Em primeiro lugar, a postagem de Matias Spektor, sobre esse perturbador documento da CIA, que na verdade só confirma o que já sabíamos.
Depois o meu comentário a ele.
Em terceiro lugar, a apresentação do documento:
GeiselFigueiredoEliminacaoOpositores
Matias Spektor
Este é o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa.
É um relato da CIA sobre reunião de março de 1974 entre o General Ernesto Geisel, presidente da República recém-empossado, e três assessores: o general que estava deixando o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que viria a sucedê-lo no comando e o General João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
O grupo informa a Geisel da execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos no novo governo. Geisel explicita sua relutância e pede tempo para pensar. No dia seguinte, Geisel dá luz verde a Figueiredo para seguir com a política, mas impõe duas condições. Primeiro, “apenas subversivos perigosos” deveriam ser executados. Segundo, o CIE não mataria a esmo: o Palácio do Planalto, na figura de Figueiredo, teria de aprovar cada decisão, caso a caso.
De tudo o que já vi, é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. Colegas que sabem mais do que eu sobre o tema, é isso? E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?
O relato da CIA foi endereçado a Henry Kissinger, então secretário de Estado. Kissinger montou uma política intensa de aproximação diplomática com Geisel.
A transcrição online do documento está no link abaixo, mas o original está depositado em Central Intelligence Agency, Office of the Director of Central Intelligence, Job 80M01048A: Subject Files, Box 1, Folder 29: B–10: Brazil. Secret; [handling restriction not declassified].
https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1969-76ve11p2/d99É
PRA comment=
Realmente perturbador esse documento. Por pouco eu não o tive em mãos, talvez. Quando eu servi em Washington, entre 1999 e 2003, aproximei-me dos historiadores e arquivistas. Minha intenção era justamente destravar esse tipo de documento. Contatei o “chief historian of the CIA”, que era ninguém menos do que o brasilianista Gerald K. Haines, autor de uma tese que depois foi convertida em livro, chamado “The Americanization of Brazil”, sobre as políticas externas de Dutra e do segundo Vargas. Eu estava em entendimento com ele para justamente obter a liberação de documentos da CIA relativos ao Brasil, antes, durante e depois do regime militar. Quando eu estava em pleno entendimento com Haines, sobreveio o 11 de setembro e, na sequência, uma ordem executiva de W. Bush cerceando o acesso aos arquivos, para todos. O presidente chegou até a ser processado pela Association of American Historians, mas não sei o que resultou disso, pois saí dos EUA antes da conclusão desse assunto. O fato é que minhas chances de convencer o historiador da CIA a me liberar esses documentos foram reduzidas a zero. Hélàs!
FOREIGN RELATIONS OF THE UNITED STATES, 1969–1976, VOLUME E–11, PART 2, DOCUMENTS ON SOUTH AMERICA, 1973–1976
Foreign Relations of the United States, 1969–1976, Volume E–11, Part 2, Documents on South America, 1973–1976
Editors:
Sara Berndt
Halbert Jones
James Siekmeier
General Editor:
Adam M. Howard
Overview
This volume is part of a Foreign Relations subseries that documents the most important issues in the foreign policy of Presidents Richard M. Nixon and Gerald R. Ford. The volume on American Republics is divided into two parts: Part Two documents U.S. relations with South America between 1973 and 1976. U.S. relations with Chile through mid-September 1973 are covered in Foreign Relations, 1969–1976, Volume XXI, Chile, 1969–1973, and U.S. relations with Panama are covered in Foreign Relations, 1969–1976, Volume XXII, Panama, 1973–1976. The eight compilations herein illustrate both the formulation of a new U.S. policy toward the region as a whole: Argentina, Bolivia, Brazil, Chile (beginning in late September 1973), Colombia, Peru, Uruguay, and Venezuela.
U.S. policy toward Latin America during this period centered on establishing what Henry A. Kissinger called a “New Dialogue” with the region. Launched in October 1973, just days after Kissinger took office as Secretary of State, the “New Dialogue” was envisioned as a constructive way for the United States to meet the challenge posed by the perceived emergence of a Latin American regional bloc. The initiative called for regular meetings of foreign ministers to address issues of mutual concern and aimed to restore a sense that a special relationship existed among the United States and its neighbors to the south. By 1976, however, U.S. officials had largely abandoned the idea of pursuing a unified regional policy, as called for by the “New Dialogue.” Instead, recognizing that Latin America was not a monolithic bloc, the Ford administration focused more on bilateral relations with the nations of the hemisphere. As this volume documents, increasing congressional and public concern over human rights issues affected the making of U.S. policy toward much of Latin America during the mid-1970s. These concerns focused to a large extent on Chile and Argentina, where military regimes aimed to stamp out what they saw as Communist-inspired efforts at subversion. Finally, several compilations (Argentina, Brazil, Chile, and Uruguay) include documentation on Operation Condor.
RELATED RESOURCES
• More about the Foreign Relations series
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• Foreign Relations Ebooks
• Other Electronic Resources for U.S. Foreign Relations
• Guide to Sources on Vietnam, 1969-1975
• Tips for searching the Foreign Relations Series
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