terça-feira, 18 de março de 2014

Heranca maldita dos companheiros: o desastre da politica energetica nos combustiveis

Política do governo prejudica Petrobras e etanol, diz analista

Folha de S.Paulo, 16/3/14


Para executivo da AIE, política do governo afeta tanto investimentos nas usinas como na exploração de petróleo.
O controle do preço da gasolina é um dos responsáveis pelo retrocesso do setor de etanol no Brasil. Ao lado dos problemas climáticos e da crise de 2008, a política do governo na área energética, que também cria problemas para a Petrobras, desestimula os investimentos no setor.
Parece mais uma queixa dos usineiros, mas a análise é de um dos especialistas mais respeitados no setor de energia do mundo.
Segundo Antoine Halff, chefe da divisão de Mercados da Agência Internacional de Energia (AIE), apesar das dificuldades, o país será um grande fornecedor global de etanol e petróleo no futuro.
Folha - Apesar do potencial do Brasil em etanol, há desinvestimentos no setor. Qual é o principal entrave?
Antoine Halff - É uma combinação de fatores. Isso reflete problemas climáticos, que reduziram as safras recentes, o impacto da crise financeira na indústria --muitas quebraram-- e ainda há uma herança do alto endividamento do setor. Mas também há um fator político para essa desaceleração que tem a ver com a política de preços para a gasolina. Esse conjunto tornou mais difícil para o etanol competir com a gasolina.
Os produtores também reclamam que não há uma política de longo prazo para o etanol.
Eu não diria que não há um programa. Há um mandato para a mistura da gasolina e de biodiesel nos combustíveis fósseis no Brasil. Isso tem sido um apoio --e em alguns momentos as metas tiveram de ser revistas porque eram muito ambiciosas.
Mas ele é suficiente?
Programas podem ser muito bons, mas também podem ter efeitos negativos. É preciso ser muito cauteloso, combinar ambição e modéstia. Isso soa contraditório, mas visão sem realismo pode levar ao desastre.
Um dos problemas desses programas de metas é que, quando eles são desenhados sem flexibilidade, sem considerações sobre eventuais mudanças nas condições de mercado, o governo pode ter de voltar atrás. Isso cria uma confusão muito grande nos mercados.
Então o maior problema do setor é o controle na gasolina?
Eu acho que esse não é um problema só do Brasil. Há muitas economias que têm controlado os preços da gasolina e subsidiado o consumo.
É hora de revisitar essas políticas, porque elas não são sustentáveis. No Brasil, os subsídios atrapalham a Petrobras, que tem revertido recursos que poderiam ser aplicados no desenvolvimento da exploração de petróleo para isso. Mas também prejudica a indústria de etanol, ao reduzir sua competitividade.
A Petrobras desapontou o mercado na exploração do pré-sal. Ela ainda é viável?
Eu acho que boa parte desse desapontamento é apenas um reflexo de quão altas as expectativas estavam.
Como explicar os atrasos?
Parte desse atraso reflete desafios tecnológicos, dificuldades técnicas, aumento de custos. E algumas empresas privadas estão reclamando de regulações, especialmente relacionadas à exigência de conteúdo local. Dizem que o custo disso é muito alto, proibitivo, e que isso está impedindo muitas coisas.
Mas eu acho que isso também deve ser visto sob outra perspectiva: o conteúdo local não é necessariamente um problema. O debate é mais sobre como ele foi desenhado e é implementado.
Então o sr. aprova a exigência de conteúdo local?
Acho que a ideia de conteúdo local soa muito bem como um esforço para permitir que toda a economia se beneficie desses recursos. O problema é que isso precisa ser implementado de uma forma suficientemente flexível e sofisticada para não prejudicar a economia e criar consequências indesejadas.
RAIO-X ANTOINE HALFF
CARGO
Chefe da Divisão de Indústria de Petróleo e Mercados da Agência Internacional de Energia (AIE)
CARREIRA
Francês, o executivo tem experiência de 20 anos no setor de energia, com passagens por governos, consultorias e setor financeiro.

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