O outro lado da glória: o reverso da medalha da diplomacia brasileira
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata; professor universitário
(www.pralmeida.org; https://diplomatizzando.blogspot.com)
Brasília, 13-16/10/2020; revisão: 21/10/2020
Com poucas exceções aferíveis – como a miséria da atual diplomacia bolsolavista e dois ou três episódios localizáveis de “desalinhamentos” políticos –, a diplomacia brasileira é geralmente tida por excelente, de altíssima qualidade, o que se explica por uma espécie de “pecado original” ao contrário; ou seja, sempre fomos bons desde a origem, e geralmente estivemos acima de qualquer crítica, em grande medida, ao que se alega, graças ao rico legado da inteligente e esperta diplomacia lusitana, que entrou, por assim dizer, em nosso “código genético”. Essa filiação precederia inclusive a formação do Estado nacional, pois viria de Alexandre de Gusmão, considerado o “avô” da nossa diplomacia; de fato, ele foi o construtor principal do nosso mapa atual, sendo que o “pai”, o Barão do Rio Branco, completou a cartografia em diversos pontos remanescentes.
Sem pretender contrariar essa história exemplar, pretendo selecionar alguns exemplos menos primorosos de nossa história diplomática, que aliás começam, justamente, antes da independência, pois que determinadas decisões continuaram pesando do lado dos compromissos externos, sem que a diplomacia profissional, ou os dirigentes políticos tenham conseguido reverter o peso de uns poucos legados negativos da herança lusitana. Nada a ver com nosso estatuto colonial obscurantista, sem indústrias, sem universidade, sem sequer escolas dignas desse nome, e isto por causa de um dos líderes considerado o protótipo do absolutismo esclarecido, o marquês de Pombal. Ao expulsar os jesuítas, ele também condenou índios, pobres e pretos a ficar sem qualquer instrução, mesmo a mais elementar. Mas não vamos considerar nada antes de 1808, que é quando se começa a fazer política externa a partir do Brasil, com o olho no que era, pelo menos provisoriamente, a sede do gigantesco império ultramarino português, cantado em prosa e verso desde Camões e, mais cientificamente, pelo historiador Charles Boxer.
Sumário:
1. Tropeços na independência e durante o império
2. Os fracassos da primeira diplomacia republicana
3. A difícil construção de uma diplomacia autônoma, e consciente de sê-lo
4. A diplomacia profissional, como base da diplomacia presidencial
5. A deformação da política externa sob a diplomacia bolsolavista
Referências bibliográficas
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Referências bibliográficas:
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