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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Nem o Banco Central, nem o governo definem a taxa de juros, mas sim o credor - Ricardo Bergamini

 Nem o Banco Central, nem o governo definem a taxa de juros, mas sim o credor

Ricardo Bergamini

 

Preados Senhores

 

Abaixo provas cabais e irrefutáveis da afirmação do preâmbulo, senão vejamos:

 

1 - Em 2020, o governo promoveu o “OSCAR DE EFEITOS ESPECIAIS” e manteve a TAXA SELIC em 2,00% ao ano, mas os credores, de forma soberana, rolaram a dívida do governo ao custo de 8,37% ao ano. Tendo sido o IPCA de 4,52% ao ano, o ganho real dos investidores foi de 3,85% ao ano.  

 

- Em 2020, 57,74% do mercado de crédito - R$ 2.319,9 bilhões (31,31% do PIB) - com recursos livres com juro médio de 25,5% ao ano. 

 

2 - Em 2022, o governo manteve a TAXA SELIC em 13,75% ao ano, mas os credores, de forma soberana, rolaram a dívida do governo ao custo de 10,21% ao ano. Tendo sido o IPCA de 5,79% ao ano o ganho real dos investidores foi de 4,42% ao ano.  

 

- Em 2022, 59,61% do mercado de crédito - R$ 3.175,0 bilhões (32,3% do PIB) - com recursos livres com juro médio de 42,0 % ao ano. 

 

Cabe destacar que de 2011/2018 governos (DILMA/TEMER) a taxa média de ganho real dos investidores foi de 5,93% ao ano.

 

O que não se debate no Brasil é a diferença entre os juros pagos pelo governo na rolagem da sua dívida e o pago pelo mercado de crédito livre. 

 

- Em 2020, o governo pagou 8,37% ao ano e o mercado 25,5% ao ano.

 

- Em 2022, o governo pagou 10,21% ao ano e o mercado 42,0% ao ano.

 

 

 

Fonte - ME

 

Diferença entre juros SELIC e juros de longo prazo – ME

 

Base: dezembro de 2022

Ano

1

2

3

4

5

6

7

2011

2.600,7

4.376,4

59,44

11,00

12,83

6,50

6,33

2012

2.887,4

4.814,8

59,97

7,25

11,55

5,84

5,71

2013

3.059,6

5.331,6

57,39

10,00

11,32

5,91

5,41

2014

3.392,8

5.778,9

58,71

11,75

11,84

6,41

5,43

2015

4.055,7

5.995,8

67,64

14,25

16,07

10,67

5,40

2016

4.635,7

6.269,3

73,94

13,75

12,02

6,29

5,73

2017

5.218,8

6.583,3

79,27

7,00

10,29

2,95

7,34

2018

5.671,4

7.004,1

80,97

6,50

9,86

3,75

6,11

2019

6.137,6

7.256,9

84,58

4,50

8,71

4,31

4,40

2020

6.998,6

7.445,7

94,00

2,00

8,37

4,52

3,85

2021

7.643,0

8.599,8

88,87

9,25

8,91

10,06

-1,15

20/22

8.106,8

9.784,8

82,85

13,75

10,21

5,79

4,42

Legenda: 1 – Estoque da dívida da União - R$ Bilhões; 2 – Valor do PIB em R$ bilhões; 

3 – Dívida % do PIB; 4 - Taxa SELIC % ao ano; 5 - Custo de rolagem da dívida % ao ano;

6 - IPCA% ao ano; 7 - Ganho real do investidor % ao ano. 

 

Com base nas informações acima colocadas podemos afirmar que o debate de juros no Brasil é um manicômio amplo, geral e irrestrito.

 

Que Deus tenha piedade da abissal escuridão e ignorância reinante no Brasil (Ricardo Bergamini)

domingo, 19 de fevereiro de 2023

O Brasil e a Ucrânia: do 'amor' de Bolsonaro a Putin ao anti-imperialismo de Lula - MaderMedia Lusa (Sapo 24)

O Brasil e a Ucrânia. Do 'amor' de Bolsonaro a Putin ao anti-imperialismo de Lula

SAPO 24, 19 fev 2023 09:59

A diplomacia brasileira tem mostrado uma atitude passiva em relação à invasão da Ucrânia, com o ex-presidente Jair Bolsonaro mostrando afinidade quanto a Vladimir Putin e com o atual chefe de Estado, Lula da Silva, ideologicamente anti-imperialista.

“O Brasil começou com uma diplomacia de Bolsonaro de maior aproximação com os Estados Unidos e ao longo do Governo com a derrota de [Donald] Trump” e a vitória nas presidenciais de Joe Biden, o Brasil “afastou-se dos EUA e aproximou-se de Putin”, explicou à Lusa o mestre em Ação Política e presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Económica, Márcio Coimbra.

Bolsonaro (que governou o Brasil de 01 de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2022) estava muito mais ligado à ideia de ter um apoio de um autocrata, insistiu o especialista.

“Ele mudou de autocrata”, disse, frisando: “Não importa onde esteja o autocrata desde que seja autocrata”.

Também à Lusa, Guilherme Casarões, Pesquisador Sénior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), detalhou que o ex-presidente brasileiro olhava para a Rússia como a única potência disposta a apoiar a sua política externa, “além de enxergar em Putin um líder forte, conservador e nacionalista religioso, virtudes defendidas” por Jair Bolsonaro.

Desde o início da guerra, que na sexta-feira fará um ano desde o ataque russo à Ucrânia, Bolsonaro evitou condenar os ataques russos em território ucraniano e manteve uma posição “neutra” e “equilibrada” em relação ao conflito.

Dias antes do ataque russo, Jair Bolsonaro reuniu-se com Vladimir Putin na Rússia. Durante o seu mandato, o Brasil, apesar de condenar a invasão russa da Ucrânia na ONU, nunca apoiou as sanções impostas à Rússia, encetando esforços para que a venda de fertilizantes russos, necessários para a agricultura brasileiro, não fosse incluída nas sanções.

Ainda durante a campanha eleitoral para as presidenciais brasileiras, no ano passado, Lula da Silva foi criticado quando disse que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, era “tão responsável” pelo conflito como Vladimir Putin.

O próprio Lula da Silva chegou a constar numa lista com personalidades acusadas de promoverem propaganda russa, formulada pelo Centro de Combate à Desinformação ucraniano.

“As diplomacias de Lula e Bolsonaro adotam posições semelhantes diante do conflito na Ucrânia, mas por razões distintas”, analisou Guilherme Casarões, acrescentando que a “despeito de boas relações históricas com Rússia e Putin, [Lula da Silva] parece movido por uma visão anti-imperialista da política internacional, que atribui à OTAN [NATO] responsabilidade primordial pelo conflito”.

No início do mês de fevereiro, o chanceler alemão, Olaf Scholz, veio a Brasília encontrar-se com Lula da Silva, tendo como um dos cadernos de encargos pedir ao Brasil que fornecesse munições de tanques para que Berlim as enviasse à Ucrânia. Esse pedido foi categoricamente recusado.

“O Brasil é um país de paz”, frisou Lula da Silva durante a conferência de imprensa ao lado de Olaf Scholz. Na mesma ocasião, o Presidente brasileiro chegou mesmo a afirmar que “quando um não quer, dois não brigam”, referindo-se aos líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

“O Brasil sempre se opôs ao envolvimento em conflitos de terceiros países. À exceção das duas Guerras Mundiais, nunca enviámos tropas ou equipamentos para campos de batalha, exceto quando expressamente solicitado pelas Nações Unidas, como no caso de Operações de Paz”, explicou o pesquisador do CEBRI.

O atual momento interno que o Brasil atravessa, na sequência dos ataques de radicais bolsonaristas às sedes dos três poderes em Brasília e com denúncias de que alguns membros das Forças Armadas seriam coniventes com essa ação, também reforçou esta tomada de decisão de Lula da Silva.

“O momento da relação entre o Governo e as Forças Armadas é bastante delicado. O Exército, em particular, parece ter sido conivente com os ataques antidemocráticos de 08 de janeiro em Brasília”, disse, recordando a troca de comando das Forças Armadas há menos de um mês.

Ainda assim, com a chegada de Lula da Silva ao poder e com o seu anseio de recolocar o Brasil no mapa das relações internacionais e de potência global, junto dos seus parceiros ocidentais, Márcio Coimbra considerou que as declarações e a postura de Lula da Silva “já vêm num sentindo de que Putin cometeu um erro e uma violação ao invadir um território soberano de uma outra nação”.

“Apesar de ter um discurso antirrealista, contra os EUA, vejo Lula como um pragmático”, afirmou o presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Económica, detalhando que “os países da comunidade internacional exigem que para o Brasil se colocar no mundo tenha a mesma agenda das principais democracias”.

Nas últimas semanas, especialmente com a vinda do chanceler alemão e da ministra dos Negócios Estrangeiros francesa a Brasília e com a visita de Lula da Silva a Washington para se encontrar com Joe Biden, os apelos destes países para uma tomada de posição mais alinhada ao ocidente intensificaram-se.

A chefe da diplomacia francesa recordou que 24 de fevereiro marca o “triste aniversário de um ano desta guerra”, dizendo ter a certeza que o Brasil “vai relembrar os factos no final deste mês” e ainda esta semana a subsecretária de Estado norte-americana para Assuntos Políticos, Victoria Nuland pediu “ao Brasil que se colocasse no lugar da Ucrânia”.

“Lula naturalmente colocar-se-ia a favor da Rússia, porém o que nós vimos foi que, pragmaticamente, por pressão especialmente de França, Alemanha e EUA, Lula tem adotado uma postura mais pró-ocidente em relação à Ucrânia”, frisou Márcio Coimbra.

“Não uma relação em que o Brasil seja capaz de enviar armamento, como a Alemanha tentou”, mas que já é “uma mudança profunda do Brasil, do Governo de Bolsonaro para o Governo Lula”, disse.


Batalhão Azov: neonazistas em socorro da Ucrânia contra a invasão russa? - Susann Witt-Stahl (Junge Welt; Strumenti Politici)

Uma "milícia" altamente suspeita de nazismo do lado das forças ucranianas contra a invasão russa. 

Il Corsivo

Kiev affida nuove missioni e più potere al battaglione neonazista Azov: l’analisi di un quotidiano tedesco 

19 Febbraio 2023

Il quotidiano tedesco Junge Welt racconta gli ultimi inquietanti sviluppi delle forze ucraine. Sempre più poteri attribuiti al famigerato reggimento Azov di ispirazione neonazista. E sempre più sfacciati nel presentare i propri obiettivi nazionalistici, estremamente distanti da quei valori europei che dovrebbero teoricamente accomunare Kiev a Bruxelles. Non solo: per reclutare uomini, offrono condizioni migliori rispetto all’esercito regolare e utilizzano nelle loro pubblicità standard all’avanguardia dei film di Hollywood. Proponiamo una versione tradotta dell’articolo della giornalista tedesca Susann Witt-Stahl.

I militari ucraini stanno attivamente lavorando per raccogliere forze fresche, al fine formare nuove brigate di assalto. A completamento di una sezione della Polizia nazionale e della Guardia di frontiera dovranno esserci sei brigate della Guardia Nazionale dell’Ucraina, che fino all’inizio della cosiddetta operazione speciale russa contava su circa 60mila uomini e che risponde al Ministero degli Interni. Questi reparti d’attacco dovranno essere composti esclusivamente di volontari, la maggioranza dei quali è già “passata attraverso l’inferno” ed è “mossa dal patriottismo”. Lo ha dichiarato il 2 febbraio il ministro degli Interni Ihor Klymenko.

Ce ne sono tanti così nel Paese, ha affermato. È stato reso noto che in questo momento sono state ricevute 27mila richieste di adesione. Della nuova formazione d’assalto fa parte anche la famosa divisione di prim’ordine neonazista della Guardia Nazionale, che ha acquisito lo status di culto di “eroici difensori dell’Azovstal” sia in Ucraina che in tutto l’Occidente. Recentemente una delegazione dell’Azov ha celebrato a Parigi la visione in anteprima del film di propaganda Slava Ukraini del provocatorio saggista Bernard-Henri Lévy insieme ad esponenti di rilievo della politica francese, del business e della cultura, compreso l’ex presidente François Hollande.

Un’unità speciale neonazista comandata dal fondatore dell’Azov Andriy Biletsky, che era stata creata nel febbraio 2022 e subito inclusa nell’esercito regolare, è stata elevata al livello di brigata tre settimane fa.

Le promesse per chi si arruola in Azov

Comunque di recente lo stesso Azov è diventato un’organizzazione militarizzata di grosse dimensione nella cornice della Guardia Nazionale, come era stata inizialmente concepita nel 2014, e può agire in maniera autonoma. “È arrivato il momento di passare all’attacco”, questo il richiamo ai sostenitori per invitarli ad arruolarsi come volontari. “Fate la storia insieme a noi. Entrate nell’Azov!”.

Le gratificazioni proposte sono dei privilegi che i soldati dell’esercito regolare, spesso mandati al macello nel Donbass senza alcuna preparazione decente e senza equipaggiamento adeguato, possono soltanto sognarsi: un’intensa preparazione da artiglieri, carristi e operatori di droni nel corso di vari mesi condotta da ufficiali con esperienza sul campo, un’ottima paga, cure in ospedali statali, e infine l’ottenimento di un diploma universitario o una carriera presso il Ministero degli Interni.

Vi è poi lo slogan “Garantiamo lo svolgimento in prima linea di missioni di combattimento insieme a compagni di ideali”. Questa frase probabilmente è stata pensata per attrarre anzitutto i destrorsi militaristi assetati di sangue. Per costoro può essere allettante la destinazione delle missioni di combattimento, che Biletsky ha definito “la zona più difficile”, cioè Bahmut. La battaglia decisiva di questo conflitto deve ancora arrivare. C’è bisogno di un nuovo standard. Ecco perché i comandi militari ci affidano una nuova responsabilità. Così si vantava Biletsky il 26 gennaio, spiegando la forza crescente delle sue truppe e promettendo un “inverno caldo” per la Russia: Stiamo preparando ad essa delle sorprese. Azov sta svolgendo una campagna ben congegnata per le sue nuove reclute.

I video pubblicitari e la complicità dei social

I video pubblicitari sono realizzati secondo i più alti standard creativi e industriali dei film di guerra hollywoodiani. Grazie al montaggio dinamico fatto di inquadrature drammatiche, sottolineate da suoni arcaici come quelli delle trombe di guerra o quelli magniloquenti in stile wagneriano, così come i battiti del polso per aumentare l’adrenalina, ci si rivolge ai più bassi istinti di violenza. “Senza lotta non c’è gloria!”, declama uno degli slogana. Martedì scorso Azov ha già presentato le registrazioni dei primi di giorni di dispiegamento della sua brigata a Bahmut.

A gennaio la società americana Meta Platforms aveva escluso Azov dal suo elenco di organizzazioni pericolose. Centinaia di account del battaglione neonazista sono stati sbloccati. D’ora in avanti Azov come movimento, nel quale oltre alle unità militari vi sono milizie che terrorizzano gli oppositori e le minoranze nel Paese, e anche vi sono anche un partito, un’etichetta musicale e un marchio di vestiti, può agire in tutto il mondo senza alcuna limitazione.

Grazie alla sua macchina propagandistica che cresce continuamente, Azov diffonde non soltanto l’ideologia nazista guerrafondaia e superomistica e il mito degli eroi, ma anche una disinformazione sistematica: in primo luogo le menzogne sul fatto che Azov abbia rotto i legami col neonazismo, dette in grande quantità dai politici e dai mass media in Europa e in America.

Lo stesso leader del battaglione Biletsky ha smentito la bugia il 3 febbraio in occasione del 94esimo anniversario della Organizzazione dei Nazionalisti Ucraini (OUN). Ha reso gli onori a Stepan BanderaRoman Shukhevych e agli altri fiancheggiatori della Germania nazista, che furono in parte responsabili dell’Olocausto, e ha esortato i suoi seguaci ad agire con determinazione: L’OUN ha svolto la sua missione storica. Adesso è arrivato il nostro momento.


O que é o “novo pré-sal” e por que a Petrobras aposta tanto nele - Célio Yano (Gazeta do Povo)

O  que é o “novo pré-sal” e por que a Petrobras aposta tanto nele

Por Célio Yano

Gazeta do Povo, 19/02/2023 14:10

A Petrobras pretende iniciar em breve a exploração de petróleo em uma fronteira, a chamada Margem Equatorial. Apelidada de “novo pré-sal”, a região abrange uma extensa faixa da costa do Amapá até o Rio Grande do Norte, e deve receber 49% dos investimentos em exploração da companhia até 2027.

Embora a exploração não deva se dar necessariamente sob uma camada de sal, a região recebeu o apelido em razão do potencial de fornecimento de petróleo e gás natural, corroborado por reservas encontradas em territórios vizinhos, de mesmo contexto geológico, nos últimos anos.

Somente a ExxonMobil já soma, desde 2015, mais de 25 descobertas de hidrocarbonetos no mar territorial da Guiana, cinco apenas em 2022. Na área offshore do Suriname, a TotalEnergies e a Apache anunciaram a descoberta de seis reservas significativas no chamado bloco 58 desde janeiro de 2020.

Além disso, descobertas nas bacias da chamada Margem Conjugada Africana, que guarda similaridade geológica com a Margem Equatorial brasileira, aumentam as expectativas para a exploração e produção de óleo e gás na região, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

“A Margem Equatorial é considerada uma área estratégica para a Petrobras e uma fronteira exploratória promissora em águas ultraprofundas. As descobertas recentes feitas por outras empresas em regiões vizinhas a essa fronteira (offshore das Guianas e do Suriname) corroboram esse potencial”, diz a Petrobras, em nota.

Em seu primeira declaração após ser empossado, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates defendeu a ampliação das fronteiras exploratórias de óleo e gás pela companhia, incluindo “toda a costa da margem equatorial, essa nova e promissora fronteira exploratória e onde também há um forte potencial para energias renováveis”.

Para dar início aos trabalhos, a companhia aguarda a emissão de uma licença ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Como parte desse plano, a Petrobras já recebeu autorização ambiental do governo do Pará para um "simulado de vazamento" na bacia da foz do Amazonas.

Assim que obtida a licença do Ibama, a primeira perfuração será a 160 quilômetros da costa, em águas ultra profundas (2,8 mil metros de profundidade), em região pertencente ao estado do Amapá, na bacia da Foz do Amazonas.

Os blocos da bacia foram os mais disputados na 11.ª rodada de licitações de petróleo e gás da ANP, realizada em maio de 2013, e acabaram arrematados por um consórcio formado por TotalEnergies (40%), Petrobras (30%) e BP (30%).

A dificuldade na obtenção do licenciamento ambiental e a opção por investir em energias limpas fez com que as multinacionais desistissem da operação em 2020 e 2021, respectivamente. Ambientalistas criticam a exploração na região por considerarem que a atividade coloca em risco a biodiversidade local.

Em maio de 2022, a Petrobras recebeu uma autorização do Ibama para a avaliação pré-operacional como condição para a licença para exploração. “Estamos preparados para nossa jornada na Margem Equatorial empregando todo o conhecimento operacional da Petrobras e as tecnologias necessárias para a preservação e manutenção das características físicas e biológicas do ambiente. Em paralelo, desenvolveremos projetos socioeconômicos positivos para a região, com foco no cuidado ambiental”, informou a empresa à Gazeta do Povo.

Segundo a companhia, as atividades de perfuração serão monitoradas e acompanhadas 24 horas por dia por meio de equipamentos e equipes técnicas especializadas. “Como forma de garantir a segurança das atividades, serão realizadas inspeções planejadas de sistemas e equipamentos, programas de manutenção preventiva e corretiva, treinamentos, simulados de emergência, vistorias e auditorias”, afirma.

A Petrobras trata os projetos da Margem Equatorial como “a nova geração de projetos de óleo e gás”, porque buscariam sinergia com novas fontes renováveis e de baixo carbono nas áreas em que a empresa atua.

Até 2027, a estatal planeja investir ao menos US$ 2,94 bilhões em atividades de exploração da Margem Equatorial, com previsão de perfuração de 16 poços, de acordo com o plano estratégico da empresa para o próximo quadriênio. Segundo a companhia, a abertura de novas frentes exploratórias dependerá da obtenção das licenças ambientais correspondentes.

Hoje, a maior parte da produção da Petrobras advém da camada do pré-sal. No 3º trimestre de 2022, foram produzidos em média 2,64 milhões de barris de óleo equivalente por dia, dos quais 1,94 milhão – ou 73% – vieram da fronteira exploratória.

https://www.gazetadopovo.com.br/economia/o-que-e-novo-pre-sal-e-por-que-petrobras-aposta-tanto-nele/

Um número especial da Economist a um ano da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

Um número especial da Economist a um ano da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

Hello from London,

Do you remember where were you on February 24th last year? When, early on a gloomy, grey morning, Vladimir Putin’s tanks rolled into Ukraine, it was evident that history was being rewritten. What you are doing, however mundane, on first hearing news of such epochal events often sticks in the mind.

In London, it was a Thursday and like many of my colleagues I was busy putting the final touches to that week’s print edition of The Economist. Articles in almost every section needed revising and updating to take account of the new world disorder. The cover leader that appeared that week stands the test of time. But the question we put on the cover betrays how much the war that followed has defied expectations. “Where will he stop?” we asked of Mr Putin, hinting at the sense in many quarters that the invasion would be swift, successful and brutal. 

In fact, as some maps we published on Friday show, Russia’s advance into Ukraine soon stalled, and has since been partially reversed. The dogged, pragmatic heroism of Ukraine’s soldiers and citizens and of their president, Volodymyr Zelensky, has turned what Mr Putin must have hoped would be a repeat of the rapid annexation of Crimea in 2014 into a long war of attrition with no swift end in sight. In the process Ukraine itself has been transformed into a more unified, more Westward-leaning, more resilient democracy.

So the questions for now are no longer “Where will he stop?” but rather “When and how can he be beaten?” This week we will be publishing a series of in-depth articles on “a year of war” that explain how expectations have been so transformed, but also how what is at stake in the war has only grown in importance. As the first in the series argues, Ukraine’s fate will become a measure of the West’s self-belief and stature, and its ability to retain unity in the face of Mr Putin’s threats, blandishments and endless divide-and-rule chicanery. And to a certain extent, it will test the West’s industrial capacity, too, as it struggles to produce enough weaponry and ammunition to allow Ukraine to defend itself.

The global economy is still grappling with the effects of the war, with the West still trying to tamp down inflation as interest rates continue to climb. The rising costs of finance, energy and food have pushed some countries to the edge of bankruptcy. This will be in the news this week as finance ministers from members of the G20 gather in India, with the plight of heavily indebted countries high on the agenda. On this issue, as on so much else, America and China find themselves pulling in opposite directions. China is refusing to play by the old rules of international financial diplomacy. Sri Lanka, in urgent need of a bail-out, and deeply in hock to China, may test the willingness of the West and the IMF to go it alone—ie, to provide the money and restructure the debt without China’s taking part in the process.


sábado, 18 de fevereiro de 2023

Russian crimes in Ukraine; International tribunal for Russian War Crimes, and Crimes Against Humanity - Centre for Defence Strategies

Mais un Daily Brief do CDS, 17/02/2023

Russian crimes in Ukraine

President Zelensky’s office publicly declared that the idea of creating a so-called "hybrid tribunal" as a tool for investigating the crime of aggression by the Russian Federation is not acceptable. Ukraine seeks to punish the leadership of the Russian Federation for the decision to commit armed aggression against Ukraine, the Head of the President's Office, Andriy Yermak, stressed. The hybrid tribunal does not guarantee that it will lead to the removal of immunity from Putin, Lavrov and Mishustin.

International diplomatic aspect

While answering the question about the US weapons supplies in connection to the liberation of Crimea, Victoria Nuland said, "Ukraine is fighting for the return of all of its land within its international borders. We are supporting them, including in preparing the next hard push to regain their territory." Though she didn't mention Crimea directly, her message is important in the foreground of recent articles that argue that the Biden Administration shifted its policy and didn't believe Ukraine should try to recapture the peninsula this time. "I can imagine that you would not be satisfied to have pieces of your country bitten off by another country and expect the international community not to stand with you," the Under Secretary of State for Political Affairs concluded.

She has rejected the notion of "help fatigue" after this first year of the war. On the contrary, she said that "far from being fatigued, we see countries around the world understanding, particularly after Putin's escalation against civilians and against heating and water supplies over the winter, that this has to be stopped, and it's only going to be stopped if the Ukrainians are enabled to fight the fight." Though a dozen Republican Representatives Introduced the "Ukraine Fatigue" Resolution to Halt US Aid to Ukraine, Mitch McConnell's message is bold "Defeating Russians in Ukraine is the most important event going on in the world right now... we're also monitoring very carefully the money being spent... We should stay together on a bipartisan basis in our country and defend these people who are bravely fighting for freedom and democracy in Ukraine."

"The provision of such aircraft [F-16 or an analog] is necessary to help Ukraine protect its airspace, particularly in light of renewed Russian offensives and considering the expected increase in large-scale combat operations," a bipartisan group of Representatives argued to the POTUS. "F-16s or similar fourth generation fighter aircraft would provide Ukraine with a highly mobile platform from which to target Russian air-to-air missiles and drones, to protect Ukrainian ground forces as they engage Russian troops, as well as to engage Russian fighters for contested air superiority," the lawmakers wrote.

"There is no alternative to Ukrainian victory," Volodymyr Zelensky told the Munich Security Conference. "We need to hurry up. We need speed — speed of our agreements, speed of our delivery... speed of decisions to limit Russian potential. There is no alternative to speed because it is the speed that life depends on," the President stressed.

"I don't believe a second in regime change," said the French President at the Munich Security Conference. "We have to find a way to force Russia to come back to the table under the conditions of Ukraine." Emmanuel Macron may not wish for a regime change as a goal of his strategy, but "it's a bonus, though," as Ambassador Daniel Fried put it at the Lennart Meri Conference last May. The world would be much better with Vladimir Putin behind bars after a tribunal.

"So that history does not repeat itself, we need to prosecute the crime of aggression," the Estonian Prime minister urged. A small Baltic nation knows too well that impunity encourages a criminal regime to revisit crimes. Estonia was illegally annexed in 1940 and underwent the full spectrum of the Kremlin care – murders, suppression, deportations, and Russification.

Humanitarian aspect:

As of yesterday, there are 16,207 officially verified Ukrainian children on the territory of the Russian Federation, Ombudsman Dmytro Lubinets said. Those are the children whose names, origins and whereabouts are known. In reality, the number of children is much higher. "We assume that this number is approximately 150,000 children. Russia says that there are 733,000 Ukrainian children they keep on their territory. However, in our opinion, this figure is exaggerated," said Lubinets.

Ukrainians submitted over 325,000 reports about the destruction or damage to housing caused by Russian aggression through the government-issued Diya application. According to Prime Minister Denys Shmyhal, the restoration of people's housing is a priority of rapid reconstruction. This is exactly what the funds from confiscated Russian assets should be used for.

Russia, relevant news

In Russia, Lieutenant General Andriy Mordvichev was appointed as the new commander of the Central Military District with headquarters in Yekaterinburg. According to the Security Service of Ukraine, it was General Mordvichev who gave the order to capture Mariupol and storm Azovstal. He has been charged in absentia under three articles of the Criminal Code of Ukraine. ________________________________________________________

Centre for Defence Strategies (CDS) is a Ukrainian security think tank. We operate since 2020 We publish this brief daily. If you would like to subscribe, please send us an email at cds.dailybrief@gmail.com

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A mesma coisa, tudo de novo (a diplomacia de Lula 3) - Paulo Roberto de Almeida (revista Crusoé)

 O mais recente artigo publicado (não precisavam colocar uma foto ridícula):


1493. “A mesma coisa, tudo de novo” 
(título original: Diplomacia de Lula 3: la nave va..., mas para onde?”), 
Revista Crusoé, 17/02/2023; link:
Relação de Originais n. 4320.

Trechos do artigo:
    (...)

Nem tudo foi perdido, ao que parece: em 2009, a China já tinha suplantado os Estados Unidos ao assumir o primeiro lugar no comércio exterior do Brasil, e atualmente, ela sozinha faz o dobro dos intercâmbios mantidos com os dois parceiros seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia, justamente, sendo que a Ásia Pacífico, em nossos dias, ocupa lugar preeminente no comércio internacional do Brasil. Mas também é um fato que foi o agronegócio sozinho que alcançou esses resultados, pois que não existem acordos de livre comércio, do Brasil ou do Mercosul, com aqueles países, e é também verdade que todas as vendas estão baseadas essencialmente em commodities, cujos preços e volumes exportados não dependem em nada do governo, qualquer governo, pois que todos os movimentos dependem totalmente da dinâmica dos mercados, das ambições ricardianas dos empresários do agronegócio e das tradings, não do ativismo da diplomacia ou das iniciativas de tecnocratas governamentais.

E quanto ao reforço do Mercosul, da integração sul-americana e da união da América Latina? O bloco e toda a região nunca estiveram tão fragmentados e desunidos quanto hoje, e vários países buscaram suas próprias soluções, alguns a caminho da Ásia Pacífico, justamente, outros ingressando na OCDE, esse “clube de países ricos”, como ainda agora os petistas se referem depreciativamente a esse excelente foro de consulta e de coordenação das melhores práticas em políticas econômicas, macro e setoriais, baseado em Paris, e que, nos últimos vinte anos, passou de duas dúzias de membros a quase o dobro desse total. O próprio Brasil, mas não os petistas da “ativa e altiva”, buscou integrar-se ao foro, objetivo que parece permanecer em banho-maria atualmente, como aliás foi o caso durante os 13 anos e meio dos mandatos lulopetistas no comando do país. 

E no que se refere ao grande objetivo de uma associação comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que já era o objetivo fixado em meados dos anos 1990, quando também havia o projeto americano de uma Área de Livre Comércio das Américas, tal como proposto pelo presidente Bill Clinton na cúpula de Miami, em dezembro de 1994? Está certo que na primeira gestão de Celso Amorim, como chanceler, no governo Itamar Franco, o Brasil já propunha uma Alcsa, também uma área de livre comércio, mas que seria exclusivamente sul-americana, objetivo que parece ter sido desprezado por todos os parceiros da região. Recorde-se, também, que a associação do Mercosul à UE permaneceu vinte anos no banho-maria, justamente, depois que os três grandes concorrentes na liderança sul-americana – Hugo Chávez da Venezuela, Nestor Kirchner da Argentina, e o próprio Lula – se encarregaram de implodir a Alca na cúpula de Mar del Plata, em 2005, como orgulhosamente o reconheceram tanto Lula quanto Amorim. Foi só depois, sob a administração “neoliberal” de Michel Temer que o projeto de ingresso na OCDE e as negociações com a UE foram ultimados, a ponto de o famoso acordo inter-regional ter sido assinado nos primeiros seis meses do governo dito ultraliberal de Bolsonaro, projetos não bem acolhidos pelos petistas de volta ao poder (pois que não sabem se, um e outro, colocarão em risco a outrora poderosa indústria brasileira). 

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(Publicarei a íntegra em 3 semanas...)

Guerra na Ucrânia: o primeiro de muitos anos? - Carolina Riveira (Exame)

Guerra na Ucrânia: o primeiro de muitos anos?

Carolina Riveira *

Revista Exame | Mundo

17 de fevereiro de 2023 

 

Em fevereiro de 2007, o presidente russo, Vladimir Putin, disse em Munique, na Alemanha, o que ficaria conhecido como uma de suas falas mais marcantes. "Acho óbvio que a expansão da Otan não tem nenhuma relação com a modernização da própria Aliança ou com a garantia da segurança na Europa", afirmou na ocasião, em uma crítica direta à entrada de países vizinhos da Rússia na Otan, aliança militar criada nos tempos de guerra fria entre União Soviética e Estados Unidos. "Temos o direito de perguntar contra quem se destina essa expansão", disse Putin.

 

Para muitos, hoje está claro que o discurso foi a largada do que se veria 15 anos depois, quando aeronaves russas bombardearam Kiev na madrugada de 24 de fevereiro de 2022, dando início à atual guerra contra a Ucrânia.

 

O argumento oficial para o ataque incluiu sandices como uma "desnazificação" ucraniana e suposta proteção de russos étnicos vivendo na região. Na prática, Putin expôs sua visão de que a Ucrânia não tem o direito de agir de forma independente de Moscou e, além disso, esboçou o que acredita ser uma resposta ao Ocidente por expandir a Otan para a antiga órbita soviética no Leste Europeu - tema que se tornou uma obsessão de Putin, como mostra o discurso de 2007. De lá para cá, sem uma saída nem diplomática nem militar no horizonte próximo, a guerra em solo ucraniano completa neste mês o que pode ser só o primeiro de muitos anos.

 

Chegar a um ano de guerra sem definição não era necessariamente o esperado no começo de 2022. Dias antes de Putin ordenar os primeiros ataques a Kiev, a leitura era de que a Rússia poderia derrubar com alguma facilidade o presidente Volodymyr Zelensky e instalar na Ucrânia um governo aliado, como já ocorre em alguma medida na vizinha Belarus. Oficiais da inteligência dos Estados Unidos e da União Europeia chegavam a dizer naquela época à imprensa, em condição de anonimato, que a tomada russa poderia vir "em questão de dias".

 

Não à toa: a Rússia tinha, no começo da guerra, 900.000 cabeças ativas no Exército e 2 milhões na reserva, o segundo maior Exército do mundo e o triplo das forças ucranianas, além de força aérea muito mais sofisticada. Chegou-se a pensar que o mundo reviveria imagens como as do Afeganistão meses antes, quando o Talibã derrubou o governo quase sem resistência.

 

Não foi o que aconteceu na Ucrânia, por algumas razões. A Rússia iniciou a invasão dividindo as tropas e atacando o país por todas as frentes, certa de que sufocaria a reação. Pelo contrário, a combinação entre o ataque difuso, a surpreendente resistência ucraniana e a resposta unificada de potências do Ocidente travou o avanço russo nos arredores da capital Kiev ao norte. Os confrontos, hoje, se restringem principalmente ao leste da Ucrânia.

 

"Putin não conseguiu colocar um fantoche em Kiev como esperava, e esse tipo de vitória não é mais vista como viável", diz Alexandra Vacroux, diretora-executiva do Davis Center para Estudos de Rússia e Eurasia na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Ela argumenta, por outro lado, que Moscou, apesar de tudo, ainda controla quase 20% do território ucraniano. "Então há algum sucesso militar, mesmo que a estratégia inicial tenha falhado."

 

Entrando no segundo ano de guerra, os dois lados estão agora preparados para novas ofensivas. No fim de 2022, a Ucrânia retomou alguns territórios que havia perdido, como a estratégica cidade de Kherson. No começo de fevereiro, potências ocidentais também ensaiavam enviar equipamentos mais modernos ao país.

 

Já a Rússia, depois de perder pessoal experiente nos primeiros meses do conflito, convocou 300.000 reservistas, colocou a indústria em modo de guerra e está pronta para tentar mais avanços.

 

"Hoje, o consenso é claro de que vai ser uma guerra longa", resume Tomas Jermalavi?ius, pesquisador de inteligência de guerra no Centro Internacional para Defesa e Segurança (ICDS), na Estônia. "A Ucrânia obteve sucessos espetaculares em se defender, mas também terá certa desvantagem até estar pronta para usar os novos equipamentos. Já a Rússia parece estar se movendo em modo de contraofensiva, tentando afastar os ucranianos e reivindicar Donbas [região separatista no leste] em breve. É difícil dizer quem vai ser bem-sucedido e quando."

 

Mesmo que a realidade no campo de batalha esteja mais dura do que nunca, para o restante do mundo não diretamente envolvido a guerra pode ter impactos menos visíveis neste segundo ano. Na frente econômica, ainda não é visto como provável que se repita a panaceia do começo de 2022, quando a Europa perigava ficar sem energia no inverno, o Brasil perigava ficar sem fertilizantes e os mercados assistiam ao preço do petróleo chegar às alturas.

 

Essas incertezas ajudaram a piorar a inflação no mundo - que já subia com os choques da covid-19 - , fazendo bancos centrais entrar de vez em ritmo de alta de juros e aumentando riscos de recessão. Mas, passado um ano, parte dos gargalos da guerra já foi absorvida nos mercados no curto prazo. "A guerra só piorou de lá para cá. Mas o mundo não responde à gravidade do evento, responde com base no susto", diz Thiago de Aragão, analista especializado em relações internacionais na consultoria Arko e baseado nos Estados Unidos. 

 

Quando a guerra estourou, o risco de alguma interrupção na oferta de petróleo russo fez o barril do tipo Brent chegar à casa dos 130 dólares. A partir de junho, no entanto, o preço baixou e está hoje na faixa dos 80 dólares - ainda alto na série histórica, mas longe do pior cenário.

 

"Aquele pico veio da incerteza sobre como seria a oferta russa. Agora já temos a resposta, e a resposta é: sim, o petróleo russo continuou fluindo", diz Jim Burkhard, vice-presidente e head de pesquisa de mercados de petróleo e mobilidade na S&P Global Commodity Insights.

 

O desafio inicial na frente energética também foi relativamente equacionado pelas potências. A Europa, dependente do gás russo e uma das principais afetadas pela guerra, diversificou o leque de fornecedores, embora siga sofrendo com inflação alta e energia cara.

 

Para 2023, o que ainda pode acontecer, no limite, é algum embate na Opep+, organização dos maiores produtores: se o preço do petróleo cair muito, a Rússia pode tentar um corte coordenado de produção para valorizar o insumo. Nesse caso, o resultado dependeria da resposta da Arábia Saudita, com quem os Estados Unidos têm cultivado uma aproximação (aliança que, em tempos de crise, conta com o governo Joe Biden fazendo vista grossa às situações de direitos humanos).

 

Mas tudo isso ainda está só no campo da possibilidade. A S&P projeta o barril entre 75 e 95 dólares neste ano, e a dúvida realmente concreta vem não da guerra, mas da China (o preço dependerá da dimensão da reabertura chinesa após o fim da política de covid zero, que pode alavancar a demanda global).

 

Não significa que não existam cenários imprevistos na guerra. A esta altura, ainda há uma série de frentes - das mais prováveis às inimagináveis - que podem fazer o conflito hoje restrito ao leste da Ucrânia escalar e respingar com força em outros países.

 

ameaça nuclear é a principal. A Rússia tem o maior arsenal de armas nucleares do mundo, seguida pelos Estados Unidos, em uma herança da guerra fria. Embora declarações do tipo ainda soem como bravata pelo potencial de destruição mútua, a cartilha nuclear é vez ou outra citada por Moscou. O ex-presidente Dmitry Medvedev, por exemplo, foi às redes sociais neste mês dizer que um ataque à Crimeia (território ucraniano anexado pela Rússia em 2014) seria visto como ataque ao próprio território russo e respondido com "inevitável retaliação, usando armas de qualquer tipo".

 

Ainda que nada disso ocorra deliberadamente, outro risco sempre presente é o de que embates atinjam usinas nucleares da Ucrânia, como no complexo de Zaporizhia, o maior da Europa e hoje controlado pela Rússia. Batalhas chegaram a ocorrer perto do local e a danificar o complexo, e agências nucleares internacionais apontam que as margens de segurança estão no limite.

 

"Uma tragédia acidental em uma usina pararia a Europa e as cadeias de suprimentos. Então, não é porque infelizmente normalizamos a tragédia que o perigo deixa de existir", diz Aragão, da Arko. Na linha do "tudo pode acontecer", mísseis que atinjam acidentalmente países da Otan também criariam um cenário de caos, assim como avanços russos que ameacem áreas no norte e oeste da Ucrânia, hoje vistas como menos afetadas - e para onde migrou parte dos 10 milhões de ucranianos que deixaram suas casas em zonas de guerra no ano passado. 

 

Se os efeitos imediatos talvez consigam ser minimizados em parte do mundo, os de longo prazo não poderão mais ser ignorados. Um impacto duradouro para absolutamente qualquer país - incluindo o Brasil - é que a guerra na Ucrânia mudou de vez a geopolítica deste século.

 

Herdeira da URSS mas longe do poderio da antiga potência (que chegou a ser a segunda economia do mundo), a Rússia está hoje somente entre as 15 maiores economias e é um competidor menos relevante globalmente. Por isso, a guerra na Ucrânia, mais do que o embate entre dois vizinhos, escancarou a disputa de gigantes que se desenha entre Estados Unidos, China e suas respectivas órbitas de influência.

 

Nenhum dos dois diz em alto e bom som que está envolvido no conflito. Mas a ajuda financeira e o envio de armas dos Estados Unidos são cruciais para que a Ucrânia brigue de igual para igual na guerra, enquanto a parceria econômica chinesa (e de alguns outros países vistos como ainda neutros, como a Índia) é chave para Moscou.

 

"A China mantém uma neutralidade pró-Rússia, embora não se possa dizer que está comprometida com a Rússia como a Otan está com a Ucrânia, com envio de armas", diz Felipe Loureiro, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) e organizador do livro Linha Vermelha: A Guerra da Ucrânia e as Relações Internacionais do Século 21.

 

A soma de fatores como a situação da China, o fortalecimento da Otan e a incapacidade de organismos multilaterais como as Nações Unidas de impedir a guerra é um indício que leva o pesquisador a afirmar que o mundo entra, de fato, em um novo ciclo. "Apesar de estarmos no calor do momento histórico, é possível dizer com alguma segurança que essa guerra é um divisor de águas", diz.

 

Para a Rússia, é na proximidade econômica com a China (mesmo que ainda não militar, como Moscou gostaria) que Putin aposta para seguir adiante. Era esperado que a economia russa encolhesse entre 8% e até mais de 10% em 2022 com o esforço de guerra e sanções recorde do Ocidente, mas projeta-se que o resultado foi muito melhor, perto dos 3%.

 

O pior das sanções conseguiu ser amenizado até o momento, o que explica a manutenção do ímpeto russo no front.

 

"O que é certo, pelo menos enquanto Putin estiver no poder, é que Moscou não reduzirá sua agressão - especialmente não diante da pressão ocidental. "Ali Wyne, analista sênior da consultoria de risco Eurasia.


 No meio do caminho

 

O economista e cientista político belga Gérard Roland, da Universidade da Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos), já não teme dizer que a Ucrânia é o centro de uma "nova guerra fria" - inicialmente entre parte da Europa e a Rússia, mas que no futuro respingará em outros países.

 

A discussão não é nova. Desde o desmantelamento da União Soviética, a Otan e a própria União Europeia passaram a incluir nos anos 1990 e 2000 países do Leste Europeu, a contragosto da Rússia. Nesse meio tempo, enquanto quase todos os países da antiga órbita soviética entraram na Otan, como os Bálcãs, a Hungria e a Polônia, a Ucrânia ficou no meio do caminho, uma espécie de fronteira geográfica entre a Rússia e o resto da Europa.

 

Soma-se a isso um passado delicado entre Rússia e Ucrânia e as naturais divisões internas entre a própria população ucraniana - com a parte oeste querendo se aproximar mais da União Europeia e a parte leste sendo mais próxima da Rússia. A ascensão da China como potência antagonizando com os Estados Unidos só ajuda a intensificar a discussão.

 

"Neste momento, a 'guerra quente' só acontece na Ucrânia. Mas há uma nova guerra fria de facto", diz Roland, que acredita que, para Europa e Estados Unidos, vencer a Rússia ajudaria também a conter "as ambições hegemônicas da China".

 

Há debates acalorados sobre o uso do termo "guerra fria" ou sobre quanto, ao patrocinar o esforço de guerra ucraniano, a Otan não tem feito ela própria parte do conflito. Um consenso é que a questão ucraniana, independentemente do resultado no front, começa cada vez mais a respingar para outros debates, como o caso de Taiwan, território autônomo da China desde 1949 e que Pequim reivindica. 

 

Com as tensões crescentes, outra das visões consolidadas pela guerra é que os países olharão com cada vez mais atenção para seus investimentos em Defesa. Para alguns governos, como na União Europeia, pode ser uma mudança fundacional de paradigma.

 

Os países do bloco, somados, gastam hoje 1,5% do PIB em Defesa, patamar que foi reduzido progressivamente após o fim das guerras mundiais. O valor deve subir com as ameaças no quintal. "A Europa ainda depende dos Estados Unidos para sua Defesa, o que não é normal", critica Roland, de Berkeley.

 

Pouco antes da guerra, com o mundo ainda envolto na pandemia de covid-19, o discurso em muitos lugares era outro: o planeta havia chegado a 2 trilhões de dólares gastos com Defesa e pipocavam críticas de que tamanhos recursos poderiam ser gastos com políticas sociais, vacinas e meio ambiente.

 

Um grande exemplo é a Alemanha, país mais rico da União Europeia e onde o governo de centro-esquerda de Olaf Scholz (que substituiu a centro-direita de Angela Merkel após 16 anos) chegou ao poder em 2021 prometendo foco na política interna, no social e na questão climática. A guerra mudou tudo - fará a Alemanha gastar mais com Defesa e, de quebra, queimar mais carvão do que o previsto no processo de substituir o gás russo.

 

"Os países entram em uma fase em que, sem um big stick, sem uma ameaça militar crível, só a diplomacia pode não ser suficiente."Tomas Jermalavirius, do ICDS

 

Enquanto o mundo se arma e as implicações para o futuro ficam mais incertas, o segundo ano de guerra na Ucrânia, em solo, está apenas no começo.

 

E há um motivo puro e simples: os dois lados ainda acreditam que podem vencer, diz Chris Blattman, professor da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e autor de Por Que Lutamos: As Raízes da Guerra e os Caminhos para a Paz, em que estudou os motivos que levam a guerras duradouras.

 

Até o momento, a Ucrânia afirma que não abrirá mão de nenhum território, incluindo a Crimeia que perdeu em 2014. As tropas ainda estão longe de obter tal cenário militarmente, mas apostam no aumento do apoio ocidental para chegar lá. Já o plano da Rússia, menos ambicioso do que o inicial de dominar o governo em Kiev, parece ser manter todo o leste e sul da Ucrânia, aumentando seu poder de barganha. Moscou, porém, pode partir para movimentos arriscados se sentir que está sendo verdadeiramente ameaçada na Crimeia ou no extremo leste, ambos hoje dominados sem esforço.

 

Como há uma diferença incompatível entre esses dois objetivos, vias diplomáticas serão carta fora do baralho enquanto persistir a incerteza na frente militar. "O que poderia acelerar o fim da guerra seria uma resolução dessa incerteza", argumenta Blattman.

 

Isso poderia ser uma série de vitórias decisivas da Ucrânia ou, o contrário, derrotas que levassem a uma virada da opinião na Europa Ocidental e redução do apoio militar. Ou, até mesmo, uma mudança de regime na Rússia. "Nenhum desses cenários parece provável no curto prazo", conclui Blattman. Mas ele alerta: "Todo mundo que tentou prever qualquer coisa errou até agora". 

 

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos Estados Unidos no início de fevereiro estava cercada de dúvidas sobre quanto a situação da Ucrânia apareceria na pauta. O tema surgiu. E foi até mesmo incluído no comunicado final, acordado por ambos os países, lamentando a "violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território" - ações que o governo brasileiro concordou em chamar no texto de "violações flagrantes do direito internacional".

 

Em falas anteriores, Lula chegou a dizer que "quando um não quer, dois não brigam" - declaração de difícil tradução e questionada pela superficialidade. A posição brasileira, no fim, não chega a ser decisiva nesse tema. Mas tem sua relevância, já que o Brasil se prepara, por exemplo, para assumir em 2024 a presidência rotativa do G20, clube das 20 principais economias do mundo, e pode ter de falar mais vezes sobre a questão. "Ser neutro a esta altura pode parecer com ficar ao lado do agressor", diz Tomas Jermalavi?ius, do ICDS, que está baseado na vizinha direta do conflito Estônia e que acredita que a visão anti-imperialista do Brasil deveria se refletir nesse caso.

 

Ao fim e ao cabo, a posição brasileira não deve sofrer grandes alterações. Lula tem falado em criar um hipotético "clube da paz" para negociar, com apoio de países que não estejam envolvidos diretamente na guerra. Também pressiona para uma reforma no Conselho de Segurança da ONU, que falhou em impedir diplomaticamente o embate.

 

"Há uma responsabilidade russa direta pela invasão, que não pode ser esquecida, e nesse aspecto algumas das declarações anteriores de Lula foram infelizes", argumenta Felipe Loureiro, do IRI-USP. O Brasil, ainda assim, é a maior economia da América Latina, uma região importante do bloco "não alinhado" e que pode se tornar uma liderança junto com outros países do chamado Sul Global, como África e parte da Ásia. "Então existe algum espaço para manter certa neutralidade e tentar avançar em negociações", diz o professor. 

 

No começo da guerra, ainda sob o governo Jair Bolsonaro, o Brasil foi arrastado aos holofotes por uma visita do então presidente a Moscou, dias antes de o conflito estourar. Depois disso, o Itamaraty, seguindo a tradição, apoiou nota na ONU condenando o ataque. Como em boa parte das guerras anteriores, o Itamaraty tem um posicionamento visto como neutro na comunidade internacional: defende a autodeterminação dos povos, mas pede uma busca diplomática pela paz e se nega terminantemente a um alinhamento militar, como enviar armas à guerra.

 

Nas novas divisões globais que o último ano acentuou, a posição brasileira, nesse e em outros temas, será a de tentar unir a América Latina para uma relação mais equânime com a China, maior compradora das exportações do país, e, ao mesmo tempo, mostrar-se como um parceiro estável para os Estados Unidos de Joe Biden na região.

 

Tudo isso faz sentido em outras pautas, mas, para a guerra na Ucrânia, Thiago de Aragão, analista da consultoria Arko, acredita que a posição brasileira não geraria liderança em nenhum tipo de negociação. O Brasil tem uma situação diferente da de países do Sul Global como a Índia, que, embora no clube dos neutros, é um dos maiores parceiros comerciais da Rússia, ao lado da China, e determinante para o jogo de forças. "O Brasil tende a ser visto como um excelente parceiro para falar de meio ambiente e energia renovável, mas não para falar de Ucrânia ou Mar do Sul da China. O país tem pouca capacidade, hoje, de influenciar nesses assuntos", diz.

 

Dentro de casa, enquanto isso, há alguns fatores de atenção em meio à guerra. Uma preocupação imediata no começo do conflito foi a situação dos fertilizantes, dos quais a Rússia é o principal fornecedor nacional. A incerteza levou o preço dos insumos (derivados do petróleo) às alturas na época, embora a situação agora esteja equacionada. As exportações russas continuaram acontecendo, e os produtores brasileiros fizeram amplo estoque de fertilizantes, ainda que mais caros. Uma agenda de bioinsumos como substitutos também ganhou força. Para 2023, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse ainda que a questão será tratada como "segurança nacional" e que, dentre outras medidas, a Petrobras pode voltar a investir em fábricas de fertilizantes. 

 

Apesar disso, alguns dos efeitos econômicos da guerra continuarão no Brasil. Como no resto do mundo, a alta do petróleo e das commodities (incluindo alimentos) fez subir os preços nas prateleiras dos brasileiros. A inflação chegou a passar de 10% no primeiro semestre de 2022 e só caiu por uma combinação entre alta de juros e subsídio via desoneração de combustíveis, incluindo os questionados, como a gasolina. A desoneração foi prorrogada temporariamente, mas deve acabar progressivamente nos próximos meses com a questão fiscal difícil. Se a demanda na China pressionar o preço do barril, a inflação poderá novamente ser um problema.

 

E a guerra, ainda que não esteja impactando os volumes de petróleo no momento, segue sendo uma "incerteza massiva e que pode levar a surpresas", diz Jim Burkhard, da S&P Global. Na outra ponta, como um dos maiores produtores de petróleo, o Brasil tem oportunidades. Burkhard diz que o mercado mudou com a guerra, muito menos focado nos tipos de óleo e mais nas origens. Assim, o Brasil se posiciona para ser fornecedor a quem quer que seja, além de receber investimentos. A Petrobras bateu em 2022 recordes de produção, um cenário que pode continuar. "O Brasil está aberto aos negócios ocidentais de uma forma que a Rússia não está", conclui o analista. 

 

Como se nota, a guerra na Ucrânia respinga nas estratégias globais brasileiras, especialmente no desafio de se espremer entre a crescente tensão dos Estados Unidos com a China. Em março, Lula desembarcará em Pequim para a primeira visita ao país, o maior parceiro comercial nacional. O convite mostra prestígio da atual gestão - "furando" uma longa fila de governos - e aumenta a pressão por movimentos estratégicos para se aproximar do gigante asiático sem conturbar a relação com os americanos. A nova política externa brasileira está no começo e terá grandes testes nos próximos meses.

 

 

* Repórter de Economia e Mundo, Formada pela Universidade de São Paulo, cobre temas de políticas públicas, economia e política internacional para a EXAME. Publicou em veículos como Pequenas Empresas e Grandes Negócios e Folha de S.Paulo.