Uma carreira na diplomacia para jovens estudantes
Paulo Roberto de Almeida
Respostas a questões colocadas por organizadores do ExplicaENEM.
Apresentação do convidado
Indicar os principais títulos e atuações profissionais a serem mencionados.
PRA: Doutor em Ciências Sociais, mestre em desenvolvimento econômico; diplomata de carreira desde 1977l; professor nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Uniceub. Outras informações em minha página (www.pralmeida.org).
Como surgiu o interesse em ingressar na carreira diplomática e qual foi o caminho traçado para chegar ao Ministérios das Relações Exteriores?
Formação prévia, preparação para o concurso, quanto tempo de preparação.
PRA: Minha trajetória para a diplomacia é provavelmente inédito; nunca pensei em ser diplomata até ver um anúncio no jornal abrindo inscrições para os exames de ingresso; minha intenção era apenas a de ser um acadêmico como milhares de outros, mas sem ver concursos abertos, quando retornei de um logo período no exterior, na Europa, de 1970 a 1977 – quando fiz graduação, mestrado e iniciei o doutoramento –, decidi tentar os exames do Itamaraty, mas não exatamente como estudante do Instituto Rio Branco, mas um concurso direto para ingressar imediatamente na carreira, o que foi excepcional no período de 70 anos no Instituto Rio Branco: entre 1975 e 1979 se fizeram concursos diretos, ao lado dos vestibulares do IRBr. Não houve praticamente preparação nenhuma; fiz os exames com as leituras acumuladas ao longo da vida.
Como ingressar na carreira diplomática?
Como funciona o CACD: frequência de realização do concurso; eixos de conhecimento necessários para realização da prova.
PRA: Todas as informações sobre o concurso de admissão à carreira diplomática estão disponíveis na página do IRBr: http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/ ; mais especificamente neste link: http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/concurso-de-admissao-a-carreira-de-diplomata; a prova é anual, e as vagas são determinadas pela existência de cargos não preenchidos na fase inicial da carreira, ou seja, terceiro-secretário, de um total de seis graus até ministro de primeira classe. As provas são as conhecidas: primeira fase, com teste eliminatório nas matérias de língua portuguesa; língua inglesa; história do Brasil; história mundial; política internacional; geografia; economia; e direito e direito internacional público; segunda fase com provas classificatórias e eliminatórias, escritas, de: língua portuguesa; língua inglesa; história do Brasil; geografia; política internacional; economia; direito e direito internacional público; e língua espanhola e língua francesa.
Quem pode fazer a prova?
PRA: Os requerimentos constam do edital: acima de 18 anos, estar em ordem com os requisitos formais de concursos públicos, curso superior completo, etc.
Existe algum curso superior que favoreça a realização da prova?
PRA: Certamente, aqueles que espelham, grosso modo, as matérias exigidas, ou seja, humanidades de forma geral, e ciências sociais aplicadas; o que significa, por puro bom senso, cursos de RI, mas também Direito, Economia, Ciências Sociais, etc.
Como funciona na prática a carreira diplomática?
Quanto ganha um diplomata em início de carreira hoje?
Como é a formação de Diplomatas no Instituto Rio Branco?
PRA: Repete um pouco as matérias do concurso de ingresso, mas existe reforço nas línguas e novas matérias de caráter profissionalizante: consular, etc.
Quais os cargos e principais exigências para a promoção na carreira diplomática.
PRA: Antiguidade, ter servido no exterior, e cursos intermediários; CAD, para segundos secretários, e CAE, para conselheiros; estar no Quadro de Acesso (que representa 25% da classe; para o qual se vota horizontalmente e verticalmente).
Como funciona a política de remoção do MRE?
PRA: As vagas são publicadas, as pessoas se candidatam e se procura atender demandas pessoais em acordo com os interesses da Administração; existe rotatividade entre os postos no exterior, de A para B, C, D ou E, segundo a qualidade do posto.
Diplomatas podem trabalhar no Brasil?
PRA: Não no setor privado, a menos que seja no magistério. Existe uma legislação sobre conflito de interesses, o que dificulta exercício de outras atividades.
Quais as principais vantagens existentes em ser um Diplomata?
PRA: Para quem é nômade, ou gosta de novidades, as oportunidades são imensas: a cada 3 anos aproximadamente, se está mudando de país, alternando os mais diversos horizontes geográficos e linguísticos, culturas e horizontes políticos. Ou seja, o diplomata nunca vai se aborrecer fazendo o mesmo trabalho anos seguidos. A variedade pode até ser mais rápida na Secretaria de Estado, pois pode-se negociar um trabalho na área política, econômica, consular, jurídica, multilateral, regional, bilateral, científica, etc. O aprendizado de novas línguas é quase natural: os filhos podem ser trilíngues ou mais; se adquire um enorme conhecimento do mundo, e das relações entre povos.
Quais desafios o Sr. enxerga atualmente para quem quer ingressar na carreira diplomática?
PRA: A concorrência é enorme, daí que apenas os melhor preparados conseguem, o que explica a elevação da idade média de ingresso na carreira, de 24 anos, duas décadas atrás, para aproximadamente 29 atualmente. Mas tudo depende da preparação do candidato, o que não é o resultado de um cursinho rapidamente feito, e sim uma trajetória de estudos dedicados ao longo de anos.
Algumas dicas para quem quer seguir a carreira diplomática
PRA: Em primeiro lugar, é preciso ter vocação, e não apenas o desejo de fazer concurso público para ter estabilidade na carreira; existem muitos desafios na carreira, como a de servir em postos de sacrifício, não apenas pessoal, mas familiar. Em segundo lugar, estar disposto a trocar uma vida calma, na graduação, por uma preparação árdua, complexa, verdadeiramente exigente. É preciso ter em mente que se vai viver quase dois terços da vida profissional no exterior, em diversos postos, e para isso é preciso uma predisposição para aceitar todo tipo de desafios, e não só pessoais, para a família também, que será obrigada a seguir o diplomata para onde ele for.
Pessoalmente já respondi esse tipo de questão dezenas de vezes, ao longo das últimas duas ou três décadas, ainda recentemente. Organizei meus trabalhos a esse respeito num trabalho que também remete a todos os meus outros textos sobre aspectos diversos da carreira, ingresso, desenvolvimento, exigências, peculiaridades, etc., neste link:
3683. “Preparação para a carreira diplomática: uma conversa com candidatos”, Brasília, 29 maio 2020, 2020, 6 p. Conversa online com candidatos à carreira diplomática, sobre as seguintes questões: 1) O que fez o senhor decidir ser diplomata?; 2) Como foi sua jornada para passar o CACD?; 3) Quais são os diferenciais para passar o concurso?; 4) Como o candidato deve abordar as atualidades em seus estudos?; 5) Como deveria ser o mindset para o estudo dos idiomas?; 6) Como foi o Instituto Rio Branco?; 7) O que se aprende por lá?; 8) Como é a vida no exterior?; 9) Como muda em relação a Brasília? Elaborada lista de trabalhos que se encaixam nos critérios solicitados. Divulgado no blog Diplomatizando (29/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/preparacao-para-carreira-diplomatica.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43192887/Preparacao_para_a_carreira_diplomatica_uma_conversa_com_candidatos_2020_).
Depois desse trabalho, respondi às questões em podcast, aqui registrado:
3684. “Um diplomata desvio padrão: podcast para candidatos à carreira”, Brasília, 29 maio 2020, Audio Mpeg da Apple 1:31:13, 37, 2MB. Podcast gravado sobre os pontos enunciados no trabalho n. 3683. Disponível no Dropbox (link: https://www.dropbox.com/s/0kd91ucpgmlkhgn/3684DiplomataDesvioPadraoPodcast.m4a?dl=0); anunciado no blog Diplomatizzando (30/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/uma-conversa-com-candidatos-carreira.html).
Convido todos a lerem alguns dos trabalhos ali compilados.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de junho de 2020
Disponível no blog Diplomatizzando (link: ).