O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 19 de janeiro de 2014

A Inquisicao no Brasil - Aldair Carlos Rodrigues

Inquisição tropical: estudo derruba ideia de que perseguição foi pequena no Brasil
·       Tese de doutorado revela que Santo Ofício criou ‘elite’ de delatores
MARCELLE RIBEIRO 
O Estado de s.paulo,18.01.2014
Fotomontagem. Edital que ficava afixado nas igrejas para incitar denúncias contra os que eram considerados hereges se mistura às imagens do Brasil da época Editoria de arte
SÃO PAULO - Havia apenas dois anos que Antonio Gonçalves Pereira, mercador de secos e molhados de Minas Gerais, tinha começado a usar casaca, peruca e espadim, quando tentou fazer parte do quadro de “funcionários” da Inquisição no Brasil. Filho de lavradores do Norte de Portugal, ele conseguiu mudar de vida em terras brasileiras com o comércio em Minas e tinha, em 1755, “boas casas”. Mas faltava-lhe destaque na sociedade e prestígio. Em busca de status, candidatou-se a um cargo civil no Santo Ofício, conquistado depois de três anos de um processo de apuração sobre suas origens. Com o título de “Familiar do Santo Ofício”, estava apto a investigar o passado de quem queria um cargo na Inquisição e a prender os suspeitos de “heresia”, acusados de fazer pacto com o demônio e ter outra fé que não a cristã.
Pereira foi um dos 1.907 civis - não clérigos - que foram empossados no cargo de “familiar” da Inquisição entre 1713 e 1785 no Brasil, atraídos principalmente pelo status que a função proporcionava, segundo o pós-doutorando em História da Universidade de Campinas (Unicamp) Aldair Carlos Rodrigues.
Em sua premiada tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP), intitulada “Poder eclesiástico e Inquisição no século XVIII luso-brasileiro: agentes, carreiras e mecanismos de promoção social”, Rodrigues revela um lado menos conhecido da Inquisição: o dos brasileiros que queriam trabalhar para o Santo Ofício. E mostra que, diferentemente do que muitos livros didáticos ensinam, a Inquisição esteve, sim, muito presente no Brasil.
- A Inquisição foi muito importante para a formação da elite colonial no Brasil. Os novos ricos pressionavam para entrar na Inquisição, pois era uma forma de ascender socialmente - diz Rodrigues, cuja tese recebeu os prêmios Capes 2013 e Grande Prêmio Capes Tese Darcy Ribeiro, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação.
Atestado de “sangue puro"
Ter um cargo na Inquisição significava ter um dos atributos mais desejados na época: um atestado de que seu sangue era “puro”, ou seja, que a pessoa não pertencia a raças consideradas “infectas” pelo Santo Ofício, como judeus (inclusive os recém-convertidos), muçulmanos, negros e indígenas.
A perseguição da Inquisição na Península Ibérica a pessoas de outras religiões tem relação com a ocupação histórica da região. Em Portugal, a Inquisição foi estabelecida em 1536 e na Espanha no final do século XV, num contexto em que a Península Ibérica, durante boa parte da Idade Média, foi ocupada pela população islâmica, oriunda do Norte da África e do Oriente Médio. Também havia no local muitos judeus, devido à diáspora judaica.
No final da Idade Média, os Estados foram criados profundamente identificados com a fé cristã, expulsando a população islâmica. O judaísmo também passou a ser considerado um grande “problema” na Península Ibérica. Muitos judeus foram expulsos da Espanha e de Portugal. Outros foram convertidos à força ao catolicismo: eram os chamados “cristãos-novos”. Mas mesmo quem se convertia era considerado suspeito de praticar o judaísmo em segredo.
- A “limpeza de sangue” começa a ser uma questão de honra nessa sociedade, num contexto de ortodoxia (da fé católica) e da eliminação do islamismo e do judaísmo. Os Estatutos de Limpeza de Sangue, em todas as instituições, principalmente as que tinham maior prestígio, impediam a entrada de descendentes de judeus, muçulmanos e mulatos - conta Rodrigues.
Antes de permitir que civis integrassem seus quadros, o Santo Ofício fazia uma grande investigação sobre o passado do candidato ao cargo de “familiar”, que durava entre um e seis anos em sua maioria. Eram ouvidas testemunhas e analisados documentos até de gerações anteriores dos candidatos. Tanto rigor na apuração fazia com que a sociedade não ousasse questionar a “limpeza de sangue” dos quadros da Inquisição. Os próprios civis pagavam os processos, que eram caros.
- Através dos “familiares” é que a Inquisição se enraizou no Brasil. A sociedade da época aderiu à Inquisição - afirma Rodrigues.
Segundo o pesquisador, uma vez empossados no cargo de familiar, os “familiares” recebiam uma medalha para provar sua função, que eles usavam todos os dias (apesar de isso não ser o recomendado).
- Havia vários “familiares” corruptos. Alguns prendiam pessoas sem que a Inquisição tivesse ordenado ou usavam seus cargos para perseguir inimigos e suas famílias - revela
Rodrigues conta ainda que os “familiares” recebiam um pequeno salário por dia de trabalho, de valor inexpressivo, mas além do status, tinham vários outros benefícios: ganhavam direito a foro privilegiado para crimes como agressões físicas e não pagamento de dívidas, podiam usar armas de defesa e de ataque e roupas especiais e eram isentos de alguns impostos.
Os “familiares” ajudavam os funcionários eclesiásticos do Santo Ofício - os chamados comissários, que chegavam a 198 no século XVIII no Brasil. Além de prenderem acusados de delitos pela Inquisição, eram os “familiares” que, quando algum civil se candidatava a um cargo no Santo Ofício, ouviam testemunhas e os próprios candidatos no processo.
Ação sob o controle de Portugal
A pesquisa de Rodrigues, que será publicada em forma de livro em fevereiro, mostra que, de Portugal, a Inquisição tinha total controle sobre os suspeitos de delitos e o trabalho de seus funcionários no Brasil: a troca de correspondência era intensa. Da Europa, o Santo Ofício sabia até sobre os comunicados que eram pendurados nas portas das igrejas brasileiras.
Segundo a professora Anita Waingort Novinsky, do Departamento de História da USP, nos 300 anos de atuação da Inquisição no Brasil a instituição prendeu mais de mil pessoas. Como não havia tribunal do Santo Ofício no país, elas eram levadas para serem julgadas em Portugal.
- A Inquisição matou e queimou 21 brasileiros. Alguns eram estrangulados e depois queimados. Nos casos mais severos, eles eram queimados vivos. De oito pessoas que foram condenadas mas não foram encontradas, o Santo Ofício fez bonecos de pano, que foram queimados - lembra Anita.
A professora conta que os condenados que não eram mortos perdiam os seus bens (tomados pela Inquisição e muitas vezes pelos próprios “familiares”) e tinham a família amaldiçoada.
- Homens com dinheiro eram reduzidos à miséria e acabavam mendigando. Miguel Teles da Costa, que era capitão-mor de Paraty, Itanhaém e Ilha Grande, ou seja, era dono dessas terras, acabou mendigando - relata a historiadora.
Na opinião de Anita e Rodrigues, os livros didáticos brasileiros deveriam ser alterados, para eliminar a falsa ideia de que a Inquisição praticamente não esteve presente no Brasil.
- Como é que pode estar correta uma História do Brasil que omite um dos fenômenos mais fortes que existiu na vida econômica, politica e cultural do pais? - questiona Anita.


O post mais popular de Ricardo Setti: um presidente semianalfabeto - blog Politica & Cia

Por acaso navegando na internet, cai nesta postagem, que não conhecia (por não frequentar o blog desse colunista da Veja), mas que Ricardo Setti explicar ter sido, ainda é, o de maior sucesso em seu blog, ou seja, acessado em números recordes.
Pelo mesmo princípio do Google, que premia o volume de acessos, não necessariamente a qualidade da matéria, resolvi repostar seu conteúdo aqui, uma vez que ele é indicativo de algo que chamou a atenção.
Sim, o fato de termos tido um presidente que desprezou e ainda despreza a cultura formal, a leitura e o estudo, e que se gaba disso, dizendo que nunca lhe fez falta um diploma para ter sucesso na política e ser popular, esse é um fato importante na vida política nacional. Significa que o brasileiro médio premia mais a esperteza do que a competência no que se refere a governança e políticas públicas.
Isso explica também porque estamos tão mal na vida política, com tanta corrupção, malversação de recursos públicos (ou seja, o nosso dinheiro), com uma administração tão miserável como a que temos, com pessoas que deveriam estar cumprindo penas em cadeias elevadas aos mais altos cargos da administração.
De fato, a postagem é popular: ela é um retrato do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

Ricardo Setti: Política & Cia
02/07/2011
 às 18:12 \ Política & Cia

Não, eu não me orgulho de ter tido um presidente semianalfabeto

Campeões de Audiência(Este post, publicado dia 30 de outubro de 2010, é O POST MAIS ACESSADO DESDE QUE O BLOG FOI AO AR, A 13 DE SETEMBRO DE 2010. Campeoníssimo de audiência, pois. Só troquei o verto “ter” do titulo por “ter tido”. Veja explicação sobre a republicação dos mais acessados).
Escrevi um post ironizando o desejo de o presidente Lula “escrever” sobre “coisas” que “agora não pode dizer” depois de deixar a Presidência, pois, como se sabe, Lula não é de escrever.
Recebi vários comentários dizendo-me “preconceituoso”.
Por coincidência, na festinha improvisada com que colaboradores homenagearam seus 65 anos de idade, esta semana, Lula voltou a um velho tema que me permite retomar o assunto da importância da educação formal e do exemplo que um presidente deve dar.
Depois de dizer que os brasileiros não precisam mais “ter medo” de um presidente não detentor de diploma universitário, como supostamente ocorreu nas eleições de 1989, o presidente disse o seguinte:
– Precisei chegar lá para provar que inteligência não é medida pelo tempo de escolaridade. O tempo de escolaridade mostra conhecimento e aperfeiçoamento específico de uma matéria. A inteligência, você nasce com ela e aperfeiçoa. Até porque o dom da política não se aprende na escola. Se se aprendesse na escola, quem seria um bom presidente seria um cientista político e não um torneiro mecânico, essa é a lógica.
Confira o vídeo em que Lula faz essas e outras observações:
ESCOLARIDADE E INTELIGÊNCIA
Lula misturou um monte de coisas nessa frase mas, em meio a considerações corretas, disse bobagem.
É verdade que inteligência não é provada por “tempo de escolaridade”.
É verdade que o dom da política não se aprende na escola.
É verdade, para deixar bem claro, que o presidente Lula é um homem inteligente. Eu não apenas acompanho sua carreira e seu trabalho desde o começo, nos anos 70, como o conheço pessoalmente há anos e, embora não o veja há tempos, sempre me pareceu claro que Lula é excepcionalmente dotado de inteligência. Apostaria que sua inteligência é bem acima da média.
É também verdade que as pessoas nascem inteligentes, como, repito, é o caso de Lula.
ESTUDAR É ABRIR-SE PARA O MUNDO E A VIDA
Mas é bobagem, e bobagem da grossa, produto da ignorância, dizer que “o tempo de escolaridade mostra conhecimento e aperfeiçoamento específico de uma matéria”.
Não, prezado presidente Lula. Escolaridade, estudos, a frequência à escola e à universidade abrem horizontes, aprimoram a compreensão do mundo, ensinam a importância do contraditório, disciplinam e direcionam o uso da inteligência, preparam a pessoa para a profissão e a vida.
É, pois, muito, muitíssimo mais do que “conhecimento e aperfeiçoamento específico de uma matéria”, como afirmou Lula.
Do ponto de vista técnico, e a despeito de sua enorme inteligência e do conhecimento que adquiriu na prática dos problemas do país e do que aprendeu sobre o funcionamento do mundo e das relações internacionais, o presidente Lula, infelizmente, é semi-analfabeto. Não gosta de ler, admite ter lido pouquíssimos livros ao longo da vida, não possui livros de cabeceira nem sequer uma mini-biblioteca de dez, quinze livros prediletos.
Nunca escreveu de próprio punho um texto sobre qualquer tema.
LULA NÃO ESTUDOU POR ARROGÂNCIA, E PORQUE NÃO QUIS
E, francamente, ninguém aguenta mais a demagogia do pobre torneiro mecânico que veio do nada e precisou se virar na vida para sustentar a família. Ele poderia ter estudado, se quisesse. Sendo um líder político importante, deveria. Centenas de milhares de brasileiros vindos da pobreza o fizeram, chegaram lá, de alguma maneira.
Lula não se ilustrou por arrogância — por achar que sua inteligência dava e dá conta de tudo — e porque não quis.
Não faltam líderes políticos de origem humilde que superaram obstáculos e, ao longo da vida, enriqueceram sua bagagem cultural.
Marina Silva: "Nunca paro de estudar"
Vejam o caso da senadora Marina Silva, cujo parto foi feito pela própria avó nos cafundós dos seringais do Acre e que era analfabeta e incapaz de garranchar o próprio nome até os 16 anos.
A despeiro da vida dura que teve, dos quatro filhos que criou, ela deu um jeito de ilustrar-se, aprender: fez o ensino elementar, o médio e formou-se em História pela Universidade Federal do Acre. E mais. Marina acaba de conceder uma entrevista em vídeo para a repórter Mirella D’Elia, do site de VEJA (leia a primeira parte).
Lá, a certa altura, diz a ex-seringueira que teve 20 milhões de votos para presidente:
– Eu nunca paro de estudar. Quando eu estava no Ministério do Meio Ambiente e no Senado, estava sempre estudando. Graças a Deus consegui fazer duas especializações — uma na Universidade de Brasília, em Teoria Psicanalítica, e outra na [Universidade] Católica [de Brasília], em Psicopedagogia. E estou terminando uma em Psicopedagogia na Argentina. Tive que parar esse ano, mas vou retomar.
OS EXEMPLOS DE LUIZ MARINHO E VICENTINHO
Ela não é a única entre líderes brasileiros, evidentemente. O atual prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – sindicalista como Lula, portanto –, ex-pintor de automóveis na Volkswagen, tocou a vida para a frente e, militando no sindicalismo e na política, e hoje é advogado.
O deputado e ex-presidente da CUT Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, outro que comeu o pão que o diabo amassou — no interior do Rio Grande do Norte, onde nasceu, foi vendedor de pães, trabalhador rural, operário de picareta na mão e lavador de carros –, não deixou que a luta sindical em que se envolveu em São Bernardo do Campo desde os anos 70 o impedisse de estudar, e tampouco a política, em que ingressou posteriormente.
Caminhou aos trancos e barrancos, mas seguiu em frente. O segundo grau, fez por meio do Telecurso 2000. Orgulhosamente, com sempre admite, formou-se em Direito.
REALIZAÇÕES E PÉSSIMO EXEMPLO
Ao chegar ao final de seu mandato, muita coisa pode-se dizer de Lula. Em outra post, tentarei um balanço, do meu modesto ponto de vista. Apesar das muitas críticas que merece pela forma como se comporta no cargo, pelas alianças que fez e outras razões, não há dúvida sobre a grandiosidade de várias de suas realizações, sobretudo no terreno da distribuição de renda.
Por isso, e por outras razões, Lula é admirado mundo afora — menos, é verdade, depois das sucessivas declarações de “amizade” a tiranos como Fidel Castro e o ditador do Irã –, e um grande número de brasileiros se orgulha dele.
A meu ver, porém, a insistência de Lula em jactar-se a cada momento de não ter estudado constitui péssimo exemplo, sobretudo aos jovens, principalmente por vir de um presidente da República, com o peso e a carga legal, moral e simbólica do cargo.
Este ponto específico não me desce pela garganta.
Não, amigos, eu não tenho o menor orgulho de ter um presidente semi-analfabeto.
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sábado, 18 de janeiro de 2014

Rolezinho no Planalto - Guilherme Fiuza

Rolezinho no Planalto


Guilherme Fiuza
O Globo, 18/01/2014
O rolezinho do PT no Palácio do Planalto, como se sabe, caminha para perfazer 16 anos — o dobro do Estado Novo de Getúlio Vargas. Se Dilma Rousseff não aparecer fantasiada de Marcos Valério em algum dos seus pronunciamentos à nação — ela já fez o do réveillon, só faltam o do carnaval, o do Dia da Mulher, o da Páscoa, o do Dia do Trabalho, o do Dia das Mães, o de Corpus Christi, o do Dia dos Pais e o do Dia da Independência — ninguém tasca mais quatro anos de rolezinho petista.
Tudo correndo bem no primeiro turno, Dilma nem precisará convocar cadeia de rádio e TV no Dia de Nossa Senhora Aparecida e no Dia de Finados, porque os concorrentes já estarão finados no início de outubro.
Enquanto a próxima data festiva não chega, o governo popular trabalha duro para reciclar sua retórica coitada. E acaba de encontrar uma nova jazida, que talvez possa jorrar poesia social-demagógica até a eleição. O fenômeno dos rolezinhos — invasão de shoppings por multidões de jovens da periferia — foi uma providência divina na vida ociosa dos governantes petistas.

Dilma Rousseff. Foto: Divulgação
Não que eles se importem de mentir um pouco mais nos pronunciamentos oficiais, como no anúncio do superávit de 2013: o governo roubou 35 bilhões de reais da meta (meta para eles é um estado de espírito) e divulgou, com a maior tranquilidade, o cumprimento da mesma.
Ainda rebolou como um Anderson Silva na frente do adversário, informando que estava divulgando a façanha com antecedência para “acalmar os nervosinhos”. Fale a verdade: se você conta uma mentira desse tamanho em casa e ninguém duvida, ou você vai ficar zangado com a ignorância dos seus ou vai querer abrir imediatamente uma franquia da bocarra petista.
Mas aí surgiu o rolezinho. Trata-se, antes de tudo, de um vocábulo patético, cafona, que poderia muito bem ter saído da cabeça de um soldado de José Dirceu — desses que passam a vida bolando vírus sociais como munição ideológica.

IBGE: o verdadeiro retrato do Brasil, longe da propaganda governamental enganosa

E precedido pelo comentário de meu amigo Mauricio David:

 Durante os últimos 11 anos as vozes laudatórias dos economistas amestrados e dos acólitos das políticas dos governos Lula/Dilma - inclusive no BNDES -  tem cantado em prosa e verso o sucesso das políticas (mal) chamadas de "pleno emprego" do governo. A nova metodologia do IBGE para a PNAD mostra o fracasso absoluto das políticas supostamente "desenvolvimentistas" de Lula e da Dilma : 61 milhões estão fora da força de trabalho, 38,5% da população em idade para trabalhar não tem ocupação nem procura emprego.
61 milhões estão fora da força de trabalho
GUSTAVO PATU, DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 18/01/2014

38,5% da população em idade para trabalhar não tem ocupação nem procura emprego, de acordo com o IBGE
2/3 dos que estão fora das estatísticas de desemprego são mulheres; 55% não têm fundamental completo

Um contingente de 61,3 milhões de brasileiros de 14 anos ou mais não trabalha nem procura ocupação --e, portanto, não entra nas estatísticas do desemprego.
Trata-se de 38,5% da população considerada em idade de trabalhar pelo IBGE, ou o equivalente à soma do total de habitantes dos Estados de São Paulo e do Rio.
Nos EUA, ainda se recuperando da crise, a taxa é similar, 37,4% --as metodologias, porém, não são as mesmas.
Referente ao segundo trimestre de 2013, o dado brasileiro ajuda a ilustrar como, apesar das taxas historicamente baixas de desemprego, o mercado de trabalho mostra sinais de precariedade.
Mesmo tirando da conta os menores de 18 e os maiores de 60 anos, são 29,8 milhões de pessoas fora da força de trabalho, seja porque desistiram de procurar emprego, seja porque nem tentaram, seja porque são amparados por benefícios sociais.
Esse número supera o quádruplo dos 7,3 milhões de brasileiros oficialmente tidos como desempregados nas tabelas do IBGE --o que dá uma ideia de quanto o desemprego poderia crescer se mais pessoas decidissem ingressar no mercado e disputar vagas.
Os dados sugerem que grande parte dos que estão fora da força de trabalho é dona de casa: 40,9 milhões são mulheres. Entre os desempregados, a proporção de mulheres é bem menor, de pouco mais da metade.
O grau de instrução da maioria dos que não trabalham nem procuram emprego, previsivelmente, é baixo: 55,4% não chegaram a concluir o ensino fundamental.
Mas uma parcela considerável, de quase um quarto do total, inclui os que contam com ensino médio completo ou mais escolaridade.
Considerando toda a população em idade de trabalhar, de 159,1 milhões, as proporções dos grupos menos e mais escolarizados são semelhantes, na casa dos 40%.

MELHORA
A nova pesquisa ainda não permite análise da evolução dos dados nos últimos anos, mas outros trabalhos apontam melhoras na participação feminina e na escolaridade do mercado de trabalho.
Estudo de 2012 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontou que mais da metade das mulheres participa atualmente da força de trabalho, ante menos de um terço no início da década de 1980.
O ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse que a pasta ainda está avaliando os resultados da nova pesquisa. Ele ressaltou que não é possível dizer que houve alta do desemprego, já que se trata de nova metodologia.

GLOSSÁRIO DA NOVA PESQUISA
Conceitos que mudam com a Pnad contínua:
> PEA (População Econo-micamente Ativa): Passa a se chamar Força de Trabalho (soma das pessoas ocupadas ou à procura de trabalho)
> PIA (Pessoas em Idade Ativa):* Passa a se chamar Pessoas em Idade de Trabalhar
> Recorte de idade: Antes, a idade mínima era 10 anos. Agora, é 14 anos
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Desemprego passa a ser medido em 3.500 cidades
A principal diferença entre a nova pesquisa, a Pnad contínua, e a antiga, a PME (Pesquisa Mensal de Emprego), é a abrangência geográfica, que foi ampliada para obter informações sobre o mercado de trabalho com mais precisão em todo o país.
A PME é restrita às seis maiores regiões metropolitanas. Já a Pnad contínua vai a 3.500 municípios em todos os Estados. Outra diferença é o período de coleta e divulgação dos dados. A PME é feita mensalmente, a Pnad contínua, trimestralmente.
Até o fim do ano, a nova pesquisa vai incorporar dados que havia no levantamento antigo e que não foram divulgados ontem, como a ocupação por setores da economia e o rendimento.
As primeiras informações deste ano (relativas ao primeiro trimestre) serão divulgadas em 27 de maio.
A PME vai continuar sendo feita até o fim deste ano e depois será encerrada. Como são pesquisas distintas, a série de dados sobre o mercado de trabalho brasileiro será novamente descontinuada (a última vez que isso ocorreu foi em 2002).
Existe uma demanda de economistas e até de outras áreas de dentro do instituto para que parte das informações da nova pesquisa seja produzida mensalmente. O cálculo da inflação, feito pelo IBGE, usa dados mensais de rendimento extraídos da PME.
Segundo Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e emprego do IBGE, os técnicos estudam como fornecer a cada mês a taxa de desemprego, o rendimento e o número de trabalhadores com carteira assinada. A expectativa é concluir esse trabalho até o fim deste ano.
Além da maior abrangência, houve mudanças no conceito de desocupação e na população considerada apta para trabalhar. A idade mínima subiu de 10 para 14 anos (idade que a legislação permite o trabalho como aprendiz).
Na nova pesquisa, se uma pessoa procurar emprego nos últimos 30 dias, mesmo tendo feito um "bico" no período, será considerada desempregada. Antes, ela não poderia ter tido nenhum trabalho no período.
Outra mudança é considerar desempregada uma pessoa que não procurou emprego, mas estava disposta a trabalhar. Até agora, ela estava fora da força de trabalho.
Especialistas afirmam que as mudanças contribuíram para aumentar o patamar da taxa de desemprego do país, que subiu cerca de 1,5 ponto percentual.
Segundo o IBGE, as alterações seguiram orientações da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
(MARIANA CARNEIRO E PEDRO SOARES)

DIFERENÇAS NO DESEMPREGO
7,4% é a taxa da Pnad contínua no 2º trimestre de 2013
5,9% é a taxa da PME no 2º trimestre de 2013

Brasil: "closer friend and ally"? - a pergunta do dia (Le Monde)

O presidente Obama, chefe máximo, supremo e último dos intrometidos da NSA, disse que os EUA iriam banir escutas telefônicas de "closer friends and allies".
A pergunta do dia é: os atuais líderes brasileiros são amigos próximos e aliados do Império?
Bem, o governo poderia emitir uma nota a esse respeito, esclarecendo seu entendimento sobre o conceito, que obviamente requer reciprocidade. 
Afinal de contas, não se pode ser aliado de quem não é amigo próximo, não é mesmo?
Quem sabe o partido não se manifesta a respeito, indicando se os imperialistas contam entre seus amigos, entre outros tantos amigos queridos, como os irmãos Castro, os bolivarianos, os anti-hegemônicos, e vários outros defensores das liberdades e da democracia?
A matéria abaixo já oferece uma resposta
Paulo Roberto de Almeida

Obama prévient que la NSA va continuer à espionner les étrangers

Le Monde.fr avec AFP |  • Mis à jour le 
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Barack Obama a assuré que la chancelière allemande Angela Merkel n'avait « pas à s'inquiéter » de la surveillance des Etats-Unis.

Après avoir annoncé vendredi une réforme limitée des opérations de surveillance américaines, le président Barack Obama a enfoncé le clou, samedi 18 janvier, dans une interview à la télévision publique allemande ZDF.

« Nos agences de renseignement, comme les agences allemandes et toutes les autres, vont continuer à s'intéresseraux intentions des gouvernements de part le monde, cela ne va pas changer. »
Il a toutefois assuré que la chancelière Angela Merkel n'avait « pas à s'inquiéter »de cette surveillance, alors qu'un de ses téléphones portables aurait été écouté par l'agence de renseignement NSA, ce qui a fait scandale en Allemagne. Et il insisté sur « la relation d'amitié et de confiance » qui lie selon lui les deux pays.
Mais loin de lui l'idée de renoncer à des pratiques dont la révélation l'an dernier par l'ancien consultant de la NSA Edward Snowden a profondément entaché la relation transatlantique. La collecte de données par le renseignement américain, est « au service de nos objectifs diplomatiques et politiques », a expliqué le président.
« Et ce n'est pas la peine d'avoir un service de renseignement si il se limite à [collecter] ce qu'on peut lire dans le New York Times ou dans Der Spiegel. La vérité c'est que par définition le travail du renseignement est de découvrir : Que pensent les gens ? Que font-ils ? »
Les révélations l'an dernier d'écoutes supposées sur le portable de dirigeants européens, dont celui de la chancelière allemande, avaient provoqué un scandale en Europe et particulièrement en Allemagne. Les annonces de M. Obama vendredi, qui a promis de rogner sur les compétences de la NSA en la matière, ont été accueillies avec scepticisme en Allemagne, comme un premier pas mais insuffisant.

Marcos Troyjo: o que fazer em Davos? - FSP

Riscos de um ‘selfie’ em Davos
Marcos Troyjo
 FOLHA DE S.PAULO, Sexta, 17 de janeiro de 2014

A presidente Dilma subirá ao palco do Fórum Econômico Mundial sexta que vem. Em meia hora, tentará reverter o desânimo com que os mercados veem o futuro próximo do Brasil.
Poderá, no entanto, empalidecer percepções ainda mais. Basta que sua fala seja um “selfie” – uma arenga autocongratulatória das “realizações” dos governos petistas.  
Quarenta chefes de estado vão a Davos. Quase 3.000 líderes empresariais. Jornalistas e burocratas globais completam a turma. Se Dilma usar a ocasião apenas para traçar autorretratos destinados ao eleitorado brasileiro, a escalada alpina será um desserviço ao interesse nacional.
Em 2002, havia a "brasilfobia" provocada pela incógnita “Lula”. Sucedeu-a em 2010 a "brasilmania" precitada pelos 7,5% de crescimento e a promessa de efeitos multiplicadores dos megaeventos.
Hoje o que domina é a brasil-apatia. Segundo o Banco Mundial, em 2014 cresceremos abaixo da média global. E perderemos de todos os emergentes, salvo Irã e Egito. Nada de colapso econômico. Nada, porém, de escapar dos inerciais 2% de expansão ao ano.
A chance da repetição de um discurso “selfie” é elevada. A intervenção da presidente tem tudo para ser uma “fondue” entre a exposição autista feito no Goldman Sachs em setembro e a idílica mensagem de fim de ano.  
Na primeira, Wall Street foi informada de que o Brasil implementa o “maior programa de concessões do mundo” e sua política industrial “foca em inovação e desenvolvimento tecnológico”. Na segunda, os brasileiros soubemos que em 2014 nosso padrão de vida será “ainda melhor”.
Em Davos, fazem-se comparações. O Brasil impressiona mais quando se mede contra seu próprio passado. Menos quando se ladeia com emergentes asiáticos ou com o desempenho de seus primos latino-americanos da Aliança do Pacífico (México, Chile, Colômbia e Peru).
O problema é que Davos estará cheio de guerreiros psicológicos. Como o Fórum se inicia dois dias antes, quando a presidente fizer sua intervenção na sexta os milhares de presentes já terão sido martelados com análises de que “os ricos estão emergindo”.
EUA, Europa e Japão voltaram a crescer e isso não é necessariamente boa notícia para países que, como o Brasil, vislumbraram o declínio do capitalismo interdependente.
O Planalto aposta que a simples presença de Dilma ajuda na retomada da confiança no Brasil. A mensageira seria mais importante que a mensagem. Tal superestimação é um erro.
Uma presidente carrancuda lendo roboticamente um “selfie” prefabricado não inflexionará opiniões. Falar de improviso, olhar nos olhos, comprometer-se com reformas estruturais, reconectar-se à globalização, dizer que o país não se permitirá ficar para trás. Isso, sim, pode surtir efeito. A presidente terá essa postura e visão?
Em 2010, quando era “o cara”, Lula admoestava Davos: “não há sinais de que a crise tenha servido para repensarmos a ordem econômica mundial".
Tomara Dilma dê sinais de que a nova ordem econômica mundial está servindo para que o Brasil se repense – e se reposicione.

 mt2792@columbia.edu

A conspiracao dos beocios totalitarios - Katia Abreu

Kátia Abreu, senadora
Folha de S.Paulo, 18/01/2014

"Teoria da conspiração" tornou-se uma espécie de mantra para banir qualquer avaliação mais profunda da conjuntura política. O termo é invocado mesmo quando já se está diante não de uma tese, mas da própria prática conspirativa.

Os fatos estão aí: há um projeto em curso, que pretende restringir e relativizar a propriedade privada e a economia de mercado. Em suma, o Estado democrático de Direito. O setor rural é o mais visado.

Usa-se o pretexto da crise social para invasões criminosas a propriedades produtivas: sem-terra, quilombolas e índios têm sido a massa de manobra, incentivada por ativistas, que, no entanto, não querem banir a pobreza.

Servem-se dela para combater a livre iniciativa e estatizar a produção rural. Espalham terror nas fazendas e, por meio de propaganda, acolhida pela mídia nacional, transformam a vítima em vilão. Nos meios acadêmicos, tem-se o produtor rural como personagem vil, egoísta, escravagista, predador ambiental, despojado de qualquer resquício humanitário ou mesmo civilizatório.

No entanto, é esse "monstro" que garante há anos à população o melhor e mais barato alimento do mundo, o superavit da balança comercial e a geração de emprego e renda no campo.

Nada menos que um terço dos empregos formais do país está no meio rural, que, não tenham dúvida, prepara uma nova geração de brasileiros, apta a graduar o desenvolvimento nacional.

Enfrenta, no entanto, a ação conspirativa desestabilizadora, que infunde medo e insegurança jurídica, reduzindo investimentos e gerando violência, que expõe não os ativistas, mas sua massa de manobra, os inocentes úteis já mencionados.

Vejamos a questão indígena: alega-se que os índios precisam de mais terras.

Ocorre que eles --cerca de 800 mil, sendo 500 mil aldeados-- dispõem de mais território que os demais 200 milhões de compatriotas. Enquanto estes habitam 11% do território, os índios dispõem de 13%. Não significa que estejam bem, mas que carecem não de terras, e sim de assistência do Estado, que lhes permita ascender socialmente, como qualquer ser humano.

Mas os antropólogos que dirigem a Funai não estão interessados no índio como cidadão, e sim como figura simbólica. Há o índio real e o da Funai, em nome do qual os antropólogos erguem bandeiras anacrônicas, querendo que, no presente, imponham-se compensações por atos de três, quatro séculos atrás.

O brasileiro índio do tempo de Pedro Álvares Cabral não é o de hoje, que, mesmo em aldeias, não se sente exclusivamente um ente da floresta, mas também um homem do seu tempo, com as mesmas aspirações dos demais brasileiros.

Imagine-se se os franceses de ascendência normanda fossem obrigados pelos de descendência gaulesa a deixar o país, para compensar invasões ocorridas na Idade Média. Ou os descendentes de mouros fossem obrigados a deixar a Península Ibérica, que invadiram e dominaram por oito séculos.

A história humana foi marcada por embates, invasões e violência. O processo civilizatório consiste em superar esses estágios primitivos pela integração. O Brasil é um caudal de raças e culturas, em que o índio, o negro e o europeu formam um DNA comum, ao lado de imigrantes mais tardios, como os japoneses.

Querer racializar o processo social, mais que uma heresia, é um disparate; é como cortar o rabo do cachorro e afirmar que o rabo é uma coisa e o cachorro outra.

A sociedade brasileira está sendo artificialmente desunida e segmentada em negros, índios, feministas, gays, ambientalistas e assim por diante. Em torno de cada um desses grupos aglutinam-se milhares de ONGs, semeando o sentimento de que cada qual padece de injustiças, que têm que ser cobradas do conjunto da sociedade.



Que país pretendem construir? Não tenham dúvida: um país em que o Estado, com seu poder de coerção, seja a única instância capaz de deter os conflitos que ele mesmo produz; um Estado arbitrário, na contramão dos fundamentos da democracia. Não é teoria da conspiração. É o que está aí.

O Afeganistao tem solucao? Provavelmente nao! Nem sem rima. Um Estado mais que falido...

Certos Estados, reconhecidos como tais pela ONU, não reunem, na verdade, condições mínimas para figurar nessa categoria, e isso não tem nada a ver com o colonialismo, com a dominação ocidental, as invasões imperialistas, e outras bobagens do gênero.
Isso tem a ver com a incapacidade de suas elites de governarem o país de uma forma minimamente racional, o que provocou uma situação de anomia absoluta que impede qualquer forma de governança de se estabelecer como Estado normal. Eles estão além da falência, já passaram para a situação de caos permanente.
O Haiti arriscou cair nessa situação e só escapou de cair no precipício por causa da intrevenção estrangeira. Agora, ele vai cair no colo da assistência pública internacional e vai viver nessas situação pelos próximos 50 anos, até dispor de elites capazes de assumir suas responsabilidades.
Somália e Afeganistão, República Centro-Africana, Sudão do Sul e alguns outros já estão numa, ou se dirigem rapidamente para, uma situação terminal.
Não vejo nenhuma solução fácil ou minimamente aceitável, sem enormes custos humanos, no futuro previsível. Não existem elites nacionais capazes de endireitar a situação. Daí o sacrifício do Ocidente, que em outros tempos se chamava o fardo do homem branco.
Isso apenas nos confirma que certos indivíduos, determinadas sociedades e pelo menos uma religião em particular não pertencem ainda ao século 20, mas a um universo muito primitivo, eu até diria troglodita. Assim é o mundo, infelizmente, um lugar que está mais para Hobbes do que para Locke ou Kant. Um dia virá, mas para certos povos, isso ainda vai exigir pelo menos três ou quatro gerações. Isso se o Ocidente não desistir, claro.
Mas o preço a pagar é esse aí, como figura na matéria abaixo.
Paulo Roberto de Almeida 

Atentado em Cabul deixa 16 mortos, a maioria estrangeiros

Representante do FMI e três membros da ONU estão entre as vítimas do ataque

Forças de segurança afegãs deixam o local de um ataque suicida em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. O restaurante libanês é popular entre os estrangeiros e afegãos ricos
Forças de segurança afegãs deixam o local de um ataque suicida em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. O restaurante libanês é popular entre os estrangeiros e afegãos ricos (Massoud Hossaini/AP)
Um atentado suicida reivindicado pelo grupo terrorista Talibã deixou ao menos dezesseis mortos em um restaurante de Cabul, no Afeganistão. Entre as vítimas estão três funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) e um representante do Fundo Monetário Internacional (FMI). O atentado foi perpetrado na hora do jantar, em um popular restaurante libanês no distrito de Wazir Akbar Khan, que abriga muitas embaixadas.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon condenou o ataque e lamentou a morte dos membros das Nações Unidas. "Estes ataques voltados contra civis são completamente inaceitáveis", afirmou. Em um comunicado, a diretora do FMI, Christine Lagarde, informou que o libanês Wabel Abdallah, de 60 anos, que chefiava o escritório da organização em Cabul desde 2008, é uma das vítimas. "É uma notícia trágica e nós estamos devastados", disse ela.

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A explosão no local abriu caminho para dois atiradores entrarem no restaurante e começarem a disparar contra as pessoas que estavam no estabelecimento. Os tiros puderam ser ouvidos durante vários minutos (entre 10 e 20 minutos, segundo relatos) e a principal rua que leva à área foi isolada. O porta-voz do Ministério do Interior, Sediq Sediqi afirmou que dois atiradores foram mortos pelas forças de segurança.
Estratégia terrorista - Segundo o jornal The New York Times, fontes afegãs e ocidentais disseram que pelo menos treze mortos eram estrangeiros. O jornal pontua que o atentado representa uma mudança na estratégia regular do Talibã, que geralmente prefere atacar alvos cercados de segurança, como prédios do governo e símbolos da presença ocidental no país, como a embaixada americana.
Retirada – O atentado ocorre no momento em que a maior parte das forças estrangeiras se preparam para deixar o Afeganistão este ano, depois de mais de uma década marcada por ataques frequentes. Washington negocia com o presidente Hamid Karzai um acordo que permitiria a permanência de algumas tropas americanas no país.
As preocupações com segurança aumentaram no Afeganistão com a proximidade da eleição presidencial marcada para abril, quando a população vai eleger o sucessor de Karzai. Se nenhum acordo for alcançado entre os EUA e o governo local, as forças afegãs terão de enfrentar os terroristas por conta própria.
(Com agência Reuters)

Henry Kissinger sobre Ariel Sharon - The Washington Post

Ariel Sharon’s journey from soldier to statesman

Henry A. Kissinger was secretary of state from 1973 to 1977.
Arik Sharon started as a warrior. He ended his career on the way to being a peacemaker. On that journey from fighting in every one of Israel’s wars to lying comatose for eight years in a Jerusalem hospital, he symbolized the anguish and dilemmas of Israel. A people who had come to their historic homeland had established themselves, surrounded by a culture that never acquiesced in ceding what it considered Islamic patrimony. Even before the proclamation of the Jewish state, Israel found itself in a state of war that has never ended. It has always lacked the essential prerequisite for peaceful coexistence with its neighbors: their recognition of its existence, which everywhere else is the precondition of diplomacy, not its outcome.
This state of affairs produced two aspects of the Israeli psyche: a hair-trigger response to security threats and an attitude toward the peace process both grudging and nostalgic. Israel’s margin of survival has been so narrow that its leaders felt they could not run risks about emerging military capabilities of countries that refused to accept and daily castigated the Jewish state. When threatened, preemption became its style of warfare. And it viewed the peace process both with reluctance to give up territory in an environment so rife with denunciation and with a definition of peace so sweeping as to be very difficult to achieve in a single negotiation.
When he was struck down by a stroke in 2006 , Sharon as prime minister was in the process of putting before his people a vision of coexistence with the Palestinians. Many visionaries of peace in Israel were military men: Yitzhak Rabin won the 1967 war. Shimon Peres, though not a military man, went the same route: a hawk in his early career, a passionate advocate of the peace process in recent decades.
Sharon had to undertake the longest journey to reach this insight. A daring commander, he conducted the battle that reversed the tide of the 1973 war; he was the principal advocate of the operations in Lebanon. For many years, he deplored America’s decision in 1973 to bring about a negotiated end of the war. I was secretary of state at the time, and he missed few opportunities to chide me.
The United States acted as it did then because we were convinced that, however vast the margin of victory, it would leave Israel with its historic challenge: how to translate victories over threats to its security into political coexistence with the societies it lived among. The Egyptian leader, Anwar Sadat, seemed to offer such a prospect.
In our many discussions, I always respected, then grew to admire and eventually develop affection for, this dedicated man living on a farm at the edge of the Negev desert, a kind of symbolic outpost. I looked forward to his visits while he was out of office; he would arrive at our meetings with maps under his arm that he used to explain the minimum requirements of Israel’s survival.
As prime minister, Sharon unexpectedly broadened his definition of security. He sought to bridge the gap between physical and political security with the same courage and decisiveness that had brought him victory in battle. He volunteered the largest withdrawal in Israel’s history. He ended the Israeli occupation of Gaza and returned it to Arab self-rule as a unilateral act without reciprocity, abandoning even the Jewish settlements that had been established there. These gestures were conceived as a test case for a negotiation about the future of the West Bank, which Sharon once had viewed as a permanent Israeli outpost. The man who had identified security with the acquisition of territory became willing to cede territory for an outcome to fulfill the hopes for peace.
It cannot be said that the result justified this act of faith. Israel was threatened by missile attacks from non-state actors: Hezbollah in Lebanon, Hamas in Gaza. Politically, Sharon’s vision was under attack from all sides: from those in Israel who insisted on a larger state, from Arab leaders who denied Israel the right to exist altogether, and from non-state terrorist groups. Still, Sharon’s vision reflected an essential first step; it was a sacrifice on behalf of raising prospects for a lasting peace — to which both sides must make a contribution by taking concrete steps and not by largely symbolic acts alone.
With another peace process underway, one needs to respect the courage of those who are willing to brave it in light of so many disappointments. It must be conducted both with commitment to the process and with a recollection of unfulfilled hopes. The vision of peace must be coupled with a determination not to permit the peace process to be turned into another form of warfare. An outcome must not only draw lines of territorial divisions but also bring a meaningful acceptance of the Jewish state by its negotiating partner as well as by key Arab states.
The writer was secretary of state from 1973 to 1977.