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sexta-feira, 9 de abril de 2021

Argentina e Brasil: dois países condenados ao retrocesso? - Paulo Roberto de Almeida

 Desculpem me repetir, mas vivo angustiado com nossos retrocessos, frutos da ESTUPIDEZES dessas elites MEDÍOCRES!

Argentina: o caso mais trágico na história econômica mundial - Paulo R. de Almeida, Instituto Mises: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/argentina-o-caso-mais-tragico-na.html - Conheço a Argentina muito bem e os argentinos, em especial, e lamento pela decadência auto-infligida. Trágico!

Espero que o IDIOTA do Bolsovirus não se converta num Perón de araque e destrua o Brasil como Perón fez com o seu país! 

Em toda a minha vida de estudo da história econômica mundial, eu nunca encontrei um caso mais dramático como a Argentina. Talvez a China imperial, mas ela foi foi esquartejada pelo império czarista, pelos colonialistas europeus e depois pelos bárbaros japoneses, ao passo que a Argentina conseguiu se suicidar por seus próprios meios, inteiramente destruída pela ação de estúpidos nacionais (como talvez o Brasil agora), corporativos militares , mafiosos sindicais, mandarins do Estado, todos unidos, inconscientemente, no saque e na dilapidação da riqueza nacional, exatamente como estamos sendo saqueados agora pelos mandarins do Estado, pelos corruptos da política, pelos barões ladrões do empresariado, pelos gigolôs do sistema bancário, por todos os oportunistas de todos os matizes.

Lamento, sinceramente, mas estamos em uma trajetória de DECADÊNCIA que se situa entre Grécia, Itália e Argentina.

A menos que consigamos reagir. Seremos capazes?

Duvido muito: nossas elites são muito MEDIOCRES!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 9/04/2021


Argentina: o caso mais trágico na história econômica mundial - Hilcker, Scopel Damasceno, Paulo Roberto de Almeida Instituto Mises

 A Argentina é um caso extremamente raro na história econômica MUNDIAL, de uma decadência auto-inflingida, um retrocesso brutal devido à incompetência total de suas elites, em primeiro lugar as militares, coroneis fascistas que deram início à truculência de um regime que pretendeu libertar o país da dominação oligárquica dos estancieros latifundistas, e que jogou o país nas mãos (e pés) de máfias sindicalistas corporativas (e mafiosas) que simplesmente DESTRUIRAM o país. 

O que mais me supreende é que pessoas ilustradas, os acadêmicos, se tenham deixado SEQUESTRAR por um cadáver, o de Perón (além de Evita, claro), até hoje cultuado no País como o grande líder industrializador, quando ele terminou de arrasar a Argentina, depois do golpe de 1930. 

A loucura ainda não acabou, mas não tem mais nada a ver com Perón, que é apenas utilizado e explorado por politicos oportunistas (medíocres) para explorar a credulidade de um povo reduzido à pobreza e à ignorância. Triste realmente. Mas não se animem, brasileiros, pois estamos entregues atualmente a um ESTUPIDO MONUMENTAL, capaz de dar início a uma DECADÊNCIA similar à argentina! 

Nunca subestimar a capacidade dos IDIOTAS de dominarem massas INCULTAS.

Paulo Roberto de Almeida

A lição argentina 

Imagine se pudéssemos viajar no tempo, ou, imagine ainda, se fôssemos habitantes deste mundo entre o final do século XIX e início do século XX. Poderíamos prever que uma das nações mais promissoras do mundo teria 44% da sua população na pobreza no século XXI?

Não é segredo para ninguém que nossos hermanos já foram uma das maiores economias do mundo. Em 1896, a Argentina possuía o maior PIB per capita do mundo, de acordo com a base do Maddison Project, de Angus Maddison. Para se ter uma ideia, um argentino era 29% mais rico que um francês, 14% mais rico que um alemão, 3 vezes mais rico que um japonês e 5 vezes mais rico que nós, brasileiros.

Está pensando em viajar? Fique tranquilo! Um peso argentino atualmente equivale a 0,0632 reais. Embora muitos estabelecimentos queiram te cobrar em dólar americano, para minimizar o impacto da desvalorização da própria moeda, ainda é possível encontrar um bom vinho argentino por cerca de R$ 5,00 em um supermercado.

Mas porque a Argentina fracassou em sua efêmera “primavera econômica”? 

Apesar de todo o sucesso econômico devido à forte agricultura exportadora, principalmente pela vitória liberal sobre os federalistas antes dos anos 40, quando permitiu-se o crescimento econômico devido ao investimento estrangeiro e à criação das grandes ferrovias graças ao investimento Britânico, após a Segunda Guerra Mundial nasceu uma forte corrente nacionalista, de política das massas, advinda do peronismo, que teve como principal corrente o intervencionismo estatal. Essa mentalidade faz parte da política argentina até hoje.

Com o peronismo, ferrovias e companhias elétricas, setores antes privatizados, foram novamente estatizados, juntamente com a administração do Banco Central. Além disso, medidas no âmbito social também foram aplicadas por meio da intervenção estatal, como aumento de salários, férias remuneradas, licenças por doenças, preço fixo de aluguel, controle de preço de mercadorias, planos de habitação e a construção de escolas. Em princípio, essas medidas aumentaram o poder de consumo e qualidade de vida da população, mas, principalmente pelo controle de preços e aluguéis, o salário anteriormente elevado foi consumido pela inflação.

O assunto por trás de toda a história econômica da Argentina é demasiadamente longo para ser explorado somente em um artigo. O fator principal sobre que precisamos refletir é a relação de causa e efeito da história da Argentina, com a história de outros países (Venezuela e Cuba, por exemplo) que seguiram o mesmo caminho, e, principalmente, como a mentalidade peronista está entranhada na cultura política argentina até os dias de hoje (é possível encontrar políticos de direita e esquerda que pactuam deste pensamento). 

O discurso dos grandes líderes, que acreditam na intervenção estatal como método ideal para melhorar a qualidade de vida das pessoas, é sempre o mesmo. Baseia-se na intervenção do Estado com o controle das ações econômicas, por meio de uma planificação, com práticas e discursos nacionalistas, populistas e anticapitalistas.

O que não se percebe é que, embora algumas medidas tragam uma sensação de justiça a curto prazo, elas influenciam diretamente na liberdade do indivíduo (ex.: controle de aluguéis) e causam, à longo prazo, mais malefícios que benefícios. Intervir na economia é não permitir que o mercado se regule, é não permitir que o rio siga seu fluxo. Exemplos históricos sempre nos mostraram que o fim do curso d’água é o fundo do poço. A questão agora é saber se nossos “hermanos” conseguirão se livrar das amarras das velhas ideias e terão força para retomar o curso do “Sonho Argentino”.

* Artigo publicado originalmente no site do Instituto Líderes do Amanhã por Hilcker Scopel Damasceno.


terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Quão baixo, quão fundo, uma sociedade pode descer, por vezes despencar, literalmente? - Paulo Roberto de Almeida

Quão baixo, quão fundo, uma sociedade pode descer, por vezes despencar, literalmente?

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoreflexões sociológicasfinalidadedebate público]

  

Nós, os incluídos, os supostamente iluminados, esclarecidos e informados, gostamos de pontificar, sobre isto e mais aquilo, sobre o sentido da História e sobre os destinos do mundo. Gostamos de dar lições, sobre isto e aquilo, apreciamos que outros apreciem nossa sapiência, nossas certezas, nossas conclusões inteligentes e nossos julgamentos definitivos, como uma espada de Dâmocles, como a guilhotina certeira, alinhada com a Deusa da Razão. 

Estamos certos de atravessar, neste momento, a mais horrível experiência de governança em 130 anos de República, em 200 anos de Estado independente, em 520 anos de povo, no prelúdio da nação. Não ousamos imaginar que pudéssemos ter um governo tão ruim, tão horroroso, tão inepto, tão ignorante, tão calhorda, tão mentiroso, tão sem noção, sem destino, sem projeto, sem sentido, sem nada. 

Pensávamos, até pouco tempo atrás, que já tínhamos visto tudo, experimentado tudo em matéria de mediocridade, arrogância e desfaçatez, com relação aos princípios elementares da adesão aos valores democráticos e de respeito aos princípios de direitos humanos, ou de simples humanidade. 

 

E, no entanto, mirando retrospectivamente, somos obrigados a reconhecer que, num passado não muito remoto, de horrores e de opressão, sob ditaduras expressas, mesmo a noção de governança, de sentido de direção nas políticas públicas, de construção de estruturas e de patrimônio — inclusive cultural — não se perdeu, em meio aos estertores da liberdade, da luta pela livre expressão, do próprio arbítrio e prepotência do Estado, da arrogância dos donos do poder. No negrume do Estado Novo, na repressão da ditadura militar, tínhamos a opressão dos poderosos, e vinha junto todo um programa de construção de um país, de certa ordem na economia, de certo sentido de direção, de algum esforço institucional, ainda que von Oben, pelo alto, aquela organização prussiana, que colocava o Estado no centro de tudo, e que expressava, de alguma forma, certa racionalidade intrínseca ao projeto que autoritariamente nos era oferecido, ou melhor, imposto.

Racionalidade, ordem, sentido de direção, construção institucional ou material, progresso (à maneira de cada etapa), tudo isso é o que menos temos atualmente. Estamos no meio do pântano, levados a esmo por um psicopata perverso, expostos aos risos do mundo por um outro maluco e suas alucinações exteriores, alguns poucos técnicos setoriais que machucam suas biografias ao servirem uma patota de medíocres e incompetentes, civis e militares, mandarins do Estado ou eleitos oportunistas, todos eles prolongando essa agonia de dois anos, e que pode se prolongar por mais dois, preservando, ou até ampliando, as duas grandes tragédias corrigíveis que temos: a não educação e a corrupção política. Temos outras tragédias, sistêmicas ou estruturais, como as desigualdades sociais, a baixa inovação e uma produtividade também medíocre, todas essas coisas que não serão resolvidas agora, sequer encaminhadas, e que podem ainda ser agravadas, no mar de incultura, de estupidez, de calhordice que nos é oferecido atualmente pelo déspota eleito por uma dessas surpresas da História. 

Acho que nunca imaginamos que poderíamos descer tão baixo no horror da mediocridade política, do retrocesso cultural, na promoção da ignorância, com demonstrações públicas da bestialidade do psicopata perverso que nos desgoverna. 

 

E no entanto, no entanto, se deixarmos para trás nossas experiências de ditaduras tecnocráticas, veremos que ainda não somos, não fomos, talvez não sejamos o povo mais infeliz de um planetinha redondo — mas fragmentado — que já conheceu horrores bem mais bárbaros em diversos episódios de um longo itinerário de ódios, guerras, massacres, tiranias assassinas.

 

Sem remontar muito longe, vamos começar pela destruição do segundo templo do povo judeu, que deu início a uma diáspora que ainda não terminou; vamos continuar por invasões de hordas de bárbaros literais, destruindo impérios e nações dotadas de civilidade; passemos ao empreendimento insano das cruzadas, que não só deram continuidade aos massacres de judeus em seu caminho, como também impuseram à história mundial uma oposição entre cristianismo e islamismo que não precisaria, não deveria ter ocorrido e que prolonga seus péssimos efeitos até a atualidade; e as guerras de religião na Europa, e as conversões forçadas disfarçadas de “catequese” que os europeus “judaico-cristãos” impuseram a maior parte do mundo conquistada e dominada durante cinco séculos?; e o nefando crime da escravidão africana e todos os horrores do tráfico transcontinental durante quatro séculos pelo menos?; os pogroms que continuaram contra o povo judeu, em vários redutos da supostamente humanitária religião cristã; e o novo expansionismo colonialista europeu, que assistiu à primeira criação de campos de concentração por iniciativa da liberal Grã-Bretanha?; o nacionalismo e o racismo ascendentes, que levaram a Europa a uma segunda guerra de trinta anos, arrastando o resto do mundo a uma sanha destruidora jamais vista desde quando exércitos conquistadores simplesmente eliminavam os prisioneiros homens e reduziam as mulheres a servas ou escravas; o fascismo totalitário começou na Itália, mas foi na Alemanha de Goethe e de Wagner que ele foi levado à exacerbação tirânica sob o comando do psicopata Hitler, partindo da Noite dos Cristais para caminhar para os campos de extermínio “científico”; não esquecer tampouco o fascismo expansionista e militarista japonês, que perpetrou barbaridades na China equivalentes ou até piores que os nazistas cometeram na Europa central e oriental; antes e depois disso ainda tivemos  o Gulag soviético com seu cortejo de “eliminados como inimigos do povo e do Partido”, sob as ordens do psicopata do Stalin, logo seguido pelo maoísmo demencial, acumulando mortos aos milhões, no Grande Salto para a frente, ou na Revolução Cultural; vamos falar também dos “killing fields” do Camboja e de massacres balcânicos ou africanos, levando dezenas ou centenas de milhares à morte pelo fuzil ou pelos machetes. 

 

Não, não somos o povo que mais sofreu na Terra, como se pode constatar, depois de relembrar todo esse cortejo de horrores ao longo de dois mil anos de história; mas não precisa ir muito longe: o nazismo hitlerista perpetrou os crimes mais bárbaros de toda a história da humanidade menos de 80 anos atrás, três gerações apenas. Nos anos 90 sérvios e hutus estavam trucidando concidadãos; e no Oriente Médio, na África, em outras paragens, nas favelas do Rio de Janeiro outros crimes bárbaros são cometidos, além do número inaceitável de feminicídios e crimes contra homossexuais e transgêneros. Não, ainda não nos livramos da barbárie, e parece que ainda vai demorar um pouco.  

 

Não querendo ser leniente com a realidade dos retrocessos no Brasil atual, o fato é que atravessamos um mau momento de nossa história, talvez o pior, às vésperas do Bicentenário, que deveria ser um momento de congraçamento, de unidade, de grandes balanços e de projetos para o futuro. Provavelmente, não teremos nada disso: apenas mais divisão, mais política do ódio, mais mediocridade e mais estupidez. Vamos aproveitar, nós, os iluminados, para avaliar nossos próprios erros, nossas desuniões na defesa de picuinhas particularistas, em lugar de consolidar o edifício democrático, a promoção da educação, a luta contra as desigualdades e a promoção dos direitos humanos. 

Num certo sentido, ainda somos um povo de selvagens, com alguns costumes bárbaros — entre os quais eu colocaria a corrupção política, dos políticos e dos donos do dinheiro — e várias outras deficiências culturais. 

Vamos avançando aos trancos e barrancos, como disse uma vez Darcy Ribeiro. Um dia acertamos e deslanchamos para o progresso e o bem-estar da maioria da população. Não sei quando isso virá. O que sei é que se costuma aprender mais com os fracassos do que com os sucessos.

Então, estamos servidos: estamos em meio a um dos maiores, senão o pior dos fracassos de nossa trajetória como povo, como nação e como sociedade. Aproveitemos para melhorar, já que, como dizia Mario de Andrade, o progresso também é uma fatalidade.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3841: 12 de janeiro de 2021


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Ricardo Bergamini: taxas de crescimento anual médio, 1964 a 2019

 Ricardo Bergamini é implacável quanto aos números do declínio econômico do Brasil. "Gostemos, ou não, os números abaixo vão ficar nos anais da história econômica do Brasil."

Paulo Roberto de Almeida

Taxa Média/Ano de Crescimento Econômico Real Relativo
ao Período de 1964 a 2019 em Percentuais do PIB
Períodos - Taxa de Crescimento Anual Médio
1964/84 - 6,29
1985/89 - 4,38
1990/94 - 1,40
1995/02 - 2,37
2003/10 - 4,09
2011/18 - 0,71
2019 - 1,10
Fonte: IBGE.
1 – Nos 21 anos dos governos militares, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 6,29% ao ano.
2 – Nos 5 anos do governo Sarney, com moratória internacional e hiperinflação, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 4,38% ao ano.
3 – Nos 5 anos dos governos Collor/Itamar, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 1,40% ao ano.
4 – Nos 8 anos do governo FHC, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 2,37% ao ano.
5 – Nos 8 anos do governo Lula, o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 4,09% ao ano.
6 – Nos 8 anos dos governos Dilma/Temer (2011/2018) o Brasil teve um crescimento econômico real médio de 0,71% ao ano.
7 – No primeiro ano do governo Bolsonaro o Brasil teve um crescimento econômico real de 1,10%.


terça-feira, 8 de outubro de 2019

China: mini-reflexão sobre um caso de sucesso - Paulo Roberto de Almeida

Uma breve síntese sobre uma das mais fantásticas experiências de renovação civilizatória jamais conhecida na história da humanidade.
A China vem da mais antiga tradição cultural de toda s trajetória humana sobre a Terra, mais ou menos em paralelo com a tradição judaica, que se preservou em sua essência, mas que nunca teve continuidade territorial, política e econômica, por ser um pequeno povo, sem pretensões ecumênicas, logo derrotado e disperso no mundo por um grande império. Mas, proporcionalmente, o povo judeu foi o que mais contribuiu para os avanços culturais da Humanidade, ainda que em ordem dispersa e não organizada institucionalmente, como a China, o antigo despotismo hidráulico de que falava Karl Wittfogel.
Ela esteve na vanguarda do mundo, sem pretensões universalistas, durante muitos séculos, mas por causa de um faux-pas de um imperador da dinastia Qing, ela se descolou do resto do mundo, e falhou na passagem a uma civilização industrial, que ela só alcançou no pós-maoísmo, o mais demencial episódio de desgoverno de sua história, e depois de quase dois séculos de decadência e de humilhações ocidentais.
Graças a um modesto imperador, Deng Xiaoping, ela ressurgiu para o mundo e sobretudo para si mesma, ainda que conservando traços de autocracia, que sempre foi a sua forma de governo habitual.
O mais importante, para o resto da humanidade, é que ela desempenha um papel eminentemente positivo no plano econômico, ao impulsionar o crescimento de outros países, e no plano dos progressos sociais. Ela já é a locomotiva econômica do mundo, a promotora da globalização e da interdependência.
Eu costumo dizer que, depois do grande conflito global (e ideológico) dos anos 1947-1991, que foi a Guerra Fria geopolítica EUA-URSS, estamos assistindo hoje (mas isso vem desde o final dos anos 1990, justamente) a uma Guerra Fria geoeconômica, mas que a China já venceu, inclusive por erros primários dos EUA, que de forma paranoica elegeram a China como adversária, e não como parceira, como deveria ser, não apenas com vantagens mútuas, mas em benefício de toda a humanidade. Em 2025, os chineses terão realizado o seu projeto Made in China — que não é nacionalismo tacanho, e sim liderança tecnológica, encerrando a fase de pirataria, contrafação e simples cópia— e estarão na liderança dos progressos tecnológicos mundiais. 
Serão uma democracia? Provavelmente não, mas isso não tem importância para o resto da humanidade, pois a China não pretende impor a ninguém, a nenhum país, o seu modelo político, que pode ser uma espécie de “despotismo esclarecido”, em todo caso baseado na globalização, no livre comércio e na interdependência ativa, de que é exemplo o BRI, a maior iniciativa de infraestrutura de toda a história da humanidade. A China faz o mundo se tornar verdadeiramente global.
Pena que o outro grande império da atualidade, os EUA, tenham retrocedido tanto no caminho da civilidade política e dos progressos culturais, e estejam hoje sob a administração caótica de um déspota ignorante (bem mais do que isso: estúpido e megalomaníaco), e tenham elegido a China — sob a influência arrogante dos paranoicos do Pentágono—como “inimiga”, em lugar de parceira, no grande empreendimento globalizador — e GLOBALISTA —que seria benéfico para toda a humanidade. Espero que os eleitores americanos  recomponham uma administração racional dentro em breve.
Pena que a Europa ocidental, esse grande cadinho cultural civilizatório, permaneça ainda um mosaico de povos e de culturas, sem grandes condições de liderar um projeto globalista democrático. E pena também que a Rússia tenha retornado ao seu padrão autocrático neoczarista, um império com pés de barro e sem as tradições humanistas da ponta ocidental da Eurásia. 
Também é uma pena que o Brasil e a América Latina tenham permanecido na letargia dos progressos lentos e descontinuados, por força de elites medíocres e corruptas, que aprofundam seu atraso no plano global. Atualmente o Brasil enfrenta um retrocesso em todos os planos, jamais visto em toda a sua história de 200 como nação independente, sob uma administração mais que ignara, inepta e estúpida, sectária e doentia, próxima de bárbaros desvairados.
Quanto à China, eu espero que Hong Kong resista aos avanços despóticos do novo imperador, e que, em 2047, ela seja bem mais parecida com a pequena ilha de bravos lutadores pela democracia, do que Hong Kong se pareça com a atual administração do continente.
Espero não estar errado em meus prognósticos, que de toda forma não assistirei.
Boas reflexões a todos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de setembro de 2019

sábado, 20 de abril de 2019

Diplomacia americana: seu longo declínio, no livro de William Burns - Jeremi Suri

O autor da resenha, Jeremi Suri, refere-se às memórias de Dean Acheson, Present at the Creation, para sinalizar que, depois de sua longa e segura ascensão, a diplomacia americana empreendeu um longo declínio, provavelmente concomitante à militarização da presença americana no mundo.
Paulo Roberto de Almeida

The Long Rise and Sudden Fall of American Diplomacy

One of Washington's most accomplished diplomats has traced how U.S. foreign policy went astray over decades—and how it can get back on track.


Syrian President Bashar al-Assad  shakes hands with U.S. under secretary for political affairs William Burns ahead of their meeting in Damascus on Feb 17, 2010. (Louai Beshara/AFP/Getty Images)
Syrian President Bashar al-Assad shakes hands with U.S. under secretary for political affairs William Burns ahead of their meeting in Damascus on Feb 17, 2010. (Louai Beshara/AFP/Getty Images) 

On the afternoon of Sept. 11, 2001, one of America’s most experienced diplomats, William Burns, sat in the deserted U.S. State Department compound, five blocks from the evacuated White House, contemplating the future of American foreign policy. The department’s computer systems were down, so he reverted to writing longhand. Burns, the assistant secretary of state for Near Eastern affairs, composed four pages that he later handed to Secretary of State Colin Powell, outlining ideas for the “imaginative and hard-nosed diplomacy” necessary to drain the Middle East of the terrorism that had now reached the United States. Burns’s advice was prescient; its rejection by the White House, Congress, and much of the American public reveals the debilitating “militarization of diplomacy”—the subject of Burns’s compelling memoir, The Back Channel.
“What was unfolding,” Burns writes, “was less a clash of civilizations than a clash within a civilization, a deeply battered Islamic world in the midst of a desperate ideological struggle. There were limits to what we could do directly to shape that debate. What we could do, however, was to help create a sense of geopolitical order that would deprive extremists of the oxygen they needed to fan the flames of chaos, and give moderate forces the sustained support they needed to demonstrate that they could deliver for their people.”

These were the insights of a former ambassador to Jordan who had served in high-ranking positions on the National Security Council (NSC) and in the State Department. In his memoir, Burns explains why his emphasis on diplomacy was so important as the United States embarked on a new global war against terrorism. Washington could never master the deeply complex histories, motivations, and factions within and around the region. The United States would have to rely on local relationships, which would require compromise, negotiation, and some humility. U.S. military power could not replace the necessary deference to regional sensibilities. Egyptian President Hosni Mubarak captured this well when he warned Burns, “You must not underestimate how much trouble those Iraqis can be. They spend their whole lives plotting against each other.”
If Secretary of State Dean Acheson’s classic memoir, Present at the Creation, narrates the growth of U.S. diplomacy during the early Cold War, Burns’s memoir captures the apex of U.S. diplomacy and its rapid decline 50 years later. Acheson’s generation of political leaders valued and supported the nation’s diplomats; Burns’s political masters, particularly after 9/11, did not. Burns offers a cogent argument for why that must change, soon.
U.S. leaders had excelled in the diplomacy surrounding the end of the Cold War. President George H.W. Bush and Secretary of State James Baker built enduring relationships with diverse leaders across the Soviet bloc and the Middle East. They negotiated compromises that gave other leaders what they needed in return for endorsement of key U.S. aims: nuclear arms control, reunification of Germany, and the reversal of Iraq’s occupation of Kuwait. Bush and Baker were less successful in negotiating a peace agreement between Israel and its neighbors, but they made progress there, too. Baker was the great U.S. diplomat of the late 20th century, as seen by Burns, who served on the State Department’s Policy Planning Staff and frequently traveled with the secretary: “His skills, weight within the administration, relationships with all the key players in the region, and proven ability to deliver could not be easily replicated. He seemed like the right peacemaker at the right time.”
Bush and Baker’s international achievements left a void as their successors undervalued the diplomacy they had carefully crafted to reach those results. A unipolar post-Cold War hegemon, the United States possessed unmatched military and economic power, and its ideological righteousness seemed unassailable. Who needed difficult, slow diplomatic compromises when U.S. leaders could get what they wanted largely through pressure and force?
The militarization of U.S. diplomacy began, according to Burns’s account, when President Bill Clinton pushed for rapid NATO expansion into the former Soviet bloc, despite prior U.S. commitments to the contrary (as confirmed by Burns in his memoir) and strong Russian objections. Although Clinton offered strong personal support to Russian President Boris Yeltsin, he failed to address the growing sense of insecurity and grievance within Russia. It appeared that the United States was muscling into Russian geopolitical space, brandishing guns and dollars. Washington offered little to assure concerned Russians, other than continued aid to a drunk, pro-American figure in the Kremlin.
The former Soviet bloc states had good reason to seek NATO membership, but the United States needed to do more to accommodate Russian fears. Diplomacy of this kind received little attention among Clinton’s impatient advisors. Burns, then the U.S. minister-counselor for political affairs in Russia, recounts: “Sitting at the embassy in Moscow in the mid-1990s, it seemed to me that NATO expansion was premature at best, and needlessly provocative at worst. … It was wishful thinking, however, to believe that we could open the door to NATO membership without incurring some lasting cost with a Russia coping with its own historic insecurities.”
The destructive cocktail of U.S. wishful thinking, military power, and ideological self-righteousness reached maximum potency with the Iraq War. Burns calls it America’s “original sin” of the post-Cold War order, “born of hubris, as well as failures of imagination and process.” Burns commends President George W. Bush’s personal sincerity, but he describes him as “reckless” in his commitment to overthrow Saddam Hussein militarily and ignore all advice to the contrary. Burns recounts what he and others at State, and within the Western alliance, told the White House: “There was ‘no evidence of an Iraqi role’ in 9/11, ‘no [regional or international] support for military action,’ and ‘no triggering event.’ There was a ‘relatively weak internal opposition [in Iraq],’ and little clarity on what might happen on the day after.”
These observations—repeated and confirmed by virtually all experienced diplomats at the time—were not an argument for doing nothing. Burns fills many pages with elaborations on the options, short of U.S. invasion, that would have addressed terrorism and other threats in the Middle East. These options included tightened international sanctions, increased support for alternative groups and power centers in the region, and, most important, closer cooperation among U.S. allies—most of whom were eager to show their support for the United States after 9/11.
Washington ran roughshod over all of these diplomatic options. The United States isolated itself, antagonized allies and adversaries, and diverted its resources to a lengthy military occupation that further destabilized the region. The winner of the war was Iran, which saw a regional rival defeated and found new influence in Iraq. The United States was a clear loser, as the “war in Iraq sucked the oxygen out of the administration’s foreign policy agenda.” Mired in Iraq, facing opposition around the globe, Washington found its diplomatic leverage diminished in almost every region. Burns recounts how Russian President Vladimir Putin took advantage of this situation by throwing his weight around in Central Asia, the Middle East, and Southeastern Europe. The United States had cornered itself.
Most damaging, the United States never recovered the diplomatic capital lost in Iraq. Burns recounts many skilled U.S. efforts to contain Russia and denuclearize Libya and Iran, but from military intervention to drone warfare Washington consistently “overrelied on American hard power to achieve policy aims and ambitions.” Even critics of the Iraq War presumed the United States had underused or misused military power; they did not address the diplomatic deficit. U.S. leaders failed to educate the public about the importance of forging compromise abroad, and they frequently encouraged more skepticism toward diplomacy. This was most evident during the Barack Obama administration’s negotiations with Iran, when members of Congress worked to undermine sensitive negotiations while they were still in process, calling recklessly for military intervention instead.
Before Donald Trump’s presidency, many Americans had adopted a dangerous “dismissiveness toward diplomacy.” This was a marked change from the last decades of the 20th century and the presidency of George H.W. Bush in particular. Allies, including much of Western Europe, now distanced themselves from Washington, both frustrated and concerned about U.S. callousness. Adversaries, especially Russia and China, swooped in to acquire new partners and isolate the United States. Ironically, post-Cold War U.S. militarization cracked open the liberal international order that U.S. diplomats had carefully and successfully nurtured for more than 50 years.
There are no easy solutions. The skilled U.S. diplomacy of the late Cold War was a historical aberration, reflecting the accumulated experience of the prior half-century and the leadership of a few distinctive personalities. The U.S. electoral system does not favor diplomats or the slow compromises they nurture in foreign policy. And the United States invests far more in military power than other less kinetic elements.
Nonetheless, Burns’s memoir reminds us of the continued importance of diplomacy, and it points to a number of things Americans can do to improve its practice for the national interest. First, it is high time Americans grapple with the failure of the war in Iraq. They need to hold their leaders historically accountable for their disastrous dismissal of diplomacy, rather than hunting for successful military roads not taken. Recognizing that military power cannot succeed without diplomacy, as evidenced in Iraq, is crucial for building the domestic support U.S. diplomats desperately need. They are the keys to winning future conflicts.
Second, the militarization of U.S. diplomacy is centered in the White House. Burns recounts how the NSC grew in size and influence during his 30 years in government. It frequently crowds out the diplomatic voices coming from the State Department, as happened during deliberations surrounding the expansion of NATO and the war in Iraq. The NSC has become a crisis-driven center for foreign policy, which has repeatedly privileged rapid military solutions for deep diplomatic problems. Reducing its influence, and empowering professional diplomats with area-specific experience, will create more space for creative, informed policymaking. Burns makes this point well: “Responsibility needs to be pushed downward in Washington, and ambassadors in the field need to be empowered to make more decisions locally.”
Third, and perhaps most important, Americans need to educate themselves about diplomacy. This is an old problem in a society that is skeptical about cosmopolitan elites and generally ignorant of its own history. In a very competitive world, managing global relationships will be more important than ever for business and policy. Investing in educating citizens about diplomacy—through language instruction, history, political science, and other related subjects—must become a priority. Educational leaders should take up this cause. The U.S. government should also invest in the issue, beginning with the education of its own diplomats. A recent study that I completed with my colleague, Ambassador Robert Hutchings, shows that the U.S. foreign service is behind many of its peers in the quality and quantity of diplomatic education that it offers to its own diplomats. The United States should at least begin to address the diplomatic deficit among its talented representatives.
Burns’s career captures an underutilized asset in U.S. foreign policy. America has the capacity to produce world-class diplomats, and it needs more of them than ever before. The “imaginative and hard-nosed diplomacy” that Burns describes amid the smoldering ruins of 9/11 should guide thinking about U.S. foreign policy as the country emerges from recent setbacks. Without renewed diplomacy, U.S. force will never be enough.

Jeremi Suri holds the Mack Brown Distinguished Chair for Leadership in Global Affairs at the University of Texas at Austin. He is a professor in the University's Department of History and the Lyndon B. Johnson School of Public Affairs.

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