A trajetória do Brasil para o gasto infinito
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre as políticas econômicas do Brasil na pós-democratização e o aumento de gastos.
Desde a redemocratização, a qualidade da política econômica da nação tem sido tão errática quanto o foi sob a ditadura e, anteriormente, sob a República oligárquica.
O projeto militar do Brasil Grande Potência levou o Brasil a dez anos de estabilização com crescimento, seguidos de dez outros anos de gastança desenfreada, inflação e dívida externa.
Os militares abriram as portas para um longo declínio, com estatismo exacerbado e o mesmo protecionismo renitente desde os tempos do mercantilismo colonial.
O inflacionismo de Sarney foi o resultado do aventureirismo econômico e da pesada herança deixada pelo regime militar.
Collor foi um turbilhão econômico com amadores no comando da economia, a despeito da vontade de modernizar um país acostumado ao voluntarismo.
O aumento de gastos reais sob FHC foi obra de uma Constituição generosa demais, mas pelo menos legou um plano de estabilização que ainda se sustenta precariamente, a despeito das bobagens estatizantes que vieram em seguida.
Os déficits de Temer foram consequência do desastre econômico mais do que previsível sob Dilma: ela conseguiu produzir uma mega recessão, que superou a crise de 1929-1931. Ainda assim, Temer começou um ajuste fiscal mais do que necessário, infelizmente descontinuado.
Os orçamentos fictícios do Bozo foram o efeito do seu puro desespero eleitoral e uma enorme irresponsabilidade política de um psicopata desvairado, apoiado pelos milicos vingativos da ditadura, drogados em sinecuras corporativas.
Já a gastança instintiva do lulopetismo é a tradicional deformação populista de esquerdistas que detestam os limites impostos pela dura realidade dos mercados: acham que a vontade política deve predominar sobre a cupidez de um “capitalismo” imaginário.
Resumindo: todos os governos acabaram tungando os cidadãos, em especial os pequenos e médios empresários e os trabalhadores em geral.
E todos eles tiveram um comportamento predatório no tocante à opção sensata de uma sólida política macroeconômica voltada para o crescimento, desde que respeitada a responsabilidade fiscal.
O estamento político oligárquico do Centrão sempre ajudou a esquerda e a direita a concentrar ainda mais a renda e a aumentar a desigualdade social.
O Brasil, finalmente, não mudou tanto assim: acabou acomodando-se ao atraso e à mediocridade!
Alguma possibilidade de melhoria?
Sempre existe, mas ainda não se encontra no horizonte previsível das opções políticas: a baixa educação política, a péssima qualidade da educação tout court são dois óbices ao progresso da nação.
Os avanços, modestos, são feitos aos trancos e barrancos, como diria Darcy Ribeiro, mais um desses visionários que acreditam ter a chave de um país sempre surpreendente na repetição do mesmo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4522, 3 novembro 2023, 2 p.
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