O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Questões sobre "A política externa paralela do lulopetismo diplomático" - entrevista Paulo Roberto de Almeida

Raramente – só quando alguém faz algum comentário, e foram poucos – eu me lembro desta entrevista dada de forma improvisada para uma equipe de comentaristas que me solicitou uma entrevista, poucas semanas depois que eu tinha assumido o cargo de diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais do Itamaraty, depois de 13,5 anos de um longo ostracismo durante os anos de lulopetismo diplomático.
A entrevista é esta aqui: 
 3047. “A política externa paralela do lulopetismo diplomático”, Brasília, 14 outubro 2016, gravação de entrevista, em vídeo, para servir como depoimento no quadro de documentário do Brasil Paralelo. Link: ttps://youtu.be/fWZXaIz8MUc

Hoje, 8/06/2020, ou seja, pouco menos de 4 anos depois, recebi mais um comentário, e reparei, então, que existem várias questões que me foram colocadas e que eu não respondi, e aproveitei para saber que essa entrevista, teve 6.294 visualizações, sendo que 17 pessoas não gostaram de minhas respostas (suponho que petistas, em sua maior parte). Enfim, não se pode agradar a todos, e suponho que muitos olavetes e bolsomínios tampouco gostaram de minhas outras respostas a respeito do globalismo, num vídeo de dezembro de 2017.
Vou apenas reter as perguntas não respondidas, para ver se consigo responder agora. O que fiz foi apagar desta postagem os nomes dos comentaristas. Mas, quem quiser ver o conjunto das questões e comentários, pode-se acessar o seguinte link: 
https://www.youtube.com/watch?v=fWZXaIz8MUc&lc=UggCYPC6oAavI3gCoAEC.8TAYKlp6QaM99exiol2ERJ&feature=em-comments

Brasil Paralelo: Paulo Roberto de Almeida (14/10/2016)


6.294 visualizações
29 de mai. de 2017


Paulo Roberto de Almeida

Minha melhor entrevista ever...


Valdyr Alvarez

@Paulo Roberto de Almeida de fato, professor. Me recordo, quando adolescente, das críticas de Brizola à compra do Aero Lula... concordo com boa parte de suas colocações. 2h de um verdadeiro manancial de múltiplos conhecimentos. Foi um privilégio! Pra ver e rever.

Paulo Roberto de Almeida

@Xxxxx Xxxxxx Grato pelo comentário. O sindicalista que ascendeu ao poder já tinha uma imensa vontade de poder, prestígio e reconhecimento, e não hesitou nunca em derrubar todas as barreiras à sua irresistível subida na vida; adquiriu gostos sofisticados e sempre fez questão de ter o melhor. Deixou-se vender aos verdadeiros magnatas, que se aproveitaram de seu poder para enriquecer ainda mais, passando uma boa parte dos ganhos para o arrivista megalomaníaco.

Paulo Roberto de Almeida

O comentário mais recente ainda não foi carregado pelo sistema, assim que apresento o conjunto dos Comentários, ainda que possa ser repetitivo com o que vai abaixo. Comentário em destaque Xxxx Xxxxx 16 minutos atrás Ae Paulinho um dos poucos economistas brasileiros que sabe economia kkkkk Paulo Roberto de Almeida 7 meses atrás Minha melhor entrevista ever... 11 Xxxxx Xxxxx 7 meses atrás (editado) Paulo Roberto de Almeida - Por favor Professor, escreva um livro sobre os temas dessa entrevista. 1 Paulo Roberto de Almeida Paulo Roberto de Almeida 7 meses atrás Pois é, eu já pensei nisso, mas o problema é a falta de tempo para fazer tudo. Eu precisaria parar com várias outras atividades, inclusive escrever no FB, para poder me dedicar à feitura de livros. Vamos ver se consigo me organizar... 4 Andre Albuquerque 7 meses atrás Sugestão de título: "a.C e d.C, antes e depois dos companheiros". Torço para que sobre tempo na sua agenda. Aguardo esperançoso. 1 Paulo Roberto de Almeida 7 meses atrás Esse conceito de AC e DC está em meus planos; vou ver se consigo fazer um texto em torno disso. 5 Bruno Lopes Bruno Lopes 7 meses atrás Obrigado Professor. Se tornou uma grande inspiração no meio acadêmico para mim. 5 Klaus Janzen 6 meses atrás Melhor analise do Brasil em uma entrevista que eu ja vi. Parabens. 2 Andre Albuquerque Andre Albuquerque 7 meses atrás Obrigado por disponibilizar essa aula para nós Professor. O senhor é uma grande inspiração para mim e para muitos. Deus abençoe!!! 1 Fernando Carvalho Tabone Fernando Carvalho Tabone 5 meses atrás Excelente entrevista, professor. Os anos Lula na diplomacia são muito comemorados, mas sem o devido equilíbrio. Sua exposição oferece um contraponto que certamente enriquece o entendimento histórico. 1 Gabriel Costa 1 mês atrás Apoio a feitura de um livro sobre esse tema! 1 Mathias Pellizzoni da Cruz 1 mês atrás (editado) cara - esse tipo de informação com essa qualidade tinha que ser divulgada pra todo mundo - em todas as escolas - em todos os meios! 1 labmq 1 mês atrás Excelente. Muito obrigado!

Bruno Lopes

Obrigado Professor. Se tornou uma grande inspiração no meio acadêmico para mim.


cara - esse tipo de informação com essa qualidade tinha que ser divulgada pra todo mundo - em todas as escolas - em todos os meios!
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Gabriel Costa

Apoio a feitura de um livro sobre esse tema!
8


Klaus JanzenXxxx Xxxxxx.  2 anos atrás

Melhor analise do Brasil em uma entrevista que eu ja vi. Parabens.
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Naty Pb

Excelente entrevista.
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J. Araujo

Lúcido, realista, íntegro. Uma aula de geopolítica e economia. Parabéns.

Lucas LuckingXxxx Xxxxxx1 ano atrás

Muito triste em saber que o nosso chanceler Ernesto Araújo demitiu um dos maiores e melhores embaixador que tivemos no Brasil. Criticas são sempre bem-vindas. Decisão equivocada.

cesar ferrariXxxxx Xxxxx. 2 anos atrás

Bom mesmo...gratidão!

labmqxxxxxx. 2 anos atrás

Excelente. Muito obrigado!

Nao Sei 123

Ae Paulinho um dos poucos economistas brasileiros que sabe economia kkkkk
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Ricardo Fernando

Quandos os cavalos embestam em um louco galope rumo ao abismo, homens como Paulo Roberto de Almeida são lançados fora! Neste caso foi necessário apenas um cavalo barbado chefiando a casa de Rio Branco!

FerretyXxxxxx.  2 anos atrás

Extraordinária palestra.Obrigado,mestre!!

Goblish Dodush

Aula?Palestra?Maravilhoso depoimento do mestre P.R.Almeida!!!!



J.Ricardo C.Monteiro

Precisamos de diplomatas, ou até mesmo o Itamaraty?

A A

Decidi tornar-me diplomata depois de ver esse entrevista. Espero um dia poder encontrá-lo pessoalmente !

Márcio Rocha

Parabéns, professor! Uma aula de economia e relações exteriores.



jonatan LopeS

Como uma entrevista dessa têm tão pouco divulgação?! Nossa sociedade carece deste tipo de informação com urgência!!!

Leonardo gonçalves

PAULO O LIVRO DO LEONARDO COUTINHO É IMPORTANTÍSSIMO. JÁ LEU?



Victor Naia

O senhor é uma referência preciosa. Seria um sonho levá-lo na PUC SP para uma roda sobre política externa do Brasil nos últimos governos desde Itamar, sobretud, focando desde 2003 até o turbulento ministério de Bolsonaro.

Lucas SantosXxxxx Xxxxx. 1 ano atrás

A reencarnação de Von Mises !



Gleidson Marinho

Não entendo como um vídeo com uma analise tão profunda e tão contundente sobre politica econômica brasileira nas ultimas duas décadas, possa ter apenas um pouco mais de mil visualizações. Me entristeço muito quando abro a pagina inicial do YouTube e vejo os vídeos mais visualizados e comentados aqui, com milhões de visualizações, como os videos do Portas dos Fundos por exemplo, vídeos que não agregam em nada a formação cultural do povo brasileiro, más que, muito pelo o contrario, deterioram o pouco que resta da capacidade intelectual das pessoas. Não entendo como existam tantos investidores que patrocinam esse tipo de imbecilização das massas, tornado-os tão populares por meio de uma divulgação maciça, quase que imposta ao cidadão comum, colocando isso como algo normal e atual, até mesmo de alto nível cultural. Essa pseuda cultural tem sido levada tanto a sério no meio acadêmico, ao ponto de formadores de opinião implantarem isso na base curricular das universidades brasileiras, como as chamadas "exposições de arte moderna" providas por universidades e incentivadas por ONGs interacionais, patrocinadas quando não por bancos e multinacionais, com o próprio dinheiro público. Seria esse o fim do que restou da cultura brasileira? Fica a pergunta.
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J.Ricardo C.MonteiroX. Xxxxxx Xxxxxx  2 anos atrás

Professor, mas apoiar um candidato de outro país, não significa interferir, não enxergo qualquer inconstitucionalidade.

J.Ricardo C.Monteiro

Professor, mas quem se "apossa" do (des)governo, não reaparelha a máquina governamental? Qual novidade em o Itamaraty seguir instruções comunistas?




PAULO, ESTÃO QUERENDO BOICOTAR ESSE DOCUMENTÁRIO DE PASSAR NA TV ESCOLA. REITORES ESTÃO DIZENDO QUE É LAVAGEM CEREBRAL E O CARAMBA

Noelio Menezes-Filho

O cara estuda estuda e não aprende NADA a imbecilização é um processo irreversível. Mais um idiota falando bobagens. Gramsci tá na história? Sabe quem foi ele e o que ele escreveu ou segue Olavo de Carvalho?

J.Ricardo C.Monteiro

Professor, no caso da nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia, Evo perguntou ao ex-presidente qual seria a atitude do Brasil, em relação à Petrobrás, o ex-presidente disse que os bolivianos estariam no seu direito. Então, professor, foi pedra cantada.


Uma carreira na diplomacia para jovens estudantes - Paulo Roberto de Almeida

Uma carreira na diplomacia para jovens estudantes


Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.me; diplomatizzando.blogspot.com)
Respostas a questões colocadas por organizadores do ExplicaENEM.


Apresentação do convidado

Indicar os principais títulos e atuações profissionais a serem mencionados.
PRA: Doutor em Ciências Sociais, mestre em desenvolvimento econômico; diplomata de carreira desde 1977l; professor nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Uniceub. Outras informações em minha página (www.pralmeida.org).

Como surgiu o interesse em ingressar na carreira diplomática e qual foi o caminho traçado para chegar ao Ministérios das Relações Exteriores?

Formação prévia, preparação para o concurso, quanto tempo de preparação. 
PRA: Minha trajetória para a diplomacia é provavelmente inédito; nunca pensei em ser diplomata até ver um anúncio no jornal abrindo inscrições para os exames de ingresso; minha intenção era apenas a de ser um acadêmico como milhares de outros, mas sem ver concursos abertos, quando retornei de um logo período no exterior, na Europa, de 1970 a 1977 – quando fiz graduação, mestrado e iniciei o doutoramento –, decidi tentar os exames do Itamaraty, mas não exatamente como estudante do Instituto Rio Branco, mas um concurso direto para ingressar imediatamente na carreira, o que foi excepcional no período de 70 anos no Instituto Rio Branco: entre 1975 e 1979 se fizeram concursos diretos, ao lado dos vestibulares do IRBr. Não houve praticamente preparação nenhuma; fiz os exames com as leituras acumuladas ao longo da vida.

Como ingressar na carreira diplomática?

Como funciona o CACD: frequência de realização do concurso; eixos de conhecimento necessários para realização da prova.
PRA: Todas as informações sobre o concurso de admissão à carreira diplomática estão disponíveis na página do IRBr: http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/ ; mais especificamente neste link: http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/concurso-de-admissao-a-carreira-de-diplomata; a prova é anual, e as vagas são determinadas pela existência de cargos não preenchidos na fase inicial da carreira, ou seja, terceiro-secretário, de um total de seis graus até ministro de primeira classe. As provas são as conhecidas: primeira fase, com teste eliminatório nas matérias de língua portuguesa; língua inglesa; história do Brasil; história mundial; política internacional; geografia; economia; e direito e direito internacional público; segunda fase com provas classificatórias e eliminatórias, escritas, de: língua portuguesa; língua inglesa; história do Brasil; geografia; política internacional; economia; direito e direito internacional público; e língua espanhola e língua francesa.

Quem pode fazer a prova?
PRA: Os requerimentos constam do edital: acima de 18 anos, estar em ordem com os requisitos formais de concursos públicos, curso superior completo, etc.

Existe algum curso superior que favoreça a realização da prova?
PRA: Certamente, aqueles que espelham, grosso modo, as matérias exigidas, ou seja, humanidades de forma geral, e ciências sociais aplicadas; o que significa, por puro bom senso, cursos de RI, mas também Direito, Economia, Ciências Sociais, etc. 

Como funciona na prática a carreira diplomática?

Quanto ganha um diplomata em início de carreira hoje?
PRA: O salário bruto é de pouco mais de R$ 19 mil, sobre o qual se aplicam os descontos de praxe (Imposto de Renda, etc.). Informações estão disponíveis neste link: http://www.institutoriobranco.itamaraty.gov.br/perguntas-frequentes.

Como é a formação de Diplomatas no Instituto Rio Branco?
PRA: Repete um pouco as matérias do concurso de ingresso, mas existe reforço nas línguas e novas matérias de caráter profissionalizante: consular, etc.
Quais os cargos e principais exigências para a promoção na carreira diplomática.
PRA: Antiguidade, ter servido no exterior, e cursos intermediários; CAD, para segundos secretários, e CAE, para conselheiros; estar no Quadro de Acesso (que representa 25% da classe; para o qual se vota horizontalmente e verticalmente).
Como funciona a política de remoção do MRE?
PRA: As vagas são publicadas, as pessoas se candidatam e se procura atender demandas pessoais em acordo com os interesses da Administração; existe rotatividade entre os postos no exterior, de A para B, C, D ou E, segundo a qualidade do posto.
Diplomatas podem trabalhar no Brasil?
PRA: Não no setor privado, a menos que seja no magistério. Existe uma legislação sobre conflito de interesses, o que dificulta exercício de outras atividades.

Quais as principais vantagens existentes em ser um Diplomata?

PRA: Para quem é nômade, ou gosta de novidades, as oportunidades são imensas: a cada 3 anos aproximadamente, se está mudando de país, alternando os mais diversos horizontes geográficos e linguísticos, culturas e horizontes políticos. Ou seja, o diplomata nunca vai se aborrecer fazendo o mesmo trabalho anos seguidos. A variedade pode até ser mais rápida na Secretaria de Estado, pois pode-se negociar um trabalho na área política, econômica, consular, jurídica, multilateral, regional, bilateral, científica, etc. O aprendizado de novas línguas é quase natural: os filhos podem ser trilíngues ou mais; se adquire um enorme conhecimento do mundo, e das relações entre povos. 

Quais desafios o Sr. enxerga atualmente para quem quer ingressar na carreira diplomática?

PRA: A concorrência é enorme, daí que apenas os melhor preparados conseguem, o que explica a elevação da idade média de ingresso na carreira, de 24 anos, duas décadas atrás, para aproximadamente 29 atualmente. Mas tudo depende da preparação do candidato, o que não é o resultado de um cursinho rapidamente feito, e sim uma trajetória de estudos dedicados ao longo de anos. 

Algumas dicas para quem quer seguir a carreira diplomática

PRA: Em primeiro lugar, é preciso ter vocação, e não apenas o desejo de fazer concurso público para ter estabilidade na carreira; existem muitos desafios na carreira, como a de servir em postos de sacrifício, não apenas pessoal, mas familiar. Em segundo lugar, estar disposto a trocar uma vida calma, na graduação, por uma preparação árdua, complexa, verdadeiramente exigente. É preciso ter em mente que se vai viver quase dois terços da vida profissional no exterior, em diversos postos, e para isso é preciso uma predisposição para aceitar todo tipo de desafios, e não só pessoais, para a família também, que será obrigada a seguir o diplomata para onde ele for. 
Pessoalmente já respondi esse tipo de questão dezenas de vezes, ao longo das últimas duas ou três décadas, ainda recentemente. Organizei meus trabalhos a esse respeito num trabalho que também remete a todos os meus outros textos sobre aspectos diversos da carreira, ingresso, desenvolvimento, exigências, peculiaridades, etc., neste link: 
3683. “Preparação para a carreira diplomática: uma conversa com candidatos”, Brasília, 29 maio 2020, 2020, 6 p. Conversa online com candidatos à carreira diplomática, sobre as seguintes questões: 1) O que fez o senhor decidir ser diplomata?; 2) Como foi sua jornada para passar o CACD?; 3) Quais são os diferenciais para passar o concurso?; 4) Como o candidato deve abordar as atualidades em seus estudos?;  5) Como deveria ser o mindset para o estudo dos idiomas?; 6) Como foi o Instituto Rio Branco?; 7) O que se aprende por lá?; 8) Como é a vida no exterior?; 9) Como muda em relação a Brasília? Elaborada lista de trabalhos que se encaixam nos critérios solicitados. Divulgado no blog Diplomatizando (29/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/preparacao-para-carreira-diplomatica.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43192887/Preparacao_para_a_carreira_diplomatica_uma_conversa_com_candidatos_2020_).

Depois desse trabalho, respondi às questões em podcast, aqui registrado: 

3684. “Um diplomata desvio padrão: podcast para candidatos à carreira”, Brasília, 29 maio 2020, Audio Mpeg da Apple 1:31:13, 37, 2MB. Podcast gravado sobre os pontos enunciados no trabalho n. 3683. Disponível no Dropbox (link: https://www.dropbox.com/s/0kd91ucpgmlkhgn/3684DiplomataDesvioPadraoPodcast.m4a?dl=0); anunciado no blog Diplomatizzando (30/05/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/05/uma-conversa-com-candidatos-carreira.html).

Convido todos a lerem alguns dos trabalhos ali compilados.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de junho de 2020
Disponível no blog Diplomatizzando (link: ).


A China ganhou? - Livro de Kishore Mahbubani - Marcelo Ninio (O Globo)



A Guerra Fria Econômica assume o contorno de uma nova longa "protracted war" (conceito de Mao, de 1938) entre um império declinante, os EUA, e um ascendente, a China. Eu creio que a China precisa de um George Kennan, ou seja, uma estratégia de contenção, contra o império tresloucado, para evitar um confronto nuclear; ela o fará, tenho certeza. Paulo Roberto de Almeida, leitor da biografia do Kennan por John Lewis Gaddis, que recomendo. Covid-19 mostrou que confronto entre China e EUA se tornou inevitável, diz ex-alto diplomata de Cingapura Marcelo Ninio, especial para O Globo 08/06/2020 - 04:30 / Atualizado em 08/06/2020 - 10:25 Figuras de papelão dos presidentes americano, Donald Trump, e chinês, Xi Jinping, em uma loja de lembranças para turistas em Moscou Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP - 3/6/2020 https://oglobo.globo.com/mundo/covid-19-mostra-que-confronto-entre-china-eua-se-tornou-inevitavel-diz-ex-alto-diplomata-de-cingapura-24466654?versao=amp O título do mais recente livro de Kishore Mahbubani, ainda sem tradução no Brasil, soa como uma provocação ao Ocidente, especialmente aos EUA — e cumpre o prometido. Se o mundo caminha para uma nova guerra fria, como muitos acreditam, os EUA chegam ao confronto em clara desvantagem em relação à China, diz Mahbubani, sobretudo pela incapacidade americana de elaborar uma estratégia para o que ele chama de “a maior disputa geopolítica jamais vista” ou nem sequer imaginar um mundo em que não sejam o número um. É um contraste gritante com a estratégia de contenção articulada em 1946 pelo diplomata americano George Kennan para enfrentar a União Soviética, repete Mahbubani ao longo de seu livro. Membro ilustre do Instituto de Pesquisas Asiáticas da Universidade Nacional de Cingapura, país ao qual serviu como diplomata por 33 anos, Mahbubani é autor de vários livros sobre a mudança no eixo de poder global em direção à Ásia. Por que os EUA não delinearam uma estratégia para lidar com a China? Depois da espetacular vitória na Guerra Fria contra a União Soviética, os EUA se tornaram complacentes. No famoso artigo “O fim da História” (1992), [o cientista político americano] Francis Fukuyama afirma que todas as sociedades se tornariam democracias liberais como os EUA e a Europa. E que por isso os EUA e a Europa podiam relaxar e não fazer nada e o resto do mundo teria que se adaptar. Esse artigo causou um grande dano cerebral ao Ocidente, porque foi publicado exatamente no momento em que a China e a Índia despertavam de um sono de 200 anos. Nos últimos 40 anos a China viveu o maior crescimento econômico da história e os EUA ficaram no piloto automático, assumindo que, não importe o que aconteça, se manteriam como número um para sempre. Esse foi o maior erro estratégico dos EUA. Em recente artigo, Fukuyama afirma que o regime chinês é um desafio aos valores democráticos dos EUA. Isso reflete a atmosfera nos EUA, onde há uma reação muito emocional ao retorno da China. Muitos americanos acreditaram que a abertura econômica da China levaria à abertura do sistema político chinês. Hoje está cada vez mais claro que a China não está se movendo nem um pouco para se tornar uma sociedade democrática liberal e quer manter seu próprio sistema político, por isso há uma desilusão por parte de americanos como Fukuyama. Futuros historiadores ficarão intrigados em como um país como os EUA, com uma história política de menos de 250 anos, pôde acreditar que a China, com 4 mil anos de história e população quarto vezes maior, se tornaria mais parecida com os EUA — e não o oposto. Essa crença de que a China será como os EUA reflete uma certa ingenuidade política na mente de pessoas como Fukuyama, que não estudaram a história mais longa da humanidade e se concentram apenas na aberração que é o breve período de 200 anos de domínio ocidental. E isso é artificial, porque do ano 1 até 1820 as duas maiores economias foram China e Índia. A Covid-19 tornou o confronto inevitável? Eu esperava que a Covid-19 reduziria a competição geopolítica. Uma das regras mais antigas da geopolítica é que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. A Covid-19 neste momento é o maior inimigo dos EUA, mais americanos já morreram do vírus que nas duas guerras mundiais. Logicamente, uma vez que a Covid-19 também é inimiga da China, os EUA deveriam pôr de lado suas outras diferenças e trabalhar com a China contra o vírus. Mas os EUA não fizeram isso, de fato usaram a Covid-19 para constranger, atacar e isolar a China, é isso é uma prova de que a tese de que o confronto é inevitável se tornou uma realidade. O senhor afirma que na comparação com a Guerra Fria, hoje a China é os EUA e EUA são o a União Soviética. Por que? Um dos conselhos mais sábios de George Kennan foi que o sucesso dos EUA na competição com os soviéticos dependia, no fim das contas, da vitalidade espiritual da sociedade. Em segundo lugar, ele disse que os EUA deveriam cultivar amigos e aliados. Em terceiro, aconselhou a não insultar a União Soviética, porque em algum momento poderia ser necessário trabalhar com os soviéticos em certas áreas. E o quarto conselho foi que os EUA tivessem humildade. O interessante é que o governo Trump está ignorando todos esses conselhos para lidar com a China. Em contraste, a China está seguindo de alguma forma os conselhos de Kennan, está se concentrando em sua vitalidade espiritual. A diferença mais importante entre os EUA e a China é que os EUA são a única sociedade desenvolvida em que a renda média da metade de baixo da população caiu nos últimos 30 anos. Enquanto isso, nos últimos 40 anos, o povo chinês teve a maior alta no nível de vida em 4.000 anos. Nesse sentido, ao não prestar atenção em sua vitalidade espiritual e, em vez disso gastar dinheiro em defesa, os EUA estão se comportando como a União Soviética e a China, ao gastar menos em defesa e se concentrar em sua vitalidade doméstica, está agindo mais como os EUA. Como o sr. responde aos que vêem no autoritarismo do regime chinês um obstáculo para o desenvolvimento do país, por inibir a criatividade e a inovação? Grande parte da incompreensão ocorre porque o Ocidente parte de suposições ideológicas ao lidar com a China. A maior democracia do mundo em população é a Índia. E foi um professor indiano bastante astuto que me disse: a diferença entre a Índia e a China é que a Índia é uma sociedade aberta com uma mente fechada, enquanto a China é uma sociedade fechada com uma mente aberta. Isso explica o dinamismo da sociedade chinesa. Quando eu fui à China pela primeira vez, em 1980, os chineses não tinham liberdade para escolher o que vestir, onde morar e o que estudar. Não havia turistas chineses no mundo. Hoje os chineses podem escolher tudo isso e 134 milhões chineses por ano viajam para o exterior livremente, e voltam para casa. Se a China fosse uma sociedade fechada e opressiva, os chineses não voltariam. Os chineses hoje não gozam de liberdades políticas do tipo que os americanos têm, mas contam com uma explosão de liberdades individuais. Se a China fosse um gulag comunista, não haveria empreendedores no país e a economia não seria tão vibrante e dinâmica. Mas a China está cheia de empreendedores, startups e empresas de tecnologia. No setor de pagamentos móveis, por exemplo, a China é número um no mundo. Isso mostra que a percepção de que a China é um Estado opressor não reflete a realidade. Quem sairá ganhando na guerra de narrativas entre China e EUA sobre a origem e o controle da pandemia? Não há dúvida que o governo chinês, e especialmente as autoridades de Wuhan, cometeram sérios erros no começo e um deles foi silenciar o médico Li Wenliang, que alertou sobre o surto do novo vírus. Erros foram cometidos no início, mas depois disso, quando se deram conta de que algo grave estava ocorrendo, os chineses foram capazes de ações muito fortes e decisivas. E apesar de o governo americano continuar culpando os chineses pelas mortes de americanos de Covid-19, Richard Horton, editor do Lancet, uma publicação científica britânica altamente respeitável, afirmou que eles publicaram cinco artigos na última semana de janeiro que descreviam o vírus como mortal e sem tratamento, que havia transmissão humana e alertavam para o risco de uma pandemia. O alerta foi feito no fim de janeiro e a maioria dos países do Ocidente desperdiçaram o mês de fevereiro e o início de março antes de agir. Claramente foi o fracasso dos EUA que levou a essa explosão de casos de Covid-19 no país. E agora, para esconder seus próprios erros, o governo Trump está culpando a China. As estatísticas mostram a espantosa diferença de competência entre os dois países. Costuma-se dizer que crises têm o potencial de acelerar processos históricos. Como essa crise afetará a ascensão da China? A batalha da Covid-19 ainda não terminou. Ainda estamos em meio a uma névoa e qualquer soldado lhe dirá que no meio da batalha, cercado pela névoa da guerra, não se sabe qual será o desfecho. No momento não há dúvida de que o governo chinês administrou a crise melhor que o governo Trump, os números mostram isso. Mas os EUA ainda têm as melhores universidades, os melhores institutos científicos, o maior número prêmios Nobel, então se amanhã uma instituição inventar uma cura para a Covid-19 e salvar o mundo, o mundo inteiro dirá "graças a Deus temos os EUA”. Nesse sentido, os EUA ainda podem sair vencedores da batalha da Covid-19 se descobrirem a cura. O sr. afirma que uma das diferenças entre a Guerra Fria e o momento atual é que a China, ao contrário da União Soviética, não está tentando exportar sua ideologia. Mas há em muitos países há a preocupação de que a China está usando seu poder econômico para influenciar processos domésticos. O conceito de uma potência benevolente é um paradoxo. Todas as grandes potência defende seus interesses e à medida em que a China se torna mais poderosa ela irá usar seu poder para defender seus interesses. A China certamente se tornará um desafio para o mundo à medida em que se tornar mais forte. Graham Allison, professor de Harvard que escreveu o livro “Destinado para a guerra”, diz que muitos americanos se perguntam “por que os chineses não se comportam como nós?”. E Allison diz: cuidado com o que você deseja. Quando os EUA emergiram como grande potência no fim do século 19, começo do 20, [o presidente] Teddy Roosevelt declarou guerra à Espanha, conquistou territórios como as Filipinas, os EUA eram muito mais imperialistas que a China hoje. No último ano do governo Obama, os EUA lançaram 26 mil bombas em sete países. Em contraste, a China é o único país que não lutou uma guerra nos últimos 40 anos e não deu um tiro além de suas fronteiras nos últimos 20. A atitude dos chineses é: você não exporta seu sistema para mim e eu não exporto o meu para você. É o oposto da União Soviética. O sr. prevê que o confronto pode forçar países a tomar um lado. Qual será a consequência para um país como o Brasil, que no momento tem uma aliança ideológica com os EUA, e ao mesmo tempo depende da China economicamente? Tanto os EUA como a China agirão como grandes potências, e quando a competição ocorrer eles irão seduzir, intimidar, persuadir pressionar outros países a apoiá-los em sua disputa geopolítica. Mas eu acho que o mundo mudou desde a Guerra Fria e a maioria dos países preferem, primeiro, que não haja essa competição geopolítica agora, porque há coisas mais importantes a fazer, como lidar com o aquecimento global. E segundo, não querem escolher um lado. Ao contrário da primeira Guerra Fria, quando muitos países ficaram satisfeitos em se aliar aos EUA contra a União Soviética, hoje quase nenhum país está dizendo aos EUA "conte comigo, estou com vocês em sua disputa com a China". E mesmo os países da Europa, que obviamente estão mais à vontade ideologicamente com os EUA, ainda mantêm seus laços com a China. A Alemanha, por exemplo, vende mais carros para a China do que para os EUA, por isso quer manter boas relações com ambos. É isso que a maioria dos países dirá a EUA e China. Eu fui diplomata por 33 anos, de 1971 a 2004. E quando eu me tornei embaixador na ONU, em 1984, eu tinha relações muito próximas com meus colegas brasileiros. Na maior parte do tempo o embaixador brasileiro estava muito preocupado com a forma como os americanos estavam interferindo nos assuntos da América Latina. Neste momento, por um acidente da história, vocês têm um presidente no Brasil que é simpático ao presidente Trump. Mas quando houver uma mudança de governo no Brasil as preocupações tradicionais da geopolítica emergirão. O mais sensato e lógico para o Brasil é manter boas relações tanto com os EUA como com a China. No início do ano analistas especulou-se que a crise abalaria o poder do líder chinês, Xi Jinping. Com o controle da epidemia na China essa percepção mudou. Como Xi sairá dessa crise? Vivemos num mundo que ainda é dominado pelo Ocidente. E certamente a mídia internacional é dominada pelo Ocidente, especialmente a anglo-saxã. Você pode contar com a imprensa anglo-saxã para contar histórias negativas sobre a China. No meu livro eu levanto uma questão bastante sensível: na psique ocidental há enterrado por muitos séculos o medo da “ameaça amarela”. A mente ocidental nunca está confortável em um mundo onde uma potência não-ocidental se torna número um. Muitos dos relatos negativos sobre a China não são resultado de análise racional, mas do medo da “ameaça amarela”. Acho que nós que vivemos fora do Ocidente não devemos nos submeter aos preconceitos e emoções ocidentais, temos que analisar a China de forma objetiva. Segundo o Edelman Trust Barometer, com base em Nova York, a China é o país onde há o nível mais alto de confiança no governo. E certamente toda a evidência que vi, embora talvez haja alguns liberais em universidades que não estão confortáveis com ele, a vasta maioria das pessoas na China está muito satisfeita com o governo de Xi Jinping. Porque eles sabem que ao longo da história, quando a China teve um poder central fraco as pessoas sofreram, como ocorreu no "século da humilhação”, de 1842 a 1949. Mas quando tem um poder central forte como sob Xi, as pessoas se beneficiam. De acordo com todas as evidências, Xi Jinping ficou mais popular depois da Covid-19. Qual seria o impacto nas relações com a China de uma vitória do democrata Joe Biden sobre Trump na eleição presidencial de novembro? Certamente se Joe Biden vencer a eleição em novembro o tom e a química da relação entre a China e os EUA mudarão. Biden é uma pessoa decente, não irá insultar a China como o governo Trump tem feito. Mas essa disputa geopolítica está sendo alimentada por diferenças estruturais entre China e EUA, e eu cito três exemplos. Primeiro, a questão é quem terá a maior economia do mundo; segundo, a China é a primeira potência não-ocidental a desafiar o poder americano; e terceiro, os americanos também se sentem desconfortáveis com um país governado por um partido comunista. Portanto há diferenças estruturais entre os dois países. O único momento em que o presidente Trump tem apoio bipartidário é quando ele bate na China, mesmo que algumas de suas posições sejam extremamente irracionais e nada inteligentes. Afinal, a China venceu? Acho que eu não deveria dar a resposta, porque aí as pessoas não comprarão o livro. Todos pensam que a resposta é sim, a China venceu. Mas a resposta no meu livro é não, ou mais corretamente, ainda não. Enquanto os EUA continuam tentando enfrentar o desafio chinês sem uma estratégia abrangente, os líderes chineses sempre pensam no longo termo e estrategicamente. Com sua falta de estratégia, os EUA estão dando à China uma vantagem competitiva. De certa forma o meu livro é um presente aos meus amigos americanos, uma forma de despertá-los para a nova realidade com que estão lidando, um desafio geopolítico muito mais formidável que a União Soviética. Se os EUA foram capazes de delinear uma estratégia consistente, plausível e inteligente para lidar com a União Soviética, também podem fazer o mesmo com a China. Mas eles precisam ouvir os conselhos de Kennan: focar na vitalidade espiritual interna, cultivar amigos e aliados, parar de insultar a China e ser humildes. Você pode imaginar o governo Trump fazendo isso?

Livros do autor:



About A veteran diplomat, student of philosophy, and celebrated author, Kishore Mahbubani is currently a Distinguished Fellow at the National University of Singapore’s Asia Research Institute. Mahbubani is also a former President of the UN Securit Read more

Ainda sobre a crise do Estado-nação - Paulo Roberto de Almeida

Ainda sobre a crise do Estado-nação


Paulo Roberto de Almeida

Sou uma pessoa obsessivamente preocupada com o destino da nação, não sei bem por quais motivos.
Provavelmente porque venho de um meio muito modesto, bem modesto mesmo, no limite da pobreza, e pelo fato de ter passado metade da minha vida em bibliotecas e em viagens pelo Brasil e pelo mundo, e a outra metade trabalhando duro para o meu sustento e da família, geralmente em duas atividades, na carreira profissional de servidor público e nas lides acadêmicas, assumidas até exageradamente, por gosto e (de)formação intelectual.

Pois bem, acabo de escrever um “epitáfio para uma nação evanescente”, que obviamente ainda não é um, estrito senso, apenas uma alerta premonitório sobre uma crise em desenvolvimento.
A crise tem muitos fatores, mas um deles tem nome e sobrenome, e se estende igualmente às chamadas “elites nacionais”, o que passa também pelas corporações de Estado, das quais eu faço parte.

Pois bem, retomo aqui uma de minhas constatações mais repetidas ao longo dos últimos anos: TODAS as corporações de Estado estão ativamente empenhadas em sugar a nação, cuja riqueza é criada quase que exclusivamente por empresários e trabalhadores do setor PRIVADO.
As corporações de Estado ajudam a organizar o funcionamento desse Estado, mas cuidando em primeiro lugar do seu bem-estar, sem excluir privilégios, por vezes típicos das aristocracia do Antigo Regime, até exageradamente, como é o caso de alguns altos mandarins desse Estado já exangue.
Apenas a corporação dos militares aparece mais, pois ELES estiveram presentes em TODAS AS INTERVENÇÕES extra e anticonstitucionais na vida política da nação desde o nascimento da República, por serem mais visíveis e por disporem de FORÇA BRUTA. Em grande medida porque as elites em geral são muito medíocres.
Não acredito que os militares e as FFAA sejam das corporações a mais preclara, apenas são a weberianamente mais organizada. Por isso mesmo, deveriam ser a mais responsável entre as corporações, com o objetivo de zelar pela ORDEM e pelo PROGRESSO da nação.
No momento presente não parece ser o caso, pois estão sendo CONIVENTES ou COMPLACENTES com um projeto de DESTRUIÇÃO da nação, pelo desmantelamento das instituições de Estado.
Como sempre, assino embaixo e me responsabilizo pelo que afirmo.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de junho de 2020

Epitáfio para um país evanescente - Paulo Roberto de Almeida

Epitáfio para um país evanescente


Paulo Roberto de Almeida 

Qualquer pessoa alfabetizada, medianamente informada, observadora mesmo superficial da realidade à sua volta — posso apontar ministros das cortes superiores, parlamentares, militares de altas patentes, acadêmicos, jornalistas, empresários de quaisquer setores, profissionais liberais, membros das corporações de Estado, cidadãos conscientes — pode rapidamente concluir, após um ano e meio de governo Bolsonaro, que o Brasil atravessa atualmente uma das piores crises de sua história, e não é pela pandemia do Covid-19.
Essa crise precede a pandemia, que pode até ter agravado alguns de seus sintomas — como a absoluta falta de estratégia ou de simples linhas diretivas para a simples governança corrente —, mas esta não é sua principal causa, nem cessará caso a pandemia seja vencida (oportunamente).
A crise, na verdade, é inerente ao governo e está inextricavelmente vinculada ao personagem central desse governo. Não hesito em classificar o presidente como o PIOR governante que já teve o Brasil desde Tomé de Souza, que aqui chegou no primeiro meio século do Descobrimento.
O cidadão Jair Bolsonaro é um despreparado, um inepto total em qualquer área da administração pública, um obsessivo desequilibrado, vivendo numa bolha doentia com seus filhos maiores, cercado por alguns áulicos fieis, mas tão despreparados quanto ele próprio, apenas animado pelos instintos mais primitivos que uma personalidade de traços esquizóides poderia abrigar. 
Em resumo: toda a crise brasileira se resume no fato de o país estar sendo desgovernado — mas de forma ativa, arbitrária e atrabiliária — por um psicopata afanosamente empenhado em consolidar um poder autocrático que ele se empenha em viabilizar pelo seus equivalentes de novos “camisas negras” que lhe seriam devotados com a ajuda de armas e pela mobilização de estratos mais baixos das forças de segurança. 
Trata-se de um projeto precário de construção de um poder autocrático que não tem muita chance de prosperar, mas que arrasta o país para um ambiente de confrontação constante, que impede uma gestão normal dos negócios públicos nas e pelas demais esferas da administração do Estado. O Brasil está sendo literalmente asfixiado por crises e mais crises constantemente deslanchadas por esse personagem nefasto, que tem a seu serviço alguns dos piores auxiliares que já assumiram cargos em diversos ministérios setoriais. 
A nação está mais dividida do que jamais esteve em toda a sua história, e assim permanecerá enquanto o sinistro personagem continuar ocupando o centro do poder. 
Líderes políticos e detentores de altos cargos nos principais escalões do Estado minimamente conscientes da realidade aqui descrita podem — ou pelo menos deveriam — chegar inevitavelmente à conclusão de que o país caminha para uma crise falimentar se tal situação perdurar. Um consenso elementar sobre o que fazer deveria levá-los à conclusão inelutável de que é preciso remover o elemento canceroso do coração do Estado o quanto antes, sob risco de o país ser levado a uma catástrofe de governança da qual será muito mais difícil emergir. 
Meu título já prefigura o que vejo como próxima etapa desse processo auto-destrutivo: o país se apaga, para a nação e para o mundo, e seus filhos podem ser levados, como na canção famosa, a “errarem cegos pelo continente”. 
Não gostaria, de verdade, de ter de escrever um epitáfio para um país evanescente. Ele está apenas sugerido, como possível próxima etapa do declínio da nação.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 8/06/2020

Zachary Carter: Keynes, o salvador do capitalismo? Book review

The economist who could save the world

John Maynard Keynes in his office at the Treasury in London on Aug. 25, 1945. (AP)
John Maynard Keynes in his office at the Treasury in London on Aug. 25, 1945. (AP)
Who’s afraid of big spending now?Across western democracies, the impact of the coronavirus pandemic has compelled governments of various stripes to unleash fiscal stimulus on their battered societies. Even before the virus paralyzed much of the global economy, public attitudes toward austerity had long soured, with parties across the political spectrum increasingly embracing more active social spending and eschewing platforms that touted cuts.
In “The Price of Peace: Money, Democracy and the Life of John Maynard Keynes,” journalist Zachary Carter vividly explores the career of the early 20th-century economist whose prescriptions for economic crises linger with us. As The Washington Post’s review of the book puts it, governments are “still in thrall” to Keynes in myriad ways, but especially when faced with the troubles of our present. Carter, a reporter at HuffPost, spoke to Today’s WorldView about Keynes and his legacy. Below is an edited version of our chat.
What do we mean when we talk about “Keynesianism?” 
Most of us encounter a version of Keynesianism in Econ 101 courses, where we learn that Keynes was the guy who counseled governments to spend big during recessions to help bring the government out of the doldrums. But Keynes himself never wanted to be remembered as a deficit therapist. He was a social thinker who was concerned with the great problems of his day: war and economic depression. And I think he would be very troubled by the idea that government spending on anything at allbecame the hallmark of his legacy in the economics profession. Although, he was not a modest man, and I think he would have taken some comfort in knowing that Democrats and Republicans alike have adopted policy strategies named after him.
Are there ways in which he viewed social goods and the responsibilities of lawmakers that would challenge the mainstream norms of our present, especially in America?
Very much so. Keynes was deeply afraid of social upheaval and revolution, but his social values were essentially radical. He was a gay man who lived with a community of pacifist artists and writers, who was very comfortable living against the grain of the social norms of his time. But I think he would be perplexed by what we deem to be political battles in the United States. He thought economic policy was the central political battleground for social justice, and the way economics has become technocratized and hived off from mainstream politics as an arena for specialists would have both excited and frightened him. He would be terrified by the idea that central political questions about equality and inequality have become the terrain of experts who essentially rule in favor of inequality, regardless of which political party is in charge. Keynes viewed inequality as a very dangerous thing — it’s something that preoccupied him when he wrote “The Economic Consequences of the Peace” and “The General Theory” — his two masterpieces.
 
 
For all the impact he’s had on economic policy thinking, he faced repeated political disappointments through much of his career.
I think there are very few people who have cultivated such monumental political legacies who had such pathetic political careers. Keynes lost essentially every public policy battle he waged between 1917 and 1941. All of his economic thought was developed in an attempt to prevent another calamity like World War I, and he obviously failed in that project. But that failure forced him to be increasingly ambitious with his thinking. If he had been able to persuade governments at Paris in 1919, for instance, to cancel international debts, we might never have seen “The General Theory.”
The conventional understanding now places Keynes, a champion of stimulus, against Milton Friedman, who came after him and is seen as a champion of austerity. Is that a useful binary?
I think we lose track of the fact that Friedman and Keynes had different social visions. They weren’t just arguing across the generations about which policies would best create the same desired result. They were arguing about what kind of world they wanted to live in. And the mathematicization of economics in the 20th century really obscures this deeper ideological conflict, often by design. Keynes wanted everyone to live in the Bloomsbury of 1913, having their hair cut by Virginia Woolf while drinking champagne and debating post-impressionism with Lytton Strachey. Friedman wanted to preserve these activities as the exclusive domain of the wealthy. Why be rich if you can’t live a better life than the masses? To which Keynes would counter: Who cares about the masses when you are drinking champagne with Virginia Woolf?
So literal champagne socialism?
It depends on which Keynes you’re talking to, but by the end of his life, I think that’s about right. Keynes had a complicated relationship with the word “socialism.” He was ferociously critical of the Soviet Union. But he also thought the socialist Labour governments in Britain during the 1920s and 1930s were much too timid and insufficiently committed to economic justice for working people. In the United States, we remember Keynes for deficit spending, but his most comprehensive policy victory was the establishment of the National Health Service in Britain. He was the financial architect of socialized medicine in the U.K.
 
Given the pandemic and the kind of spending many governments are mustering now, are we entering a new age of Keynesianism?
In a narrow sense, we’ve always been living in a Keynesian world. Even Republicans spend big to save the economy. But since 2008 and particularly today, it’s obvious that there is no market economy absent political support for economic activity, and recovery will require profound, long-term guidance from today’s great powers. But Keynes would not see the crisis as a matter of dollars and cents or imbalanced equations. He’d look to climate change, inequality and the escalating tensions between the United States and China as pressing social problems in need of immediate attention. And so he’d craft rescue packages that attempted to kill multiple birds with one stone: bring the economy to prosperity, of course, but establish a foundation for international harmony.
Keynes never stopped believing in the potential for people to create a better world, even as the world in his own lifetime descended deeper and deeper into chaos and dysfunction. There was no problem he believed democracies were incapable of overcoming. People criticized him for being naive, but I don’t think democracies can afford to break that faith in the future.