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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Minha postura quanto ao chancer designado (15/11/2018)

Transcrevo abaixo o que eu escrevi a propósito da designação, na tarde do dia anterior, de um colega de carreira para ser o chanceler do governo Bolsonaro.
Por que fiz isso?
Porque desta a tarde anterior eu fui questionado, aliás informado, porque não estava prestando atenção à designação de novos ministros pelo presidente eleito, no bunker do CCBB, e fui informado, no final da quarta-feira, 14 de novembro, dessa designação, que tinha sido aventada algum tempo antes, e na qual eu não quis acreditar, pois se tratava de um "diplomata júnior", como se diz, recentemente promovido a ministro de primeira classe (não, ele nunca foi embaixador). 
Desculpei-me com o jornalista que me informou da designação e pelo fato de não poder dizer muito a respeito do colega, pois sinceramente não sabia de nada sobre seu pensamento, a não ser pelo fato de ele ter co-assinado um livro sobre o Mercosul em 1996 (que eu resenhei) e ter recém publicado um estranho artigo sobre "Trump e o Ocidente", aliás na revista da qual eu era o editor, Cadernos de Política Exterior, como diretor do IPRI, que eu era desde agosto de 2016 (demitido pelo já chanceler, em março de 2019).
Eu não tinha tido tempo, até então, de refletir detidamente sobre seu artigo – lembro-me que quando chegou achei muito bizarro, mas eu não sou de censurar nada – e sobretudo de ler seu blog – Metapolítica 17: contra o globalismo –, cujo endereço na rede eu sequer sabia, tendo sido informado por esse jornalista sobre o nome em questão.
Mas, só fiz essa postagem, porque continuei a ser indagado por jornalistas sobre o que eu pensava do chanceler designado, e eu não pensava nada, ou quase nada.
Fiz então essa postagem, e só depois fui ler os materiais do chanceler designado. 
Confesso que fiquei estarrecido com o que li, como deveria ficar qualquer diplomata normal.
Começou aí a minha exoneração, e avisei meus assistentes que nossa gestão acabaria no dia 1o. ou 2 de janeiro de 2019. Demorou um pouco mais, pois talvez não tivessem encontrado quem colocar em meu lugar.
Mas, já no dia 2 "congelaram" o programa de trabalho que eu havia feito para começar a ser desenvolvido imediatamente. Não consegui fazer nada, pois logo depois veio minha saída.
O texto abaixo é apenas o testemunho de um momento.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1 de junho de 2020.

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On Thu, Nov 15, 2018, 10:59 Paulo Roberto de Almeida <paulomre@gmail.com> wrote:
Minha postura quanto ao chanceler designado

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 15/11/2018

Fui consultado, por colegas, amigos, mas sobretudo por jornalistas, sobre minha opinião a respeito do diplomata indicado para assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Eis o que posso dizer a respeito.

Permito-me não expressar neste momento minha opinião sobre esse colega, pela simples razão de que eu o conheço muito pouco. Conheci-o quando ele ingressou na carreira, em 1992,  e ele trabalhava na mesma área, mas em outras funções, em que eu estava, que era o Mercosul, mas depois nos perdemos completamente de vista, devido aos acasos da carreira, com remoções distintas e estágios totalmente desencontrados na Secretaria de Estado.
Eu fiquei 13,5 anos completamente afastado de qualquer cargo na SERE durante todo o regime lulopetista, e não pude, assim, acompanhar sua trajetória no período 2003-2016.
Apenas recentemente soube que ele era casado com a filha do ex-SG Luiz Filipe de Seixas Corrêa, também diplomata.
Não tinha a menor ideia de que ele mantinha uma campanha política militante em favor do candidato vencedor, como transpareceu na imprensa cerca de um mês atrás.
Ou seja, certamente eu o conheço formalmente, mas desconhecia totalmente suas ideias e opiniões políticas.
Difícil assim manifestar qualquer opinião pessoal a respeito desse colega, com quem nunca convivi durante praticamente 26 anos de carreiras paralelas mas jamais coincidentes ou convergentes no tempo ou no espaço.
Se ele foi escolhido pelo presidente eleito a exercer a função política de comandar a diplomacia brasileira no próximo governo, só posso desejar-lhe sucesso na função.
Como diplomata de carreira, vou continuar exercendo meus deveres de maneira totalmente profissional, da mesma forma como eu sempre fiz ao longo de meu desempenho funcional, ao lado de atividades acadêmicas que também sempre exerci, sem prejuízo da carreira ou do exercício funcional.
Isso é tudo, no momento, que eu poderia dizer de modo objetivo sobre o chanceler designado, e de forma intelectualmente honesta, sobre sua postura política ou filosófica, pois ainda não consegui ler muita coisa sobre suas ideias. 
Apenas ontem (14/11/2018), e depois da nomeação, tomei conhecimento pela primeira vez de que ele mantém um blog pessoal, para a expressão dessas ideias, o que eu também faço, no Diplomatizzando, mas, no meu caso, geralmente para transcrição de matérias de terceiros, com alguns poucos comentários de minha parte. Não me envolvo, nunca me envolvi, em atividades partidárias, e pretendo assim manter-me invariavelmente à margem desse tipo de opção. 
Minhas prioridades principais, no presente momento, ou desde sempre, consistem em preservar o Itamaraty e a diplomacia brasileira de quaisquer desvios indesejados, em termos ideológicos ou políticos, que possam ser considerados nefastos para a manutenção de sua alta qualidade intelectual, de sua grande capacidade de trabalho, puramente profissional, e de uma postura isenta no plano político-ideológico. Acredito, como aliás deve ser, que a política externa é determinada pelo chefe de Estado e de governo, como ocorre nos regimes presidencialistas, cabendo ao Itamaraty aconselhá-lo da melhor forma possível visando à defesa estrita dos altos interesses da nação e do Estado.
Eis a minha postura pública.
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Paulo Roberto de Almeida

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