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terça-feira, 8 de maio de 2018

Brasil: o futuro que queremos; Jaime Pinsky (Coord.)

Brasil que queremos, Contexto

CRÍTICA: livro “Brasil: o futuro que queremos” (São Paulo: Editora Contexto, 2018), obra coordenada pelo historiador Jaime Pinsky
Obra busca apresentar soluções para o país sem ofensa a rivais ideológicos
A obra não pretende ser uma receita ideológica uniforme, até porque isso seria impossível com tantos autores
Fábio Zanini - SÃO PAULO 
Folha de S.Paulo, 05/05/2018 - Poder

Na introdução do livro “Brasil: o futuro que queremos”, o coordenador, o historiador Jaime Pinsky, traça um objetivo ambicioso para os tensos dias de hoje: oferecer um diagnóstico “sem milagres, com propostas concretas, elaboradas a partir de experiência e estudos. E mais ainda, sem palavras de ordem. Sem ofender os que pensam de modo diferente”.
Para isso, ele convidou para escrever 12 especialistas em áreas que vão da educação ao esporte, passando por saúde, urbanismo, economia, política externa, agricultura e meio ambiente, entre outros. Cada um com uma dupla missão: apresentar o estado geral das coisas, listando sucessos e fracassos ao longo de décadas, e apresentar ideias para melhorar.
A primeira tarefa é mais simples. Os experts, afinal, têm larga experiência em suas áreas e apresentam análises instigantes de como e por que chegamos até aqui.
A ex-ministra Cláudia Costin, especialista em educação hoje ligada à Fundação Getulio Vargas, lembra que o Brasil fez uma opção, nos anos 1930 e 1940, por priorizar a criação de uma “elite intelectual iluminada que pudesse definir os rumos do país, investindo de forma mais incisiva, à época, no ensino superior”.
Vem daí o atraso do país na educação básica, raiz de nosso pífio desempenho em rankings internacionais.
De modo análogo, prega o patologista Paulo Saldiva, professor de medicina da USP, a estrutura do atendimento à saúde favorece atendimentos caros e complexos, em detrimento da atenção básica. “O usuário procura o hospital após dificuldades de agendamento com o especialista e exames relacionados, independentemente da gravidade de seus sintomas”.
Especialista em urbanismo, o ex-vereador Nabil Bonduki (PT) relaciona a atual crise de moradia a um conceito em voga no passado que desestimulou o planejamento global. “O higienismo, aliado ao moralismo burguês cristão, reforçou o conceito de moradia unifamiliar, chamada de moradia salubre, em clara oposição aos cortiços e casas coletivas, em sintonia com as políticas sanitárias e a moral da segunda metade do século 19 e início do 20”.
A obra não pretende ser uma receita ideológica uniforme, até porque isso seria impossível com tantos autores. Perpassa o livro, ao contrário, um discreto estímulo à dissonância, o que o torna mais interessante.
Na parte econômica, isso é visível. Luís Eduardo Assis, ex-diretor do Banco Central, dá um receituário liberal e louva “o abandono das ideias estrambóticas que a presidente Dilma e o ministro Mantega nutriam a respeito da economia brasileira”.
Em seu divertido artigo, ele pede que economistas tenham a coragem de dizer “não sei” quando perguntados sobre quanto será a inflação do próximo ano. Até porque, segundo Assis, previsões do tipo podem ser feitas a custo mais baixo por “Madame Tânia, que lê tarô”.
Antônio Corrêa de Lacerda, ex-presidente do Conselho Federal de Economia, oferece um contraponto, torpedeando o que ortodoxos advogam: independência do BC, teto para gastos e a obsessão por metas de inflação.
Outro duelo interessante é o do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues com o ambientalista Fábio Feldmann. Rodrigues relativiza o impacto do agronegócio no desmatamento, diz que o Brasil ainda tem muitas áreas a serem cultivadas e reclama de incompreensão do cidadão urbano com o ruralista. Pede que o setor invista mais em comunicação para quebras resistências.
Já Feldmann cobra uma Lava Jato ambiental, articulando Polícia Federal, Ministério Público e Judiciário contra agressores do meio ambiente. Sugere que a Comissão de Valores Mobiliários exija de empresas que relatem seus passivos na área.
Se o debate e os diagnósticos fluem bem, a parte dedicada a propostas mostra a dificuldade de se encontrar soluções. Para praticamente todos, a resposta é mais dinheiro, algo improvável num cenário de restrição.
Há acenos a reformas, mas que são em sua maioria descritas de forma genérica e com baixa perspectiva de serem aprovadas em um ambiente congressual tumultuado.
Promover um debate civilizado, o que o livro em larga medida consegue, é um grande avanço, mas não basta para resolver nossos enormes problemas.
   
 Brasil: O futuro que queremos
Autor: Jaime Pinsky (coord.)
Editora: Contexto - 256 págs. (R$ 49,90)

 https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/05/obra-busca-apresentar-solucoes-para-o-pais-sem-ofensa-a-rivais-ideologicos.shtml 

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