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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Venezuela: Senador Alvaro Dias chama a atencao da diplomacia brasileira

Pronunciamento efetuado nesta data pelo Senador Alvaro Dias (PSDB-PR) sobre a dramática situação na Venezuela, com depoimentos recebidos de brasileiros residentes naquele país, relatando ataques indiscriminados, crimes cometidos pelas milícias chavistas e o que ele chama de comportamento dúbio da diplomacia brasileira.
Trecho de seu depoimento:

"... com todo o respeito que nós devotamos à diplomacia brasileira, não há como admitir o comportamento atual em relação ao que ocorre no país vizinho.
A Casa do Rio Branco sempre desempenhou um papel digno de admiração, mas causa perplexidade o posicionamento do Itamaraty diante da crise que assola o nosso fraterno e vizinho país da Venezuela. O Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo, expressou opiniões que não condizem com a retórica equilibrada pela qual sempre se pautou o Itamaraty.
É algo inusitado assistir um chanceler vocalizar num timbre ideológico.
Em declarações reproduzidas pela Agência Brasil o Ministro Figueiredo qualificou os manifestantes que estão conduzindo os protestos de radicais de extrema direita e grupos fascistas, que não estão interessados em resolver os problemas da Venezuela. E completou assumindo um compromisso dúbio: "Estamos dispostos a assumir as consequências necessárias para exercer a independência, a soberania e a autonomia dos Poderes Públicos venezuelanos".

Paulo Roberto de Almeida


Pronunciamento do Senador Alvaro Dias (PSDB/PR) sobre a Venezuela

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB - RR) – Concedo a palavra, como orador inscrito, ao Senador Alvaro Dias, do PSDB do Paraná.
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, visitantes que nos honram com as suas presenças, volto à tribuna hoje para atender a um apelo que vem da Venezuela. Recebi inúmeras mensagens da Venezuela, através da internet, de brasileiros que lá vivem e de venezuelanos pedindo socorro diante da crescente violência que toma conta das ruas em todo o país, não apenas na capital, mas também nas médias e pequenas cidades do interior.
A truculência política e a incompetência administrativa que se somam já há cerca de 15 anos vão empurrando a Venezuela para um abismo social inevitável. Não estamos sendo informados devidamente. A truculência chavista amordaça a imprensa e violenta os veículos de comunicação. Hoje:

[o] Sindicato denuncia agressões a 31 jornalistas em protestos na Venezuela. Pelo menos 31 jornalistas [diz a France-Presse] foram reprimidos, detidos e roubados na Venezuela, por efetivos das forças da ordem e por desconhecidos, durante os protestos contra o governo nas últimas duas semanas, [conforme denuncia] [...] o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa, em nota divulgada [no dia de hoje].

Temos algumas manchetes no Brasil, mas insuficientes, que não retratam a dura realidade vivida pelo povo da Venezuela, como esta, da Folha de S.Paulo: “Para Maduro, cadeia vai fazer opositor venezuelano ‘refletir’.” Ou: “Jovens se escondem em Caracas durante ação de polícia e milícias”, mas é muito pouco.
Vou ler três das manifestações escolhidas através da internet que recebi diretamente da Venezuela. Da Giselle Araújo:

Senador, SOS Venezuela. Sou brasileira, vivo em Barquisimeto e a cada dia, está pior a situação!
Muitos tiros, muitas bombas de gás, muitos tanques de guerra nas ruas, dentro do conjunto residencial em que vivo jogaram bombas de gás lacrimogêneo, não foram poucas!
Aqui as TVs não passam nada. Ainda temos um pequeno espaço na CNN espanhola às vezes, mas é pouco para tudo que temos vivido. [Aqui, as TVs não passam nada.]
Nossos filhos não podem ir à escola, porque ninguém garante a sua segurança, temos vivido momentos de terror!
Aqui nos viramos é com vídeos caseiros, mensagens, WhatsApp, fotos, ajudando uns aos outros a denunciar tudo que está passando! Enviarei os links de vários vídeos mostrando toda a chacina que os policiais e os paramilitares chavistas têm feito no País!
Divulguem, ajudem que chegue ao mundo essa ditadura que mata tantos!
O que temos ouvido é que vão dar toque de recolher, se isso ocorrer mesmo vou avisar por aqui!
A guarda nacional atirou contra o nosso edifício além de jogar [...] bombas de gás.

Outra mensagem que recebi, de Vanessa Vasconcelos Cosme:

Bom dia Sr. Alvaro Dias! Sou brasileira e moro na Venezuela há 2 anos, meu marido é venezuelano.
Moro na Grande Caracas, porém longe de onde se concentram os protestos, mas acordei às 5h da manhã com buzinas, sirenes e disparos (esses soaram distantes). Acabo de compartilhar alguns vídeos de guardas disparando e matando pessoas.
É muito triste [...]

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB - RR) – Senador Alvaro...
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) – Pois não, Senador.
O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB - RR) – Desculpe interromper o seu discurso, e peço permissão, para, já que está falando de um assunto internacional, registrar aqui a presença nas nossas galerias dos alunos e alunas do curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília. Sejam bem-vindos!
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) – Prazer em recebê-los aqui, estudantes certamente muito preocupados com o que ocorre na Venezuela, com os seus colegas estudantes que estão nas ruas daquele país. Certamente, as atenções de quem estuda aqui com os olhos voltados para o mundo devem estar concentradas hoje na Venezuela.
Continuo a leitura da mensagem da Vanessa.

É muito triste ver a tristeza, desespero, ansiedade e sensação de impotência no rosto dessas pessoas... Família, amigos, pessoas nas ruas.
O povo está protestando porque já não aguenta mais, são mais de 15 anos de má gestão, e agora ainda tem que andar de supermercado em supermercado para tentar conseguir alimentos básicos, como açúcar, leite, óleo, farinha de trigo, arroz, carne, frango, papel higiênico, são os mais difíceis de conseguir. [Na Venezuela, há escassez até de papel higiênico.]
Claro que existem outros problemas, mas a falta de alimentos e a insegurança são o pior.

Leio também, Sr. Presidente, mais uma mensagem, da Renata Ramia.

Meu nome é Renata Ramia. Eu moro na Venezuela há 13 anos, sou brasileira, meu marido e meus filhos são venezuelanos.
Estou fazendo tudo que eu posso para que não só o Brasil, mas o mundo veja o que está acontecendo aqui.
É brutal tudo o que está acontecendo já faz dez dias. Moro no interior, em Barquisimeto. A maioria aqui é opositora, vários jovens foram presos.
Em Caracas, Mérida, Valencia, a situação é ainda pior. Ajude a divulgar a situação daqui, por favor.
Obrigada pelo apoio. Vejo que o senhor está compartilhando várias fotos da situação daqui.
Hoje de noite meu prédio foi atacado por bombas de gás lacrimogêneo.
Havia pessoas protestando na porta dos prédios (fazendo garimpas) quando chegou a guarda nacional, policiais e motoqueiros lançando bombas de gás e disparando com bala de borracha. Isso não aconteceu só aqui, senão em toda a Venezuela.
Foi declarado toque de queda em San Cristóbal. Eles estão sem internet, sem telefone... Aqui te mando as fotos das bombas. Um vizinho gravou. Amanhã, se eu conseguir, te passo o vídeo.

Conversamos também – o meu gabinete fez contato com a Venezuela – com um militante da oposição, que fez um relato dramático, mas seguro, maduro e responsável: “As balas não são de borracha mais. São balas pra valer, que matam pessoas.”
Não se sabe quantos já morreram. Fala-se em mais de 20, mas, certamente, pela informação desse militante oposicionista da Venezuela, muita gente já perdeu a vida nas manifestações violentas nas ruas daquele país.
Informa, também, que chegam aviões carregados de cubanos. A milícia cubana veste o uniforme do Exército venezuelano e vai para as ruas. Esta é a informação que vem da Venezuela: cubanos que vestem o uniforme do Exército venezuelano para o enfrentamento nas ruas do país.
É muito grave, Sr. Presidente, para que o Governo brasileiro adote esta postura de condescendência. Mais do que isso, de cumplicidade com a truculência chavista que vai às ruas para afrontar pessoas e levá-las ao desespero.
Um governo tão incompetente, num país que produz petróleo, leva a população à miséria. Hoje, não há papel higiênico na Venezuela. Alimentos faltam, falta...
(Soa a campainha.)
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) – ... água.
Sr. Presidente, eu peço mais algum tempo, porque esse tema é da maior importância para o Brasil, sim, e, com todo o respeito que nós devotamos à diplomacia brasileira, não há como admitir o comportamento atual em relação ao que ocorre no país vizinho.
A Casa do Rio Branco sempre desempenhou um papel digno de admiração, mas causa perplexidade o posicionamento do Itamaraty diante da crise que assola o nosso fraterno e vizinho país da Venezuela. O Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo, expressou opiniões que não condizem com a retórica equilibrada pela qual sempre se pautou o Itamaraty.
É algo inusitado assistir um chanceler vocalizar num timbre ideológico.
Em declarações reproduzidas pela Agência Brasil o Ministro Figueiredo qualificou os manifestantes que estão conduzindo os protestos de radicais de extrema direita e grupos fascistas, que não estão interessados em resolver os problemas da Venezuela. E completou assumindo um compromisso dúbio: "Estamos dispostos a assumir as consequências necessárias para exercer a independência, a soberania e a autonomia dos Poderes Públicos venezuelanos".
Eu creio que é possível afirmar que esses boquirrotos líderes Venezuelanos que sustentam a bandeira do chavismo não possuem ideologia, a não ser a da truculência. Eu não creio que sejam de esquerda ou de direita, são ideólogos da truculência, da prepotência e da incompetência que se veem na Venezuela nos dias de hoje. Mas o apoio do Brasil ao chavismo não é novo, não é recente, vem de ontem, vem de antes, apoio incondicional ao chavismo, maduro nas eleições, mas o que nos importa destacar é que não é apenas apoio político, é apoio financeiro.
Os aportes financeiros oferecidos pelo Governo do Brasil, através do BNDES, à Venezuela são frequentes e expressivos. Eu lembro, por exemplo, o financiamento para o metrô de Caracas, Linhas 3 e 4 do metrô de Caracas. Um dos últimos empréstimos foi no valor de US$732 milhões, concedido para ampliação do metrô de Caracas.
Como receberá o Brasil esse valor? A Venezuela hoje não tem papel higiênico, não tem comida para o seu povo, como pagará esse empréstimo ao Brasil, ao Governo brasileiro, ao povo brasileiro?
Outra obra que contou com financiamento naquele País foi a Hidrelétrica La Vueltosa. Milhões de dólares para a hidrelétrica na Venezuela e apagões no Brasil por falta de investimentos.
Dinheiro sobra para empréstimos a Cuba, à Venezuela e a outros países, mas dinheiro falta para as medidas preventivas que pudessem evitar os apagões reiterados que ocorrem no Brasil, em que pese o compromisso da atual Presidente, ainda Ministra, de que apagão no Brasil era coisa do passado.
E agora, além desse empréstimo para hidroelétrica, há empréstimos para máquinas agrícolas, colheitadeiras financiadas também pelo BNDES. Estão sendo negociados mais US$4,3 bilhões para projetos de infraestrutura e de indústrias de base na Venezuela. O BNDS está negociando.
Abriu linha de financiamento de mais US$814 milhões para a Venezuela comprar 20 aeronaves Embraer. As aeronaves integrarão a frota da campanha estatal venezuelana Conviasa.
Uma pergunta está no ar: serão honrados esses compromissos financeiros? A Venezuela terá condições de pagar esses empréstimos? Uma economia combalida, gerenciada em meio ao caos administrativo do governo Maduro, de incompetência já consagrada. Qual a capacidade efetiva de pagamento da Venezuela nos dias atuais?
O que é importante, Sr. Presidente, para concluir. O Brasil não deveria alimentar falsas democracias ou ditaduras explicitas. Não! Alimentar ditaduras como a de Cuba para dar a elas sobrevivência ao longo do tempo e da história, sacrificando direitos humanos e maltratando populações, ou alimentar a farsa da democracia venezuelana com recursos que faltam ao Brasil para que aquele povo prossiga no sofrimento?
O Brasil deveria colocar sempre como pressuposto básico para esse tipo de relação no plano econômico e financeiro o regime vigente no país parceiro. Ditadura? Não! Democracia falsa? Não! Se o Brasil tem carências internas, necessidades prementes, escassez de recursos, não há razão para alimentar a ambição desmedida dos boquirrotos e prepotentes líderes que se valem de recursos externos para a sua sobrevivência, levando, como levam agora, com o seu chavismo, a Venezuela a um abismo social sem precedentes.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
A nossa solidariedade a essas pessoas que nos procuraram, que se manifestaram através da internet, àquelas que pedem socorro, mas, sobretudo, o nosso protesto contra a postura do Governo brasileiro, que é a absoluta ausência de solidariedade em relação ao sofrimento daqueles que querem viver a democracia.
Afinal, Sr. Presidente, democracia não é só uma palavra, democracia é muito mais que uma palavra. Não existe apenas para ser cantada, existe para ser vivida.
Por isso, Sr. Presidente, o nosso protesto em relação a essa postura acovardada do Governo brasileiro.


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