Trecho de seu depoimento:
"... com todo o respeito que nós devotamos à diplomacia brasileira, não há como admitir o comportamento atual em relação ao que ocorre no país vizinho.
A Casa do Rio Branco sempre desempenhou um papel digno de admiração, mas causa perplexidade o posicionamento do Itamaraty diante da crise que assola o nosso fraterno e vizinho país da Venezuela. O Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz Alberto Figueiredo, expressou opiniões que não condizem com a retórica equilibrada pela qual sempre se pautou o Itamaraty.
É algo inusitado assistir um chanceler vocalizar num timbre ideológico.
Em declarações reproduzidas pela Agência Brasil o Ministro Figueiredo qualificou os manifestantes que estão conduzindo os protestos de radicais de extrema direita e grupos fascistas, que não estão interessados em resolver os problemas da Venezuela. E completou assumindo um compromisso dúbio: "Estamos dispostos a assumir as consequências necessárias para exercer a independência, a soberania e a autonomia dos Poderes Públicos venezuelanos".
Pronunciamento do Senador Alvaro Dias (PSDB/PR) sobre a Venezuela
O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e Força/PTB -
RR) – Concedo a palavra, como orador inscrito, ao Senador Alvaro Dias, do PSDB
do Paraná.
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR. Pronuncia o
seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores,
Srªs Senadoras, visitantes que nos honram com as suas presenças, volto à
tribuna hoje para atender a um apelo que vem da Venezuela. Recebi inúmeras
mensagens da Venezuela, através da internet, de brasileiros que lá vivem e de
venezuelanos pedindo socorro diante da crescente violência que toma conta das
ruas em todo o país, não apenas na capital, mas também nas médias e pequenas
cidades do interior.
A truculência política e a
incompetência administrativa que se somam já há cerca de 15 anos vão empurrando
a Venezuela para um abismo social inevitável. Não estamos sendo informados
devidamente. A truculência chavista amordaça a imprensa e violenta os veículos
de comunicação. Hoje:
[o]
Sindicato denuncia agressões a 31 jornalistas em protestos na Venezuela. Pelo
menos 31 jornalistas [diz a France-Presse] foram reprimidos,
detidos e roubados na Venezuela, por efetivos das forças da ordem e por desconhecidos,
durante os protestos contra o governo nas últimas duas semanas, [conforme
denuncia] [...] o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa, em
nota divulgada [no dia de hoje].
Temos algumas manchetes no
Brasil, mas insuficientes, que não retratam a dura realidade vivida pelo povo
da Venezuela, como esta, da Folha de S.Paulo: “Para Maduro, cadeia vai
fazer opositor venezuelano ‘refletir’.” Ou: “Jovens se escondem em Caracas
durante ação de polícia e milícias”, mas é muito pouco.
Vou ler três das manifestações
escolhidas através da internet que recebi diretamente da Venezuela. Da Giselle
Araújo:
Senador,
SOS Venezuela. Sou brasileira, vivo em Barquisimeto e a cada dia, está pior a
situação!
Muitos
tiros, muitas bombas de gás, muitos tanques de guerra nas ruas, dentro do
conjunto residencial em que vivo jogaram bombas de gás lacrimogêneo, não foram
poucas!
Aqui
as TVs não passam nada. Ainda temos um pequeno espaço na CNN espanhola às
vezes, mas é pouco para tudo que temos vivido. [Aqui, as TVs não passam
nada.]
Nossos
filhos não podem ir à escola, porque ninguém garante a sua segurança, temos
vivido momentos de terror!
Aqui
nos viramos é com vídeos caseiros, mensagens, WhatsApp, fotos, ajudando uns aos
outros a denunciar tudo que está passando! Enviarei os links de vários vídeos
mostrando toda a chacina que os policiais e os paramilitares chavistas têm
feito no País!
Divulguem,
ajudem que chegue ao mundo essa ditadura que mata tantos!
O
que temos ouvido é que vão dar toque de recolher, se isso ocorrer mesmo vou
avisar por aqui!
A
guarda nacional atirou contra o nosso edifício além de jogar [...]
bombas de gás.
Outra mensagem que recebi, de
Vanessa Vasconcelos Cosme:
Bom
dia Sr. Alvaro Dias! Sou brasileira e moro na Venezuela há 2 anos, meu marido é
venezuelano.
Moro
na Grande Caracas, porém longe de onde se concentram os protestos, mas acordei
às 5h da manhã com buzinas, sirenes e disparos (esses soaram distantes). Acabo
de compartilhar alguns vídeos de guardas disparando e matando pessoas.
É
muito triste [...]
O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e
Força/PTB - RR) – Senador Alvaro...
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) – Pois não,
Senador.
O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco União e
Força/PTB - RR) – Desculpe interromper o seu discurso, e peço permissão, para,
já que está falando de um assunto internacional, registrar aqui a presença nas
nossas galerias dos alunos e alunas do curso de Relações Internacionais da
Universidade Católica de Brasília. Sejam bem-vindos!
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) – Prazer em
recebê-los aqui, estudantes certamente muito preocupados com o que ocorre na
Venezuela, com os seus colegas estudantes que estão nas ruas daquele país.
Certamente, as atenções de quem estuda aqui com os olhos voltados para o mundo
devem estar concentradas hoje na Venezuela.
Continuo a leitura da mensagem da
Vanessa.
É
muito triste ver a tristeza, desespero, ansiedade e sensação de impotência no
rosto dessas pessoas... Família, amigos, pessoas nas ruas.
O
povo está protestando porque já não aguenta mais, são mais de 15 anos de má
gestão, e agora ainda tem que andar de supermercado em supermercado para tentar
conseguir alimentos básicos, como açúcar, leite, óleo, farinha de trigo, arroz,
carne, frango, papel higiênico, são os mais difíceis de conseguir. [Na
Venezuela, há escassez até de papel higiênico.]
Claro
que existem outros problemas, mas a falta de alimentos e a insegurança são o
pior.
Leio também, Sr. Presidente, mais
uma mensagem, da Renata Ramia.
Meu
nome é Renata Ramia. Eu moro na Venezuela há 13 anos, sou brasileira, meu
marido e meus filhos são venezuelanos.
Estou
fazendo tudo que eu posso para que não só o Brasil, mas o mundo veja o que está
acontecendo aqui.
É
brutal tudo o que está acontecendo já faz dez dias. Moro no interior, em
Barquisimeto. A maioria aqui é opositora, vários jovens foram presos.
Em
Caracas, Mérida, Valencia, a situação é ainda pior. Ajude a divulgar a situação
daqui, por favor.
Obrigada
pelo apoio. Vejo que o senhor está compartilhando várias fotos da situação
daqui.
Hoje
de noite meu prédio foi atacado por bombas de gás lacrimogêneo.
Havia
pessoas protestando na porta dos prédios (fazendo garimpas) quando chegou a
guarda nacional, policiais e motoqueiros lançando bombas de gás e disparando
com bala de borracha. Isso não aconteceu só aqui, senão em toda a Venezuela.
Foi
declarado toque de queda em San Cristóbal. Eles estão sem internet, sem
telefone... Aqui te mando as fotos das bombas. Um vizinho gravou. Amanhã, se eu
conseguir, te passo o vídeo.
Conversamos também – o meu
gabinete fez contato com a Venezuela – com um militante da oposição, que fez um
relato dramático, mas seguro, maduro e responsável: “As balas não são de
borracha mais. São balas pra valer, que matam pessoas.”
Não se sabe quantos já morreram.
Fala-se em mais de 20, mas, certamente, pela informação desse militante oposicionista
da Venezuela, muita gente já perdeu a vida nas manifestações violentas nas ruas
daquele país.
Informa, também, que chegam
aviões carregados de cubanos. A milícia cubana veste o uniforme do Exército
venezuelano e vai para as ruas. Esta é a informação que vem da Venezuela:
cubanos que vestem o uniforme do Exército venezuelano para o enfrentamento nas
ruas do país.
É muito grave, Sr. Presidente,
para que o Governo brasileiro adote esta postura de condescendência. Mais do
que isso, de cumplicidade com a truculência chavista que vai às ruas para
afrontar pessoas e levá-las ao desespero.
Um governo tão incompetente, num
país que produz petróleo, leva a população à miséria. Hoje, não há papel
higiênico na Venezuela. Alimentos faltam, falta...
(Soa a campainha.)
O SR. ALVARO DIAS (Bloco Minoria/PSDB - PR) – ... água.
Sr. Presidente, eu peço mais
algum tempo, porque esse tema é da maior importância para o Brasil, sim, e, com
todo o respeito que nós devotamos à diplomacia brasileira, não há como admitir
o comportamento atual em relação ao que ocorre no país vizinho.
A Casa do Rio Branco sempre
desempenhou um papel digno de admiração, mas causa perplexidade o
posicionamento do Itamaraty diante da crise que assola o nosso fraterno e
vizinho país da Venezuela. O Ministro das Relações Exteriores, Embaixador Luiz
Alberto Figueiredo, expressou opiniões que não condizem com a retórica
equilibrada pela qual sempre se pautou o Itamaraty.
É algo inusitado assistir um
chanceler vocalizar num timbre ideológico.
Em declarações reproduzidas pela
Agência Brasil o Ministro Figueiredo qualificou os manifestantes que estão
conduzindo os protestos de radicais de extrema direita e grupos fascistas, que
não estão interessados em resolver os problemas da Venezuela. E completou
assumindo um compromisso dúbio: "Estamos dispostos a assumir as consequências
necessárias para exercer a independência, a soberania e a autonomia dos Poderes
Públicos venezuelanos".
Eu creio que é possível afirmar
que esses boquirrotos líderes Venezuelanos que sustentam a bandeira do chavismo
não possuem ideologia, a não ser a da truculência. Eu não creio que sejam de
esquerda ou de direita, são ideólogos da truculência, da prepotência e da
incompetência que se veem na Venezuela nos dias de hoje. Mas o apoio do Brasil
ao chavismo não é novo, não é recente, vem de ontem, vem de antes, apoio
incondicional ao chavismo, maduro nas eleições, mas o que nos importa destacar
é que não é apenas apoio político, é apoio financeiro.
Os aportes financeiros oferecidos
pelo Governo do Brasil, através do BNDES, à Venezuela são frequentes e expressivos.
Eu lembro, por exemplo, o financiamento para o metrô de Caracas, Linhas 3 e 4
do metrô de Caracas. Um dos últimos empréstimos foi no valor de US$732 milhões,
concedido para ampliação do metrô de Caracas.
Como receberá o Brasil esse
valor? A Venezuela hoje não tem papel higiênico, não tem comida para o seu
povo, como pagará esse empréstimo ao Brasil, ao Governo brasileiro, ao povo
brasileiro?
Outra obra que contou com
financiamento naquele País foi a Hidrelétrica La Vueltosa. Milhões de dólares
para a hidrelétrica na Venezuela e apagões no Brasil por falta de
investimentos.
Dinheiro sobra para empréstimos a
Cuba, à Venezuela e a outros países, mas dinheiro falta para as medidas
preventivas que pudessem evitar os apagões reiterados que ocorrem no Brasil, em
que pese o compromisso da atual Presidente, ainda Ministra, de que apagão no
Brasil era coisa do passado.
E agora, além desse empréstimo
para hidroelétrica, há empréstimos para máquinas agrícolas, colheitadeiras
financiadas também pelo BNDES. Estão sendo negociados mais US$4,3 bilhões para
projetos de infraestrutura e de indústrias de base na Venezuela. O BNDS está
negociando.
Abriu linha de financiamento de
mais US$814 milhões para a Venezuela comprar 20 aeronaves Embraer. As aeronaves
integrarão a frota da campanha estatal venezuelana Conviasa.
Uma pergunta está no ar: serão
honrados esses compromissos financeiros? A Venezuela terá condições de pagar
esses empréstimos? Uma economia combalida, gerenciada em meio ao caos
administrativo do governo Maduro, de incompetência já consagrada. Qual a
capacidade efetiva de pagamento da Venezuela nos dias atuais?
O que é importante, Sr.
Presidente, para concluir. O Brasil não deveria alimentar falsas democracias ou
ditaduras explicitas. Não! Alimentar ditaduras como a de Cuba para dar a elas
sobrevivência ao longo do tempo e da história, sacrificando direitos humanos e
maltratando populações, ou alimentar a farsa da democracia venezuelana com
recursos que faltam ao Brasil para que aquele povo prossiga no sofrimento?
O Brasil deveria colocar sempre
como pressuposto básico para esse tipo de relação no plano econômico e
financeiro o regime vigente no país parceiro. Ditadura? Não! Democracia falsa?
Não! Se o Brasil tem carências internas, necessidades prementes, escassez de
recursos, não há razão para alimentar a ambição desmedida dos boquirrotos e
prepotentes líderes que se valem de recursos externos para a sua sobrevivência,
levando, como levam agora, com o seu chavismo, a Venezuela a um abismo social
sem precedentes.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
A nossa solidariedade a essas
pessoas que nos procuraram, que se manifestaram através da internet, àquelas
que pedem socorro, mas, sobretudo, o nosso protesto contra a postura do Governo
brasileiro, que é a absoluta ausência de solidariedade em relação ao sofrimento
daqueles que querem viver a democracia.
Afinal, Sr. Presidente,
democracia não é só uma palavra, democracia é muito mais que uma palavra. Não
existe apenas para ser cantada, existe para ser vivida.
Por isso, Sr. Presidente, o nosso
protesto em relação a essa postura acovardada do Governo brasileiro.
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