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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 10 de março de 2015

Brasil, opiniao: seriam golpistas os brasileiros? 70pc repudiam o governo


Segundo uma pesquisa de opinião da Datafolha do mês de fevereiro, 44% dos consultados consideram o governo atual "ruim" e "péssimo", e 33% "regular". 
Entre os menos escolarizados, só 31% aprovam o governo. 
Nos mais pobres, só 27% a favor. No Nordeste, aprovação caiu de 51 para 34%. 
Esses são os golpistas...
Paulo Roberto de Almeida

Aprovação a governo Dilma Rousseff cai, e reprovação a petista dispara
OPINIÃO PÚBLICA - 09/02/201512H17
DE SÃO PAULO

No início do segundo mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) atingiu seu pior índice de aprovação desde que tomou posse, em janeiro de 2011. Atualmente, 23% dos brasileiros adultos avaliam a gestão da petista como ótima ou boa, enquanto 44% a consideram ruim ou péssima. Há ainda 33% que avaliam o governo Dilma como regular, e 1% não opinou. Na comparação com dezembro de 2014, houve queda expressiva na taxa de aprovação da presidente (à época, 42% consideravam seu governo ótimo ou bom), e alta na reprovação (24% de ruim ou péssimo, 20 pontos a menos do que atualmente). Na série histórica de avaliações do governo Dilma, seu pior índice de aprovação, até então, havia sido registrado no final de julho de 2013 (30%), e o seu melhor índice, em março do mesmo ano (65%).
A aprovação a Dilma caiu em todos os segmentos da população. Mesmo em estratos em que o apoio a petista se mantém acima da média, houve queda significativa. Entre os menos escolarizados, por exemplo, 31% aprovam seu governo atualmente, índice que era de 54% em dezembro do ano passado. Na parcela dos mais pobres, com renda mensal familiar de até 2 salário, a aprovação caiu de 50% para 27% no mesmo período. No Nordeste, foi de 53% para 29%, e no Norte, de 51% para 34%.
De forma geral, os segmentos em que Dilma enfrente seus piores níveis de aprovação hoje são: jovens de 16 a 24 anos (19%); brasileiros com ensino médio (19%) e curso superior (16%); brasileiros com renda mensal familiar de 5 a 10 salários (16%) e mais de 10 salários (17%); residentes no Sudeste (19%) e em cidades com mais de 500 mil habitantes (17%).
De 0 a 10, a nota média atribuída ao desempenho da presidente Dilma Rousseff nos seus quatro anos e um mês de governo é 4,8, o que também representa sua pior nota desde a posse, em 2011.
Para a maioria dos brasileiros, a presidente Dilma Rousseff mentiu durante a campanha à reeleição. Esse grupo inclui aqueles que acreditam que ela disse mais mentiras do que verdades durante a campanha (46%), os que avaliam que disse somente mentiras (14%). A parcela dos que acreditam que a petista disse somente verdades soma 8%, há 25% para quem houve mais verdades do que mentiras, e há 8% que não opinaram sobre o assunto.
A imagem da presidente diante dos brasileiros também piorou na comparação com levantamentos anteriores. Atualmente, 50% a consideram indecisa, 46%, decidida, e 3% não têm opinião a respeito. Em abril de 2012, um ano e três meses após assumir, na última pesquisa em que esses atributos foram avaliados, 82% a apontavam como decidida, e somente 15%, como indecisa. Dois em cada três brasileiros (66%) avaliam a presidente como muito inteligente, e 31%, como pouco inteligente (4% não opinaram). Em abril de 2012, a taxa dos que a apontavam como muito inteligente alcançava 84%, e somente 10% diziam que era pouco inteligente.
No mesmo período, a taxa dos que a avaliam como sincera caiu pela metade (de 73% para 35%), enquanto subiu de 13% para 54% a dos que a consideram falsa - 11% não opinaram na pesquisa atual, e 14% na realizada em 2012. Também foi consultada pela primeira vez a imagem sobre a honestidade da petista, e 47% a avaliaram como desonesta. A fatia dos que a apontaram como honesta soma 39%, e 14% não opinaram.
O desempenho de Dilma na área econômica, atualmente, é pior do que na área social: 20% avaliam a gestão econômica da petista ótima ou boa, 43% acham que é ruim ou péssima, e para 35%, é regular. Na área social, 32% avaliam seu desempenho como ótimo ou bom, 38%, como regular, e 27%, como ruim ou péssimo. Parcelas iguais, de 2%, não opinaram sobre esses temas.
Cresce percepção de corrupção como principal problema do país
A maioria dos brasileiros (59%) considera o país um lugar ótimo, mas esse índice representa uma queda de 18 pontos na comparação com dezembro do ano passado (77%). O índice atual de satisfação com a vida no país é o mais baixo na série histórica do Datafolha sobre o tema, só comparável aos registrados em março/abril de 2003 (61%) e junho de 2001 (60%). A série histórica da questão tem início em março de 2000. Atualmente, há 13% que avaliam o Brasil como ruim ou péssimo para viver (em dezembro do ano passado, 5%), e 28% que o consideram regular (ante 18% no levantamento anterior).
A taxa dos que indicam que tem mais orgulho do que vergonha de viver no Brasil (74%) também é a mais baixa desde março de 2000. Na comparação com dezembro de 2014, houve queda de dez pontos na parcela dos que sentem mais orgulho do que vergonha (era de 84%), e alta de 14% para 24% na fatia dos que sentem mais vergonha do que orgulho de ser brasileiro. Há ainda 2% que não responderam ou indicaram outras respostas.
Os principais problemas do Brasil, citados espontaneamente pelos brasileiros, estão ligados à saúde (26%) e corrupção (21%). Em seguida aparecem problemas relacionados à violência e segurança (14%), educação (9%), desemprego (6%), falta d'água (4%), inflação (4%), economia (2%) e fome/miséria (2%), entre outros menos citados de forma espontânea. Esse quadro aponta para mudanças significativas na percepção do brasileiro sobre os problemas do país quando comparado ao verificado em dezembro de 2014. Desde então, a taxa dos que indicam saúde caiu 17 pontos (era de 43%), a dos que citam corrupção cresceu 12 pontos (era de 9%), e a dos que mencionam a violência/segurança caiu 4 pontos (era de 18%). Cada entrevistado só pode dar uma resposta à pergunta.
Expectativa de alta na inflação atinge nível mais alto desde 1994
A queda nas taxas de aprovação do Governo Federal e satisfação com o país encontram respaldo nas expectativas pessimistas dos brasileiros com os indicadores econômicos do país. Sondagens sobre as expectativas em relação à inflação, desemprego e poder de compra dos salários, além da situação econômica do país e dos entrevistados, são realizadas pelo Insitutot Datafolha desde meados da década de 1990, e há resultados que nunca foram tão pessimistas quanto os registrados em fevereiro de 2015.
Esse é o caso, por exemplo, da inflação: atualmente, 81% dos brasileiros preveem que daqui para frente inflação irá aumentar, 5%, que irá diminuir, e 11%, que irá ficar como está, além de 3% sem opinião sobre o assunto. Em dezembro do ano passado, 54% esperavam por aumento da inflação. Até agora, a taxa mais alta de expectativa de alta na inflação havia sido registrada em setembro de 2001 (72%), em pesquisa realizada uma semana após os atentados terroristas aos Estados Unidos - à época, 51% dos brasileiros acreditavam que as consequências dos atentados para a economia brasileira seriam grandes, 29%, que seriam pequenas, e 11%, que não haveria consequências. As taxas mais baixas de pessimismo foram registradas em dezembro de 1994, julho de 2003 e outubro de 2003 (30%).
O aumento no desemprego é esperado por 62%, e os demais se dividem entre aqueles que acreditam que o desemprego irá diminuir (13%) ou ficar como está (22%). Há ainda 2% que não opinaram. Em dezembro de 2014, 39% avaliavam que o desemprego iria aumentar, 27%, que iria aumentar, e 29%, que ficaria como estava. Essa é a taxa mais alta de expectativa de alta no desemprego desde dezembro 2001 (66%). Na série histórica sobre o tema, que tem início em março de 1995, a mais alta expectativa de aumento de desemprego havia sido registrada em junho de 2001 (72%), em pesquisa que refletia o pessimismo dos brasileiros com a crise energética instalada no país.
Pela primeira vez, desde 1994, a maioria (57%) da população adulta do país acredita que o poder de compra dos salários irá diminuir nos próximos meses. A parcela dos que acreditam que irá aumentar fica em 17%, outros 22% avaliam que irá ficar como está, e 3% não opinaram. Em dezembro do ano passado, o tema dividia os brasileiros: 34% avaliavam que o poder de comprar iria diminuir, 31%, que iria aumentar, e 29%, que ficaria estável. A expectativa mais alta de diminuição de poder de compra registrada, até então, havia sido registrada em fevereiro de 1999 (48%).
Para 55%, a situação econômica do país irá piorar nos próximos meses, o dobro do registrado em dezembro do ano passado (28%). Esse é o índice mais alto de pessimismo em relação à economia brasileira desde que essa questão começou a ser abordada pelo Datafolha, em dezembro de 1997. O resultado só é comparável a setembro de 2001, quando 53% esperavam por piora na economia do país. A parcela dos que esperam que a economia melhore nos próximos meses é de 16%, e para 26% ficará estável. Há ainda 3% que não responderam.
A expectativa em relação à própria situação econômica é menos pessimista, mas o cenário também é de deterioração das expectativas na comparação com o final do ano passado. Para 33%, a situação econômica pessoal irá melhorar (em dezembro, 51%), 26% acreditam que irá piorar (em dezembro, 12%), e 38% avaliam que irá ficar como está (ante 35% em dezembro).
Esse pessimismo econômico traz impactos no consumo dos brasileiros, que cortaram despesas nos últimos meses e não pretendem aumentar seu consumo nos próximos meses. A maioria (56%) cortou algum tipo de despesa pessoal nos últimos meses, e quase metade da população (46%) pretende consumir menos nos próximos meses. Pretendem consumir mais 19%, e 33% pretendem manter o nível de consumo estável.
Para 52% dos brasileiros, Dilma sabia de corrupção na Petrobras e permitiu que ocorresse
Para os brasileiros, a Petrobras tem muita importância para o Brasil, mas parte significativa da população acredita que o futuro da empresa esteja em risco por causa dos casos de corrupção envolvendo seus negócios. Consultados sobre a importância da Petrobras para o país, tendo como parâmetro uma escala de 0 a 10 onde 0 significa nada importante e 10, muito importante, 45% atribuíram máxima importância, ou seja, nota 10. A fatia dos que atribuíram nota 9 é de 9%, e 16% indicaram nota 8. Somadas, as notas 8, 9 e 10 foram apontadas por 70% dos brasileiros, e notas igual ou abaixo de 5 somaram 15%, (uma fatia de 5% atribuiu nota 0, ou nenhuma importância).
Após serem consultados sobre a importância da Petrobras, os brasileiros foram questionados sobre os casos de corrupção envolvendo os negócios da empresa, seu quadro de funcionários e agentes políticos. As questões foram feitas nessa ordem para que a atribuição de importância não fosse influenciada pelas informações trazidas pelas questões referentes à corrupção na estatal.
A maioria dos brasileiros (86%) tomou conhecimento das prisões, no final do ano passado, de executivos de empreiteiras acusados de corrupção em negócios com a Petrobras, índice similar ao registrado em dezembro de 2014 (84%). Dos que tomaram conhecimento, 30% estão bem informados, 44%, mais ou menos informados, e 12%, mal informados.
Para 82%, a corrupção descoberta na Petrobras irá prejudicar a estatal em vários níveis. Os mais pessimistas (45%) acreditam que irá prejudicar a empresa por muito tempo e coloca seu futuro em risco. Para 23%, a corrupção descoberta na empresa irá prejudica-la por muito tempo, mas não coloca seu futuro em risco. Há ainda 15% que veem prejuízo para a Petrobras, mas por pouco tempo, sem colocar seu futuro em risco, e 8% que não veem prejuízo.
Apenas 14% dos brasileiros avaliam que a presidente Dilma Rousseff não sabia da corrupção na Petrobras, e para 25% ela sabia mas não poderia fazer nada para evita-la. A maior parte (52%), porém, acredita que a petista sabia da corrupção na Petrobras e deixou que ela ocorresse, e 8% não tem opinião sobre o assunto. Entre os que aprovam o governo Dilma, 17% acreditam que ela sabia da corrupção mas deixou que ocorresse, 31%, que sabia mas não poderia evita-la, e 37%, que não sabia.
65% apoiam adotar racionamento de energia imediatamente
A maioria dos brasileiros (94%) tomou conhecimento de que a falta de chuvas em algumas regiões do país tem feito baixar o volume de reservatórios de água usados para abastecer a população e gerar energia elétrica. A fatia dos bem informados sobre o assunto atinge 57%, e os demais estão ou mais ou menos informados (31%) ou mal informados (7%)
Um em cada três brasileiros (32%) acredita que o principal responsável pelo risco de faltar energia no Brasil seja o Governo Federal, e 18% avaliam que seja a população. Também foram apontadas as grandes empresas (10%) e os governos estaduais (8%), assim como todos eles (23%). Há ainda 2% que não consideram nenhum dos citados culpado, e 8% não opinaram sobre o assunto. Entre os mais jovens, ficam abaixo da média as indicações ao Governo Federal (27%), e acima da média (25%), a todos (governos, população e grandes empresas). Na parcela dos mais escolarizados, 42% dizem que o principal culpado é o Governo Federal, índice que cai para 27% entre os menos escolarizados.
Dois em cada três brasileiros (65%) acreditam que o governo deveria adotar imediatamente o racionamento para enfrentar o problema de falta de chuvas que prejudica o abastecimento de energia elétrica em algumas regiões do país. Para 27%, o governo deveria esperar mais alguns meses para observar se as chuvas a partir de agora irão encher os reservatórios, e 8% não opinaram. No Sul, o índice dos que apoiam um racionamento imediato fica abaixo da média (58%), assim como entre os menos escolarizados (56%). Entre os mais escolarizados, 77% avaliam que o governo deveria adotar o racionamento imediatamente.
A falta de energia atingiu na residência onde moram atingiu, no último mês, 39% dos brasileiros. Destes, 15% dizem ter ficado sem energia por 1 dia, 10%, por 2 dias, 6%, por 3 dias, e 8%, por quatro dias ou mais. Em média, os atingidos ficaram sem energia em 2,9 dias, considerando os 30 dias anteriores à pesquisa. A região menos atingida por falta de energia foi o Sul (30% relataram ter ficado sem energia em pelo menos 1 dia dentre os 30 dias anteriores), e as mais atingidas foram Centro Oeste (45%), Norte (45%) e Nordeste (43%). No Sudeste, 37% disseram ter faltado energia no período.
36% sofreram com falta de água no último mês
A maioria (95%) tomou conhecimento sobre a falta de água que está atingindo algumas regiões do país devido ao baixo volume de reservatórios de água usados para abastecer a população. Destes, 58% declaram estar bem informados sobre o assunto, e os demais estão ou mais ou menos informados (30%) ou mal informados (6%)
Há uma divisão na atribuição de responsabilidade pela falta de água em algumas regiões do país: para 24%, a população é o principal responsável, índice igual (24%) ao dos que indicam todos (governos federal e estaduais, grandes empresas e população) e no mesmo patamar dos que atribuem a responsabilidade principalmente ao Governo Federal (22%). Para 14%, o principal responsável são os governos estaduais, 6% acreditam que sejam as grandes empresas, e 3%, que não seja nenhum desses. Há ainda 6% que não opinaram sobre o assunto.
Na região Sudeste, a principal ameaçada pelo problema de abastecimento de água, 26% acreditam que todos sejam responsáveis pela falta de água, 22%, que seja a população, 21%, que seja o Governo Federal, e 19%, os governos estaduais. As grandes empresas foram apontadas por 5%, e uma fatia de 3% não atribui responsabilidade a nenhum deles.
A falta de água na residência onde moram atingiu, no último mês, 36% dos brasileiros. Destes, 18% ficaram sem água em casa por 5 dias ou mais, 7%, de 3 a 4 dias, e 6%, 2 dias ou menos. No Nordeste, 50% ficaram sem água na residência por pelo menos 1 dia nos 30 dias anteriores ao levantamento. No Sudeste, o índice fica em 37%, e cai para 29% no Centro-Oeste, 24%, no Norte, e 19%, no Sul.

Venezuela: Unasul defende a soberania do governo chavista - Nada mais logico...

Alguém aqui, ou aí, esperava alguma outra atitude da Unasul?
Está correto: ela foi feita para isso mesmo: defender a soberania de países (inclusive o Brasil) que são vilmente atacados pelo imperialismo.
Se não existisse a Unasul, seria preciso inventá-la, pois sabemos que a OEA não serve mesmo para nada, aliás, nunca serviu...
Ufa! Ainda bem que a Unasul está aí para resguardar a altivez e a soberania dos nossos países...
Paulo Roberto de Almeida

Unasul alerta contra ‘ingerência estrangeira’  na Venezuela
AFP e EFE, 09 Março 2015 | 20h 13

Chanceler equatoriano faz crítica a anúncio de Obama; eleições para o Legislativo devem ser no fim do ano, diz entidade

QUITO - O ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, disse nesta segunda-feira, 9,  que a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) não permitirá uma intervenção estrangeira na Venezuela, em uma referência velada ao anúncio de sanções contra membros do governo chavista feito pela Casa Branca. Segundo o chanceler equatoriano, a entidade também não permitirá “golpes de Estado” contra o presidente Nicolás Maduro.
“Uma vez que Nicolás Maduro é o presidente democraticamente eleito dos venezuelanos, claro que vamos nos opor de forma radical, frontal e com toda a nossa força a qualquer tentativa de desestabilização”, afirmou o chanceler. “Não permitiremos uma intervenção estrangeira, nem um golpe de Estado.”
Patiño fez parte de uma comissão de chanceleres da Unasul que visitou a Venezuela no fim de semana para tentar reativar o diálogo entre o chavismo e a oposição. Participaram também da visita os ministros de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e da Colômbia, María Ángela Holguín, além do secretário-geral da entidade, Ernesto Samper.
Mudança. Ainda ontem, a Unasul negou que as eleições parlamentares venezuelanas serão realizadas em setembro, apesar de ter confirmado a data num comunicado divulgado no fim de semana.
“Queremos nos desculpar pelo comunicado que informava que a eleição deveria ser em setembro”, disse Samper. “A menção ocorreu por um calendário prévio que temos na Unasul sobre as eleições esperadas para o ano. O anúncio correto será feito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).”
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, disse, no entanto, que é mais provável que as eleições ocorram em novembro ou dezembro. “O CNE nos disse que marcará as eleições, no máximo, em um mês e é provável que elas ocorram no fim do ano”, disse. “A realização das eleições foi confirmada nas reuniões que tivemos com a presidente do CNE e com Maduro.”
Para Vieira, a realização de eleições ajudará a reduzir a tensão política no país. “A oposição nos disse que a solução do problema são as eleições e o governo afirmou que as convocará”, acrescentou o ministro. Ainda de acordo com o chanceler, as reuniões mantidas pela comissão da Unasul em Caracas foram construtivas e sem as tensões relatadas à imprensa.
O ministro negou também que tenha aproveitado a visita a Caracas para manifestar ao governo venezuelano uma suposta preocupação do Itamaraty com a prisão de líderes da oposição. “O Brasil não julga nada”, disse. “A comissão da Unasul viajou para promover o diálogo e não para emitir juízos de opinião.”
As primárias da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) estão marcadas para o dia 17 de maio. O governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) fará a votação que decidirá seus candidatos nas eleições legislativas em 21 de junho.
Antes da visita da Unasul, o líder da oposição Henrique Capriles disse temer que Maduro cancelasse as eleições em razão da crise econômica e política que afeta o país. O chavismo detém atualmente a maioria na Assembleia Nacional.

Petrolao: Planalto e chefe da quadrilha arbitravam e dirigiam a corrupcao na Petralhabras

Alguma dúvida agora?
Seria o suficiente para não apenas a Justiça e o Congresso iniciarem uma investigação e um processo de impeachment.
Seria...
Mas a nossa Justissa não é, digamos assim, muito atenta: ela só ouve certas coisas, só vê algumas poucas, e não fala nada. Que ela seja cega, muda e surda, a gente já sabe. Que ela seja paraplégica também, isso é novidade...
Quanto ao Congresso, o que dizer?
Não tenho palavras...
Paulo Roberto de Almeida

Novo depoimento de Youssef revela com todas as letras: "Lula e Dilma sabiam de toda a corrupção na Petrobrás"

Nesta reportagem de Rubens Valente,  intitulada "Doleiro diz que Planalto escolhia diretores quando partidos divergiam", fica clasro que o doleiro e delator Alberto Youssef citou nominalmente Dilma Roussef e Lula, ao denunciar que o ex-presidente e a atual presidente sempre souberam da roubalheira na Petrobrás, concordavam com ela e dirigiam tudo desde o Palácio do Planalto, tanto que em casos de conflitos nas escolhas dos diretores por partes de PT, PP e PMDB, eram eles quem faziam a mediação. 
Apesar da clareza das denúncias e da nominação dos líderes, Lula e Dilma não constaram da Lista de Janot e nem o ministro Teori Zavascki devolveu a papelada como imprestável, exigindo novas petições.
O doleiro Alberto Youssef afirmou em delação premiada que o Palácio do Planalto era o responsável final pela escolha dos diretores da Petrobras quando surgiam divergências entre os partidos políticos em torno da indicação de nomes para os cargos.
A íntegra do depoimento foi incluída nos autos da Operação Lava Jato que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal).
"Eram comuns as disputas de poder entre partidos relacionadas à distribuição de cargos no âmbito da Petrobras e que essas discussões eram finalmente levadas ao Palácio do Planalto para solução; [Youssef] reafirma que o alto escalão do governo tinha conhecimento", diz o depoimento, dado em 3 de outubro.
Youssef disse a chefia da Petrobras e o Planalto sabiam do esquema. "Tanto a presidência da Petrobras quando [quanto] o Palácio do Planalto tinham conhecimento da estrutura que envolvia a distribuição e repasse de comissões no âmbito da estatal".
O doleiro nominou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a atual presidente, Dilma Rousseff, e os ex-ministros José Dirceu, Edison Lobão, Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann, Gilberto Carvalho e Antonio Palocci entre os nomes do Planalto que sabiam do esquema.
No mesmo depoimento, quando indagado diretamente sobre a participação da ex-presidente da Petrobras Graça Foster, o doleiro Alberto Youssef não foi assertivo. "O declarante esclarece acreditar que a mesma soubesse da estrutura de repasses das construtoras para partidos, mas não pode afirmar".

"Entretanto, a prática da indicação de cargos político visando pagamentos é rotineira e ocorre em todos os casos."

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Venezuela: EUA congelam ativos de bolivarianos violadores dos direitos humanos

De vez em quando o gigante acorda para medidas práticas em lugar de ficar só falando.
E o Brasil?
Ah, o Brasil...
Não esperem muito.
Ou melhor, não esperem nada, muito pelo contrário...
Paulo Roberto de Almeida

VEJA.com, 9/03/2015


O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, emitiu um decreto presidencial nesta segunda-feira declarando a Venezuela uma “ameaça à segurança nacional”, impondo sanções a sete pessoas e expressando preocupação sobre o tratamento do governo venezuelano com opositores políticos. “Autoridades venezuelanas do passado e do presente que violam os direitos humanos de cidadãos venezuelanos e se envolvem em atos de corrupção não são bem-vindos aqui, e agora nós temos as ferramentas para bloquear seus bens e seu uso dos sistemas financeiros dos EUA”, disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.

A Casa Branca está “profundamente preocupada com a escalada da intimidação contra a oposição promovida pelo governo venezuelano”, disse Earnest. Os EUA também acreditam que os graves problemas econômicos do país “não podem ser resolvidos através da criminalização dos dissidentes”.

Sobre as sanções, o secretário do Tesouro, Jack Le, afirmou que os EUA não pretendem punir o povo da Venezuela ou a sua economia, mas apenas os sete funcionários do governo venezuelano envolvidos em “violência contra manifestantes”. Ao anunciar as novas sanções, Earnest também pediu para a Venezuela libertar “todos os prisioneiros políticos”, incluindo dezenas de estudantes, e os opositores políticos Leopoldo Lopez, Daniel Ceballos e Antonio Ledezma.

Os funcionários do governo venezuelano que foram sancionados terão seus ativos e bens em território americano congelado, e não serão autorizados a viajar para os Estados Unidos. Os cidadãos americanos estão proibidos de fazer negócios com essas pessoas. O grupo inclui:os generais Miguel Alcides Vivas e Antonio José Benavides; Manuel Gregorio Bernal (ex-diretor do serviço de inteligência venezuelano), Gustavo Enrique González López (diretor-geral do serviço de inteligência venezuelano), a promotora Katherine Nayarith Haringhton Padrón, Justo José Noguera (presidente da empresa estatal CVG) e Manuel Eduardo Pérez Urdaneta (diretor da Polícia Nacional Bolivariana).

Atravessando uma grave crise econômica, política e social, o governo liderado pelo presidente Nicolás Maduro acusa a oposição de estar tramando um golpe de Estado com o apoio dos Estados Unidos e da Colômbia. A popularidade em queda livre Maduro coincide com a volta da violência contra civis, das manifestações contra seu governo e a queda dos preços do petróleo. Tudo isso acontece a poucos meses das eleições legislativas, que, pela primeira vez em muitos anos, o chavismo pode perder, mesmo com a oposição desarticulada.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Venezuela: a estupidez da semana (ou do dia): maquinas anti-consumo

Só dirigentes malucos, ou muito estúpidos, ou totalmente ineptos e incompetentes, acham que a solução para a falta de oferta seja limitar a demanda.
Mercados livres se ajustariam rapidamente ao aumento da demanda.
Socialismos costumam viver num equilíbrio da penúria, com mercado negro paralelo.
Só socialismos ditatoriais, governos corruptos e absolutamente ineptos, chegam a este nível:

A Venezuela deve instalar cerca de 20 MIL leitores de impressões digitais em supermercados em todo o país em uma tentativa de acabar com as estocagens e com as compras por pânico da população. Segundo o governo local, estes seriam os responsáveis pelas longas filas nos mercados e pela falta de bens básicos. Sete grandes redes toparam a medida.

Brasil: O Antagonista analisa o discurso da presidente

Teria muito mais cousas a dizer, mas creio que o essencial está aí.
Ah, sim: eu recomendaria aos aspones da PR estudar mais um pouco de história.
Em 1929 não houve Grande Depressão, como afirmado no discurso.
Houve apenas uma quebra da Bolsa de NY, ponto.
Em fevereiro de 1930, a Economist já falava em recuperação.
Só com as quebras de bancos em 1931 e a sucessão de medidas tresloucadas dos governos (sempre eles) é que se instalou a depressão.
Paulo Roberto de Almeida

As mentiras e tapeações do discurso de Dilma

O Antagonista, 8/03/2015

Agora, passados o panelaço e buzinaço, vamos nos dar ao trabalho de analisar os principais trechos do discurso de Dilma Rousseff em cadeia nacional.
Dilma: "Os noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes. Muitas vezes até nos confundem mais do que nos esclarecem. As conversas em casa, e no trabalho, também precisam ser completadas por dados que nem sempre estão ao alcance de todas e de todos."
O Antagonista: Ou seja, a imprensa é capciosa e você, a sua família, os seus amigos e colegas de trabalho não têm capacidade de entender a realidade da inflação, do desgoverno e da corrupção...
Dilma: "O Brasil passa por um momento diferente do que vivemos nos últimos anos. Mas nem de longe está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns. Passamos por problemas conjunturais, mas nossos fundamentos continuam sólidos. Muito diferente daquelas crises do passado que quebravam e paralisavam o país."
O Antagonista: O marqueteiro João Santana trocou "momento difícil" por "momento diferente". O Brasil vive, sim, uma crise monumental: inflação em alta, credibilidade internacional zero, empresas endividadas em dólares com a corda no pescoço, nível de investimento negativo. Os fundamentos estão derretendo, como atestam as agências de risco internacionais.
Dilma: "Nosso povo está protegido naquilo que é mais importante: sua capacidade de produzir, ganhar sua renda e de proteger sua família."
O Antagonista: Mentira. As empresas cortam vagas de trabalho, a inflação corrói os salários e começa a corroer a poupança. As famílias estão endividadas acima do seu limite, iludidas que foram pelo crédito barato dos anos Lula e do primeiro mandato de Dilma.
Dilma: "Estamos na segunda etapa do combate à mais grave crise internacional desde a grande depressão de 1929."
O Antagonista: Mentira, nunca houve primeira etapa. Lula, em 2008, disse que a crise internacional havia chegado ao Brasil como uma "marolinha", e continuou com a sua política econômica inconsequente, baseada unicamente na expansão do crédito, sem investimentos em setores estruturais da economia. A falta de investimentos limita o combate à inflação, reduzindo o arsenal para combatê-la ao aumento da taxa básica de juros -- que agrava a recessão e só faz a alegria da banca. Você leu certo: estamos em recessão.
Dilma: "As circunstâncias mudaram porque além de certos problemas terem se agravado - no Brasil e em grande parte do mundo -, há ainda a coincidência de estarmos enfrentando a maior seca da nossa história, no Sudeste e no Nordeste. Entre muitos efeitos graves, esta seca tem trazido aumentos temporários no custo da energia e de alguns alimentos."
O Antagonista: As carências do país apenas foram evidenciadas pela seca. Faltam planejamento no setor de abastecimento hídrico e investimentos no setor elétrico -- a menos que se tome como investimento o superfaturamento na construção de usinas hidrelétricas que estão com as obras atrasadas.
Dilma: "Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar."
O Antagonista: Sim, e de exigir o impeachment do governo mais incompetente e corrupto da história do país.
Dilma: "A crise afetou severamente grandes economias, como os Estados Unidos, a União Européia e o Japão. Até mesmo a China, a economia mais dinâmica do planeta, reduziu seu crescimento à metade de suas médias históricas recentes. Alguns países estão conseguindo se recuperar mais cedo. O Brasil, que foi um dos países que melhor reagiu (sic) em um primeiro momento, está agora implantando as bases para enfrentar a crise e dar um novo salto no seu desenvolvimento. Nos seis primeiros anos da crise, crescemos 19,9%, enquanto a economia dos países da zona do Euro caiu 1,7%."
O Antagonista: O Brasil não reagiu num primeiro momento. Como já foi dito e redito, o governo baseou o crescimento da economia no crédito barato, endividando as famílias. Não investiu na indústria, que hoje se encontra sucateada, e apenas adiou a tempestade, apostando que a China continuaria a importar as nossas commodities nas mesmas quantidades do início dos anos 2000, embora todas as sinalizações apontassem o contrário. A comparação com a União Europeia é marota. Crescemos menos do que a China e a Índia, os outros grandes integrantes do Brics, no mesmo período. Amesquinhamo-nos em parcerias comerciais com países africanos e sul-americanos, em detrimento do estreitamento de laços comercias com os Estados Unidos, não só por ideologia esquerdista, mas porque o governo foi incapaz de enxergar que os americanos sairiam do buraco que criaram mais cedo do que se imaginava, porque são, de longe, a economia mais forte do mundo.
Dilma: "Realizamos elevadas reduções de impostos para estimular a economia e garantir empregos."
O Antagonista: Mentira. As reduções foram pontuais. De maneira geral, a carga de impostos aumentou.
Dilma: "Ampliamos os investimentos públicos para dinamizar setores econômicos estratégicos."
O Antagonista: Mentira. Quais setores? Dilma deve estar falando dos empréstimos secretos do BNDES a empresas ligadas ao petismo, como a JBS/Friboi.
Dilma: "Começamos cortando os gastos do governo, sem afetar fortemente os investimentos prioritários e os programas sociais. Revisamos certas distorções em alguns benefícios, preservando os direitos sagrados dos trabalhadores. E estamos implantando medidas que reduzem, parcialmente, os subsídios no crédito e também as desonerações nos impostos, dentro de limites suportáveis pelo setor produtivo."
O Antagonista: É mentira que o governo esteja cortando gastos. A máquina estatal, já inchada, continua engordando. Basta dizer que Dilma se recusa a cortar um ministério que seja dos 39 que carregamos nas costas. Quanto aos "direitos sagrados" dos trabalhadores, Dilma está fazendo o exato contrário do que prometeu na sua campanha. A redução na desoneração da folha de pagamentos das empresas já está causando demissões.
Dilma: "O Brasil tem hoje mais qualificação profissional, mais infraestrutura, mais oportunidades de estudar e mais empreendedores. Somos a 7ª economia do mundo. Temos US$ 371 bilhões de reservas internacionais. 36 milhões de pessoas saíram da miséria e 44 milhões foram para a classe media. Quase 10 milhões de brasileiras e brasileiros são hoje micro e pequenos empreendedores. E continuamos com os melhores níveis de emprego e salário da nossa história."
O Antagonista: Mentira. A produtividade do trabalhador brasileiro é uma das menores entre os países em desenvolvimento. Ser a sétima economia do mundo não significa muita coisa, visto que a renda per capita é relativamente baixa e não aumentará nos próximos anos, como previu o ex-ministro da Fazenda Armínio Fraga aqui no Antagonista. Essas reservas internacionais são apenas ilusão contábil. Com o aumento do dólar, aumentaram a dívida externa pública e privada. A dívida interna pública é maior do que a divulgada, dizem os economistas sérios. Para o governo, uma família de classe média, com quatro pessoas, é aquela que ganha entre 1 500 e 2 000 reais por mês, ou menos de 700 dólares -- abaixo da linha da pobreza em qualquer nação civilizada. A qualidade dos empregos é vergonhosamente baixa. Temos mais braços do que cérebros. Dilma inclui entre os micro e pequenos empreendedores a massa de assalariados e freelancers obrigada a trabalhar como pessoa jurídica, sem nenhuma garantia trabalhista.
Dilma: "Nossas rodovias e ferrovias, nossos portos e aeroportos continuarão sendo melhorados e ampliados."
O Antagonista: Faz tempo que Dilma não viaja como cidadã comum. E qualquer produtor sabe o quanto representa o custo do transporte no Brasil, por causa da inexistência ou má qualidade das rodovias, ferrovias e portos.
Dilma: "Este esforço tem que ser visto como mais um tijolo, no grande processo de construção do novo Brasil. Esta construção não é só física, mas também espiritual. De fortalecimento moral e ético."
O Antagonista: Essa foi uma tijolada no nosso estômago.
Dilma: "Com coragem e até sofrimento, o Brasil tem aprendido a praticar a justiça social em favor dos mais pobres, como também aplicar duramente a mão da justiça contra os corruptos. É isso, por exemplo, que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras."
O Antagonista: A mão da Justiça ainda tem de colher Dilma, Lula e os seus cúmplices. E a mão da Justiça está funcionando, APESAR de Dilma, Lula e os seus cúmplices, como José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, e Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, que fazem advocacia administrativa para a companheirada corrupta e as empreiteiras do petrolão.

Venezuela: novo fracasso da Unasul - Carlos Malamud

Nuevo Fracaso de Unasur en Venezuela
Infolatam
Madrid, 8 marzo 2015 
Por CARLOS MALAMUD

(Especial Infolatam).- La visita a Caracas del secretario general de Unasur, Ernesto Samper, acompañado por los ministros de Exteriores de Brasil, Colombia y Ecuador no sólo puso de relieve, una vez más, la ineficacia de esta instancia regional, sino también la imposibilidad de alcanzar una solución negociada a la crisis de gobernabilidad que vive Venezuela. Contraponiendo las normas básicas de la diplomacia, Samper optó por abandonar la equidistancia, mostrándose mucho más próximo al gobierno de Nicolás Maduro que a las fuerzas de la oposición.
Ya desde su llegada optó por exponer sus puntos de vista de forma categórica, con escasos matices: “Estamos aquí por invitación del presidente… Hemos recibido informaciones que registramos con preocupación y frente a esta evidencia queremos declarar de manera enfática que todos los estados de Unasur, sin excepción, rechazarán cualquier intento de desestabilización democrática de orden interno o externo que se presente en Venezuela”. Tal postura inicial condenó al fracaso cualquier intento posterior de potenciar el diálogo por encima de otras respuestas más altisonantes o rupturistas.
Es posible que la hoja de ruta trazada por Samper partiera de la premisa de que sin una mínima complicidad con el gobierno bolivariano no habría avances concretos en ninguna dirección. Puede ser, pero eso no debería excluir un mayor respeto y atención a la otra parte. A partir de aquí, el balance que hizo el secretario general de su labor en los días pasados no puede ser más triunfalista.
Por un lado, anunció que las elecciones parlamentarias se celebrarían en septiembre, algo que la oposición cuestionó al no haber ninguna confirmación del Consejo Nacional Electoral. Resulta cuanto menos curiosa, por contradictoria con estas afirmaciones, lo dicho por la ministra colombiana de Exteriores María Ángela Holguín.
Holguín señaló que la delegación de Unasur trasladó a los opositores con los que se había reunido que el propósito de su misión no era el reinicio del diálogo, algo que “en ningún momento se planteó como tal”. Por el contrario, el principal objetivo era desarrollar “el tema electoral, sobre todo para oírlos en cómo están viendo ese proceso”.
Por el otro lado, Samper manifestó de forma rotunda que su paso por Venezuela “abrió caminos para el diálogo político que se mantenía cerrado por más de un año”. A la vista de las declaraciones de todos los sectores de la oposición, tanto de quienes fueron convocados a encontrarse con la delegación de Unasur, como de quienes fueron marginados, tal conclusión resulta bastante cuestionable. Entre otros argumentos manejados por la oposición destaca la negativa de Unasur de entrevistarse con Leopoldo López o con Antonio Ledezma, ambos presos en la cárcel de Ramo Verde.
Henrique Capriles descalificó a Unasur por su escaso conocimiento de la realidad venezolana, mientras otros representantes de la oposición se expresaron de forma más rotunda. Los más duros fueron aquellos excluidos, como Jesús Torrealba, secretario general de la MUD (Mesa de Unidad Democrática), quien apuntó: “Samper llegó a Venezuela con un discurso parcializado y una convocatoria excluyente. Así no se promueve el diálogo, se confronta. Vino a apoyar le leyenda madurista de golpes de estado imaginarios y guerras económicas ficticias. Está haciendo las relaciones públicas del Gobierno”.
Algunas de las manifestaciones de Samper soliviantaron a aquellos opositores más reacios al diálogo y convencieron a los más neutrales de que su misión tenía poco recorrido. En este sentido destacan algunas de sus declaraciones, como que en Venezuela había separación de poderes o que Unasur jamás apoyaría ninguna salida golpista, algo en lo que, paradójicamente coincide con la mayor parte de la oposición. Un tema al que el secretario general de Unasur dio mucha trascendencia fue el del abastecimiento, al punto que anunció que su organización convocaría una comisión especial “para crear unas cadenas regionales de apoyo a la distribución de ciertos y precisos bienes de consumo básico”.
Esta afirmación tan sui generis revelarían la existencia de un rol nuevo y promisorio para Unasur, abocada a resolver las deficiencias de abastecimiento de los venezolanos. El problema de fondo, al que es incapaz de responder el gobierno de Maduro, es que mientras no se restablezca el normal funcionamiento de los mecanismos del mercado cualquier esfuerzo por paliar la situación será en vano.
Con sus polémicas declaraciones Samper no sólo ha puesto en cuestión la capacidad de Unasur de mediar en el conflicto venezolano, sino también la credibilidad futura de la organización como interlocutor válido en los distintos foros multilaterales. Poco le sirve a Unasur que su actividad sea equiparada con la del ALBA.
Las reiteradas denuncias de la comunidad internacional frente al silencio de los gobiernos latinoamericanos respecto al conflicto venezolano obligó a dar alguna respuesta. La iniciativa de Unasur podía haber sido el camino para comenzar, lentamente y con mucho trabajo por delante, a desactivar lo que puede ser una crisis de repercusiones regionales. La falta de equidistancia y, sobre todo, la menor muestra de empatía con el otro han servido para condenar definitivamente al fracaso cualquier posibilidad de diálogo pacífico en Venezuela.

Um Congresso de Viena para o seculo 21? - Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo aqui, apenas para registro, meu mais recente artigo publicado em Mundorama.


Um congresso de Viena para o século 21?
Kissinger e o ‘sentido da História’
Publicado, sem o subtítulo, em Mundorama 
Relação de Originais n. 2779; Publicados n. 1166.

 Um congresso de Viena para o século 21?
Kissinger e o “sentido da História”

Paulo Roberto de Almeida

El mundo fue y será una porquería
ya lo se.
En el quinientos seis
y en el dos mil también.
(...)
Pero que el siglo veinte
es un despliegue
de maldad insolente,
ya no hay quien lo niegue.
Tango Cambalache, letra de Enrique Santos Discépolo (1934)


Um dos mais famosos tangos da história musical da Argentina foi escrito em plena “década infame”, quando tem início a decadência daquele país, agravada depois pelo peronismo, que aliás liberou a música, antes proibida, por sua letra ser justamente percebida como uma crítica feroz à situação anterior (para a letra completa, de ácido teor, ver o link: http://www.musica.com/letras.asp?letra=974519). Em todo caso, o que Discépolo pensava do século 20, então recém ingressado em sua quarta década, parece aplicar-se igualmente, e talvez até com mais razão, ao século 21, recém entrado em sua segunda década: até aqui, foi um desabrochar de maldades insolentes, ninguém pode negar; em certos países “resulta que es lo mismo, ser derecho que traidor”. Onde foi parar aquela nova ordem mundial, defendida ou prometida por Bush pai, em 1991?
Estaríamos, por acaso, necessitados, tanto quanto a Europa do final das guerras napoleônicas, de uma réplica do congresso de Viena, apto a reorganizar, num grande concerto de nações, as bases de uma nova ordem mundial? Seria isso possível? Essa pergunta me veio à mente ao ler o mais recente livro de Henry Kissinger, World Order (New York: Penguin Press, 2014), que não coloca exatamente a questão, mas a engloba numa grande reflexão histórica, que começa, na verdade, pelo reordenamento da paz de Westfália. Esta, como ele indica acertadamente, não foi uma única conferência, mas um complexo processo negociador, com acordos separados em duas diferentes cidades.
Todos os estudiosos das relações internacionais e da história diplomática contemporânea sabem que Mister Kissinger estaria em excelente companhia, e ficaria extremamente satisfeito, se pudesse ser tele-transportado numa máquina do tempo para a Viena de 1815, para poder assessorar, ao mesmo tempo, Metternich e Castlereagh. Até mesmo Talleyrand, ministro de Luís XVIII, vindo do Ancien régime aristocrático, convertido em aliado da revolução, ministro do Império, sobrevivente na Restauração e finalmente servidor da monarchie de Juillet, poderia receber seus conselhos de longevo servidor de vários governos, tanto quanto o francês. Talvez seja maldade deste articulista, mas tendo lido a admiração sincera com que Kissinger completou sua tese de doutorado em torno dos dois primeiros estadistas, depois publicada como A World Restored: Metternich, Castlereagh and the Problems of Peace, 1812-22 (1954), dá para imaginar o entusiasmo com o qual ele se movimentaria apressadamente atrás de cada uma das três delegações, para assoprar, aos ouvidos dos seus chefes respectivos, suas sugestões sobre como organizar a melhor balança de poder possível, suscetível de contemplar os interesses das grandes potências daquela época, e apenas os delas.
O mesmo sentido profundo da História transparece nesse seu último livro (no sentido cronológico, apenas), intitulado simplesmente World Order, sem qualquer subtítulo. Poucos autores na categoria das ciências humanas ousariam desafiar as normas editoriais americanas e publicar um volume de 400 páginas, com apenas duas palavras no seu título, o que aliás já tinha sido o caso de On China (2011), seu livro sobre o grande contendor do novo jogo geopolítico mundial. Os dois últimos livros, e o primeiro, nos trazem o melhor Kissinger, o pensador, o historiador, mais do que o estrategista do equilíbrio do terror nuclear, o memorialista dos anos de Casa Branca, ou o consultor caríssimo de governos estrangeiros, o homem que ganhou um prêmio Nobel por razões imerecidas, e que provavelmente merece mais distinções acadêmicas por seu trabalho intelectual do que propriamente pelas suas realizações a serviço de governos.
Kissinger parece o contrário de um Winston Churchill, que ganhou um prêmio Nobel por seu trabalho como historiador (tarefa que ele desempenhou em seu próprio benefício, obviamente), quando merecia o prêmio por ter salvo a civilização ocidental do assalto horrífico dos bárbaros nazifascistas, e ousado resistir, ao custo de “sangue, suor e lágrimas”, quando muitos recomendavam um pacto com o diabo em pessoa (isto é, Hitler). Kissinger talvez merecesse um prêmio literário por sua obra acadêmica, em especial os três livros citados, e mais Diplomacy (1994), uma vez que ele passou o seu tempo de estrategista tentando justamente fazer pactos com os diabos (Brejnev, Mao), como fazem, por sinal, os estadistas das grandes potências quando a ocasião lhes é dada. Talvez nem o júri do Nobel literário concordasse com esse tipo de galardão, uma vez que mesmo seus livros de caráter histórico estão igualmente contaminados por certa visão do mundo – do tipo “eu sei, eu fiz, eu estava lá” – que tende a impregnar as suas sugestões de uma “boa ordem mundial” como a única possível nas circunstâncias dadas (este é um viés a que nem mesmo Churchill escapou, seja em sua história da Segunda Guerra, ou na sua precedente história dos povos de língua inglesa).
O problema com Mister Kissinger é que ele teria gostado de um mundo mais “vienense” do que o que temos atualmente, já que se trata de uma “ordem mundial” que não é propriamente uma ordem, nem é universal, como ele mesmo reconhece no livro homônimo. O mundo parece se estilhaçar, não em novas conflagrações globais, mas em rivalidades hegemônicas, em proxy wars, com vilões proliferadores protegidos por uma ou outra das grandes potências, com desafios vindos de atores não estatais, alguns até se pretendendo califados expansionistas, ou mesmo com bravatas anti-imperialistas de líderes de pacotilha, num estilo parecido ao de certos fascistas do entre-guerras.
Tudo isso é real, e já está acontecendo, um pouco em vários cantos do planeta, inclusive numa Europa que já reproduziu, em pleno século 20, uma segunda “guerra de trinta anos”, uma repetição, em larga escala, dos terríveis conflitos que deram a partida, no século 17, à ordem westfaliana que ainda constitui o horizonte insuperável de nossa época, e pela qual tem início, justamente, World Order. Na impossibilidade de se chegar a novos acordos westfalianos – que, de resto, já estão incorporados na Carta da ONU – talvez Kissinger sonhe com novo Congresso de Viena, capaz de estabelecer as bases da nova “ordem mundial” que ele deve intimamente desejar. Talvez ele até se dispusesse a assessorar um ou outro soberano dos novos tempos, com conselhos sempre sensatos sobre como melhor organizar uma balança de poder entre as grandes potências, como fizeram os estadistas de dois séculos atrás.
Seria isto possível? Levaria um congresso do mesmo estilo a resultados efetivos e duráveis? Provavelmente não, pois faltaria a tal arranjo fundacional aquilo que existiu em cada reorganização anterior da ordem mundial: uma contestação radical da ordem anterior, com uma alteração fundamental das relações de força entre as grandes potências, e um reordenamento baseado no novo equilíbrio de poder. Westfália veio depois da “guerra de trinta anos”; Viena veio após as guerras napoleônicas; Versalhes e a Liga das Nações sucederam à Grande Guerra; Ialta e Potsdam, em 1945, prepararam São Francisco, que foi quase uma formalidade, depois que certas questões já estavam acertadas em Teerã (1943), em Dumbarton Oaks (1944) e naqueles dois encontros decisivos. Mas não é apenas pela falta de uma grande conflagração global que um novo congresso de Viena – que obviamente não seria em Viena – se revela impossível em nossos dias. O que falta, na verdade, seria uma espécie de entendimento prévio sobre o que discutir e o que se buscar. “Na construção de uma ordem mundial”, diz Kissinger no capítulo final de seu livro, “uma questão chave refere-se inevitavelmente à substância de seus princípios unificadores”, mas, acrescenta ele imediatamente após, “nos quais reside uma distinção fundamental entre as abordagens ocidentais e não ocidentais a essa ordem” (p. 363). A distinção não é obviamente geográfica tão simplesmente, mas fundamentalmente política e de valores.
A dificuldade, portanto, não resulta de um simples problema de agenda, ou seja, da falta de uma ordem do dia consensual, uma lista de questões sobre a base das quais discutir um novo arranjo global num formato similar ou equivalente àquele de 1815. Mister Kissinger acredita que a carência de uma ordem mundial para o século 21 pode ser explicada por aspectos, ou dimensões, que diferem da ordem precedente. Primeiro, a natureza do estado, em si – a unidade básica da vida internacional – que tem sido submetida à uma variedade de pressões desagregadoras (seja por falta de uma soberania efetiva, como no caso da UE, seja pela sua contestação por novos “senhores da guerra”), quando não se cai na falta de governança tout court, em estados falidos, ou territórios inteiros sem governo. Depois, uma descoordenação entre as organizações econômicas e políticas internacionais, as primeiras acompanhando o processo de globalização, mas as segundas ainda baseadas no estado-nação. Finalmente, a falta de um mecanismo de consulta e cooperação entre as grandes potências “on the most consequential issues” (p. 370). Aqui já estamos em face de cenas explícitas de kissingerianismo geopolítico: todas as instâncias existentes – CSNU, Otan, Apec, G-7 ou G-8, G-20 – lhe parecem carentes de maior foco, pois os chefes de governo ali presentes estão mais preocupados com o seu público interno, e com o comunicado final, do que com problemas concretos.
Pode ser isso, ou também pode ser que o mundo de Viena já não tem mais condições de existir: ele era a expressão de um arranjo westfaliano entre potências europeias, ou seja cristãs, numa época em que a Europa dominava o mundo, o que ela fez durante praticamente cinco séculos, o último junto com os Estados Unidos, mas já contestados pelas novas potências emergentes. A própria Alemanha tinha desafiado as bases da ordem europeia e internacional no arranjo precedente, por ter chegado tarde, bem depois da Prússia, na mesa de negociações e nas conquistas imperiais subsequentes (ainda que ela se tenha talhado alguns pedaços na Ásia e na África). Foi justamente o seu desejo de redistribuir as cartas do jogo que provocou uma nova guerra de trinta anos e a derrocada definitiva da hegemonia europeia sobre os assuntos do mundo.
A China provavelmente não tem nenhuma pretensão de ser uma nova Alemanha nas condições do século 21, nem a Rússia tem capacidade para aspirar a tal papel, muito embora ela ainda talvez gostasse de poder determinar o que podem e, sobretudo, o que não podem fazer as antigas satrapias do império soviético. O problema, na verdade, não é só de ordem geopolítica, mas também de valores e de concepções do mundo. Não se pode ser um Metternich – como talvez gostasse Kissinger – se não se tem do outro lado, como interlocutores afinados nesse tipo de jogo, estadistas como Castlereagh ou mesmo Talleyrand. Aparentemente, nem Xi Jin-ping nem Putin se dispõem a amoldar-se em papeis equivalentes aos de Hardenberg ou de Nesselrode, os representantes respectivos da Prússia e da Rússia imperiais em Viena. O que se buscava, na capital do Império dos Habsburgos, era um arranjo europeu, no máximo alcançando a periferia mais próxima, a do Império Otomano e suas dependências balcânicas. Os arranjos que se fizeram com os impérios ibéricos e suas possessões coloniais o foram por causa da herança napoleônica, não porque as grandes potências estivessem tentando traçar um esquema equivalente a Tordesilhas, ou seja, uma primeira divisão do mundo que só seria tentada novamente em Ialta, quase cinco séculos mais tarde.
Kissinger talvez gostasse que Estados Unidos e China chegassem a um acordo básico sobre as relações recíprocas, e foi em grande medida em vista desse objetivo que ele escreveu On China, uma obra particularmente compreensiva e leniente para com as lideranças chinesas. Da Guerra Fria política dos tempos de Stalin à nova Guerra Fria econômica dos nossos dias, o mundo mudou perceptivelmente em termos de atores e de interesses nacionais projetados internacionalmente. Viena-1815 nunca foi um encontro filosófico entre potências cristãs interessadas primariamente no bem estar de seus respectivos povos: o que estava em jogo ali era apenas o equilíbrio de poderes para evitar uma nova conflagração global. Westfália se revelou mais durável porque tratou basicamente de procedimentos, não de substância, como ele diz em outra parte do livro.
Esse objetivo, hoje em dia, está na prática assegurado pela detenção dos arsenais atômicos, o que restringe a subida aos extremos por parte de qualquer uma das grandes potências nucleares. Mas uma Viena do século 21 não poderia mais eludir os avanços registrados em matéria de direito internacional, de democracia e de direitos humanos. Tais dimensões, aparentemente, só seriam hoje defendidos pelos Estados Unidos, e se dependesse de Mister Kissinger talvez nem isso. Tais critérios certamente não fariam parte da agenda das outras grandes potências. Ah, sim, ainda tem a Europa, se ela é verdadeiramente um membro dessa pequena tribo, na vertente democrática; Kissinger, nos seus velhos tempos de guardião da paz no mundo, se perguntava: “se eu quiser falar com a Europa, eu telefono para quem?” Parece que o problema continua o mesmo.
O que dizer, então, das chamadas “potências emergentes”? A julgar pelas tomadas de posição de algumas delas, em suas próprias esferas regionais, talvez não se possa contar tampouco com elas para algum arranjo nouvelle manière, seja no formato Viena 2.0, seja uma reforma do sistema onusiano, esse dinossauro que também ostenta um cérebro totalmente desproporcional em relação ao seu imenso corpo. Em resumo, vamos esquecer essa história de um novo arranjo diplomático para a tal “ordem mundial do século 21”, e nos concentrarmos em tarefas mais prosaicas de administração da governança econômica e da defesa dos direitos humanos e da democracia onde isso for possível. O mundo ainda é bem mais hobbesiano do que grociano, e certos dirigentes atuais estão bem mais para Átila ou Gengis-Khan do que para Locke ou Montesquieu.
O progresso pode até ser uma fatalidade, como queria Mário de Andrade, alguns anos antes do milonguero argentino desconfiar de qualquer avanço, mas talvez seja porque a história parece andar a um ritmo similar ao dos carros de bois de antigamente. Quando alguns mais apressadinhos tentaram forçar a passagem em marcha acelerada, não deixaram de ocorrer acidentes de percurso, como descobriu, para sua infelicidade, o último xá da Pérsia. O próprio Kissinger confessa, ao final do seu livro (p. 374), que perdeu sua esperança de juventude de descobrir o “sentido da História”. Provavelmente, ele não existe, pelo menos não no sentido hegeliano-marxista. Quanto ao seu ritmo, talvez caiba se contentar com o de certas partituras: vivace, ma non troppo! Em todo caso, poderíamos repetir com Discépolo: “Todo es igual, nada es mejor…”.

Recomendação de leitura:
Peter W. Dickson: Kissinger and the Meaning of History (Cambridge University Press, 1978). [Nota: o autor é um acadêmico formado em filosofia que trabalhou para a CIA, o que revela quão eclética é essa agência de inteligência.]

[Hartford, 2779: 23 fevereiro 2015, 5 p; revisão: 6 de março, 6 p.]

domingo, 8 de março de 2015

Venezuela: Vargas Llosa condena o apoio abjeto de paiseslatino-americanos a Maduro

Acho que ele foi até comedido na condenação...
Cumplicidade e conivência seriam as palavras certas.
Paulo Roberto de Almeida


À beira do abismo

 Mario Vargas Llosa *
O Estado de S.Paulo, 08.03.2015

Quando o governo venezuelano de Nicolás Maduro autorizou sua guarda pretoriana a usar armas de fogo contra as manifestações de estudantes sabia muito bem o que estava fazendo. Seis jovens foram assassinados nas últimas semanas pela polícia ao tentar acalmar os protestos de uma sociedade cada vez mais enfurecida contra os ultrajes desenfreados da ditadura chavista, a corrupção generalizada, o desabastecimento, o colapso da legalidade e a crescente situação de caos que se estende por toda a Venezuela.
Este contexto explica a escalada repressora do regime nos últimos dias: a prisão do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, um dos mais destacados líderes da oposição, quando completava um ano a prisão de Leopoldo López, outro dos grandes resistentes, e meses após María Corina Machado - figura relevante entre os adversários do chavismo - ter sido privada de sua condição de parlamentar e submetida a um assédio judiciário. 
O regime sente-se cercado pela crítica situação econômica à qual sua demagogia e inépcia levaram o país. Sabe que sua impopularidade cresce e, a não ser que massacre e intimide a oposição, sua derrota nas próximas eleições será cataclísmica (segundo as pesquisas, sua aprovação é de apenas 20%). 
Por isso, desencadeou o terror de maneira escancarada e cínica, alegando a costumeira desculpa: uma conspiração internacional dirigida pelos Estados Unidos da qual seriam cúmplices os opositores democráticos do chavismo. Conseguirá calar os manifestantes por meio de crimes, torturas e prisões em massa? 
Um ano atrás o conseguiu, quando milhares de venezuelanos foram às ruas pedindo liberdade (eu estava lá e vi com meus próprios olhos a formidável mobilização libertária dos jovens). Para isso foi necessário o assassinato de 43 manifestantes, muitas centenas de feridos e de torturados nos cárceres políticos e milhares de presos. Mas, um ano mais tarde, a oposição ao regime se multiplicou e a situação de libertinagem, desabastecimento, ultraje e violência só serviu para encolerizar cada vez mais as massas venezuelanas. Para prender e dominar este povo desesperado e heroico será necessária uma repressão infinitamente mais sangrenta que a do ano passado.
Maduro, o pobre homem que sucedeu a Chávez à frente do regime, demonstrou que sua mão não treme na hora de verter o sangue de seus compatriotas que lutam pela volta da democracia na Venezuela. Quantos mortos mais e quantas prisões políticas serão necessários para que a OEA e os governos democráticos da América Latina abandonem seu silêncio e comecem a agir, exigindo que o governo chavista renuncie à sua política de repressão contra a liberdade de expressão e a seus crimes políticos, e facilitem uma transição pacífica da Venezuela para um regime de legalidade democrática? 
Num excelente artigo, como costumam ser, Un estentóreo silencio, Julio Maria Sanguinetti (El País, 25/2/2015) censurou severamente estes governos latino-americanos que, com a tíbia exceção da Colômbia - cujo presidente se ofereceu para intermediar as conversações entre o governo de Maduro e a oposição - observam impassíveis os horrores que o povo venezuelano padece nas mãos de um governo que perdeu todo sentido dos limites e age como as piores ditaduras que o continente das oportunidades perdidas sofreu. 
Decência. Podemos ter a certeza de que o emocionado apelo do ex-presidente uruguaio (José Mujica) à decência aos mandatários latino-americanos não será ouvido. Que outra coisa se poderia esperar desse lamentável grupo em que abundam os demagogos, os corruptos, os ignorantes, os políticos rasteiros? Sem falar na Organização dos Estados Americanos, a instituição mais inútil produzida na América Latina em toda a sua história; a ponto de, toda vez que um político latino-americano é eleito ao cargo de seu secretário-geral, parece amolecer e sucumbir a uma espécie de catatonia moral.
Sanguinetti contrapõe, com toda a razão, a atitude destes governos "democráticos" que fingem não enxergar quando na Venezuela ocorrem violações dos direitos humanos, são fechados canais de TV, emissoras de rádio e jornais, com a celeridade com que estes mesmos governos "suspenderam" da OEA o Paraguai quando o país, segundo os mais estritos procedimentos constitucionais e legais, destituiu o presidente Fernando Lugo, medida que a imensa maioria dos paraguaios aceitou como democrática e legítima. A que se deve o uso de dois pesos e duas medidas? Ao fato de que Maduro, que assistiu à transmissão do cargo presidencial no Uruguai e foi recebido com honras por seus colegas latino-americanos, é de "esquerda" e os que destituíram Lugo eram supostamente de "direita".
Embora muitas coisas tenham mudado para melhor na América Latina nas últimas décadas - há menos ditaduras, uma política econômica mais livre e moderna, uma redução importante da extrema pobreza e um crescimento notável das classes médias - seu subdesenvolvimento cultural e cívico é ainda muito profundo e isso se torna patente no caso da Venezuela. Com o risco de serem acusados de reacionários e "fascistas" os governos latino-americanos que chegaram ao poder graças à democracia estão dispostos a cruzar os braços e fingir que não enxergam enquanto um bando de demagogos, assessorados por Cuba na arte da repressão, empurra a Venezuela para o totalitarismo.
Eles não se dão conta de que sua traição dos ideais democráticos permitirá que, no dia de amanhã, seus países sejam também vítimas desse processo de destruição das instituições e das leis que está levando a Venezuela à beira do abismo, ou seja, a tornar-se uma segunda Cuba e a padecer, como a ilha do Caribe, de uma longa noite de mais de meio século da ignomínia.
O presidente Rómulo Betancourt da Venezuela, que era de estofo diferente dos atuais, pretendeu, nos anos 60, convencer os governos democráticos da América Latina (eram poucos) da necessidade de buscar uma política comum contra os governos que - como o de Maduro - violentaram a legalidade e se transformaram em ditaduras. Ou seja, romper as relações diplomáticas e comerciais com eles e denunciá-los no plano internacional, a fim de que a comunidade democrática ajudasse desse modo os que defendiam a liberdade no próprio país. Não é preciso dizer que Betancourt não obteve o apoio de um único país latino-americano.
A luta contra o subdesenvolvimento sempre estará ameaçada de fracasso e retrocesso enquanto as lideranças políticas da América Latina não superarem este estúpido complexo de inferioridade em relação a uma esquerda à qual - apesar das catastróficas credenciais que pode exibir em questões econômicas, políticas e de direitos humanos (não bastam os exemplos dos Castros, Maduro, Morales, os Kirchners, Dilma Rousseff, o comandante Ortega e companhia?) concedem ainda uma espécie de superioridade moral em questões de justiça e solidariedade social.  
Tradução de Anna Capovilla
* É escritor peruano e prêmio Nobel