Mini-reflexão sobre o que é verdadeiramente estratégico na vida da nação
Paulo Roberto de Almeida
Intelectuais e acadêmicos em geral, militares em especial, adoram falar que carecemos de algum “projeto nacional” (qualquer um, desde que seja grande, ambicioso, magnífico, o que normalmente requer dois PIBs, além do que temos).
Para isso, eles apontam a necessidade de algum tipo de “planejamento estratégico”, e nisso eles se esmeram com todo o ardor de suas capacidades, todo o fervor dos verdadeiros crentes na ideologia natural, e obsessional, do Brasil, que é o desenvolvimento nacional (atenção, o “nacional” é extremamente relevante, não pode faltar nesses planos, e o seu conceito implícito já revela todo um universo mental de pré-disposições patrioteiras).
Não importa agora que o chamado “desenvolvimentismo” seja a doença infantil da ideologia do desenvolvimento e que essa doença tenha contaminado boa parte dos líderes políticos civis, militares e proporção razoável dos acadêmicos.
Pois bem, já tem muita gente engajada em suas planilhas e estudos de viabilidade, traçando o futuro da nação com os tais “projetos nacionais” e fazendo os exercícios de “planejamento estratégico” que lhes são coetâneos e indispensáveis.
No plano institucional, já existe a SAE da PR, que deveria cuidar, pelo menos em teoria, da soberania da nação e da sua defesa contra ameaças externas, o que implica, justamente, algum planejamento estratégico em relações internacionais, em política externa e em áreas específicas de desenvolvimento que aparecem como absolutamente cruciais para o avanço da nação e a construção de seu bem-estar.
Os nacionalistas militares e os acadêmicos desenvolvimentistas acreditam que isso passa por políticas de defesa, de desenvolvimento industrial e tecnológico, dessas coisas grandiosas e estupidamente caras. Acho que já eles estão ERRADOS! A realização desses projetos ambiciosos custaria duas vezes o PIB que já não temos, pois parece que estamos andando para trás, estagnando, ou pelo menos crescendo de maneira muito lenta, de forma desequilibrada e socialmente injusta.
O caminho passa pela educação universal de qualidade nos dois primeiros ciclos e pela educação técnico-profissional. Ele começa pela professorinha de aldeia, não pelos militares do Forte Apache ou pelos mandarins corporativos da Esplanada dos ministérios, e menos ainda pelos nossos aristocratas de Ancien Régime, que são os altos magistrados e os membros do Judiciário e do Legislativo de forma geral.
Ele também passa pelo fim da corrupção política em TODAS as suas formas. Mas isso já é bem mais difícil de conseguir.
Uma das coisas mais difíceis de se obter é a de convencer os integrantes de nossa Nomenklatura, entre eles os milicos, que eles estão errados, que eles querem começar a construir a casa pelo teto, pela superestrutura, e não pelas fundações, que é o ensino universal e compulsório de boa qualidade — e, portanto, estatal, o que não significa que tenha de ser pelo Estado central —, o que NUNCA conseguimos fazer no Brasil, desde pelo menos os duzentos anos em que mandamos em nós mesmos.
Um dia chega...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2/01/2021