quarta-feira, 31 de março de 2021

Imprensa europeia destaca renúncia de Ernesto Araújo - seleção e resumo de matérias

 Imprensa europeia destaca renúncia de Ernesto Araújo

Jornais europeus consideram passagem de extremista de direita pelo Itamaraty "capítulo mais calamitoso da história da diplomacia brasileira" e destacam admiração de ex-chanceler por Trump.

DW | 30/3/2021

O ultraconservador ministro das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro renunciou após uma rebelião de diplomatas e parlamentares que o acusaram de demolir a reputação internacional do Brasil e colocar vidas brasileiras em risco ao vandalizar as relações com a China e os EUA durante a pandemia do coronavírus.

Ernesto Araújo, um diplomata de carreira de 53 anos famoso por criticar a China de Xi Jinping e por sua devoção a Donald Trump, apresentou sua renúncia na segunda-feira, encerrando o que os críticos consideram o capítulo mais calamitoso da história da diplomacia brasileira.

Sob sua supervisão, o internacionalmente respeitado Ministério das Relações Exteriores brasileiro – conhecido como Itamaraty em homenagem ao palácio do século 19 que ocupava no Rio – adotou uma abordagem de extrema direita em questões como direitos reprodutivos e meio ambiente e se tornou um refúgio de ideólogos bolsonaristas radicais. O Brasil cortejou nacionalistas de direita como Trump e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e abandonou sua posição duramente conquistada como líder ambientalista global. Araújo e outros importantes bolsonaristas, incluindo o filho do presidente Eduardo, também destruíram os laços com Pequim.

A oposição ao mandato de Araújo como ministro, cargo que ocupou por 27 meses, finalmente explodiu este mês com a deterioração da catástrofe da covid-19 no Brasil, que matou mais de 312 mil brasileiros. Muitos culparam a má gestão das relações de Araújo com a China, Índia e os EUA pelo fracasso do Brasil em garantir quantidades suficientes de vacinas e seus insumos.

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A semana começa agitada no Brasil. Pela manhã, o diplomata Ernesto Araújo renunciou ao cargo de chanceler, enquanto o Brasil se tornava o epicentro global da pandemia, com uma média diária de mortes que ultrapassa 2,5 mil. Nos últimos dias, intensas pressões vindas das duas casas parlamentares e de representantes do setor econômico obrigaram o presidente Jair Bolsonaro a ceder e entregar a cabeça do chanceler, que comandava a ala mais ideológica de seu governo.

Araújo, fervoroso anticomunista e trumpista, é considerado o maior responsável pelo fato de o país não ter conseguido comprar doses suficientes de imunizantes na China ou em outros países a fim de proporcionar uma vacinação em massa que permitisse vislumbrar uma certa recuperação econômica no horizonte.

A chegada de Araújo ao cargo representou uma ruptura radical com a tradicional diplomacia brasileira, baseada no multilateralismo e no diálogo. Com ele, o Brasil de Bolsonaro está mais isolado do que nunca na esfera internacional devido ao negacionismo da covid-19 e do desmatamento da Amazônia. O até então chanceler se encarregou de alinhar-se imediatamente com os Estados Unidos de Donald Trump e a extrema direita americana de raízes cristãs e de rejeitar abertamente à China, principal parceiro comercial do Brasil. Mas a derrota de Trump e o coronavírus precipitaram a erosão dessa estratégia.

O ministro Araújo estava sob pressão do Centrão, os partidos sem ideologia nos quais Bolsonaro vem se apoiando nos últimos meses para se proteger dos pedidos de impeachment. Boa parte da classe política considera o chanceler o principal responsável pela não importação do Brasil da quantidade de vacinas de que necessita para atender sua população.

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Do governo original de Bolsonaro, que assumiu o cargo em janeiro de 2019, quase não há mais nenhum ministro – principalmente entre os importantes. O fato de o chanceler [Ernesto] Araújo, da ala ideológica do governo do populista de direita, ter renunciado é visto como um duro golpe para o bolsonarismo.

Devido ao seu comportamento, Araújo havia sido acusado de isolar o Brasil no cenário internacional e de colocar o país em uma posição precária para a compra de vacinas. Araújo, por exemplo, trocou farpas com importantes parceiros comerciais como a China – país de onde o Brasil importa insumos para a produção de vacinas contra o coronavírus. Além disso, fez aliança com o governo do então presidente americano Donald Trump, que, segundo críticos, nem sempre andava de mãos dadas com as concessões almejadas pelo Brasil, enquanto o país rompia com posicionamentos históricos em instituições internacionais como a ONU.

Araújo também gerou polêmica no Brasil antes mesmo da pandemia perder o controle. Ele chamava o vírus de "comunavírus" em referência ao comunismo, classificou o nazismo como um movimento de esquerda e descartou a mudança climática como uma mentira marxista.

A posição de Araújo sobre o aquecimento global, em particular, tem sido uma barreira para as negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre o combate ao desmatamento na Amazônia. O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, havia dado prioridade ao tema – assim como a União Europeia, no contexto dos planos de uma área de livre comércio com o Mercosul.

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Esperava-se apenas a saída do chefe da diplomacia brasileira, Ernesto Araújo, este último implicado no fiasco da política contra o coronavírus, que já matou cerca de 314 mil pessoas no Brasil.

Figura caprichosa, Araújo, 53, era um dos membros mais entusiastas da "ala ideológica" do governo Bolsonaro, um ferrenho crítico da globalização e um fervoroso admirador do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Ele tem criticado repetidamente o "marxismo cultural" que "influenciou o dogma científico do aquecimento global". Muitas vezes, Araújo enfureceu a China "maoísta" com suas declarações provocativas, embora Pequim seja o maior parceiro comercial do Brasil.

Em outubro, ele admitiu que o isolamento diplomático do Brasil não era um grande problema para ele. "Sim, o Brasil fala de liberdade em todo o mundo. Se isso nos torna um pária, vamos ser esse pária", disse ele a futuros diplomatas brasileiros. Ele acabou sendo substituído por Carlos Alberto Franco França, um ex-embaixador descrito como um "diplomata discreto" pelo jornal Folha de S. Paulo.

https://www.dw.com/pt-br/imprensa-europeia-destaca-ren%C3%BAncia-de-ernesto-ara%C3%BAjo/a-57052022

 

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