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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sábado, 21 de janeiro de 2023

Existiu algum risco de golpe de Estado por militares no Brasil? Não, mas o capitão aloprado se esforçou para ter um...

 Em junho de 2021, eu me interrogava sobre a possibilidade de algum golpe militar no Brasil? Embora eu achasse que não havia esse risco, eu afirmava que o capitão gostaria que ocorresse um. Eis o que escrevi...

 

Existe algum risco de golpe de Estado por militares no Brasil? Não, mas o capitão está preparando algum. Não conseguirá...


Paulo Roberto de Almeida

Postado no blog Diplomatizzando (sexta-feira, 18 de junho de 2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/06/existe-algum-risco-de-golpe-militar-no.html).

 

 

Não vejo riscos imediatos de o Brasil resvalar para um governo autocrático, ou seja, uma ditadura aberta, em moldes tradicionais; o próprio regime militar, na sua longa duração de duas décadas, se encarregou de “vacinar” o Brasil contra novas incidências desse tipo. Mas é um fato que os últimos dois anos e meio de um desgoverno medíocre e caótico redundaram numa deterioração sensível de muitas das instituições de Estado, bem como da qualidade das políticas públicas de governo. Não existe nenhuma dúvida que o personagem nefasto que ocupa a cadeira presidencial gostaria de se ver dotado ou investido de poderes que a Constituição lhe veda, ou de exercer algum controle sobre as duas outras instituições de Estado, e suas agências especializadas. Entre estas, também é notório que as FFAA, de modo geral, mas o Exército em particular, se envolveram ou se deixaram envolver numa ação de apoio político (e até logístico, quando não eleitoral) que redundaram nessa deterioração institucional que já é evidente e perigosa. 

Os militares, em geral, e determinados setores em particular, atuaram em total contradição com os requerimentos de uma situação em completo descalabro financeiro, buscando e obtendo vantagens corporativas e pessoais que estão em nítido descompasso com o presente estado econômico do país e das contas públicas. O mais surpreendente é, justamente, a subserviência demonstrada em diversos episódios constrangedores aos olhos da opinião pública, quando não da ética e da moralidade política. Esse rebaixamento de padrões já se manifestou em pesquisas de opinião registrando a nítida diminuição e deterioração da imagem geralmente positiva que as FFAA tinham conquistado três décadas depois do final da ditadura militar, da qual elas saíram bastante chamuscadas em seu prestígio e imagem pública, quando não em sua qualidade técnica a serviço da nação. 

Assim como o presente desgoverno não tem precedentes em toda a história do país, não existem registros comparáveis quanto à imagem pública das FFAA, salvo em momentos de comoção política mais forte: revoltas tenentistas do início do século XX, golpe do Estado Novo e implantação de uma feroz ditadura, novamente golpe militar em 1964, com episódios sombrios que mancharam a honra e a reputação das Forças e de seus integrantes – envolvidos em casos de torturas, assassinatos, desaparecimentos, arbítrio e violência, atos de crueldade e de desumanidade raramente vistos em nossa história – e inclusive colocaram certos setores das FFAA numa situação de rompimento com o Estado de Direito e com preceitos claros de natureza constitucional. 

Mas, todos os episódios anteriores tinham um claro contexto de conflitos no próprio tecido social e no sistema político nacional. Atualmente, temos o primeiro exemplo histórico, e espera-se o único e derradeiro, no qual a própria chefia do governo e do Estado se apresenta como o fator de ruptura na normalidade democrática e da quebra de padrões institucionais, sem a conivência das FFAA, mas tampouco com uma atitude de distanciamento crítico que seria de se esperar de comandantes comprometidos com a manutenção de um ambiente de plena vigência do Estado de Direito: as ameaças atuais parte do chefe de Estado e comandante das FFAA, que invoca abusivamente o apoio de que supostamente dispõe nas corporações de defesa e de segurança do país, inclusive com sérias ameaças de quebra de disciplina e de hierarquia. Por algo menos do que isso, os militares se insurgiram em 1963-64, resultando no golpe militar que dividiu o país por mais de duas décadas. O país volta a estar dividido atualmente, e um pouco da responsabilidade incumbe claramente às FFAA. 

 

Brasília, 18/06/2021

 

segunda-feira, 25 de julho de 2022

O Brasil e o golpe de Estado - Paulo Roberto de Almeida

Imaginando cenários, ou o roteiro de um filme

Paulo Roberto de Almeida

O que é um golpe de Estado, na sua versão clássica, ou mais simples?

Se trata de um pretendente a um novo regime, só seu, inclusive um chefe de governo já no poder, no sentido de utilizar forças armadas sob seu comando para invadir e manietar os dois outros poderes de Estado, assim como as principais ferramentas de comunicações, e proclamar, “em nome do povo”, o início de um novo governo, de “reorganização do país”. Essa é a versão clássica.

A outra versão, em câmara lenta, é o que fizeram candidatos a ditadores como Chávez, Ortega e Putin, ao controlar progressivamente os demais poderes, os meios de comunicação e os partidos de oposição, como ensina o novo manual de golpe de Estado e está descrito no livro sobre como morrem as democracias.

O Brasil não terá um golpe nouvelle manière como descrito nessa segunda versão. O pretendente a esse tipo de golpe é totalmente incapaz.

Portanto, só resta ao psicopata no poder o recurso às suas milícias, eventuais forças de segurança mobilizadas para tal efeito, tentar um golpe de Estado ao estilo antigo, sem o uso das FFAA, que provavelmente não entrariam nessa aventura.

O que poderiam fazer os chefes dos dois outros poderes, Legislativo e Judiciário, nessas circunstâncias?

Como faculta a Constituição, mobilizar as FFAA para se posicionarem em defesa dos poderes constituídos, dispersando as forças irregulares armadas e ordenando a prisão dos recalcitrantes, inclusive e principalmente o autor da tentativa de golpe. Tudo isso “provavelmente”, e desde que os personagens que respondem pelos poderes de representação popular e de defesa do Estado de Direito tenham a disposição que lhes faculta a Constituição de manter suas instituições funcionando segundo as regras constitucionais.

Imagino que os respectivos chefes desses dois poderes já tenhsm pensado nisso, e até conversado a respeito com os comandantes das FFAA.

Só imagino…

Roteiristas cinematográficos podem descrever os detalhes para o set de filmagem. Seria divertido e faria sucesso, inclusive no exterior. 

Os que fariam os parlamentares? Provavelmente se dividiriam, mas não pegariam em armas.

O que fariam os diplomatas profissionais (o que é uma curiosidade só minha)?

Provavelmente não fariam nada; esperariam a nova situação.

La nave va…

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 25/07/2022

sábado, 2 de abril de 2022

Milicos continuam mentindo sobre o golpe que implantou uma ditadura no Brasil - Cavalo Kfouri (Chumbo Gordo)

Militar, “militarmente”, e o que houve há 58 anos. Confusões nacionais

MILITAR MENTE - MILITARMENTE Os militares, 58 anos depois, continuam a mentir. Foi uma sanguinária ditadura que começou no dia 1º de abril – até na data mentem – em que centenas de pessoas foram assassinadas e milhares foram torturadas. Centenas de pessoas tiveram de sair do país para não serem mortas, muitas entre elas ocuparam altos cargos em universidades norte-americanas (todas comunistas…), europeias e na ONU. Assim como o atual mandante, todos os ditadores se diziam honestos, mas nunca houve tanta corrupção. O golpe é o mais triste episódio da História do Brasil, apesar de o ignaro ignóbil tentar superá-lo.

 Como era esperado, os inúteis  militares que compõem o atual governo, cúmplices dos criminosos que atuaram durante a ditadura, divulgaram nota, por meio do Ministério da Defesa – defesa do quê, de mortes, torturas? – comemorando o criminoso golpe militar.

Completando a tragédia, em discurso no Circo do Planalto, o ignaro ignóbil defendeu os ditadores militares e Daniel Silveira, o da tornozeleira, um dos presentes.

O golpe teve a “comemoração” merecida, elogios de medíocres.

 O discurso com mais sandices de todos os tempos

Foi ornejado ontem, 1ª de abril, e não é mentira, ele disse todas as asnices que se possa imaginar,  estão gravadas. Também não é mentira que foi aplaudido por militares de alta patente (?!) e ministros, dr. Quedroga entre eles. As imagens estão gravadas. Dize-me quem aplaude etc. etc. etc.

 https://www.youtube.com/watch?v=l85P3oS7lWQ

A falta de discernimento do ornejador é tanta que não percebe que o fato de não usar máscara incomoda porque põe a vida dos outros em perigo. A dele, ora a dele.

Confessou!

O “pastor” de “pastores” Milton Ribeiro, ex-ministro do que já foi Ministério da Educação, confessou – não é admitiu, é confessou, trata-se de um crime – à Polícia Federal que o ignaro ignóbil pediu-lhe que desse atenção especial a um dos achacadores de prefeitos na intenção de repassar verbas do MEC em troca de propina.

É mais um crime cometido a mando do chefe da quadrilha que se estabeleceu em Brasília a partir do dia 1º de janeiro de 2019. E o mandante ficará, mais uma vez,  impune, pois quem deveria tomar providência, o procurador-geral da República, faz parte do grupo.



domingo, 18 de julho de 2021

Bolsonaro pretende assumir plenos poderes? Não conseguirá! O golpe em câmara lenta do genocida - Paulo Roberto de Almeida e El País

 Nem marcha sobre Roma em 1922, nem incêndio do Reichtag em 1933. O capitão pretende insistir na criação artificial de crises entre os poderes e depois apelar para os seus “fasci”, as suas tropas de SAs, que são as PMs estaduais, sobre as quais não tem comando direto (tentou ter, mas não conseguiu), e acha que elas virão em seu socorro, junto com o bando heteróclito de milicianos armados, que insiste em constituir. 

Como diz a Constituição, qualquer um dos poderes pode fazer apelo às FFAA para a defesa da ordem constitucional. Isto sigifica que os presidentes do Congresso e do STF têm cada um o poder, e o DEVER, de impedir que o PR atente contra a Constituição mobilizando as FFAA. Os altos comandos das três Forças, sobretudo o Exército, não consentirão seguir o ministro da Defesa bolsonarista em qualquer aventura golpista do seu presidente.

Será que sou otimista demais? A melhor garantia de que essa hipótese não se apresente está no afastamento prévio do genocida do poder. Duas possibilidades de que isto ocorra: CPI da Pandemia incriminando  o presidente por crimes comuns e de responsabilidade e grandes manifestações populares com queda continua de seu apoio na população. FHC e Lula adotaram uma atitude ambígua (e prejudicial) neste último quesito, mas cabe continuar a mobilização.

Leiam esta importante matéria do El País sobre este tema: o golpe fracassado do genocida. Ele não leu, porque é um ignorante crasso, nenhum dos manuais de golpe de Estado, que de toda forma se referiam aos fenômenos bolchevique e fascistas da primeira metade do século XX. O Brasil não parece se submeter a uma espécie de Fujimorazo, nem a um vórtice chavista. Sobreviveremos, mas na covardia dos políticos, na pusilanimidade vergonhosa do Grande Capital e no comportamento dúbio dos militares.

Paulo Roberto de Almeida

El método Bolsonaro: un asalto a la democracia a cámara lenta

En casi tres años de Gobierno, el presidente ha roto los pactos sociales de Brasil. Siguiendo el guión de la ultraderecha de otros países, amenaza el legado político de 36 años de democracia. Este es su manual de poder.



Alfonso Benites, Carla Jiménez, Felipe Betim, Jamil Chade, Marina Rossi, Naiara Galarraga Gortázar, Regiane Oliveira

Pais El Pais, 17/07/2021


El 20 de enero de 2021, una asesora de la Oficina de Asuntos Globales del Departamento de Salud de Estados Unidos durante el Gobierno de Donald Trump, Valerie Huber, escribió un último correo a sus aliados de otros países y le dedicó un lugar especial a Brasil. Huber, una fanática promotora de la abstinencia que operaba a gran escala contra los programas de educación sexual y reproductiva, se despidió de sus compañeros con un anuncio: “Brasil se ha ofrecido amablemente a servir ahora como coordinador de esta histórica coalición”, puso en aquel mensaje, obtenido por EL PAÍS. La “coalición histórica” era, básicamente, una alianza internacional ultraconservadora creada para influir en las decisiones de las Naciones Unidas, la Organización Mundial de la Salud y otros organismos. Fracasado el intento de Trump de permanecer en el poder, la ofensiva de la derecha global contra los derechos de nueva generación quedaba en manos de la Administración de Jair Bolsonaro.

La salida de Trump de la Casa Blanca no solo le dejó a Bolsonaro una responsabilidad, sino también un manual no escrito de tácticas para erosionar la democracia, que algunos líderes han comenzado a replicar sin sutilezas en la región. Ninguno, tal vez, con el descaro y la determinación que han hecho del presidente brasileño un abanderado mundial de la derecha. Aunque el ímpetu golpista lo ha acompañado desde que llegó a la presidencia, su estrategia para debilitar las instituciones y mantenerse en el poder se hacen cada vez más evidentes a medida que su popularidad desciende y las elecciones de 2022 se acercan.

“Entregaré la banda presidencial a quien me gane en las urnas limpiamente. Con fraude, no”, dijo Bolsonaro el 1 de julio, como parte de su campaña más reciente: atacar la legitimidad de las urnas electrónicas, aquellas con las que él mismo ha sido elegido y reelegido al menos seis veces en su carrera política, sin que jamás haya impugnado el resultado. Una semana después fue un paso más allá: “De esta manera [como estamos hoy], corremos el riesgo de no tener elecciones el año que viene”.

Bolsonaro no es el primer populista de extrema derecha. Pero, sin duda, “es el adversario más poderoso al que se ha enfrentado la democracia brasileña en medio siglo”, como advirtió Yascha Mounk, profesor de la Universidad John Hopkins en 2019, en su libro El pueblo contra la democracia, donde retrató cómo los líderes electos en países como Turquía, Hungría y Filipinas destruyen el Gobierno democrático desde adentro. En poco más de dos años y medio que lleva Bolsonaro como mandatario, es posible descifrar el modus operandi del político forjado en el Ejército que asumió la presidencia de Brasil el 1 de enero de 2019: mientras parte de su actividad se concentra en perseguir a sus críticos, inventar noticias falsas que los periódicos deben desmentir y fomentar crisis políticas con otros poderes, la maquinaria del Estado es utilizada para fortalecer los pilares que podrían sostenerlo en su puesto más allá del voto. Si su estrategia discursiva parece un calco de Donald Trump, su sostén más importante es, paradójicamente, el mismo que ha utilizado el chavismo: los militares.

Una democracia verde oliva

Hoy, el estamento militar constituye la columna vertebral del Gobierno de Bolsonaro. Hay por lo menos 6.157 de ellos distribuidos en direcciones, consejos de administración y gerencias de empresas estatales como Petrobras, la hidroeléctrica Itaipú, Correos y Eletrobras. De sus 22 ministerios, nueve están ocupados por militares en activo o en la reserva. Eran diez hasta la caída en marzo del general Eduardo Pazuello del Ministerio de Sanidad. “Las Fuerzas Armadas sirven a la vez como base político-electoral del Gobierno de Bolsonaro, pero también como instrumento para intimidar a la oposición. Bolsonaro intenta transmitir la idea de que puede utilizar la fuerza contra sus enemigos políticos, por muy falso que sea”, afirma el politólogo Octavio Amorim Neto, profesor de la Fundación Getúlio Vargas.

El Gobierno invirtió el equivalente a 16.600 millones de dólares en privilegios a los militares. En este cálculo entran los beneficios concedidos con la reforma de las pensiones de los militares —pueden jubilarse con el sueldo íntegro, al contrario que los civiles—, un aumento salarial del 13% (en los demás funcionarios públicos no supera el 8%) y la concesión de comisiones extraordinarias a los militares que forman parte de los consejos de administración de las empresas estatales. El cálculo lo realizó, a petición de EL PAÍS, el politólogo Willian Nozaki, que en mayo publicó el estudio La militarización de la administración pública en Brasil: ¿proyecto de nación o proyecto de poder?. La cuenta no contempla el cambio en la norma que permite que los militares retirados como Bolsonaro o sus ministros Walter Braga Netto (Defensa), Luiz Eduardo Ramos (Presidencia) y Augusto Heleno (Gabinete de Seguridad Institucional) cobren un sueldo superior al techo constitucional de 7.500 dólares.

El mandatario ha extendido los beneficios a los policías militares de los 27 estados de la federación, una base de apoyo natural del presidente, y que podrían jugar a su favor a pesar de los gobernadores, a quienes responden formalmente. Bolsonaro aprobó recientemente un programa de financiación de viviendas exclusivo para las fuerzas de seguridad. También incluyó en la reforma administrativa que está en la Cámara de los Diputados un artículo para que los policías puedan ser considerados funcionarios típicos del Estado, por lo que no correrían el riesgo de ser despedidos.

La pregunta es si todos estos beneficios que los militares y policías han conseguido del Gobierno se convertirán en apoyo en caso de que el presidente intente quedarse con el poder el año que viene. “Si ocurriera, las Fuerzas Armadas tendrían que tomar una decisión: si van a actuar dentro de la legalidad, rompiendo públicamente de una vez por todas con Bolsonaro, o no”, advierte Amorim Neto. Las policías, por su parte, siguen la corriente predominante. “Ellos tienen doble mando. Obedecen a los 27 gobernadores y al Comandante en Jefe del Ejército. Si se le pregunta a un policía militar a quién seguirá en caso de amenaza, la respuesta que dará será: a quien sea más fuerte”, explica el politólogo Jorge Zaverucha, profesor de la Universidad Federal de Pernambuco.

Para el exministro de Defensa y Relaciones Exteriores Celso Amorim, ningún comandante de las Fuerzas Armadas está de acuerdo con una intervención. “Es más bien una discusión entre algunos generales de la reserva. Por mucho que una buena parte de la tropa esté de acuerdo con las ideas del presidente, no irá en contra de lo que piensa el Alto Mando del Ejército. No se cruzará esa línea”, afirma. Amorim cree que algunos comandantes se han visto humillados cuando Bolsonaro lleva la política a los cuarteles por la fuerza y trata de demostrar más poder del que tiene sobre las Fuerzas Armadas. Esa es una de las razones que habrían provocado la dimisión colectiva del ministro de Defensa y de los comandantes del Ejército, la Marina y la Fuerza Aérea en mayo pasado. Amorim, exministro de los Gobiernos de Lula y Dilma Rousseff, recuerda que cualquier golpe requiere apoyo internacional, algo que Brasil no tiene, especialmente con la llegada de Joe Biden a la Casa Blanca.

Así como han ganado privilegios, los militares también viven el desgaste del poder al lado de Bolsonaro. Han prestado su imagen a un Gobierno que pierde prestigio con los resultados de la pandemia, el alto desempleo y las sospechas de corrupción en la compra de vacunas contra la covid-19. Las acusaciones de soborno que investiga la Comisión Parlamentaria de la Pandemia empiezan ahora a tocar a militares que ocupan o ocupaban cargos en el Ministerio de Sanidad.

Jair Bolsonaro no vive su mejor momento. Rechazado por la mitad de la población por cómo ha gestionado la pandemia, el mandatario se enfrenta desde mayo a protestas contra su gestión impulsadas por los partidos de izquierda. Los sondeos ya mostraban que el apoyo a Bolsonaro caía poco antes de que las denuncias de corrupción por la compra de vacunas para la covid llegaran a los noticieros a finales de junio. Una encuesta realizada por el Instituto Ipec entre los días 17 y 21 de ese mes mostraba una fuerte caída de su popularidad frente al expresidente Lula da Silva: si las elecciones fueran hoy, el candidato del Partido de los Trabajadores tendría 49% de los votos, frente al 23% a favor de Bolsonaro. Lula ganaría en primera vuelta. En una encuesta más reciente, realizada por el instituto Datafolha entre el 7 y el 8 de este mes, Lula figura con un 58% de apoyo a su candidatura presidencial frente al 31% de Bolsonaro.

Las trampas oficiales

A pesar de este momento crítico, a un año y tres meses de las elecciones, Bolsonaro aún tiene tiempo, votantes y alianzas leales, además de la maquinaria pública a su favor, para navegar por estas aguas turbulentas hasta llegar a 2022 con fuerza para ser reelegido. Ante el temor de perder las elecciones, al igual que hizo Trump, el presidente ya ha plantado la semilla del caos, inventando un riesgo de fraude con las urnas electrónicas.

Y, al igual que Trump, día tras día sacude al país con discursos radicales y distópicos que contradicen la realidad y desafían la Constitución. El 19 de julio de 2019, por ejemplo, durante un desayuno con periodistas extranjeros, Bolsonaro afirmó que en Brasil no había gente que pasara hambre, a pesar de que en ese momento 5,2 millones de brasileños se encontraban en esa situación, una cifra que supera a toda la población de Nueva Zelanda. “Decir que la gente pasa hambre en Brasil es una gran mentira”, afirmó rotundamente en presencia de periodistas internacionales. “La pasan mal, no comen bien. Pero no pasan hambre”, dijo. Y mientras la prensa se hacía eco de su discurso, ese mismo día se publicaba en el Diario Oficial un decreto que revocaba 324 actos administrativos, entre ellos el que determinaba la creación de consejos con participación de representantes de la sociedad civil en las decisiones sobre políticas públicas. Fue el primer plumazo para reducir el control social sobre el poder público. Luego vinieron otros, que también redujeron la transparencia de los actos del Gobierno.

Cuando empezó la pandemia, por ejemplo, el Gobierno promulgó una medida provisional que suspendió los plazos de respuesta a las solicitudes de información mientras durara la crisis sanitaria. La medida estuvo en vigor de marzo a julio del año pasado y se aplicaba en todos los organismos cuyos empleados estuvieran trabajando a distancia. Aunque ya ha caducado, consiguió eliminar el acceso a los datos públicos en un momento en que el país se organizaba en el caos.

La promulgación de ordenanzas, despachos, resoluciones, decretos o instrucciones normativas es uno de los recursos más consistentes a los que apela Bolsonaro para sortear los mecanismos democráticos. En dos años y medio en el poder, el presidente ha firmado 1.060 decretos. En comparación, la expresidenta Dilma Rousseff firmó 614, la mayoría para regular leyes u organizar la gestión pública. Sin embargo, en el Gobierno actual se han convertido en una herramienta para ir contra la Constitución y los engranajes que sostienen la democracia. Aunque algunos de esos decretos son anulados meses después por la justicia, entretanto el plan de Bolsonaro de mantenerse en el poder avanza.

Así fue cómo logró expandir la venta de armas en Brasil, a pesar de que el país tenía un Estatuto de Desarme, avalado por referéndum popular en 2005. Más del 63% de los brasileños votó entonces la prohibición. Pero desde que Bolsonaro asumió la presidencia se han aprobado más de 30 actos normativos para burlar esta limitación. Y aunque los decretos pueden ser impugnados en los tribunales, las armas que ya fueron vendidas no serán devueltas. “La obsesión del presidente con las armas fue la primera señal de que el Gobierno iba a meterse con el sistema democrático”, dice Melina Risso, directora de programas del Instituto Igarapé.

En un virtual escenario en el que Bolsonaro pierda la reelección e intente mantenerse en el poder, la existencia de un amplio grupo de simpatizantes que se han provisto de armas de fuego durante su Gobierno plantea un escenario ominoso. De este modo, burlar los límites impuestos por las leyes cumple una doble función: mantener la lealtad de su núcleo duro de apoyo y, simultáneamente, proteger sus propios intereses.

Bajo este método, ninguna otra área ha sufrido más ataques del Gobierno de Bolsonaro que la protección social y ambiental. Son 1.112 los actos administrativos que pretenden cambiar la legislación ambiental y facilitar la explotación de la selva, según el Instituto Talanoa de Políticas Públicas, que fiscaliza la actuación del Gobierno. La eficacia de esta táctica es innegable. La deforestación en la Amazonia ha alcanzado niveles récord desde la llegada de Bolsonaro mientras el Gobierno ignora las acciones de mineros ilegales y madereros. El Fondo Amazonia, que recibe donaciones extranjeras con el objetivo de promover acciones de control y lucha contra la deforestación en la Amazonia, fue una de las víctimas de esta revocación masiva. El fondo tenía un comité técnico que deliberadamente no se renovó. El contrato se extinguió sin utilizar 554 millones de dólares, que aún siguen allí.

Del total de actos administrativos, 107 tenían como objetivo flexibilizar las normas vigentes unilateralmente por el Ejecutivo. Con ellos, Bolsonaro cumplió una de sus promesas de campaña: acabar con lo que llamaba la “industria de las multas en el campo”. Un decreto publicado en abril de 2019 obliga ahora a los organismos de inspección a “fomentar la conciliación” en los casos de infracciones por daños ambientales. Las audiencias no son obligatorias. Y los que son multados por el Instituto Brasileño del Medio Ambiente obtienen descuentos y plazos más largos para pagar. “La conciliación medioambiental se ha creado para impedir las multas. Nació una industria del perdón”, se lamenta Natalie Unterstell, presidenta del Instituto Talanoa de Políticas Públicas.

Los terratenientes que se oponen a la preservación son una de las bases de apoyo del presidente. La bancada de diputados que representa la agroindustria forma parte del grupo legislativo Centrão, una coalición de partidos sin programa ni ideología que, tras el acuerdo sellado el año pasado, garantiza al presidente su estabilidad en el poder. Esta convergencia en el Congreso permitió que el 13 de mayo se aprobara un proyecto de ley que flexibiliza las normas para conceder licencias ambientales para determinadas iniciativas. O el apoyo a la aprobación del proyecto de ley 490, que dificulta la demarcación de tierras indígenas y deja espacio para que las tierras sean exploradas por la agroindustria, y que fue aprobado a fines de junio por una comisión parlamentaria.

Noticias a medida

Las redes de comunicación de Bolsonaro son un capítulo aparte en su estrategia para debilitar la democracia brasileña. Desde que asumió el cargo hace transmisiones semanales en directo en redes sociales. Con su llegada a la presidencia, su línea de ataque a los periodistas que ya se conocía desde sus días como diputado, se ha multiplicado con milicias virtuales que atacan a profesionales críticos, sobre todo mujeres.

Su aversión a la prensa ha llevado al presidente a enclaustrarse en un círculo de páginas web y cadenas de televisión que le apoyan incondicionalmente, al mismo tiempo que reciben mayores partidas de fondos públicos. Esa redes la que abastece de información a sus seguidores más fieles. Vinicius Publio, de 45 años, por ejemplo, es un orgulloso partidario de Bolsonaro que no lee noticias y rara vez ve el telediario. Prefiere informarse por las redes que apoyan al presidente, a quien admira con devoción. Su explicación resulta conocida: “Es auténtico, habla claro, es directo, dice lo que la gente quiere oír”, explica en una cafetería de Barueri, en el área metropolitana de São Paulo.

Publio comparte la ideología, el gusto por las armas y las motos potentes del presidente. Montado en su BMW, fue uno de los que acompañaron al mandatario en un convoy de motos un sábado de junio por las calles y carreteras de São Paulo. Bolsonaro ha convertido los paseos en moto con seguidores en manifestaciones públicas de apoyo popular.

Casado y padre de dos hijos adolescentes, Publio concilia su trabajo en la Policía Militar con los negocios inmobiliarios. Personifica el núcleo duro de los votantes de Bolsonaro, aquellos que le son fieles sin importar los hechos que se le cuestionen: más de medio millón de muertes por la pandemia, el aumento de la inflación, los incendios en la Amazonia... “Son un 15% del electorado brasileño, con una presencia destacada de hombres blancos de cierta edad y renta alta”, explica Isabela Kalil, coordinadora del Observatorio de la Extrema Derecha.

Mientras estrecha la fidelidad con el grupo que lo respalda y difunde sus ‘verdades’ sin cuestionar, Bolsonaro utiliza los recursos disponibles en la legislación brasileña para perseguir y amedrentar a sus críticos, basándose en la Ley de Seguridad Nacional.

Consolidada en 1983, dos años antes del fin de la dictadura, esa ley es una herencia que dejó la era militar en Brasil, y que la Policía Federal la ha utilizado recientemente para investigar a profesores, artistas y activistas. Con esta norma por ejemplo, el Gobierno ha perseguido judicialmente al YouTuber Felipe Neto por calificar de “genocida” a Bolsonaro en las redes sociales; al caricaturista Aroeira, que dibujó el símbolo del fascismo como si lo hubiera pintado el presidente, y al periodista Ricardo Noblat por haber compartido la caricatura de Aroeira en las redes. Este tipo de acciones ha permeado en sus las bases. A finales de mayo, un profesor del Estado de Goiás, Arquidones Leão, fue detenido por un policía militar por supuestamente calumniar al presidente Bolsonaro. Leão tenía un cartel pegado en su coche en que se leía “Bolsonaro Genocida”. La excusa de la policía para detenerlo era la infracción a la Ley de Seguridad Nacional.

“Esta ley era uno de los elementos que mantenían el sistema dictatorial. Castiga la crítica”, dice Pedro Estevam Serrano, profesor de Derecho de la Pontificia Universidad Católica de São Paulo. “Debería haberse derogado y no se hizo, pero en compensación había un cierto pacto en la sociedad para no utilizarla”.

La ley, heredada de la dictadura, no ha sido la única herramienta utilizada por el Gobierno para tratar de silenciar el disenso. Las universidades también son un frente de batalla ideológica para Bolsonaro. Para el presidente están llenas de “izquierdistas” que promocionan el comunismo. El Gobierno intentó interferir hasta en las elecciones de los rectores, habitualmente elegidos por sus colegas, a través de una medida provisional que facultaba al ministro de Educación a decidir los nombres durante la pandemia. A la vez, intimidó a los profesores que criticaban al Gobierno con demandas en los tribunales.

En enero de este año, los profesores universitarios Erika Suruagy y Tiago Costa Rodrigues fueron objeto de una investigación de la Policía Federal por publicar críticas al presidente en vallas publicitarias en sus ciudades, Recife y Palmas, respectivamente. Las investigaciones se archivaron meses después por falta de consistencia en las acusaciones, pero el daño ya estaba hecho. “Se me cerraron las puertas, no he podido volver a trabajar”, dice Rodrigues, que tuvo que trasladarse a otra ciudad. “El ambiente es de miedo”, resume la profesora Erika Suruagy.

La Universidad Federal de Ceará también es objeto de una investigación de la Policía Federal. Todo porque profesores dieron clases sobre los riesgos del fascismo. Alumnos electores de Bolsonaro los delataron a la policía por un supuesto acoso. Episodios como este hacen presión para evitar que los profesores discutan temas políticos en las clases. No han sido pocos los casos de vídeos de profesores filmados por alumnos cuando hacían alguna crítica informal y que han circulado en las redes bolsonaristas como si se tratara de una conspiración comunista. “Si la universidad no puede hablar, no puede debatir ideas, ¿quién lo hará? Ninguna democracia puede sostenerse sin universidades”, afirma la profesora Suruagy.

El presidente también socava la inversión en las universidades, estrangulando todavía más el ya asfixiado presupuesto de la enseñanza superior. Desde 2019 hasta la fecha, el recorte acumulado en el presupuesto de las universidades federales es del 25%, según la Asociación Nacional de Directores de Instituciones Federales de Enseñanza Superior. Pero el acoso no se limita a los profesores universitarios. La Articulación Nacional de Carreras Públicas para el Desarrollo Sostenible, una coalición de entidades del sector público, ha identificado más de 820 casos de acoso. Según el estudio realizado, el Instituto Brasileño de Medio Ambiente encabeza la lista de los órganos en los que más se ha producido este tipo de intimidación.

La resistencia

Hasta ahora es el Poder Judicial, especialmente el Supremo Tribunal Federal, el que ha actuado como una barrera para inhibir los abusos de poder del presidente en sus decretos y medidas provisionales. Ha desarmado parte de las bombas de relojería que el Gobierno ha creado con los actos que no pasan por el Congreso. También ha liderado una investigación, conducida por la Policía Federal, sobre las redes digitales bolsonaristas que incentivan el acoso al mismo Poder Judicial y a los adversarios del presidente. Así encontró pruebas de “una verdadera organización criminal” que ataca la democracia y que cuenta con el trabajo de parlamentarios, empresarios que apoyan al al presidente y blogueros que desparraman noticias falsas.

Hoy existen más de 100 solicitudes de impeachment contra Bolsonaro sobre la mesa del presidente de la Cámara de los Diputados, Arthur Lira, que no ha mostrado interés en hacerlas prosperar. La última, presentada a finales de junio como una “supersolicitud” que reúne todas los demás, contiene una lista de 23 posibles delitos de responsabilidad, incluyendo la prevaricación.

Las calles empezaron a agitarse en mayo, sobre todo con la presión que la Comisión Parlamentaria del Senado ejerció apuntando las responsabilidades del presidente en la gestión errática de la pandemia. Las protestas organizadas por la izquierda en tres ocasiones reunieron a miles de manifestantes, especialmente en las capitales del país, pero todavía no tienen el apoyo de la derecha. Brasil se encuentra en esta encrucijada, con los principales partidos resistiéndose a unirse a las protestas, hasta ahora dominadas por los votantes del expresidente Lula.

En su libro El pueblo contra la democracia, el profesor Yascha Mounk recuerda que, en la mayoría de los países, los populistas solo llegan a la cima porque sus oponentes no logran hacer un pacto electoral. “Aunque es natural suponer que la amenaza autoritaria puede ayudarnos a ver las cosas con más claridad, también es cierto lo contrario: angustiados y aterrorizados, los oponentes de los populistas empiezan a jugar el juego de la pureza política, imponiendo pruebas... negándose a abrazar a antiguos aliados del populista”, explica.

Un paso importante lo ha dado el expresidente Fernando Henrique Cardoso, quien desde abril señala que podría votar a Lula en una posible segunda vuelta contra Bolsonaro. “Quien no tiene perro caza con gato”, afirmó Cardoso. Los posibles candidatos a las elecciones de 2022 entrevistados por EL PAÍS en los últimos meses tenían claro que la unión contra Bolsonaro era irreversible, y no descartan renunciar a la candidatura en algún momento de la carrera para evitar que él pase a la segunda vuelta.

El objetivo es evitar la reelección de Bolsonaro, lo que impediría el asalto contra la democracia, como ha ocurrido en otros países gobernados por líderes radicales. “Todos los gobiernos autoritarios actuales fueron degradando poco a poco la democracia en el primer mandato y el desmantelamiento definitivo llegó en el segundo”, recuerda el Pedro Abramovay, director de Open Society para América Latina.

“Bolsonaro no tiene ninguna convicción democrática, la acepta por razones estratégicas”, afirma el politólogo Jorge Zaverucha. “Se mantiene a la espera de que un día los vientos soplen hacia una solución autoritaria y pueda embarcar”, añade. A la espera de esas borrascas, Bolsonaro avanza en sus propósitos. Muchos brasileños los ven venir. Y los temen.

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sexta-feira, 18 de junho de 2021

Existe algum risco de golpe militar no Brasil? Não, embora o capitão gostaria que ocorresse - Paulo Roberto de Almeida

 Existe algum risco de golpe de Estado por militares no Brasil? Não, mas o capitão está preparando algum. Não conseguirá...

Paulo Roberto de Almeida

Não veja riscos imediatos de o Brasil resvalar para um governo autocrático, ou seja, uma ditadura aberta, em moldes tradicionais; o próprio regime militar, na sua longa duração de duas décadas, se encarregou de “vacinar” o Brasil contra novas incidências desse tipo. Mas é um fato que os últimos dois anos e meio de um desgoverno medíocre e caótico redundaram numa deterioração sensível de muitas das instituições de Estado, bem como da qualidade das políticas públicas de governo. Não existe nenhuma dúvida que o personagem nefasto que ocupa a cadeira presidencial gostaria de se ver dotado ou investido de poderes que a Constituição lhe veda, ou de exercer algum controle sobre as duas outras instituições de Estado, e suas agências especializadas. Entre estas, também é notório que as FFAA, de modo geral, mas o Exército em particular, se envolveram ou se deixaram envolver numa ação de apoio político (e até logístico, quando não eleitoral) que redundaram nessa deterioração institucional que já é evidente e perigosa. 

Os militares, em geral, e determinados setores em particular, atuaram em total contradição com os requerimentos de uma situação em completo descalabro financeiro, buscando e obtendo vantagens corporativas e pessoais que estão em nítido descompasso com o presente estado econômico do país e das contas públicas. O mais surpreendente é, justamente, a subserviência demonstrada em diversos episódios constrangedores aos olhos da opinião pública, quando não da ética e da moralidade política. Esse rebaixamento de padrões já se manifestou em pesquisas de opinião registrando a nítida diminuição e deterioração da imagem geralmente positiva que as FFAA tinham conquistado três décadas depois do final da ditadura militar, da qual elas saíram bastante chamuscadas em seu prestígio e imagem pública, quando não em sua qualidade técnica a serviço da nação. 

Assim como o presente desgoverno não tem precedentes em toda a história do país, não existem registros comparáveis quanto à imagem pública das FFAA, salvo em momentos de comoção política mais forte: revoltas tenentistas do início do século XX, golpe do Estado Novo e implantação de uma feroz ditadura, novamente golpe militar em 1964, com episódios sombrios que mancharam a honra e a reputação das Forças e de seus integrantes – envolvidos em casos de torturas, assassinatos, desaparecimentos, arbítrio e violência, atos de crueldade e de desumanidade raramente vistos em nossa história – e inclusive colocaram certos setores das FFAA numa situação de rompimento com o Estado de Direito e com preceitos claros de natureza constitucional. 

Mas, todos os episódios anteriores tinham um claro contexto de conflitos no próprio tecido social e no sistema político nacional. Atualmente, temos o primeiro exemplo histórico, e espera-se o único e derradeiro, no qual a própria chefia do governo e do Estado se apresenta como o fator de ruptura na normalidade democrática e da quebra de padrões institucionais, sem a conivência das FFAA, mas tampouco com uma atitude de distanciamento crítico que seria de se esperar de comandantes comprometidos com a manutenção de um ambiente de plena vigência do Estado de Direito: as ameaças atuais parte do chefe de Estado e comandante das FFAA, que invoca abusivamente o apoio de que supostamente dispõe nas corporações de defesa e de segurança do país, inclusive com sérias ameaças de quebra de disciplina e de hierarquia. Por algo menos do que isso, os militares se insurgiram em 1963-64, resultando no golpe militar que dividiu o país por mais de duas décadas. O país volta a estar dividido atualmente, e um pouco da responsabilidade incumbe claramente às FFAA. 

Não vejo, portanto, riscos imediatos de o Brasil resvalar para um governo autocrático, ou seja, uma ditadura aberta, em moldes tradicionais; o próprio regime militar, na sua longa duração de duas décadas, se encarregou de “vacinar” o Brasil contra novas incidências desse tipo. Mas é um fato que os últimos dois anos e meio de um desgoverno medíocre e caótico redundaram numa deterioração sensível de muitas das instituições de Estado, bem como da qualidade das políticas públicas de governo. Não existe nenhuma dúvida que o personagem nefasto que ocupa a cadeira presidencial gostaria de se ver dotado ou investido de poderes que a Constituição lhe veda, ou de exercer algum controle sobre as duas outras instituições de Estado, e suas agências especializadas. Entre estas, também é notório que as FFAA, de modo geral, mas o Exército em particular, se envolveram ou se deixaram envolver numa ação de apoio político (e até logístico, quando não eleitoral) que redundaram nessa deterioração institucional que já é evidente e perigosa. 

Os militares, em geral, e determinados setores em particular, atuaram em total contradição com os requerimentos de uma situação em completo descalabro financeiro, buscando e obtendo vantagens corporativas e pessoais que estão em nítido descompasso com o presente estado econômico do país e das contas públicas. O mais surpreendente é, justamente, a subserviência demonstrada em diversos episódios constrangedores aos olhos da opinião pública, quando não da ética e da moralidade política. Esse rebaixamento de padrões já se manifestou em pesquisas de opinião registrando a nítida diminuição e deterioração da imagem geralmente positiva que as FFAA tinham conquistado três décadas depois do final da ditadura militar, da qual elas saíram bastante chamuscadas em seu prestígio e imagem pública, quando não em sua qualidade técnica a serviço da nação. 

Assim como o presente desgoverno não tem precedentes em toda a história do país, não existem registros comparáveis quanto à imagem pública das FFAA, salvo em momentos de comoção política mais forte: revoltas tenentistas do início do século XX, golpe do Estado Novo e implantação de uma feroz ditadura, novamente golpe militar em 1964, com episódios sombrios que mancharam a honra e a reputação das Forças e de seus integrantes – envolvidos em casos de torturas, assassinatos, desaparecimentos, arbítrio e violência, atos de crueldade e de desumanidade raramente vistos em nossa história – e inclusive colocaram certos setores das FFAA numa situação de rompimento com o Estado de Direito e com preceitos claros de natureza constitucional. 

Mas, todos os episódios anteriores tinham um claro contexto de conflitos no próprio tecido social e no sistema político nacional. Atualmente, temos o primeiro exemplo histórico, e espera-se o único e derradeiro, no qual a própria chefia do governo e do Estado se apresenta como o fator de ruptura na normalidade democrática e da quebra de padrões institucionais, sem a conivência das FFAA, mas tampouco com uma atitude de distanciamento crítico que seria de se esperar de comandantes comprometidos com a manutenção de um ambiente de plena vigência do Estado de Direito: as ameaças atuais parte do chefe de Estado e comandante das FFAA, que invoca abusivamente o apoio de que supostamente dispõe nas corporações de defesa e de segurança do país, inclusive com sérias ameaças de quebra de disciplina e de hierarquia. Por algo menos do que isso, os militares se insurgiram em 1963-64, resultando no golpe militar que dividiu o país por mais de duas décadas. O país volta a estar dividido atualmente, e um pouco da responsabilidade incumbe claramente às FFAA. 


Brasília, 18/06/2021

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Tecnica do golpe de Estado - militares turcos nao leram Curzio Malaparte

Em 1931, Curzio Malaparte, um nome de invenção do escritor italiano nascido no final do século 19 como Kurt Erich Suckert (o Malaparte era uma gozação com os Bonaparte), publicou em francês (porque na Itália do fascismo seria difícil), um livro -- que não foi o mais famoso de uma carreira famosa, ainda que camaleônica, indo do fascismo ao comunismo, passando pelo partido republicano e um aceno à Igreja Católica -- escrito a partir das experiências de golpes de Estado contemporâneos, o putsch bolchevique de Lênin, em 1917, a Marcha sobre Roma de Mussolini, em 1992 (da qual ele participou, como entusiasta que era de o fascismo, mas de esquerda, ou seja socialista), e a tentativa de golpe de Hitler em Munique, em 1923, que resultou na prisão do nazista (e no crescimento do partido nacional socialista), cujo título era curto e grosso:

Técnica do Golpe de Estado (Technique du Coup d'État)

Trotsky, retratado no livro (junto com Stalin, Lênin, o próprio Mussolini, e Hitler), leu essa edição francesa e retrucou ao autor, por telegrama desde Copenhagen, pouco antes de partir para o México, onde viria a ser assassinado quase dez anos depois por um mercenário a serviço de Stalin (objeto de um grande romance-verdade de José Padura, El Hombre que Amaba los Perros, além de um outro romance policial-politico de Jorge Semprun, La Deuxième Mort de Ramón Mercader.

Pois bem, parece que os militares golpistas da Turquia não leram nem o livro de Curzio Malaparte, nem aprenderam com os grandes golpes de Estado, que são, paradoxalmente, muito comuns na história política da Turquia, quase tanto, ou mais, quanto em países da América Latina, Brasil inclusive.
O livro explica as várias técnicas (e a palavra era não apenas moderna, naquela época, como absolutamente essencial para explicar o que pretendia esse jornalista-romancista que depois virou romancista exclusivamente, mas sempre mesclando suas obras com elementos retirados da realidade) que os golpistas precisam absolutamente empregar para conduzir um golpe bem sucedido, assim como fizeram Lênin, Mussolini, e menos bem Hitler e outros trapalhões por aqui e em outras partes.
Malaparte retrata o ambiente em Petrogrado antes do putsch dos bolcheviques (muitos deles absolutamente contrários ao golpe proposto por Lênin, pois para eles isso seria contrariar o princípio da revolução da classe operária, que Lênin sabia que não viria), e faz o perfil psicológico dos principais personagens, assim como fez com Hitler e Mussolini, sobre os quais ele insinua gestos efeminados.

Acho que os militares turcos precisariam ler não só Curzio Malaparte, como aprender com o know-how, a técnica, a verdadeira tecnologia de golpes de Estado dos generais latino-americanos (não sei se ainda temos alguns golpistas por aqui, pois já fazem quase 30 anos que não se fazem mais golpes decentes por aqui, e não sei se algum deles deixou um manual operacional para um golpe bem sucedido.

Quem sabe algum gozador bem informado não prepara um:

Coup d'État for Dummies,
ou The Idiot's Guide for Coup d'États,
ou ainda, How to Iniciate, Complete, and Survive a Successful Coup d'État,
ou mesmo um All that you always wanted to know about a good coup d'État and never had someone to ask,
ou quem sabe então um: The Complete Guide on How to Perform a Wonderful Coup, and Become Youself a Brilliant Chef d'État ?

Pronto, já dei minha contribuição para um bom golpe de Estado.
Quem desejar ler o manual (um pouco surrealista, hoje) de Curzio Malaparte, tem uma nova edição italiana na

Piccola Biblioteca Adelphi
2011, 3ª ediz., pp. 270 
isbn: 9788845926327 
 € 12,75
http://www.adelphi.it/libro/9788845926327

Divirtam-se (if you may...)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2016

Tecnica do golpe de Estado - militares turcos nao leram Curzio Malaparte

Em 1931, Curzio Malaparte, um nome de invenção do escritor italiano nascido no final do século 19 como Kurt Erich Suckert (o Malaparte era uma gozação com os Bonaparte), publicou em francês (porque na Itália do fascismo seria difícil), um livro -- que não foi o mais famoso de uma carreira famosa, ainda que camaleônica, indo do fascismo ao comunismo, passando pelo partido republicano e um aceno à Igreja Católica -- escrito a partir das experiências de golpes de Estado contemporâneos, o putsch bolchevique de Lênin, em 1917, a Marcha sobre Roma de Mussolini, em 1992 (da qual ele participou, como entusiasta que era de o fascismo, mas de esquerda, ou seja socialista), e a tentativa de golpe de Hitler em Munique, em 1923, que resultou na prisão do nazista (e no crescimento do partido nacional socialista), cujo título era curto e grosso:

Técnica do Golpe de Estado (Technique du Coup d'État)

Trotsky, retratado no livro (junto com Stalin, Lênin, o próprio Mussolini, e Hitler), leu essa edição francesa e retrucou ao autor, por telegrama desde Copenhagen, pouco antes de partir para o México, onde viria a ser assassinado quase dez anos depois por um mercenário a serviço de Stalin (objeto de um grande romance-verdade de José Padura, El Hombre que Amaba los Perros, além de um outro romance policial-politico de Jorge Semprun, La Deuxième Mort de Ramón Mercader.

Pois bem, parece que os militares golpistas da Turquia não leram nem o livro de Curzio Malaparte, nem aprenderam com os grandes golpes de Estado, que são, paradoxalmente, muito comuns na história política da Turquia, quase tanto, ou mais, quanto em países da América Latina, Brasil inclusive.
O livro explica as várias técnicas (e a palavra era não apenas moderna, naquela época, como absolutamente essencial para explicar o que pretendia esse jornalista-romancista que depois virou romancista exclusivamente, mas sempre mesclando suas obras com elementos retirados da realidade) que os golpistas precisam absolutamente empregar para conduzir um golpe bem sucedido, assim como fizeram Lênin, Mussolini, e menos bem Hitler e outros trapalhões por aqui e em outras partes.
Malaparte retrata o ambiente em Petrogrado antes do putsch dos bolcheviques (muitos deles absolutamente contrários ao golpe proposto por Lênin, pois para eles isso seria contrariar o princípio da revolução da classe operária, que Lênin sabia que não viria), e faz o perfil psicológico dos principais personagens, assim como fez com Hitler e Mussolini, sobre os quais ele insinua gestos efeminados.

Acho que os militares turcos precisariam ler não só Curzio Malaparte, como aprender com o know-how, a técnica, a verdadeira tecnologia de golpes de Estado dos generais latino-americanos (não sei se ainda temos alguns golpistas por aqui, pois já fazem quase 30 anos que não se fazem mais golpes decentes por aqui, e não sei se algum deles deixou um manual operacional para um golpe bem sucedido.

Quem sabe algum gozador bem informado não prepara um:

Coup d'État for Dummies,
ou The Idiot's Guide for Coup d'États,
ou ainda, How to Iniciate, Complete, and Survive a Successful Coup d'État,
ou mesmo um All that you always wanted to know about a good coup d'État and never had someone to ask,
ou quem sabe então um: The Complete Guide on How to Perform a Wonderful Coup, and Become Youself a Brilliant Chef d'État ?

Pronto, já dei minha contribuição para um bom golpe de Estado.
Quem desejar ler o manual (um pouco surrealista, hoje) de Curzio Malaparte, tem uma nova edição italiana na

Piccola Biblioteca Adelphi
2011, 3ª ediz., pp. 270 
isbn: 9788845926327 
 € 12,75
http://www.adelphi.it/libro/9788845926327

Divirtam-se (if you may...)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2016