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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Snowden: o espiao que foi para o frio (alias, o nome combina)

Em primeiro lugar, Snowden não era, nunca foi e nunca será espião; ele era um mero técnico de comunicacões e de sistemas de informação e suas tecnologias associadas, apenas isso.
Enfim, lendo Dostoievski, ele deve estar contente, se não deprimido, com a perspectiva de passar vários anos naquela maravilha de país. Ele poderia começar a ler Tolstoy, depois Soljenitsyn, e outros mais...
A literatura russa é interessante, mais, em todo caso, do que essas histórias de espiões, que sempre terminam mal...
Paulo Roberto de Almeida

Presença de Snowden em Moscou ‘foi estratégica’, rebate fonte na diplomacia cubana

26/8/2013 11:45
Correio Do Brasil, Redação - de Brasília

Snowden conseguiu um visto de permanência na Rússia por um ano
Snowden conseguiu um visto de permanência na Rússia por um ano
O ex-espião da Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês) e prestador de serviço para a Agência Central de Inteligência (CIA, também na sigla em inglês) Edward Snowdenoptou por não seguir viagem, a partir de Moscou, por “uma questão estratégica”, afirmou aoCorreio do Brasil, nesta segunda-feira, fonte do serviço diplomático cubano na América Latina. Com este desmentido, Cuba descarta a informação de ter cedido às pressões dos Estados Unidos para que não aceitasse a presença do refugiado político em seu território. Snowden, atualmente, reside em Moscou. Um jornal russo, ligado à ultradireita, divulgou nesta segunda-feira que Snowden teria ficado preso na zona de trânsito de um aeroporto de Moscou porque o governo cubano recusou-se a deixá-lo voar da Rússia para Havana, após ameaças dos norte-americanos.
Segundo o diário conservador russo Kommersant, Snowden, procurado pelos EUA por vazar detalhes de programas de vigilância do governo norte-americano, planejara voar para Havana a partir de Moscou um dia depois de chegar de Hong Kong, em 23 de junho. Mas o norte-americano, que acabou recebendo asilo de um ano na Rússia após passar quase seis semanas na área de trânsito do aeroporto de Sheremetyevo, não embarcou, embora tivesse um assento em seu nome no avião. Citando fontes, incluindo uma ligada ao Departamento de Estado dos EUA, o jornal disse que a razão foi que Cuba avisou no último minuto às autoridades russas para não deixarem Snowden embarcar no voo da Aeroflot.
O jornal disse, ainda, que Cuba mudara de ideia por pressão dos EUA, que desejam julgar Snowden sob a acusação de espionagem. O Kommersant disse ainda que Snowden passou alguns dias no consulado russo em Hong Kong para declarar sua intenção de voar para a América Latina através de Moscou.
– Sua rota e seu apelo por ajuda foram uma surpresa completa para nós. Nós não o convidamos – disse ao Kommersant uma fonte estatal russa.
A agência inglesa de notícias Reuters, a exemplo das demais agências internacionais, não pôde confirmar de imediato a reportagem, seja no governo de Havana, seja com o próprio Snowden, que permanece retirado, em um ponto desconhecido do público, em território russo. A fonte ligada ao serviço diplomático cubano a que o CdB teve acesso, no entanto, lembra que o presidente de Cuba, Raúl Castro, foi o primeiro a defender, ainda no início de julho deste ano, logo após a decisão de Snowden de permanecer em solo russo, o direito dos países latino-americanos de conceder asilo ao ex-técnico da CIA, Edward Snowden. Raúl Castro criticou, ainda, que a atenção sobre este caso se centre na “perseguição” do jovem e não nos sistemas de “espionagem global” dos Estados Unidos.
Castro fez a declaração publicamente, no discurso com que encerrou o primeiro plenário realizado pela Assembleia Nacional de Cuba na atual legislatura. Em sua primeira declaração sobre o caso do ex-técnico que vazou planos de espionagem em massa por parte dos EUA, Castro, porém, não revelou se Cuba havia recebido o pedido de asilo por parte de Snowden nem se permitiria seu trânsito pela ilha rumo a outro país. Ele insistiu em ressaltar que as revelações de Snowden “permitiram confirmar a existência de sistemas de espionagem global dos Estados Unidos, que violam a soberania das nações, inclusive de seus aliados, e dos direitos humanos”.
– Cuba, que foi historicamente um dos países mais agredidos e também mais espionados do planeta, já conhecia a existência destes sistemas de espionagem – disse o presidente cubano, em seu discurso.
Pesadelo
Advogado de Snowden, Anatoli Koutcherena contou a jornalistas, na véspera, que seu cliente viveu um verdadeiro pesadelo no aeroporto de Moscou, até obter um visto temporário, no dia 1 de agosto.
– Foi um período difícil. Agora ele precisa cuidar de sua saúde e se recuperar psicologicamente. Ele precisa de uma adaptação – declarou o advogado à rádio pública Golos Rossii (A Voz da Rússia).
De acordo com ele, o ex-consultor da CIA aguarda a chegada do pai e de amigos para tomar algumas decisões importantes. Entre elas, a escolha do local onde pretende morar no país. O advogado também disse que Snowden se sente “mais ou menos bem”, está aprendendo a falar russo e se interessa pela história do país.
No período em que ficou na zona de trânsito do aeroporto russo, Snowden, segundo o advogado, leu “Crime e Castigo” de Dostoïeviski e pediu a obra completa de 18 volumes do historiador russo do século 19 Nikolaï Karamzine. Com o visto temporário, o ex-consultor da CIA pode viajar pela Rússia e trabalhar, exceto no serviço público, segundo o chefe do serviço de Imigração da região de Moscou.
– Ele ainda corre riscos, não pode passear na praça Vermelha ou ir pescar. Ele aguarda com impaciência a chegada do pai – disse o advogado.
Por enquanto, Snowden também não pode falar em público. Mas mesmo “invisível”, ele já tem diversas propostas de emprego, entre elas, uma vaga no Facebook russo, a rede social Vkontakte. Senadores russos também propuseram ao técnico uma cooperação para detectar falhas na proteção de informações privadas.

Bolivia: o grande "rapto" do Senador; script de um filme? - David Fleischer

Brazil Focus David Fleischer
Special Report-26 Aug. 2013  
                                                                  
    Bolivian Senator Flees [escapes] to Brazil – Patriota Resigns

            On Saturday, 24th August, while he was having lunch in Vitória, ES, Sen. Ricardo Ferraço (PMDB-ES) received a telephone call from the DCM (number two) at the Brazilian Embassy in La Paz in Bolivia – Eduardo Saboia – who informed him that he had set in motion a plan to extract Bolivian Senator Roger Pinto Molina from Bolivia to seek refuge [political asylum] in Brazil. 
                                 
            Ferraço became aware of this “plan” during his two visits to Bolivia to attempt to gain the release of some soccer fans from the Corinthians futbol club who had been detained after a flare had been detonated during a soccer game that hit a young Bolivian soccer fan in the face and killed him.  Ferraço is the President of the Senate Foreign Relations Committee and in that capacity he went to Bolivia to seek the release of this group of Brazilian soccer fans –and met Bolivian Opposition Senator Roger Pinto Molina who had sought refuge (granted) in the Brazilian embassy in La Paz.  ..

                 Saboia informed Ferraço that he had the Senator in his diplomatic automobile travelling toward Corumbá, MT where they would cross into Brazil and were drawing near to the border.  Ferraço called a local businessman in Vitória (name not revealed) who agreed to put his executive jet plane at the disposal of this “rescue mission” and that same afternoon Ferraço (with the pilot and copilot) flew from Vitória to Corumbá.  At the Corumbá airport, Ferraço was met by a Brazilian Federal Police officer who informed him that the Senator would soon arrive at the airport under police escort.  Senator Molina and Saboia were holed up in a Corumbá hotel after the federal police secured their safe border crossing.  The executive jet then flew Ferraço and Senator Molina to Brasília where they arrived just after midnight, early Sunday morning, 25th August.  Ferraço offered to host Molina at his home in Brasília but he preferred to stay at the home of his Brazilian lawyer, Fernando Tibúrcio, in the Lago Norte neighborhood.  Ferraço planned to have Senator Molina give testimony before the Senate Foreign Relations Committee on Tuesday, 27th August.

            This episode began on 26th May 2012, when Senator Roger Pinto Molina – a very vocal Opposition senator – sought political asylum in the Brazilian Embassy in La Paz.  He was threatened with arrest by President Evo Morales who accused him of various “crimes”.  Molina had accused Morales of involvement with drug traffic.  On 8th June 2012, Brazil granted political asylum to Senator Molina but the Bolivian government refused to grant a “safe conduct” order for him to go to the La Paz airport to fly to Brazil.  On 2nd March 2013 a bilateral commission was formed to “analyze” this case [a minuet of “make believe”, according to Saboia].  Last week, Saboia became fearful that the senator might commit suicide over the weekend and an independent medical report confirmed this fear.  Molina had been confined in a small room within the Embassy for 455 days.

            Thus, Saboia took action “on his own” reportedly without any consultation with Itamaraty in Brasília, put the senator in his own diplomatic car and began the 1,600 Km drive to Corumbá.  Reportedly, Itamaraty became very “irritated” by this case.  However, Saboia did not make this long (22-hour) road trip alone with the senator in his car.  He was accompanied by FIVE heavily armed Brazilian Federal Police officers and two Brazilian Navy marines in two diplomatic cars.  They were stopped several times by Bolivian highway police but were not molested because of the cars’ diplomatic license plates. How could these officials have left Brazil for La Paz with any knowledge by Itamaraty?  Why was their arrival in La Paz not perceived by Bolivian authorities?  Did they make a clandestine road trip from Corumbá to La Paz?  Apparently, the Bolivian intelligence service did not have Saboia’s phone under cyber surveillance. 

è Probably, Bolivia did not receive any “technical assistance” from NSA/CIA as in the case
of Brazil.

            Obviously, Eduardo Saboia will not be able to return to his post in La Paz and Itamaraty will have to quickly find a replacement, perhaps the posting of a new ambassador.  However, Saboia’s wife’ (also a Brazilian diplomat) and children remain in Bolivia where she is consul-general in Santa Cruz de la Sierra.  Two comments circulated in Brasília regarding this episode:

1)     This case resembled a Mossad operation;
2)    Probably Saboia will be “rewarded” with a promotion to Ambassador rank
   and will be sent to represent Brazil in Burkina Faso; and
            3)  This episode should produce a great screenplay and be made into a movie.

            On Monday, Senator Ferraço delivered a speech to the Senate floor where he praised the actions taken by Eduardo Saboia and warned Itamaraty not to “punish” him for his “heroic initiative”.  

            Although Itamaraty had requested that Saboia not give any press interviews, because his name was formally cited in the Foreign Ministry note disclaiming any knowledge of Senator Molina’s escape that had been articulated by Saboia, he decided to give an exclusive interview with the TV Globo “Fantástico” Sunday evening program explaining his point of view.  He explained that in truth he did not have to formally ask authorization from Itamaraty because the Senator’s life was in danger and his decision was of a “humanitarian” nature”.  

            This episode “boiled over” on Monday and that afternoon, Foreign Minister Antonio Patriota submitted his letter of resignation personally to Pres. Dilma Rousseff.  Apparently, this was the “last straw” from Dilma’s point of view – because the press has cited several cases of her “dissatisfaction” with Patriota’s performance (or lack thereof) over the past year-and-a-half.  She feels that he is “weak”, indecisive, and does not “command” the Foreign Ministry very well.

            BUT in essence, Patriota was “kicked upstairs” to be Brazil’s Ambassador to the UN, replacing Ambassador Luiz Alberto Figueiredo Machado (58) – Brazil’s current Ambassador to the UN – a “switch”.  Figueiredo arrived in Brasília on Tuesday, 27th August – just in time to accompany Pres. Dilma to the Unasur meeting. 

            Eduardo Saboia met with the Secretary-General (number two) at Itamaraty – Eduardo dos Santos – and with Ambassador Antonio Simões on Monday.  Later that same afternoon, diplomat Eduardo Saboia was “suspended” from his post in La Paz – very obviously the Bolivian government would not allow him to return.  In addition, Itamaraty decided to form a commission of three diplomats to investigate Saboia’s participation in this case.  Depending on the result, this investigation might be transformed into a disciplinary procedure.  The latter might result in a simple oral admonishment or to Saboia being fired. 

            However, the Brazilian press quickly discovered that “informally” the Bolivian government had suggested that Brazil consider the exit of Senator Molina by land, but without a “safe-conduct” pass and that his car might be attacked (by drug traffickers??).  Itamaraty did not consider this “option” as viable (too risky), but in the end, Eduardo Saboia decided on that “risky option”.

            Formally, the Bolivian Foreign Minister “complained” about this episode and asked Brazil to “extradite” Senator Molina back to Bolivia.  Of course this will not happen. 

            It remains to be seen, how Itamaraty will “treat” Eduardo Saboia.  If he suffers any “visible punishment”, Senator Ricardo Ferraço will be quick in his defense – as will be the Brazilian media.

                        è    Stay tuned!!!! 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A frase do mes: embaixadores politicos - Francisco Seixas da Costa

Percorrendo o blog do meu amigo e colega, duplamente (de blog e de carreira), Francisco Seixas da Costa, Duas ou Três Coisas..., caí num post sobre o fato de não haver, atualmente, na diplomacia portuguesa, nenhum embaixador político, ou seja, de fora da carreira, o que por acaso também era a situação do Brasil, até o início do atual governo, quando assumiu um técnico reconhecido na nossa representação junto à AIEA, em Viena.
Mas, de sua postagem retiro a seguinte frase, que creio se aplicar também ao caso do Brasil:

...se era para selecionar incompetentes, tínhamos já por lá alguns, não era necessário ir procurá-los fora...

Na mosca...
Paulo Roberto de Almeida

Uma lagrima para... Gilmar: o grande goleiro do Brasil...

Creio que nunca postei, neste blog, qualquer coisa relativa ao futebol, e a razão é simples: não torço para nenhum time, e só um pouco para a seleção, nos grandes embates internacionais. Não me perguntem qualquer coisa sobre futebol que eu não sei dizer. Por isso tomo de empréstimo ao caro colega blogueiro e diplomata português, Francisco Seixas da Costa, este post em homenagem ao Gilmar, grande goleiro de meus únicos 4 ou 5 anos de interesse pelo futebol, dos 8 aos 12 anos: só tardou duas Copas, da Suécia e do Chile, nas quais o Brasil foi campeão. Como todo brasileiro, torci pela seleção, mas logo em seguida enveredei pelas leituras políticas e lá deixei o futebol de lado.
Mas, Gilmar sempre foi minha referência de futebol, mas até, talvez, do que Pelé, muito cultuado por todos.
O goleiro é um solitário, que leva muita ingratidão da torcida, mas não deixa de ser um heroi.
Minha homenagem ao Gilmar, graças ao Embaixador Seixas da Costa...
Paulo Roberto de Almeida

Francisco Seixas da Costa

Há semanas, desapareceu Djalma Santos, um dos mais fantásticos defesas laterais direitos da história do futebol mundial. 

Ontem, saiu de cena Gilmar, o "goleiro" desse "time" histórico que, (quase) sem Pelé, ganhou a "copa" do Chile em 1962, comigo, deste lado do Atlântico, nos meus 14 anos, a "torcer" pelo "escrete canarinho", que sei de cor-e-salteado, graças a "A Bola", ao "Record" e ao "Mundo Desportivo", que então consumia avidamente (hoje, sei lá porquê!, sou incapaz de pegar num jornal desportivo). Aqui deixo esse "dream team" da minha memória: Gilmar; Djalma Santos, Mauro e Nilton Santos; Zito e Zózimo; Garrincha, Didi, Vává, Amarildo e Zagalo.


Nele, Gilmar, era um génio no "gol", dando imensa confiança à "zaga", com um excecional tempo de saída nos "escanteios" e com uma rapidez fabulosa na reposição da bola em jogo, com "tiros de meta" que atravessavam o terreno. Começou por ser um herói da "baixada santista", para se tornar num herói do Brasil. E, mais tarde, de Vila Real, como se vê... 

Brasil: o mito da politica monetaria (BC) responsavel - Alexandre Schwartsman

Alexandre Schwartsman
Blog Mão Visível, 21 de Agosto de 2013

Sempre gostei de mitos. Culpa de Monteiro Lobato, que também gostava e fez questão de educar mais de uma geração acerca deles. Mitos são importantes para a narrativa de uma nação ou grupo de pessoas em busca de uma identidade, mas, a despeito da sua importância (ou precisamente por conta dela), não é aconselhável comprá-los a valor de face.

Digo isto porque estamos em meio ao processo de criação de uma narrativa com todas as características de mito sobre a condução da política monetária no país, que também não deve ser tomada como verdade, ainda que sirva para acariciar os egos da diretoria do BC.

A narrativa pode ser resumida da seguinte forma.

Em meados de 2011 o BC percebeu, antes de todos, que o mundo passaria por forte desaceleração, com implicações negativas para a atividade doméstica, mas que – no processo – traria a inflação para baixo. Assim, para evitar o “erro de 2008”, tratou de mudar a mão da política monetária, promovendo um corte vigoroso da taxa de juros.

Ao mesmo tempo, porém, gestor responsável que é, o BC também procurou garantias que a política fiscal – ao contrário do ocorrido em 2009 e 2010 – se manteria austera, abrindo espaço para a queda sustentada da Selic. E, com base nestas garantias, reduziu a taxa de juros de 12,50% a.a. para 7,25% a.a. entre julho de 2011 e outubro de 2012. Ao final do ciclo, alertou ainda que “a estabilidade das condições monetárias por um período suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação à meta, ainda que de forma não linear”.

A inflação, porém, não convergiu à meta. Pelo contrário, mantém um semblante de queda apenas por conta de intervenções governamentais nos preços, que irão nos custar ainda mais caro do que hoje. A culpa, contudo, não é do BC, mas do governo, que abandonou o compromisso com a austeridade fiscal, deixando o problema nas mãos do Copom, que agora, ainda o gestor responsável, corre atrás de um prejuízo que não causou.

É uma narrativa edificante. Pena que não sobreviva aos fatos.

Sim, a política fiscal foi (e ainda é!) expansionista, mas isto era visível pelo menos desde meados de 2012. O superávit primário, livre da contabilidade criativa, já vinha em queda desde o primeiro trimestre daquele ano e o próprio cálculo do BC acerca do “resultado estrutural do governo geral” reforçava esta percepção.

Apesar disto o BC persistiu em sua política de redução de juros até outubro e manteve até janeiro deste ano a referência à “estabilidade das condições monetárias”, muito embora já em dezembro tivesse (finalmente!) notado que a política fiscal mudara de “neutra” para “expansionista”.

Posto de outra forma, a forte deterioração fiscal observada ao longo do ano passado não representou para o BC, em momento algum, obstáculo ao afrouxamento da política monetária. Invocá-la agora como motivo para a piora da inflação, ainda que seja verdade, representa uma tentativa oportunista do BC evitar reconhecer sua responsabilidade no processo.

A verdade é que o BC errou e não foi pouco. Seu diagnóstico, muitas vezes repetido, que atribuía ao ambiente externo um papel desinflacionário, revelou-se equivocado. Sua atuação no mercado cambial, cedendo às pressões do Executivo para produzir um dólar mais caro, acabou reforçando as pressões inflacionárias. Sua insistência em ignorar as expectativas crescentes de inflação exacerbou o problema, pondo em xeque a credibilidade conquistada com muito esforço em anos anteriores.


Agora o BC insiste em falar grosso, como se o tom de voz pudesse reconquistar a credibilidade perdida. Não pode. Mais do que discurso, o que se espera do BC é que mostre um lampejo de independência e tome ações concretas para trazer a inflação de volta à meta. Reconhecer seus erros ao invés de tentar salvar suas reputações pessoais, seria um primeiro, e crucial, passo neste sentido.

Estado Plurinacional da Bolivia vs Brasil, ou vs Senador Roger Pinto, ou vs outras coisas...

Notas y Comunicados de Prensa, 26/08/2013
CONFERENCIA DE PRENSA DEL CANCILLER DEL ESTADO PLURINACIONAL DAVID CHOQUEHUANCA EN RELACIÓN AL CASO ROGER PINTO
Muchas gracias, buenos días, gracias por acudir a esta conferencia.
El sábado por la tarde recibimos una comunicación de Brasil, donde nos confirman oficialmente que el senador Roger Pinto se encontraría en territorio brasileño, en ese momento indican ellos mismos que desconocían la circunstancia de la salida de la Embajada del Brasil en Bolivia.
El día domingo, 25 de agosto emiten un comunicado, mencionando que ellos desconocen los hechos de esta huída y nos indican en ese comunicado que llevarán adelante un proceso de investigación.
Bolivia hace conocer mediante un Comunicado de Prensa que el señor Pinto salió ilegalmente del país con destino al Brasil, convirtiéndose en un prófugo de la justicia boliviana, ya el señor Pinto violó la normativa nacional y las normativas internacionales.
Decimos que violó la normativa internacional, porque sale sin el salvoconducto, tenemos dos convenciones, la Convención Interamericana y la convención de ONU que fueron violadas en esta huida del señor Pinto.
Cuando decimos también que violó la normativa internacional, decimos esto porque pesa en su contra cuatro arraigos y mandamientos de aprehensión que le impedían salir del país, tal como lo establece el Código de Procedimiento Penal.
Brasil incumplió la Convención de Caracas, sobre asilo diplomático de 1954, que en su Artículo 3, establece que no es licitó dar asilo a personas que se encuentran inculpadas o procesadas ante criminales ordinarios competentes o delitos comunes o estén condenados por tales delitos. El señor Pinto tiene en su contra procesos penales, por delitos comunes de corrupción, no es un perseguido político, prueba de ello es que la justicia ordinaria dictó una sentencia condenatoria en el caso Zofra – Universidad, donde se habla de 11 millones de bolivianos de daño económico.
Estos procesos que tiene el señor Pinto fueron iniciados por el Gobierno Departamental de Pando, la Contraloría General del Estado, la Procuraduría y tiene acompañamiento del Ministerio de la Transparencia, incluso estos procesos están siendo seguidos por ciudadanos particulares, lo que demuestra que es la justicia la que actúa con total independencia a través del Ministerio Público. Ningún proceso viene del Poder Ejecutivo.
Al no contar con la emisión del salvoconducto, se violó la Convención del Asilo y el derecho internacional en cuanto al principio de soberanía de los estados, a su vez como decíamos anteriormente se vulneró la Convención Interamericana de lucha contra la corrupción, que establece que los estados parte, en este caso Brasil y Bolivia dicen que debe facilitarse por todos los medios la persecución, investigación y sanción de delitos comunes de corrupción.
Por todo ello, ante la solicitud del Gobierno de Brasil del salvoconducto, Bolivia en base a ésta normativa, a las convenciones internacionales, Bolivia negó la otorgación del salvoconducto.
Es de conocimiento de las autoridades del Brasil, que el senador Pinto es procesado por los delitos comunes de corrupción y no es un perseguido político, a raíz de la huída del senador Pinto, nosotros emitimos un Comunicado y luego vamos a entregar, estaba citada para las 11.00 la representación diplomática del Brasil, para entregar una nota diplomática, donde expresamos nuestra profunda preocupación, por la transgresión del principio de cortesía internacional y reciprocidad, por ningún motivo el señor Pinto podía abandonar el país sin el salvoconducto, está en la Convención en su Artículo 9.
También indicamos en esta nota diplomática, que se violó los mecanismos de cooperación que existen entre estados establecidos en la Convención Interamericana de la Organización de Estados Americanos y la ONU, por ello a través de esta nota diplomática, solicitamos formalmente a las autoridades del Brasil explicaciones, tienen que explicar, hay varias afirmaciones en diferentes medios de comunicación.
Nosotros necesitamos que Brasil explique oficialmente, formalmente a nuestra comunidad, a Bolivia, a la justicia, a la Comunidad Internacional que necesita conocer cómo se dieron estos hechos, ya que se violó la normativa nacional e internacional.
No puede ser que al amparo de la inmunidad diplomática se transgreda, normas nacionales e internacionales, facilitando en este caso la salida irregular del país del senador Pinto.
Puede ser un mal precedente, no sólo para la justicia boliviana, no sólo para Bolivia, sino para la Comunidad Internacional, si es que nosotros amparados en la inmunidad diplomática vamos a permitir estos actos ilegales.
Digo puede ser un mal precedente, porque amparados en la inmunidad diplomática, entonces podemos llevar droga o traficar armamentos, traficar con personas, es grave lo que pasó, eso estamos pidiendo explicaciones al Gobierno del Brasil.
Muchas gracias.
La Paz, 26 de Agosto de 2013

Brasil-Bolivia, e suas vitimas - Ricardo Noblat

Artigo estranho, provavelmente mal informado, especulativo, sem fatos, apenas suposições. Mas, à falta de esclarecimentos do poder poderoso (que não virão), navegamos com as garrafas que são jogadas ao mar...
Paulo Roberto de Almeida

COMENTÁRIO Blog Ricardo Noblat, 26/08/2013

Esquisito o episódio da chegada ao Brasil do senador boliviano refugiado há mais de 440 dias em nossa embaixada em La Paz. E agora da demissão do ministro Antônio Patriota, das Relações Exteriores.
A operação de retirada do senador da Bolívia foi arriscada se ela de fato ocorreu à revelia do governo Evo Morales.
Foram 22 horas dentro do carro principal da embaixada até a chegada em Corumbá. Fuzileiros navais garantiram a segurança do senador durante a viagem.
Em Corumbá, a segurança coube à Polícia Federal, subordinada ao ministro da Justiça.
É possível que fuzileiros e agentes da Polícia Federal tenham sido mobilizados à revelia dos seus chefes - os ministros da Defesa e da Justiça?
É possível que a fuga do senador fosse apenas do conhecimento do encarregado de negócios da embaixada do Brasil na Bolívia? O posto de embaixador está vago por lá.
E a pergunta mais importante: que ministro teria coragem de se envolver numa operação diplomaticamente tão delicada sem que a presidente Dilma fosse informada? E desse seu aval?
Dilma nunca gostou de Patriota, nunca se deu bem com ele, sempre o tratou mal, às vezes de forma humilhante.
Era preciso entregar alguma cabeça para acalmar o governo boliviano, aparentemente irritado com o que aconteceu.
Se Evo Morales só ficou sabendo da fuga do senador depois de sua entrada no Brasil, é grave. Deixa-o mal diante dos seus governados.
Se ele sabia da fuga e compactuou com ela, não poderá admitir. Pegaria mal.

A demissão de Patriota desmanchará o mal estar sincero ou simulado que separa a Bolívia do Brasil. Mas não porá um ponto final nessa história.

Brasil-Bolivia: quando a moral e' frouxa e a espinha flexivel - Augusto Nunes

Apenas uma imprecisão nesta crônica corrosiva para certos brios deslocados: o senador boliviano já não é mais asilado político, a menos que o governo brasileiro o confirme nesse estatuto, desta vez no território nacional, o que provavelmente não vai acontecer. Ele era asilado político enquanto estava na Embaixada em La Paz; agora, é apenas, segundo os bolivianos, um transfuga, um criminoso fugido, e para os companheiros, um hóspede incômodo, pois vai começar a falar coisas que vão desagradar o governo, ambos os governos companheiros.
Ele vai ser mantido num limbo político, até que a Justiça obrigue o governo (parece que vamos chegar a esse ponto) a definir um estatuto para ele. Vai passar a viver no Brasil, pelo menos temporariamente, e talvez tenha a companhia de um diplomata caído em desgraça, para desgraça do Brasil e do Itamaraty.
Gestos de altivês, de diplomacia ativa, verdadeiros, sem hipocrisia, são raros; gestos de independência verdadeira, são mais raros ainda; gestos de ousadia, no limite da rebeldia são praticamente inexistentes, infelizmente.
Vivemos tempos interessantes, tempos miseráveis, e tempos esperançosos...
Paulo Roberto de Almeida

Augusto Nunes, 26/08/2013

Se conseguisse manter na vertical a espinha dorsal, o chanceler Antonio Patriota estaria celebrando desde sábado, a exemplo dos democratas do mundo inteiro, a chegada ao Brasil de um perseguido político asilado há 15 meses numa representação do Itamaraty — e impedido de dali sair pela arrogância de um tirano de ópera-bufa. Como vive de joelhos, Patriota determinou a divulgação da seguinte nota sobre a libertação do senador boliviano Roger Pinto Molina:
O Ministério das Relações Exteriores foi informado, no dia 24 de agosto, do ingresso em território brasileiro, na mesma data, do Senador boliviano Roger Pinto Molina, asilado há mais de um ano na Embaixada em La Paz. O Ministério está reunindo elementos acerca das circunstâncias em que se verificou a saída do Senador boliviano da Embaixada brasileira e de sua entrada em território nacional. O Encarregado de Negócios do Brasil em La Paz, Ministro Eduardo Saboia, está sendo chamado a Brasília para esclarecimentos. O Ministério das Relações Exteriores abrirá inquérito e tomará as medidas administrativas e disciplinares cabíveis.
A nota de hoje do Ministério das Relações Exteriores reflete a crise moral por que passa a diplomacia brasileira”, retrucou o advogado Fernando Tibúrcio, que defende o parlamentar cassado e caçado por Evo Morales. “Ao invés de proteger e prestigiar um funcionário que deveria ser visto como exemplo, alguém que corajosamente tomou a única medida cabível numa situação de emergência, o Itamaraty optou por jogar Eduardo Saboia aos leões. Pior, inviabilizou a sua volta à Bolívia, por razões óbvias de segurança”.
Tibúrcio constatou que, na ânsia de bajular o lhama-de-franja, o chanceler “não foi capaz nem mesmo de lembrar que a esposa do Ministro Conselheiro Eduardo Saboia, funcionária do Consulado-Geral em Santa Cruz de la Sierra, e os filhos do casal, permanecem na Bolívia”. A nota oficial abjeta confirma que, se dependesse do ministro, a clausura de Pinto Molina se estenderia por muitos meses, ou anos. A sorte do senador é que ainda há no Itamaraty homens que honram o legado da instituição, cultivam valores morais e não desengavetam os direitos humanos apenas quando lhes convém.
“Se tudo deu certo, se uma grave questão humanitária foi resolvida,  foi graças aos funcionários da embaixada”, afirma Tibúrcio. Graças sobretudo à bravura e à altivez de Eduardo Saboia. Segundo o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores e um dos participantes do resgate de Pinto Molina, a vítima de Evo Morales viajou de La Paz para o Brasil acompanhado por Eduardo Saboia e escoltado por fuzileiros navais que integram o esquema de segurança da embaixada. (Nessa espécie de missão no exterior, militares se subordinam não ao Ministério da Defesa, mas ao chefe da representação diplomática).
Na viagem de 22 horas até Corumbá, a 1.600 km de distância, os dois carros com placas consulares que transportaram o grupo passaram por cinco postos policiais antes de alcançar a fronteira da Bolívia com Mato Grosso do Sul. Já em território brasileiro,  Saboia telefonou para Ferraço. “Ele me disse que não tinha como levar o senador  até Brasília”, relata o parlamentar capixaba. “Tentei falar com o presidente Renan Calheiros e com outras autoridades, sem sucesso. Então consegui um avião e fui buscá-lo e levá-lo para Brasília”.
Ferraço confirmou que Sabóia se vinha mostrando crescentemente preocupado com a situação de Pinto Molina: “Ele me disse que advertiu o Itamaraty, porque a situação logo ficaria inadministrável. Molina estava com depressão, sua saúde estava se deteriorando”. Inconformado com o teatro do absurdo, Saboia avisou que, se aparecesse alguma oportunidade, ele próprio trataria de resolver o impasse. “Não sei se o governo acreditou”, diz Ferraço.
Não acreditou, grita  a reação repulsiva dos condutores da política externa da cafajestagem. Também surpreendido com a viagem rumo à liberdade do senador que ousou enfrentá-lo, Evo Morales determinou ao Ministério das Relações Exteriores que rebaixasse Pinto Molina a “fugitivo da Justiça”. Se pudesse, o chanceler de Dilma Rousseff já teria deportado o perseguido.  Agora é tarde: por enquanto alojado na casa de Ferraço, Roger Pinto Molina é um asilado político que o governo está obrigado a proteger.

Os democratas venceram mais uma. E terminaram o fim de semana estimulados pela reafirmação de que um Eduardo Paes Saboia vale mais que milhares de antonios patriotas.

Brasil-Bolivia: "o MRE esta' de luto" - Celso Arnaldo Araujo

Não deixa de ser uma bela homenagem, a despeito de várias imprecisões factuais, este texto de um desconhecido cronista dos nossos tempos do "nunca antes".
Junto-me a ele para ratificar a ideia de que o diplomata salvou a honra da nação, que aliás está de luto, há muito tempo: a inteligência morreu, só sobraram os fraudadores da história...
Paulo Roberto de Almeida

CELSO ARNALDO ARAÚJO
Augusto Nunes, 26/08/2013

Ressalvadas as devidas proporções geopolíticas, a operação que culminou com a libertação do senador Roger Pinto Molina de seu intolerável cativeiro de 455 dias num cubículo da Embaixada do Brasil na Bolívia tem notáveis semelhanças com a história real que inspirou Argo ─ Oscar 2013 de melhor filme. Com o jovem ministro-conselheiro Eduardo Saboia no papel do agente de inteligência interpretado por Ben Affleck, que comandou o resgate de seis americanos escondidos na Embaixada canadense em Teerã, em 1979. Evo Morales como o desprezível lhama-aiatolá que assinou a sentença de morte do perseguido político. E os homúnculos que hoje comandam o Itamaraty no figurino dos beleguins iranianos feitos de pateta na fuga.

O “rigoroso inquérito” anunciado pelo atual ministro das Relações Exteriores, bravata em diplomatiquês de boteco de Brasília, contrasta com a entrevista serena, em português de gente decente, do ministro Saboia ao Fantástico ─ que, a começar pela presidente Dilma, sempre se jactando de seu inventário de lutas pelas melhores causas, deveria ser exibida repetidamente, como lição de casa, aos altos funcionários públicos que se dizem servidores da pátria e dos grandes propósitos humanos.
Eduardo Saboia arriscou sua vida numa perigosíssima jornada por terra até Corumbá; sua carreira, que provavelmente será ceifada depois do episódio; e a própria família, que ficou em La Paz, a metros do malandro que se faz de chola ─ para solucionar, radicalmente, um impasse interminável que o governo brasileiro não dava a menor mostra de querer resolver. Escoltou o senador Roger ao Brasil, para o asilo a que tem direito.
Disse o diplomata, ao chegar a Brasília:
─ Eu escolhi a porta estreita e lutei o bom combate. Eu não me omiti. Eu optei pela vida e salvei a honra do meu país, que eu defendo sempre.
Mais:
─ Eu escolhi a vida. Eu escolhi proteger uma pessoa, um perseguido político, como a presidente Dilma foi perseguida.
É bastante duvidoso que Dilma avalize com esse mesmo sentido o resgate cinematográfico engendrado pelo ministro Saboia. Não é sua especialidade colocar em prática o que diz que pensa, em termos de valores humanos superiores. O mais provável é que Patriota faça sua cabeça, culminando com a punição de Saboia por alta traição.
No fim de semana, de qualquer forma, Dilma estava muito ocupada lendo a nota de pesar que o pessoal da Secretaria de Comunicação preparou para ela lamentar a morte, quase simultânea, de dois campeões de 58, De Sordi e Gylmar. Uma maria-mole para quem adivinhar a abertura da nota. Na mosca:
─ O futebol brasileiro está de luto.

O Ministério das Relações Exteriores também. Ou nós com relação a eles.

Israel’s Reshuffled Strategic Deck - Ilan Berman

Israel’s Reshuffled Strategic Deck

Ilan Berman
In 2012, amid the ongoing ferment of the so-called “Arab Spring,” officials throughout the Israeli government were expressing deep concern about their country's strategic position, and the potential for conflict on a multitude of fronts. Today, by contrast, Israel's security establishment can best be described as cautiously optimistic about its geopolitical situation, and with good reason.
The first is Egypt. The late June ouster of Egyptian President Mohammed Morsi’s Muslim Brotherhood-dominated government has restored a measure of normalcy on Israel’s southwestern border, notwithstanding the country’s current political spasms. Israeli officials pin Morsi’s failure, above all, on the pronounced deterioration of the domestic economic situation on his watch, which in turn mobilized both local activists and the country’s powerful military establishment. Whatever the reason, the outcome is a net benefit for Israel, since during its tenure Morsi’s government had staked out a very public anti-Israeli and anti-Western position. With its collapse and subsequent replacement with a military-dominated caretaker regime, Israeli policymakers now see renewed possibilities for engagement and strategic dialogue with Cairo.
To be sure, the Sinai Peninsula remains a source of continuing concern. The desert area separating Israel from Egypt, which descended into lawlessness and criminality with the end of the Mubarak regime in 2011, remains a locus of instability today. To ameliorate this situation, Israel has permitted Egypt to reinsert forces into the previously-demilitarized territory over the past year, where they now are waging a pitched battle against criminal elements and radical irregulars. Overall, however, Israel’s government appears comfortable with how the Egyptian military is handling the situation, and willing to allow Cairo to take the lead in reestablishing order in the Sinai.
Moreover, the effects of Egypt’s transformation are being felt far beyond Israel’s southwestern border. Just as a rising tide lifts all boats, there are clear signs that the failure of the Muslim Brotherhood in Egypt has diminished the appeal of Islamist forces throughout the region. The rule of King Abdullah in neighboring Jordan, for example, appears more stable than it was just a short time ago, as Islamist elements within the Hashemite Kingdom have been forced to limit and temper their political ambitions in light of the Brotherhood’s collapse. In North Africa, too, salutary changes have taken place in the political outlook and ambitions of Islamist parties in places like Tunisia and Algeria.
The result has been a perceptible shift in the direction of the “Arab Spring.” The collapse of the Muslim Brotherhood government in Egypt, Iran’s loss of legitimacy (a function of its stubborn support for the Syrian regime), and the current domestic troubles prevailing in Turkey have left the countries of the region without a workable political and ideological model to follow. It is not clear what comes next, but there is a clear sense in Jerusalem of both expectancy and of opportunity for Israel to navigate a strategic environment that has gradually become more hospitable than it was previously.
The Syrian civil war likewise could turn out to be advantageous for Israel. On the surface, the two-and-a-half year-old conflict taking place between the Assad regime and its domestic opposition presents two tactical problems for its southern neighbor. The first is the potential for Syria’s disorder to spread and penetrate Israel's northern border. The second is that Syria's arsenal of chemical and biological weapons could continue to be used by the regime, be disseminated to third parties (such as Hezbollah in Lebanon), or be captured by opposition forces. But Israeli steps—from the ongoing reinforcement of the Israeli Defense Forces’ Northern Command to the strategic bombing of suspected arms depots on Syrian soil—have served to limit and contain destabilizing activity aimed specifically at Israel. Meanwhile, the hostilities taking place there have helped erode the strategic capabilities of two parties hostile to the Jewish state (the Assad regime itself, and Islamist elements of the Syrian opposition), bolstering the country’s security in the process.
Meanwhile, renewed movement on the Palestinian front could provide Israel with greater mobility—and credibility—in the Muslim world. Restarting the moribund negotiations between Israel and the Palestinian Authority has become a top priority of the Obama administration in its second term. And while this effort, a brainchild of Secretary of State John Kerry, has garnered significant criticism both in Washington and abroad, the beginnings of a new diplomatic track are now visible. Israel's motivations for participating in these talks are both simple and understandable. Policymakers in Jerusalem do not harbor any illusions about the chances for success, since the government of Palestinian Authority president Mahmoud Abbas now lacks both the relevance and the legitimacy to engage in such negotiations. However, it is nonetheless clear that the Palestinian issue still resonates in the region, and must be addressed in order for them to make progress on other fronts. As such, Israel’s participation is designed to remove the appearance of intransigence, and facilitate dialogue with regional states on other issues (like Egypt, Syria and Iran).
One thing, however, has not changed. The nuclear program of the Islamic Republic of Iran remains the paramount strategic concern preoccupying policymakers in Jerusalem. Israeli officials are united in their assessment that, despite the widening economic sanctions that have been levied to date against the Iranian regime by the United States and Europe, Iran’s nuclear development continues to both accelerate and mature. As a result, they say, Israel is likely to enter a zone of decision in late 2013 or early 2014 regarding next steps vis-à-vis the Islamic Republic—including, potentially, the use of force to neutralize its nuclear program.
Whether they do is very much a function of Western seriousness. The June election of Hassan Rouhani to the Iranian presidency has reconfigured the international political consensus over pressure on Iran, and made some sort of diplomatic engagement well-nigh inevitable. But the potential for progress on this front, Israeli officials believe, is limited, because Rouhani lacks the power necessary to affect real change on any of the three issues that could materially influence Iran's relationship with the West: 1) Iran’s nuclear ambitions, 2) Iranian support for the Syrian regime, or 3) Iran’s support for Lebanon's Hezbollah militia.
As a result, they insist, engagement with Iran, if and when it does occur, needs to be short, bounded, and conditioned upon real progress on the part of the Iranian regime. Otherwise, an open-ended negotiating process will provide additional time for the Islamic Republic to make progress on the nuclear front, with potentially devastating consequences.
Israel’s improved position is, by its nature, anything but permanent. Destabilizing developments, such as a further intensification of the current confrontation between Egypt’s government and Islamist forces, or increasingly widespread Syrian use of chemical weapons, could rapidly and adversely affect Israeli security. So could America’s eroding position in the region, which has called into question U.S. strategy in the region—and by extension, the durability of its partnerships with regional allies, Israel included.
Nevertheless, for the moment, Israel’s strategic situation is considerably better than at any time in the immediate past. That this is so is a testament to the combination of skill and luck with which Israel has managed to navigate the turmoil now wracking the region it inhabits, at least so far.
Ilan Berman is Vice President of the American Foreign Policy Council in Washington, DC. He has just returned from a fact-finding mission to Israel.

Brasil-Bolivia: primeira vitima do imbroglio, o chanceler brasileiro - Estadao

Patriota é demitido após fuga de senador boliviano para o Brasil

Luiz Alberto Figueiredo Machado assumirá o Itamaraty

26 de agosto de 2013 | 20h 10
Tânia Monteiro - Agência Estado
BRASÍLIA - Antonio Patriota não é mais o ministro das Relações Exteriores do Brasil. A saída dele do cargo foi confirmada há pouco pelo porta-voz da Presidência da República, Thomas Traumann.
Patriota é demitido após senador Pinto fugir da Bolívia - Dida Sampaio/Estadão
Dida Sampaio/Estadão
Patriota é demitido após senador Pinto fugir da Bolívia
Quem assumirá o comando do Itamaraty será o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, que até agora era o representante permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU), informa o Palácio do Planalto. Patriota, por sua vez, irá para a representação junto à ONU. Segundo Traumann, a presidente Dilma Rousseff agradeceu o empenho do ministro Patriota e o indicou para o cargo na ONU.
Patriota deixa o cargo após o episódio envolvendo a chegada ao Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina, que estava na embaixada brasileira em La Paz desde maio de 2012. Pinto chegou ao Brasil no sábado 24, após uma viagem de 22 horas em veículo diplomático brasileiro. O caso gerou impasse entre Brasil e Bolívia. Pinto é opositor do presidente Evo Morales.

Medicos cubanos: a linha de frente e os comissarios do povo - Reinaldo Azevedo

Lá vou eu, outra vez, com esse "ser asqueroso", como o classificam os companheiros amigos das ditaduras. Lá vou postar mais um artigo desse reacionário exemplar, desse jornalista amigo do imperialismo e inimigo do povo.
Pois é: os companheiros não escrevem nada de interessante e a gente fica tentado a postar coisas que nos fazem refletir.
Este artigo abaixo, por exemplo, me fez pensar numa outra situação extrema, de outra época e outro lugar, mas que conserva paralelismos com a triste situação dos médicos cubanos, sem as mesmas consequências trágicas, pelo menos.
Refiro-me à resistência heróica do povo soviético, ou russo, contra a invasão hitlerista, e a luta de morte que se seguiu, pelo menos desde o verão de 1941 até o inverno de 1943, quando, depois da batalha de Stalingrado, a situação se inverteu, e os russos passaram à ofensiva.
Pois bem, a resistência heróica não era tão heróica assim, pois detrás de cada linha de frente dos soldados russos, havia um agente do povo, um "comissário do povo". Ele ficava com um revólver na mão, não para se defender dos alemães, mas para controlar os soldados: que recuasse, levava um tiro ali mesmo, sem qualquer piedade. Os soldados tinham então de sempre marchar em frente, contando que, com alguma sorte, escapariam das balas nazistas e conseguissem então sobreviver. Uma única certeza: se recuassem, estavam mortos, se avançasse poderiam sobreviver, com alguma sorte. Pois foi assim que a União Soviética ganhou a guerra da Alemanha nazista, com "apenas" 20 milhões de mortos, entre soldados e civis.
Os cubanos tem sorte de não terem nazistas à sua frente, mas têm os comissários do povo à sua retaguarda, que estão sempre vigiando para que eles não escapem da linha do partido, que na verdade é a da ditadura pessoal dos irmãos Castro. Eles não tem vontade própria, apenas a vontade da ditadura.
Isso me lembra uma famosa piada cubana, a respeito do corte de cana. Como não tem trator naquela ilha maravilhosa, todos são chamados a participar do corte de cana, "la zafra", feita na base do facão, como nos tempos coloniais no Brasil, e ainda em algumas partes do Brasil sem mecanização. No caso de Cuba é tudo na mão, mesmo.
Pois os cubanos costumam brincar com essa participação na safra -- esses cubanos são gozadores, como os brasileiros, que adoram fazer piada de tudo -- e dizem o seguinte: "Hermano, la participación en la zafra es voluntaria, pero la voluntad es obligatoria".
Pois é, parece que para os médicos é mais ou menos nas mesmas bases...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 26/08/2013

É um despropósito absoluto o que se passa diante do nariz do Congresso Nacional, do Poder Judiciário e do Ministério Público. Ou esses entes reagem, ou, então, seus integrantes podem se candidatar a protagonistas de uma nova série dos “Bananas de Pijama”. Num post do dia 21, informei aqui que, a exemplo do que ocorre com os profissionais que atuam na Venezuela, no Equador e na Bolívia, os médicos continuariam cubanos a obedecer às ordens do regime cubano. Acusaram-me de estar fantasiando. Eis aí. A determinação (ver post anterior) da vice-ministra da Saúde de Cuba, Márcia Cobas, que proibiu seus escravos de interagir com os demais médicos, mantendo-os confinados em instalações militares, viola as leis brasileiras. Quem é esta senhora para vir dar ordens no Brasil. Sim, meus caros: o Brasil, nesse particular, abre mão de uma prerrogativa soberana. Todo estrangeiro que ingressa legalmente no país, como é o caso, tem assegurado o seu direito de ir e vir. Submete-se à lei brasileira, a 6.815 , que regula a sua permanência em nosso território. E só. Não cabe ao governo cubano, sob nenhuma circunstância, meter o bedelho. A tal Márcia Cobas é que viola a lei.
Que fique claro: essa ingerência do governo cubano não é temporária; não está sendo praticada apenas nessa fase Inicial, que marca a chegada dos primeiros médicos. Pelo tempo que os cubanos ficarem aqui, estarão sujeitos à chefia de representantes da ditadura. Junto com os médicos, chegam os capitães do mato, chegam os seus algozes, que os vigiam de perto. Em se repetindo o padrão vigente na Venezuela, são verdadeiros agentes da polícia política da ilha. Alguns desses “coordenadores” são médicos; outros não; são burocratas do Ministério da Saúde de Cuba e do Partido Comunista. Qualquer insatisfação que o governo tenha com os profissionais, ela terá de ser encaminhada a esses intermediários. Também é a ditadura que decide quando é hora de um médico sair e de outro chegar. Na Venezuela, os agentes cubanos retêm os passaportes dos médicos.
O que mais é necessário para caracterizar trabalho análogo à escravidão, ainda que boa parte dos profissionais, quando conseguem se expressar, falem como militantes políticos? Eles não têm saída. Suas respectivas famílias ficaram na ilha. Mesmo que quisessem desertar, não poderiam. Se decidirem, ainda assim, pedir para ficar no Brasil, Luís Inácio Adams, o mais novo agente do serviço secreto cubano, já avisou: serão “devolvidos”. Sim, ele empregou a palavra “devolvidos”. Adams decidiu, sozinho, exercer o papel do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados, do Ministério da Justiça e do Poder Judiciário). No Brasil, cubano é “coisa”, não é gente. Tarso Genro, como vocês se lembram, é um emérito devolvendo de gente para as ditaduras e um entusiasmado importador de terrorista — o que contou com o apoio de Adams.
Um escândalo de proporções inimagináveis está se consolidando, e noto que setores importantes da imprensa estão deixando de lado a questão essencial para começar a cuidar dos fru-frus do jornalismo de amenidades. Imaginem um país governado por um partido considerado “de direita”, que importasse médicos, nessas condições, negociando com outro governo igualmente de direita. As esquerdas demonstram, assim, o que entendem por civilização. Esse é o seu devir, esse é o seu horizonte. Na sua utopia, cada homem é funcionário do Estado e faz o que o partido mandar.
Cadê as vozes de protesto? Restringem-se quase exclusivamente à área médica. Raciocínios indecorosos são feitos à luz do dia, sem vergonha nem medo de ser feliz. No “Entre Aspas”, o senador Humberto Costa (PT-PE) anunciou que o programa já estava em andamento havia um ano e meio. A oposição deveria ter estrilado na hora, denunciando, então, as mentiras que foram contadas ao país. Tucanos estão muito ocupados em seu esporte predileto — tiro aos tucanos! — para se interessar por isso para valer.

E a OAB? Os digníssimos não viram nada, até aqui, que agrida frontalmente os direitos humanos? Vai ver alguns dos doutores estão muito ocupados oferecendo proteção aos black blocs para se ater a um governo que decidiu entrar no comércio de carne humana.

Brasil-Bolivia: "o ponto mais baixo da diplomacia brasileira" - Reinaldo Azevedo

"Ah, mas é o Reinaldo Azevedo, esse ser asqueroso, contrário a tudo o que o governo faz e diz, e que está sempre criticando o governo progressista, aliado dos conservadores, da reação, do imperialismo..."
Que coisa chata, hem?
Ter de transcrever um "ser asqueroso" apenas porque os bravos companheiros não dão um pio em torno do assunto...
Estou pronto a transcrever todas as posições. Aliás, já o fiz, com as declarações do governo boliviano, que o tal senador não é flor que se cheire, que roubou, que corrompeu, que tem mais de 20 processos, que já foi condenado, coisa e tal.
Pois é: esse senador não é flor que se cheire.
Bom mesmo é o governo boliviano, nossos aliados estratégicos (até onde se sabe).
Parece que a novela vai demorar um pouco.
Vou transcrevendo, o que for interessante. A favor, ou contra, ou nem-nem, tudo o que for interessante, posso postar neste espaço.
Um leitor bem informado, vale por dois. Aqui, geralmente vale por três, pois sempre tem comentários iniciais...
Com desculpas por ocupar espaço antes da leitura principal.
Vamos a esse "ser asqueroso e reacionário"...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 26/08/2013

O senador boliviano Roger Pinto Molina estava asilado havia 15 meses na embaixada do Brasil na Bolívia. O governo de Evo Morales o acusa de corrupção; ele se diz um perseguido político e sustenta que o processo é só uma tentativa de dar fachada legal à perseguição, o que é verossímil. É o que faz o governo do orelhudo Daniel Ortega, na Nicarágua. É o que faz o governo de Nicolás Maduro, o “cavalo” de Hugo Chávez, na Venezuela. É o que faz o governo de Rafael Correa, o acoitador de terrorista, no Equador. É o que faz o governo da “Loca” de Buenos Aires, Cristina Kirchner. É o que faz, como é sabido, o governo do índio de araque na Bolívia. E, ora, ora, é o que começou a fazer o governo de Dilma Rousseff no Brasil, por intermédio do Cade, aquele órgão federal dirigido por um peixinho de Gilberto Carvalho, que faz acordos de leniência para punir supostos atos de corrupção apenas em estado governado por um partido adversário, embora os delatores mantenham negócios bilionários com o governo federal. Trata-se de uma orientação, de uma escolha, de uma determinação organizada em foro especial: o Foro de São Paulo. A diretriz tem dois pilares: a) usar as eleições para impor leis que eliminem as forças de oposição; b) usar a Justiça e os órgãos de vigilância do estado para eliminar lideranças do “campo reacionário”.
A história ainda está um pouco confusa. Em princípio, a gente tem certa dificuldade de acreditar que o diplomata Eduardo Saboia, que respondia pela embaixada, tenha organizado a fuga de Molina para o Brasil sem o conhecimento do Itamaraty. Mas parece que as coisas se deram assim mesmo. A irritação de Antonio Patriota, o ministro das Relações Exteriores que imprimiu as suas digitais no trabalho escravo cubano, contam-me, é genuína. Também a presidente Dilma estaria furiosa. Pois é…
A situação do senador boliviano na embaixada era mais uma de muitas das situações difíceis que o índio de araque (“o meu querido Evo”, na expressão de Lula) armou para o Brasil. Desde a sua chegada ao poder, tornou-se um notório criador de casos — e o governo brasileiro sempre a lhe passar a mão na cabeça: quando roubou, com armas na mão, a refinaria da Petrobras; quando impôs, unilateralmente, um reajuste no preço do gás; quando criou novos campos de folha de coca na fronteira com o Brasil; quando decidiu legalizar os carros brasileiros aqui roubados e transferidos para seu país; quando não moveu um palha (muito pelo contrário) para libertar os corintianos detidos no país. “Meu querido Evo” ganhou ainda um presentinho do Brasil: financiamento do BNDES para uma estrada que terá um uso principal: transportar folhas de coca. Mais: como sabe a Polícia Federal, a Bolívia não move uma palha para combater o tráfico de drogas na fronteira. Nada! Negar-se a dar o salvo-conduto a Molina, mantendo-o indefinidamente confinado na embaixada, era só mais uma das patranhas de Evo.
Saboia diz em entrevista que o seu hóspede forçado está com depressão; que isso é atestado por laudo médico e que corria o risco de se suicidar na embaixada. Não dá para saber a gravidade do quadro, se isso é verdade ou não. O que se sabe, em regra, é que o estresse do confinamento pode levar as pessoas a fazer tolices. O fato é que Saboia, tudo indica, decidiu correr o risco e resolveu por sua própria conta o que este incrível Itamaraty — depois de Amorim, não pensei que pudesse ficar menor, mas ficou — não resolvia. Segundo o diplomata, as negociações não eram para valer, e a comissão bilateral criada mal conversava a respeito.
Cabia a Saboia manter Molina sem contato com o mundo exterior. Atuava como uma espécie de carcereiro. Por alguns dias, vá lá. Por mais de um ano? Em entrevista à Folha, ele deixa claro que não recebia orientação nenhuma. Reproduzo trechos de sua fala:
“Veja bem: nós, da embaixada, mandamos muitas comunicações sugerindo várias formas de ação. A única coisa que existia [até agora] era um grupo de trabalho do qual a embaixada não faz parte. Nós éramos apenas informados. (…) você imagina ir todo dia para o seu trabalho e você tem uma pessoa trancada num quartinho do lado, que não sai. E você que impede ela de receber visitas (…). Falavam [no Itamaraty] que era questão de tempo. Daí eu perguntava da comissão, e as pessoas me diziam: ‘olha, aqui é empurrar com a barriga’. Ninguém me disse isso por telegrama, eles não são bobos. Mas eu tenho os e-mails das pessoas, dizendo ‘olha, a gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que estão negociando e a gente finge que acredita’”.
Retomo
Eis aí a face mais crua da atual diplomacia brasileira, tomada pela ideologia, pela vigarice intelectual, pela mistificação. Também o Itamaraty passou a funcionar como uma espécie de polícia continental a serviço dos bolivarianos. É evidente que isso deveria ter sido resolvido de outro modo. O Brasil não tinha, é claro, como obrigar a Bolívia a conceder o salvo-conduto, mas que diabo? Dilma não conseguiu resolver a questão num bate-papo com Evo, o seu amigo de fé, irmão, camarada? Que coisa, não? A turma de Evo nem soltava os brasileiros presos em território boliviano nem permitia que um boliviano, confinado em território brasileiro, ganhasse a liberdade. Esse é o governo sonhado por Chico Buarque: fala grosso com Washington e fino com La Paz! O desfecho, ainda que tivesse contado com o suporte do Itamaraty (e não parece mesmo ter sido o caso), seria vergonhoso.
Em outras situações
Em outras situações, no entanto, Dilma e a nossa diplomacia decidiram mostrar as garras e arreganhar os dentes. Como esquecer o caso de Honduras? Lula e Hugo Chávez, com o entusiasmo do Itamaraty, tentaram levar a guerra civil àquele país, que depôs, segundo as regras de sua Constituição, um psicopata. Manuel Zelaya buscou refúgio na embaixada brasileira em Tegucigalpa e, contrariando as leis internacionais, usou o prédio como base de resistência: concedia entrevistas e pregava a deposição do governo legal. Quando deixou o prédio, mandou entregar uma carta de agradecimento a… Lula.
O Brasil demorou para reconhecer o governo eleito democraticamente. Num episódio não menos escandaloso, puniu o Paraguai — que depôs Fernando Lugo também de modo democrático, segundo as leis do país —, suspendendo-o do Mercosul. Aproveitou o ensejo para integrar a Venezuela ao bloco. Entenderam? O Brasil acusou o Paraguai de transgredir regras democráticas e abrigou a Venezuela! Antes, não custa lembrar, Banânia cobrou que a OEA punisse a Colômbia por ter atacado uma base terrorista das Farc em território equatoriano, na fronteira. Quando ao fato de o Equador abrigar os terroristas, não disse uma palavra.
Esse Itamaraty, que agora justifica o trabalho escravo dos cubanos no Brasil, é o ponto mais baixo da história da diplomacia brasileira, que é, sim, cheia de méritos. Quando vi aquele senhorzinho se fazendo de indignado porque o governo do Reino Unido reteve um brasileiro que transportava documentos que tinham sido roubados do governo americano, perguntei: “Quem é esse cara?”.
Esse cara é Patriota.

É a segunda etapa da diplomacia megalonanica.

Brasil-Bolivia: novela burocratica e aparencia de negociacoes - entrevista Eduardo Saboia

Coragem do diplomata, dando entrevista sem autorização do Itamaraty, o que apenas agrava o seu caso, junto à burocracia, e engrandece sua dignidade, aos olhos da sociedade.
Paulo Roberto de Almeida

Negociações com Bolívia sobre senador eram "faz de conta", diz diplomata brasileiro
Por ISABEL FLECK
Folha de S. Paulo, 26/08/2013

O encarregado de negócios da embaixada brasileira em La Paz, Eduardo Saboia, que trouxe o senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil sem o aval do Itamaraty, disse que as negociações entre os dois países para resolver a situação do político eram um "faz de conta".

"Tenho os e-mails das pessoas [diplomatas brasileiros] dizendo 'olha, a gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que estão negociando e a gente finge que acredita'", disse Saboia à Folha, por telefone.

Segundo ele, diante da inação da comissão bilateral que "mal conseguia se reunir", e de uma "situação limite", ele decidiu agir sozinho.

"Eu disse [ao Itamaraty]: 'se tiver uma situação limite, eu vou ter que tomar uma decisão'. E eu tomei porque havia um risco iminente. Ele [o senador] estava com um papo de suicídio", disse o diplomata. "Era sexta-feira, estava chegando o fim de semana, quando a embaixada sempre fica mais vazia. Aí veio o advogado com o laudo médico me dizer [que ele poderia se matar] e eu disse: vou fazer agora."

Molina estava asilado há 15 meses na embaixada e não podia sair porque o governo boliviano se recusava em conceder o salvo-conduto. Ele deixou o país com o diplomata e dois fuzileiros na última sexta-feira.

Folha - O senhor agiu completamente sozinho? O Itamaraty não participou mesmo da sua decisão de trazer o senador?
Eduardo Saboia - O que aconteceu foi o seguinte: eu vinha avisando [o Itamaraty] da situação, que estava em franca deterioração e que a gente tinha que pensar em contingências. Contingência seria levar ele para a residência, para uma clínica na Bolívia, para o Brasil. 
Eu vim a Brasília duas vezes para dizer: 'olha, a situação está ruim, eu estou sob pressão'. Eu era um a espécie de agente penitenciário. Tudo o que acontecia com o senador, eles me ligavam: "pode entrar bebida? O senador está com dor de barriga, pode entrar um médico?" Eu vivia isso há 452 dias. Agora essas coisas se precipitaram e eu não sou médico, nem psiquiatra, mas diante de um risco iminente, uma situação limite, tomei essa decisão.

Folha - O plano de retirá-lo de carro já era cogitado pelo Itamaraty para ser aplicado em algum momento?

Veja bem: nós, da embaixada, mandamos muitas comunicações sugerindo várias formas de ação. A única coisa que existia [até agora] era um grupo de trabalho do qual a embaixada não faz parte. Nós éramos apenas informados.
Eu convivia diariamente com uma situação humanitária. É uma coisa que é muito difícil de explicar, mas você imagina ir todo dia para o seu trabalho e você tem uma pessoa trancada num quartinho do lado, que não sai. E você que impede ela de receber visitas, a família liga no aniversário a família liga. Aí vem o advogado e diz que se ele se matar é você que é o responsável.
Foi uma situação extrema. Eu estava no campo de batalha, eu estava no fogo cruzado. Eu já tinha inclusive pedido para sair. Falei: "está muita pressão, eu preciso de uma orientação mais clara, eu preciso de um horizonte".

Folha - Qual era a resposta do Itamaraty?
Falavam que era questão de tempo. Daí eu perguntava da comissão, e as pessoas me diziam: "olha, aqui é empurrar com a barriga".
Ninguém me disse isso por telegrama, eles não são bobos. Mas eu tenho os emails das pessoas, dizendo "olha, a gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que estão negociando e a gente finge que acredita".
Óbvio que isso aí abalava o senador, ele sabia disso, porque isso aí está na cara. A comissão não tinha um prazo para terminar, mal conseguiam se reunir. Era um faz de conta.
 Não estavam levando a sério e a embaixada era mantida à margem disso.

Folha - Como você viu esse risco de suicídio?
Eu disse [ao Itamaraty]: "olha, nessa coisa humanitária, eu não vou tergiversar. Se tiver uma situação limite, eu vou ter que tomar uma decisão". E eu tomei essa decisão porque havia um risco iminente. E ele [o senador] estava com um papo de suicídio. Aí podem dizer: "Ah, é uma manipulação". Pode ser, mas é preciso correr esse risco?
Era sexta-feira, estava chegando o fim de semana, quando a embaixada sempre fica mais vazia. Aí veio o advogado com o laudo médico me dizer [que ele poderia se matar] e eu disse: vou fazer agora. Eu não avisei o Itamaraty por uma questão simples: segurança. Eu não avisei ninguém. E funcionou, deu certo.

Folha - Como você acha que vai impactar a sua decisão para o governo brasileiro?

Foi uma decisão que tem uma motivação humanitária, mas, na prática, resolve um problema político. Veja bem: para o Itamaraty, como a Bolívia não daria salvo-conduto e o Brasil disse que queria o salvo-conduto e as garantias, nós estávamos num beco sem saída. Só tendia a piorar. Com um agravante de que estamos chegando perto de períodos eleitorais, a situação se radicaliza [nos dois países], a situação se radicaliza e fica muito mais difícil resolver problemas.