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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 25 de março de 2021

Rupturas na diplomacia e desenvolvimento interrompido do Brasil - Paulo Roberto de Almeida; debate com Renato de Oliveira

 Participei, nesta tarde, de uma conversa com o sociólogo Renato de Oliveira, sobre temas da diplomacia e da sociologia do desenvolvimento, cujo video está disponibilizado neste link: https://www.facebook.com/100055583565581/videos/230131248849659/?d=n



Abaixo transcrevo o texto que eu tinha preparado para a ocasião, mas que obviamente não li.

Rupturas na diplomacia e desenvolvimento interrompido do Brasil

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivonotas para entrevista oralfinalidadedebate público sobre diplomacia e Brasil] 

 

1) O Itamaraty sempre foi reconhecido por assegurar um alto nível de formação do seu pessoal, e os diplomatas brasileiros sempre foram respeitados no exterior por sua alta capacidade de representação e negociação, projetando o Brasil como um "player" importante no cenário internacional, apesar dos nossos problemas estruturais internos. De onde surgiu um Ernesto Araújo? É possível falar de uma reação obscurantista na diplomacia brasileira que acabou sendo cooptada pelo bolsonarismo?

 

PRA: A constatação sobre a excelência dos quadros do Itamaraty é a opinião comum no Brasil, embora haja um pouco de exagero na qualidade, isenção ou adequação do corpo de funcionários da diplomacia profissional para fins de desenvolvimento do Brasil ou para a inserção do país na economia global. Somos funcionários bem preparados, mas certamente enquadrados num ambiente que funciona entre a meritocracia e estruturas feudais de comando e controle. Como para os militares, os dois princípios de funcionamento da Casa, sempre repetidos pelos barões do Serviço Exterior, são hierarquia e disciplina, e existe uma grande dependência dos quadros subalternos das chefias ou do gabinete, para quase tudo na carreira: promoções, chefias, postos, prebendas, etc., daí a estrita obediência aos chefes.

Ernesto Araújo é típico burocrata cinzento, que viveu trinta anos enquadrado no espírito da Casa, embora pudesse ter, mas escondidos, seus sentimentos e posturas pessoais de cunho religioso e ultra conservador. Mas passou incólume por mandatos tucanos e petistas sempre cumprindo fielmente seus deveres, no sentido mais anódino da palavra: disciplinado, obediente, respeitoso dos superiores e demonstrando perfeita conformidade com a ideologia do momento: tucanices na era FHC, quando ainda tínhamos uma diplomacia normal, adesão ao lulopetismo diplomático quando foi o caso, defendendo fielmente todas as posturas daquele momento, e isso está documentado. Provavelmente, quando da ascensão da Direita, a partir de 2013 e, sobretudo depois do impeachment de 2016 e a conformação da candidatura do capitão, ele se aproveitou do momento para, de maneira totalmente oportunista, se abrir aos futuros donos do poder para oferecer seus serviços. Ele o fez de forma clandestina, e até de forma ignóbil, pois se uniu a pessoas despreparadas para conduzir a política externa e não hesitou em submeter-se à vontade dos ineptos para praticamente destruir o Itamaraty. Ele certamente merece o desprezo de seus colegas de carreiras por todas as vergonhas a que foi conduzida a diplomacia brasileira, numa das derrocadas mais avassaladoras a que foi levada a diplomacia profissional e a qualidade do Serviço Exterior brasileiro. 

Não existe NENHUMA “reação obscurantista na diplomacia brasileira que acabou sendo cooptada pelo bolsonarismo”, pois o perfil típico do diplomata profissional é o de um quadro muito bem informado, geralmente progressista, totalmente engajado nos grandes princípios e valores da diplomacia brasileira, historicamente, que são os do multilateralismo, da aderência ao Direito Internacional, aos da democracia, dos direitos humanos e da cooperação internacional e da integração regional e da inserção do Brasil no mundo. Nada a ver, absolutamente nada, com a agenda da extrema-direita reacionária, avessa ao verdadeiro liberalismo, antiglobalista e cerceadora dos direitos das minorias e desse ambiente que pode ser chamado de politicamente correto, que é o ambientalismo contemporâneo, dos direitos sociais numa perspectiva avançada, sem cultivar qualquer tipo de ideologia sectária, como é o caso dessa horrível direita conspiratória, primariamente anticomunista e antimultilateralista. Todas essas coisas são perfeitas aberrações, que chocam a vasta maioria dos diplomatas, o que não exclui que também existam aqueles sinceramente conservadores, ou direitistas, mas que sempre se enquadraram nos ares do tempo e serviram ao país da melhor forma possível. Sempre existem aqueles que por puro oportunismo carreirista resolver aderir ao novo credo da chefia, até com certo entusiasmo, o que poderá ser um problema para eles no futuro, quando o Itamaraty voltar a um comportamento normal, digamos assim, livre das loucuras e da completa esquizofrenia da fase atual. 

 

2) O Brasil já pagaria um alto preço por seu isolamento internacional se o mundo continuasse o mesmo no pós-pandemia. No entanto, há tendências mais ou menos evidentes de que muitas coisas mudarão, sobretudo com os Estados nacionais (incluindo a Europa entendida como tal, apesar das suas dissensões internas) recuperando um protagonismo, sobretudo na formulação de políticas econômicas, que havia sido muito relativizado durante a globalização. Isto implicará mudanças estruturais nas políticas exteriores dos países líderes da economia mundial. Que cenário se pode desenhar para o Brasil? Como a diplomacia poderia ser um agente ativo para a recuperação econômica no novo cenário mundial?

 

PRA: Essa radicalização direitista, quase fascistoide, da diplomacia e do governo brasileiro atual vai ser superada em algum momento, e a diplomacia brasileira vai ser restaurada em suas grandes linhas tradicionais, de equilíbrio, ponderação, adequação aos grandes princípios que sempre guiaram nossa política externa, e tudo isso que ocorre hoje será um pesadelo a ser superado. Algumas sequelas persistirão durante algum tempo, como a perda de credibilidade de nossa postura junto a grandes parceiros internacionais, dos quais estamos temporariamente afastados ou com baixo nível de interação. A verdade é que existe um desgoverno geral no Brasil, dado que o chefe de Estado é um inepto despreparado, um, obsessivo com seus interesses pessoas, totalmente incompetente no exercício e no manejo da política externa, e jamais corrigido ou orientado adequadamente por um chanceler acidental que é totalmente submisso às loucuras dos seus chefes. Além de destruir o Itamaraty como instituição respeitável, ele conduziu o Brasil à pior situação no contexto internacional, aliás reconhecido por ele mesmo, ao confessar que não tinha problemas com nossa atual condição de pária internacional. 

Mas os diplomatas são muito submissos para ensaiarem um movimento de revolta contra todos os horrores que ocorrem atualmente na política externa e na diplomacia. As reações ao descalabro vieram de diplomatas aposentados e de figuras do jornalismo e da academia, com uma quase unanimidade na reprovação. Eu sou praticamente o único diplomata da ativa que ousa protestar publicamente e rejeitar completamente a demolição que ocorre hoje na diplomacia brasileira, que é, por sinal, o título de meu próximo livro, depois de três que já publiquei neste ciclo de críticas ao bolsolavismo diplomático: Miséria da Diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty (2019), O Itamaraty num labirinto de sombras e Uma certa ideia do Itamaraty (ambos de 2020).

Tenho certeza de que a reconstrução da política externa e a restauração do Itamaraty começaram assim que conseguirmos nos livrar daqueles que eu chamo de novos bárbaros, uma vez que eles são perfeitamente bárbaros destruidores da antiga qualidade de nosso Serviço Exterior. Haverá algumas sequelas, entre eles o isolamento dos muito convertidos à obra de destruição, mas depois o Itamaraty voltará a servir o Brasil como sempre fez.

 

3) Retornando a F. Fernandes... Em “A Revolução Burguesa no Brasil”, ele defende a tese de que a oligarquia brasileira, convertida em burguesia por força dos influxos do mercado internacional, utilizou seu controle sobre o Estado para impedir o desenvolvimento pleno de uma racionalidade capitalista no plano interno, mantendo formas arcaicas de produção do excedente econômico e assegurando seu controle sobre o mercado por mecanismos extra-econômicos. Ou seja, o empresário brasileiro conquista hegemonia no mercado não por sua competência econômica, mas por controlar o Estado, impedindo a generalização da competitividade como padrão de organização da economia. Esta tese traz alguma luz sobre a situação atual do Brasil, seja do ponto de vista do retrocesso da economia, cada vez mais dependente de commodities, seja do ponto de vista do retrocesso nas relações internacionais, como se houvesse uma vocação de "ser periférico"?

 

PRA: Conheço bem toda a obra do mestre da Escola Paulista de Sociologia, em especial seu magnum opus, justamente A Revolução Burguesa no Brasil, e comecei minha tese de doutoramento com a intenção de comprovar e reafirmar seus argumentos principais nessa obra muito profundamente, mas também muito desigual: ela começa por uma postura weberiana-funcionalista muito explícita em sua primeira parte para terminar com tomadas de posição quase leninistas em seu conteúdo explicativo sobre as razões da autocracia burguesa e a persistência do não desenvolvimento. No curso de minhas leituras paralelas à obra de Florestan Fernandes, de Nikos Poulantzas, de Immanuel Wallerstein e de outros adeptos da teoria da dependência, fui revisando meus próprios argumentos, com, base num estudo muito detido das revoluções burguesas e do desenvolvimento do capitalismo periférico, sobretudo com base na leitura de Barrington Moore Jr, assim como de outros autores, o próprio Weber, Marx, naturalmente, mas também Fernand Braudel, Albert Hirschman e uma pletora de outros autores, em história, sociologia, política e desenvolvimento econômico. Devo também ao fato de ter viajado muito pelo mundo, em todos os socialismos e capitalismos realmente existentes, em diferentes países em desenvolvimento, a aquisição de uma visão bem mais matizada dos nossos problemas de desenvolvimento na América Latina, do que aquela que considero excessivamente acadêmica, e puramente conceitual, que é a de Florestan Fernandes e de muitos dos que o seguem na academia.

Dito isto, é preciso considerar que, sim, não exatamente os empresários brasileiros, mas as suas oligarquias, as suas elites econômicas e políticas preservaram formas arcaicas de relações de produção e de trabalho – o tráfico, a escravidão – e impuseram ao conjunto da sociedade uma dominação e controle do Estado que lhes permitiu preservar privilégios, não apenas no controle da terra e do patrimônio fundiário de modo geral, mas na ausência total de algum projeto que permitisse educar o conjunto da população, ademais de outras orientações em política econômica – como o mercantilismo, o protecionismo – que obstaculizaram um processo mais avançado de crescimento econômico e de desenvolvimento social. Não existe uma racionalidade capitalista em abstrato, apenas a extração de recursos a partir da dotação de fatores e das vantagens comparativas do país, e eles estavam na abundância de terras, mas monopolizadas em favor da oligarquia latifundiária, na oferta elástica de mão de obra escrava e depois de imigrantes de baixa escolaridade, e esse controle do Estado, que facilitou todos os comportamentos predatórios por parte dessas elites. E com isso fomos nos arrastando ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do século XX.

Os impulsos de industrialização, vindas do alto, e muito vinculadas ao próprio Estado, permitiram alguma mudança de estruturas – como analisada em obras de grandes mestres, como Caio Prado, Celso Furtado e o próprio Florestan Fernandes –, mas não foram suficientes para liquidar com velhos traços patrimonialistas, oligárquicos, mandonistas e centralizadores de nossas tradições políticas, o que redundou num país – sobretudo depois de completada a industrialização de JK aos militares – razoavelmente industrializado, mas apartado da economia mundial e sem ganhos de produtividade para nos inserir na economia global, dada a baixíssima qualificação do capital humano. As teses de Florestan Fernandes podem ser interessantes para elegantes digressões acadêmicas mas não servem muito para equacionar os problemas estruturais e os desafios sistêmicos do Brasil, a não ser na sua absoluta condenação da não-educação, a ausência completa de um projeto de qualificação da mão-de-obra depois da abolição da escravatura. Ele foi um dos pioneiros da educação brasileira, em sua segunda fase, a dos anos 1950 e 60, depois dos pioneiros dos anos 1920 e 30, como Anísio Teixeira, Fernando Azevedo e vários outros. Nisso, Florestan Fernandes estava inteiramente certo, muito embora ele tenha atuado bem mais na superestrutura da educação – isto é, o terceiro ciclo, como aliás fizeram os militares – do que na sua infraestrutura, a educação básica e técnico-profissional. 

O Brasil não é dependente de commodities, ou não há problema algum em continuar exportando, como fizemos durante séculos, produtos de base, agrícolas e minerais, se não fossemos dependentes de nossa péssima educação de base e de um fechamento do país ao mundo, o que nos deixa relativamente apartados do das faixas mais elásticas do comércio internacional e dos investimentos diretos estrangeiros. Nosso retrocesso industrial não é definitivo e podemos voltar a uma maior capacidade competitiva nessa área, se soubermos efetuar reformas radicais em diversas áreas da economia e das políticas setoriais, sobretudo em educação, tecnologia e trabalho. A razão principal de nosso relativo subdesenvolvimento é que nossas elites são medíocres, não tão atrasadas materialmente, mas mentalmente. O atual retrocesso nas relações internacionais é temporário e passageiro, pois que temos ineptos absolutos no comando da diplomacia e da política externa, mas isso também pode ser superado em algum tempo, sem prejuízo maior para o Itamaraty. As relações externas não são, contudo, o terreno preferencial das reformas, que se situam todas no plano interno.

Eu resumiria os requerimentos para um processo de crescimento sustentado, com transformações produtivas e distribuição social dos resultados desse crescimento num conjunto de cinco elementos estruturais: uma macroeconomia estável, uma microeconomia competitiva, uma boa governança, sobretudo no Judiciário, um capital humano de alta qualidade e abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros. Podemos abordar essas questões mais a fundo, como já fiz em diversos trabalhos meus. Em todo caso, as reformas nessas grandes áreas têm pouco a ver com a qualidade de nossos diplomatas e tudo a ver com a qualidade de nossas lideranças econômicas e políticas, pois estas parecem estar singularmente paralisadas por um cenário político divisivo, disputado por populismos de direita e de esquerda, o que obviamente não facilita muito a caminhada em torno de soluções de consenso, ou seja, reformas graduais naquelas áreas selecionadas para atuação a partir do Estado ou da própria sociedade. Infelizmente, nossas elites são patrimonialistas, corporativas, prebendalistas, fisiológicas, e basicamente indiferentes à sorte das camadas mais humildes da população, quando não egoístas e consciente ou inconscientemente predatórias (ou seja, não interessadas na resolução da enorme desigualdade social e regional ainda existente no país). Para que ocorram mudanças reais nas relações de poder e nas estruturas econômicas, políticas, educativas, isso vai exigir um grande esforço por parte de líderes com perfil de estadistas nas próximas fases de nosso itinerário político. 

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3869, 15 de março de 2021

 

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Estimado Embaixador Paulo Roberto de Almeida.

 

O motivo desta mensagem, além de saudá-lo, é fazer-lhe um convite.

Estou organizando um canal de debates políticos, econômicos  e sobre políticas públicas sobre Brasil e América Latina. O projeto, mais ambicioso, é organizar um centro independente de estudos e debates sobre estes temas, e já tive oportunidade de organizar entrevistas/debates com o arquiteto Jorge Francisconi, de Brasília, com o economista Victor Hernandez Roldan, da Universidade de Concepción, Chile, e estão previstos um com o cientista político Maurício Jaramillo Jassir, da Universidade del Rosário (Colômbia) sobre as recentes eleições equatorianas, nesta próxima quinta, e com o economista Carlos Leyba, ex-Subsecretário de Economia da Argentina e professor da Universidade de Buenos Aires, no próximo dia 18.

 

Gostaria de convidá-lo para uma entrevista sobre os problemas da política externa brasileira. Mais além da atuação ridícula e deplorável do chanceler "acidental", creio que estão sendo criados alguns problemas estruturais pelos quais o país pagará um alto preço: não só estamos perdendo a característica de "soft power" que, me parece, constituiu a essência da respeitabilidade que o Brasil conquistou em sua política externa independente, como perderemos o bonde dos rearranjos internacionais decorrentes da pandemia e das mudanças nas regras do jogo da economia mundial, que colocam em xeque grande parte dos pressupostos da globalização. A recente determinação do governo Biden de examinar 50 cadeias produtivas da economia norteamericana visando identificar os elos de maior dependência externa, bem como a anunciada injeção de mais de 1 trilhão de dólares para minimizar os efeitos sociais da pandemia e recuperar a economia - o que, aliás, coincide com igual iniciativa da Comunidade Europeia, que prevê inclusive transferências financeiras a fundo perdido para os países da Europa Meridional - parece indicar claramente uma retomada do protagonismo dos Estados nacionais no xadrez econômico internacional. Isto por certo trará novas exigências em política externa para o Brasil, que desindustrializou-se nas últimas décadas e ainda não conseguiu formular uma estratégia de inserção competitiva nos mercados internacionais que não seja como produtor de commodities.

 

Creio que são temas relevantes para se pensar uma saída da crise em que estamos mergulhados, e gostaria muitíssimo de contar com sua abordagem, além de, por suposto, sobre outros temas que V. Sa. julgar de interesse.

 

As entrevistas ocorrem através da plataforma StreamYard, às quintas feiras às 18h, com transmissão ao vivo pelo Facebook, ficando posteriormente disponíveis no YouTube.

 

É desnecessário frisar a importância da sua colaboração, se ela for possível.

 

Aguardando sua resposta,

Atenciosamente,

 

Renato de Oliveira (oliveira.remar@gmail.com

Professor aposentado - UFRGS - Depto de Sociologia

Sociólogo - Consultor


 

 

Conselho Federal da OAB apresenta representação contra o PR na PGR: parece que o clima desandou de vez...

 Vamos aguardar o que fará o Desprocurador Particular do Presidente, vulgo PGR.

Paulo Roberto de Almeida


O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – CFOAB, serviço público dotado de personalidade jurídica própria e forma federativa, regulamentado pela Lei nº 8.906/94, com endereço eletrônico: pc@oab.org.br e

com sede em Brasília/DF, no SAUS, Qd. 05, Lote 01, Bloco M, inscrito no CNPJ sob nº 33.205.451/0001-14, por seu Presidente e pelos/as advogados/as que a esta subscrevem (doc.anexo), vêm, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 127, caput, e 129, I da Constituição da República, c/c art. 46, parágrafo único, III, da Lei Complementar nº 75/1993, apresentar


REPRESENTAÇÃO


em face do Presidente da República, JAIR MESSIAS BOLSONARO, brasileiro, casado,

militar reformado, ex-deputado federal, ocupante do cargo de Presidente da República, portador da carteira de identidade SSP/DF nº 3.032.827, inscrito no CPF/MF, sob o nº 453.178.287-91, com endereço funcional no Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes – Brasília-DF, CEP 70.150-900, para que seja processado criminalmente pelos crimes comuns previstos nos artigos 132 (Perigo para a vida ou saúde de outrem), 268 (Infração de medida sanitária preventiva), 315 (Emprego irregular de verbas ou rendas públicas) e 319 (Prevaricação), entre outros, todos do Código Penal, mediante denúncia a ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir narrados.

(...)


Ler a íntegra do documento da OAB neste link: 


https://www.academia.edu/45613268/OAB_Federal_apresenta_representacao_contra_o_PR_na_PGR



Asia-Pacific, the Gigantic Domino of Climate Change - Vitor Gaspar and Chang Yong Rhee (IMF)

 Asia-Pacific, the Gigantic Domino of Climate Change

By Vitor Gaspar and Chang Yong Rhee (IMF)

Forget the poetic flap of a butterfly’s wings in Beijing causing rain in Central Park. Climate issues in Asia-Pacific are measured in superlatives. The world’s biggest population. Two of the three largest carbon dioxide-emitting countries and the largest share of emissions globally. The most exposed to extreme weather events. Some of the smallest and most vulnerable countries. Also, the fastest-growing part of the global economy and many of the leaders in green technology.

It’s not hard to see that what Asia does to fight global warming will be literally felt across the whole planet.

Pursuing a green recovery in the aftermath of COVID-19 might sound daunting, but it’s actually a great opportunity to direct recovery spending into stimulating sustainable jobs and growth.

Green investment is generally more labor-intensive than the regular kind. The near-term extra spending and jobs would strengthen economies. In the longer-term, Asian economies would become more sustainable and resilient, and could build on their lead in many of the emerging green technologies.

What policies are needed? A newly released IMF staff paper makes recommendations in three areas.

More carbon taxes, more compensation

With the world’s most populous and fastest-growing economies, Asia-Pacific emits the largest volume of greenhouse gas, producing about half the world’s carbon dioxide. China, India (the first and third-largest emitters respectively, with the US second) and other large emitters will need to make greater efforts to reduce emissions if global warming is to be kept to the Paris Agreement’s goal of 1.5–2 degrees Centigrade above pre-industrial levels.

Taxes on the carbon dioxide released when burning fossil fuels can be a highly effective way of reducing emissions, but they are little used in the region. Even a gradually introduced and relatively modest carbon tax of $25 per ton would achieve the region’s aggregate Paris Agreement target. But Asia’s Paris targets, like other region’s, are well below what is needed and models suggest that $50-100 per ton is required globally to keep warming below 2 degrees.

chart 1

 

Rather than taxing all emissions, much can be done by targeting the most polluting fuels. That would be very effective in countries like China, India and Mongolia, heavily reliant on coal, by far the dirtiest fossil fuel. And it comes with the added benefit of reducing air pollution, which could save some 3 million lives in China alone by 2030.

Of course, some households, workers, and firms would be particularly affected by the higher energy prices resulting from carbon taxes. They need to be identified and compensated, ideally with targeted benefits, though universal transfers can also work. For example, China could use carbon tax revenues to increase its minimum guaranteed income scheme, finance green investment or reduce other taxes.

chart 2

 

Other policies can help. For example, more sectors can be included in emissions trading systems, in which the government sets overall limits on emissions and lets the market determine their price. Financial incentives to use less-polluting alternatives, such as electric vehicles, reduce the need to raise energy prices. Stricter regulations on air quality can support decarbonization efforts.

Increase adaptability to climate change

Even in the best of scenarios, historic emissions mean a certain amount of warming and climate change will be inevitable. Extreme weather events are only expected to intensify, so adaptation is urgent. Rising sea levels alone could directly affect a billion people by mid-century, potentially submerging many cities and wiping out entire nations.

Low-income and Pacific island countries are particularly vulnerable and need to invest in protecting infrastructure, making water resources more resilient, adapting dryland agriculture, restoring mangroves, and improving early warning systems for natural disasters.

Chart 3

 

But some of the most vulnerable have the least resources to prepare. Adaptation requires stepping up public investment, on average by about 3 percent of GDP annually. For the smallest, also the least-polluting countries, the price tag is higher. A recent IMF/World Bank assessment concluded that Tonga would have to spend $67 million a year in climate adaptation for 10 years. Doesn’t sound much, until one realizes this is 14 percent of its GDP, which underscores the need for greater international support for such countries.

Greener recovery from COVID-19

The COVID-19 crisis does not change the climate crisis, but provides an opportunity to tackle it. How? By ensuring that as much as possible of the very large recovery spending is allocated towards greener activities. Some countries are already doing that, like Korea in its Green New Deal. But much more can be done as the pandemic response shifts from crisis containment to recovery.

Countries seeking to accelerate the transition to carbon neutrality can invest in renewable energy, retrofitting buildings, upgrading the electricity grid, facilitating electric cars, and incentivizing research. When the main challenge is adaptation, they could upgrade infrastructure projects, retrofit existing assets, and develop coastal protection. For many, it will be a combination of both.

Global efforts to promote and finance the transfer of green technologies to developing countries and expanding multilateral climate funds need to be stepped up. The IMF is helping by integrating climate in our annual country economic assessments and scaling up capacity development to ensure government officials have the needed skills to handle these complex issues.

Butterflies still matter… 

In a 1952 short story, American science fiction writer Ray Bradbury imagined a man from 2055 who travels to the past and, by accidentally stepping on a butterfly, changes the outcome of his day’s presidential election. It was “a small thing,” Bradbury writes, “that could upset balances and knock down a line of small dominoes and then big dominoes and then gigantic dominoes.” In our global fight against climate change, Asia-Pacific is a gigantic domino that cannot fall. As the world recovers from COVID-19, now is the time and opportunity to ensure ourselves a better 2055.

Vitor Gaspar is Director of the IMF’s Fiscal Affairs Department.

Chang Yong Rhee is the Director of the IMF’s Asia and Pacific Department.

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300 mil vidas perdidas - Editorial O Globo

 Um editorial devastador: se fosse outro o país, outro o Parlamento, outros os representantes, o degenerado estaria imediatamente escorraçado para todo o sempre. Vamos de aguardar mais cem mil mortos adicionais?

Paulo Roberto de Almeida


EDITORIAL O GLOBO

300 mil vidas perdidas

25/03/2021 • 00:01

Negacionismo, omissão, incompetência e, sobretudo, desprezo pela vida humana arrastaram 300 mil brasileiros ao túmulo. Um ano e um mês após o registro oficial da primeira infecção pelo novo coronavírus, o Brasil é hoje tudo o que não se queria naquele 26 de fevereiro de 2020. Primeiro país em mortes diárias e segundo em total de mortes, atrás apenas dos Estados Unidos. Lá, a curva vem caindo à medida que a população é vacinada. Aqui, não para de subir enquanto faltam vacinas. Na terça-feira, o Brasil superou pela primeira vez a marca macabra de 3.000 mortes por Covid-19 em um só dia — aproximadamente um morto a cada 30 segundos. A cada quatro vítimas fatais do vírus no mundo, hoje um é brasileiro.

As 300 mil vidas perdidas para a Covid-19 no país representam aproximadamente 23% da média anual de mortes antes da pandemia. Grosso modo, de cada cinco mortos no último ano, um estaria vivo não fosse o ambiente hospitaleiro que o vírus encontrou entre nós. Viramos um assumido pária mundial, epicentro da Covid-19 e ameaça sanitária ao planeta.

A história poderia ter sido outra? Certamente. O governo Jair Bolsonaro escreveu de próprio punho cada capítulo do roteiro macabro que nos impôs um luto sem data para terminar. Nada foi por acaso. Em 28 de março do ano passado, quando o país contava apenas 114 mortos pela Covid-19, o presidente foi alertado pelo então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para a gravidade da pandemia e seus efeitos devastadores. Na época, a pior projeção previa 180 mil mortos, caso não fossem tomadas as medidas necessárias. Àquela altura, era plenamente possível evitar o pior. Bolsonaro ignorou o alerta. Continuou agindo como sempre: desprezou máscaras, provocou aglomerações, atacou medidas de isolamento social decretadas por governadores e prefeitos, menosprezou a pandemia — era “só uma gripezinha” — e desdenhou as mortes que não paravam de crescer. Ressoa até hoje seu indiferente “e daí?” diante da tragédia.

No pronunciamento em rede nacional na terça-feira, abafado por panelaços nas capitais, tentou adotar um tom mais sóbrio. Mas continuou a mentir e a distorcer dados para exaltar as ações do governo. “Quero tranquilizar o povo brasileiro e afirmar que as vacinas estão garantidas”, afirmou. “Ao final do ano, teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população. Muito em breve retomaremos nossa vida normal.” No mesmo dia, o Ministério da Saúde anunciou a redução de quase dez milhões nas doses previstas para abril, de 57,1 milhões para 47,3 milhões.

Em dois meses de campanha, o país aplicou a primeira dose a pouco mais de 6% da população. De acordo com os dados disponíveis até a última semana para 103 países na plataforma Our World in Data, esse percentual nos coloca na 54ª posição no quesito “proporção da população que tomou ao menos uma dose da vacina”. Nem de longe o que prega a propaganda bolsonarista, na tentativa de eximir o presidente da responsabilidade pela condução desastrosa do combate à pandemia.

Bolsonaro trocou dois ministros da Saúde — os médicos Mandetta e Nelson Teich — pelo general Eduardo Pazuello, cujo único predicado era obedecer-lhe na fixação em adotar um remédio comprovadamente ineficaz contra a doença, a cloroquina. Não tinha como dar certo. Acaba de assumir o quarto ministro na pandemia, o cardiologista Marcelo Queiroga, apresentado ontem a sua primeira crise: o Ministério da Saúde mudou os critérios para registro das mortes e, num passe de mágica, os números despencaram. O governo só voltou atrás depois da grita dos estados.

No Planalto, ainda se procura um cargo para Pazuello, investigado pela tragédia de Manaus, onde pacientes morreram por falta de oxigênio. Os equívocos e as omissões da dupla Bolsonaro & Pazuello ficaram explícitos na atitude diante das vacinas. O governo fez tudo errado. Por omissão, viu-se refém do acordo assinado pela Fiocruz para produzir a vacina da AstraZeneca. Desprezou a oferta da Pfizer em agosto para comprá-la somente agora. Acordou tarde para outros imunizantes. A vacina que sustenta o claudicante Programa Nacional de Imunização é a chinesa CoronaVac, que Bolsonaro torpedeou por ter sido contratada por um adversário, o governador João Doria.

O resultado da gestão inepta é que faltam vacinas, enquanto o vírus e suas variantes fazem a festa. O cenário é caótico. Hospitais entram em colapso, doentes morrem nas filas de espera, faltam oxigênio e sedativos para entubar pacientes, corpos se amontoam em corredores. A pandemia pode até acabar, mas as sequelas durarão anos. Famílias perderam seus provedores, crianças ficaram órfãs, pais e mães enterraram prematuramente seus filhos. Trezentas mil mortes — muitas evitáveis — não podem ficar impunes. Quem será responsabilizado por isso? É preciso que Ministério Público, comissões parlamentares e demais órgãos de controle investiguem as responsabilidades de cada um nessa tragédia sem precedentes.

Por que não se seguiram as recomendações científicas? Por que não foram tomadas as medidas de restrição sabidamente eficazes para conter o vírus? Por que não se testou em massa a população, como fizeram os países que controlaram a epidemia? Por que o Ministério da Saúde abriu mão de coordenar o combate à doença? Por que se desperdiçaram dinheiro e energia com medicamentos inócuos? Por que não foram compradas vacinas a tempo de imunizar a população e salvar centenas de milhares de vidas?

Só ontem, depois de um ano e 300 mil mortes, Bolsonaro anunciou a criação de um comitê nacional para coordenar o combate ao vírus. Ficou claro no discurso do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que a paciência até dos aliados com os erros está no fim. Que este momento, em que Bolsonaro passou a defender a vacinação e aparenta ter caído em si, marque enfim a guinada no combate à pandemia e a adesão a políticas embasadas na Ciência, para que não tenhamos mais de chorar milhares de mortos todo dia.


Triste fim de E Policarpo A Quaresma: não sabia tupi-guarani suficiente

Painel

Folha de S. Paulo

Auxiliares dizem que Bolsonaro terá que escolher entre Arthur Lira e Ernesto Araújo

Presidente da Câmara falou em 'sinal amarelo' e que 'tudo tem limite'

24.mar.2021 às 23h15

Atualizado: 25.mar.2021 à 0h06

 EDIÇÃO IMPRESSA

A interpretação de auxiliares de Bolsonaro sobre a mensagem lida nesta quarta (24) por Arthur Lira (PP-AL) foi de que o presidente da Câmara reproduziu o que empresários lhe sinalizaram em jantar no início desta semana: se Ernesto Araújo (Itamaraty) e Ricardo Salles (Meio Ambiente) permanecerem ministros, será impossível continuar apoiando o governo.

A leitura é a de que Lira entendeu da conversa com os maiores empresários do país na segunda-feira (22) que Bolsonaro não terá apoio nenhum nem chance de se reeleger se mantiver o perfil ideológico em alguns setores, especialmente nas relações exteriores.

Auxiliares do presidente da República afirmam ter entendido que a mensagem de Lira foi “ou eu ou Ernesto Araújo”.

O presidente da Câmara falou no risco de uma "espiral de erros de avaliação", disse que não estava “fulanizando” e que se dirigia a todos os que conduzem órgãos diretamente envolvidos no combate à pandemia. “O Executivo federal, os Executivos estaduais e os milhares de Executivos municipais também”, afirmou.

Apesar de dizer não ser justo colocar toda a culpa em Bolsonaro, ele cobrou correção de rota e falou em tom de ultimato.

"Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar", disse, afirmando que o caos na saúde gerado pela crise de Covid-19 precisa ser um fator de conscientização das autoridades envolvidas no sentido de "que o momento é grave” e que “tudo tem limite”.


 https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/03/24/senadores-pedem-a-araujo-para-deixar-itamaraty-ministro-diz-ter-consciencia-tranquila.ghtml 

O ministro vai ter dificuldade de dormir hoje - mesmo com a consciência tranquila... 🙄

"Nunca vi uma apresentação tão confusa. Não soube elaborar frase com sujeito verbo e predicado. O senhor realmente cursou o Rio Branco?", indagou ao ministro Fabiano Contarato (Rede-ES), autor do pedido de realização de sessão de debates com Araújo.

"Peça para mudar. Vá para um ministério ideológico. Não fique no Ministério das Relações Exteriores. O senhor é unanimidade no Senado de rejeição e incompetência", afirmou Simone Tebet (MDB-MS).

"O senhor não tem condições de ser ministro. Renuncie", disse Randolfe Rodrigues (AP), líder da Rede.

"Pede pra sair ministro. Chega. O senhor está fazendo o Brasil perder tempo", declarou Mara Gabrilli (PSDB-SP).

"Se fosse o senhor, pediria demissão hoje", propôs Jorge Kajuru (Cidadania-GO).

"Peço um favor: renuncie a esse ministério. Em nome do país, renuncie. É esse o apelo que faço. Ministro, pelos brasileiros, renuncie", disse a Araújo o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Economista em tempos de guerra: book by Alan Bollard; reviewed by Andrew Bossie

 Published by EH.Net (March 2021)

Alan Bollard: 

Economists at War: How a Handful of Economists Helped Win and Lose the World Wars

Oxford: Oxford University Press, 2020. xxi + 321 pp. $25 (hardcover), ISBN: 978-0-19-884600-0.

Reviewed for EH.Net by Andrew Bossie, Department of Economics, New Jersey City University.

 

The economists profiled in Alan Bollard’s Economists at War were all cursed to live in interesting times. All of them were active participants in history as agents of states emerging and collapsing during the violent rending of the 1930s and 40s that birthed modern industrial governance. For those of us who find important echoes in today’s world in which global fascism is again on the rise and the only political force with any energy or will to oppose it has proudly resurrected the “Socialist” label, Bollard provides us with compelling models — both positive and negative — for how economists operated within and with governments to manage the rolling crises that built the twentieth century state.

Economics in our own era have inherited an ideological regime brought about by economists of the baby boomer generation. This intellectual regime has centered around the failures of collective action: the cynicism of public choice theory and the rational callousness of game theory. Within macroeconomics, the great intellectual project of the baby boomers — and Gen X, who came of age when nothing but the neoliberalism of the Great Moderation seemed possible — was to marry Friedman’s centrality of money with micro-founded models of technology and capital that are always in equilibrium. In the New Keynesian consensus that emerged from this project the modern state, even flattened-out as “fiscal policy,” played no role. Multipliers were assumed to be less than one, public debts were assumed to always come due, markets were assumed best deregulated and conservative central bankers were the equilibrium condition.

Since the financial crisis of 2008, caused by a refusal of states to regulate businesses, the ship of this intellectual regime had been increasingly battered against the rocks of reality. Then the COVID recession came, like a great tsunami, and sank the ideology of neoliberalism. Not only do we now have ample evidence that debilitatingly higher interest rates and inflation are not an inevitable consequence of profligate government spending and money printing, but the profession’s proletariat (Temin, 2013) has also risen up in a Credibility Revolution. Empirical economists have chipped away at many ideas that were obviously true twenty years ago. Multipliers are often more than one. The minimum wage does not obviously cause unemployment. The money printer not only can but must go brrr. We find ourselves, much like during the crises of the 30s and 40s intellectually adrift in uncharted waters. For those of us with a historical bent, a major navigation point has been the caldron that formed the modern welfare state in the first half of the twentieth century. Bollard offers and excellent and compelling map of this sea.

Bollard profiles economists operating under all of the emerging, consolidating, and collapsing political-economic systems of the era: capitalist, fascist and communist. Within these systems Bollard provides us with a number of models for how economists interacted and supported their states through depression and war, with an equally compelling epilogue devoted to the roles these men played during the Cold War. Herein lies the first strength of Bollard’s book: its inclusivity. This inclusivity takes three forms. First, as stated, Bollard takes the plurality of political and economic systems engaged in the war seriously. Secondly, Eastern economists are profiled along with Western. While the book is intended to be chronological, it feels like a deliberate decision to open the book with the murder of Takahashi Korekiyo — former Prime Minister and Finance Minster of Japan — by the Japanese military. In doing so Bollard establishes the stakes of the global political drama while also reminding the reader that it was not simply a Western drama. Bollard then segues from Takahashi’s story to that of the unscrupulous Kung Hsiang-hsi, who aided in his family’s rise to riches holding various positions as an economic manager for the Kuomintang’s military kleptocracy in China.

The third way in which Bollard’s inclusivity is evident in his definition of “economist.” I had my initial skepticism of his choices of who to label as an “economist” but as with many of my prior’s going into this book Bollard offers a convincing case for his decisions. Takahashi and Kung are economic policy makers who are joined by Hjalmar Schacht in Germany as profiles in navigating economic policy making during depression and war. These men open the book and provide profiles of the economist as a civil servant. The relationship between these economists and the states they worked for is explicit and obvious. As the book moves on Bollard moves into profiles of economists as academics, and the relationship between these men and their respective governments is more fluid but no less clear.

In this respect, the profile of J.M. Keynes is a useful bridge between the types of economists Bollard profiles, though Keynes was more successful as an academic given that his policy advice was generally ignored or overruled. As someone quite familiar with this period and suffering a bit from “Keynes fatigue,” I went into this book wishing Bollard had picked some other British economist to profile. However, Keynes — as a world historical figure — serves as a central node in the network of relationships between the economists profiled in the book, overlapping with many of them personally and professionally. Even the fact that Keynes had in-laws in Leningrad is used as a transition device. The result is a usefully targeted biography of Keynes that will surely be on the syllabus should I ever decide to teach a class on Keynes again.

Within his exploration of academic economists during the war, Wassily Leontief is a great example of the typical origin stories of the various academics profiled. Forced, like all the other European Jews profiled in the book, to make decisions about how to ride through the instability of the first half of the twentieth century that as often as not targeted them directly, Leontief found his way to the United States and settled into a quiet and productive life following a research program parallel to that of Leonid Kantorovich in the Soviet Union. Though, unlike the comfortable Leontief, Kantorovich’s quiet life was one of suffocation under Stalinism.

Bollard offers a compelling parallel between Kantorovich and American polymath John Von Neumann. Kantorovich was stymied and isolated by the worst impulses of Stalinism while Von Neuman thrived under the worst impulses of American political culture. In a book that features Nazi collaborators, Bollard remains relatively detached with no real villains, except for Stalin. The injustice and irrationality of the claustrophobic intellectual environment that Kantorovich had to survive is palpable in the book. As is the post-Stalin emergence of Kantorovich into the light.

Kantorovich’s first time leaving the USSR on a world tour that started with his accepting the Nobel Prize underscores a theme throughout the book that I felt deeply in this world where the best we can manage are awkward Zoom seminars. Throughout the book Bollard highlights various encounters, seminars and conversations among academics and policy makers. This reminds us that science is collective and participatory, and while the men profiled in this book are all standalone geniuses, the magnifying externalities of that genius are most evident in conversations over a couple glasses of wine or a lunch with a colleague in a seminar room. Kantorovich is a case study in how genius is diminished in both political and physical isolation.

The parallels between Kantorovich and Von Neumann, whose genius floats through his profile as pollen in spring, are striking. Both men made important contributions to economics, nuclear physics, and computer science. Where they diverge, though, leaves me disliking Von Neumann as much as I am sympathetic towards Kantorovich. While Kantorovich’s relationship with his country’s military industrial complex was largely one of survival, Von Neumann’s involvement with the military industrial complex in the U.S. seems to be one in which he thrived. I find it very difficult, even in historical context, to understand how a scientist could see with his own eyes the destructive capabilities of nuclear weapons and then champion their use. Imbibing all the worst impulses of game theoretic thinking, Von Neumann created and then championed the proliferation of nuclear weapons and the strategy of “Mutually Assured Destruction.” Von Neumann’s final days are depicted particularly powerfully: screaming in terror of death and in resentment at his own lost potential. Bollard is right to follow up this scene by reminding the reader that Von Neumann was likely slowly murdered by the same nuclear weapons he advocated using to murder so many other people.

Bollard’s nuanced depiction of Von Neumann is illustrative of another strength of his book: an excellent writer, he presents the economists under consideration as complex and complete figures. This is most clear in his sympathetic depiction of Schacht who was both President of the Reichsbank and Minster of Economics under the Nazi government in the 1930s. Bollard, who has had a rich career as a civil servant in New Zealand — he served at both his country’s Treasury and Reserve Bank and is currently the chair of the New Zealand Infrastructure Commission — portrays Schacht as a civil servant trying to do what he can under conditions he has very little control over. The depiction is probably too sympathetic, but it is nonetheless compelling. The depiction also serves an important purpose in that it forces readers to confront their own complicities and hubris that they would never slide down the slippery slope Schacht did. Further, the ultimately prosperous Schacht is a useful foil to Takahashi’s martyrdom at the hands of his own myopic and militaristic fascist government.

The one exception to Bollard’s general balance between admiration and criticism is H.H. Kung. While all the other economists are portrayed sympathetically and complexly, Bollard seems to outright dislike Kung. Kung is an exception among the economists in the book, the rest of whom were motivated by some kind of higher ideal. The other men were dedicated to their own conception of good governance or motivated by discovery and science. Kung, on the other hand, was simply an opportunist and solely motivated by accruing wealth for himself and his family. A creature of pure corruption, he stands out in a book profiling men devoted to higher ideals than economic accumulation. These higher ideals of governance and science are necessarily collective and cooperative ideals.

Economists at War offers us a diverse series of case studies in men who were thrust into an epic collective struggle by history and employed their energy and genius in that struggle imperfectly. This makes it an important work for economists trying to reimagine a world where there are collective solutions to collective problems. Hopefully, though, we can imagine collectively managing our own global structural shifts adequately enough so that when future historians of economic thought write about our own period we can be portrayed as economists at peace.

Reference:

Temin, Peter (2013). The Rise and Fall of Economic History at MIT. MIT Department of Economics Working Paper Series. https://dspace.mit.edu/handle/1721.1/79063

Andrew Bossie is Chair of the Economics Department at New Jersey City University. His research focuses on the short- and long-run economic effects of World War II on the U.S.

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Chanceler acidental foi atropelado por um tanque, mas faz de conta que nada aconteceu - matérias de imprensa

 Ernesto Araújo é cobrado em reunião no Alvorada: ‘Itamaraty precisa funcionar’, diz Lira

Valor Econômico | 24/3/2021, 12h04

Sob pressão política crescente, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi cobrado de forma contundente na reunião realizada nesta quinta-feira, no Palácio do Alvorada, para definir a montagem de um comitê de crise contra a pandemia. Segundo apurou o Valor, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse ao chanceler que o Itamaraty “precisa funcionar”.

Lira se referia à tímida atuação da diplomacia brasileira na busca por vacinas pelo mundo. De acordo com participantes da reunião, Araújo foi chamado pelo primeiro nome em duas ocasiões, demonstrou um certo desconforto com a reprimenda e deixou o encontro pouco tempo depois. Ainda nesta quarta-feira, ele é aguardado em audiências virtuais na Câmara e no Senado, ontem também deve ouvir questionamentos.

A cobrança pública durante a reunião só reforçou a percepção de que Araújo está na linha de tiro. Como o titular da Saúde, Marcelo Queiroga, acabou de assumir, o do Itamaraty acabou sendo o principal alvo no encontro entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o presidente do Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o procurador-geral da República, Augusto Aras, o ministro do TCU, Bruno Dantas, e sete governadores: Ratinho Junior (PR), Romeu Zema (MG), Claudio Castro (RJ), Ronaldo Caiado (GO), Renan Calheiros Filho (AL), Wilson Lima (AM) e Marcos Rocha (RO), além dos ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Fernando Azevedo (Defesa), Augusto Heleno (GSI) e José Levi (AGU).

Mais enfático da reunião, o presidente da Câmara disse que é preciso "correr uma maratona com a velocidade de uma prova de 100 metros". Lira pediu ao governo maior transparência com as informações sobre as vacinas e um levantamento diário sobre os estoques de imunizante e de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA).

Ele afirmou que a Câmara irá votar um projeto de lei para permitir que o setor privado compre cerca de 2 mil leitos de UTI e que, para isso, haja abatimento no Imposto de Renda. Também falou em alteração da lei para que as empresas possam vacinas funcionários e familiares de funcionários.

Confirmado oficialmente no cargo ontem, Queiroga falou na criação de uma secretaria específica para tratar da covid-19. Também defendeu uma aproximação maior da pasta com as comunidades científicas e a ampliação da telemedicina.

Dantas, do TCU, pediu uma definição mais clara das metas e prazos do governo, objetivos mais claros e maior transparência na forma pela qual as políticas serão implementadas.

Fux sugeriu um controle prévio dos atos do comitê de crise, e o procurador-geral Aras defendeu maior centralidade nas decisões relativas à pandemia.

Os presentes receberam uma tabela com o cronograma atualizado para a entrega de vacinas. O documento aponta mais 38 milhões de doses até o final de março; 47,3 milhões até o final de abril e outras 47 milhões até o final de maio.

https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/03/24/ernesto-arajo-cobrado-em-reunio-no-alvorada-itamaraty-precisa-funcionar-diz-lira.ghtml

Ernesto Araújo nega que vá sair do Itamaraty e afirma que relações com China vão muito bem

Yahoo Notícias | 24/3/2021, 16h02

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, negou, nesta quarta-feira, que vá deixar o cargo, ao participar de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados. Araújo assegurou que as relações do Brasil com a China jamais foram abaladas pelos atritos que teve com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming. Para o ministro, o diplomata asiático teve uma reação desproporcional, ao rebater declarações feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP)em relação a Pequim.

— Em relação a declarações de ex-ministros e comentários de jornalistas, só queria citar, acho que li em algum lugar, que "o opróbio dos ímpios enaltece o homem tanto quanto o louvor dos justos". Quando quero ser bem informado, não leio o que diz a imprensa — afirmou, em referência às notícias de que crescem as pressões para que o presidente Jair Bolsonaro troque o comando do Itamaraty.

— A grande tradição do Itamaraty é saber renovar-se. Na minha interpretação e do presidente da República, era o momento de inovar o Itamaraty, de inovar a diplomacia brasileira. Isso que tentamos fazer e estamos obtendo resultados — completou.

Araújo disse que o Brasil mantém boas relações com os Estados Unidos, a Índia, a China e outros países. Cobrado pelos deputados da oposição que participaram da audiência pública, por causa dos problemas entre o Itamaraty e Yang Wanming, o ministro disse que, hoje, o embaixador chinês tem sido "bastante colaborativo".

Em duas ocasiões, em março e novembro do ano passado, o embaixador da China exigiu retratação do governo brasileiro, devido a declarações do filho do presidente. Na primeira vez, Eduardo Bolsonaro colocou em xeque a transparência de Pequim na divulgação de dados sobre a Covid-19. Em novembro, o filho do presidente insinuou que haveria espionagem no Brasil pelo Partido Comunista da China se o governo brasileiro permitisse a participação da empresa chinesa Huawei nos serviços de 5G de telefonia móvel. Ernesto Araújo reagiu duramente às respostas do embaixador.

— O embaixador da China reagiu de forma desproporcional. Retuitou [compartilhou no Twitter] uma reportagem ofendendo o presidente da República e sua família em março do ano passado. Em novembro, o embaixador falava em tom ameaçador. Hoje, temos uma relação melhor com a China do que qualquer outro país do mundo — afirmou, acrescentando que o embaixador se achou no direito de questionar a liberdade de expressão de personalidades brasileiras.

O chanceler leu um trecho de uma carta enviada a ele pelo chanceler chinês, Wang Yi, em resposta ao pedido de ajuda do governo brasileiro para que fossem liberadas mais rapidamente as exportações de insumos para a fabricação de vacinas para o Brasil. No documento, Wang Yi disse que as autoridades de seu país fariam o possível para ajudar o país.

Durante meses, em 2020, Bolsonaro criticou a China e a vacina do laboratório chinês Sinovac, que vem sendo produzida pelo Instituto Butantan e representa hoje a ampla maioria das doses aplicadas no país.

https://br.financas.yahoo.com/noticias/ernesto-ara%C3%BAjo-nega-que-v%C3%A1-190226814.html

Após 300 mil mortes, Araújo elogia trabalho de Pazuello: “Magnífico”

Ministro das Relações Exteriores participa de sessão no Senado Federal para discutir aquisição de vacinas contra a Covid-19

Metrópoles | 24/3/2021, 17h07

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, elogiou nesta quarta-feira (24/3), em sessão remota do Senado Federal, o trabalho do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello no combate à pandemia do novo coronavírus. “Trabalho magnífico”, resumiu o chanceler.

Ernesto Araújo iniciou sua fala ressaltando o “maravilhoso clima” da reunião entre o governo federal e demais poderes realizada na manhã desta quarta. No encontro, ficou definida a criação de um comitê nacional de enfrentamento à pandemia. “Maravilhoso clima que vivemos hoje nessa reunião desta manhã”, disse.

De acordo com o chanceler, os esforços do governo federal “permitem a vacinação da totalidade da população brasileira até o fim do ano”. “Já existe o planejamento, que é resultado de uma estratégia que começou a ser montada no ano passado. Ministro Eduardo Pazuello realizou trabalho magnífico na montagem dessa estratégia”, defendeu.

O ministro defendeu que o país já obteve, com governos estrangeiros, mais de 30 milhões de doses para aplicação, das quais 14 milhões de imunizantes já foram aplicados. Do total, são 25 milhões de unidades Covaxx e cinco milhões da AstraZeneca, conforme informado por Araújo.

“Desses cinco milhões, quatro chegaram de duas levas da Índia e um milhão foi produzido pela Fiocruz a partir do ingrediente farmacêutico ativo importado da China”, explicou o ministro, afirmando que o IFA importado será usado na produção de outras duas milhões de doses.

Ele negou que o processo de produção de imunizantes no Brasil sofra de retaliações externas e falta de insumos. “Nenhuma questão política está impedindo nenhum tipo de importação, seja de vacinas, seja de insumos”, enfatizou.

Chanceler pressionado

Na abertura da reunião de debates temáticos, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), questionou a atuação da pasta chefiada por Araújo na aquisição de vacinas.

“O fornecimento das vacinas no Brasil está aquém do esperado. [A escassez de imunizantes] Nos colocou em situação de extrema vulnerabilidade”, disse.

Pacheco afirmou que a Casa estará disposta a participar de “todos os esforços no sentido de buscar soluções para o enfrentamento do difícil momento que o país apresenta”. Segundo o presidente, o país enfrenta cenário caótico e “de sofrimento”.

Pacheco também mandou um recado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Presidente da República não pode se furtar a esta obrigação nacional republicana e constitucional de conduzir os destinos da nação de grave crise social, política, econômica e sobretudo humanitária.”

Na Câmara

Na Câmara dos Deputados, o chanceler afirmou, mais cedo, que conversa com os Estados Unidos para a aquisição de excedentes da vacina contra a Covid-19 e de “kit intubação”, sem dar detalhes sobre negociações ou eventuais prazos de recebimento. 

O movimento de Araújo ocorre após alguns atores brasileiros articularem com norte-americanos para adquirir imunizantes.

O presidente Joe Biden anunciou que doaria os excedentes após imunizar a população do país. “Há boa perspectiva de que tenhamos isso [insumos de intubação e máquinas de oxigênios] proximamente. Também há perspectiva de que tenhamos vacinas dos EUA, mas isso pode demorar por causa dos excedentes”, afirmou Araújo, durante reunião na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.

Na última semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez aceno a Biden, em entrevista à CNN, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), enviou carta à vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, por excedentes de vacinas.

https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/apos-300-mil-mortes-araujo-elogia-trabalho-de-pazuello-magnifico


quarta-feira, 24 de março de 2021

O patético chanceler acidental MASSACRADO no Senado, com razão: Ernesto: CAIA FORA! - Congresso cobra demissão imediata de Araújo - Daniel Rittner, Murillo Camarotto e Renan Truffi (Valor)

 Congresso cobra demissão imediata de Araújo

Em um depoimento de quase quatro horas, Araújo alternou momentos em que desafiou parlamentares com outros nos quais parecia acuado, gaguejando e com suor escorrendo pela testa
Por Daniel Rittner, Murillo Camarotto e Renan Truffi, Valor — Brasília, 24/03/2021
Mais de dez senadores -- de diferentes partidos -- cobraram duramente o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pela condução errática da política externa e elevaram a pressão por sua saída imediata do cargo. Em um depoimento de quase quatro horas, Araújo alternou momentos em que desafiou parlamentares com outros nos quais parecia acuado, gaguejando e com suor escorrendo pela testa.
"Com toda a humildade, faço um apelo: renuncie. O senhor não tem mais condições de continuar à frente do ministério", pediu o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). "Pode ser um excelente diplomata, mas não é o seu momento. Pelos brasileiros, renuncie a esse ministério".
Durante toda a audiência, Araújo foi questionado sobre sua postura em episódios como a demora em reconhecer a vitória eleitoral de Joe Biden nas eleições americanas, a invasão do Capitólio (na qual chamou manifestantes de "cidadãos de bem"), as rusgas públicas com o embaixador da China em Brasília, o uso do termo "comunavírus" e da expressão "pária internacional" para designar a forma como o Brasil deveria ser visto no mundo.
"O senhor realmente cursou o Instituto Rio Branco?", questionou o senador Fabiano Contarato (Rede-ES). Ele reclamou que faltavam sujeito, verbo e predicado na maioria das respostas de Araújo. "O senhor faria bem ao corpo diplomático brasileiro se deixasse o seu posto".
Em vários momentos, Araújo questionou as "fontes" que subsidiavam os questionamentos dos senadores e usou um tom desafiador. Em uma ocasião, ironizou: "Deixe eu tentar encontrar alguma pergunta objetiva aqui".
"Nós não somos 80 idiotas", retrucou Tasso. A senadora Daniella Ribeiro (PP-PB) queixou-se da "falta de respeito" e apontou confusão do chanceler em suas intervenções. "Não sei se o chanceler não entende ou se faz-se de desentendido. Provavelmente seja assim nas nossas relações exteriores", disse Daniella. Jorge Kajuru (Cidadania-GO) veio em seguida: "Saia do Ministério das Relações Exteriores!".
Pela manhã, durante a reunião convocada pelo presidente Jair Bolsonaro para a criação de um comitê de crise sobre a pandemia, Araújo ouviu uma reprimenda pública do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O parlamentar cobrou uma atuação mais incisiva da diplomacia brasileira para a busca de vacinas no exterior e chegou a dizer que “o Itamaraty precisa funcionar”.
Segundo autoridades que participaram dessa reunião, o chanceler demonstrou desconforto com as declarações de Lira, mas não respondeu. Saiu antes do término e seguiu para o Congresso, onde ouviu ataques e sugestões de demissão por horas a fio, especialmente no Senado Federal.
"Vossa Excelência é unanimidade em rejeição e incompetência nesta Casa", disse, em tom forte, a senadora Simone Tebet (MDB-MS). "Faço um desafio: peça exoneração por 30 dias. Veja se, com esse gesto, não conseguimos mais rapidamente as vacinas da Pfizer e [o excedente de vacinas] dos Estados Unidos. Com esse gesto, estaríamos nos redimindo perante a China e os americanos".
Simone atribuiu ao chanceler uma "guerra ideológica desnecessária" e a "a radicalização ao extremo de irmãos brasileiros que hoje não se sentam à mesma mesa". "Não é pessoal. O senhor não foi bom para o Brasil. Peça para sair e durma com a consciência tranquila", completou Mara Gabrilli (PSDB-SP).
O ambiente da sessão no Senado, que já era de cobrança, ficou ainda mais tenso com um episódio no meio do depoimento. O assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, irritou senadores ao fazer um gesto considerado "obsceno" durante a audiência pública. O gesto com as mãos foi feito durante o discurso do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), num momento em que Filipe Martins aparecia ao fundo da transmissão, na TV Senado.
O líder da oposição na Casa, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chamou atenção para o fato e pediu providências. "Eu estou acompanhando aqui a sessão quando, também pelas redes sociais, tenho conhecimento de que, durante a fala de Vossa Excelência, o senhor que estava localizado logo atrás, o Filipe Martins, que é analista político e assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Jair Bolsonaro, estava demonstrando gestos obscenos. No meu sentir, [foram] gestos obscenos", afirmou Randolfe.
O senador do Amapá sugeriu que Filipe Martins explicasse o movimento com as mãos. "Eu não sei qual o sentido do gesto do senhor Filipe. Era bom que ele explicasse, mas isso é inaceitável, presidente".
Araújo tentou se defender. "Nós não somos perfeitos, mas estamos convencidos de que estamos defendendo os interesses nacionais, estabelecidos pela Constituição. Eu tenho a certeza de que tenho feito tudo, absolutamente tudo, para ajudar o meu país. Tenho um amor profundo pelo povo brasileiro e não admito que ninguém questione", disse o ministro, emocionando-se e segurando lágrimas.
"Saia do Ministério das Relações Exteriores!", afirmou o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO).
Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores, falou em uma condução "desastrosa" da política externa e lamentou o "tratamento descortês" dado ao diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, durante a pandemia.
Enquanto os senadores repudiavam a postura de Araújo, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da oposição no Senado, pediu a palavra e repreendeu o assessor internacional da Presidência da República, Filipe Martins, que acompanha Araújo na audiência pública e estava sentado ao fundo da sala.
Em um vídeo que circulava entre os senadores, Martins foi flagrado fazendo gestos considerados obscenos enquanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), conduzia a sessão. Randolfe pediu retratação imediata do assessor presidencial ou sua condução imediata pela polícia legislativa para fora da Casa. "É um circo de horror que eu nunca vi", completou Rose de Freitas (MDB-ES).
Gaguejante e aparentemente nervoso, o chanceler repetiu sua tradicional cartilha, repudiando avaliações de que o Brasil foi subserviente aos Estados Unidos durante a gestão de Donald Trump e buscando ilustrar os esforços do governo em busca da viabilização da oferta de mais vacinas.
Em vários momentos, no entanto, ele questionou as "fontes" que subsidiavam os questionamentos e usou um tom desafiador. Em uma ocasião, ironizou: "Deixe eu tentar encontrar alguma pergunta objetiva aqui".
Araújo também se emocionou num trecho do depoimento. "Nós não somos perfeitos, mas estamos convencidos de que estamos defendendo os interesses nacionais, estabelecidos pela Constituição. Eu tenho a certeza de que tenho feito tudo, absolutamente tudo, para ajudar o meu país".
"Tenho um amor profundo pelo povo brasileiro e não admito que ninguém questione", ainda disse o ministro, segurando lágrimas.
Gestos obscenos
O gesto com as mãos foi feito pelo assessor Filipe Martins durante o discurso de Rodrigo Pacheco, num momento em que Filipe Martins aparecia ao fundo da transmissão, na TV Senado.
Logo após o ocorrido, Randolfe chamou atenção para o fato e pediu providências. "Eu estou acompanhando aqui a sessão quando, também pelas redes sociais, tenho conhecimento de que, durante a fala de vossa excelência, o senhor que estava localizado logo atrás, o Filipe Martins, que é analista político e assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Jair Bolsonaro, estava demonstrando gestos obscenos. No meu sentir, [foram] gestos obscenos", afirmou Randolfe.
O senador do Amapá sugeriu que Filipe Martins explicasse o movimento com as mãos. "Eu não sei qual o sentido do gesto do senhor Filipe. Era bom que ele explicasse, mas isso é inaceitável, presidente. Em uma sessão do Senado Federal, durante a fala do presidente do Senado, um senhor está procedendo com gestos obscenos, está ironizando o pronunciamento do presidente da nossa Casa. Isso é inaceitável, é intolerável", complementou.
Em resposta, Pacheco afirmou que iria pedir à Secretaria-Geral da Mesa e à Polícia Legislativa que identificassem o fato apontado, mas optou por dar seguimento aos trabalhos. "Não prejudicarei o andamento desta sessão do Senado Federal, porque é muito importante nós ouvirmos o ministro de Estado das Relações Exteriores, que aqui comparece para poder fazer os esclarecimentos necessários aos senadores", afirmou.
Filipe Martins é um dos principais integrantes da chamada ala "ideológica" do governo e foi promovido a assessor-chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (Sae) da Presidência da República no ano passado. Ele é bem próximo dos filhos de Bolsonaro e um dos principais auxiliares do presidente, tendo acompanhado Bolsonaro em diversas de suas missões ao exterior.
O gesto feito pelo assessor durante a sessão lembra a representação de "OK". Segundo a BBC Brasil, esse sinal de mão ganhou nova conotação para grupos extremistas e, por isso, foi adicionado recentemente a uma lista de símbolos de ódio. O gesto com forma arredondada entre o indicador e o polegar, que também é um emoji popular, foi classificado como "uma verdadeira expressão da supremacia branca" pela Liga Antidifamação, organização dos Estados Unidos que monitora crimes de ódio. Os três dedos esticados simbolizam a letra "w" (em referência à white, do inglês para branco), enquanto o círculo formado significaria a letra "p" (power, do inglês para a palavra poder).