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domingo, 24 de julho de 2022

O Brasil “presidencialista” acabou - Paulo Roberto de Almeida

 O Brasil “presidencialista” acabou: entramos num híbrido institucional não formalizado, próximo de um parlamentarismo de fachada, que vai nos levar à anarquia política nos anos à frente

Paulo Roberto de Almeida 

Votos à parte, a desorganização financeira e orçamentária promovida pelo atual governo vai impactar negativamente as contas públicas estaduais e da União durante anos à frente. 

Não existe mais processo orçamentário, e sim uma extrema fragmentação dos recursos públicos em milhares de emendas paroquiais, sem qualquer sentido de planejamento racional e com amplo espaço para a corrupção.

Esta é a verdadeira herança maldita a ser deixada pelo desespero  eleitoral do atual dirigente, ao lado da destruição total da cultura, da educação e do fomento à C&T. 

O Brasil se degrada politicamente pela pior gestão administrativa na história e pelo avanço de um falso parlamentarismo criado e mantido pelo estamento político predatório que se firmou no país. 

O número de partidos pode até diminuir — embora apenas formalmente—, mas os caciques partidários passam a controlar um volume exponencial de recursos públicos, dados os fundos Partidário e Eleitoral ao lado do estupro orçamentário de todos os tipos de emendas.

Conseguimos nos rebaixar deliberadamente, pela completa ausência de estadistas, ou de dirigentes responsáveis, seja na classe política, seja entre as elites econômicas.

O Brasil se suicida lentamente, não por um projeto consciente, mas pela extrema mediocridade dos que estão no comando político e econômico do país, não excluindo as corporações de Estado desse processo, mandarins do Estado focados exclusivamente em seus ganhos patrimonialistas, inclusive militares e aristocratas do Judiciário.

Preparem-se para uma mudança institucional para pior no Brasil, nos próximos anos, independentemente dos que forem eleitos, em todos os cargos em outubro de 2022. A ideia de uma nação voltada para o futuro terminou: os feudos cuidam apenas de si mesmos.

A degradação interna e internacional do Brasil já se tornou visível aos olhos do mundo inteiro. Cada vez mais quadros formados pretendem abandonar o país.

Como diplomata, esse rebaixamento de nosso status internacional me deixa profundamente consternado, assim como o envolvimento do Itamaraty na obra de desconstrução moral da nação.

Sinto muito insistir num tipo de alerta pessimista, mas é o que vejo se desenhando à nossa volta.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 24/07/2022

sábado, 16 de julho de 2022

Demagogia eleitoral para diplomatas estrangeiros: mentiras ao mundo - Paulo Roberto de Almeida

 Demagogia eleitoral para diplomatas estrangeiros: mentiras ao mundo 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Comentários sobre o convite formulado pelo presidente para contar mentiras aos diplomatas estrangeiros sobre o processo eleitoral brasileiro.

  

O que pretende o presidente brasileiro ao convidar diplomatas estrangeiros ao formular um convite, via Itamaraty, para uma apresentação em Power Point na residência presidencial? Previsivelmente efetuar pura demagogia do mais baixo nível diplomático, pois ele pretende continuar sua campanha de mentiras contra o processo eleitoral brasileiro, um dos mais fiáveis do mundo, tanto pela extensa base do corpo eleitoral, quanto pelas modalidades aplicadas ao processo de votação. O presidente atual é um virtual pária internacional e sabe disso; também sabe que vai perder as eleições, e está criando um ambiente de tensão no Brasil, para um possível golpe político, e para isso quer construir uma espécie de legitimidade ao tentar desacreditar o processo eleitoral. Esse convite, praticamente uma convocação, aos embaixadores acreditados em Brasília, é uma completa fraude, uma mentira pré-fabricada, pois que pretende transmitir uma imagem de irregularidade no processo eleitoral quando não existe nenhuma. Essa motivação não passará despercebida aos diplomatas residentes em Brasília, pois que eles acompanham a política brasileira, e sabem que o presidente brasileiro é um mentiroso contumaz.

Cada um dos embaixadores, ou os representantes diplomáticos que comparecerem, por mera cortesia, ao convite do presidente, farão, depois do evento, um relato às suas respectivas chancelarias basicamente dividido em duas partes. Em primeiro lugar, a descrição objetiva das palavras do presidente, seguida, numa segunda parte, de uma avaliação pessoal ou institucional da atual situação pré-eleitoral no Brasil, um cenário quase surrealista, pois todos os responsáveis pelo processo eleitoral já deram todas as provas da fiabilidade das eleições conduzidas de modo eletrônico, em face – e este é o aspecto esquizofrênico – das alegações absolutamente mentirosas do presidente quanto às supostas “falhas” inventadas por ele para retirar credibilidade ao pleito que o derrotará em outubro. Em outros termos, cada um dos países que se fizeram presentes no evento de segunda-feira, 18/07, no Palácio do Planalto terão todas as condições que confirmar sua total confiança nas eleições brasileiras.

As alegações mentirosas do presidente certamente se colocarão contra recentes declarações do ministro Fachin, atual presidente do TSE, sobre o processo eleitoral. Mas elas sobretudo estarão em contradição com a realidade do processo de votação, a começar pelo fato que o ex-deputado foi eleito muitas vezes por esse mesmo sistema e que também o agora presidente venceu o pleito do 2018 no mesmo sistema que ele agora pretende deslegitimar. Nenhum diplomata experiente é ingênuo para contradizer, em direção de suas respectivas capitais, as abundantes provas de fiabilidade do processo de votação e de apuração existente no Brasil. Posso até arriscar que poucos diplomatas presentes ao encontro ousarão formular perguntas ou tentar sugerir ao presidente que apresente provas de suas alegações comprovadamente mentirosas. Eles ouvirão, tomarão notas, e sairão sem que tenham sequer vontade de dialogar com um mentiroso reconhecido.

O encontro promovido pelo presidente terá sido uma de suas últimas fraudes, ou apenas mais uma mentira num oceano de mentiras, nos últimos quatro anos (como aliás foi o caso de seu ídolo Trump, a quem ele sempre foi submisso). Ele não terá NENHUM efeito no processo eleitoral brasileiro, a não ser diminuir ainda mais a já baixíssima credibilidade do personagem.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4197: 15 julho 2022, 2 p.

 

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Um novo ensaio sobre a cegueira? - Paulo Roberto de Almeida e Fernando Gabeira

 Um novo ensaio sobre a cegueira? 

Paulo Roberto de Almeida 

Em poucas épocas, fases, conjunturas, momentos, instâncias da política brasileira se teve essa impressão de completo recuo da racionalidade, do equilíbrio emocional, do sentimento moral, da responsabilidade governamental ou de qualquer princípio ético quanto nos tempos atuais. Os desatinos são tão grandes, em setores que deveriam ser responsáveis pela boa governança no país que estamos no direito de perguntar se alguma epidemia generalizada de loucura nacional, algo como o “ensaio sobre a cegueira”, não tenha acometido os donos do poder.

A julgar por este artigo do Fernando Gabeira— gentilmente enviado pelo embaixador Flavio Perri — acredito que sim: os donos do poder foram acometidos por uma grave doença mental, uma espécie de debilidade, não sei se passageira, que os impede de pensar direito. Ou então, foram contaminados por um Grande Mentecapto que se apossou do poder executivo e lá vem perpetrando todas as loucuras imagináveis num cérebro embotado pela debilidade mental e pela perversidade típica de um psicopata.

Paulo Roberto de Almeida


O COMBUSTÍVEL DA INSENSATEZ

Fernando Gabeira 

O Estado de S. Paulo, 24.06.2022


Desespero de Bolsonaro o leva a se perder em iniciativas estúpidas como a de uma CPI da Petrobras. A oposição não pode acompanhá-lo nesse abismo.

O desejo de conquistar eleitores produziu um psicodrama político em busca de soluções para conter o preço da gasolina. Tudo indica que os atores reconhecem seu fracasso, mas se esforçam para mostrar que deram tudo para evitar a derrota.

Talvez, lá atrás, tenha havido uma modesta saída, a formação de um fundo com os dividendos do governo, sócio majoritário da Petrobras, destinado a suavizar o aumento dos preços, determinado pela conjuntura internacional. Agora, é tarde, e as tentativas de última hora parecem cenas de um teatro do absurdo.

Durante duas semanas, o Congresso Nacional se dedicou a aprovar uma redução de ICMS para baixar os preços. Todos sabiam que eles estavam defasados e que, no primeiro movimento de atualização, a Petrobras neutralizaria com um novo aumento qualquer variação de ICMS. Resultado: Congresso funcionando custa dinheiro, Estados com menos recursos para educação, saúde e segurança, e, em termos de preço na bomba, resultado nulo.

No fim de semana, Bolsonaro levantou a hipótese mais fantástica: uma CPI da Petrobras. No seu discurso, intimidava os sócios minoritários com um prejuízo de R$ 30 bilhões, como se alguma CPI mágica pudesse produzir perdas para os minoritários sem atingir o sócio majoritário, que é o Estado.

Bolsonaro anunciava orgulhosamente um movimento para atingir o próprio governo que dirige – algo inédito.

Alguns analistas acharam que a oposição também apoiaria o governo para atingir a Petrobras. Felizmente, isso não aconteceu. Seria algo mais extraordinário ainda: governo e oposição juntos tentando liquidar uma empresa pública.

As tentativas não param por aí. Líderes reunidos tentam aumentar o imposto de exportação para estimular o refino no interior do País. Mas e as refinarias que faltam? Será que brotariam de agora até o momento das eleições? Pergunta inútil porque, na verdade, o resultado não interessa, mas apenas o movimento, a encenação que transmite ao eleitor a falsa ideia de que seu desejo será satisfeito.

Por mais que o governo se lance contra dirigentes que ele próprio indicou para a Petrobras, por mais que se crie a confusão, será muito difícil de escapar do desgaste provocado pela gravidade da crise econômica, da qual o preço do combustível é apenas um importante componente.

Interessante observar como nos debatemos neste labirinto no momento em que a Colômbia troca de governo e o presidente eleito, Gustavo Petro, se dispõe exatamente a reduzir a dependência de combustíveis fósseis e caminhar para uma economia de baixo carbono.

E a Colômbia é logo ali: de Tabatinga (AM) a Leticia basta andar alguns metros. As preocupações, no entanto, distam milhares de quilômetros.

Seria, é claro, inadmissível não tratar do preço dos combustíveis neste momento. Todos os governos o fizeram. Mas o ideal é que isso fosse discutido com base técnica e com uma visão realista. Talvez por esse caminho se atenuasse o impacto no bolso de todos, principalmente os mais vulneráveis. Mas, num ano de eleição, além deste necessário movimento imediato, é preciso olhar para a frente.

Não podemos continuar agindo como se a gasolina fosse um combustível eterno. Nem acreditar que as estradas rodoviárias são as únicas que podem escoar produtos.

Está mais do que na hora de combinar esforços fundamentados para reduzir os preços, mas também as medidas de transição para um futuro de baixo carbono, em sintonia com os esforços para viabilizar a vida humana no planeta.

Limitar-se a neutralizar o preço da gasolina, com recursos limitados, é uma batalha de Sísifo. Hoje, o preço está alto porque há uma guerra; amanhã, se terminar a guerra, o preço pode aumentar porque crescerá o otimismo econômico. Sem contar com o fato de que bilhões de dólares estão sendo investidos numa economia menos poluente e qualquer estímulo ao uso do petróleo servirá, também, para neutralizar o que se gastou até agora.

Verdade é que a guerra embaralhou um pouco as tentativas de progresso. Há um impulso para produzir mais petróleo fora da Rússia; e a redução do gás que os alemães importavam os faz retroceder ao consumo de carvão.

Mas a janela que se abriu com governos voltados para o futuro, como é o caso do Chile e o da Colômbia, pode indicar uma etapa na América Latina.

No caso colombiano, o esforço de realizar a transição para a economia de baixo carbono pode abrir possibilidades de cooperação continental.

Sem contar o fato de que, ao lado da questão energética, um outro tema nos aproxima não só dos colombianos, como de outros vizinhos: a Amazônia, com seus grandes desafios de preservação, sustentabilidade e segurança, diante do poderio do crime organizado.

Tanto a economia de transição para o baixo carbono como o desenvolvimento sustentável da Amazônia são grandes avenidas de oportunidade. Temas bem maiores do que um único e, até o momento, inútil esforço para baixar o preço do petróleo.

O desespero de Bolsonaro o leva a se perder em iniciativas tão estúpidas como a de uma CPI da Petrobras. A oposição não pode acompanhá-lo nesse abismo.

Artigo publicado no jornal Estadão em 24/06/2022

domingo, 19 de junho de 2022

As voltas que o mundo dá - Paulo Roberto de Almeida

 As voltas que o mundo dá 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Comentários sobre as inversões e ciclos das políticas nacionais e das relações internacionais. 

 

As relações internacionais guardam uma íntima relação com a política interna daquelas grandes potências que têm a capacidade de influenciar decisivamente a agenda dos assuntos globais, incluindo aqui relações normais de intercâmbio, fluxos de pessoas e capitais ou até, em casos extremos, guerras civis ou guerras entre esses Estados. O mundo vinha numa onda de globalização inédita nos anais da economia mundial nas últimas três décadas do século XIX e na primeira do século XX, quando o acirramento de tensões entre as coalizões de grandes potências e seus aliados menores, assim como o erro de cálculo das autocracias da Europa central e oriental – Alemanha, Áustria-Hungria e Rússia – quanto a uma rápida resolução dos problemas precipitou o mundo na guerra global mais devastadora até então conhecida. Foi uma guerra mecânica, industrial, não mais feita de cavalaria e de artilharia entre exércitos se enfrentando em campo aberto – como ainda nas guerras da era napoleônica e no seu imediato seguimento –, mas de metralhadoras, canhões de longo alcance, carros blindados e até aviões, sem falar das armas químicas. 

As negociações de paz de Paris, em 1919, foram tão desequilibradas, ao consagrar as imposições dos vencedores, que os resultados provocaram repercussões de tal magnitude, sobretudo no terreno econômico, que se arrastariam para uma repetição dos enfrentamentos em um novo enfrentamento vinte anos depois. O entre guerras foi marcado por uma rejeição tão disseminada dos horrores registrados naqueles quatro anos de conflito, 1914-18, que o pacifismo se estendeu na maior parte das democracias ocidentais, que foram as que se saíram vencedoras. Enquanto as potências que saíram insatisfeitas do conflito continuaram a manter expectativas de revanche, os vencedores foram dominados pelos isolacionistas (nos EUA, por exemplo) ou pelos appeasers, os pacifistas, sobretudo na França e Grã-Bretanha. Enquanto a democracia se firmava nos segundos, os primeiros foram levados a regimes reacionários, conservadores ou claramente fascistas, ao lado de experimentos expansionistas que levaram a novas fontes de conflitos. A Rússia praticamente se isolou na construção do socialismo em um só país, ao passo que os demais cediam aos apelos do protecionismo, do nacionalismo e da autossuficiência. Foi um período de retraimento desastroso das democracias.

A devastação do segundo conflito global foi muitas vezes superior ao da Grande Guerra, inclusive porque se somou aos impulsos genocidas que já vinham se manifestando a partir dos totalitarismos, por vezes contra o próprio povo ou visando minorias étnicas. Uma nova ordem internacional foi sendo criada a partir do aprendizado feito pelas democracias avançadas: Bretton Woods, ONU, Gatt, Otan, integração europeia, voto das mulheres, direitos sociais e trabalhistas, tratados multilaterais e declarações sobre direitos humanos. A democracia floresceu em muitas partes, a despeito mesmo dos totalitarismos comunistas e dos golpes de Estado e regimes militares na América Latina, África e Ásia. O otimismo cresceu ao longo dos anos, mesmo atravessando a crise do keynesianismo e do Estado de bem-estar social, logo reforçado pelo fim do socialismo um pouco em todas as partes. Com o fim da União Soviética e a conversão da China à economia de mercado, o mundo parecia caminhar para o reforço da ordem criada no imediato pós-guerra, quando a própria Rússia era integrada ao G-7 e começava um programa de cooperação com a Otan, ao passo que a China era aceita no Gatt-OMC. 

Ventos contrários começaram a agitar esse novo cenário de convergência, dada a “ascensão do Resto”, e a perda de empregos (não só industriais) nos países do capitalismo avançado. Um novo nacionalismo e o velho protecionismo ascenderam à superfície, a partir da crise dos anos 2008-2010, ao passo que agitação e guerras civis na periferia lançaram levas de imigrantes econômicos e de refugiados de guerra em direção de grandes democracias de mercado: os partidos de direita, xenófobos e contrários à globalização, deram um inédito vigor às tendências antiglobalistas de demagogos políticos. A União Europeia e seus órgãos executivos, sobretudo os eurocratas de Bruxelas, começaram a ser atacados, e a própria Otan foi acusada de ter sido afetada por “morte cerebral”. A globalização e conformação de uma agenda comum entre as grandes potências do G-20 sofreram recuos não apenas temporários, mas sobretudo uma nova escalada de tensões entre estas. Uma nova onda de desigualdades crescentes reforçou o apelo dos demagogos e dos seus sistemas políticos ditos iliberais. 

Foi nesse contexto que o neoczar da Rússia se lançou à reconquista do antigo império soviético. Mas algo surpreendente ocorreu então: a UE, mesmo amputada da Grã-Bretanha, recuperou uma unidade raramente vista, e até a Otan foi procurada por aqueles que temiam o abraço do urso russo. A ordem mundial alternativa concebida pelas duas grandes autocracias contemporâneas não parece mais estar na ordem do dia, em vista da disposição das velhas e novas democracias em defender o patrimônio já adquirido de valores e princípios situados no arco civilizatório do Direito Internacional. Mas, o mundo vai mudar, embora sua direção ainda não esteja plenamente conformada, dado que grande parte dos países em desenvolvimento – que são maioria nos organismos multilaterais – ainda não tomou partido na atual contenda entre o G-7-UE-Otan, de um lado, e a Rússia-China de outro. Os circuitos multilaterais ainda padecem da descoordenação criada primeiro pela pandemia, em seguida pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e não se tem certeza se e quando um diálogo entre os dois contendores será novamente possível. O mundo se encaminha para uma possível recessão, como já ocorrida sob os choques do petróleo, das dívidas externas dos países em desenvolvimento, das crises financeiras dos anos 1990 e 2000, cujo contornos não estão ainda definidos, como tampouco a guerra na Ucrânia. 

Muitos cenários estão abertos aos analistas de relações internacionais, jornalistas e aos próprios estadistas dos grandes atores (quando existem). Prognósticos estão sendo feitos, mas cabe evitar analogias com processos ou fenômenos anteriores, do passado recente ou de fazes mais longínquas. O processo histórico é sempre único e original e nenhuma grande potência atual, ou mesmo alguma coalizão entre elas, é capaz de determinar a natureza e o ritmo do rumo das relações internacionais a partir de agora. Em qualquer hipótese, países como o Brasil, e com ele o restante da América Latina, terão pouco peso na direção dos processos e eventos do futuro de curto e médio prazo. Estamos ocupando a segunda classe de um barco em meio às turbulências do momento. Oxalá prevaleça o bom-senso.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4177: 19 junho 2022, 3 p.

 

 

sábado, 18 de junho de 2022

Prognosticando um trimestre de confusão - Paulo Roberto de Almeida

Prognosticando um trimestre de confusão:

Ao que tudo indica, o psicopata perverso está criando, estimulando e fabricando todo tipo de provocação, de forma deliberada, de molde a suscitar reações do Judiciário (no Legislativo, a CD já é conivente) e assim atingir seu objetivo de produzir caos para invocar a necessidade de “lei e ordem”, que ele próprio sabota continuamente. STF e TSE não podem cair nessa trampa, pois é isso que o candidato a Mussolini de araque pretende.

Teremos três meses de muita tensão no país, e talvez muitos recomendem liquidar a fatura no primeiro turno. 

Pode ser, mas o país continuará infelizmente dividido, pois a barbárie dos milicianos políticos já contaminou largos estratos da população. Para isso também contribuiu a política divisiva do “nós e eles” iniciada e estimulada pelos companheiros sectários durante anos e anos. 2018 já foi o resultado disso, junto com a corrupção deslavada dos lulopetistas e seus associados do Centrão, que nunca se ausentaram de quaisquer governos.

Como diria Lupiscínio, é preciso ter “nervos de aço”, ou pelo menos a cabeça fria.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/06/2022

Trajetórias (não exatamente as melhores) - Paulo Roberto de Almeida

 Trajetórias (não exatamente as melhores):


O Brasil está economicamente estagnado há muito tempo. Isso é certo e conhecido.

Mas, uma outra economia cresceu bastante nos últimos anos, a da criminalidade, não necessariamente aquela “normal”, bem conhecida, e sim uma especificamente política, ou dos políticos. 

Esse aumento da corrupção política dos “representantes do povo” foi acelerado na era Lula, que, para ter maioria no Congresso, passou a comprar, literalmente, parlamentares e bancadas inteiras com dinheiro público e das estatais. Tudo isso está muito bem documentado, embora os lulopetistas queiram reescrever a história.

Daí o processo de corrupção política se desenvolveu enormemente depois, passando de fenômenos como Mensalão e Petrolão para processos endógenos de sustentação financeira, como os fundos e as emendas (de vários tipos), cobrindo todo o espectro do leque político, de um extremo a outro, sem exceções ou muito poucas. Isso também é conhecido.

Um governo fraco, débil, improvisado e caótico, como é o atual desgoverno do psicopata perverso, tornou ainda mais resiliente a criminalidade política, assim como estimulou a criminalidade comum, não só pela crise, pandemia e guerra, mas porque isso corresponde à sua natureza profunda; ele vem desses meios.

Essa é a verdadeira  “herança maldita” a ser legada por um ladrão ordinário, fraudador como muitos outros colegas de Parlamento do dinheiro público, via rachadinhas e outras falcatruas, mas que virou, voluntária e involuntariamente, um grande criminoso político. Alguma dúvida?

Essa triste trajetória já pode ter ocorrido em diversos outros países, em especial na América Latina, mas o Brasil ingressou, definitivamente, na era da grande criminalidade política. 

Não espere o “fenômeno” se dissolver rapidamente. Ele acompanha o processo de deterioração educacional e moral da sociedade. 

Ainda não se convenceu da gravidade do fenômeno? Observe a triste trajetória da democracia americana.

Dá para consertar, corrigir, minimizar? Dá, mas não espere a colaboração dos beneficiários para isso. A perder de vista…

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/06/2022

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Desalento - Paulo Roberto de Almeida

 Desalento

Não creio que o Brasil consiga escapar da mediocridade atual — que é política, econômica, cultural, educacional e diplomática — em menos de duas gerações. 

Não, não sou pessimista.

Estou apenas registrando o que vejo a partir das respectivas “elites” que integram esses setores. 

Alguém vê estadistas em cada uma delas?

A miséria do debate eleitoral — se algum debate existe — confirma que eu estou absolutamente certo na constatação.

Alguém já assistiu a tamanha mediocridade num período pré-eleitoral?

Alguém já viu uma sociedade tão perdida em seu próprio presente que sequer consegue imaginar e projetar como será o seu futuro imediato, quanto mais o longínquo ou o de médio prazo?

OK, tem os argentinos, mas eles não contam.

Não conseguimos nem nos entender sobre o nosso próprio passado. Nem o STF: está sempre revisando, e alterando, jurisprudências passadas, por vezes até a doutrina. Quer mais mediocridade do que isso? Pode ser um problema mental, mas também a contaminação da corte pela mediocridade ambiente, que a tudo invade e a tudo contamina.

Depois das sete pragas do Egito, o Brasil inventou, frutificou e disseminou uma oitava: a praga da mediocridade. Ela é indissociável de nossa paisagem humana.

Repito: não estou sendo muito pessimista, apenas constatando o que vejo.

Portanto, não esperem muito destas próximas eleições: cuidem bem de si próprios, da família, invistam nos netos: pode ser que em duas gerações o Brasil melhore. Por enquanto está bravo!


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 17/06/2022

quinta-feira, 9 de junho de 2022

100 dias de Guerra de Agressão da Rússia na Ucrânia: um pequeno depoimento - Paulo Roberto de Almeida (Instituto Montese)

Não sou, nunca fui, de me apresentar para falar sobre qualquer coisa para público indeterminado, Geralmente, no meu "natural reservoso" – como diria o coronel Ponciano de Azeredo Furtado, do genial "O Coronel e o Lobisomem", de José Candido de Carvalho –, prefiro ficar no meu canto de biblioteca, lendo, refletindo e escrevendo (nessa ordem), eventualmente dando aulas ou palestras também, quando me convidam, e depois publicando o que faço, se julgo adequado, apropriado e consistente. Não me convidei para falar neste evento: 

Mas, como insistiram em ter a minha opinião, eu a dei, mas não a tenho, pois foi gravada e será exibida na sexta-feira, 14hs, no Canal YouTube do Instituto Montese, um nome evocativo de uma das grandes batalhas da FEB na campanha da Itália.

Eventualmente, como sempre faço, para "aclarar as ideias" – alguns julgariam racista essa expressão –, eu também preparei um pequeno texto, que resume um pouco, mas muito pouco, do que penso sobre a maior tragédia do nosso tempo: um ditador sanguinário, genocida e criminoso de guerra tentando obliterar um povo e um país, pois que não obteve a sua submissão à sua tirania. Depois do fracasso dos primeiros dias da "operação militar especial" – na verdade, um campanha de extermínio –, Putin só tem três objetivos na sua guerra de agressão: destruir, matar, transformar a Ucrânia em Estado falido pelos próximos dez anos (na metade desse prazo a Ucrânia será admitida na UE, mas não precisa entrar na OTAN, nem é recomendável).

Meu texto, provisório, segue abaixo, para complementar o que eu terei falado nesse evento, gravado antecipadamente. Não vou recomendar que "divirtam-se", pois seria um escárnio na atual situação. 

Os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: o Brasil afronta o Direito Internacional e a sua história diplomática

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Notas para exposição oral resumida no quadro do webinar do Instituto Montese sobre “100 dias de Guerra na Ucrânia”, dia 10 de junho, 14hs.

  

Agradeço o convite do Instituto Montese para manifestar minha opinião, na condição de simples cidadão brasileiro, e também professor, mas não como diplomata brasileiro, sobre os 100 dias do que foi chamado de “Guerra na Ucrânia”. Gostaria, antes de mais nada, de fazer uma observação terminológica e factual, e aqui vou ser extremamente objetivo quanto aos termos e o significado preciso dos conceitos: não existe uma “guerra na Ucrânia”, e sim uma guerra de agressão da Rússia, mais especificamente uma guerra de seu ditador, contra o governo, o povo e o território de um país soberano, a vizinha Ucrânia. A designação é essa, pois a isso nos leva uma leitura do Direito Internacional, que é o foco desta contribuição; não tenho nenhuma competência para me pronunciar sobre o lado militar da questão.

Que a “operação militar especial”, tal como designada enganosamente pelo ditador russo, seja, de fato, uma guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia está meridianamente claro, a partir de uma leitura dos artigos 1º e 2º da Carta das Nações Unidas, estabelecida em San Francisco, ao término do mais cruel e mortífero conflito global em toda a história da humanidade. Assim também decidiu, preliminarmente, o julgamento de 13 juízes da Corte Internacional de Justiça, em 17 de março de 2022, contra apenas dois – por acaso os da Rússia e da China –, ordenando expressamente que a Rússia interrompesse imediatamente a guerra contra a Ucrânia e cessasse completamente as operações bélicas no território do vizinho país. A CIJ não tem, obviamente, nenhum poder sobre o lado militar dessa guerra de agressão, que já completou 100 dias, pois mesmo para se pronunciar apenas sobre os aspectos de Direito Internacional a ela ligados, a Corte dependeria de resoluções do Conselho de Segurança. Apenas esta peculiaridade da conformação do processo decisório no âmbito das Nações Unidas explica que resoluções aprovadas com ampla maioria naquele Conselho ou na Assembleia Geral permaneçam letra morta, ainda que a condenação moral é muito clara.

O ditador russo não deslanchou apenas uma guerra de agressão contra o território ucraniano, um país soberano, como tal reconhecido pelas Nações Unidas desde quando ele foi desmembrado da finada União Soviética no início dos anos 1990. Putin, ao invadir a Ucrânia, sem qualquer provocação ou gesto belicoso desse país, não apenas violou a Carta da ONU, mas destruiu mais de quatro séculos de difícil construção de uma ordem internacional baseada na força do Direito, e não no direito da força. Ele começou violando os tratados de Westfália (1648), sobre o reconhecimento recíproco da soberania dos Estados nacionais, cada um possuindo o direito de estabelecer o seu próprio regime político e a sua religião. Também violou princípios implícitos decididos no Congresso de Viena (1815), sobre a legitimidade dos Estados nacionais e o reconhecimento de seus enviados diplomáticos, como canais de diálogo e de consulta entre dois ou mais soberanos. Ele violou o Tratado de Paris (1856), que estabeleceu a paz entre os contendores da primeira guerra da Crimeia, de 1853 a 1855. Da mesma forma, agiu contrariamente às decisões das negociações de paz de Paris (1919), que estabeleceu a Liga das Nações, com disposições relativamente similares às da Carta de San Francisco sobre a proibição das guerras de agressão. Se colocou frontalmente contrário aos poucos dispositivos do Pacto Briand-Kellog (1928), de renúncia à guerra e de recursos aos meios pacíficos de solução de conflitos, depois incorporados à Carta das Nações Unidas.

Ou seja, Putin é um violador serial dos principais instrumentos multilaterais que foram sendo acordados dentro do espírito e da letra do Direito Internacional nos últimos quatro séculos. Pelas suas ações, registradas e devidamente avaliadas por observadores da Corte Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional, Putin já incorreu nos mesmos crimes de que foram acusados os dirigentes civis e militares nazistas no Tribunal de Nuremberg, em 1946: crime contra a paz, crimes de guerra e contra a humanidade. Putin mereceria um Nuremberg só seu, mas sobre isto a História se pronunciará no futuro curso dos eventos. Não vou me estender mais sobre os aspectos multilaterais da questão, e sim tratar da relação entre o Brasil e o Direito Internacional, que me parece seriamente comprometida. 

O Brasil sempre demonstrou, até recentemente, uma adesão inquestionável aos valores e princípios do Direito Internacional, tal como foram sendo elaborados e acatados nos últimos duzentos anos pela sua diplomacia, ainda que nem sempre o país tenha sido um seguidor fiel de alguns de seus dispositivos. Por exemplo, o compromisso assumido no âmbito do Congresso de Viena, na condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarve, de fazer cessar o tráfico escravo, não foi traduzido na prática, como tampouco ocorreu, já como Estado independente, depois de assinar tratados bilaterais com a Grã-Bretanha prometendo fazê-lo em breves anos à frente. Mas, mesmo defendendo, até o Segundo Reinado, o nefando comércio, sua diplomacia, então guiada por Paulino Soares de Souza, argumentou de modo correto no plano jurídico, ao protestar contra o Bill Aberdeen, que equiparava o tráfico à pirataria, passível, portanto, de severa punição, indo até mesmo à pena de morte. Como escreveu em nota diplomática o Visconde do Uruguai, o tráfico não ameaçava o comércio internacional como a pirataria o fazia, e, de toda forma, não havia nenhum tratado internacional proibindo o horrível comércio de carne humana. Argumento bastante lamentável no plano moral, mas juridicamente correto.

O Brasil, por essa época, interferia nos assuntos internos do Uruguai, sob a justificativa de que do Uruguai partiam ataques contra o patrimônio de brasileiros em território nacional, num contexto de diferendos bem mais amplos com a Argentina de Rosas e com o Paraguai de Solano Lopes, que resultaram em duas guerras no espaço de duas décadas. Tampouco havia, a despeito do “espírito de Westfália”, um compromisso formal de não interferência nos assuntos internos de outros Estados, esporte ao qual se dedicavam todas as potências europeias da época. Desde a Guerra do Paraguai, e independentemente dos progressos feitos no terreno do Direito Internacional, assim como no âmbito de sua própria Constituição – a de 1891, por exemplo, proibiu terminantemente o recurso à guerra –, o Brasil se manteve integralmente fiel ao espírito e à letra dos instrumentos internacionais que foram sendo progressivamente incorporados aos edifícios hemisféricos e multilaterais dos dispositivos formais e informais regendo a ordem internacional. 

Os pilares dessa diplomacia nacional estritamente respeitadora da soberania nacional e de fiel cumprimento de instrumentos jurídicos internacionais foram impulsionados pela política externa do Segundo Reinado, consolidados pelos dois Rio Branco, pai e filho, e magnificamente sustentados por Rui Barbosa por ocasião da segunda conferência internacional da paz da Haia, em 1907; contrariando muitas vezes sozinho a arrogância das grandes potências, Rui Barbosa defendeu o princípio da igualdade soberana de todos os Estados, conceito que se converteu no eixo central do multilateralismo contemporâneo. O mesmo Rui Barbosa clarificou a observância da neutralidade em casos de guerra e procedeu a uma vigorosa tomada de posição em defesa do direito de neutralidade em situações de conflito, e sua violação, na famosa conferência feita em Buenos Aires, em 1916, doutrina sistematizada na obra Princípios Modernos do Direito Internacional, mais vulgarmente conhecida como Os Deveres dos Neutros

O Brasil, estritamente neutro, justamente, com respeito aos dois grandes conflitos globais da primeira metade do século XX, a Grande Guerra de 1914-18 e a Segunda Guerra, de 1939 a 1945, avançou para uma declaração formal de status bélico apenas quando foi covardemente atacado por forças marítimas do Império alemão e do Reich nazifascista, respectivamente. Participamos ativamente da construção da ordem econômica e política contemporânea, mesmo não concordando em San Francisco com o direito de veto que se atribuiu aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. 

Mas, o Brasil e sua diplomacia começaram a falhar no acatamento aos princípios do Direito Internacional desde que aqui se inaugurou uma política externa partidária, quando da diplomacia lulopetista praticada de 2003 a 2016. O presidente Lula ignorou completamente dispositivos da Convenção de Viena de 1961, sobre relações diplomáticas, relativos à não interferência nos assuntos internos de outros Estados, aliás incorporados explicitamente ao artigo 4º da Constituição de 1988, junto com vários outros princípios, que correspondem às cláusulas mais importantes observadas nas relações internacionais contemporâneas, coincidentes com os grandes instrumentos multilaterais que regem as relações entre Estados soberanos. Lula violou sistematicamente tais dispositivos ao interferir em praticamente todas as disputas eleitorais em Estados vizinhos, apoiando candidatos pertencentes ao mesmo arco político-ideológico do seu partido. Mais grave ainda: quando da nacionalização dos recursos em hidrocarburos da Bolívia, em 1/05/2006, ela mesma uma violação grave de um tratado bilateral Brasil-Bolívia e de um acordo do governo boliviano com a Petrobras, mediante inclusive o uso da força pelo presidente Morales, a diplomacia de Lula – que pessoalmente deveria saber antecipadamente dessa iniciativa de seu companheiro de postura política, mas que provavelmente desconhecia o emprego do exército boliviano para ocupar as instalações da Petrobras – não apenas concordou com a expropriação, como soltou uma nota apoiando o gesto ilegal do governo do país vizinho. Militares nacionalistas poderiam eventualmente considerar tal postura como o equivalente de uma traição à pátria. De forma geral, a diplomacia partidária tendeu a favorecer aliados políticos, na região e fora dela, mesmo em detrimento dos interesses nacionais, em alguns casos implicando e violação de acordos bilaterais (no caso de Itaipu) ou regionais (no caso do ingresso da Venezuela no Mercosul).

Outro episódio grave, ainda no plano do direito internacional, ocorreu quando da invasão do território ucraniano em 2014, sob as ordens do mesmo Putin, e a anexação ilegal da península da Crimeia: a diplomacia lulopetista, então sob comando da presidente Dilma Rousseff, não emitiu sequer um comunicado condenando a grave violação da soberania da Ucrânia, o que tampouco ocorreu quando da derrubada de um avião da Malásia sobrevoando a região da Ucrânia oriental, já em conflito justamente devido à ocupação ilegal daquele setor por forças russas não devidamente identificadas. Optou-se por uma postura totalmente inerte no plano da política externa e da diplomacia brasileira, contrastando com a obrigação pelo menos moral de defesa do direito internacional e dos princípios da Carta da ONU, num momento em que diversos países ocidentais protestavam vigorosamente contra a invasão e introduziam sanções contra a Rússia. A presidente Dilma se manifestou apenas quando cobrada pela imprensa, dizendo que o Brasil não se envolveria (sic) em assuntos de outros países, como se fosse esse o problema no caso. Uma provável razão pela inação vergonhosa do ponto de vista dos princípios sempre defendidos pela diplomacia profissional pode ter sido a parceria entre o Brasil e a Rússia no âmbito do Brics, uma construção claramente artificial, e totalmente política, entre quatro, depois cinco, países sem grandes convergências no plano da política internacional.

O caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, desde 24 de fevereiro de 2022, depois que o ditador russo passou semanas denegando a invasão, é infinitamente mais grave, ainda que o Brasil tenha supostamente aderido às resoluções votadas na ONU – no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral – e no seu Conselho de Direitos Humanos, condenando a Rússia pelos atos cometidos desde então, mas com explicações de voto que traduzem claramente a decisão do chefe de Estado brasileiro de evitar acusar diretamente a Rússia pelas transgressões bárbaras perpetradas em território ucraniano. Sem adentrar nas minúcias da Carta da ONU, dos grandes princípios do Direito Internacional, assim como dos protocolos existentes sobre as leis de guerra, cabe registrar apenas algumas observações sobre a postura política do Brasil, não apenas no tocante às resoluções votadas no âmbito da ONU e do Conselho de Direitos Humanos, mas refletindo igualmente a atitude geral das autoridades políticas brasileiras com respeito ao posicionamento geral em relação à guerra de agressão.

É notoriamente conhecido que o Brasil, como país e como diplomacia, se encontra atualmente singularmente isolado no plano internacional, aliás desde o início de 2019, tendo em vista, basicamente, a postura, digamos heterodoxa, do chefe de Estado e de governo no seu relacionamento externo, tanto regional, quanto internacional ou multilateral. Tal situação de isolamento internacional decorreu das políticas domésticas do governo Bolsonaro, notadamente no domínio ambiental, mas também por repetidos ataques às instituições – Congresso e Suprema Corte) –, aos meios de comunicação, às organizações da sociedade civil (não governamentais) das áreas de defesa do meio ambiente, dos direitos indígenas, de ação social em geral. Ademais, o chefe de Estado hostilizou parceiros estrangeiros, com destaque para os líderes europeus, o presidente peronista da Argentina e dirigentes tidos de esquerda de maneira geral. De forma bastante evidente buscou relações unicamente com colegas de direita ou extrema-direita, além de prestar submissão ao anterior presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

Foi nessa situação de extremo isolamento que o presidente buscou realizar uma visita de trabalho a um dos poucos líderes mundiais que poderia recebê-lo, o presidente da Rússia, provavelmente já antecipando conquistar um aliado para o que já pretendia fazer poucos meses à frente. Quando se decidiu tal viagem bilateral, entre os dois chanceleres, Serguei Lavrov e Carlos França, no início do último trimestre de 2021, não estavam claros, ainda, os preparativos para a planejada ofensiva russa contra o país vizinho, o que foi feito por meio da acumulação de tropas russas na fronteira comum nos últimos dois meses daquele ano. Ao tomar conhecimento desse planejamento, a chancelaria brasileira recomendou que o presidente adiasse ou cancelasse a viagem, o que ele se recusou a fazer, mesmo com manifestações de alerta vindas do próprio presidente americano, Joe Biden (a partir de dados da inteligência dos EUA). A visita, ocasião na qual o presidente brasileiro declarou sua “solidariedade” ao presidente russo e justificada pela necessidade de importação de fertilizantes russos, foi feita oito dias antes de efetivada a invasão, que foi até minimizada pelo presidente.

Independentemente de palavras e gestos do presidente, a postura oficial do Brasil que vale para fins de política externa e de legitimação junto à comunidade internacional são as declarações feitas junto às Nações Unidas, cujos órgãos principais, o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral, se ocuparam da questão da Ucrânia nas semanas seguintes à guerra de agressão da Rússia. Não cabe aqui reproduzir a íntegra das declarações da delegação do Brasil em Nova York e em Genebra (Conselho de Direitos Humanos), todas eles disponíveis no site do Itamaraty, ou a partir dos registros da ONU. O que cabe é sinalizar pormenores dessas declarações que revelam, se preciso fosse, o contorcionismo verbal da diplomacia profissional para evitar de responsabilizar claramente a Rússia pela guerra de agressão. Podem ser destacados quatro elementos nessas declarações que tornam evidente a postura do chefe de Estado no sentido de continuar apoiando objetivamente a postura de Putin. 

Em primeiro lugar, sem condenar explicitamente a violação flagrante da Carta da ONU, a delegação brasileira instou as partes à “cessação de hostilidades”, como se estas fossem recíprocas, ou seja, uma guerra empreendida por decisão de ambas as partes, e não uma guerra unilateral sem qualquer provocação da parte agredida e invadida. Em segundo lugar, a delegação também pediu negociações entre elas, tendo em vista as “preocupações de segurança das partes”, como se a Ucrânia tivesse ameaçado, em algum momento, a segurança da Rússia. Em terceiro lugar, mesmo votando pela condenação da Rússia na Assembleia Geral – uma votação de toda forma inoperante, dado uso abusivo do poder de veto em defesa do próprio transgressor da Carta da ONU –, a delegação brasileira se opôs terminantemente à imposição de sanções contra a Rússia, a pretexto de que qualquer punição agravaria a situação econômica no mundo inteiro, o que significa, implicitamente, que o agressor pode se safar impune das ilegalidades e crimes perpetrados. Em quarto e último lugar, a delegação também se pronunciou contrariamente ao fornecimento de armas à Ucrânia, a pretexto de não provocar maior número de vítimas, o que se traduz num simples “convite” a que um governo soberano renuncie à defesa do seu povo e território. 

Os quatro posicionamentos da delegação brasileira não são a rigor, ilegais, do ponto de vista do Direito Internacional, mas são altamente hipócritas, tendo em vista a acumulação de crimes de guerra e até, possivelmente, crimes contra a humanidade, perpetrados pelas tropas russas de ocupação. A hipocrisia puramente política – não teoricamente contrária ao direito internacional – se estende inclusive à oposição do Brasil à imposição de sanções à Rússia, a pretexto de que elas seriam “unilaterais”, e não aprovadas pelo CSNU, como se este pudesse fazê-lo não obstante o veto russo a qualquer medida contrária a seus interesses. No que concerne as sanções, cabe registrar que elas se conformam inteiramente ao espírito e à letra dos artigos 41 e 42 da Carta da ONU, que regulam tal faculdade. Ou seja, os países estão apenas aplicando as medidas previstas na Carta de San Francisco, numa situação em que – da mesma forma como ocorre nas cortes quando juízes se declaram impedidos de atuar em casos nos quais eles possam incorrer em qualquer conflito de interesse – o veto da Rússia não poderia ser aplicado em seu próprio favor, dado o fato de que ela é a parte agressora, aquela que violou as disposições mais relevantes do instrumento máximo do Direito Internacional. 

Ao se conformarem os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, neste dia 4 de junho de 2022, a diplomacia brasileira apresenta, por nítida pressão da presidência, um triste quadro de contorcionismo verbal e subterfúgios retóricos para evitar de se colocar, como geralmente fez ao longo de sua história de dois séculos, sob o espírito e a guarda de sagrados princípios do Direito Internacional, e até mais do que isso, da moralidade. A restauração da credibilidade e da legitimidade da diplomacia brasileira terá de aguardar a própria reconstrução de uma política externa coerente e condizente com as próprias cláusulas de relações internacionais que figuram no Artigo 4º de sua Constituição e que integram o seu patrimônio histórico de conformidade ao Direito Internacional em todas as circunstâncias.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4165: 3 junho 2022, 7 p.


segunda-feira, 23 de maio de 2022

Recuerdos de Icaparay - Paulo Roberto de Almeida

Recuerdos de Icaparay 

Paulo Roberto de Almeida

 Se querem saber os ignaros, o PT e os lulopetistas me deixaram na geladeira do Itamaraty durante os 13,5 anos do regime dos corruptos neobolcheviques, pelo fato de eu simplesmente escrever o que pensava sobre a diplomacia partidária dos companheiros. 
Fiquei na Biblioteca lendo e escrevendo o que sempre achei deles e de suas políticas esquizofrênicas. Escrevi o que pensava dessas políticas em meu livro de 2014, Nunca Antes na Diplomacia, e depois complementei em Contra a Corrente (2919). Tivemos, de 2019 até aqui, o mais horrendo dos governantes desde Dom Tomé de Souza (1549), ou seja, desde sempre. 
Não sou de votar em corruptos, mas, parafraseando Winston Churchill, eu me aliaria ao demônio se o Bozo invadisse o inferno. 
Tudo para obliterar o psicopata perverso! Escrevi o que penso sobre a horrenda bolsodiplomacia em Apogeu e Demolição da Política Externa (2021), o quinto de uma série de livros que não deveriam existir, que começou com Miséria da Diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019). 

 Vou continuar incomodando os companheiros, se eles voltarem ao poder, não porque eles sejam de esquerda (pois acho todas as posições políticas legítimas, desde que ascendam democraticamente ao poder), mas porque eles geralmente são incompetentes em economia, corruptos na condução dos negócios públicos e ideológicos na política externa. 
Persistirei no meu quilombo de resistência intelectual. 

 Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 23/05/2022

domingo, 22 de maio de 2022

Papers de Paulo Roberto de Almeida mais vistos na plataforma Academia.edu - amostra seletiva em 30 dias

  Papers de Paulo Roberto de Almeida mais vistos na plataforma Academia.edu

Papers

30 Days views

All-Time Views

A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais (2022)

161

224

O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia (2022)

69

70

4144) Política internacional, contexto regional e diplomacia brasileira, acompanhada de listagem seletiva da produção acadêmica em relações internacionais e em política externa do Brasil, de 1985 a 2022

62

63

Marxismo e Socialismo (2019)

43

2,255

Jose Guilherme Merquior: um Intelectual Brasileiro (2021)

42

454

O Itamaraty na Cultura Brasileira (2001)

37

453

16) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)

30

4,833

2258) O desenvolvimento do Mercosul: progressos e limitações (2011)

25

1,027

A Constituicao Contra o Brasil: Ensaios de Roberto Campos

23

4,614

043) A globalização e seus benefícios: um contraponto ao pessimismo (2004)

20

382

Jose Guilherme Merquior, Diplomata - Celso Lafer et alii (1993)

18

115

2784) Academia.edu: uma plataforma de informação e colaboração entre acadêmicos (2014)

18

946

039) Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX (2004)

18

3,657

026) Une histoire du Brésil: pour comprendre le Brésil contemporain (2002)

18

575

 

 

sábado, 21 de maio de 2022

Aperfeiçoando o subdesenvolvimento do Brasil: nosso parlamentarismo deformado - Paulo Roberto de Almeida

Aperfeiçoando o subdesenvolvimento do Brasil: nosso parlamentarismo deformado

Paulo Roberto de Almeida

O Brasil vive um parlamentarismo fake: os caciques eleitorais comandam a política e a economia, isto é, o orçamento. Mas não se ocupam do lado da oferta na economia, nem dos investimentos produtivos: eles estão ali apenas para gastar, de preferência com eles mesmos. 

É uma nova modalidade do velho patrimonialismo, uma das características básicas da formação política brasileira: desta vez ele penetra o coração mesmo da governança, o processo de definição do orçamento, sem que os “comandantes” desse parlamentarismo fake tenham qualquer responsabilidade quanto à fase anterior do processo, que seria a base produtiva que deve estar na origem da criação de riquezas sobre as quais devem incidir as receitas estatais. 

O que seria apenas um desvio conjuntural da política brasileira — em vista da total incapacidade do chefe do executivo de administrar qualquer coisa e da decisão de entregar todo o processo decisório aos abutres da política— pode estar se convertendo numa nova característica da “governança” nacional, na qual a estrutura já deformada da proporcionalidade na representação se converte na base decisória essencial da política, transformando o chamado “presidencialismo de coalizão” num semi-presidencialismo de corrupção permanente. A inépcia do atual presidente conseguiu consolidar uma forma perversa de falso parlamentarismo, no qual o comando do orçamento só existe à jusante, na gastança, não à montante, isto é, na definição de bases sustentáveis para a produção de riquezas.

O Brasil pode estar criando uma forma especialmente cruel de subdesenvolvimento: a esterilização do crescimento sustentado pela extração continua das receitas do Estado, como se os abutres da política já tivessem organizado a forma de se refestelarem com o fígado do Prometeu acorrentado que é o próprio país. A nação vai agonizar assim até quando?

Até que o Brasil se converta num sistema parlamentar racional — o que exigiria uma reforma realista dos sistemas eleitoral e partidário — vamos ter de conviver com os piores “ismos” da politica: fisiologismo, nepotismo, prebendalismo, distributivismo sem consistência na produtividade, patrimonialismo extensivo, tributarismo exacerbado, extrativismo gangsterista do estamento político (uma classe em si e para si), enfim, todas as modalidades de aparelhamento corrupto dos mecanismos de governança, para finalidades de enriquecimento pessoal, sem qualquer responsabilidade quanto aos meios de produção de riqueza. 

É a quase perfeição do moto perpétuo de um sistema econômico falido por indução da política corruptora: o coroamento de nosso subdesenvolvimento autoinduzido.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 21/05/2022

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Brasil: o fechamento da capacidade de pensar? - Paulo Roberto de Almeida

Brasil: o fechamento da capacidade de pensar?

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

Um exemplo de quando a subserviência, próxima da debilidade mental, atinge o grau mais elevado da cadeia decisória num dos corpos das FFAA: 

“O presidente tem feito críticas, mas não é só o presidente que faz críticas, muita gente faz críticas às urnas há muito tempo. O presidente da República é o meu chefe, é o meu comandante, ele tem o direito de dizer o que quiser”. (Almir Garnier Santos, comandante da Marinha)

 

O tal comandante demitiu com toques de humilhação um membro da Força que era ministro das Minas e Energia. Ele tem essa mania de humilhar oficiais superiores, aparentemente uma espécie de vingança psicológica a que recorre, como “mau soldado” que foi, e por isso expurgado da corporação.

De maneira geral, o Brasil tem assistido nas últimas décadas a um tipo de crescimento surpreendente, não da produtividade ou do PIB, mas da mediocridade nos escalões superiores da sociedade. 

Registrei isso ao observar entrevistas e expressões orais de “autoridades” e “representantes do povo”, e constatar que o fato de exibirem um discurso pobre, geralmente ignorante, pode revelar, na verdade, uma notável incapacidade de pensar racionalmente.

Triste constatar que o Brasil como um todo regrediu terrivelmente em suas supostas elites dirigentes, que são, presumivelmente, as porta-vozes das elites dominantes, isto é, econômicas. 

Não estranha, assim, que o país esteja em uma espécie de estagnação, com baixo crescimento há décadas, pois que tais elites se têm revelado incapazes de formular um diagnóstico adequado da situação, identificar os obstáculos à retomada do crescimento sustentado e de propor as reformas necessárias à correção dos bloqueios existentes. 

Tudo indica que nos acomodamos a uma situação de mediocridade permanente.

O atual processo eleitoral esquizofrênico é altamente revelador dessa paralisia mental.

Caminhamos catatônicos para um escrutínio eleitoral em que mais uma vez não ocorre nenhum debate sério sobre os problemas da nação, apenas considerações rasteiras sobre mudanças quase imperceptíveis nas pesquisas eleitorais em torno de nomes, como se isso representasse qualquer preocupação com relação às agruras da maior parte da população do país. 

Somos uma nação de lemingues?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4155: 16 maio 2022, 2 p.


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Trabalhos PRA mais visualizados em Academia.edu (até o limite inferior de 1.000 visualizações) - Paulo Roberto de Almeida

 Trabalhos PRA mais visualizados em Academia.edu

Compilação seletiva efetuada em 11/05/2022; 

Critério: apenas os mais vistos até o limite inferior de 1.000 visualizações.

https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida/Analytics/activity/documents

 

Title

All-Time Views

All-Time Downloads

22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor, 2014)

15,345

698

054) As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização (2006)

7,775

319

1297) Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador (2004)

6,203

1,267

107) A diplomacia brasileira perante o potencial e as pretensões belgas (2014)

5,562

83

16) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)

4,823

345

A Constituicao Contra o Brasil: Ensaios de Roberto Campos

4,608

1,065

1462) O Brasil e a nanotecnologia: rumo à quarta revolução industrial (2005)

4,320

727

19) Integração Regional: uma introdução (2013)

4,001

659

Um Ornitorrinco no Itamaraty: cronicas do Itamaraty bolsolavista - Ereto da Brocha (2020)

3,734

533

039) Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX (2004)

3,652

350

A politica externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araujo

3,537

257

24) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (2014)

3,445

372

108) Brasil no Brics (2015)

2,639

139

29) O Panorama Visto em Mundorama (2015; 2a. edicao)

2,338

164

Marxismo e Socialismo (2019)

2,224

954

25) Rompendo Fronteiras: a academia pensa a diplomacia (2014)

2,127

105

23) Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (2014)

2,087

225

012) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (1999)

2,002

168

091) Teoria das Relações Internacionais – Apresentação (2012)

1,964

84

056) Planejamento no Brasil: memória histórica (2006)

1,874

406

14) O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (2006)

1,836

660

094) A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco (2012)

1,800

249

530) Brasil e OCDE: uma interacao necessaria - tese CAE (1996)

1,779

240

005) Os Anos 80: da nova Guerra Fria ao fim da bipolaridade (1997)

1,703

119

07) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (2005)

1,624

239

1820) Mercosul e América do Sul na visão estratégica brasileira: revisão histórica e perspectivas para o futuro

1,569

145

2306) A economia política da velha Guerra Fria e a nova “guerra fria” econômica da atualidade: o que mudou, o que ficou? (2011)

1,523

284

17) Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (2011)

1,520

119

01) O Mercosul no contexto regional e internacional (1993)

1,387

172

A Destruicao da Inteligencia no Itamaraty (Edição do Autor, 2019)

1,379

363

102) Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco (2013)

1,327

262

001) O Paradigma Perdido: a Revolução Burguesa de Florestan Fernandes (1987)

1,320

74

2723) Produção intelectual sobre relações internacionais e política externa do Brasil (1954-2-14)

1,190

237

081) O império em ascensão (por um de seus espectadores): Oliveira Lima (2009)

1,175

30

110) Padroes e tendencias das RI do Brasil (2013-2015)

1,157

70

1378) O desenvolvimento na era da globalização (2005)

1,114

13

21) Nunca Antes na Diplomacia: a politica externa brasileira em tempos não convencionais (2014)

1,071

189

2801) Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica? (2015)

1,068

45

28) Paralelos com o Meridiano 47: ensaios (2015)

1,055

250

11) The Drama of Brazilian Politics: From Dom João to Marina Silva (2014)

1,035

164

007) OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais (1998)

1,025

85

2258) O desenvolvimento do Mercosul: progressos e limitações (2011)

1,022

446

 

Paulo Roberto de Almeida, 4154, Brasília, 11 maio 2022, 3 p.