Epitáfio para um país evanescente
Paulo Roberto de Almeida
Qualquer pessoa alfabetizada, medianamente informada, observadora mesmo superficial da realidade à sua volta — posso apontar ministros das cortes superiores, parlamentares, militares de altas patentes, acadêmicos, jornalistas, empresários de quaisquer setores, profissionais liberais, membros das corporações de Estado, cidadãos conscientes — pode rapidamente concluir, após um ano e meio de governo Bolsonaro, que o Brasil atravessa atualmente uma das piores crises de sua história, e não é pela pandemia do Covid-19.
Essa crise precede a pandemia, que pode até ter agravado alguns de seus sintomas — como a absoluta falta de estratégia ou de simples linhas diretivas para a simples governança corrente —, mas esta não é sua principal causa, nem cessará caso a pandemia seja vencida (oportunamente).
A crise, na verdade, é inerente ao governo e está inextricavelmente vinculada ao personagem central desse governo. Não hesito em classificar o presidente como o PIOR governante que já teve o Brasil desde Tomé de Souza, que aqui chegou no primeiro meio século do Descobrimento.
O cidadão Jair Bolsonaro é um despreparado, um inepto total em qualquer área da administração pública, um obsessivo desequilibrado, vivendo numa bolha doentia com seus filhos maiores, cercado por alguns áulicos fieis, mas tão despreparados quanto ele próprio, apenas animado pelos instintos mais primitivos que uma personalidade de traços esquizóides poderia abrigar.
Em resumo: toda a crise brasileira se resume no fato de o país estar sendo desgovernado — mas de forma ativa, arbitrária e atrabiliária — por um psicopata afanosamente empenhado em consolidar um poder autocrático que ele se empenha em viabilizar pelo seus equivalentes de novos “camisas negras” que lhe seriam devotados com a ajuda de armas e pela mobilização de estratos mais baixos das forças de segurança.
Trata-se de um projeto precário de construção de um poder autocrático que não tem muita chance de prosperar, mas que arrasta o país para um ambiente de confrontação constante, que impede uma gestão normal dos negócios públicos nas e pelas demais esferas da administração do Estado. O Brasil está sendo literalmente asfixiado por crises e mais crises constantemente deslanchadas por esse personagem nefasto, que tem a seu serviço alguns dos piores auxiliares que já assumiram cargos em diversos ministérios setoriais.
A nação está mais dividida do que jamais esteve em toda a sua história, e assim permanecerá enquanto o sinistro personagem continuar ocupando o centro do poder.
Líderes políticos e detentores de altos cargos nos principais escalões do Estado minimamente conscientes da realidade aqui descrita podem — ou pelo menos deveriam — chegar inevitavelmente à conclusão de que o país caminha para uma crise falimentar se tal situação perdurar. Um consenso elementar sobre o que fazer deveria levá-los à conclusão inelutável de que é preciso remover o elemento canceroso do coração do Estado o quanto antes, sob risco de o país ser levado a uma catástrofe de governança da qual será muito mais difícil emergir.
Meu título já prefigura o que vejo como próxima etapa desse processo auto-destrutivo: o país se apaga, para a nação e para o mundo, e seus filhos podem ser levados, como na canção famosa, a “errarem cegos pelo continente”.
Não gostaria, de verdade, de ter de escrever um epitáfio para um país evanescente. Ele está apenas sugerido, como possível próxima etapa do declínio da nação.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8/06/2020
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