O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

2105) Keynes vs Hayek (ou vice-versa): um rap economico

Já postei aqui, no passado, o link pertinente, mas creio que sem tradução, desta vez feita pelo pessoal do Instituto Mises do Brasil, que também traduziu este artigo resumindo o video, de autoria de Jeffrey A. Tucker, editor do site www.Mises.org.
Uma excelente aula de economia, se você prestar atenção nos conceitos (que deveriam ser objeto de várias visualizações, para melhor compreensão).

A genialidade do rap estrelando Keynes versus Hayek
por Jeffrey A. Tucker
Instituto Mises do Brasil, quarta-feira, 28 de abril de 2010

Rap Hayek Vs Keynes

Nota do IMB: uma alma caridosa e extremamente competente traduziu e legendou o rap da batalha Keynes x Hayek. Não é exagero algum dizer que a letra da música não só é fenomenal, como também apresenta uma descrição extremamente acurada da visão antagônica que ambos tinham da mecânica dos ciclos econômicos. É um vídeo para se ver e rever inúmeras vezes. Por mais que você já o tenha visto, sempre acabará descobrindo detalhes novos.

O debate entre J.M. Keynes e F.A. Hayek, ambos vivendo e lecionando na Grã-Bretanha nos anos 1930, foi um dos grandes debates do século. Desafortunadamente, o charme keynesiano acabou prevalecendo, e Keynes, um homem que estava em frequentes viagens pelo mundo, acabou conquistando o pódio da audiência — a ponto de influenciar a política de todo o mundo até os dias de hoje.

Enquanto isso, o sereno e estudioso Hayek nunca de fato teve uma grande plateia. Assim como seu colega e mentor Mises, Hayek escrevia para jornais acadêmicos e era ouvido apenas por aqueles que tinham uma mente mais cética, pessoas que duvidavam das políticas e teorias convencionais e tinham a vontade intelectual de pesquisar os assuntos mais a fundo.

De um lado, portanto, o debate entre esses dois foi um dos mais decisivos para a modelagem das ideias econômicas que dominariam o mundo ao longo dos 75 anos seguintes. De outro lado, entretanto, esse debate nunca de fato ocorreu, uma vez que o ponto de vista hayekiano foi e tem sido sistematicamente marginalizado e escondido pelo establishment político e acadêmico desde que Keynes foi prematuramente declarado o vencedor no final da década de 30.

A maravilha das novas tecnologias midiáticas é sua capacidade de nos mostrar coisas que de outra forma poderiam passar despercebidas. Fear the Boom and Bust [Tema a Expansão e a Recessão], um vídeo do YouTube feito pelo produtor John Papola e pelo economista Russ Roberts, e apoiado pelo Mercatus Center, que pertence à George Mason University, explora genialmente essa vantagem, contrapondo Keynes e Hayek em um rap que captura uma realidade que poucos haviam compreendido por completo até agora.

Até o momento, o vídeo [o original] já foi visto mais de um milhão e cem mil vezes e virou notícia internacional. Além de ser uma bela e elaborada produção, o que realmente impressiona é sua transparência e acuidade teórica. Ele tirou a teoria austríaca dos ciclos econômicos de um plano secundário e a trouxe para o primeiro plano do debate.

É verdade que em 1974 Hayek recebeu o Prêmio Nobel, o que trouxe atenção para a sua obra que havia há muito sido esquecida. O comitê do Nobel citou especificamente o trabalho de Hayek sobre a teoria dos ciclos econômicos. Mas o renascimento desfrutado por Hayek nos anos seguintes não se centrou nesse aspecto da sua obra. Ao invés disso, toda a atenção foi voltada para elaborações sobre sua evolucionária teoria social, suas concepções sobre a ordem do processo de mercado e seus estudos sobre lei.

Com efeito, seus livros e a maioria de seus artigos sobre ciclos econômicos sequer foram reeditados desde o lançamento de sua primeira edição — até o ano passado, quando o Mises Institute lançou um maciço compêndio de sua obra: Prices and Production and Other Essays (bem como o livro Tiger by the Tail). O vídeo, portanto, vem a público de uma maneira acessível e trazendo a grande contribuição que Hayek deu à literatura econômica, a qual é essencial para se entender os atuais eventos da economia mundial.

Permita-me agora explicar por que esse vídeo é sensacional.

O vídeo começa com Keynes e Hayek chegando à recepção de um hotel. Ambos estão ali para a "Conferência Econômica Mundial". A recepcionista é toda remelexos com Keynes, tratando-o como a estrela que ele é. Keynes arrogantemente anuncia que ele não precisa de uma pauta porque ele é a pauta. Enquanto isso, Hayek humildemente tenta se fazer notar. A recepcionista nunca ouviu falar dele. Isso captura muito bem o espírito que perdurou desde a década de 1930 até hoje: o mundialmente famoso Keynes versus os desconhecidos austríacos.

Algo totalmente fiel à realidade: vários estudantes estão dizendo que mandaram esse vídeo para seus professores de economia, os quais responderam que, antes de verem vídeo, nunca tinham ouvido falar de Hayek. Enfatizo: professores de economia.

Voltando ao vídeo, a caracterização dos personagens é fantástica. Keynes é popular e amado por todos, sempre promovendo um estilo de vida boêmio, com festas e farras intensas — o futuro que se dane. Já a personalidade de Hayek é mais intelectual, sóbria e até mesmo um pouco puritana, com um foco na realidade e no longo prazo.

Hayek chega ao quarto do hotel e, ao abrir a gaveta da mesa de cabeceira encontra, ao invés da Bíblia, a Teoria Geral. O telefone toca e é Keynes anunciando que as festividades no Banco Central já estão quase começando. Hayek fica espantado, pois achava que eles estavam ali para seminários e congressos.

Eles se encontram no lobby do hotel e saem — Hayek com um ticket de metrô na mão. Keynes, sem perder tempo, pede uma limusine, enquanto Hayek balança negativamente a cabeça, indignado.

O tema do 'festeiro vs. economista sóbrio' perpassa toda a história. Os termos da argumentação são expostos bem claramente. Hayek diz que os ciclos econômicos são causados por "juros baixos" resultantes de intervenções do governo, ao passo que Keynes culpa o "espírito animal" que opera livremente em um mercado que necessita urgentemente ser controlado.

Keynes então começa a explicar sua teoria para a depressão. Ela é causada pela rigidez de salários e só pode ser curada se houver um estímulo à demanda agregada por meio do aumento dos gastos governamentais e impressão de dinheiro. Ele defende obras públicas, guerras e janelas quebradas — pois tudo isso estimularia a demanda —, alerta contra a armadilha da liquidez, defende déficits, vangloria-se de ter mudado o modo de se estudar economia, e conclui "Diga bem alto, com orgulho, somos todos keynesianos agora!". Enquanto isso, o espectador vai assistindo a cenas de pessoas embriagadas farreando freneticamente.

Sobra então para Hayek a missão de trazer realismo à discussão. Ele rejeita o argumento de Keynes pelo fato de este esconder muita agregação em suas equações, as quais ignoram toda a motivação e ação humana. Hayek compara estímulos governamentais ao ato de beber mais para tentar curar uma ressaca. Ele chama atenção para o fato de que não é possível haver prosperidade sem poupança e investimento — e em seguida começa a educar Keynes em sua perspectiva austríaca.

Ele começa sua exposição alterando o foco da análise: não é a recessão, mas sim a expansão que deve ser analisada. Pois é durante a expansão que são plantadas as sementes do desastre. A expansão econômica começa com uma expansão do crédito. Esse dinheiro recém-criado passa a ser erroneamente visto como sendo poupança real, que pode ser emprestada e investida em novos projetos, como imóveis e construção.

Porém, há uma escassez de recursos necessários para se finalizar esses projetos. Imprimir dinheiro não faz com que os recursos surjam do nada. Esses projetos, portanto, se transformam em investimentos errôneos. O "anseio por mais recursos revela que não há o bastante". É aí que a expansão se transforma em recessão. Quanto à armadilha da liquidez, ela é apenas uma evidência de um sistema bancário insolvente. A lição: "Você precisa poupar para investir, não use a maquina de imprimir."

Toda essa explicação ocorre enquanto Keynes tenta dormir para curar sua ressaca. Sem sucesso, ele corre para o banheiro para vomitar — os efeitos colaterais da farra da noite anterior.

O que Hayek discute no vídeo é sua própria teoria da estrutura de produção de uma economia. Mas vale notar que há uma estrutura de produção atuando no mundo das ideias também. Os primeiros pedaços da teoria austríaca dos ciclos econômicos foram juntados 100 anos atrás, quando Mises estava trabalhando em seu primeiro livro, que foi publicado em 1912.

Esse foi o primeiro tratado a juntar a teoria dos juros e da produção à teoria da moeda. O principal ponto de Mises era mostrar que os bancos centrais — que estavam sendo criados em sua maioria naquela época — iriam acabar causando mais ciclos econômicos, e não menos. Hayek deu sequência a esse trabalho nos anos 20 e 30, publicando uma série de estudos sobre o assunto. Mais tarde vieram aprimoramentos feitos pelo próprio Mises, que os publicou em sua obra magna de 1949, Ação Humana. Os estudos feitos por Roger Garrison na década de 1990 fornecem alguns dos termos que aparecem no vídeo. Ainda depois, surgiu o livro de Jesus Huerta de Soto sobre ciclos econômicos, o qual explica o papel do sistema bancário de reservas fracionárias na criação das expansões econômicas e das subsequentes recessões — um livro que se baseia em várias constatações feitas por Rothbard na década de 1960.

O que vemos nesse vídeo, portanto, é a culminação de várias sequências de ideias que começaram há um século. Trata-se de uma longa e complexa estrutura de produção de ideias. Mas foi exatamente essa estruturação que possibilitou que uma teoria dessa complexidade pudesse ser construída de modo tão coerente, que é perfeitamente possível apresentá-la em um vídeo de rap num formato que qualquer leigo pode ver e entender.

Sinceras e cordiais congratulações a Russ Roberts e John Papola por terem compilado tudo e apresentado um fantástico exemplo de como a ciência econômica pode ser explicada para qualquer indivíduo. Era justamente essa a visão de Mises: a ciência econômica não deve ser relegada às salas de aula; ela deve fazer parte dos estudos de cada cidadão. Roberts e Papola levaram essa prescrição muito a sério e, com isso, fizeram algo extraordinário para Hayek, para as ideias austríacas, para a ciência econômica em geral e para o progresso intelectual do mundo.

É por isso que o vídeo é fantástico.
Jeffrey A. Tucker
é o editor do Mises.org.

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

2104) Rota da Seda, um passeio pelo Oriente (e algo mais...)

Blog-site de Carmen Lícia Palazzo, por acaso (bem, não foi por acaso) minha queridíssima esposa, companheira, guia de viagens, historiadora oficial, conhecedora dos segredos da Rota da Seda e muito mais:

Rota da Seda
http://www.carmenlicia.org/

Prato sassânida (entre séculos V e VII); influência grega na temática da decoração.
© carmen lícia palazzo

Rota da Seda
丝绸之路 - Cidades da Rota da Seda
Carmen Lícia Palazzo
Fri, 04/23/2010 - 22:36

Carmen Lícia descendo do "taxi" no deserto de Gobi:


Estamos chegando de uma viagem muito especial pelo interior da China pois fizemos uma pequena parte da Rota da Seda, visitando Dunhuang e as cavernas ou grutas de Mogao, Lanzhou e Xi'an.

Dunhuang é o ponto de partida para visitar Mogao, um oásis no deserto de Gobi onde se encontram centenas de cavernas com magníficas pinturas e estátuas budistas. As cavernas começaram a ser escavadas no século IV quando ali se instalaram as primeiras comunidades de monges budistas. Os monges transformaram o local em um centro de devoção importante e muito frequentado pelos viajantes que percorriam a Rota da Seda. No oásis de Mogao as caravanas encontravam um lugar para descanso e para reabastecimento, sendo frequente também a troca de animais para seguir longos percursos.

A visita às cavernas é bem organizada e é possível apreciar os diversos estilos que foram se sucedendo na arte budista, inclusive as diversas influências indiana, tibetana e mesmo greco-romana, como é o caso dos drapeados inspirados nas esculturas de Gandhara. São excepcionais as imensas estátuas de Buda. Como puderam ser esculpidas com tamanha habilidade ali dentro? As figuras voadoras, "devi" ou apsaras" são fascinates. Comprei um livro muito bom, "Dunhuang & Silk Road", cujos autores pertencem à Universidade de Lanzhou e à Academia Dunhuang, pretendo dar uma boa estudada na história deste lugar que há tanto tempo me fascina...

Em Xi'an, antiga Chang'an, capital da China em diversas dinastias e que teve seu apogeu na época dos Tang, visitamos o Museu de História de Shaanxi que justamente "conta" a história da Rota da Seda. Estivemos também no Grande Pagoda cuja construção se destinava principalmente a abrigar textos budistas que o monge Xuan Zhang trouxe da Índia. A peregrinação de Xuan Zhang, que partiu de Xi'an no ano de 628, é um dos episódios mais importantes do budismo chinês e foi no mosteiro ao lado do Pagoda que ele criou uma escola de tradutores que alcançou grande renome na Ásia. Ainda hoje o enorme mosteiro se encontra em atividade e é bastante prestigiado entre os budistas.

Mas voltando atrás no tempo visitamos, ainda em Xi'an, o que é considerado uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século XX: o imenso conjunto de guerreiros em terracota que fazem parte do mausoléu do imperador Qinshihuang. Ele unificou a China em 221 a.C. e ainda muito jovem mandou construir o que viria a ser seu mausoléu. O famoso exército de terracota já é bastante conhecido pois suas imagens são constantemente divulgadas em livros, filmes e revistas. No entanto é inexplicável a sensação de vê-los de perto. Eles estão no próprio sítio arqueológico onde foram encontrados e há inclusive um grupo de arqueólogos trabalhando nas escavações. É possível acompanhar uma parte dos trabalhos. É imensa a extensão da necrópole e certamente outras descobertas importantes se seguirão.

Dunhuang/Mogao e Xi'an dão uma boa idéia do trabalho que a China vem desenvolvendo com apoio de vários outros países para trazer à tona partes importantes da sua história. O Projeto Dunhuang é especialmente interessante pois atualmente está sendo feita a digitalização de todo o acervo de obras de arte das cavernas e há uma equipe internacional com grande participação chinesa trabalhando também na conservação do local.

Estamos começando bem nossa temporada chinesa e esperamos ainda fazer muitas viagens até o início de novembro, quando encerra nosso período aqui.

Algumas fotos de Dunhuang, do deserto de Gobi e de Xi'an estão no item "Minhas fotos."


Atualizações recentes
Mosteiro em Xi’an
04/24/2010 - 03:24
Zhang Qian
04/24/2010 - 03:22
Entrada das cavernas de Mogao
04/24/2010 - 03:16
Cavernas de Mogao
04/24/2010 - 00:20
Deserto de Gobi
04/23/2010 - 23:21
Cidades da Rota da Seda
04/23/2010 - 22:36
Chegada em Shanghai
04/11/2010 - 00:26
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:22
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:18
Viagem aos Emirados Árabes
04/07/2010 - 02:52

2103) Continuando o dialogo sobre a (nao)democracia no Brasil

Um leitor deste meu post, neste blog:

quarta-feira, 28 de abril de 2010
2096) Um dialogo sobre a (nao) democracia no Brasil

Paulo disse...
Caro PRA,
Poderia, por gentileza, se aprofundar um pouco mais sobre essa democracia aborrecida, mas funcional, mencionada no seu texto?
Confesso que fiquei meio no ar.
Os EUA sao muito abertos a "imigracao selvagem" para se tornarem uma democracia aborrecida, mas funcional, como os escandinavos e semelhantes.
Grato,
Paulo


Bem, antes de continuar, talvez os leitores queiram ler primeiro o post em questão, para saber o que eu disse, exatamente, em relação ao que o leitor Paulo levanta, com o pedido de esclarecimentos adicionais.

Quem já leu Norberto Bobbio ou Karl Popper, sabe que a democracia é um sistema muito pouco excitante, a diferença de todas essas ditaduras que ficam mobilizando o povo em grandes marchas e manifestações, discursos de tres horas, etc.
Nada disso: a democracia é feita de pequenas reformas, pequenas adaptações, pequenos ajustes, infinitas conversas e conciliações, tentando melhorar, pela via do consenso, do voto, da discussão, aquilo que os representantes do povo decidem num processo marcado por muitos estudos técnicos, muita burocracia, muito equilíbrio entre vontades opostas.
Os regimes democraticos verdadeiramente consolidados são uma infinita chatice, porque ninguem fica discutindo essas "revoluções" na vida das pessoas que líderes demagogos e outros populistas ficam prometendo a cada vez. Ñão, o que se discute é o que vai ser feito com o lixo reciclado, o menu da merenda escolar, o trajeto da nova linha de metro, essas coisas aborrecidas.
"Democracias populares" é que ficam discutindo se o Estado vai ou não estatizar essa ou aquela propriedade ou atividade econômica, se vai mudar a política cambial, se vão ou não aceitar investimentos estrangeiros "exploradoes" ou "espoliativos", enfim grandes coisas que permitam enormes discursos cheios de acusações aos inimigos da pátria e os burgueses egoistas e banqueiros gananciosos.
Democracias consolidadas são tão aborrecidas que metade da população nem se desloca para votar nas eleições gerais, nacionais, preferindo eleger o xerife de aldeia, o juiz do condado, ou o board da escola e sua associação de pais e mestres. Essas são as chatices das democracias consolidades, nas quais ninguém tem medo de que um líder populista maluco mude as regras do jogo do dia para a noite e altere fundamentalmente o rendimento da poupança, os contratos de alugueis ou o valor da moeda.
Essa é a vida na Suíca ou nos paises escandinavos, uma chatice infinita, sem essas excitações dos grandes comícios e grandes apelos à defesa da pátria.

Quanto aos EUA, eu disse que eles são uma grande democracia, mas pagam o preço de também serem uma grande economia dinâmica e de atrairem uma "imigração selvagem". Esse é um fato, não uma opinião, pois todos os pobres da terra, e também os bandidos, querem ir para os EUA. Como diria um ladrão de bancos, lá é que está o dinheiro.
Nessas condições, os EUA não conseguem ser uma democracia aborrecida, pois a diversidade cultural, a dinâmica populacional, e a própria violência trazida pelo crime organizado que vai conquistar uma parte do dinheiro fazem com que a vida seja um pouco mais movimentada por lá.
E depois tem Hollywood, que não deixa a vida de ninguém ficar aborrecida.

Enfim, tem gente que prefere coisa mais movimentada, como países que decretam aumentos salariais de 40% aos policiais e aos membros das FFAA, como acaba de fazer Hugo Chávez, por certo por generosidade extrema.

Vejamos, como seria uma democracia não aborrecida. Eis aqui um exemplo:

Venezuela expropia instalaciones de Empresas Polar
Por Andrew Cawthorne
28 de abril de 2010, 02:11 PM

CARACAS (Reuters) - El presidente de Venezuela, Hugo Chávez, decretó la expropiación de unos depósitos de Empresas Polar, la mayor procesadora de alimentos del país, en un nuevo avance del Gobierno contra la propiedad privada.
También ordenó expropiar tres procesadoras de azúcar
El militar retirado firmó el martes en la noche el decreto y le advirtió al dueño del grupo, Lorenzo Mendoza, que se calme.
"No me provoques Mendoza. Quédate tranquilo, no te pongas bravo Mendoza, sabes que tengo razón", dijo Chávez dirigiéndose al jefe de Polar, desde una reunión ministerial que fue transmitida por la televisora estatal.
En marzo, Chávez exigió el desalojo del terreno donde están los depósitos en la ciudad central de Barquisimeto, con el fin de adelantar un plan de construcción de viviendas sociales.
Semanas después el Gobierno regional decretó la expropiación de los activos de la empresa, la que Polar consideró como "arbitraria" y la cual solicitó fuese calificada como "nula" por el Tribunal Supremo de Justicia.
Sin embargo el mandatario, quien afronta una baja en sus niveles de popularidad de cara a una crucial elección legislativa en septiembre, replicó entonces que las objeciones de Polar eran injustificadas.
Chávez ha nacionalizado amplios sectores desde que en 1999 llegó al poder por los votos y ha amenazado varias veces con expropiar operaciones de Polar, acusándola de "sabotaje" en la distribución de alimentos.
La firma, controlada por una acaudalada familia, fabrica alimentos, cervezas, refrescos y bebidas no carbonatadas. Tiene 30 plantas industriales y es fundamental para mantener abastecida a Venezuela, que ha sufrido crisis de escasez en años recientes.
Empresas Polar, que también opera Pepsi-Cola Venezuela, mantiene una participación accionaria en Cativen, unidad de la minorista francesa Casino, con la que el Estado se asociará para manejar los hipermercados Exito y los supermercados Cada.
La empresa ha dicho que podría llegar a pedir por la expropiación una indemnización de unos 95 millones de bolívares, unos 37 millones de dólares calculados al tipo de cambio oficial de 2,60 bolívares para bienes básicos.
Además, la firma ha dicho que el decreto afectará a más de 3.200 trabajadores de los centros de acopio y distribución de Cervecería Polar y Pepsi.
EXPROPIA AZUCARERAS
Chávez también ordenó expropiar los centrales azucareros Agua Blanca y Santa Clara, en los estados occidentales de Portuguesa y Yaracuy, alegando que se encontraban paralizadas.
"Centrales que estaban abandonadas en el peor estado, abandonadas sus instalaciones, los trabajadores mal pagados y explotados", explicó Chávez.
Una tercera procesadora de azúcar, en el estado Táchira, en la frontera con Colombia, también fue afectada por una medida de "adquisición forzosa", según reseñó la Gaceta Oficial que circuló el miércoles.
Según el Departamento de Agricultura de Estados Unidos, Venezuela cuenta con unos 15 centrales azucareros que producen sólo un tercio de su demanda, mientras que importa unas 700.000 toneladas anuales para satisfacer el consumo.
Fedecamaras, el mayor gremio empresarial del país y opositor del Gobierno, condenó la medida en contra de Polar, considerando que perjudica a consumidores y trabajadores.
"El Gobierno se está radicalizando, los empresarios tienen que radicalizar su postura de defensa a la propiedad privada y recurrir a todas las instancias", dijo Noel Alvarez, presidente de la Federación, a la televisora Globovisión.
Alvarez agregó que iniciará acciones legales en contra de Chávez en la Corte Interamericana de Derechos Humanos (CIDH) y en la Organización de Naciones Unidas (ONU).
(1 dólar= 2,6 bolívares a tipo de cambio preferencial para alimentos y medicinas; y 4,3 bolívares a tipo de cambio para bienes no prioritarios)
---------

Acho que isso explica tudo...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

2102) Facebook, Twitter...: sorry folks, I'm out

Um esclarecimento, uma declaração, e um pedido de desculpas, preventivo e ex-post...

Tenho sido solicitado, como muitos de nós, por inúmeros pedidos de adesão a esta ou aquela rede de contatos sociais, de intercâmbio de informações, de troca de e-mails e até, como parece ser normal em nossos tempos de transparência cibernética, de informação simultânea sobre o que estamos fazendo naquele mesmo momento, quando não um convite para expressarmos nossos pensamentos mais recônditos, como diriam antigos escritores...

Eu sei de todas as possibilidades fantásticas dos modernos meios de comunicação, que eles ajudam tremendamente no dia a dia e até permitem, vejam só, aos mais ambiciosos, ganhar eleições, quem sabe até a presidência do país (não, não tenho essa ambição).

Já fiz até uma experiência, ou duas, frustradas devo logo dizer, de me associar a essas engenhocas, e cheguei à conclusão que não vale a pena, pelo menos para meu estilo de vida, e para o que gosto de fazer, que vou repetir aqui, para informação dos menos atentos.

Minha única preocupação -- OK, não é a única, mas é uma das mais importantes -- está em ler, sintetizar o que aprendi e tentar transmitir a outros um pouco desses novos conhecimentos ou informações, numa tarefa didática autoassumida e que me dá prazer de fazer. É isso que faço, o tempo todo, e é isso que pretendo continuar fazendo, utilizando para isso os poucos instrumentos de informação e de comunicação de que disponho: um simples computador, armado de programas triviais, acesso à internet, e interfaces de comunicação, que são apenas duas ou três: e-mails, site e blogs, nada mais.

Todo o resto -- Orkut, Facebook, Twitter, e todos os demais programas de formação de redes e intercâmbio de mensagens e informações -- me custariam tempo (algo extremamente escasso para quem deseja ler muito) e privacidade (algo que cultivo muito, tanto por natural timidez, como por achar que ninguém deve sair por aí se exibindo gratuitamente).

Ou seja, prefiro, e preciso, ficar no meu canto, calado, quieto, silencioso, lendo meus livros, revistas, jornais e sites de informação e, depois, ter tempo de digerir tudo isso, nos momentos e nas formas apropriados, que são, geralmente, posts, mensagens e artigos que libero por diversos meios.
Prefiro fazer ao meu ritmo e ao meu gosto, não ditado por uma buzina que aparece de vez em quando na tela nos incitando a responder imediatamente, a trocar informações com Marte, ou para saber o que comeu fulaninho num restaurante da moda qualquer...

Por isso, me desculpo com os meus "provocadores habituais" de comunicação e intercâmbio, dizendo que não pretendo aderir a nenhum outro sistema a que já não aderi volutnariamente.

Grato pela compreensão e minhas modestas desculpas por não responder a todos os pedidos de intercâmbio e interface que recebo.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 29.04.2010)

2101) Politica Externa Brasileira: limites e possibilidades

Pesos e medidas da política externa brasileira
Por Luiz Feldman
Valor Econômico, 27/04/2010

Uma afirmação clássica é de que o Brasil não possui excedentes de poder para atuar.

A recente relevância internacional do país tem motivado reflexão da sociedade brasileira sobre sua imagem A maior relevância do Brasil no plano internacional tem suscitado, nos últimos anos, um debate público cada vez mais amplo a respeito dos erros e dos acertos de sua política externa. As análises do desempenho diplomático do país não dispõem, todavia, de um critério inconteste que se sobreponha aos demais. Esse democrático exercício de avaliação é conformado, na verdade, por uma rica pluralidade de opiniões, que oferece ao espectador diferentes perspectivas sobre o interesse nacional.
É oportuno, nesse contexto, mapear as críticas às relações exteriores no governo Lula, administrador de turno dessa nova importância do Brasil no cenário mundial. Compreendê-las ajuda a identificar alguns dos desafios a serem enfrentados pelos futuros programas de política externa no Brasil.
Três vertentes críticas podem ser delineadas. Elas referem-se ora aos limites materiais da projeção exterior do país, ora aos morais, ora a ambos.
A primeira delas, evocada na recente incursão presidencial em temas de alta política no Oriente Médio, diz respeito à clássica afirmação de que o Brasil não possui excedentes de poder. Questiona-se a eficácia do instrumental diplomático brasileiro, que seria materialmente incapaz de alterar a conduta dos atores envolvidos nos conflitos que pretende mediar. O país deveria, argumenta-se, utilizar de modo mais criterioso o capital político (soft power) de que dispõe.
Essa visão, embora censurando um voluntarismo exagerado, é congruente com o discurso oficial de que, justamente por não ser uma potência militar, a contribuição do Brasil estaria na exemplaridade de seus métodos racionais para o equacionamento de conflitos. No entanto, corre paralelo a esse raciocínio pacifista outro tipo de crítica, segundo a qual o país deveria fazer sentir o poderio que já detém ao menos em seu entorno regional, onde empresas brasileiras estariam operando sob hostilidade e sem uma retaguarda diplomática firme. Para além da reversão das assimetrias estruturais em sua
vizinhança, o desafio para o Brasil, que tem um interesse estratégico em uma ordem global regulada pelo direito internacional, reside em assegurar que esse eventual método da robustez (se e quando necessário em alguma de suas arenas de negociação) seja coerente com o da racionalidade.
A segunda vertente, notabilizada pelas polêmicas acerca das relações com Cuba, Honduras e Irã, diz respeito ao diagnóstico de imoral ideologização da diplomacia brasileira. Em alguns casos, a busca de vantagens de ocasião ou de afinidades valorativas junto a regimes autoritários silenciaria a condenação de violações de direitos humanos por eles cometidas. Em outros, a conveniência recomendaria tomar o partido de aliados de esquerda na vida política interna de países amigos. Por um lado, a identidade democrática do Brasil seria manchada; por outro, o princípio de não-intervenção seria desrespeitado.
O chamado por uma advocacia mais clara dos direitos civis e políticos em outros países é pertinente em vista do princípio de prevalência dos direitos humanos, inscrito no art. 4º da Constituição Federal de 1988. A justa reivindicação de que a diplomacia projete valores caros à sociedade brasileira encerra, entretanto, um dilema. Embora a forma democrática de governo do Brasil possa ter um bem-sucedido efeito demonstração na América Latina, assumir essa irradiação democrática como causa política poderia implicar, como já se aventou, fazer do Brasil um fiscal do Estado de Direito na região, o que tornaria necessário ponderar o (igualmente constitucional) princípio da
não-intervenção.
A terceira vertente, que tem sido enunciada em artigos de opinião em língua inglesa, diz respeito aos parâmetros para que o Brasil se qualifique como uma potência responsável. O argumento, assentado no receio de que maiores excedentes de poder dêem alcance e repercussão mundiais a um comportamento autônomo imoral do país, distingue-se da crítica anterior à medida que seu parâmetro de sensatez para a diplomacia brasileira se torna a compatibilidade desta com os interesses globais das potências do Atlântico Norte.
A insinuação de que o Brasil corre o risco de se tornar um pária internacional é descabida. Como se sabe, a política externa da Nova República tem priorizado a credibilidade, pela adesão à ordem político-econômica ocidental.
A bem dizer, recorrendo a Machado de Assis, o que se coloca para as potências emergentes é a liberdade para teimar pela reforma da ordem global e pela redefinição da própria ideia de conduta responsável. De um lado, trata-se da redistribuição do poder decisório em foros internacionais, caso da Organização das Nações Unidas e das instituições de Bretton Woods. De outro, trata-se da construção de novas agendas e da legitimação de velhos direitos na governança global. Pense-se, por exemplo, na criação de um quadro legal que regule as migrações internacionais (dificultada pelas reservas dos países receptores de população, mas justificada pelo imperativo de proteção de nacionais no exterior), e no domínio pleno dos usos pacíficos da energia nuclear (defendido de forma coerente com a obrigação de não desenvolver artefatos atômicos, apesar das reticências das potências centrais).
O aumento da relevância internacional do país em tempos recentes tem motivado reflexão na sociedade brasileira sobre sua imagem. Como observa oprofessor Hans U. Gumbrecht, a própria ideia de um duplo perfil externo do Brasil - ora Terceiro, ora Primeiro Mundo - pode vir a ser colocada em cheque, onde sirva para justificar complacência com as mazelas internas. Isso ilustra a importância do debate público sobre o status do Brasil no mundo, que ao esclarecer as potencialidades do país no cenário internacional mas também os limites inerentes à sua projeção, ajuda a delinear os caminhos que a política externa trilhará na busca do sempre fugidio equilíbrio entre seus vários pesos
e suas muitas medidas.

Luiz Feldman é mestre em Relações Internacionais pela PUC/Rio.

2100) Comeco do fim da Al Qaeda?

Terrorismo não se vence necessariamente nas batalhas de terreno, e sim no terreno das ideias, com sempre deve ser...
Isto não quer dizer que a evolução tenha acontecido no terreno de quem "manipula" ideias, ou seja, os clerigos e autoridades religiosas islâmicas, que NUNCA fizeram o seu dever de condenar, explicitamente, esses atentados bárbaros que matam mais civis inocentes do que os supostos inimigos do Islam.
Não, é a população que deixa de seguir essa ideologia terrorista e suicida, mas instintivamente, não que ela tenha sido instruida a fazê-lo por esses clérigos idiotas.

The Almanac of Al Qaeda
FP's definitive guide to what's left of the terrorist group.

BY PETER BERGEN, KATHERINE TIEDEMANN
Foreign Policy, MAY/JUNE 2010

In December 2007, al Qaeda's No. 2, Ayman al-Zawahiri, made a little-noticed nod to the fact that his organization's popularity was taking a nosedive: He solicited questions from jihadi forum participants in an online question-and-answer session. It looked like a rather desperate gambit to win back al Qaeda’s dwindling support. And it was. Since the September 11 attacks, the terrorist organization and its affiliates had killed thousands of Muslims -- countless in Iraq, and hundreds more in Afghanistan and Pakistan that year alone. For a group claiming to defend the Islamic ummah, these massacres had dealt a devastating blow to its credibility. The faithful, Zawahiri knew, were losing faith in al Qaeda.

Zawahiri's Web session did not go well. Asked how he could justify killing Muslim civilians, he answered defensively in dense, arcane passages that referred readers to other dense, arcane statements he had already made about the matter. A typical question came from geography teacher Mudarris Jughrafiya, who asked: "Excuse me, Mr. Zawahiri, but who is it who is killing with your excellency's blessing the innocents in Baghdad, Morocco, and Algeria? Do you consider the killing of women and children to be jihad?"

Like a snake backed into a corner, however, a weakened al Qaeda isn’t necessarily less dangerous. In the first comprehensive look of its kind, Foreign Policy offers the Almanac of Al Qaeda, a detailed accounting of how al Qaeda's ranks, methods, and strategy have changed over the last decade and how they might evolve from here. What emerges is a picture of a terrorist vanguard that is losing the war of ideas in the Islamic world, even as its violent attacks have grown in frequency.

It's not because the United States is winning -- most Muslims still have extremely negative attitudes toward the United States because of its wars in the Muslim world and history of abuses of detainees. It's because Muslims have largely turned against Osama bin Laden's dark ideology. Favorable ratings of the terrorist leader and the suicide bombings he advocates fell by half in the two most-populous Islamic countries, Indonesia and Pakistan, between 2002 and 2009. In Iraq, Abu Musab al-Zarqawi's ruthless campaign of sectarian violence obliterated the support al Qaeda had enjoyed there, deeply damaging its brand across the Arab world.

The jihad has also dramatically failed to achieve its central aims. Bin Laden's primary goal has always been regime change in the Middle East, sweeping away the governments from Cairo to Riyadh with Taliban-style rule. He wants Western troops and influence out of the region and thinks that attacking the "far enemy," the United States, will cause U.S.-backed Arab regimes -- the "near enemy" -- to crumble. For all his leadership skills and charisma, however, bin Laden has accomplished the opposite of what he intended. Nearly a decade after the 9/11 attacks, his last remaining safe havens in the Hindu Kush are under attack, and U.S. soldiers patrol the streets of Kandahar and Baghdad.

If this looks like victory in the so-called war on terror, it is an incomplete one. The jihadi militants led by bin Laden have proved surprisingly resilient, and al Qaeda continues to pose a substantial threat to Western interests overseas. It could still pull off an attack that would kill hundreds, as the most recent plot to bring down Northwest Airlines Flight 253 on Christmas Day 2009 attests. We know from history that small, determined groups can sustain their bloody work for years with virtually no public support. Al Qaeda's leaders certainly think that their epic struggle against the West in defense of true Islam will last for generations. -- Peter Bergen

2099) Ceci n'est pas une pipe / Isto nao é um cachimbo...

Nossos amigos portugueses estão a se perguntar se Portugal não vai ser o próximo a ser "despencado" pelos mercados. Do blog que leva o nome acima, muito simpatico, ultra irônico e sempre mordaz...

& ainda s/ verdades
E ainda sobre as verdades que muito agradecíamos que os nossos governantes (lato senso) não descurassem.

Em Janeiro, éramos todos mais ou menos iguais, com excepção da Espanha, um pouco a destoar, negativamente. Dinheiro muito democrático. Depois houve o Orçamento do Estado. Depois, houve o PEC. Lá pelo fim de Março, já tínhamos (os nossos bancos) descolado há algum tempo, quando deixámos finalmente a Espanha para trás. Aí por volta de 10 de Abril, o risco associado aos bancos portugueses picou. Como picou o risco da dívida soberana nas últimas semanas. Como de costume, as agências de rating reagem tarde. Ontem, uma delas, desceu o rating soberano e dos bancos. É falso que «as agências de rating» tenham desencadeado um «ataque». Foram atrás dos mercados.

O Governo assistiu impávido a tudo. E os outros actores políticos também. Temo bem que a reacção que esteja a ser pensada seja totalmente inútil. Porquê? Por isto. Mas a verdade não conhece regras de cortesia. E não espera por convite, para nos entrar casa adentro.

Publicada por Jorge Costa em 17:01 1 comentários

Em outro post também cruel, nossos amigo do cachimbo trazem este gráfico eloquente da revista Economist:

Não é preciso comentário nenhum...

2098) Alguns trabalhos mais recentes publicados - PRAlmeida

À escolha do freguês, que faz o controle de qualidade, pelos muitos comentários que recebo bilateralmente, alguns aqui reproduzidos ou postados.

964. “Duas tradições no campo da filosofia social: liberalismo e marxismo
Ordem Livre (26.04.2010; Volta ao mundo em 25 ensaios: 9). Relação de Originais n. 2082.

963. “Os dez mandamentos de um novo profeta
Via Política (19.04.2010).Relação de Originais n. 2132.

962. “Políticas econômicas nacionais estão convergindo?
Portal de economia do IG (13.04.2010). Relação de Originais n. 2075.

961. “Individualismo e interesses coletivos: qual a balança exata?
Ordem Livre (12.04.2010; da série Volta ao mundo em 25 ensaios, n. 8). Relação de Originais n. 2081.

960. “Elogio da burguesia (com uma deixa para a aristocracia também)
Via Política (12.04.2010).
Reproduzido no site Dom Total (22.04.2010). Relação de Originais n. 2127.

959. “A coruja de Tocqueville: fatos e opiniões sobre o desmantelamento institucional do Brasil contemporâneo
Espaço Acadêmico (ano 9, n. 107, abril 2010, p. 143-148; ISSN: 1519-6186). Relação de Originais n. 2116.

958. “Guerra e paz no contexto internacional: progressos em vista?
Ordem Livre (29.03.2010; da série Volta ao mundo em 25 ensaios n. 7). Relação de Originais n. 2080.

2097) MEC podera rebaixar universidades federais

Já devia ter feito isso há muito tempo...
Paulo Roberto de Almeida

MEC PODERÁ "REBAIXAR" UNIVERSIDADES FEDERAIS
Antonio Gois
Folha de São Paulo, 26/04/2010

Proposta que será votada em maio, com o apoio do ministério, prevê que instituições sejam avaliadas pela primeira vez. Para se manter universidade, o que dá maior autonomia, instituição tem de investir em pesquisa; hoje, 15% das federais estão fora da regra.

As universidades federais, pela primeira vez, terão que cumprir metas de qualidade para manterem o título ou poderão ser rebaixadas a centros universitários e ter menor autonomia para abrir cursos, por exemplo. O título de universidade dá liberdade para a instituição se expandir, mas exige dela investimentos em pesquisa como contrapartida. As mudanças constam de resolução que será votada em maio pelo Conselho Nacional de Educação. Há consenso sobre a inclusão das federais no sistema de credenciamento e a exigência, para as atuais universidades, de manterem ao menos três programas de mestrado e um de doutorado. No setor privado, muitas universidades ostentam esse título sem cumprir exigências em vigor, como ter 1/3 dos docentes atuando em dedicação exclusiva -45% desrespeitam essa exigência, segundo o Censo da Educação Superior 2008 (último disponível). O MEC diz que começou a cobrar essas instituições e que pode puni-las.

No caso das novas exigências da resolução que será votada pelo CNE, estudo feito pelo conselheiro Edson Nunes com base em dados da Capes (órgão do MEC) mostra que 59% das particulares e 15% das federais não se enquadrariam hoje na regra de ter ao menos um doutorado e três mestrados. Já em relação às federais, a nova resolução quer limitar a prática de criar instituições e chamá-las de universidades sem que estejam preparadas para isso. A prática foi utilizada por vários governos. No de Lula, das 13 universidades criadas, seis hoje não cumprem a determinação de ter ao menos um doutorado e três mestrados. A resolução faz uma diferenciação entre as universidades já existentes e as que ainda buscam obter este título. Para as novas, a exigência inicial será maior: dois doutorados e quatro mestrados. Entre as já existentes, será dado um prazo, ainda não estipulado, para se adequar a todas as normas.

As novas regras deixarão de fora as universidades estaduais, que respondem a conselhos estaduais de educação, e não ao nacional. Metade delas, segundo Nunes, hoje não estaria adequada às exigências de um doutorado e três mestrados. Mesmo com a resolução, ainda segundo o conselheiro, continuará havendo discrepância entre as universidades no país, sem haver diferenciação das instituições intensivas em pesquisa daquelas cuja prioridade é o ensino de graduação. IRREGULARES: 59% - das universidades particulares não têm mínimo exigido de um doutorado e três mestrados. 15% - é o percentual com esse mesmo tipo de irregularidade entre as instituições federais.

2096) Um dialogo sobre a (nao) democracia no Brasil

Um leitor do meu blog, e espectador de uma de minhas palestras, escreveu-me o que segue:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE

On Mar 23, 2010, at 12:05 AM, Jxxxxx (...) Rxxxxxx wrote:

Nome: Jxxxxx (...) Rxxxxxx
Cidade: Brasília
Estado: DF
Email: xxxxxxxxxxxxx@hotmail.com
Assunto: Opiniao

Mensagem: Estive presente em sua palestra na UnB, sou calouro de Xxxxxx e não me considerei apto para embarcar em um debate público com o senhor, por isso venho confrontar sua opinião através da internet!
Em primeiro lugar gostaria de dizer que concordo de sua constatação sobre a inexistência de uma direita clássica o Brasil, mas me atrevo a expandir esse horizonte dizendo que não há na política brasileira caráter ou fidelidade partidária suficiente para que exista qualquer orientação seja ela fascista, marxista, liberalista ou qualquer outra! Existem claro aqueles partidos extremo esquerdistas que são fiéis às suas crenças, entretanto tem uma representação tão ífia que pode ser desconsiderada!
Gostaria de expor minha opinião quanto a erosão da democracia. Para mim a democracia é erodida desde suas bases a não ser que ela seja direta, pois: a representatividade nunca é fiel! E a falta de uma educação cidadã torna impossível que as classes menos abastadas formem uma opinião consistente o suficiente para uma fiscalização pertinente!
Visto que é completamente inviável uma democracia direta nos dias atuais (a não ser em alguns cantões suíços) penso ser correto dizer que a democracia é uma forma de organização política fadada ao fracasso!
Obrigado pela atenção às minhas opiniões, gostei muito de sua palestra e reitero que não me considero ainda preparado para debater com o senhor de forma equivalente!

============

Ele se referia a esta palestra, que foi transformada em artigo e publicada desta forma:
A coruja de Tocqueville: fatos e opiniões sobre o desmantelamento institucional do Brasil contemporâneo
Espaço Acadêmico (ano 9, n. 107, abril 2010, p. 143-148; ISSN: 1519-6186).

Minha resposta a ele, um tanto apressada, segue abaixo (sem acentos, como sempre escrevo na internet):

Meu caro Jxxxxxxx,
Grato pela sua mensagem e pela atencao a minha palestra (transformada em artigo e publicada na Espaco Academico).
Devo dizer que voce poderia, em qualquer hipotese, debater comigo na palestra, pois sempre seria uma questao intrigante, como essa que voce me colocou, o que teria beneficiado outras pessoas tambem interessadas no mesmo tema.
Concordo quase inteiramente com voce, com as seguintes ressalvas.
Direita classica, ideologica e consistente, tambem acho dificil de haver no Brasil.
Os liberais -- QUE NAO SAO DE DIREITA, DIGA-SE DE PASSAGEM, MAS REFORMISTAS -- tampouco terao muita chance nos anos, e talvez decadas, a frente.
Sobram os sociais democratas -- debeis em materia ideologica ou conceitual -- e os marxistas, de todos os matizes, que a despeito de serem tambem totalmente inconsistentes no plano da formulacao teorica, tem, sim, muito mais sucesso e atuacao efetiva do que todos os outros. Eu vejo toda a nebulosa estatista-socialista como de muito sucesso no Brasil, por mais que o pais e a economia sejam capitalistas, a extracao de recursos por parte do Estado faz parte dessa nebulosa, da qual participam tambem os social-democratas.
O Brasil, infelizmente (porque isso atrasa a prosperidade economica e o bem-estar dos mais pobres) nao é um pais capitalista progressista, e sim um pais estatizante-regressista, anti-reformista, corporativista e sindicalizado. Pagaremos um preco por isso, tenha certeza disso, como alias ja estamos pagando, sob a forma de menor crescimento, mais corrupcao, mais desperdicio de recursos, mais mediocridade geral do pais.
A democracia está sempre sob ataques num sistema como esse, e a democracia direta, como voce registra, é uma ilusao.
Mas, numa fase avancada da educacao geral da populacao, da educacao politica, é possivel sim pensar em democracia direta, quando toda a populacao estiver conectada pela internet.
Isso deve ocorrer antes nos paises escandinavos, em cidades-estados como Cingapura (em Hong Kong, se a China nao atrapalhar), na Coreia, no Japao e depois nos EUA (depois de varios paises europeus). Os EUA sao muito abertos a "imigracao selvagem" para se tornarem uma democracia aborrecida, mas funcional, como os escandinavos e semelhantes.
Nos, estamos a anos-luz dessa perspectiva, e arrastaremos durante decadas politicos mediocres e ladroes que vao continuar estatizando (e atrasando) o pais.
Infelizmente as coisas sao assim.
Um Brasil saudavel, democratico, progressista, talvez seja para os seus filhos ou netos, nao para nos...
O abraco do
-------------------------------
Paulo Roberto Almeida
Shanghai - China
(28.04.2010)

2095) Massacre de Katyn: uma grande mentira (e um grande crime) finalmente revelados

Um crime terrível pode estar sendo reparado, quase setenta anos depois de ter sido perpetrado. O primeiro passo é o reconhecimento formal do que sempre foi negado.
A Rússia encontra sua verdadeira história, alguns de seus demônios mais terriveis: a sanha cruel e assassina do ditador Stalin e seus sabujos amestrados.
Muita coisa ainda precisa ser revelada, inclusive desmantelando as últimas restrições morais ao papel terrorista de Lênin.
Paulo Roberto de Almeida

Russia publishes Katyn massacre archives
BBC news, 28 April 2010

Grab of letter from Russian state archives
A letter from Soviet secret police chief Beria was among the files published

Russia has published online once-secret files on the 1940 Katyn massacre, in which some 22,000 members of the Polish elite were killed by Soviet forces.

The state archive said the "Packet No. 1" original files had until now only been available to researchers.

The Soviet Union denied its role in the massacre for decades.

But relations between Russia and Poland have warmed since the Polish president and others were killed in a plane crash on their way to a Katyn commemoration.

The six documents that were published on the state archive website were declassified in 1992 on the order of the then-Russian president, Boris Yeltsin.

Current President Dmitry Medvedev had now ordered their publication online, the state archive said.

'Symbolic gesture'
One of the documents is a 5 March, 1940 letter from the then-head of the Soviet secret police or NKVD, Lavrenty Beria, to Soviet leader Joseph Stalin, recommending the execution of Polish prisoners of war.

Beria refers to them as "steadfast, incorrigible enemies of Soviet power".

"Each of them is just waiting for liberation so as to actively join the struggle against Soviet power," it says.

The letter bears Stalin's signature in blue pencil, with the comment "In favour".

Given that historians have already had access to the files for some time, correspondents say the decision to put them on the state archive website is likely to be seen as a symbolic gesture, rather than shedding new light on what happened at Katyn.

"We on the Russian side are showing absolute openness in telling what happened in Katyn and other places with Polish prisoners of war," Russian state archive chief Andrei Artyzov was quoted as saying by Russian news agencies.

"All the basic documents about these events have been published."

Among the files that remain secret are documents relating to a Russian investigation into the massacre that began in the 1990s.

Russian human rights campaigners have appealed for those documents to be declassified.

Joint commemoration
Poland has repeatedly demanded that Russia open all its files on Katyn, and the issue has soured relations between the two countries in the past.

Recently though, tension over Katyn has eased.

Russian Prime Minister Vladimir Putin (r) walks with Poland"s Prime Minister Donald Tusk at the memorial museum to the Katyn massacre, 7 April 2010
Russian and Polish leaders marked Katyn together for the first time in April

Earlier this month leaders from both states marked the massacre together for the first time, in a joint ceremony attended by Russian Prime Minister Vladimir Putin and his Polish counterpart Donald Tusk.

It was the first Russian ceremony to commemorate Katyn.

Days later, Polish President Lech Kaczynski and more than 90 others were killed when their plane crashed as it was trying to land in western Russia ahead of a separate event to mark the killings.

Moscow's handling of the aftermath of the crash was well received by Poles.

The April 1940 killings were carried out by the NKVD on Stalin's orders.

Members of the Polish elite, including officers, politicians and artists, were shot in the back of the head and their bodies dumped in mass graves.

The killings took place at various sites, but the western Russian forest of Katyn has become their chief symbol.

The Soviet Union blamed the massacre on Nazi Germany before acknowledging responsibility in 1990.

One of the documents now posted online was a March 1959 letter marked "Top Secret" from the former head of the KGB, Alexander Shelepin, to then-Soviet leader Nikita Khrushchev, proposing that all dossiers concerning the Katyn killings be destroyed.

He said the authorities should just keep a few documents - the minutes of meetings of the NKVD troika that condemned the prisoners and some papers on the fulfilment of the troika's instructions.

Shelepin wrote that the official Soviet version - that Nazi Germany had carried out the killings - had been "firmly implanted in international opinion".

ANALYSIS
Adam Easton, BBC News, Warsaw

The publication of the Katyn documents on Russia's state archive website has been warmly welcomed by Polish authorities.

"It's yet another symbolic step testifying to the fact that we are witnessing an obvious change in the Russian attitude and handling of the Katyn issue," Polish foreign ministry spokesman Piotr Paszkowski told the BBC.

Polish historians said the Russian president's decision was an attempt to end persistent speculation in Russia that the massacre was in fact committed by Nazi Germany. German troops uncovered the first mass grave in Katyn in 1943.

It's certainly another gesture from the Russian authorities which began in earnest with Vladimir Putin's invitation to his Polish counterpart, Donald Tusk, to jointly commemorate the massacre for the first time earlier this month. The plane crash which killed the Polish president, Lech Kaczynski, three days later has accelerated that process.

Excerpts: Beria letter to Stalin

The state archive shows a March 1940 letter to Stalin from his secret police chief Beria ordering the killings

Russia's state archive has published formerly top secret Soviet-era documents on the April 1940 Katyn massacre on its website.

They include a key letter to then Soviet leader Joseph Stalin from secret police (NKVD) chief Lavrenty Beria, dated 5 March 1940 and marked "Top Secret".

Some 22,000 members of the Polish elite were killed by Soviet forces, and for decades the USSR claimed that it was the work of Nazi Germany. Russia gave the documents to Poland in 1992.

Here are excerpts from the Beria letter:

"To Comrade Stalin:

In prisoner-of-war camps run by the USSR NKVD and in prisons in western Ukraine and Belorussia there is currently a large number of former Polish army officers, former officials of the Polish police and intelligence services, members of Polish nationalist counter-revolutionary parties, members of unmasked rebel counter-revolutionary organisations, defectors and others. They are all sworn enemies of Soviet power, filled with hatred towards the Soviet system.

The POW officers and police in the camps are trying to continue counter-revolutionary work and are engaged in anti-Soviet agitation. Each of them is just waiting for liberation so as to actively join the struggle against Soviet power….

In total in the prisoner-of-war camps (not counting soldiers and non-commissioned officers) there are 14,736 former officers, government officials, landowners, policemen, military police, jailers, settlers and spies. More than 97% are of Polish nationality…

In total the prisons of western Ukraine and Belorussia contain 18,632 detainees (of whom 10,685 are Poles)...

Based on the fact that all of them are steadfast incorrigible enemies of Soviet power, the USSR NKVD deems it essential:

I. To propose that the USSR NKVD: [underlined - ed]

Give special consideration to

1) the cases of 14,700 people remaining in the prisoner-of-war camps - former Polish army officers, government officials, landowners, policemen, intelligence agents, military policemen, settlers and jailers,

2) and also the cases of those arrested and remaining in prisons in the western districts of Ukraine and Belorussia, totalling 11,000 - members of various counter-revolutionary spy and sabotage organisations, former landowners, factory owners, former Polish army officers, government officials and defectors -

Imposing on them the sentence of capital punishment - execution by shooting.

II. The cases are to be handled without the convicts being summoned and without revealing the charges; with no statements concerning the conclusion of the investigation and the bills of indictment given to them…."

[The letter is signed "L. Beria" in blue pencil, under the title USSR People's Commissar for Internal Affairs.

The first page of the letter bears the word Za - "in favour" - scrawled in blue pencil with the signatures of then Soviet leader Joseph Stalin and of Politburo members K. Voroshilov and A. Mikoyan, along with V. Molotov in ordinary pencil. In the margin are the names Kalinin and Kaganovich - also aides to Stalin - added in blue ink, and also with the word za.]

2094) Coloquio do Instituto Millenium (infelizmente, pago)

Em defesa do IM, registre-se que ele não recebe doações de qualquer entidade pública (seria, aliás, uma contradição nos termos, no "estado atual" do Estado em que vivemos, atualmente, com perdão pela redundância).
Em todo caso, fica a informação:

4o. Colóquio do Instituto Millenium

É com muito prazer que enviamos o convite para o 4o. Colóquio do Instituto Millenium.
O evento será realizado no dia 04 de maio, das 08h30mim às 13h30min, no Hotel Marina Palace, Leblon, Rio de Janeiro.

Instituto Millenium
Praça Floriano, 55 / sala 1001, Centro-RJ
Cep: 20031-050
Tels.: (21) 2220-4466 / (21) 2220-4687
(21) 3472-6474
secretaria@institutomillenium.org
http://www.imil.org.br/

2093) Ultimas noticias do Paraiso (via Agencia Piaui...)

Talvez não exatamente dessa forma, pois a Agência é suspeita, mas temos o dever de acreditar que tudo isso pode ocorrer nos próximos meses...

Lula negociará o fim do pecado original
Da revista Piauí. Certamente um plágio que meus leitores compreenderão - e me perdoarão por ele:

PARAÍSO – Depois da bem sucedida missão ao Oriente Médio, onde conseguiu estabelecer uma paz duradoura entre judeus e palestinos, Lula declarou que intercederá junto a Deus Pai para que Ele nos perdoe de uma vez por todas pelo pecado original.

A caminho da Espanha, onde pretende resolver a questão basca, Lula disse que é preciso chamar o Misericordioso para o diálogo. “Chega de tratar o Supremo Arquiteto como um ente distante e poderoso. Durante muito tempo vivemos com esse complexo de vira-lata em relação a Ele. Está na hora de acabar com isso e conversar de homem para Deus”, disse Lula, enquanto negociava um acordo entre os armênios e os turcos.

Segundo os termos da proposta, em troca do perdão o Verbo Encarnado receberá três bolsas-família pelo resto da eternidade. “Não faz sentido a gente discutir se é verdade ou não essa história da Santíssima Trindade. Perdoou, recebeu por três”, explicou o presidente. Lula deixou claro que não negociará com o Arcanjo Gabriel nem com São Pedro, como sugeriram algumas agências de notícia. “Só falo com o Bem Absoluto. É uma questão de protocolo.”

Para o presidente, o Arcanjo Gabriel não passa de um sub do sub, e São Pedro, apesar de simpático, no fundo seria apenas um porteiro qualificado. “Não tenho tempo a perder”, explicou Lula, que até o fim da tarde pretende anunciar um armistício entre Suzana Vieira e todos os seus ex-maridos. Aproveitando a ocasião, a ministra Dilma Rousseff confirmou que proporá a criação de uma estatal para explorar o mel e o maná que emanam do céu.

Rousseff acrescentou que não procedem as notícias de que José Dirceu fará a indicação do diretor responsável pelo fundo de pensão da nova empresa.

Em notícia paralela, após longas conversas com a serpente, o assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia concluiu que o réptil não passa de uma vítima da imprensa burguesa.

2092) Quando o inimigo é um... PowerPoint

Certas coisas são tão ridículas, em si, que nem mereceriam comentário, inicial, final, intermediário, at all, simplesmente nenhum...
Pode-se legitimamente perguntar quando os militares americanos vão sair de seus ambientes protegidos para tratar do real world...

We Have Met the Enemy and He Is PowerPoint

A PowerPoint diagram meant to portray the complexity of American strategy in Afghanistan certainly succeeded in that aim.
By ELISABETH BUMILLER
The Washington Post, April 26, 2010

WASHINGTON — Gen. Stanley A. McChrystal, the leader of American and NATO forces in Afghanistan, was shown a PowerPoint slide in Kabul last summer that was meant to portray the complexity of American military strategy, but looked more like a bowl of spaghetti.

“When we understand that slide, we’ll have won the war,” General McChrystal dryly remarked, one of his advisers recalled, as the room erupted in laughter.

The slide has since bounced around the Internet as an example of a military tool that has spun out of control. Like an insurgency, PowerPoint has crept into the daily lives of military commanders and reached the level of near obsession. The amount of time expended on PowerPoint, the Microsoft presentation program of computer-generated charts, graphs and bullet points, has made it a running joke in the Pentagon and in Iraq and Afghanistan.

“PowerPoint makes us stupid,” Gen. James N. Mattis of the Marine Corps, the Joint Forces commander, said this month at a military conference in North Carolina. (He spoke without PowerPoint.) Brig. Gen. H. R. McMaster, who banned PowerPoint presentations when he led the successful effort to secure the northern Iraqi city of Tal Afar in 2005, followed up at the same conference by likening PowerPoint to an internal threat.
“It’s dangerous because it can create the illusion of understanding and the illusion of control,” General McMaster said in a telephone interview afterward. “Some problems in the world are not bullet-izable.”
In General McMaster’s view, PowerPoint’s worst offense is not a chart like the spaghetti graphic, which was first uncovered by NBC’s Richard Engel, but rigid lists of bullet points (in, say, a presentation on a conflict’s causes) that take no account of interconnected political, economic and ethnic forces. “If you divorce war from all of that, it becomes a targeting exercise,” General McMaster said.
Commanders say that behind all the PowerPoint jokes are serious concerns that the program stifles discussion, critical thinking and thoughtful decision-making. Not least, it ties up junior officers — referred to as PowerPoint Rangers — in the daily preparation of slides, be it for a Joint Staff meeting in Washington or for a platoon leader’s pre-mission combat briefing in a remote pocket of Afghanistan.
Last year when a military Web site, Company Command, asked an Army platoon leader in Iraq, Lt. Sam Nuxoll, how he spent most of his time, he responded, “Making PowerPoint slides.” When pressed, he said he was serious.
“I have to make a storyboard complete with digital pictures, diagrams and text summaries on just about anything that happens,” Lieutenant Nuxoll told the Web site. “Conduct a key leader engagement? Make a storyboard. Award a microgrant? Make a storyboard.”
Despite such tales, “death by PowerPoint,” the phrase used to described the numbing sensation that accompanies a 30-slide briefing, seems here to stay. The program, which first went on sale in 1987 and was acquired by Microsoft soon afterward, is deeply embedded in a military culture that has come to rely on PowerPoint’s hierarchical ordering of a confused world.
“There’s a lot of PowerPoint backlash, but I don’t see it going away anytime soon,” said Capt. Crispin Burke, an Army operations officer at Fort Drum, N.Y., who under the name Starbuck wrote an essay about PowerPoint on the Web site Small Wars Journal that cited Lieutenant Nuxoll’s comment.
In a daytime telephone conversation, he estimated that he spent an hour each day making PowerPoint slides. In an initial e-mail message responding to the request for an interview, he wrote, “I would be free tonight, but unfortunately, I work kind of late (sadly enough, making PPT slides).”
Defense Secretary Robert M. Gates reviews printed-out PowerPoint slides at his morning staff meeting, although he insists on getting them the night before so he can read ahead and cut back the briefing time.
Gen. David H. Petraeus, who oversees the wars in Iraq and Afghanistan and says that sitting through some PowerPoint briefings is “just agony,” nonetheless likes the program for the display of maps and statistics showing trends. He has also conducted more than a few PowerPoint presentations himself.
General McChrystal gets two PowerPoint briefings in Kabul per day, plus three more during the week. General Mattis, despite his dim view of the program, said a third of his briefings are by PowerPoint.
Richard C. Holbrooke, the Obama administration’s special representative for Afghanistan and Pakistan, was given PowerPoint briefings during a trip to Afghanistan last summer at each of three stops — Kandahar, Mazar-i-Sharif and Bagram Air Base. At a fourth stop, Herat, the Italian forces there not only provided Mr. Holbrooke with a PowerPoint briefing, but accompanied it with swelling orchestral music.
President Obama was shown PowerPoint slides, mostly maps and charts, in the White House Situation Room during the Afghan strategy review last fall.
Commanders say that the slides impart less information than a five-page paper can hold, and that they relieve the briefer of the need to polish writing to convey an analytic, persuasive point. Imagine lawyers presenting arguments before the Supreme Court in slides instead of legal briefs.
Captain Burke’s essay in the Small Wars Journal also cited a widely read attack on PowerPoint in Armed Forces Journal last summer by Thomas X. Hammes, a retired Marine colonel, whose title, “Dumb-Dumb Bullets,” underscored criticism of fuzzy bullet points; “accelerate the introduction of new weapons,” for instance, does not actually say who should do so.
No one is suggesting that PowerPoint is to blame for mistakes in the current wars, but the program did become notorious during the prelude to the invasion of Iraq. As recounted in the book “Fiasco” by Thomas E. Ricks (Penguin Press, 2006), Lt. Gen. David D. McKiernan, who led the allied ground forces in the 2003 invasion of Iraq, grew frustrated when he could not get Gen. Tommy R. Franks, the commander at the time of American forces in the Persian Gulf region, to issue orders that stated explicitly how he wanted the invasion conducted, and why. Instead, General Franks just passed on to General McKiernan the vague PowerPoint slides that he had already shown to Donald H. Rumsfeld, the defense secretary at the time.
Senior officers say the program does come in handy when the goal is not imparting information, as in briefings for reporters.
The news media sessions often last 25 minutes, with 5 minutes left at the end for questions from anyone still awake. Those types of PowerPoint presentations, Dr. Hammes said, are known as “hypnotizing chickens.”

Helene Cooper contributed reporting.

2091) Bye bye Mercosul (pelo menos em Sciences Po, Paris...)

Universidade francesa deixa de estudar o Mercosul
De Genebra, 27.04.2010

A cátedra Mercosul, da reputada faculdade Sciences Po, de Paris, vai acabar no dia 1º de julho, depois de 11 anos estudando as relações comerciais entre a Europa-Brasil-Mercosul e questões de segurança e defesa Europa-América do Sul.

Essa cátedra sobre o bloco do Cone Sul, única no mundo, era um ponto incontornável para discutir as relações birregionais. Fez todos os estudos possíveis sobre a negociação de um acordo comercial UE-Mercosul, sempre apontando ganhos significativos para os dois lados, em meio ao impasse na negociação que se arrasta há anos.

O professor Alfredo Valladão, diretor da cátedra, diz que cansou. Conta que passava a maior parte do tempo buscando financiamento para pagar as despesas de pesquisas e seminários, estimados em € 300 mil por ano. A Comissão Europeia e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) contribuíam com regularidade, empresas brasileiras raramente, e a Argentina nunca. "Acho que fizemos um bom trabalho", diz Valladão. "A cátedra ajudou a juntar as pessoas, a criar um ambiente de confiança e de diálogo entre os dois blocos."

Curiosamente, o fim da cátedra ocorre justamente quando o interesse europeu é cada vez mais pronunciado em relação ao Brasil. Certas fontes em Bruxelas estimam que a política da Comissão Europeia é de efetivamente se aproximar mais do Brasil especificamente, evitando causar problemas na relação do país com seus vizinhos.

Valladão confirma que, de seu lado, é cada vez mais solicitado na Europa a falar sobre oportunidades no Brasil, mas não mais sobre o Mercosul ou mesmo a América do Sul. "Há uma consciência no setor privado sobre essa imensa assimetria que existe entre o Brasil e o resto. O Brasil virou a bola da vez e é isso que interessa para os industriais e para o setor financeiro."

Segundo ele, o setor empresarial europeu acha que, mesmo se não houver um acordo estrito com o bloco do Cone Sul, há muitas áreas onde a UE pode se aproximar mais rapidamente do Brasil, incluindo regulação, investimentos e serviços.

Sua constatação também é de que o Mercosul virou muito mais um objetivo político para o Brasil do que propriamente de economia. "Já se chegou ao máximo em termos de intercambio. Discutir cadeias transnacionais é interessante, mas nem os europeus conseguiram chegar a isso", diz.

Ele considera da maior importância para o Brasil manter o Mercosul para uma relação política estável com a Argentina, "porque se tiver uma relação de competição com Buenos Aires, se criará problemas horríveis com a estabilidade da região."(AM)

terça-feira, 27 de abril de 2010

2090) Eugenio Gudin - um economista desenvolvimentista

Não no sentido comummente atribuído ao conceito de desenvolvimentista, obviamente, mas no sentido lato da palavra, pois ele pretendia o desenvolvimento do Brasil, dentro da racionalidade econômica, como demonstra o economista Ricardo Bergamini nesta homenagem prestada ao grande economista falecido há mais de duas décadas.
Paulo Roberto de Almeida

Gudin, o profeta do desenvolvimento econômico
Ricardo Bergamini
Carta do IBRE – Revista Conjuntura EconômicaEdição de Março de 2006

Em um país onde o populismo tantas vezes sufocou a voz da razão e dominou a agenda de política pública, defender a racionalidade econômica pode ser ainda hoje, em alguns casos, uma tarefa penosa e ingrata, apesar dos grandes avanços neste campo desde a década de 90. Se isto é verdade nos nossos dias, imaginemos como seria no Brasil de mais de 50 anos atrás, em um contexto muito mais atrasado, e bem menos familiarizado com o rigor do pensamento lógico no trato das questões econômicas.

Foi neste ambiente histórico, em meio a forças culturais hegemônicas pouco preparadas para absorver suas idéias, que surgiu na história brasileira a figura de Eugênio Gudin. Não fora certo espírito provocativo, onde se misturavam paciência e uma ironia benigna ante a incompreensão e por vezes a injúria — e que viríamos a encontrar em outros expoentes do nosso liberalismo, como Roberto Campos —, e talvez Gudin não tivesse amealhado as energias para plantar em solo brasileiro, como de fato o fez, algumas das primeiras sementes da racionalidade econômica.

Com gosto pela polêmica séria, fundamentada em argumentos sólidos, ele não se intimidava em atuar na ponta contrária a de grandes personalidades, como o industrial Roberto Simonsen e o economista Celso Furtado. Nadar contra a corrente, para Gudin, era um exercício estimulante e fortalecedor.

Passados 20 anos do seu falecimento, em 1986, após um século de vida, é impressionante verificar a atualidade do seu pensamento. Ainda na década de 50, ele fez o diagnóstico básico dos problemas estruturais que impedem ou dificultam, até hoje, o crescimento brasileiro, e que podem ser resumidos em três grandes grupos: (i) necessidade de concentrar esforços em setores nos quais temos vantagens comparativas; (ii) diminuir o atraso educacional; (iii) reduzir o déficit em infra-estrutura.

Um dos desdobramentos recentes da economia brasileira que mais confirma as teses de Gudin foi a explosão do agronegócio. Ele está ligado ao item (i) da agenda básica, e tem a ver com a exploração das vantagens absolutas, como a abundância de terra, água e luz, que vocacionaram o Brasil à agricultura. Sobre este tema, é preciso deixar claro que, ao contrário do que afirmaram algumas vezes os seus adversários, Gudin nunca foi contra a indústria. Por exemplo, depois de discorrer em alguns parágrafos sobre os malefícios da proteção excessiva às indústrias nascentes, ele mesmo faz a ressalva: “Isto não quer dizer que eu seja contrário à industrialização e favorável a um Brasil essencialmente agrícola”.

Gudin, porém, foi um crítico acerbo da industrialização a qualquer custo, e do modelo de substituição generalizada de importações, fomentados por proteção e subsídios que resultavam em uma produção nacional ineficiente e incapaz de conquistar os mercados internacionais: “(…) o critério dominante entre nós tem sido o de levar a proteção até o nível necessário para amparar o produtor marginal, destruindo assim todo o incentivo à melhoria da produtividade na indústria”.

A importância do agronegócio — É nesta ótica, de quem não era inimigo da industrialização, mas apenas combatia a forma equivocada pela qual ela estava sendo estimulada, que Gudin chamou a atenção, de forma pioneira, para a importância do agronegócio no futuro do Brasil. Ele criticou o mito tão recorrente no pensamento nacional de que industrialização seria um sinônimo de desenvolvimento: “A Nova Zelândia, a Austrália, a Dinamarca, a Argentina, o Estado de Iowa se inscreveram entre os mais ricos do mundo (produto nacional per capita) na base de produção puramente agrícola. Pobreza é sinônimo de baixa produtividade, seja ela agrícola ou industrial”.

Gudin percebia que o potencial agropecuário do Brasil (e do setor primário em geral) não era apenas o de exportar commodities, mas também o de diversificar a pauta e agregar inteligência às suas atividades: “Se, de fato, estamos resolvidos a dar a ‘arrancada’ para o desenvolvimento econômico, precisamos compreender que não é mais possível limitar as nossas exportações, como até agora temos feito com o açúcar, com a borracha e com o café, àquilo que a natureza produz quase sozinha, independentemente de know-how. Temos enormes possibilidades de exportação de minérios, de carnes, de frutas, de ovos, etc., desde que nos habilitemos a aprender e a utilizar as técnicas modernas de produção”.

De forma ainda mais presciente, Gudin antecipou a necessidade de o Brasil desenvolver por conta própria uma tecnologia agropecuária adaptada aos trópicos, o que só viria a tornar-se realidade a partir da criação da Embrapa, nos anos 70: “No setor industrial a técnica de fabricar panelas, calçado, ou garrafas adotada nos Estados Unidos ou na Europa é integralmente transportável para aqui. No caso da agricultura é diferente o clima; são diferentes os produtos; são diferentes os solos. A pesquisa científica e técnica têm que ser realizada aqui. E é nisso que nós temos falhado lamentavelmente, por falta de técnicos em qualidade e número suficientes para a pesquisa da produtividade dos vários produtos nas múltiplas variedades de solos”.

Foi preciso quase meio século para que a economia brasileira provasse que Gudin estava certo, com o espetacular salto em competitividade e volume do agronegócio nacional nas últimas décadas. Este desempenho veio na esteira das reformas que, mesmo de forma claudicante e penosa, aboliram o modelo de substituição de importações que enviesava o investimento brasileiro na direção da indústria até a década de 70. O boom do agribusiness é tributário também dos admiráveis avanços tecnológicos na agropecuária, como a soja do cerrado, o melhoramento genético do gado nelore e a cana superprodutiva do Sudeste — tornando realidade as recomendações de Gudin sobre a pesquisa neste setor.

Hoje, o Brasil é o maior produtor e exportador do mundo em álcool, açúcar, café e suco de laranja, e o maior exportador global do complexo soja, de carne bovina, de fumo, e de carne de frango. Foi o agronegócio, naturalmente, com saldos comerciais da ordem de US$ 30 bilhões, ou mais, nos últimos anos, que criou as condições para que o Brasil realizasse uma sensacional virada nas suas contas externas, praticamente eliminando a vulnerabilidade que marcou grande parte da sua história.

A lacuna da educação — Se na agropecuária o país recuperou o tempo perdido e hoje corresponde ao que Gudin preconizava, o mesmo não se pode dizer da educação, onde nos mantemos em forte desvantagem na comparação com nossos competidores mais bem-sucedidos, apesar da quase universalização do ensino fundamental nos anos 90 (com mais de um século de atraso em relação ao mundo desenvolvido). A novidade do período recente é que, com décadas e décadas de atraso em relação à pregação de Gudin, as elites intelectuais e dirigentes do Brasil parecem ter acordado para o fato de que a formação do capital humano por meio da educação é fundamental para o desenvolvimento econômico — algo que parece ter escapado ao pensamento cepalino representado por Celso Furtado. Gudin, por sua vez, já era taxativo sobre este tema em 1956: “Sustento portanto a preliminar de que o mais danoso de todos os nossos ‘pontos de estrangulamento’ é o da educação, que deveria figurar, com alta prioridade, no programa de Desenvolvimento Econômico”.

Mais de quatro décadas tiveram que passar até que uma nova geração de economistas, munida de ferramentas quantitativas inexploradas na era em que Gudin viveu seu apogeu intelectual, viesse a demonstrar o acerto das recomendações do mestre. O trabalho de Ricardo Paes e Barros e Rosane Mendonça apontam para um aumento na taxa de crescimento da renda per capita em 0,35 ponto percentual para cada ano adicional de escolaridade média brasileira. E, segundo estudo de Samuel Pessôa, estimativas conservadoras indicam que 35% da diferença entre a renda per capita brasileira e a norte-americana pode ser explicada pela diferença de educação entre os dois países.

Na infra-estrutura, finalmente, com o qual Gudin envolveu-se pessoalmente, como executivo da Light e da Great Western of Brazil Railway Co., ele chamou a atenção para o fato de que este era um setor intensivo em capital, fator escasso no Brasil. E que, portanto, fazia sentido que empresas internacionais explorassem os serviços de infra-estrutura no país. Em artigo no jornal O Globo, em dezembro de 1960, Gudin discorreu sobre obstáculos criados pelos governantes do país ao desenvolvimento econômico: “Por exemplo, (…) afastando o capital alienígena e até o nacional dos investimentos em serviços de utilidade pública que exigem grandes massas de capital e se contentam com uma remuneração modesta, desde que estável”.

Na verdade, se as suas orientações quanto à melhor política para o setor de infra-estrutura tivessem sido observadas ao longo das muitas décadas da sua longa vida, o alívio da necessidade de aportes do setor público aos serviços básicos permitiria, por exemplo, que maiores investimentos tivessem sido canalizados para educação. A mentalidade dominante na época, porém, via as empresas estrangeiras de infra-estrutura como entidades que “exploravam” o Brasil, extraindo lucros exorbitantes das suas atividades. O símbolo maior desta visão era a Light, o “polvo canadense”. Sob a influência desta concepção, e das suas necessidades políticas de curto prazo, sucessivos governos penalizaram a atuação das empresas internacionais de infra-estrutura com decisões casuísticas e medidas populistas, que progressivamente inviabilizariam a sua atuação no Brasil. Isto levou a um processo, iniciado na década de 30, de encampação pelo setor público daquelas atividades.

Gudin combateu incansavelmente, ao longo da sua vida, este pensamento paroquial que demonizava o capital estrangeiro, e as arbitrariedades do governo que o afugentaram. Isto fica claro no trecho em que se refere “à lamentável incapacidade dos governos, entregando as empresas à sanha da politicagem e das demagogias locais, negando-lhes tarifas que lhes permitissem viver, revogando unilateralmente cláusulas contratuais e até, como no caso do Código de Águas de 1934, ameaçando-os de confisco integral se as máquinas não funcionassem por 72 horas”.

Como nos outros temas expostos nesta Carta, a história viria a dar razão a Gudin, o que fica demonstrado por alguns trabalhos recentes. O estudo de William Summerhill indica que a remuneração do capital investido nas ferrovias brasileiras está longe de ter sido excessiva, tendo ficado em torno de 8% ao ano. E na dissertação de mestrado, defendida em 2006 na EPGE/FGV, Marcelo Jourdan calcula que a remuneração do capital investido na Light (média para o período 1900-1978) foi de apenas 3,6% quando medida em dólares constantes. Estes trabalhos revelam que toda a idéia de que os capitalistas dos setores de infra-estrutura exploraram os consumidores, tão combatida por Gudin, não encontra suporte nos dados.

O resultado da prevalência de uma visão oposta à de Gudin por tantas décadas fica claro em estudos que apontam um déficit de infra-estrutura do Brasil — relativamente aos seus pares e considerando as características físicas e humanas do país — de pelo menos 40%, em média, tomando-se setores como energia elétrica, rodovias, ferrovias, água potável, esgotamento sanitário e telefones fixos e celulares. Na verdade, a telefonia é uma exceção, na qual o Brasil tem um superávit em relação aos seus pares — não por acaso, o setor em que a privatização teve maior sucesso e no qual mais contribuiu o capital estrangeiro no período recente. Retirando-se este segmento, o déficit em infra-estrutura torna-se ainda maior.

Maiores riscos ao crescimento — Nem é preciso dizer que as deficiências em infra-estrutura são consideradas hoje um dos maiores riscos ao crescimento sustentável de longo prazo do Brasil. Até os nossos dias, permanece a falta de clareza nesta área. Verifica-se em segmentos tão distintos quanto eletricidade e saneamento a situação na qual o setor público não tem recursos para dar conta dos investimentos necessários, tampouco constrói de forma adequada o marco regulatório e institucional que estimule o investimento privado.

Na literatura econômica, por outro lado, são fartas as evidências do impacto positivo do estoque de infra-estrutura no desenvolvimento dos países. Segundo trabalhos de Canning e de Calderón e Servén6, o déficit neste setor explica cerca de 35% da diferença entre a taxa de crescimento do Brasil e a da Coréia do Sul. Há também indícios de que o aumento do acesso à infra-estrutura reduz a desigualdade de renda. De acordo, ainda, com o trabalho de Calderón e Servén, se o Brasil tivesse o estoque de infra-estrutura per capita da Coréia do Sul, haveria uma redução de 15% na desigualdade de renda brasileira, equivalente a uma queda de 0,09 no índice de Gini.

Quando se toma em conjunto a visão econômica de Gudin, que já se manifestava no período anterior à Segunda Guerra Mundial, verifica-se como o Brasil perde tempo e marca passo ao não dar ouvidos aos seus melhores quadros. O economista, com formação inicial de engenheiro, foi delegado na Conferência de Bretton Woods, ocupou diretorias do FMI e do Bird, e teve uma rápida passagem pelo Ministério da Fazenda no governo de Café Filho. As elites dirigentes do país, porém, ainda que muito respeitosas em relação à figura pública e à inegável sabedoria econômica de Gudin, conduziram o Brasil por caminhos diversos daqueles que ele preconizava, ao longo de quase toda a sua vida.

Praticamente até o fim, manteve o hábito de escrever artigos regulares na imprensa, nos quais defendia com brio o seu ideário liberal, em meio aos desvios populistas que se sucediam. Nesta Carta, focada em suas idéias sobre o agronegócio, a educação e a infra-estrutura, nem chegamos a tocar na sua postura de permanente defesa da responsabilidade fiscal e monetária, valores que só viriam a ser entronizados na política e na opinião pública na década de 90. A vida de Gudin, que conjuga coerência, acerto e energia para defender idéias em ambiente hostil, ilumina não só os caminhos econômicos que o país deveria seguir, mas representa também uma história pessoal de ética, inteligência e determinação que é um exemplo para todos os brasileiros.

Ricardo Bergamini
ricardobergamini@ricardobergamini.com.br
http://www.ricardobergamini.com.br

2089) A BRIC analysis - Council on Foreign Relations

Building a BRIC Foundation
Roya Wolverson
Council on Foreign Relations, April 15, 2010

The April 15 and 16 meeting (MercoPress) of leaders from Brazil, Russia, India, and China aimed to deepen ties between the emerging-market powers leading the global economic recovery. Collectively known as the BRICs, these countries--which represent 40 percent of the world's population and 20 percent of the global economy--command a growing slice of the global economic pie.

Just how deep the ties can be between the BRICs is a matter of debate. Many analysts have noted the roadblocks to the group establishing the "common goals, common actions" touted this week by Russian President Dmitry Medvedev in Russia's Vedomosti. Anders Aslund of the Peterson Institute said (FT) the BRICs have "made sense for a decade as an investment theme," but that differences between Russia's foreign policy and that of other BRICs could make consensus unlikely.

Still, following last year's first BRIC summit, the group together criticized continued use of the U.S. dollar as a global currency reserve, a major concern for China even though roughly half of Russia's reserves are in euros. This year the group is striking a milder note, as the United States and China attempt to quell tensions over China's currency value. Chinese Vice Foreign Minister Cui Tiankai said (Reuters) this year's summit would not seek "confrontation with other third-parties or countries" but would focus on international financial regulation and global governance reforms. But differences between the group remain. China has rebuffed Brazil's push for a permanent seat on the UN Security Council, while Russia's economy, unlike that of its BRIC brethren, is suffering from a declining population and heavy dependence on oil and gas.

Jim O'Neill of Goldman Sachs, who coined the term "BRIC" in 2001, remains optimistic about the group's efforts to unify. He notes (Reuters), for example, that China and Brazil are working on a bilateral agreement to allow their countries' trade deals to be tended in local currency, rather than U.S. dollars. Chinese President Hu Jintao also penned (Reuters) several trade and energy deals with Brazil before leaving the summit early because of China's deadly earthquake.

Chen Fengying of the China Institute of Contemporary International Relations agrees on the benefits of BRIC collaboration. Regardless of the summit's outcome, she says (WSJ) the gathering establishes a "good foundation for the voices of emerging markets against Western, developed countries," which the group can leverage at the G20 summit in Toronto this June. CFR Senior Fellow Julia Sweig notes, however, that the BRICs do not want to aggressively oppose the West. She also thinks the group's internal rivalries are manageable. "I don't see any of the tensions being adequate to pull the grouping apart. They've only just started to pull together," she says.

Other experts are more skeptical that the BRICs can resolve their differences. The Carnegie Endowment's Uri Dadush says (DeutscheWelle) intransigence over China and India's ongoing border dispute and a history of competition between China and Russia could be insurmountable obstacles. "I don't see it as a cohesive group that will be there pushing issues together fifteen to twenty years from now," he told CFR.org. Dadush thinks the group will eventually merge with the G20 group of developed countries, since it hosts a broader range of political and economic interests.

CFR Senior Fellow Charles Kupchan agrees. "As these countries mature, they will find other fora more useful. It's a sign of rising countries wanting their seat at the table, but that doesn't mean it's a permanent fixture," he says. Another CFR senior fellow, Elizabeth Economy, says the longevity of the group ultimately depends on "whether they find their voices and needs being met by the G20. At this point, they see value in an additional forum for discussing issues like Iran and currency values."

Additional Analysis:
This CFR Quarterly Update (PDF) on foreign exchange reserves in the BRICs says despite much talk about these countries as a group, China differs significantly in its financing of U.S. debt.

In the political science quarterly Polity, Columbia University's Cynthia Roberts says on certain issues, all of the BRICs have reason to maintain a closer relationship with the United States than with each other.

Background:
Read the BRIC Summit Joint Statement issued by Brazil, Russia, India, and China's leaders following the summit.

This Carnegie Endowment (PDF) paper examines the trajectory of the BRIC and G20 economies through 2050 and their effects on the world economy.

This Goldman Sachs Global Economics paper (PDF) analyses the long-term economic outlook for the BRICs.

2088) Diplomacia imodesta: como o Brasil ficou importante...

Política externa brasileira desperta 'ciúmes', diz Lula
BBC Brasil, 20/04/2010 às 17h11m

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que o Brasil deixou de lado o "complexo de vira-lata" no cenário internacional e que essa postura da diplomacia brasileira "gera ciúmes e inimigos".

Em discurso durante a formatura de novos diplomatas, no Itamaraty, o presidente fez um balanço de sua política externa e rebateu críticas recebidas ao longo de seu mandato.

"Eu disse uma dia ao Celso (Amorim): você precisa tomar muito cuidado, porque o Brasil está começando a ficar importante. E quando um país fica importante, começa a gerar ciúmes e começa a arrumar inimigos", disse o presidente.

"Aqueles que não foram capazes de fazer o que você está fazendo vão começar a ser contra. Até porque durante muito tempo nós fomos induzidos a um complexo de vira-lata. O importante era não ser ninguém", acrescentou Lula.

O presidente descreveu, como exemplo, sua primeira participação na reunião do G8, o grupo dos países desenvolvidos. Segundo ele, todos os líderes presentes se levantaram da cadeira quando o então presidente George W. Bush entrou na sala.

"Eu falei para o Celso: eu vou ficar sentado. Ninguém levantou quando eu cheguei", disse o presidente.

"Humildemente, o Bush nos cumprimentou e sentou conosco. Isso me marcou muito", acrescentou.

'Humildade'
Lula disse que sua política externa já foi alvo de "muitas críticas", sobretudo em função de sua aproximação com países com menos peso no cenário internacional, como os da África, e das concessões feitas aos países vizinhos.

"Todos vocês acompanharam como alguns queriam que eu partisse para a garganta do Evo Morales (presidente da Bolívia) e esganasse ele, quando ele disse que o gás era dele, e eu não fiz porque achei que o gás era dele mesmo", disse o presidente.

Segundo o presidente, a diplomacia brasileira deve continuar "generosa e humilde", mas que precisa também "defender seus interesses com orgulho".

As declarações de Lula coincidem com a publicação de um artigo pelo jornal britânico Financial Times sobre a política externa brasileira.

O texto afirma que o jeito "carinhoso" do Brasil é um obstáculo para que o país consiga um lugar entre as grandes potências no cenário internacional, inclusive ameaçando a conquista de uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.