O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Quo Vadis Mercosul? - Editorial do Estadao

Quo vadis? Até agora não foi, e na verdade o Mercosul tem vindo, ou seja, recuando em seus propósitos e finalidades, continuando muito longe dos objetivos definidos no artigo primeiro do Tratado de Assunção.
O Mercosul se arrasta penosamente em direção a um futuro indefinido, talvez alguma coisa entre uma área preferencial de comércio -- com participantes tão díspares quanto um "bloco de sujos" num Carnaval qualquer -- e um clube de amigos, que se reunem de vez em quando para jogar biriba...
Será que representará algo definido, num futuro indefinido? Difícil dizer...
Paulo Roberto de Almeida

Atrofia e inchaço no Mercosul

Editorial O Estado de S.Paulo,  08 de dezembro de 2012


A crise internacional torna ainda mais importante a integração latino-americana, disse a presidente Dilma Rousseff, ao discursar em mais uma inútil reunião de cúpula do Mercosul. Essa retórica teria algum sentido se o bloco criado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e inchado com o ingresso recente da Venezuela bolivariana tivesse uma história de sucesso. Mas a história real é outra e dificilmente será melhorada com a participação do caudilho Hugo Chávez em suas decisões ou com o ingresso da Bolívia (o protocolo de adesão foi assinado na sexta-feira pelo presidente Evo Morales). Fundado há 21 anos, o Mercado Comum do Sul - este é seu nome completo - continua longe de cumprir as quatro condições necessárias à realização de seus objetivos, a começar pelo estabelecimento da "livre circulação de bens, serviços e fatores de produção entre os países do bloco". As palavras entre aspas constam de um material informativo do Itamaraty. Talvez impressionem pessoas pouco informadas sobre o assunto.
Apesar do falatório sobre integração, o comércio no interior do Mercosul continua prejudicado por barreiras protecionistas. Além de cotas, complicadas licenças de importação e pequenos truques para atrapalhar os negócios, o intercâmbio regional inclui uma aberração conhecida pelo nome de regime automotivo, renovado e alterado de tempos em tempos para atender aos interesses das montadoras e fábricas de autopeças instaladas na Argentina. Serão necessários mais 21 anos para se chegar à livre circulação de bens?
O estabelecimento de uma tarifa externa comum (TEC) e de uma política comercial conjunta é a segunda condição indicada no material informativo do Itamaraty. Cheia de furos, a TEC é em grande parte uma ficção. Esse tipo de tarifa é uma característica de uniões aduaneiras. Mas esse status é uma anomalia, porque nem as características de uma zona de livre comércio são encontradas no Mercosul.
A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, terceira condição, só é mencionável como piada, assim como o quarto item, o compromisso de "harmonizar a legislação nas áreas pertinentes" para "fortalecer o processo de integração".
O comércio entre os países-membros de fato cresceu, ao longo dos 21 anos. Mas teria crescido muito mais se os sócios do bloco tivessem constituído apenas uma área de livre comércio digna desse nome, sem a ambição de estabelecer uma união aduaneira. Essa união só tem servido para impedir os países-membros de negociar separadamente acordos comerciais de seu interesse com parceiros de fora. Um dos resultados tem sido a prioridade a acordos com mercados em desenvolvimento e pouco significativos, um reflexo da aliança terceiro-mundista do kirchnerismo com o petismo.
Do ponto de vista comercial, a adesão da Venezuela e da Bolívia pouco acrescentará a um bloco emperrado pelo protecionismo, pela incapacidade de criar cadeias produtivas e pela dificuldade de negociar acordos com países desenvolvidos. Essa dificuldade será agravada, se os novos sócios decidirem agir, provavelmente em conjunto, contra acordos com aqueles parceiros.
Além do mais, nem a TEC tem impedido a presença crescente, no Mercosul, de produtos da China e de outros países de fora do bloco. Para a indústria brasileira, a perda de mercado tem sido acelerada pelo protecionismo argentino. Esse protecionismo tem prejudicado os produtores brasileiros mais que os externos.
A presidente Dilma Rousseff deve conhecer esses fatos, mas prefere manter a diplomacia comercial definida por seu antecessor e pelos conselheiros por ele escolhidos. Continua presa a um mundo de fantasia, incapaz de fixar políticas com base nos interesses objetivos da economia brasileira. Também continua presa às ficções ideológicas da associação entre petismo e kirchnerismo. Entre outros maus resultados, essa aliança produziu, no Mercosul, a suspensão do Paraguai e a admissão da Venezuela. O Paraguai ficou fora da cúpula de Brasília, enquanto a presidente brasileira celebrava a democracia com representantes de governos defensores do controle da imprensa e conhecidos por sua vocação autoritária.

Aguando o crescimento dos companheiros (e nao so deles...)

Brasil precisa fazer ‘milagre’ para virar potência econômica global, diz economista
Pablo Uchoa
Da BBC Brasil em Washington, 7 de dezembro, 2012 -

Para professora americana, Brasil precisa recuperar confiança de investidores.

Não é sempre que uma economista usa referências do mundo pop para ilustrar lições da área econômica. Mas foi na letra da canção Hotel California, da banda The Eagles, que a professora Scheherazade Rehman, da Universidade George Washington, na capital americana, encontrou a metáfora ideal para o que chamou de "a caixa preta dos mercados emergentes".

"Você pode fazer o check-out (do hotel) quando quiser, mas nunca pode ir embora", diz a letra. Uma analogia, argumenta a professora, com a situação de países como o Brasil, que, apesar de já terem entrado no seleto rol de emergentes na economia mundial, tendem a permanecer para sempre "presos" ao seu restrito círculo de influência. Ou seja, nunca serão potências globais.

"O Brasil permanecerá uma superpotência econômica regional a menos que ocorra um milagre", escreveu a acadêmica em uma análise recente.

Recentemente, em um artigo sobre a chamada "nova ordem mundial" – uma economia global na qual os Estados Unidos terão de dividir a sua hegemonia –, ela avaliou os prospectos econômicos de alguns dos candidatos a superpotência mais citados pelos analistas: China, Índia, Brasil, Rússia, África do Sul, Turquia e União Europeia.

Em entrevista à BBC Brasil, Rehman comentou sobre as suas conclusões.

BBC Brasil: O que a sua análise diz sobre o Brasil?

Rehman: A baixa taxa de crescimento do Brasil (de 0,6% no terceiro trimestre) chocou a maioria dos analistas. Em 2013, acredito que veremos uma piora na Europa e nos EUA a recuperação continuará lenta. Isso não traz bons prospectos para outras economias do mundo, nem para o Brasil.

Nesse contexto, o modelo brasileiro, de estimular o consumo diante da desaceleração, não é mais sustentável. Os custos de financiamento, embora venham caindo, ainda são muito altos, há muita burocracia e o sistema tributário é muito complexo.

Minha principal preocupação no futuro é se haverá suficiente investimento produtivo disponível. Para de fato brilhar a partir de 2013, o Brasil precisa dobrar a sua taxa de investimentos, e não sei de onde vai tirar esse dinheiro.

BBC Brasil: Mesmo com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016?

Rehman: Esses grandes eventos esportivos vão ser um atrativo, como foram para todos os países que os sediaram, mas e depois? Você precisa voltar às velhas questões básicas: quão competitivo é o país, quão qualificada é a mão de obra?

"Para de fato brilhar a partir de 2013, o Brasil precisa dobrar a sua taxa de investimentos, e não sei de onde vai tirar esse dinheiro."

O Brasil de hoje não é o país de dez, nem sequer de cinco anos atrás. As mesmas políticas não vão funcionar. Agora, a educação, ciência e tecnologia cobram seu preço.

BBC Brasil: A Sra disse que o Brasil só se tornará uma potência econômica global se acontecer um "milagre". Por que acha que é tão difícil para o país conseguir isso?

Rehman: Porque acho que os problemas que o Brasil precisa resolver são muito, muito grandes e não podem ser consertados de um dia para o outro. Não são desequilíbrios macroeconômicos, são problemas sistêmicos e profundos.

Sim, há desenvolvimentos no campo da infraestrutura, mas o Brasil é um país enorme, com uma população diversa e localizada em certas áreas. Isso traz uma série de desafios para o transporte. Além do mais, o problema não é só de eficiência econômica: inclui também a pobreza e a desigualdade de renda, que estão ligados ao crime. É uma questão de elevar o nível da sociedade.

Veja a África do Sul, por exemplo: recebeu muitos investimentos para a Copa do Mundo, e os gerenciou muito bem, mas e agora? Como a África do Sul, o Brasil também tem uma grande parcela da população pobre vivendo em moradias carentes nas periferias das grandes cidades. Esses problemas levam décadas para serem consertados.

O país precisa de um plano mais amplo de desenvolvimento para além de 2016, e eu não estou vendo isso.

"O país precisa de um plano mais amplo de desenvolvimento para além de 2016, e eu não estou vendo isso."

BBC Brasil: Desde que chegou ao poder, a presidente Dilma Rousseff anunciou planos para a infraestrutura, inovação e produtividade, e enquanto isso, mais pobres têm engrossado a classe média brasileira. A Sra acha que isso não é suficiente?

Rehman: Eu entendo a posição do governo, que está se concentrando exatamente onde é necessário, mas ainda precisa apagar incêndios para evitar uma desaceleração.

A questão é se o mundo vai continuar investindo na infraestrutura brasileira se não perceber um retorno rápido nos seus investimentos.

Os investidores não gostam de prazos longos. Você começa a falar em dez anos, e eles vão para outros lugares.

BBC Brasil: Por outro lado, o Brasil tem nota de investimento e em teoria deveria ser um lugar mais seguro que outros mercados mais lucrativos e menos estáveis.

Rehman: Sem dúvida, mas se a taxa de crescimento continuar a declinar significativamente, como tem ocorrido, os mercados podem virar as costas rapidamente. Uma das coisas que aprendemos com a crise financeira é que nenhum país está seguro.

Não quero ser pessimista, porque o Brasil tem um enorme potencial. Financeiramente, o país está saudável: a dívida pública é gerenciável e o país tem a nota de investimento. Enquanto os preços das commodities continuarem altos e a demanda na China não cair muito mais, tudo bem. E em algum momento os EUA vão se recuperar. Mas até quando essa dinâmica pode resistir?

Está cada vez mais difícil competir em um mundo que produz exportações mais baratas. E o Brasil não é mais a única fonte de muitos minerais: estamos extraindo cada vez mais recursos da África. Isso inclui alimentos: o Brasil até agora tem sido o gigante no campo da agricultura, mas com os investimentos sendo despejados na África ao sul do Saara, terá competidores.

BBC Brasil: Mas o Brasil já tem o sexto maior PIB do mundo, por que então já não somos uma potência econômica?

"Muitos, muitos países crescem por períodos limitados e depois murcham. A América Latina é particularmente inclinada para esses fenômenos."

Rehman: Ter um grande PIB não basta para ser uma potência econômica. Se a renda per capita de um país é baixa, ou se a sua disparidade de renda é muito alta, esse país claramente tem problemas do ponto de vista da infraestrutura. Por exemplo, a economia do Brasil é maior que a da Grã-Bretanha, mas a economia britânica está em uma posição muito diferente em termos de desenvolvimento. O Brasil é uma potência entre outros mercados emergentes, e certamente a potência dominante na América Latina, mas isso não garante um lugar à mesa das potências mundiais.

A questão fundamental é: será que o Brasil vai continuar sendo o país do futuro?

BBC Brasil: Muitos acham que o futuro chegou e que agora é o momento do Brasil.

Rehman: O povo brasileiro claramente está pronto para passar para o próximo estágio: a população está entusiasmada e confiante no futuro. O problema é que, em determinado momento, o desenvolvimento se torna um jogo político, e é aí onde a maioria dos países fica estancado.

Criar potências globais é um jogo muito difícil e sempre de longo prazo. Muitos, muitos países crescem por períodos limitados e depois murcham. A América Latina é particularmente inclinada para esses fenômenos.

O Brasil precisa ser honesto consigo mesmo e descortinar esses problemas. Isso vai tornar o país menos atraente? Talvez. Mas no longo prazo, é a melhor estratégia para resolvê-los. Quando os investidores estão interessados em você, você não quer mostrar o seu lado mais feio. Mas se não resolver esses problemas, um dia os investidores vão descobrir.

Ensino medio: setor publico caminha para tras, e o particular vai atras...

Cresce diferença na nota da redação do Enem entre rede privada e pública
Folha de São Paulo, 7/12/2012

Cresceu a diferença no desempenho entre alunos das redes privada e pública na redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Dados obtidos pelo jornal Folha de São Paulo mostram que, em 2011, estudantes particulares tiveram nota média de 623,13, ante 506,31 dos concluintes do ensino médio das escolas públicas. A discrepância cresceu 56%, chegando a 116,82 pontos; no ano anterior, era de 74,95. Considerando a totalidade dos alunos, a nota média na redação do Enem caiu.

No ano passado, foi de 531,48 pontos - 64,77 abaixo do resultado de 2010, de 596,25. O dado considera apenas o desempenho dos concluintes do ensino médio. No ano passado, eles eram 1,13 milhão.

Especialistas ponderam, porém, que a comparação entre os anos deve ser feita com ressalva: o texto é corrigido com base em critérios subjetivos, variáveis a cada ano, assim como o tema da redação. A redação pode receber uma pontuação entre 0 e 1.000 e é avaliada com base em cinco competências, como a compreensão do tema e a capacidade de relacionar fatos. No ano passado, o tema foi "Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado".

O presidente do Inep (órgão responsável pelo Enem), Luiz Claudio Costa, ponderou que, ao contrário da prova objetiva, a nota da redação não considera fatores como grau de dificuldade dos itens corretos e coerência do desempenho do candidato. Costa argumenta ainda que a nota média dos concluintes é influenciada pelos "extremos". "A distribuição [entre as faixas de pontuação] é mais importante do que a média."

Na prova objetiva, como em anos anteriores, o desempenho dos alunos da rede privada superou o dos colegas da rede pública, mas a discrepância sofreu pouca variação. A média geral das quatro áreas de conhecimento no Enem 2011 foi de 494,64, o que corresponde a uma queda de quase 17 pontos em relação à média da edição anterior.

No ano passado, os alunos da rede privada tiveram nota média de 570,07, frente a uma 474,12 da rede pública. Ambos caíram em comparação a 2010 num ritmo muito semelhante: enquanto o desempenho da rede privada teve queda de 2,69%, a da pública caiu 3,29%.

O dilema da redação
Artigo de Hélio Schwartsman

O MEC se enrolou. Ao divulgar as médias do Enem por escolas, o ministério excluiu as notas das redações, por entender que sua correção é muito subjetiva. Eu concordo, mas então como justificar que elas sejam computadas para efeitos de acesso a universidades tanto no Sisu como no ProUni?

Em teoria, não há nada melhor do que a redação para avaliar um estudante. A produção escrita é uma excelente janela para averiguar o nível de conhecimentos de um aluno e sua capacidade de articular ideias, além, é claro, de seu domínio da linguagem. Existe, porém, um preço a pagar. Embora a subjetividade da correção não seja um problema incontornável, ela inevitavelmente rouba algo da precisão e da imparcialidade possibilitadas pelos testes de múltipla escolha.

Ao incorporar a redação, acabamos introduzindo novos e indesejáveis elementos de aleatoriedade à prova. Por mais justo que o corretor tente ser, detalhes como uma letra feia e até baixos níveis de glicose no sangue do avaliador tendem a reduzir a nota do aluno. Vale a pena? Eu penso que não, pois existe uma correlação grande, ainda que não perfeita, entre o desempenho nos testes objetivos e a capacidade de escrever bem.

A Folha fez uma simulação com o ranking das 50 escolas da capital paulista que tiveram melhor desempenho no Enem e atribuiu à redação 50% da média, como o próprio MEC fazia até o ano passado. O resultado foi que 70% dos colégios mantiveram sua posição no grupo de elite. Um estudo da Fuvest divulgado em 2005 mostrou que, se a segunda fase do exame (da qual constam a redação e as questões dissertativas) fosse eliminada, a relação final dos aprovados mudaria pouco, de 3% a 6%.

A escolha se dá entre continuar cultivando um, até certo ponto justificável, fetiche pela redação ou aceitar de vez o paradigma das avaliações científicas, muito mais estáveis, precisas e fáceis de corrigir.

Ensino Superior (superior?): reprovado, em sua maior parte...

O MEC já não é essa maravilha. Ao contrário, eu acho o MEC um horror, em todos os sentidos que se possa pensar. Se quisermos melhorar a educação brasileira, temos antes de acabar com o MEC, e criar uma outra coisa em seu lugar.
OK, eu sei que isso não vai ocorrer, infelizmente. Então vejamos a realidade.
Sendo a porcaria que é, o MEC certamente fez uma avaliação ao seu jeito.
OK, OK, não estamos falando do MEC, mas da Capes, que é um pouco menos pior.
Enfim, admitindo-se que a Capes faz algo de útil e relevante para o país, ela acaba de reprovar grande parte do ensino superior no Brasil. E não pensem que se trata apenas de um terço que não consegue cumprir requisitos mínimos. Acho que se trata da maioria absoluta, e as instituições decentes devem se contar nos dedos de uma mão, OK, duas, mas não mais de duas. Portanto, não metam os pés pelas mãos, como faz o MEC, e rendam-se à realidade.
E a realidade é esta aqui: do jardim da infância (talvez da creche) até o pós-doutorado, o ensino no Brasil está num rápido processo de deterioração, de mediocrização, de perda de qualidade, tanto no setor público (bem, mas isso é evidente, não é mesmo?), como no privado (ou eu deveria dizer particular, para evitar associações indevidas?).
Não tenho nenhuma ilusão de que essa porcaria venha a ser corrigida ou melhorada no futuro próximo, inclusive porque as saúvas freireanas e os companheiros trogloditas da educação continuam por aí, espalhando seu cortejo de barbaridades educacionais.
Enfim, façam como eu: sejam auto-didatas...
Paulo Roberto de Almeida  

Um terço das instituições de ensino superior no País é reprovada em avaliação do MEC
Agências de Notícias (Jornal da Ciência), 7/12/2012

Ministério promete pena rigorosa a 324 cursos 'repetentes'.

Quase um terço (31%) das instituições de ensino superior brasileiras tiveram um desempenho considerado insatisfatório no Índice Geral de Cursos (IGC) de 2011, o principal indicador de qualidade do ensino superior. Das 1.875 instituições que receberam conceito do Ministério da Educação (MEC), 577 obtiveram notas 1 ou 2 numa escala que vai até 5. Os números foram divulgados ontem (6) pelo MEC. Também foi apresentado o resultado de 2011 de outro índice, o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que faz uma avaliação por curso, e não por instituição. De 6.324 cursos com conceitos divulgados, 976 (15%) tiveram notas insatisfatórias (1 ou 2).

No caso das notas de instituições, em relação a 2008, houve uma diminuição de 35% para 31% na proporção de faculdades, centros e universidades com avaliação insatisfatória e um aumento de 9% para 12% no percentual com boas avaliações (conceitos 4 ou 5). A maioria dos cursos e das instituições teve nota 3.

O IGC, indicador de instituições, é o resultado da média trienal ponderada do CPC, o conceito que avalia cursos. Como a avaliação do MEC leva em conta um ciclo de três anos, a melhor base de comparação dos índices de 2011 são os resultados de 2008.

Como em anos anteriores, a instituições públicas se saíram melhor que as privadas e as universidades (instituições de maior porte e com obrigação de investimento em pesquisa) têm, em média, avaliações melhores que os centros universitários (instituições com mais autonomia que faculdades, porém menos obrigações que as universidades) e faculdades.

Ao apresentar os resultados, o MEC divide as instituições nesses três grupos (universidades, centros universitários e faculdades) por entender que eles têm porte e missões diferentes.

O CPC (conceito que avalia cursos e serve de base para o índice das instituições) é calculado a partir de três áreas: desempenho dos estudantes no Enade, responsável por 55% do índice; infraestrutura e organização didático-pedagógica, com 15%; e professores, com 30%. Em 2011, os cursos avaliados foram das áreas de ciências exatas, licenciaturas e áreas afins, além dos cursos dos eixos tecnológicos de Controle e Processos Industriais, Informação e Comunicação, Infraestrutura e Produção Industrial, pertencentes a 1.387 instituições.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante fez uma interpretação positiva da diminuição da proporção de cursos com conceitos insatisfatórios. Segundo ele, alguns programas governamentais foram decisivos para a melhora das notas, como o Programa Universidade para Todos (Prouni) - que concede bolsas para estudantes de baixa renda em instituições de ensino superior privadas - e o Programa de Financiamento Estudantil (Fies). Para participar dos programas, as instituições não podem ser mal avaliadas.

"A avaliação é uma política pública de qualidade, com resultados muito concretos. Os instrumentos de estímulo como Prouni e Fies também contribuíram decisivamente para essa melhora significativa do IGC", disse o ministro.

Mercadante também afirmou que as universidades, que em geral têm notas melhores, respondem 53,9% das matrículas no ensino superior brasileiro, ou seja, mais da metade. Os centros universitários têm 13,7% do total, e as faculdades 30,9%. Segundo o Censo da Educação Superior, havia em 2011, 6,7 milhões de alunos de graduação no País.

Sob investigação - Onze instituições não tiveram as notas no IGC (Índice Geral de Cursos) divulgadas pelo MEC por serem alvos de investigação.

Entre elas está a Facic (Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro), ligada à família de Paulo Vieira, ex-diretor de uma agência estatal preso pela Polícia Federal sob acusação de tráfico de influência no governo federal. Em conversa interceptada pela PF, ele pede a uma funcionária da instituição que altere dados da faculdade em um sistema do MEC usando a senha de um servidor do ministério.

Também estão na lista unidades mantidas pela Reges (Rede Gonzaga de Ensino Superior), União das Instituições Educacionais da Alta Paulista, a Faculdade de Educação de Colorado do Oeste (RO) e a Faculdade de Realeza (PR).

Pena rigorosa - O MEC promete punir 324 cursos universitários que, após quatro anos, continuam com um baixo indicador de qualidade. Essas graduações tiveram, tanto em 2008 como em 2011, um desempenho insatisfatório no CPC (Conceito Preliminar de Curso).

A pasta não detalhou a lista de cursos e instituições cujo desempenho ruim se repetiu em 2008 e 2011 - a relação total de escolas e suas notas, no entanto, está disponível no portal do ministério. "Nós seremos muito rigorosos com aqueles que concluíram o ciclo e não melhoraram a qualidade", disse o ministro Aloizio Mercadante.

De acordo com reportagem da Folha de São Paulo, entre as medidas punitivas, o MEC considera impedir a realização de novos vestibulares. Os alunos já matriculados teriam garantida a emissão do diploma. A maior parte desses cursos está em instituições privadas.

Hoje, esses cursos já enfrentam restrições do governo, como impedimento para participar do Fies, programa de financiamento estudantil, e do Prouni, que concede bolsas para estudantes de baixa renda. "Nós queremos dar bolsa para cursos que tenham um padrão de qualidade", disse Mercadante sobre o Prouni.

O ministério analisa a possibilidade de aumentar o corte de vagas e fazer supervisão mais rigorosa nas instituições com cursos de desempenho insatisfatório nos últimos anos. Mercadante disse que o candidato precisa considerar a nota do curso que pretende pleitear. "Curso nível 1 não é recomendado. E mesmo o nível 2 ele tem de olhar com muito cuidado, muita prudência."

Apesar da promessa de punição mais rigorosa, o MEC adotou recentemente postura menos incisiva Um corte de 18,5 mil vagas em cursos de administração e contabilidade, anunciado em 2011 com base no CPC de 2009, foi adiado.

Ao mesmo tempo, a maioria das vagas efetivamente cortadas em cursos da área de saúde em 2011 eram ociosas. Das 31,5 mil vagas extintas em cursos como fisioterapia e enfermagem, 72,8% não estavam sendo usadas pelas faculdades. 

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Maioria dos formandos em Medicina não passa em exame do Cremesp

No primeiro ano da prova obrigatória do conselho paulista, 54% dos novos médicos avaliados não tiraram a nota mínima.
Mais da metade (54,5%) dos recém-formados em Medicina no Estado de São Paulo foi reprovada no exame do Conselho Regional de Medicina (Cremesp). A prova, criada em 2005, se tornou obrigatória neste ano. Nas edições anteriores, a avaliação era voluntária, o que deixava a amostra vulnerável a erros.

A maioria dos atuais formandos acertou menos de 60% das 120 questões de múltipla escolha da prova. Elas envolviam temas das nove principais áreas da Medicina - entre elas clínica médica, saúde pública, saúde mental, pediatria e ginecologia. Em 2011 e em 2010 a reprovação foi mais baixa: 46% e 43%, respectivamente, mas a participação na prova também era muito menor.

Ao todo, 2.943 alunos se inscreveram para o exame desta edição. Mas a prova foi feita por 2.872 estudantes, ou 97,6% dos inscritos, sendo que 2.411 são de escolas de São Paulo. Já em 2011, por exemplo, apenas 418 alunos se inscreveram. Para tirar o CRM (registro profissional), é necessário apresentar o documento que comprove presença na prova, mas não é necessário ser aprovado no exame.

As questões da prova eram básicas, de média e baixa complexidade. E, ainda assim, menos da metade conseguiu acertar 60% da prova. Lamentavelmente, áreas cruciais, como clínica médica, tiveram notas muito baixas", afirma Renato Azevedo, presidente do Cremesp. Na prova, detalha Azevedo, são cobrados conteúdos básicos, como vacinas obrigatórias e a identificação e o tratamento de diarreia em crianças - as questões dessa prova específica não foram divulgadas.

Boicote - Dos formandos que fizeram a prova, 119 (4,2% do total) tiveram a prova invalidada por boicote - 86 marcaram apenas a letra B - ou por outras tentativas de anulação, como desenhos. Segundo o Cremesp, 99% dos que boicotaram são de instituições públicas. O conselheiro Bráulio Luna, um dos coordenadores do exame, criticou o boicote. "São alunos extremamente egoístas. Estudam em universidades públicas, com dinheiro público, e quando se formarem vão atender em clínicas privadas, não vão para o Sistema Único de Saúde (SUS). Esse é o perfil dos boicotadores. São parte de uma elite que não quer ser avaliada", disse.

Apesar de a legislação determinar a entrega do CRM para o recém-formado, mesmo que ele tenha boicotado o exame, o Cremesp tem segurado o registro profissional de alguns alunos que decidiram protestar. Os formandos da Unicamp Josué Augusto do Amaral Rocha, de 23 anos, e Marília Francesconi Felício, de 27 anos, boicotaram o exame e não conseguiram tirar o registro profissional. Receberam uma carta afirmando que suas provas apresentavam inconsistências e, por isso, seriam revisadas. "É claramente uma forma de retaliação para atrasar a emissão do nosso CRM. Ficamos impedidos de exercer a profissão", diz Marília.

Azevedo, presidente do conselho, admitiu que as provas dos boicotadores serão reavaliadas, mas garantiu que os registros profissionais desses médicos serão entregues até 31 de janeiro. Os recém-formados vão receber o resultado individual na prova comparando com a média geral. O Cremesp, porém, não vai divulgar a lista das melhores e piores para evitar um ranking. "Havia grande resistência das instituições em apoiar o exame por causa do ranqueamento. Então temos um compromisso de não divulgar os resultados por escola", disse Reinaldo Ayer, que também coordenou a avaliação.

Resultado do Cremesp nos deixa temerosos, afirma professor
Coordenador do exame do Cremesp, o médico Bráulio Luna Filho, que também é professor na Unifesp, defende a prova e diz que o resultado retrata a qualidade do profissional que vai para o mercado de trabalho, principalmente para a periferia.

Pode-se dizer que o resultado foi muito ruim?
Bráulio Luna Filho - Sim. Uma prova de avaliação ao final do curso de medicina no Canadá, nos EUA, tem, em média, 95% de aprovação. Imaginei que nosso resultado seria de 70% e foi de 44,5%. Isso nos deixa temerosos sobre o exercício profissional futuro desses colegas.

Como o cidadão pode se defender de um médico mal qualificado?
Infelizmente, a população não tem como saber se o indivíduo foi bem treinado. O problema é maior nas camadas mais pobres porque o médico recém-formado vai atender nas unidades mais periféricas.

O boicote dos alunos não foi legítimo?
O conselho se ressente quando alunos formados em universidades de ponta, principalmente, protestam. O cidadão teve o ensino pago pelo contribuinte, teve boas condições de aprendizado e ainda é contra uma avaliação?

Prova do Cremesp deveria ser teórica e prática, diz formando
Josué Augusto do Amaral Rocha, da Unicamp, um dos líderes do movimento que defendia o boicote à prova do Cremesp, diz que a avaliação deveria ser teórica e prática.

O resultado ruim é reflexo da prova ou do ensino de medicina?
Josué Augusto do Amaral Rocha - Quando se fala da prova, é preciso falar da qualidade dela. Para ser adequada, não poderia ser só teórica. Tinha de ter uma parte prática. É preciso fazer uma avaliação global dos estudantes, ao longo de todos os anos do curso e não apenas no final. A avaliação precisa envolver a infraestrutura da escola, o corpo docente e o aprendizado do estudante. Prova de múltipla escolha, como faz o Cremesp, qualquer cursinho ajuda a passar.

A adesão ao boicote não ficou abaixo do esperado?
O movimento lançou a discussão sobre o ensino médico no Brasil.

Quem mais aderiu não vem de boas escolas e tem mais chances de emprego?
Isso mostra a mobilização das escolas publicas. Vou trabalhar na periferia de Campinas. O movimento é para discutir a qualidade de saúde pública e nosso interesse é total na população.

Quem nos salva dos médicos?
Artigo de Gilberto Dimenstein

Aconteceu o que já prevíamos: a reprovação da maioria dos estudantes de medicina que fizeram a prova para medir seus conhecimentos, realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. A pergunta mais importante ao cidadão: quem nos salva dos médicos?

Apesar de reprovados, os formados têm o pleno direito de exercer a profissão. Não somos informados quais os reprovados. Nem quais as piores faculdades - era o mínimo de transparência necessária. O que sabemos é que, em breve, eles estarão num pronto-socorro atendendo casos de emergência.

A culpa é dos estudantes que não aprenderam? Eles também são vítimas. Vítimas que geram vítimas. A culpa, em essência, é dos governos que liberaram a abertura de escolas de medicina e não desenvolveu melhores mecanismos para cobrar qualidade.

Sou solidário, até certo ponto, com estudantes que fizeram o boicote ao exame, argumentando que as escolas deveriam ser avaliadas com profundidade. Mas sou mais solidário com o cidadão comum que tem o direito de saber dos riscos à sua saúde.

(Fonte: O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo)

Professores universitarios: bondades governamentais com o dinheiro de todos os brasileiros?

Todos os brasileiros, universitários ou não, professores ou não, ricos ou não, estão sendo chamados a pagar esta conta: a dos aumentos salariais para professores universitários. Ainda que se possa concordar em que esta é uma justa causa, eu me pergunto, sinceramente, se a produtividade dos ditos professores -- não de todos, mas da maioria, com perdão dos produtivos -- justifica toda essa bondade com o dinheiro da sociedade.
Eu sempre me pergunto: em troca do quê, mesmo?
Professores universitários deveriam estar produzindo boa ciência -- o que é apenas em parte verdade --, formando os professores dos nossos filhos -- o que me parece até agora um desastre, tendo em vista os resultados desastrosos da educação brasileira -- e contribuindo para a tecnologia nacional, terreno no qual sua contribuição também deixa muito a desejar.
Então, pergunto: os professores merecem?
Talvez, mas deveríamos exigir mais em troca...
Paulo Roberto de Almeida 

Aprovada reestruturação de carreira e reajuste para magistério federal
Agência Câmara, 7/12/2012
 
O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (5) o Projeto de Lei 4368/12, do Executivo, que reestrutura a carreira de professores das instituições federais de ensino e reajusta a remuneração ao longo de três anos, a partir de 1º de março de 2013.
Os aumentos variam conforme o estágio da carreira, podendo chegar a 45% até 2015. O projeto ainda será votado pelo Senado.

A matéria foi aprovada com emendas da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, de autoria do deputado Alex Canziani (PTB-PR). Entre as novidades está a previsão de recebimento de uma retribuição por trabalho eventual em projetos de pesquisa e extensão no âmbito de convênios das instituições com as fundações de apoio.

O projeto permite o recebimento de outras remunerações, como já ocorre atualmente com bolsas, direitos autorais, pró-labore por palestras ou retribuição por participar de comissões julgadoras (da qualidade do ensino privado).

Professor titular-livre - Tanto para o magistério superior quanto para o ensino básico, técnico e tecnológico, o projeto cria o cargo isolado de professor titular-livre, para melhorar o acesso ao último nível da carreira. O cargo de titular continua existindo, mas os acessos serão diferentes.

Para atingir o cargo de titular, o professor associado precisa possuir o título de doutor, ser aprovado em processo de avaliação de desempenho e ter aprovado memorial sobre suas atividades ou defender tese acadêmica inédita.

Já o cargo de titular-livre será preenchido por meio de concurso público de provas e títulos, com exigência de 20 anos de obtenção do título de doutor ou de experiência. A prova será escrita, oral e com defesa de memorial.

As vagas serão abertas conforme disponibilidade orçamentária. Para as universidades, estão previstos 1,2 mil cargos. Para o ensino básico e técnico, 880 cargos.

Progressão acelerada - Os professores das universidades aprovados em estágio probatório e que atenderem a requisitos de titulação poderão concorrer a processo de aceleração da promoção. Normalmente, ela ocorre a cada dois anos.

Se possuir o título de mestre, o professor em qualquer nível da classe auxiliar poderá passar à classe de assistente. Com o doutorado, professores assistentes poderão passar a adjuntos. Critério semelhante será aplicado aos docentes do ensino básico e técnico, envolvendo os títulos de especialista, mestre e doutor.

No caso dos professores da classe "associado", nas universidades, haverá um reposicionamento antes da aplicação da nova tabela de remuneração. Aqueles do nível 1 passarão ao nível 2 se forem doutores há 17 anos. Para os níveis sucessivos (até o 4), serão necessários 19 (do 2 para o 3) e 21 anos (do 3 para o 4) de doutorado.

Aposentados - O Plenário aceitou emenda do relator que permite o exercício de cargos de direção nas instituições federais de ensino pelos professores já aposentados. O relator também excluiu do texto a exclusividade dos docentes na ocupação de funções relacionadas à administração acadêmica.

Professor visitante - Alguns requisitos para a admissão de professor visitante, estrangeiro ou não, são disciplinados pelo projeto, como ser doutor por dois anos, no mínimo; ser docente ou pesquisador de reconhecida competência em sua área; e ter produção científica relevante, preferencialmente nos últimos cinco anos.

Comissão permanente - Em cada instituição federal de ensino deverá ser instituída uma Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD) para assessorar a instituição na formulação e no acompanhamento da execução da política de pessoal.

A comissão poderá se manifestar sobre a contratação de professores efetivos e substitutos e também sobre a avaliação de desempenho para fins de progressão funcional e a liberação de professores para programas de cooperação com outras instituições, universitárias ou não 
 
 

Acordo Trans-Atlantico de Livre Comercio (2) - Paulo Roberto de Almeida


Um acordo UE-EUA de livre comércio?
Paulo Roberto de Almeida
(trechos do capítulo conclusivo de um próximo livro meu, sobre a integração regional) 

Voltam a frequentar as páginas dos jornais do mundo norte-atlântico notícias sobre uma aspiração antiga, de certa forma recorrente e, até o momento, “inconclusiva”: a retomada, e eventual finalização, de negociações para a assinatura de um acordo de livre comércio entre as duas maiores economias do planeta, a União Europeia, de um lado, e os Estados Unidos, de outro (com o potencial, inclusive, de “arrastar” o Canadá e o México, já sócios deste último no Nafta, e, possivelmente, outros países associados, por diferentes tipos de acordos, à UE ou aos próprios Estados Unidos).
Se realmente levada a termo, essa antiga ideia de promotores da liberalização comercial dos dois lados do Atlântico tem o potencial de produzir uma pequena revolução na economia mundial. Sua importância, na verdade, é bem maior do que a própria dimensão dos fluxos comerciais que seriam criados a partir desse acordo, reconhecidamente limitada, uma vez que as duas grandes economias já desfrutam de amplo grau de abertura e de imbricação recíprocas, independentemente da conclusão bem sucedida – isto é, sem muitas exceções setoriais – de um acordo desse tipo. Afinal de contas, ambas economias regionais já estão vinculadas entre si por laços históricos de comércio, investimentos, licenciamentos tecnológicos, joint-ventures industriais, seja no âmbito bilateral, seja no contexto da OCDE, além da intensa troca de capital humano que se estabelece continuamente nas mais diferentes esferas da cooperação científica e educacional, para não falar, obviamente, das barreiras notoriamente limitadas que existem para os mais diversos intercâmbios que existem, desde mais de três séculos entre as duas regiões, tanto sob a forma de poucos obstáculos substantivos às trocas privadas e oficiais, como na modalidade tarifaria, com alíquotas bastante reduzidas praticadas na maior parte dos casos. Ou seja, existem poucos entraves ao intenso fluxo de bens, serviços, capitais, tecnologia, pessoas entre essas duas grandes regiões econômicas do mundo, a da UE e a da América do Norte, inclusive porque a segunda foi construída, historicamente, pela primeira, até que o dinamismo da segunda, expressa em suas maiores taxas de crescimento da produtividade, veio a colocar em segundo plano o peso da primeira, a fonte original da ordem econômica global, tal como a conhecemos nos últimos cinco séculos.
Mas, se o impacto econômico efetivo desse tipo de acordo é pequeno, por que destacar com tanta ênfase, o que não parece deixar de ser, até aqui, uma mera possibilidade teórica, tantas vezes anunciada e tantas vezes frustrada em sua implementação prática? Existem muitas razões, e elas têm a ver com diferentes aspectos que foram discutidos ao longo do livro, e que podemos agora retomar seletivamente para algumas lições que podem ser extraídas dos capítulos precedentes e como guias para o possível mundo do futuro de médio ou de longo prazo.
 A importância de um acordo entre dois gigantes do comércio internacional – os quais, justamente, estão no centro do fenômeno da regionalização, um pelo lado do livre comércio, o outro pela integração profunda – situa-se precisamente no fato concreto de que ambos mobilizarão proporção relevante, atualmente determinante, do PIB global e do comércio internacional, mesmo se o acordo, em si, não agregará muito aos fluxos que já vem sendo efetivados “naturalmente” entre os dois lados do Atlântico. Se e quando efetivado tal acordo – e as apostas contrárias também são poderosas –, ele terá um impacto profundo em termos institucionais (ou seja, sobre o sistema internacional de comércio e suas rodadas de negociação) e em relação a terceiros mercados, para dentro e para fora dos dois blocos eventualmente unidos pelo livre comércio. Mais ainda, um acordo desse tipo parece sintetizar todos os bons efeitos e todos os defeitos, todos os méritos e muitos vícios do minilateralismo comercial.
Cabe destacar, em primeiro lugar, que o que se discute entre a União Europeia e os Estados Unidos não é nenhuma forma mais elaborada de integração, e sim um acordo de livre comércio, pura e simplesmente, embora bem mais abrangente e complexo do que aqueles usualmente registrados na OMC, provavelmente concebido, aos olhos americanos, no estilo e no formato do Nafta. A retomada dessas negociações, depois de muitos anos de torpor burocrático, apresenta evidências de novos elementos, de caráter político, que não estavam presentes quando se cogitou, originalmente, de um tipo qualquer de desarme tarifário entre os mesmos personagens (a UE contando, então, com um número bem mais reduzido de membros). A resposta está, provavelmente, no fator China, mas convém, antes de qualquer outra consideração, ressaltar o impacto positivo de um real arranjo liberalizador que se faça entre a UE e os Estados Unidos.
De fato, a primeira consequência mais geral de um acordo desse tipo é, essencialmente, um efeito demonstração, ou seja, o exemplo positivo dado pelo engajamento de dois grandes parceiros, na verdade os maiores, do sistema multilateral de comércio, no sentido de confirmar a vocação liberalizadora que esteve presente no momento de criação do Gatt e que se manteve mais ou menos constante nas primeiras cinco ou seis rodadas de negociações comerciais multilaterais. Infelizmente, esse impulso começou a se perder a partir dos anos 1970, quando, tanto em função do menor peso das tarifas nos processos liberalizadores – já que elas tinham sido consideravelmente reduzidas desde o final dos anos 1940, adquirindo maior importância, então, os temas sistêmicos, ou de caráter regulatório – quanto em virtude da perda de competitividade de velhas indústrias labor-intensive dos países desenvolvidos em face dos chamados “novos países industrializados”, alguns periféricos da Ásia e da América Latina (Coreia do Sul, Taiwan, Hong-Kong, Brasil, México, etc.) que passaram a competir agressivamente em grandes nichos de mercados nos quais possuíam vantagens comparativas (calçados, têxteis, manufaturas leves, etc.). Acresce a isto a crise fiscal e de “estagflação” dos países avançados, mais ou menos coincidente com a primeira e a segunda crise das dívidas externas dos países em desenvolvimento, que redundou no renascimento de instintos protecionistas no seio mesmo do sistema, entre aqueles que tinham garantido, até então, o sucesso das rodadas de liberalização de comércio.
O mundo atravessou, desde essa época, fases de maior ou menor fechamento comercial, ao mesmo tempo em que ensaiava a revitalização dos velhos princípios multilateralistas que haviam guiado os negociadores em Bretton Woods, e que tinham resultado na criação de uma primeira organização mundial de comércio, inscrita na Carta de Havana (março de 1948), mas que infelizmente não foi implementada na prática. Em todo caso, o processo foi retomado na segunda fase da rodada Uruguai (entre 1991 e 1992), quando se decidiu relançar a ideia de uma organização de pleno direito – uma vez que o Gatt era um simples acordo entre partes contratantes, dotado de um secretariado mínimo, esquema que tinha permanecido “provisoriamente” em vigor durante meio século – o que foi concretizado em Marraqueche (1993), com a assinatura da Ata Final da rodada, da qual emergiu a OMC (1995).
Mas a institucionalização da OMC também foi contemporânea da maior expansão já vista dos acordos regionais preferenciais, um pouco em todos os continentes, como já constatado nos capítulos precedentes. O minilateralismo parecia querer ganhar preeminência sobre o multilateralismo e, de fato, nas estratégias comerciais das grandes, como nas das pequenas e médias potências da economia mundial, ganhava força a ideia de que a solução para os problemas de acesso a mercados e de compatibilização de regras não tarifárias não estava mais no âmbito do Gatt, ou da OMC (dependendo do tipo de acordo), mas na constituição de blocos restritos, ditos de regionalismo aberto, mas potencialmente discriminatórios.
O anúncio, portanto, de que Estados Unidos e UE vão voltar a discutir a criação de uma vasta zona de livre comércio recíproco – a maior do mundo, talvez só superável quando os países membros da Asean e seus parceiros da bacia da Ásia Pacífico fizerem a sua, em algum momento da próxima década – é auspiciosa, no sentido em que essa iniciativa pode representar um novo impulso à (conclusão da?) Rodada Doha de negociações comerciais multilaterais, cuja partida foi dada em 2001. Supõe-se que, uma vez concretizada a nova superaliança comercial, seus dispositivos liberalizadores representem inclusive um avanço sobre o estado atual das negociações comerciais, em termos de desmantelamento de barreiras e do estabelecimento de regras uniformes para o mútuo reconhecimento de padrões industriais e de diversas outras normas que podem atuar (deliberadamente, segundo os casos) como medidas protecionistas disfarçadas.
As respectivas barreiras tarifárias, em si, são pouco relevantes, representando uma média de 3% para os produtos manufaturados, mas como o comércio inter, intraindustrial e também intrafirmas, entre os dois lados, é especialmente intenso, mesmo uma pequena diminuição dos custos pode significar, no plano microeconômico, um incremento significativo para as empresas engajadas no intercâmbio, estimulando inclusive novos investimentos diretos estrangeiros, das duas regiões e de terceiras partes. Subsistem zonas de protecionismo setorial, sobretudo na agricultura – e aqui é provável que ambos lados conservem não apenas entraves protecionistas, como subsídios por vezes abusivos –, bem como políticas de sustentação de setores ditos estratégicos (como aviação civil, por exemplo) que poderiam ser objeto de mais alguma unificação de critérios nas medidas de apoio doméstico ou comunitário.
Haveria, do lado americano, bem menos resistências políticas e sociais, no Congresso ou dos sindicatos, a um acordo com os europeus, uma vez que não estariam presentes as mesmas preocupações com um suposto “dumping social” mexicano que quase comprometeram a aprovação do Nafta, exigindo a negociação de acordos paralelos para lograr a superação de paranoias setoriais e a aprovação congressual. Em resumo, tanto no plano teórico – como a efetivação de economias de escala e os estímulos ao crescimento econômico, do emprego e da renda – quanto no plano prático – tendo em vista a uniformidade relativa de padrões produtivos e financeiros, já obtida no âmbito da OCDE –, diferentes elementos concorrem para reforçar os traços positivos que esse tipo de integração comercial entre as duas maiores economias planetárias pode representar não apenas para as partes no acordo, mas para outros parceiros externos e, sobretudo, para o sistema multilateral de comércio.
 (...)

Acordo Trans-Atlantico de Livre Comercio (1) - Wall Street Journal

Trans-Atlantic Trade Stimulus

A way to spur growth without spending taxpayer money.

A Trans-Atlantic Free Trade Agreement is one of those ideas that's always at the wedding party but never catches the bouquet. Since 1985, when the U.S. signed its first bilateral free-trade deal (with Israel), America has agreed to FTAs with 19 countries. The EU has four comprehensive trade deals to its own name, in addition to agreements of various sorts with non-EU neighbors and former colonies.
But despite approving noises from both sides of the ocean over the years, a comprehensive EU-U.S. trade deal has never seriously been attempted. That could be about to change, and a good thing too.
In the coming days, the European Commission will make a formal recommendation on whether to open FTA negotiations with Washington. The Commission is enthusiastic. The Obama Administration is ready to start talks, though it remains to be seen whether President Obama will spend political capital backing a deal given how hostile his labor constituency is to open markets.
A good trade deal could be the cheapest stimulus that you don't need money to buy. The U.S. and the EU represent nearly half of global GDP. One-third of world trade is between the U.S. and Europe. Trans-Atlantic direct investment totals some $2.7 trillion, and total bilateral annual trade tops $600 billion.
Europe and America, in other words, already do a lot of business. Tariffs between the two are relatively low on most goods—5% to 7% on average. The problems come in such politically sensitive areas as agriculture and textiles, although a simulation run by the Brussels-based think tank ECIPE suggested that the EU and U.S. would both see increased textile exports to each other if trade barriers were eliminated. In any case, the usual way around sensitivities in one area is to do a comprehensive deal, so the total benefits outweigh the fears of any particular industry.
This is where things get sticky. The EU's usual modus operandi in trade negotiations is to attempt to impose its standards—in food safety, or public procurement, sometimes environmental or labor standards—on its trading partner. The U.S. often isn't much better.
But the EU isn't likely to get a deal if it tries to force the U.S. to sign up to whole swaths of Europe's regulatory state. Nor is regulatory harmonization necessary if the two sides commit to genuinely free trade, as opposed to some sort of joint regulatory cabal. Fredrik Erixon of ECIPE likes to say that a true free trade agreement is a blank piece of paper, and he has a point. The bigger the rulebook gets, the less free the trade is, whatever the tariff schedule says.
The 1930s saw a global economic downturn become the Great Depression in no small part because governments reacted by throwing up tariff barriers to protect domestic industry from foreign competition. In pursuing free trade as a way out of the current economic quagmire, the EU and U.S. could show that, sometimes, we do learn from history.

Raymond Aron: penseur de l'Europe et de la nation - Giulio De Ligio (ed.)

De Ligio, Giulio (dir.)

Raymond Aron, penseur de l'Europe et de la nation


Series: Euroclio - Volume 66
Year of Publication: 2012
Bruxelles, Bern, Berlin, Frankfurt am Main, New York, Oxford, Wien, 2012. 160 p.
ISBN 978-90-5201-826-3 br.  (Softcover)
ISBN 978-3-0352-6178-3 (eBook)
Weight: 0.240 kg, 0.529 lbs
available Softcover / PDF
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  • SFR 39.00
  • €* 32.10
  • €** 33.00
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  • £ 27.00
  • US$ 41.95
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Book synopsis

À mesure que le temps passe, la pertinence des démarches et des analyses de Raymond Aron se confirme au lieu de s'estomper. Parce qu'il a été le commentateur inlassable des événements, parce que ses livres ont souvent répondu à des situations bien différentes de la nôtre, on a pu penser que son oeuvre, à l'exception bien sûr des grands ouvrages théoriques, perdrait de son actualité en raison de l'éloignement des circonstances qui lui avaient donné naissance. C'est le contraire qui se produit. C'est de nous et donc à nous qu'Aron parle encore.
À travers la forme politique propre à l'Europe, la journée d'études du 7 juin 2011, dont est issu cet ouvrage, s'était proposée de dégager la science politique que Raymond Aron nous lègue pour mieux comprendre la condition humaine et la situation présente des pays européens.

Contents

Contenu : Pierre Manent : Avant-propos. Permanence de Raymond Aron - Giulio De Ligio : Présentation. La politique digne de l'Europe : l'actualité de la leçon aronienne - Giulio De Ligio : Nature et destin des nations : Aron et la forme politique de l'Europe - Danny Trom : L'État d'Israël, objet de pensée et d'expérience chez Raymond Aron - Agnès Bayrou : L'Europe comme corps politique ? L'analyse aronienne de la construction européenne - Joël Mouric : Raymond Aron, citoyen français et intellectuel européen - Nicolas Baverez : L'Europe à l'âge de l'histoire universelle - Olivier de Lapparent : La crise de la conscience europèenne : L'Europe entre décadence et vitalité historique - Matthias Oppermann : Raymond Aron et la défense de l'Europe : Questions militaires et politiques - Raymond Aron : Universalité de l'idée de nation et contestation - Raymond Aron : Europe, avenir d'un mythe.

About the author(s)/editor(s)

Giulio De Ligio est docteur de recherche en histoire de la pensée politique de l'université de Bologne, il enseigne actuellement à l'Università per stranieri di Perugia et poursuit parallèlement ses recherches au Centre d'études sociologiques et politiques Raymond Aron de l'École des hautes études en sciences sociales (Paris). Il est membre du comité de rédaction de la Rivista di politica (Rome) et secrétaire général de l'Istituto di politica (Rome-Pérouse). Il a reçu en 2007 le prix Raymond Aron.

Series

Euroclio. Études et Documents. Vol. 66
Directeurs de collection : Éric Bussière, Michel Dumoulin et Antonio Varsori

Jean-Baptiste Say to the rescue of the doomed and failed...

Genial, para quem gosta da boa economia:

http://youtu.be/7uKnd6IEiO0

I thought this would be of interest to historians of economics. John Papola, the animating spirit behind the Keynes-Hayek Rap, has now done a video on Say’s Law, the fundamental principle of the pre-Keynesian theory of the cycle. While most of those who come to this site have an interest in the history of economics, not everyone is a specialist in the issues he raises. To help appreciate the video, here are a few bits of background to catch the full flavour of just how beautifully done it is.

John Maynard Keynes introduced the notion of aggregate demand into economic theory. Before his General Theory of Employment, Interest and Money was published in 1936, demand deficiency as a cause of recession was literally and with no exaggeration seen as a fallacy by virtually all mainstream economists. That is what an acceptance of Say’s Law meant. Today, of course, macroeconomics is the mainstream and when recessions occur the first thought in almost everyone’s mind is to restore the level of demand.

Keynes took the idea of demand deficiency from Thomas Robert Malthus who published his Principles of Political Economy in 1820, the most important aspect of which was his argument that recessions are caused by too much saving leading to too little demand. Keynes was reading Malthus’s letters to Ricardo in October 1932 which was the specific reason that he would eventually write a book on demand deficiency as the cause of recession. Most scholars who have looked into the transition from The Treatise on Money do not accept Malthus as the inspiration for Keynes. But since there is general consensus that Keynes formed the idea of demand deficiency in late 1932 and there is no question that Keynes was reading Malthus in late 1932, there are very strong reasons to believe that it was because Keynes was reading Malthus at just that moment that he wrote The General Theory to explain demand deficiency as the cause of recession. But it is a controversial point so some may not accept the notion that Malthus was the inspiration for Keynes as suggested in the video.
 
Say’s Law, which does not get mentioned by name, was called the Law of Markets during classical times. The principle was not given the name Say’s Law until the 1920s but it was Jean-Baptiste Say in France and James Mill in England who together are responsible for the initial crafting of this bedrock classical proposition. And as a very good first approximation to its meaning there is this, the best short statement on the law of markets and its implications, which was given by David Ricardo in a letter to Malthus dated 9 October 1820. It is briefly referred to in the video as part of a song title as it flashes by:

“Men err in their productions, there is no deficiency of demand.”

Ricardo was trying to explain to Malthus that in his view the recessions that followed the ending of the Napoleonic Wars in 1815 were not due to there having been too much saving and therefore too little spending. It was not even spending that mattered. What had gone wrong was that the goods and services produced did not match the specific demands that people with incomes had ("men err in their productions"). There were therefore unsold goods and services, but not because there was too little spending and too much saving, but because businesses had produced one set of goods (housing in the US to take the most recent example of recession) that could not be sold at prices which covered their costs. The structure of production was wrong  which would inevitably, as it always does, affect credit markets as defaults became legion.

And finally there is the question of effective demand which is different from the notion of aggregate demand. Aggregate demand is just a total. Effective demand explains what creates purchasing power. What makes individuals within an economy able to buy more than they presently do is more production of goods that can find a market. Producing saleable products – raising productivity – is the only means by which economies can grow and therefore, beneath it all as Friedrich Hayek explains, there must be more investment in capital (actual productive assets) and more innovation which improves the technology embodied in the capital. An economy is driven by supply, never demand. Only if value adding supply goes up can demand go up.

That is the message of the video. It is a piece of genius that so much can be so condensed into just over four minutes.
--
Dr Steven Kates
School of Economics, Finance
    and Marketing
RMIT University
Level 12 / 239 Bourke Street
Melbourne Vic 3000

The Top Ten Best Books by the NYTimes

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The 10 Best Books of 2012

The year’s best books, selected by the editors of The New York Times Book Review.
Photograph by Kristina DiMatteo and Rex Bonomelli
Kristina DiMatteo and Rex Bonomelli
FICTION
BRING UP THE BODIES
By Hilary Mantel.
A John Macrae Book/ Henry Holt & Company, $28.
Taking up where her previous novel, “Wolf Hall,” left off, Mantel makes the seemingly worn-out story of Henry VIII and Anne Boleyn newly fascinating and suspenseful. Seen from the perspective of Henry’s chief minister, Thomas Cromwell, the ruthless maneuverings of the court move swiftly to the inevitable executions. Both this novel and its predecessor were awarded the Man Booker Prize. Might the trilogy’s forthcoming conclusion, in which Cromwell will meet his demise, score Mantel a hat trick?
BUILDING STORIES
By Chris Ware.
Pantheon Books, $50.
Ware’s innovative graphic novel deepens and enriches the form by breaking it apart. Packaged in a large box like a board game, the project contains 14 “easily misplaced elements” — pamphlets, books, foldout pages — that together follow the residents of a Chicago triplex (and one anthropomorphized bee) through their ordinary lives. In doing so, it tackles universal themes including art, sex, family and existential loneliness in a way that’s simultaneously playful and profound.
A HOLOGRAM FOR THE KING
By Dave Eggers.
McSweeney’s Books, $25.
In an empty city in Saudi Arabia, a ­middle-aged American businessman waits day after day to close the deal he hopes will redeem his forlorn life. Eggers, continuing the worldly outlook that informed his recent books “Zeitoun” and “What Is the What,” spins this spare story — a globalized “Death of a Salesman” — into a tightly controlled parable of America’s international standing and a riff on middle-class decline that approaches Beckett in its absurdist despair.
NW
By Zadie Smith.
The Penguin Press, $26.95.
Smith’s piercing new novel, her first in seven years, traces the friendship of two women who grew up in a housing project in northwest London, their lives disrupted by fateful choices and the brutal efficiency of chance. The narrative edges forward in fragments, uncovering truths about identity and money and sex with incandescent language that, for all of its formal experimentation, is intimate and searingly direct.
THE YELLOW BIRDS
By Kevin Powers.
Little, Brown & Company, $24.99.
A veteran of the Iraq war, Powers places that conflict at the center of his impressionistic first novel, about the connected but diverging fates of two young soldiers and the trouble one of them has readjusting to life at home. Reflecting the chaos of war, the fractured narrative jumps around in time and location, but Powers anchors it with crystalline prose and a driving mystery: How did the narrator’s friend die?
NONFICTION
BEHIND THE BEAUTIFUL FOREVERS
Life, Death, and Hope in a Mumbai Undercity.
By Katherine Boo.
Random House, $27.
This National Book Award-winning study of life in Annawadi, a Mumbai slum, is marked by reporting so rigorous it recalls the muckrakers, and characters so rich they evoke Dickens. The slum dwellers have a skillful and empathetic chronicler in Boo, who depicts them in all their humanity and ruthless, resourceful glory.
FAR FROM THE TREE
Parents, Children, and the Search for Identity.
By Andrew Solomon.
Scribner, $37.50.
For more than a decade, Solomon studied the challenges, risks and rewards of raising children with “horizontal identities,” traits that they don’t share with their parents. As he investigates how families have grown stronger or fallen apart while raising prodigies, dwarfs, schizophrenics, transgendered children or those conceived in rape, he complicates everything we thought we knew about love, sacrifice and success.
THE PASSAGE OF POWER
The Years of Lyndon Johnson.
By Robert A. Caro.
Alfred A. Knopf, $35.
The fourth volume of Caro’s prodigious masterwork, which now exceeds 3,000 pages, explores, with the author’s signature combination of sweeping drama, psychological insight and painstaking research, Johnson’s humiliating years as vice president, when he was excluded from the inner circle of the Kennedy White House and stripped of power. We know what Johnson does not, that this purgatory is prelude to the event of a single horrific day, when an assassin’s bullet placed Johnson, and the nation he now had to lead, on a new course.
THE PATRIARCH
The Remarkable Life and Turbulent Times of Joseph P. Kennedy.
By David Nasaw.
The Penguin Press, $40.
Nasaw took six years to complete this sprawling, arresting account of a banker-cum-speculator-cum-moviemaker-cum-ambassador-cum-dynastic founder. Joe Kennedy was involved in virtually all the history of his time, and his biographer persuasively makes the case that he was the most fascinating member of his large, famous and very formidable family.
WHY DOES THE WORLD EXIST?
An Existential Detective Story.
By Jim Holt.
Liveright Publishing/W. W. Norton & Company, $27.95.
For several centuries now, thinkers have wondered, “Why is there something rather than nothing?” In search of an answer, Holt takes the reader on a witty and erudite journey from London to Paris to Austin, Tex., as he listens to a varied cast of philosophers, scientists and even novelists offer solutions that are sometimes closely reasoned, sometimes almost mystical, often very strange, always entertaining and thought-provoking.