Mas comentários adicionais poderiam entrar em alguma classificação x-rated, por isso me abstenho de agregar qualquer outro comentário adicional ao que vem ocorrendo na instituição nos últimos doze anos, no plano propriamente funcional, ou institucional.
No que se refere à política externa, ainda que tangenciando os regulamentos em vigor, já manifestei o que penso em inúmeros artigos -- todos disponíveis em meu site ou blog -- e coletados no meu livro mais recente: Nunca Antes na Diplomacia: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014).
Nunca antes mesmo...
Paulo Roberto de Almeida
Diário do Poder: 12 de dezembro de 2014 às 10:26
Há muito tempo alerta este portal para o verdadeiro crime de lesa-pátria que ao longo dos últimos doze anos vem sendo sistematicamente cometido contra uma das mais notáveis (e outrora respeitadas) instituições do Estado brasileiro, o Ministério das Relações Exteriores.
Transformado em mero subdepartamento da Secretaria de Relações Internacionais do PT, o Itamaraty deixou de atuar movido pela busca do verdadeiro interesse nacional, passando a fazê-lo por razões ideológicas e outras, inconfessáveis que estão vindo à tona com as revelações da Operação Lava-Jato.
A vasta papelada que começa a ser examinada pelos procuradores no Paraná talvez ajude a explicar porque as relações do Brasil passaram a ser consideradas “estratégicas” com países tais como Cuba, Venezuela, Equador e Argentina.
Posto na trilha da investigação dos negócios suspeitos envolvendo a presença de estatais e empreiteiras brasileiras (Petrobras, BNDES), o jornalista do El País (Madri), Pedro Cifuentes, começa a levantar interrogações sobre gigantescos negócios com os governos autoritários da região.
Os procuradores brasileiros buscam informações sobre eventuais vínculos, inclusive de parentesco, entre funcioná rios da cúpula do MRE em gestões anteriores e as empreiteiras. Não está fora de cogitação que a Justiça solicite cópias das instruções reservadas do Itamaraty às Embaixadas, para gestões junto às autoridades dos vários países, em favor das empreiteiras.
Sempre buscando se colocar num discreto segundo plano, mas muito solidamente instalado na hierarquia do Partido dos Trabalhadores e do Palácio do Planalto, o verdadeiro chanceler desses últimos anos, o professor Marco Aurélio Garcia (que, não esqueçamos, coordenou o programa das campanhas de Lula em 1994, 1998 e 2006, além do programa de governo da Presidente Dilma Rousseff, na eleição de 2010) é quem, de fato, dá as cartas da política externa brasileira desde 2003.
Até agora, Garcia tem preferido exercer esse poder por intermédio de prepostos flexíveis, diplomatas subservientes que aceitam fazer o papel de marionete em troca das migalhas de pompa e circunstância que acreditam inerente ao título de Chanceler.
Hoje, lamentavelmente, ninguém no Itamaraty pensa mais nada sobre política externa (a não ser para concordar com as posições que emanam da cabeça do top-top Garcia). Os melhores pensadores da Casa foram mandados para consulados. Os que concordam com tudo foram mandados para posto os relevantes, mas também estes foram proibidos de se manifestar.
O resultado está aí: quem sabe o nome de quem são nossos embaixadores em Buenos Aires, em Washington, em Pequim? Ninguém. Faça-se uma pesquisa-relâmpago mesmo na classe dirigente da Esplanada dos Ministérios e, surpresa, ninguém sabe sequer quem é o atual Ministro das Relações Exteriores.
Enquanto isso, o Itamaraty perde seu Departamento de Promoção Comercial. Está para perder, também, a Agência Brasileira de Cooperação. Nesse ritmo, o MDIC em breve absorverá também as negociações de política comercial.
Enquanto isso, os espinha-curvadas do Itamaraty continuam a gastar sorrinhos e mesuras com os donos do poder, na esperança de uma promoção mais rápida ou de um posto do roteiro Elizabeth Arden, onde possam ficar quietinhos esperando o tempo passar, ganhando os dólares que lhes permitirão viver uma aposentadoria confortabilíssima.
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