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quarta-feira, 24 de junho de 2020

Carlos Malamud: Ernesto Araújo destrói credibilidade da política externa e abala o Itamaraty

Ernesto Araújo destrói credibilidade da política externa e abala o Itamaraty

A gestão de Ernesto Araújo no Itamaraty é vista como desastrosa por analistas e estudiosos de todo o mundo. Araújo retirou o Brasil de fóruns regionais como a Unasul e a Celac, fechou sete embaixadas na África e Caribe e submeteu o país aos EUA. “O país se encontra no maior isolamento diplomático dos últimos 50 anos”, afirma o historiador Carlos Malamud
Ernesto Araújo
Ernesto Araújo (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Sob o governo de Jair Bolsonaro e a gestão de Ernesto Araújo na Chancelaria brasileira, o Itamaraty, uma das mais sólidas instituições do Estado nacional, sofreu um abalo em suas estruturas. Araújo retirou o Brasil de fóruns regionais como a Unasul e a Celac, fechou sete embaixadas na África e no Caribe que haviam sido abertas nos anos Lula-Dilma Rousseff, mudou posições históricas na ONU para alinhar-se aos Estados Unidos, impôs dificuldades em negociações ambientais e privilegiou o relacionamento na Europa com dois países comandados por líderes da extrema direita, aponta reportagem do jornal Valor
“O país se encontra no maior isolamento diplomático dos últimos 50 anos”, afirmou o historiador Carlos Malamud, apontado como um dos 50 intelectuais ibero-americanos mais influentes pela revista espanhola “Esglobal” e hoje pesquisador do Real Instituto Elcano, em Madri. 
Para ele, a boa fama da diplomacia brasileira “está se dilacerando” na Europa e atualmente “seria impensável” ver o Brasil à frente de grandes coalizões de países emergentes em fóruns multilaterais, como ocorreu no passado. 
A destruição da imagem do Brasil está relacionada ao discurso de Ernesto Araújo sobre a questão ambiental, a subordinação do país ao governo de Donald Trump e a postura de Bolsonaro de desleixo em face da pandemia de Covid-19.  
O distanciamento da atual gestão do Itamaraty de posições anteriormente defendidas pela diplomacia brasileira é tanto, que a Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB) manifestou o temor de que representações do país no exterior e seus profissionais passem a ser alvos de ataques, por conta de atitudes como a promessa de mudança da embaixada em Israel para Jerusalém e do apoio ao ataque americano que matou o general iraniano Qassem Soleimani no Iraque. 
A reportagem cita a ironia do diplomata aposentado Roberto Abdenur, ex-embaixador em Washington. Ele diz que o Brasil hoje só tem “três países e meio” como amigos: Israel, Hungria e Polônia. “Meio são os Estados Unidos, porque estamos excessivamente alinhados com as ideias do Trump e antagonizamos com a outra metade, os democratas”, afirmou Abdenur, em um seminário virtual da ADB, na semana passada. Ele vê uma brutal ruptura da atual política externa com o patrimônio diplomático brasileiro. O resultado é o encolhimento da presença do Brasil no plano internacional. 
A gestão de Ernesto Araújo também provocou abalos nas relações internas do ministério, com a instalação de uma "caça às bruxas". 
“O clima é de humilhação e caça às bruxas”, diz o ex-ministro da Cultura e deputado federal Marcelo Calero (Cidadania-RJ), que se licenciou da carreira diplomática para o exercício do mandato. Ele encaminhou ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a proposta de criar uma comissão de acompanhamento externo do Itamaraty. “Moderação e previsibilidade são atributos da própria diplomacia, mas hoje existe uma contaminação pela ideologia, um fanatismo quase místico”, afirma. 

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