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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 14 de setembro de 2013

Uma lagrima para... Luiz Gushiken, o homem, nao o petista - Paulo Roberto de Almeida

Conheci Gushiken, quando ele deputado federal, na segunda metade dos anos 1990, e apenas porque eu era encarregado do tema dos investimentos no Itamaraty e ele relatava um dos protocolos do Mercosul sobre investimentos. O PT, consoante sua oposição ideológica e irracional aos investimentos estrangeiros, era um opositor principista -- ou seja, sem nenhuma razão baseada na racionalidade econômica -- de todo e qualquer acordo de investimento, bilateral, regional, multilateral.
Argumentei com Gushiken várias vezes, demonstrando a ele como a posição do PT era insustentável com base nos interesses da classe operária que os petistas dizem defender, e contrária aos interesses do Brasil enquanto nação capitalista (eles ainda talvez pensassem construir o socialismo naqueles anos). Como alguém inteligente e razoável -- o que pode ser uma raridade no PT -- Gushiken veio a concordar comigo, e até estava disposto a fazer um parecer positivo no caso do tratado que ele relatava (apenas porque se tratava do Mercosul). Mas, dizia ele, ainda que concordando comigo, não podia se colocar contra a posição -- esquizofrênica -- do seu partido. Chegou inclusive a agendar um encontro meu com diversos deputados do PT, para que eu explicasse porque os acordos de investimentos não eram o monstro metafísico que figurava na propaganda vazia e na oposição irracional do PT. Claro que não adiantou nada, pois eles petistas, não necessariamente inteligentes.
Ele aprendeu a me apreciar, a respeitar minhas posições, e talvez tenha sido recíproco. Obviamente, eu dizia tudo o que pensava das posições erradas do PT em matéria econômica, e ele ouvia, e assentia sorrindo, apenas não podia defender tais posições, pois ia contra os dogmatismos e sectarismo do seu partido.
Mais tarde, quando o Partido ganhou as eleições e ascendeu ao poder, ele me convidou para trabalhar com ele, não no ministério da propaganda, que ele dirigia -- sob o nome de Secretaria de Comunicação de Governo -- mas no seu apêndice virtual, o Núcleo de Estudos Estratégicos, que ele dirigia.
Não que eu concordasse com todo o "planejamento" abrangente que o PT pretendia implementar, numa repetição mal feita do dirigismo econômico da era militar, mas ele me tinha no Núcleo justamente para não concordar com tudo o que pretendiam fazer naquela pequena unidade pretensiosamente dedicada ao planejamento estratégico.
Eu não tinha nada a ver com o ministério da propaganda, e sempre disse que tudo aquilo deveria desaparecer: governos decentes não fazem propaganda, apenas cumprem suas obrigações.
Quando ele se afastou do governo, no meio de toda aquela confusão do Mensalão -- com o qual ele não tinha efetivamente nada a ver, embora participasse das maquinações petistas para se enternizar no poder -- eu resolvi me afastar do Núcleo, permanecendo apenas algum tempo mais para integrar-me em algum trabalho novo no MRE, o que não veio, mas por outras razões.
Ainda nos falamos algumas vezes depois que ele retornou a SP, e ele me considerava um diplomata diferente, no que ele tinha inteiramente razão. Eu também o considerava um petista diferente, que provavelmente não teria sido petista se a esquerda brasileira fosse um pouco menos sectária e mais inteligente.
A vida nos leva a escolhas que por vezes não têm mais volta.
Creio que ele foi digno, embora não possa atestar sobre todas as suas missões partidárias.
Em todo caso, minhas homenagens, minha solidariedade à família, e um agradecimento por ter me feito conhecer um pouco mais em detalhes o funcionamento (ou a falta de) do governo petista.
RIP...
Paulo Roberto de Almeida

Morre Luiz Gushiken aos 63 anos

O ex-ministro da Comunicação Social do governo Lula e fundador do PT lutava contra um câncer

13 de setembro de 2013 | 21h 34
Fernando Gallo - O Estado de S. Paulo
O ex-ministro Luiz Gushiken morreu na noite desta sexta-feira, 13, em São Paulo, aos 63 anos, em decorrência de um câncer. Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês.
Luiz Gushiken (em pé) ao lado do 'companheiro' Lula - Epitácio Pessoa/Estadão
Epitácio Pessoa/Estadão
Luiz Gushiken (em pé) ao lado do 'companheiro' Lula
Nascido em Osvaldo Cruz (SP), em 1950, Gushiken foi sindicalista, deputado federal e ministro da Comunicação Social durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
À época da ditadura, militou na tendência Liberdade e Luta (Libelu), braço da Organização Socialista Internacionalista, de orientação trotskista.
Formou-se em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas em 1979. Antes começou carreira de escriturário no banco Banespa, onde trabalhou entre 1970 e 1999. Ocupou diversos cargos no Sindicato dos Bancários e chegou a presidente da categoria.
Fundador do PT, ocupou diversos cargos no partido, entre eles o de vice-presidente e o de secretário sindical nacional. Ele também foi um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
Gushiken chegou a ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República junto com outras 39 pessoas no processo do mensalão. Ele era acusado de peculato. Em 2011, a própria PGR pediu sua exclusão do processo por falta de provas, e o Supremo Tribunal Federal o tirou da lista de réus.
Gushiken coordenou a campanha de Lula em 1989 e 1998. Deixa a mulher, Elizabeth, e três filhos