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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 9 de março de 2014

Heranca maldita dos companheiros em construcao: setor eletrico destruido

A conta deve aumentar muito: não só os valores nominais pagos pelos desequilíbrios financeiros, mas o imenso custo-oportunidade dificil de ser estimado a ser pago pelo que ainda precisa ser refeito para corrigir os imensos equívocos cometidos.
Paulo Roberto de Almeida 

Energia

Perdas no setor elétrico somam R$ 32 bilhões em um ano

Na avaliação de especialistas, a origem do problema deve-se à intempestividade do governo na renovação das concessões de geração e transmissão, que venceriam em 2015

Veja,com, 9/03/2014
Setor sofre com a combinação de chuvas escassas, nível baixo de reservatórios, preços elevados e decisões controversas do governo
Setor sofre com a combinação de chuvas escassas, nível baixo de reservatórios, preços elevados e decisões controversas do governo (Reinaldo Canato)
A combinação entre chuvas escassas, nível baixo de reservatórios, preços elevados e decisões controversas do governo conseguiu estragar a festa dos dez anos do modelo elétrico. Em pouco mais de um ano, o setor saiu de um quadro de estabilidade para desequilíbrio. Entre indenizações pela renovação das concessões e prejuízos com a falta de chuvas, a conta do setor já soma 32,4 bilhões de reais. Pior: se for considerada a perda de valor das companhias na Bolsa de Valores a conta já supera 60 bilhões de reais e pode aumentar ainda mais, dependendo da quantidade de chuvas nas próximas semanas. Em algum momento, essa crise poderá pesar no bolso do consumidor.
Na avaliação de especialistas, a origem do problema deve-se à intempestividade do governo na renovação das concessões de geração e transmissão, que venceriam em 2015. Crente de que todas as empresas aceitariam a proposta, a presidente Dilma prometeu, em rede nacional, que a conta de luz cairia 20% a partir de 2012. A equação era baseada no fato de que os contratos, que respondiam por 22% da geração do país, seriam renovados a preços módicos.
"Como algumas empresas (Cesp, Cemig e Copel) não aceitaram, as distribuidoras ficaram sem contrato de fornecimento de energia para honrar 100% de seu mercado", explicou o professor do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica da UFRJ, Nivalde Castro. Uma das bases do modelo começou a cair, já que a regra de que as distribuidoras teriam de estar 100% contratadas, com fornecimento garantido, foi quebrada.
Para piorar a situação, a falta de chuvas deteriorou o nível dos reservatórios das hidrelétricas, elevou o preço no mercado à vista (a 822 reais o MWh) e obrigou o governo a pôr todas as térmicas caras - usadas apenas em emergências - em operação.
O uso das usinas, aliado à falta de contratos das distribuidoras, que tem obrigado as empresas a comprar energia ao custo atual, provocaram um rombo de 11,4 bilhões de reais, que pode chegar a 25,6 bilhões de reais até dezembro.
Na sexta-feira, o governo publicou decreto autorizando que a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) pague 1,2 bilhão de reais pela descontratação das distribuidoras, mas não mencionou se vai incluir na conta os gastos com as térmicas. Ou seja: não está descartado o repasse dos valores para os consumidores.
A conta para bancar os 20% de redução nas tarifas é salgada. Além do rombo das distribuidoras, o governo gastou 21 bilhões de reais para indenizar ativos não amortizados. O valor foi retirado de fundos setoriais formados com o dinheiro dos consumidores. O governo vai pagar ainda cerca de 10 bilhões de reais em indenizações por investimentos das transmissoras feitos antes de 2000.
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Desordem no setor elétrico: até as manutenções estão proibidas

Para manter as usinas funcionando em sua capacidade máxima, ONS veta manutenção de equipamentos e expõe o setor a riscos que vão além da falta de água

No início de janeiro, semanas antes do apagão que penalizou 13 estados brasileiros, a estatal Eletronorte fez um pedido corriqueiro ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS): precisava interromper a operação de três turbinas na Usina de Tucuruí, no Pará, para manutenção. A princípio, o órgão autorizou a interrupção. Mas, rapidamente, mudou de ideia. O órgão ainda exigiu, ainda, que a empresa aumentasse sua disponibilidade energética de 89% para 98%, ou seja, que operasse em sua capacidade máxima — nível que a estatal não conseguiu cumprir, ficando em apenas 93% em fevereiro. Temendo por suas turbinas, a Eletronorte enviou um ofício reiterando o pedido. O ONS respondeu com uma negativa, sem dar qualquer explicação — assim como se recusou a conversar com o site de VEJA. Essa se tornou a regra tácita para todo o sistema de geração de energia: haja o que houver, nenhuma térmica ou hidrelétrica pode entrar em manutenção enquanto os reservatórios do Sudeste, que exibem seus piores níveis históricos, não voltarem à normalidade. Embora a Eletronorte afirme que a falta de manutenção não causará dano aos seus equipamentos, técnicos rebatem dizendo que, no mínimo, a vida útil das turbinas será reduzida.

Ao manter o sistema funcionando em sua capacidade máxima, o Planalto quer afastar qualquer risco de racionamento num ano eleitoral. Mas o veto aos procedimentos de reparo que o bom senso prescreve é apenas o capítulo mais recente de uma série de decisões de cunho intervencionista que o governo vem adotando há cerca de um ano e meio, sem atentar para a lógica de funcionamento quer técnico, quer financeiro, do setor elétrico. A primeira delas, tomada em setembro de 2012 por meio da Medida Provisória 579, mudou as regras do setor com o intuito de baixar o preço da eletricidade para o consumidor e acabou inclusive provocando saída de três das maiores companhias elétricas (Copel, Cesp e Cemig) do mercado regulado. A partir daí, houve uma reação em cadeia e as distorções se acumularam. Na semana passada, por exemplo, os observadores se surpreenderam quando o preço do megawatt/hora da região Norte no mercado livre dobrou de 200 para 400 reais, enquanto as estimativas apontavam para uma queda de 200 para 150 reais. Nesta semana, o preço vigente será de 670 reais – um novo salto.

Os efeitos perniciosos da MP 579 começaram a se manifestar menos de um ano depois de sua edição. A energia consumida pelas residências é proveniente de um mercado regulado pelo governo. As distribuidoras, como a Eletropaulo, compram energia em leilões promovidos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que estabelece o preço a ser pago por megawatt levando em conta as perspectivas de demanda das próprias companhias. Como Cemig, Cesp e Copel já não participavam desses leilões, a energia ofertada não foi suficiente para suprir a demanda. Diante da escassez, as distribuidoras tiveram de comprar energia no mercado livre, que negocia contratos de curto prazo — mais caros e voláteis. Anteriormente, tal mercado era frequentado apenas por grandes indústrias, como as siderúrgicas e químicas, com consumo altíssimo de energia.

“O erro estrutural foi a MP. Isso mudou o panorama do setor inteiro. Para que tudo desse certo, não poderia haver escassez de energia. Só que o governo não combinou isso com as elétricas que não aderiram às renovações, e muito menos com São Pedro”, afirma Claudio Monteiro, da Matrix Energia. A estiagem deste ano tornou a situação crítica. Para se ter uma ideia, na primeira semana de janeiro, o valor da energia no mercado livre para a região Sudeste era de 250 reais por megawatt/hora. Já no início de fevereiro, avançou para o patamar histórico de 822 reais. Os preços são calculados semanalmente pelo ONS e pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), uma espécie de bolsa de valores do setor, onde geradoras vendem e distribuidoras compram energia de curto prazo. “É um modelo suscetível a muitos solavancos de preço. E as distribuidoras não estavam acostumadas com isso”, afirma Erik Rego, da consultoria Excelência Energética.

Na região Norte, onde se encontra o maior potencial hidrelétrico do país, as cheias típicas do início do ano deveriam trazer abundância de energia e tranquilidade. Mais uma vez, não foi o que aconteceu – deu-se o salto inesperado na cotação do megawatt/hora. O ONS se recusa a prestar esclarecimentos públicos sobre esse fato. A CCEE alegou que o preço da energia no Norte avançou porque o sistema havia alcançado o limite de transmissão do Norte para o Sudeste, o Nordeste e o Centro-Oeste. Contudo, segundo dados do ONS obtidos pelo site de VEJA, os limites de transmissão de 4 000 megawatts médios para o Sudeste e 3 300 megawatts médios para o Nordeste não haviam sido atingidos e não estavam acima do patamar histórico. Segundo esses dados, as previsões do próprio ONS para as próximas semanas são de uso abaixo da capacidade de transmissão das linhas da região. Ou seja, a explicação oficial não é convincente, o que faz com que os analistas comecem a especular sobre o que acontece nos bastidores dos órgãos que determinam as regras do setor elétrico. Entre as hipóteses aventadas está até mesmo a de que os preços estão sendo manipulados pelo governo. Ao vender sua energia barata para o Sudeste, a Eletronorte vinha sofrendo prejuízos pesados nas últimas semanas. Sob a desculpa do gargalo no sistema de transmissão, o governo teria encontrado uma forma de equalizar os preços no mercado e minimizar as perdas da estatal do Norte. Esse tipo de especulação sinaliza o grau de desconfiança e incerteza que tomou conta de um setor antes bastante estruturado.

Ao se ver obrigadas a atuar no mercado livre de energia, as distribuidoras tem amargado perdas severas. Apenas em fevereiro, a Associação Brasileira de Companhias Elétricas (ABCE) estima que elas tenham sido da ordem de 3 bilhões de reais. No ano, a previsão é que atinjam 25 bilhões de reais. Para arcar com essa compra de energia, as distribuidoras precisam ter caixa. Caso não tenham, há duas opções: ou quebram ou são resgatadas pelo Tesouro, que pode cobrir os gastos com o mercado livre com dinheiro público, por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Na noite de sexta-feira o Ministério da Fazenda anunciou que fará um aporte 1,2 bilhão de reais proveniente da CDE nas distribuidoras.  “Não existe mágica. A conta vai ser paga pelo consumidor ou pelo contribuinte — que são a mesma pessoa“, afirma Alexei Vivan, diretor da ABCE. O aporte anuniciado nesta sexta-feira já está tirando dinheiro do bolso do contribuinte. Mas o bolso do consumidor também deve sofrer. Estima-se que a conta de luz tenha aumento de até 25% em 2015 – o que anularia completamente os efeitos que se pretendia obter com a edição da MP 579.

(com Estadão Conteúdo)

sábado, 8 de março de 2014

Ucrania: super-Kissinger tem a solucao ao imbroglio

Como resolver a crise ucraniana

Henry Kissinger
O Globo, 8/03/2014

O tema dos debates públicos na Ucrânia é o confronto. No entanto, sabemos para onde estamos nos encaminhando? Em toda a minha vida, presenciei quatro guerras que começaram com grande entusiasmo e apoio da população e, em todas, não sabíamos como terminariam. Em três delas, nos retiramos unilateralmente. O teste, em termos políticos, é como uma guerra termina, não como começa.
Com muita frequência a questão ucraniana é colocada como uma declaração de intenção: se o país adere ao Ocidente ou à Rússia. No entanto, se a Ucrânia pretende sobreviver e prosperar, não pode se tornar um posto avançado de um lado contra o outro. Deve funcionar como uma ponte entre ambos.
A Rússia tem de entender que forçar a Ucrânia a se tornar um país satélite e mexer novamente nas fronteiras russas, condenará Moscou a repetir sua história de ciclos que se concretizam, de pressões recíprocas com Europa e EUA.
O Ocidente precisa entender que, para a Rússia, a Ucrânia jamais será apenas um país estrangeiro. A história russa começou na chamada Kieva-Rus. A religião russa se propagou a partir dali. A Ucrânia fez parte da Rússia durante séculos e suas histórias já estavam entrelaçadas antes disso.
Algumas das mais importantes batalhas pela liberdade russa, a começar pela Batalha de Poltava, em 1709, foram travadas em solo ucraniano. A Frota do Mar Negro, o meio de a Rússia projetar o poder no Mar Mediterrâneo, está baseada, mediante um arrendamento de longo prazo, em Sebastopol, na Crimeia. Até mesmo dissidentes famosos, como Alexander Soljenitsyn e Joseph Brodsky, insistiam que a Ucrânia era parte integral da história russa e, de fato, da Rússia.
A União Europeia precisa admitir que sua demora e a subordinação do elemento estratégico a políticas domésticas nas discussões sobre a inserção da Ucrânia no bloco contribuiu para transformar a negociação numa crise. A política externa é a arte de estabelecer prioridades.
Os ucranianos são o elemento decisivo. Eles vivem num país com uma história complexa e poliglota. O lado ocidental foi incorporado à União Soviética, em 1939, quando Stalin e Hitler dividiram os botins de guerra. A Crimeia, com 60% da população russa, tornou-se parte da Ucrânia apenas em 1954, quando Nikita Kruchev, ucraniano de nascimento, recebeu-a dos cossacos no âmbito das comemorações dos 300 anos de um acordo firmado pelos russos com eles.
Na região ocidental, a maioria é católica. No leste, a população adota a religião ortodoxa russa. Do lado ocidental, a língua falada é o ucraniano. Do lado leste, a maioria fala russo. Qualquer tentativa de uma ala da Ucrânia de dominar a outra levaria eventualmente à guerra civil ou a uma ruptura. Tratar a Ucrânia como parte de um confronto entre Leste e Oeste seria destruir por décadas qualquer perspectiva de unir a Rússia e o Ocidente - especialmente Rússia e Europa - em um sistema internacional cooperativo.
A Ucrânia é um país independente há 23 anos. Antes, manteve-se sob algum tipo de domínio estrangeiro desde o século 14. Não é de surpreender que seus líderes não tenham aprendido a arte do compromisso, e menos ainda a perspectiva histórica.
Rivalidade. A política da Ucrânia pós-independência demonstra claramente que a raiz do problema repousa nos esforços dos políticos ucranianos para impor sua vontade às partes recalcitrantes do país, primeiro por uma facção, depois por outra. Essa é a essência do conflito entre Viktor Yanukovich e sua principal rival política, Yulia Tymoshenko.
Eles representam as duas alas da Ucrânia e não se mostraram dispostos a dividir o poder. Uma política inteligente com relação à Ucrânia deve ser no sentido de buscar uma maneira de as duas partes do país cooperarem uma com a outra. Devemos buscar a reconciliação, não o controle de uma facção.
Rússia e Ocidente, muito menos as diversas facções na Ucrânia, não agiram com base nesse princípio. E tornaram a situação ainda pior. A Rússia não imporia uma solução militar sem se isolar em um momento em que muitas das suas fronteiras já são precárias. Quanto ao Ocidente, a demonização de Vladimir Putin não é uma política, mas um álibi para sua ausência.
Putin deve entender que, sejam quais forem suas queixas, optar pela imposição militar só produzirá uma outra Guerra Fria. Os EUA, por seu lado, devem evitar tratar a Rússia como uma anomalia, um país que precisa ser ensinado pacientemente a respeitar as normas de conduta estabelecidas por Washington.
Putin é um estrategista sério - em termos de história russa. Compreender os valores e a psicologia dos americanos não é o seu forte. Tampouco compreender a história e a psicologia russa é um ponto forte dos estrategistas políticos dos EUA.
Os líderes de todos os lados devem voltar a examinar os resultados e não competir em termos de posições. Eis a minha noção de um resultado compatível com os valores e os interesses no campo da segurança de todos os lados.
Primeiro, a Ucrânia deve ter o direito de decidir livremente suas associações políticas e econômicas, inclusive com a Europa. Em segundo lugar, Kiev não deve aderir à Otan, posição que assumi há sete anos, quando o assunto emergiu pela última vez.
Em terceiro, a Ucrânia deve ser livre para criar um governo compatível com o desejo manifesto do seu povo. Líderes ucranianos sensatos precisam adotar uma política de reconciliação entre as várias partes do seu país. No plano internacional, devem assumir uma posição comparável à da Finlândia. Este país não deixou nenhuma dúvida quanto à sua brava independência e coopera com o Ocidente em muitos campos, mas atentamente evita qualquer hostilidade institucional no tocante à Rússia.
Por fim, é incompatível com as regras da ordem mundial vigente uma anexação da Crimeia pela Rússia. No entanto, deve ser possível manter o relacionamento da Crimeia com a Ucrânia em bases menos tensas. Para isto, a Rússia reconheceria a soberania da Ucrânia sobre a Crimeia. A Ucrânia reforçaria a autonomia da Crimeia em eleições realizadas na presença de observadores internacionais. O processo incluiria a eliminação de qualquer ambiguidade no tocante ao estatuto da Frota do Mar Negro, em Sebastopol.
Esses são princípios, não prescrições. Pessoas que conhecem bem a região saberão que nem todos serão de agrado de todas as partes. O teste não pretende ser uma satisfação absoluta, mas uma insatisfação equilibrada. Se uma solução com base nesses ou em outros elementos comparáveis não for encontrada, a tendência ao confronto irá se acelerar. O que poderá ocorrer muito em breve. /

Henry Kissinger é ex-secretário de Estado dos EUA entre 1973 e 1977.
(Artigo transcrito de O Estado de S. Paulo de 7/3/2014. Tradução: Terezinha Martino)


Venezuela: marcando gente, como nos velhos tempos do nazismo?

Tatuar números nos braços é um triste souvenir dos campos de concentração nazistas, mas é o estado a que se chegou com a penúria do "socialismo do século 21".
Paulo Roberto de Almeida 

Rationing In Venezuela Brings Eerie Markings On People’s Arms


Image HT “Carlos C” https://twitter.com/cwcarabia/status/442315176369328128
In Venezuela food, cosmetics, toiletries and even toothpaste are being rationed because of government policies extricating foreign corporations from Venezuela.
As a means of controlling the available supply of these products, Venezuelan authorities are now marking human beings with serial numbers and in some cases barcodes. It is applied with permanent marker and takes hours to remove.
These numbers or barcodes allow government officials waiting outside supermarkets to know whether you’ve had your quota of goods for the week or month. All out? Well you’re screwed then.

Venezuela, Crimeia, Cuba, URSS, etc: ditaduras ordinarias sao sempre ordinarias - Demetrio Magnoli

A cena que Garcia viu
Demétrio Magnoli
Folha de S.Paulo, 8/03/2014

O 'povo valente' de Maduro não são os venezuelanos, mas apenas os chavistas. O ministro-fantasma ouviu

Temos dois ministros das Relações Exteriores. O ministro oficial, Luiz Alberto Figueiredo, não tem jurisdição na América do Sul, esfera de operação do ministro-fantasma, Marco Aurélio Garcia, que opera como plenipotenciário do presidente fantasma, Lula da Silva. Garcia assistiu, na Venezuela, às cerimônias governamentais que marcaram o primeiro aniversário da morte de Hugo Chávez. Ele viu, mas não falará.
Ele viu o desfile no Paseo de Los Próceres, a esplanada de Caracas delimitada por postes de iluminação situada no perímetro do Forte Tiuna e adornada por objetos esculturais de inspiração helenística que se abre para o monumento aos heróis da independência. Não foi exatamente um evento em memória ao caudilho "bolivariano", mas uma exibição do equipamento militar importado da Rússia e da China: caças Sukhoi, mísseis terra-ar, blindados T72. Nos discursos, entremeados por torrentes de palavras de ordem, Chávez foi mencionado como "comandante eterno", "nosso pai" e "líder supremo", enquanto a Venezuela ganhou a qualificação de "pátria socialista, revolucionária e majoritariamente chavista".
A nação, Garcia viu, é um movimento, um partido, um ponto de vista político, uma ideologia. Isso, porém, não passa de déjà vu. O novo é outra coisa, que Garcia também viu. O presidente Nicolás Maduro alertou que "somos um povo valente na defesa de nossos direitos" e --mensagem direta!-- insistiu em esclarecer o sentido de conjunto da performance em curso. Maduro disse que as tropas equipadas, as milícias armadas e os franco-atiradores treinados cumprem uma função política: estão ali para enfrentar "quem ouse se contrapor ao projeto cívico-militar". O "povo valente" de Maduro não são os venezuelanos, mas apenas os chavistas. Garcia viu e ouviu.
O conceito de "inimigo interno" tem história na América do Sul. À sua sombra, deflagraram-se os golpes militares no Brasil, na Argentina, no Chile e no Uruguai. Em nome do combate ao "inimigo interno", a Junta Militar promulgou o AI-5 e, entre tantos outros, Dilma Rousseff foi presa e torturada. A linguagem da "revolução bolivariana", expressa tanto em discursos oficiais como nos palanques dos comícios, estrutura-se em torno do mesmo conceito que sustentou as "ditaduras de segurança nacional". Garcia permaneceu calado. O governo brasileiro afunda-se na cumplicidade com um regime que, imitando Cuba, qualifica a divergência política como traição à pátria.
A Venezuela não é, ainda, uma ditadura: ditaduras não promovem eleições em cenários de liberdade partidária. Contudo, já não é uma democracia: democracias conservam a independência do Judiciário e não restringem a liberdade de imprensa. A ditadura nasce no solo da linguagem. Leopoldo López, uma destacada liderança da oposição, foi preso na onda de protestos sem nenhuma acusação específica: o governo substituiu o ônus de acusá-lo pela facilidade de insultá-lo, crismando-o como "fascista" e "incitador do ódio". Entidades de direitos humanos pedem a sua libertação; Garcia, não.
A linguagem importa. Numa entrevista em que criticou a "metodologia" de bloqueios de ruas dos protestos oposicionistas nos bairros de classe média do leste da capital, um líder opositor local de Catia, na periferia da Grande Caracas, ofereceu uma aula gratuita de ciência política aos jornalistas. Saverio Vivas disse que os "coletivos" (as milícias chavistas) servem, principalmente, para atemorizar a população das periferias pobres. Nessas periferias, também ocorrem manifestações. Mas, explicou Vivas, sob a intimidação dos "coletivos", os manifestantes apressam-se em qualificá-las como "sociais", não "políticas". Na Venezuela, "política" é para poucos: só pode ser feita pelo regime --e, ainda, mas cada vez menos, por opositores nos santuários de classe média. Isso é o que Garcia viu.


A nova Guerra Fria economica - Floyd Norris

OFF THE CHARTS

New Cold War Would Differ From Old



RUSSIA had some real economic problems even before the Ukrainian crisis led the United States and European countries to threaten sanctions on the country after the Russian flag was raised in Crimea, a part of Ukraine, and troops who spoke Russian appeared to take over a significant part of the region.
Russia’s growth had slowed to almost nothing: Its real gross national product in the third quarter of 2013 was just 0.6 percent larger than it had been a year earlier. The ruble was weak.
Its manufacturers appeared to be doing much worse than competitors in other countries. Its stock market has trailed markets in most other countries over the last year.
If this is a new incarnation of the Cold War, it will be very different from the old one.
Back then, the Soviet Union and the members of its empire were in some ways in their own economic world. They largely traded with each other, and they controlled the value of their currencies. Now, the world is a far more globalized place.
Just which side would have the ability to frustrate the other is the subject of debate now that John Kerry, the United States secretary of state, has threatened to throw Russia out of the Group of 8, to which it had been added in 1997. The other members are seven traditional economic powers: the United States, Britain, Germany, France, Italy, Japan and Canada.
On the one hand, Russia is a major supplier of energy to Western Europe. If it cut off its natural gas exports, several countries — notably the Netherlands — would have a hard time coping. On the other hand, energy accounts for most of Russia’s exports. Its supply of foreign currency reserves could be depleted rapidly if cash from Western Europe stopped arriving.
Germany is a substantial customer for Russian gas, but it also is a major exporter to Russia. It would be damaged more than most countries if a trade freeze developed. Last year, Germany supplied 12 percent of Russia’s imports, more than double the share provided by the United States. Western Europe has more to fear than the United States does from a prolonged Cold War.
On Monday, the same day that stock prices plunged around the world because of the Ukrainian crisis, Markit reported on the results of monthly surveys of manufacturers around the world, and Russia stood out on the negative side.
In those surveys, companies are asked if business is better that month than it was the previous month, both over all and in several areas. The accompanying charts show the results in two of those areas: output and new export orders. Figures over 50 indicate that more companies reported improvement than reported declines, while those under 50 indicate the reverse.
The charts compare the Russian results with the averages of two groups of neighbors. One includes the four Eastern European countries where the surveys are conducted — Poland, Hungary, the Czech Republic and Turkey. The other includes the four troubled members of the euro zone that are surveyed. Ireland and Greece had to be bailed out, while Italy and Spain have seen bond markets grow fearful of their ability to meet their obligations.
In 2012, manufacturers in Russia were reporting much better results than either of those two groups. But now, both of the groups say that export orders and output are rising. In Russia, they are shrinking.
If the new Cold War lasts for a long time, a substantial reduction in trade could damage both sides; each is far more dependent on the other than it ever was in the old Cold War. That provides a reason for both sides to compromise, but it also may provide a reason for each to be stubborn, expecting that the other will have to give in.
Floyd Norris comments on finance and the economy at nytimes.com/economix.

Economia brasileira: resultados da politica companheira - Rolf Kuntz


Parem de caluniar o petróleo e o tomate. Nem o tomate foi culpado pela inflação, no ano passado, nem o petróleo é o vilão da balança comercial, como andaram dizendo nos últimos dias. Se os preços no varejo continuam subindo muito mais que no resto do mundo, é porque há desequilíbrios graves na economia brasileira, como tem havido há muitos anos. E o comércio exterior vai mal porque a atividade interna também vai mal, com custos altos e crescentes, produtividade baixa, indústria emperrada e governo incompetente. Se as importações de combustíveis e lubrificantes consumiram em fevereiro US$ 3,59 bilhões, 7,9% mais que um ano antes, foi principalmente porque a produção nacional tem sido insuficiente para acompanhar a demanda.


Em janeiro a produção interna de petróleo e líquido de gás natural (LGN) foi 2,4% menor que em dezembro - apenas a continuação de uma longa queda. O volume produzido caiu de 2,02 milhões de barris/dia em 2011 para 1,98 milhão em 2012 e 1,93 milhão no ano passado. Em contrapartida, a extração de água, em algumas áreas, passou a igualar a de petróleo.

Desde a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a interferência do governo central na condução dos negócios da Petrobrás levou a empresa a investimentos errados no Brasil e no exterior, distorceu prioridades, afetou a geração de caixa, aumentou seu endividamento e derrubou seu valor de mercado. A perda de produção e a maior dependência da importação de derivados foram desdobramentos dessa história de irresponsabilidades. A maior empresa brasileira foi subordinada às ambições políticas do grupo governante, usada para uma diplomacia contrária a seus interesses e convertida em instrumento de uma política industrial anacrônica.

Mas a decadência empresarial da Petrobrás explica só em parte o mau desempenho comercial do Brasil. A cena fica mais clara quando se consideram os números do primeiro bimestre. Em janeiro e fevereiro as exportações somaram US$ 31,96 bilhões, valor 1,4% maior que o de um ano antes. Mas a variação se torna negativa - queda de 3,4% - quando se comparam as médias dos dias úteis (42 em 2013 e 40 em 2014). No caso das importações, a comparação entre os valores absolutos indica um aumento de 3,6%. Quando se confrontam as médias dos dias úteis, o resultado é uma queda de 1,4%, bem menor que a das vendas ao exterior. Em 12 meses, pelo mesmo critério, a receita diminuiu 0,9% e a despesa aumentou 4,4%.

O déficit comercial de US$ 6,18 bilhões no primeiro bimestre é um retrato de um País com graves desarranjos. A receita obtida com a venda de produtos básicos aumentou de US$ 13,6 bilhões para R$ 14,06 bilhões, mas o valor médio diário diminuiu 1,5%. Considerando-se a evolução dos preços, foi um bom resultado. Ruins, mesmo, foram as vendas de produtos da indústria.

A receita dos manufaturados caiu 5,6%. A de semimanufaturados diminuiu 7,2%. O problema da competitividade continua muito grave. Além disso, o País sofre os efeitos da crise na Argentina, seu maior parceiro na América Latina e um dos principais mercados para a indústria brasileira. Em janeiro e fevereiro as vendas para o mercado argentino, US$ 2,37 bilhões, foram 16% menores que as do primeiro bimestre de 2013.

O melhor resultado foi o das vendas para a China. A receita de US$ 5,02 bilhões nos dois primeiros meses foi 25,5% maior que a de um ano antes. As exportações para os Estados Unidos também avançaram bem e renderam US$ 3,96 bilhões, 7,4% mais que em janeiro e fevereiro do ano passado. Mesmo com alguma desaceleração, o mercado chinês continua absorvendo enormes volumes de matérias-primas e de bens intermediários.

Mas o comércio com os Estados Unidos tem uma composição muito mais equilibrada, porque o mercado americano absorve boa parte das exportações brasileiras de manufaturados. Em janeiro, último mês com números detalhados até esse nível, apenas 4,5% das vendas brasileiras à China foram de manufaturados. O total dos industrializados (com inclusão dos semimanufaturados) chegou a 25,78%. Quase metade das exportações para os Estados Unidos (45%) foi de manufaturados. Os industrializados corresponderam a 66,23%.

O Império, portanto, é um bom cliente da indústria brasileira, enquanto o grande emergente, eleito como parceiro estratégico pela diplomacia brasiliense, mantém com o Brasil um comércio de tipo colonial.

Não há nenhum mal em exportar grandes volumes de commodities. Algumas das potências mais desenvolvidas, como Estados Unidos e Canadá, também são grandes vendedoras de matérias-primas e bens intermediários. A grande besteira cometida pelas autoridades brasilienses, a partir de 2003, foi desprezar os acordos comerciais com os mercados mais desenvolvidos, dar prioridade ao chamado comércio Sul-Sul e deixar esboroar-se o poder de competição da indústria nacional. O agronegócio ainda se mantém competitivo, mas até quando? A tentativa de ressuscitar políticas industriais talhadas segundo o modelo dos anos 50 e 60 produziu o efeito esperado pelas pessoas sensatas e menos provincianas. O fracasso era tão previsível quanto os efeitos da tolerância à inflação.

A esperança de resultados melhores com a depreciação do câmbio e a reativação do mercado global é igualmente enganadora. O câmbio é a menor parte do problema, como já mostraram os números do ano passado, e um mercado mundial mais favorável será aproveitado principalmente pelos produtores mais eficientes. Isso é óbvio, exceto para o governo brasileiro e, curiosamente, para uma parcela dos empresários da indústria. Mas essa parcela tem diminuído, como indicam as boas análises publicadas por algumas entidades do setor, como o Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial (Iedi).

JORNALISTA

Venezuela: tudo normal na frente diplomatica

Diplomatas sempre fazem o que lhes é instruido. Basta deixar o cérebro em casa, e o estômago na portaria...
Não o Brasil, mas a diplomacia companheira, votou contra o exame da situação na Venezuela pela OEA.
Paulo Roberto de Almeida 

Nota da OEA:

En relación con los hechos recientemente acaecidos en la República Bolivariana de Venezuela, el Consejo Permanente declara:
Sus condolencias y solidaridad con las víctimas y sus familiares, con el pueblo y el gobierno de la República Bolivariana de Venezuela, y hace votos para que las investigaciones tengan una rápida y justa conclusión.
Su respeto al principio de no intervención en los asuntos internos de los Estados y su compromiso con la defensa de la institucionalidad democrática y del estado de derecho de acuerdo con la Carta de la OEA y el derecho internacional.
Su más enérgico rechazo a toda forma de violencia e intolerancia, y hace un llamado a todos los sectores a la paz, a la tranquilidad y al respeto a los derechos humanos y libertades fundamentales, incluyendo los derechos a la libertad de expresión y reunión pacífica, circulación, salud y educación.
El reconocimiento, pleno respaldo y aliento a las iniciativas y los esfuerzos del Gobierno democráticamente electo de Venezuela y de todos los sectores políticos, económicos y sociales para que continúen avanzando en el proceso de diálogo nacional, hacia la reconciliación política y social, en el marco del pleno respeto a las garantías constitucionales de todos y por parte de todos los actores democráticos.
Su interés de mantenerse informado sobre la situación y el diálogo instaurado en Venezuela.
Notas de Panamá e Estados Unidos:

1: La República de Panamá presenta sus reservas a la presente declaración.
I – No está de acuerdo con la inclusión de la palabra solidaridad en el título de la Declaración ya que de lo que se trata es de brindar respaldo al diálogo, la paz y la democracia.
II – Así mismo, considera que el respaldo y aliento a las iniciativas y esfuerzos del gobierno democráticamente electo de Venezuela puede interpretarse como una parcialización hacia el Gobierno, frente al resto de los actores sociales. La referencia a que continúen avanzando en el proceso de diálogo nacional se podría entender como que solo apoyamos el diálogo actual.
III – Con referencia al último párrafo, la República de Panamá considera que la OEA debe tener una actitud más dinámica y darle seguimiento, a la situación y al diálogo nacional en Venezuela y no solamente declare su interés en mantenerse informado sobre el diálogo ya instaurado.

2. Estados Unidos apoya el llamado a una resolución pacífica de la situación en Venezuela con base en un diálogo auténticamente inclusivo. Sin embargo, Estados Unidos no puede respaldar esta declaración dado que no refleja adecuadamente el compromiso de la Organización de promover la democracia y los derechos humanos en el Hemisferio. Además, la declaración coloca a la OEA en una posición de parcialismo, lo cual no puede hacer.
Específicamente, el párrafo 2 sugiere, incorrectamente, que la supuesta necesidad de mantener el orden y el respeto por el principio de la no intervención tiene prioridad sobre los compromisos de todos los Estados Miembros de la OEA de promover y proteger los derechos humanos y la democracia. La declaración contradice el artículo 2 de la Carta de la Organización de los Estados Americanos y los principios consagrados en la Carta Democrática Interamericana.
Si bien el párrafo 4 hace referencia al diálogo, este carece de un elemento clave para solucionar los problemas de Venezuela. Para tener éxito, el diálogo debe ser genuino e incluir a todas las partes. La declaración apoya parcialmente un diálogo patrocinado por el gobierno, que ha sido rechazado por importantes sectores de la oposición.
Estados Unidos cree que el diálogo genuino requerirá la participación de un tercero que goce de la confianza de todas las partes. También exigirá el fin de todo intento de reprimir la libertad de expresión y la liberación de los presos políticos. Desafortunadamente, la declaración no promueve suficientemente estos objetivos. La OEA no puede sancionar un diálogo en el cual gran parte de la oposición no tiene voz ni fe. Solamente los venezolanos pueden encontrar soluciones a los problemas de Venezuela, pero la situación actual del país exige que un tercero de confianza facilite el debate mientras los venezolanos buscan estas soluciones.
Por último y fundamentalmente, Estados Unidos no puede concurrir con el llamado de la declaración a un “pleno respaldo de la OEA” a un proceso de diálogo orquestado por un solo actor. La OEA tiene la responsabilidad de permanecer neutral; no puede tomar partido.

Diplomacia ideologica - Ruy Fabiano (O Globo)

Diplomacia ideológica
Ruy Fabiano
O Globo, 8/03/2014

A política externa brasileira, historicamente, foi sempre de Estado, não de governo, como é de hábito nos países que não baniram inteiramente o bom senso.
Sendo as relações com a comunidade internacional contínuas, reguladas por tratados de longa duração, não podem estar sujeitas à efemeridade dos governos. Nem mesmo a passagem da monarquia para a república, no final do século XIX, mudou isso.
Foram dois monarquistas confessos – o Barão do Rio Branco e Joaquim Nabuco – dois dos principais atores da cena diplomática brasileira no início do período republicano.
Mesmo as discussões doutrinárias no âmbito da diplomacia brasileira, eram discussões de Estado, sem vínculo partidário. Ao tempo do regime militar, por exemplo, havia a corrente terceiro-mundista, que postulava relações prioritárias com a África e América Latina, em oposição à corrente conservadora, que defendia que se mantivesse o status quo de alinhamento ao Primeiro Mundo, sobretudo aos Estados Unidos.
No período da Guerra Fria, prevaleceu essa corrente, sem embargo de inflexões eventuais ao terceiro-mundismo. Havia uma busca de equilíbrio, que os militares não alteraram (vide período Geisel, em que predominou a política de pragmatismo responsável, segundo a qual um país não tem amigos, mas interesses).
Com a redemocratização, o terceiro-mundismo passou a prevalecer, acentuando-se após a queda do Muro de Berlim. A política externa, no entanto, continuou sendo de Estado, discutida e aplicada sem vínculos ou sujeições aos partidos políticos. Não que eles fossem indiferentes à discussão, mas nela não tinham poder deliberativo.
A chegada do PT ao poder mudou tudo isso. A política externa tornou-se questão partidária. O Foro de São Paulo, entidade criada por Lula e Fidel Castro em 1990, com o objetivo de agregar as forças socialistas do continente, de modo a eleger governos de esquerda, tornou-se instância formuladora da política externa latino-americana.
Foi ali que despontou a figura de Hugo Chávez. Lula declarou mais de uma vez que “fomos nós, do Foro, que inventamos o Chávez”. E não só o Chávez, mas diversos outros governantes, como Evo Morales, da Bolívia, dando-lhes apoio logístico e financeiro nas campanhas eleitorais, intervindo em questões internas e estabelecendo políticas de aplicação geral, inclusive para o Brasil.
Não é de estranhar, nesses termos, que o Brasil tenha absorvido a tomada, manu militari, de uma refinaria da Petrobras na Bolívia; ou tenha intervindo na situação interna de Honduras, oferecendo sua embaixada para que o presidente constitucionalmente deposto, Manoel Zelaya, conspirasse por sua volta; ou ainda que se tenha empenhado pela inclusão da Venezuela no Mercosul, mesmo o país não atendendo a cláusula estatutária de ser uma democracia.
Exemplos não faltam e o mais expressivo tem sido a simpatia do país pelas Farc, organização responsável, entre outros crimes, por sequestros e pelo abastecimento de cocaína ao Brasil.
Marco Aurélio Garcia – espécie de chanceler prêt-a-porter, invenção da diplomacia ideológica em curso – recusou-se, na contramão do consenso internacional, a reconhecê-las como terroristas, mesmo tendo nos sequestros e no tráfico sua fonte de rendimentos. Convém lembrar que as Farc mantêm campos de concentração na Amazônia, com cerca de oito mil prisioneiros.
Mesmo assim, Lula sugeriu que se transformassem num partido político e disputassem eleições, tese que, por esse raciocínio, poderia ser encampada pelo Comando Vermelho e pelo PCC.
Com tal diplomacia, o Brasil desgastou-se perante parceiros tradicionais e envolveu-se em trapalhadas internacionais, como as caricatas intervenções de Lula no Oriente Médio, cujos dilemas pretendeu resolver com sua cultura sindicalista. Custou a entender que a Palestina não é São Bernardo.
Eis, porém, que a diplomacia mundial vê-se mais uma vez numa encruzilhada, em face da declaração de guerra da Rússia à Ucrânia. Que tem o Brasil com isso? Aparentemente, nada. Mas, considerando-se que o projeto imperial russo não se esgota na reconquista da Crimeia ou mesmo de toda a Ucrânia, tem algo a ver.
Informa-se que a Rússia está negociando a assinatura de acordos para a instalação de bases militares em Cuba, Venezuela, Nicarágua, entre outros países. O Brasil já deu sua contribuição, financiando o porto de Cuba e agora o da Venezuela.
Quem se der ao trabalho de buscar na internet, há um depoimento longo de Alexandre Duguin, conselheiro de Putin, falando da importância da América Latina – com destaque para o Brasil – no projeto geopolítico eurasiano, concebido para restabelecer a presença imperial russo-chinesa no planeta.
Por aí se vê que a diplomacia ideológica não se restringe apenas à América Latina. É parte de algo maior e mais perigoso: a ruptura com aliados tradicionais e o mergulho numa aventura ideológica, de consequências imprevisíveis. Para o Brasil e para o mundo.

Ruy Fabiano é jornalista.

Venezuela chavista: uma colonia cubana - Carlos Alberto Montaner

Talvez não só a Venezuela...
(Grato a Orlando Tambosi)
Paulo Roberto de Almeida 

Venezuela, colonia de Cuba
Carlos Alberto Montaner, jornalista escritor cubano, analisa o legado do tirano Hugo Chávez, que morreu em 5 de março, no 60º aniversário da morte de Stálin. O que ele deixou, diz Montaner, foi um serviçal da ditadura castrista, Nicolás Maduro:
¿Cuál es el legado de Hugo Chávez? Al fin y al cabo, gobernó a su antojo durante catorce años (1999-2013). El periodo más largo de la historia de Venezuela, exceptuado Juan Vicente Gómez (1908-1935), otro militar de mano dura que se murió mandando. Digámoslo rápidamente: la herencia que les dejó a sus atribulados compatriotas fue la cubanización de Venezuela.
El 5 de marzo del 2013 se anunció la muerte de Hugo Chávez. Se cumplían 60 años exactos de la de Stalin. Chávez estaba clínicamente muerto desde mucho antes. Tal vez desde el 29 de diciembre anterior, cuando lo operaron en La Habana, pero lo mantuvieron artificialmente "vivo", con el encefalograma plano, conectado a máquinas que estimulaban los latidos de su inútil corazón.

Durante ese periodo, el gobierno cubano se dedicó febrilmente a organizar la transmisión de la autoridad en Venezuela. No podían desconectarlo hasta tanto no tuvieran todas las riendas del poder en las manos. Los Castro defendían subsidios por trece mil millones de dólares anuales, incluidos unos cien mil barriles diarios de petróleo, de los cuales Cuba reexporta la mitad.

Era importante prolongar el control del rico país sudamericano mientras se pudiese. En Venezuela se cumplía el destino trágico de las colonias: nutrir a la Metrópolis, más o menos como los insectos cautivos alimentan a las tarántulas que los van devorando lentamente.

Lo extraño, en este caso, es que el insecto es mucho mayor que la tarántula. ¿Cómo una pequeña, improductiva y empobrecida isla caribeña, anclada en un herrumbroso pasado soviético borrado de la historia, puede controlar a una nación mucho más grande, moderna, rica, poblada y educada, sin que siquiera haya existido una previa guerra de conquista? La clave de esa anomalía está en Chávez.

Caudillo

El axioma funciona así: Hugo Chávez se convirtió en el caudillo de Venezuela. Un caudillo es alguien que voluntariamente o por la fuerza asume el liderazgo para dirigir a una sociedad en la dirección que él decide. Entre las prerrogativas del caudillo está la de transferir su autoridad a otra persona o entidad. Al borde de la tumba, presionado por los Castro, Chávez, admitió la designación de Nicolás Maduro, sugerida por La Habana. Ergo, de facto, Cuba es el gran poder en Venezuela.

Este vasallaje contranatura comenzó en 1994, cuando Hugo Chávez conoció a Fidel Castro y el cubano lo sedujo, pero se selló totalmente a partir de abril de 2002, cuando el Ejército venezolano le dio un golpe a Chávez y lo obligó a renunciar, al menos durante 48 horas.

A partir de ese episodio, Chávez no creyó nunca más en sus compatriotas, políticos o militares, y se entregó totalmente en las manos de "los cubanos". ¿Qué le daban los cubanos? Una visión, un método y una misión, pero, sobre todo, informes de inteligencia sobre políticos, periodistas y militares. Detectaban o magnificaban deslealtades y se las revelaban. La información era poder. Cuba reunía y entregaba toda la información, subrayando los peligros para que Chávez estuviera eternamente agradecido.

Nadie conocía mejor los secretos de las tribus chavistas, muchas de ellas mal avenidas, que "los cubanos". Lo conocían todo: los delitos de los narcogenerales, los robos de la boliburguesía, las infidelidades de los supuestos aliados, la conducta íntima de los jefes, sus familias, sus hijos. Esa información podía destrozar a cualquiera que se les opusiera.

Dossier con inmundicias

Ese poder siniestro convertía a La Habana en el único factor aglutinante. Las tribus chavistas le temían. Las sujetaba firmemente por la entrepierna. Como en los versos de Borges, los unía el espanto. Cuando alguien se rebelaba contra su autoridad, le entregaban el dossier de sus inmundicias o le deslizaban un par de datos. No hacía falta más.

Cuando desconectaron a Chávez, ya Maduro había sido ungido, violando la Constitución. Era el hombre de los cubanos. Se había graduado en La Habana en la Escuela del Partido. No era un político, ni un militar, ni una figura de peso. Era un monigote al servicio de Cuba. Era el legado de Chávez. (El Cato).

Venezuela: acabam-se os jornais (ou o papel), ficam os jornalistas...

Nunca antes, naquele país, se tinha chegado a tal situação.
Mas nunca se deve dizer nunca antes, pois deve haver precedentes, em certas ditaduras, por exemplo.
Mas, constrangimentos à imprensa não são exclusivos de ditaduras; algumas "democracias" também podem cair na tentação.
Paulo Roberto de Almeida

Jornal ‘Primera Hora’ deixa de circular na Venezuela por falta de papel

  • A publicação, da mesma editora do ‘El Nacional’, não será impressa por pelo menos dois meses

CARACAS - A falta de papel na Venezuela fez uma nova vítima. O jornal gratuito “Primera Hora”, da mesma editora do “El Nacional”, vai parar de circular por pelo menos dois meses. De acordo com o “El Nacional”, 13 publicações já deixaram de ser impressas.
“Depois de oito anos e nove meses na rua, Primera Hora, o primeiro diário gratuito de Caracas, deixa de circular”, diz um comunicado assinado pelo editor. “Primera Hora não foi capaz de escapar da crise que enfrenta a imprensa escrita pela falta de divisas para compra de papel.
A decisão reflete um novo esforço da editora para garantir a circulação do “El Nacional”, um dos maiores jornais do país.
- Pelo menos nos próximos 60 dias, (o Primera Hora) não poderá acompanhar seus leitores para que o ‘El Nacional’, com paginação drasticamente reduzida, faça economias para sobreviver o maior tempo possível - disse Alba Sánchez , uma das diretoras.
Em janeiro, o editor do “El Nacional” Miguel Henrique Otero havia antecipado a gravidade da situação.
- Desde maio do ano passado, não recebemos nada de papel. Só nos resta material para um mês de impressão.
O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP) culpa o Centro Nacional de Comércio Exterior por não permitir que os meios de comunicação comprem dólar para adquirir insumos no exterior.


Jornais latino-americanos vão publicar reportagens escritas por venezuelanos

  • Veículos afiliados ao GDA, à Andiarios e ao PAL criaram o grupo Somos Todos Venezuela para compartilhar conteúdo

RIO - Os cada vez mais frequentes ataques do governo da Venezuela contra jornalistas e meios de comunicação, em particular contra os jornais diários, colocam em xeque a liberdade de imprensa na Venezuela.
A adoção de regulações restritivas de liberdade de informação; o fechamento de cadeias de TV nacionais e internacionais; a negativa a outorgar divisas para a importação de papel e o conseguinte fechamento de 12 jornais e a diminuição do número de páginas de dezenas de outros; a imposição de sanções administrativas, judiciais e fiscais contra os meios; a desqualificação permanente a jornalistas e veículos; e o uso desmedido e arbitrário do poder para impor uma voz única e silenciar as vozes críticas levaram a que, na prática, os cidadãos venezuelanos estejam impedidos de exercer seu direito de estarem informados.
Diante da gravidade da situação, e conscientes de que sem liberdade de imprensa não há democracia, diversos jornais latino-americanos afiliados ao Grupo de Diários América (GDA) — entre eles O GLOBO —, à Associação de Editores de Diários e Meios Informativos (Andiarios) e ao Grupo de Jornais Latino-Americanos (PAL) decidiram publicar, pela próxima semana, uma página diária com reportagens escritas pelos jornais da Venezuela.
Essa iniciativa busca expressar a solidariedade da imprensa latino-americana com a imprensa venezuelana e mostrar ao governo da Venezuela que a imprensa do mundo inteiro se manterá firme na defesa da liberdade de expressão e do direito de os cidadãos receberem informação.
 em http://oglobo.globo.com/mundo/jornais-latino-americanos-vao-publicar-reportagens-escritas-por-venezuelanos-11807734#ixzz2vLSab66P