ou imaginar) a cara dos supostamente inteligentes complementando o que sempre digo com o clássico "E modesta demais, modesta demais!"

    Querem saber quem escreve bem, de verdade? Orlando Tambosi e Paulo Roberto de Almeida. O primeiro tem olhos de águia, o segundo, olhos de lince. O primeiro é um animal do ar, como sói acontecer com os animais que representam a filosofia. Mas Orlando jamais seria apenas a noturna ave de Minerva que só alça seu voo ao anoitecer. Seria idealismo demais pra um pobre catarina de Taió, obrigado a fincar os pés no chão duro da realidade desde criança. O segundo, Paulo Roberto de Almeida, é bicho da terra e, como todos os bichos da terra, não se vale apenas do olhar, como também do faro apurado. Olhos de lince e faro de urso, é o que o Paulo é. Sente o cheiro de carniça ou de delícia de longe! E não nega jamais o que os seus sentidos apurados enviam para o cérebro processar. É o Orlando quem pergunta abaixo:

    O resto você já viu. Frio por aí? Inveja gigante de vocês daí de cima! Ontem o termômetro chegou a 36º com sensação térmica de 41º aqui em Floripa! Nunca antes n´esspaís a coisa chegou a um fervedouro destes! Que nojo! Detesto calor!

    ResponderExcluir
  5. Boa tarde Paulo, o titulo acima creio que é seu. voce coloca todos os teistas no mesmo saco de idiotas?

    ResponderExcluir
  6. Nada a ver com teistas. O "idiotas" é uma caracterizacao geral dos crentes em verdades fundamentais.
    Mas confesso que nao tem nada a ver com o teor do artigo.
    Foi um erro deste blogueiro, que nao pretende atingir almas sensiveis.
    Paulo Roberto de Almeida

    ResponderExcluir
  7. Pulo, nao tem nada a ver com alma sensivel, só peguei carona na frase abaixo:
    "O teismo é tão amplamente disseminado na humanidade, que este filósofo crente (pois ele é um crente, antes de ser teísta) coloca todos os não crentes num mesmo saco indistinto e os chama de ateístas "-
    na divergencia eu aprendo bastantensuv elystan.

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.