Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida
Site pessoal: www.pralmeida.net.terça-feira, 13 de julho de 2010
Retrato de uma ditadura ordinaria - Yoani Sanchez
Yoani Sánchez
O Estado de S.Paulo, 13.07.2010
O ar-condicionado ronronava às minhas costas, enquanto o cheiro de sala de cirurgia grudava na roupa verde que recebi ao entrar. Sobre a cama, o corpo enfraquecido de Guillermo Fariñas expunha as consequências de 134 dias sem ingerir alimentos sólidos e líquidos.
Permaneci um bom tempo olhando para os tubos que levam ao interior de suas veias o soro que o mantém vivo e os antibióticos para combater múltiplas infecções. Faz apenas dois dias que Coco - apelido recebido por Fariñas dos amigos - anunciou a interrupção de sua greve de fome para proporcionar o tempo necessário para que se cumpra a libertação dos presos políticos. O primeiro gole de água que deu depois de tanto tempo provocou em seu ressecado esôfago a sensação de uma língua de fogo que o queimava por dentro.
Com as sequelas produzidas por um período tão longo de inanição, voltar a beber e a comer não é garantia de sobrevivência para este psicólogo e jornalista independente. Sua saúde se encontra num estado limítrofe de deterioração, como consequência de outras 22 greves de fome anteriores. Ninguém pode saber ao certo se Fariñas chegará, num futuro próximo, a apertar a mão dos prisioneiros que, com sua determinação, ajudou a libertar. Um coágulo instalou-se perto de sua jugular, as bactérias e os germes infectam seu sangue e um intestino atrofiado, pela falta de uso, mal consegue conter a flora que é derramada em seu abdômen. O herói da batalha pela libertação de 52 dissidentes e opositores terá dificuldade para vencer a luta contra a morte. O homem que desafiou um governo que nunca foi caracterizado pela clemência terá pela frente um caminho difícil para vencer suas debilidades físicas.
Justo na primeira madrugada depois de anunciar a suspensão da greve de fome, a família de Fariñas permitiu que eu cuidasse dele na sala de terapia intensiva do hospital de Santa Clara. Voltei para casa triste e cansada, rodeada de anúncios otimistas sobre os presos que deixavam o cárcere, mas imbuída da convicção pessoal de que, para Fariñas, a cruzada pela vida acaba de começar. Ainda assim, me pergunto como foi possível que nos tenham cortado todos os caminhos da ação cívica, até nos deixarem apenas com nossos corpos para ser usados como estandarte, cartaz, escudo. Quando um país se torna palco de tais greves de fome, é hora de se perguntar que outras vias restam aos inconformados e quem teriam sido os responsáveis por inibir os mecanismos de expressão dos cidadãos, e por quê.
Ainda que as grandes manchetes divaguem agora sobre o trabalho de mediação do chanceler Miguel Ángel Moratinos e a negociação entre a Igreja Católica e o governo cubano, todos sabemos quem são os verdadeiros protagonistas destas lutas.
Cidadãos como as Damas de Branco, pessoas simples como Fariñas e gente sofrida como o próprio Orlando Zapata Tamayo, conseguiram que Raúl Castro começasse a destrancar as celas.
Sem o empurrão proporcionado por eles, os sete anos de detenção suportados por aqueles que foram detidos durante a Primavera Negra de 2003 poderiam ter se convertido numa década ou até em meio século de condenação. No entanto, um homem decidiu fechar o estômago à bênção da comida para conseguir que eles voltassem a caminhar pelas ruas de seu país e a abraçar suas famílias. Quem o vê de perto comprova que se trata de um cidadão magro e comum, que um dia vestiu um uniforme militar como soldado de Cuba combatendo em Angola.
A mesma força de vontade que o levou a caminhar 13 km em terras africanas com uma bala cravada nas costas permitiu a ele manter até poucos dias atrás sua recusa em se alimentar. O terreno onde se deu o persistente protesto foi seu próprio corpo que é, afinal, o único espaço que lhe restou para protestar.
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
É DISSIDENTE CUBANA E EDITORA DO BLOG "GENERACIÓN Y"
Aumento preocupante na idiotice nacional
Mas, como sou ingênuo!
Os adultos, inclusive os que lêem jornais, também estão expostos a cenas explícitas de idiotice consumada.
Um dos que mais contribuem para o aumento da idiotice nacional é um frei que já não é mais frei, mas que continua pontificando de forma tão idiota como sempre fez.
Nem vou comentar o verdadeiro arsenal de bobagens que esse idiota famoso consegue perpetrar em cada linha de sua lamentável crônica. Nada, absolutamente nada do que ele escreve faz sentido.
Creio, sim, que caminhamos para uma decadência mental irremediável.
Quando um jornal como O Globo se permite publicar bobagens desse tipo, estamos caminhando rapidamente para a decadência intelectual.
Como operar a transição do velho para o novo paradigma
Leonardo Boff
O Globo, 14.07.2010
Damos por já realizada a demolição crítica do sistema de consumo e de produção capitalista com a cultura materialista que o acompanha. Ou o superamos historicamente ou porá em grande risco a espécie humana.
A solução para a crise não pode vir do próprio sistema que a provocou. Como dizia Einstein:"o pensamento que criou o problema não pode ser o mesmo que o solucionará".
Somos obrigados a pensar diferente se quisermos ter futuro para nós e para a biosfera. Por mais que se agravem as crises, como na zona do Euro, a voracidade especulativa não arrefece.
O dramático de nossa situação reside no fato de que não possuimos nenhuma alternativa suficientemente vigororosa e elaborada que venha substituir o atual sistema.
Nem por isso, devemos desistir do sonho de um outro mundo possível e necessário. A sensação que vivenciamos foi bem expressa pelo pensador italiano Antônio Gramsci:"o velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer".
Mas por todas as partes no mundo há uma vasta semeadura de alternativas, de estilos novos de convivência, de formas diferentes de produção e de consumo.
Projetam-se sonhos de outro tipo de geosociedade, mobilizando muitos grupos e movimentos, com a esperança de que algo de novo poderá eclodir no bojo do velho sistema em erosão.
Esse movimento mundial ganha visibilidade nos Fórums Sociais Mundiais e recentemente na Cúpula dos Povos pelos direitos da Mãe Terra, realizada em abril de 2010 em Conchabamba na Bolivia.
A história não é linear. Ela se faz por rupturas provocadas pela acumulação de energias, de idéias e de projetos que num dado momento introduzem uma ruptura e então o novo irrompe com vigor a ponto de ganhar a hegemonia sobre todas as outras forças. Instaura-se então outro tempo e começa nova história.
Enquanto isso não ocorrer, temos que ser realistas. Por um lado, devemos buscar alternativas para não ficarmos reféns do velho sistema e, por outro, somos obrigados a estar dentro dele, continuar a produzir, não obstante as constradições, para atender as demandas humanas. Caso contrário, não evitaríamos um colapso coletivo com efeitos dramáticos.
Devemos, portanto, andar sobre as duas pernas: uma no chão do velho sistema e a outra no novo chão, dando ênfase a este último.
O grande desafio é como processar a transição entre um sistema consumista que estressa a natureza e sacrifica as pessoas e um sistema de sustentação de toda vida em harmonia com a Mãe Terra, com respeito aos limites de cada ecossistema e com uma distribuição equitativa dos bens naturais e industriais que tivermos produzido.
Trocando idéias em Cochabamba com o conhecido sociólogo belga François Houtart, um dos bons observadores das atuais transformações, convergimos nestes pontos para a transição do velho para o novo.
Nossos paises do Sul devem em primeiro lugar, lutar, ainda dentro do sistema vigente, por normas ecológicas e regulações que preservem o mais possível os bens e os serviços naturais ou trate sua utilização de forma socialmente responsável.
Em segundo lugar, que os paises do grande Sul, especialmente o Brasil, não sejam reduzidos a meros exportadores de matérias primas, mas que incorporem tecnologias que dêem valor agregado a seus produtos, criem inovações tecnologias e orientem a economia para o mercado interno.
Em terceiro lugar, que exijam dos paises importadores que poluam o menos possível e que contribuam financeiramente para a preservação e regeneração ecológica dos bens naturais que importam.
Em quarto lugar, que cobrem uma legislação ambiental internacional mais rigorosa para aqueles que menos respeitam os preceitos de uma produção ecologicamente sustentável, socialmente justa, aqueles que relaxam na adaptação e na mitigação dos efeitos do aquecimento global e que introduzem medidas protecionistas em suas economias.
O mais importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças a partir de governos, instituições, igrejas, centros de pesquisa e pensamento, movimentos sociais, ONGs e todo tipo de pessoas ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, bem expressos na Carta da Terra, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra ou na Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade (texto básico do incipiente projeto da reinvenção da ONU) e no Bem Viver das culturas originárias das Américas.
Destes valores e principios se espera a criação de instituições globais e, quem sabe, se organize a governança planetária que tenha como propósito preservar a integridade e vitalidade da Mãe Terra, garantir as condições do sistema-vida, erradicar a fome, as doenças letais e forjar as condições para uma paz duradoura entre os povos e com a Mãe Terra.
Leonardo Boff é autor do livro Ecologia, Mundialização e Espiritualidade,Record 2008
A tragedia educacional brasileira
Qualidade da educacao nao é uma questao de dinheiro, apenas
A TRAGÉDIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: GOVERNO LULA NAUFRAGA DE FORMA ESPETACULAR NO DESAFIO DA QUALIDADE
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Agradeço ao leitor. Eis a matéria:
Cresce número de professores sem diploma na educação básica do País
Luciana Alvarez, Simone Iwasso
O Estado de S.Paulo, 13 de julho de 2010
Dados do Censo Escolar mostram que a quantidade de docentes sem curso superior lecionando para os ensinos infantil, fundamental e médio saltou de 594 mil em 2007 para 636 mil em 2009; crescimento vai na contramão dos investimentos públicos na área
O número de professores que lecionam no ensino básico sem diploma de curso superior aumentou entre 2007 e 2009, segundo o Censo Escolar do Ministério da Educação. Atualmente, os professores sem curso superior somam 636 mil nos ensinos infantil, fundamental e médio - o que representa 32% do total. Em 2007, eram 594 mil.
O crescimento vai na contramão das políticas públicas adotadas nos últimos anos para melhorar a formação dos docentes no País. Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1996, o Brasil deveria ter todos os seus professores de ensino fundamental e médio com curso superior - projeto de lei atualmente em tramitação no Congresso Nacional prorroga esse prazo por mais seis anos e estende a obrigatoriedade também para o ensino infantil.
A Bahia é o Estado com o maior número de professores que lecionam sem diploma: eles eram 101 mil em 2009, dois terços do total. Mas mesmo em São Paulo ainda há 2.025 docentes sem diploma atuando no ensino médio - teoricamente, a etapa do ensino com mais conhecimentos específicos, como matemática e física, que mais exige uma formação superior.
Para o governo federal, o principal motivo de os índices de professores com formação superior não terem crescido, apesar dos investimentos públicos na formação, está no grande contingente sem diploma na educação infantil, etapa do ensino cuja oferta teve maior aumento no País nos últimos oito anos.
"Devemos fechar este ano com 20% de aumento na oferta de educação infantil. E, até há pouco tempo (2006), as creches eram ligadas à assistência social, portanto a ideia era cuidar, não educar", afirma Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do MEC.
Ensino infantil. O curso superior não é obrigatório no ensino infantil, mas o Plano Nacional de Educação (PNE), de 2001, tinha como meta que 70% dos professores dessa etapa conseguissem o diploma no prazo de dez anos. Pelo Censo de 2009, quase 5 mil professores do ensino infantil têm formação apenas na educação fundamental e mais de 34 mil possuem o ensino médio, mas não da modalidade normal.
"É muito importante que todo o magistério tenha uma formação adequada. E, no Brasil de hoje, ela se dá por meio do curso superior. E ainda nem em todos os cursos superiores", disse o sociólogo Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Mas o especialista afirma que esse quadro será revertido em poucos anos. "As metas podem ser atingidas com bastante rapidez, pois não há mais barreiras econômicas ou geográficas para a formação dos que já atuam como professores", diz Callegari.
O governo federal, em parceria com Estados e universidades, tem um programa de ensino a distância para professores, além de créditos e bolsas para os docentes que entram na faculdade. Atualmente, a maior aposta do governo federal está no Plano Nacional de Formação dos Professores da Educação Básica.
A intenção é formar, nos próximos cinco anos, 330 mil professores que atuam na educação básica e ainda não são graduados. Parte dos cursos é presencial e a maioria, na Universidade Aberta do Brasil (UAB), que oferece graduação para professores de maneira semipresencial. No total, os recursos para a área somam cerca de R$ 1 bilhão por ano. Os esforços, porém, ainda não aparecem nas estatísticas.
Ensino médio. Outro gargalo para o aumento do índice de professores com diploma está no ensino médio, etapa que passa por um crescimento de matrículas, mas para a qual há carências de quadros qualificados em algumas disciplinas, sobretudo física, química e matemática.
Apesar de ter o menor índice de docentes sem curso superior, a proporção dos sem diploma cresceu em dois anos também nessa etapa: eram 6,6% em 2007 e passaram para 8,7% no ano passado. "Há pesquisas mostrando que há pouco interesse dos jovens pela carreira do magistério e, em algumas áreas, a carência se dá em todo o País", afirma Maria Corrêa Silva, vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consede). "Profissionais de outras áreas acabam assumindo." Com isso, docentes sem formação permanecem em sala de aula.
Maria, porém, diz-se otimista com a reversão do quadro geral. "Agora existem políticas públicas. Claro que cada Estado está em um estágio diferente, mas todos podem melhorar." A secretária do Acre lembra que, em 1999, apenas 26% dos professores do Estado tinham formação superior. Dez anos depois, são mais de 50%.
PARA LEMBRAR
Cursos ruins formam 25% dos docentes
Os cursos de Pedagogia se destacaram nas recentes avaliações do Ministério da Educação pelo crescimento de notas ruins e de oferta.
Dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) divulgados no ano passado indicam que o número de cursos mal avaliados passou de 28,8% do total (172 cursos), em 2005, para 30,1% (292). Os cursos ruins formam um em cada quatro futuros professores.
Entre 2002 e 2007, a oferta de cursos subiu 85% - um porcentual acima da média geral (63%). Em cinco anos, os cursos de Pedagogia passaram de 1.237 para 2.295. Segundo especialistas, a proliferação ocorre por causa da facilidade de montar um curso.
Para baixo: oportunismo diplomatico (com a desgraca alheia)
Outra freguesia
Se é verdade que o Brasil participou das gestões pela libertação de 52 dos 167 presos políticos de Cuba, como diz o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se é fato que o Brasil preparou o terreno para uma operação na qual a Espanha só teve participação de última hora, como insinua o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, seria natural que também oferecesse refúgio aos dissidentes.
Como já fizeram Espanha e Chile. Até agora o Brasil nada disse além de ironizar a atuação dos espanhóis por intermédio de Garcia, que só faltou chamá-los de oportunistas. "A bola caiu no pé deles e eles chutaram para dentro", observou o fidalgo assessor.
Para o lado, com todo peso: rumo ao capitalismo de Estado
Geralda Doca e Danielle Nogueira
O Globo, 13.07.2010
Pressionado pelo calendário eleitoral, o governo está decidido a criar uma nova estatal do ramo de seguros — a Empresa Brasileira de Seguros S.A. (EBS) — via medida provisória (MP). O assunto vinha sendo discutido há pelo menos um ano, e a expectativa é que a MP seja assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas semanas, provocando críticas do setor privado, que já prepara uma proposta alternativa. Se aprovada, será a 12aempresa pública que nasce no atual governo. Em 2002, eram 108 estatais, e agora o número passará a 120.
De acordo com a minuta do texto da MP ao qual o GLOBO teve acesso, a EBS ficará vinculada ao Ministério da Fazenda e poderá explorar operações de seguros em quaisquer modalidades, sobretudo comércio exterior (operações com prazo superior a dois anos), projetos de infraestrutura e de grande vulto, que terão fundos garantidores específicos, também criados pela MP. O texto permite ainda que a EBS crie subsidiárias, instale escritórios, filiais e representações no Brasil e no exterior.
E torna possível que ela comece a funcionar com servidores cedidos ou por contratação temporária.
O governo alega que o setor de seguros não tem capacidade para garantir obras de grande vulto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a da hidrelétrica de Belo Monte (PA). As seguradoras contestam e já preparam um contraataque.
Está prevista uma reunião, entre amanhã e quinta-feira, com representantes da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) e assessores do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em Brasília. Eles vão propor que seja retirada da MP a parte que trata da criação da nova estatal, mas que sejam mantidos os fundos garantidores e que estes sejam geridos pelo BNDES.
— O mercado tem plena capacidade para fazer o que o governo quer. A criação de uma estatal é um retrocesso em ações do próprio governo, que quebrou o monopólio do setor de resseguros há cerca de dois anos e meio — afirma Jorge Hilário Gouvêa Vieira, presidente da CNSeg. — Além disso, há um claro conflito de interesses, pois o governo vai assegurar seus próprios contratos.
Setor movimentou R$ 109 bi em 2009
As 196 empresas que integram o setor de seguros no Brasil movimentaram R$ 109 bilhões em prêmios em 2009, e a previsão é que chegue a R$ 150 bilhões em 2012. Também há perspectivas de crescimento do segmento de resseguros, que dá garantias às seguradoras. Com a chegada de grandes multinacionais ao Brasil — são 118 empresas, incluindo resseguradoras e corretoras —, o segmento movimentou cerca de US$ 2 bilhões ou cerca de R$ 3,5 bilhões em 2008, últimos dados disponíveis. A previsão de Paulo Pereira, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Resseguros (Aber), é que o segmento dobre de tamanho em três anos.
— As dez maiores resseguradoras do mundo estão aqui. Com a crise econômica, houve perda do patrimônio de muitas delas, mas isso já foi recuperado. Há vontade de fazer negócios no país. Não vejo por que criar uma estatal — diz Pereira, que também preside a americana Transatlantic Re, a décima maior do mundo.
Segundo técnicos que trabalham na MP, para capitalizar o novo órgão, o Tesouro Nacional deverá utilizar ações de que dispõe em outras empresas públicas, mantendo o controle neste caso, ou emitirá títulos. A fórmula, bem como o tamanho do capital social, explicou uma fonte, vão depender da disponibilidade do Tesouro. Para isso, o governo vai fundir os fundos garantidores de crédito existentes no mercado em apenas três. A MP também abre caminho para que estes três virem apenas um a longo prazo, com pequenos ajustes na legislação, explicou um técnico.
Fundos garantidores vão somar R$ 13 bi
Além de economia de escala — o governo gasta com a administração desses fundos (feita por bancos públicos) — a ideia é alocar melhor os riscos das operações. Atualmente, as operações de cada fundo estão concentradas em um único setor, como é o caso do Fundo de Garantia para a Construção Naval (FGCN), o que não é o ideal no ramo de seguros. Os outros cinco são: Fundo Garantidor das Parcerias Público-Privadas (FGP), Fundo Garantidor da Habitação Popular (FGHAB ), Fundo de Garantia de Operações (FGO), Fundo Garantidor para Investimentos (FGI) e Fundo de Garantia a Empreendimentos de Energia Elétrica (FGEE).
No processo de unificação desses fundos, a MP prevê que eles sejam transferidos para três novos, que serão criados com a EBS: um que vai cobrir diretamente operações de comércio exterior no prazo superior a dois anos; outro que vai garantir operações de seguro também nas exportações; e um terceiro, voltado para infraestrutura. Pela MP, a EBS terá acesso aos recursos. Nos dois fundos voltados para o comércio exterior, a fatia da União será de até R$ 2 bilhões e, no destinado a projetos de infraestrutura, de até R$ 11 bilhões. Esse patrimônio será apartado do capital da EBS. A empresa poderá administrar o fundo destinado a garantir as operações de seguro de comércio exterior.
Os outros dois terão que permanecer administrados por bancos devido às determinações da legislação.
O estatuto da nova empresa terá de ser aprovado por uma assembleia de acionistas a ser convocada pela Procuradoria Geral da Fazenda (PGFN), mesmo a União sendo o único acionista. Neste caso, basta uma simples troca de correspondência entre a PGFN e a secretariaexecutiva do Ministério da Fazenda, segundo técnicos do governo.
O texto da MP abre a possibilidade para que a EBS vire uma empresa de economia mista. A curto prazo, já está cotada para a carteira da EBS, a construção da usina de Belo Monte. Outras obras, como o trem de alta velocidade (TAV), que ligará o Rio a São Paulo, também poderão entrar. Nos próximos dias, o governo enviará ao Congresso projeto de lei criando a Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade (Etav), que será o braço operacional do governo no TAV.
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E como sobremesa:
Governo quer criar estatal para trem-bala
O valor máximo estabelecido para a classe econômica no trecho Rio-São Paulo é de R$ 199.
Para tras, a toda velocidade: rumo a uma economia primario-exportadora
BRASIL: "CRESCIMENTO É ESPELHO DA DEMANDA DA CHINA"! "AGRONEGÓCIO QUADRUPLICA PRODUTIVIDADE"!
Trechos do artigo do analista em estratégias, e ex-ministro argentino Jorge Castro – Clarin (04).
1. O crescimento do Brasil é o espelho da demanda chinesa: mais da metade (56%) do índice de ações Ibovespa é composto por empresas produtoras de commodities, que concentram as suas vendas para o mercado Chinês/Asiático. Somente a Petrobras e a Vale representam mais de 25% do Ibovespa, enquanto a China envolve quase todo o aumento da demanda mundial de petróleo e minério de ferro. No índice Dow Jones (EUA), apenas 15% são ações de empresas exportadoras de produtos primários; no índice Nikkei (Japão), menos de 10%. A equação da inserção internacional do Brasil é a seguinte: crescimento brasileiro/aumento nos preços das commodities no mercado mundial/aumento da demanda chinesa.
2. Há um novo escalão produtivo e tecnológico- salto qualitativo- na produção agro-alimentícia brasileira. A FAO estima que a demanda mundial de alimentos vai duplicar em 20 anos e que o Brasil aumentará sua produção e exportação de alimentos em 40% nos próximos 10 anos. Se essa dupla projeção se confirma, seria a maior mudança no fluxo global de comércio nesse período. Em 2008 o Brasil se tornou o segundo maior exportador de alimentos, depois apenas dos EUA, com base em um esforço de 20 anos de inovação tecnológica nos estados centrais (Mato Grosso, Goiás, Paraná). Mas nos últimos dois anos, o agronegócio foi expandido para o Nordeste (Bahia, Piauí, Maranhão), coração do Cerrado (90 milhões de hectares), a última grande reserva de terras férteis não utilizadas no mundo.
3. Aqui, os principais atores do negócio agrário, são os grandes fundos de investimento, principalmente da Europa e EUA, que utilizam as mais avançadas tecnologias. (transgênicos, máquinas automáticas, sistemas de satélite), em grandes extensões de terra (100.000/300.000 hectares), com técnicos e gerentes de qualificação internacional. A produtividade do agro-negócio brasileiro dobrou nos últimos 20 anos. Agora, em dois anos, o novo agro-negócio brasileiro dobra a produtividade alcançada nas últimas duas décadas. O Brasil, em suma, aprofunda sua capacidade de crescimento potencial em longo prazo e faz isso através de mudanças qualitativas que envolvem aumento do nível de inovação tecnológica e do financiamento. E isso ocorre em um contexto de crescente integração com os países Asiáticos (China), que são a espinha dorsal do novo mecanismo de acumulação global, decorrente da crise global e em resposta a ela.
GOVERNO LULA: EM MARCHA BATIDA PARA O SÉCULO 19!
(Folha de SP, 11) Dobra o peso de produto básico nas exportações brasileiras. O peso das matérias-primas nas exportações do Brasil praticamente dobrou na última década, saltando de 22,8% no primeiro semestre de 2000 para o recorde de 43,4% (US$ 38,7 bilhões) em igual período deste ano. O aumento é atribuído à forte demanda da China por commodities como ferro e soja, que juntas representam 25% de todas as vendas brasileiras ao exterior.
A CIA tem cada arma: umas mais letais que as outras
Concordo em que eliminar opositores com mísseis faz parte de seu repertório habitual, na Bolívia ou no Afeganistão, mas matar por métodos, digamos, ridículos, isso eu ainda não tinha ouvido falar.
MORALES. MÍSSIL E SOMATIZAÇÃO!
1. Na semana passada, um foguete disparado de um caça quase atingiu a nova aeronave presidencial boliviana e Evo Morales foi acometido de repentino desarranjo intestinal. Esses acontecimentos estão sendo interpretados pelo Governo boliviano como tentativas de assassinato do Presidente da República por parte de elementos do próprio MAS. Os Ministros da Presidência e de Governo estão sendo convocados pela Câmara dos Deputados para prestarem esclarecimentos a respeito.
2. Roy Moroni Cornejo, Deputado da oposição, reconheceu que, ”embora o entorno presidencial seja muito imaginativo, não se poderia descartar a possibilidade de o Chefe de Estado estar dormindo com o inimigo”, “pois alguém muito próximo do Governo pretende saborear o poder do primeiro Mandatário”. Morales, em conferência de imprensa, admitiu que, ao longo da vida, nunca adoecera daquela maneira.
Brasil: crescer ou nao crescer, that's a "non" question

Um dos meus trabalhos mais recentes publicados (não sei se já havia anunciado aqui, mas agora a ilustração de primeira página ficou mais aceitável):
979. “Como (Não) crescer a 7%”
Espaço Acadêmico (ano 10, n. 110, julho 2010, p. 73-83).
Relação de Originais n. 2155.
Fidel Castro: sugestão de pronunciamento
Paulo Roberto de Almeida
(apenas um intermediário...)
Fidel Castro apareceu: asi no más, sem anunciar previamente a ninguém, resolveu conceder uma entrevista televisionada, imediatamente repercutida por todos os meios de comunicação do mundo: a CNN, imparcial, explicou que era sua primeira aparição “pública” em mais de um ano, e que ele exercitou seu esporte favorito, atacar os Estados Unidos. Sim, Fidel Castro responsabilizou os EUA pelo ataque com míssil que afundou o barco de patrulha da Coréia do Sul, provocando a morte de 46 marinheiros. Claro, os EUA, segundo o comandante (alguns dividem esta palavra), tinham interesse em sabotar o processo de paz entre as duas Coréias, continuar com o clima de guerra e assim assegurar a continuidade de sua presença na região. O imperialismo não recua diante de nada para conseguir seus intentos malévolos. Bem, tem gente que até aceita essa hipótese, mas eu não preciso dizer quem é...
Prefiro me dedicar a outro exercício: sugestões de cartas, ou pronunciamentos. Já fiz dois, dirigidos a seu irmão, Raul Castro, mas parece que ele não me atendeu. Sequer deve ter lido, e se leu não pretende, obviamente, seguir meus conselhos. Na última recomendação, eu sugeria a Raul Castro a ser menos Ceausescu e mais Gorbatchev, mas parece que ele não tem intenção de mudar de comportamento (tendo em vista, aliás, que Gorby perdeu seu emprego em pouco tempo, e os irmãos Castro pretendem continuar eternamente no poder, não se sabe bem como...).
Não seja por isso, eu (e vários outros companheiros) sou brasileiro e não desisto nunca. Mesmo que minhas recomendações não sejam seguidas, que eu seja uma nulidade no jogo do poder mundial – no máximo eu poderia me habilitar a disputar concursos mundiais de pingue-pongue e de mahajong – vou ainda assim fazer minha sugestão, desta vez dirigida ao próprio Fidel, já que ele parece em forma outra vez. Eu sugiro que ele faça um pronunciamento ao povo cubano, nestes termos.
Pronunciamento televisionado de Fidel Castro ao povo cubano (no único canal oficial existente, embora a CNN também possa retransmitir e os cubanos vão ver com suas antenas clandestinas)
Pueblo de Cuba, hermanos, compañeros, ciudadanos...
Estamos próximos de mais um 26 de Julho, nossa data máxima, a que comemora o início da revolução popular contra a ditadura de um caudilho do imperialismo, o coronel Fulgencio Batista.
Naquele 26 de julho de 1953, eu e meus companheiros fizemos o assalto ao quartel de Moncada, dando início com isso à nossa luta contra um regime ditatorial e submisso ao imperialismo ianque. Não fomos felizes naquele primeiro assalto, ao contrário: os mercenários da ditadura conseguiram debelar o nosso intento e acabamos na prisão. No julgamento que me condenou pouco depois eu disse aquelas palavras que ficaram na memória do nosso povo: “a História me absolverá”.
De fato, ela me absolveu, assim como fui beneficiado com uma anistia do próprio ditador, e pude me refugiar no México e dar início à luta uma segunda vez. Quase fomos derrotados novamente: dos companheiros que desembarcaram do pequeno bote Granma, hoje o glorioso título de nosso único jornal, poucos se salvaram para buscar refúgio na Sierra Maestra e dali continuar a luta de guerrilhas até a derrota final das forças da ditadura.
Vivemos então dias majestosos e inesquecíveis: pela primeira vez em sua história multissecular, Cuba, que tinha sido colônia espanhola até quase o alvorecer do século 20, e que depois virou uma colônia americana por quase sessenta anos, podia colocar-se de pé e começar a construir seu destino soberanamente. As promessas eram de libertação da ditadura, da dominação imperialista, do analfabetismo, justiça e liberdade para todos, a começar pelos campesinos e pelo povo pobre. Fomos saudados entusiasticamente em nosso desfile triunfal pelas ruas de Santiago e de Havana, todos estavam conosco, e os que se opunham buscaram o exílio ou se aliaram ao imperialismo para tentar derrotar-nos.
Fomos bem sucedidos na primeira tentativa de insurreição contra o poder popular, na invasão dos vermes de Miami, mercenários a soldo da CIA e esbirros da ditadura derrotada. Naquele mesmo momento, Cuba dava início à construção do socialismo, tarefa que tem nos ocupado pelos últimos cinquenta anos.
Pois bem, caros cidadãos de Cuba, o que eu tenho a dizer hoje a vocês é tão histórico quanto meu pronunciamento de abril de 1961, quando anunciei que Cuba era socialista, que estávamos fazendo a opção pelo marxismo-leninismo e que essa decisão era irrevocável. Muitos não concordaram, e o ritmo de saídas acelerou-se em poucas semanas. Todos os que não concordaram com a nossa opção se foram de nossa ilha e pudemos assim construir o socialismo com os que permaneceram.
Durante todo esse tempo, fomos sabotados pelo imperialismo – que manteve um duro embargo contra nossa economia – e não tivemos a compreensão de todos, mas persistimos em nosso ideal. Naquela oportunidade, o socialismo ocupava quase dois terços das terras emersas e grande parte da população mundial. Parecia destinado a enterrar o capitalismo, como vaticinou uma vez um líder da União Soviética, nosso principal aliado e financiador até seu pouco glorioso desaparecimento, vinte anos atrás. Pensávamos que estávamos no sentido da História, e nisso, posso agora confessar, nos enganamos redondamente.
O socialismo foi um sonho, um sonho nobre, em favor do qual tivemos de praticar algumas injustiças – fuzilamentos, restrições à liberdade dos burgueses, controle dos meios de comunicação e dos movimentos políticos e sindicais – mas que eram considerados incômodos passageiros, até atingirmos a situação ideal: um sistema igualitário, o homem novo, a abundância e um futuro radioso para todos.
Vejo agora, caros cidadãos, que nos enganamos terrivelmente, eu me enganei, e continuei enganando vocês durante muito tempo, quanto a que poderíamos conseguir realizar aquilo que pretendíamos, aquilo que tínhamos lido nos livros do marxismo-leninismo, e que nos prometiam um futuro brilhante na via do socialismo.
Não é verdade: o sistema não funciona. E não funciona por um motivo muito simples, independentemente da falta de liberdade e do monopólio político no partido: faltam estímulos às pessoas para produzir e se enriquecerem. Como decretamos a propriedade coletiva dos meios de produção – e de tudo o que fosse patrimônio nacional, inclusive as habitações individuais das famílias cubanas – ninguém mais se sentia responsável pelo aumento da produção, pela criação de riquezas, pela acumulação de novos meios de produção. Todos queriam trabalhar o menos possível e esperar que o Estado, esse monstro insaciável, lhes desse tudo aquilo que necessitavam para viver. Muitos se acomodaram na mediocridade, mas os mais empreendedores foram embora, simplesmente foram buscar em outras terras os meios de enriquecer que lhes faltavam em Cuba.
Os companheiros chineses se aperceberam disso muito rapidamente, mas aquele ditador asiático que respondia pelo nome de Mao Tsé-tung não fez nenhuma reforma prática enquanto ocupou o poder. Todos sabem, hoje – embora os companheiros do Partido Comunista Chinês não o confessem de público – que as loucuras econômicas de Mao foram responsáveis pela morte direta ou indireta de milhões de chineses, sem mencionar o sofrimento adicional trazido pela Revolução Cultural, que simplesmente destruiu as universidades chinesas. Os companheiros chineses se aplicaram nos últimos 30 anos a construir um capitalismo de Estado, e nisso eles tiveram sucesso. Não creio que possamos fazer o mesmo em Cuba.
Caros irmãos, cidadãos,
A situação de penúria, de sofrimento, de falta de liberdade em nossa ilha já alcançou limites insuportáveis, até mesmo para mim, que gozo de uma condição relativamente privilegiada. Não tenho mais aonde ir, nenhum país me estende convites, só me restaram uns poucos ditadores espalhados pelo mundo, alguns em situação ainda pior do que a nossa. Por isso minha decisão irrevocável, agora tomada, só pode ser uma.
A partir de agora, Cuba volta a ser uma república democrática. O Partido Comunista anuncia que não mais detém o controle absoluto do Estado e do país. Serão organizadas eleições livres, todos poderão participar, de acordo com sua vontade organizada em partidos autônomos do Estado, e os eleitos comporão uma Assembléia Constituinte que decidirá soberanamente sobre o nosso futuro, fazendo tabula rasa dos últimos cinquenta anos. Os cubanos decidirão o que querem ser e como vão organizar a economia. Vocês são livres para se manifestarem e se organizarem como desejarem.
Eu devia isto a vocês, e só tenho um pedido a fazer: deixem-me morrer com dignidade em minha terra, sem ter de ir para algum exílio indesejado. Não quero para mim aquilo que obriguei outros a adotar: o caminho do exílio e da reconstrução de suas vidas. Eu não tenho mais vida para construir, apenas um nome para preservar na História. E não quero entrar para a História como esses outros ditadores que depois são vilipendiados nos livros. Qualquer que seja o julgamento da História, gostaria de terminar desta maneira: como o líder máximo que resolveu, ainda que tardiamente, desfazer todos os erros que cometeu ao longo da vida, e pedir sinceramente perdão pelos sofrimentos que causei.
Cidadãos de Cuba, levantem-se, vocês estão livres. Que a História os proteja!
Fidel Castro Ruz (com uma pequena ajuda de um escriba intrometido).
(13.07.2010)
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Cartas anteriores:
“Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo”
Via Política (17.08.2009).
“Nova carta a Raul Castro: seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu”
Via Política (16.11.2009).
Logorreia presidencial: nunca antes neste pais, nunca antes na historia de qualquer pais
Pode-se dizer que a popularidade reflete o empenho do personagem em se fazer ouvir.
Como deve ser confortável falar e saber que os outros vão repercutir o que se está falando, qualquer que seja o tema, qualquer que seja a gramática...
Um fenômeno, sem dúvida...
Discursos de Lula:
2003: 361
2004: 320
2005: 286
2006: 258
2007: 336
2008: 330
2009: 313
2010: 180 (até junho)
Entrevistas de Lula:
2003: 5
2004: 19
2005: 36
2006: 98
2007: 176
2008: 213
2009: 272
2010: 103 (até junho)
Nuclear Brazil: the case of nuclear submarine
Paulo Roberto de Almeida
Why Does Brazil Need Nuclear Submarines?
By Paul D. Taylor - USNI (US Naval Institute)
PROCEEDINGS MAGAZINE
Issue: June 2009 Vol. 135/6/1,276
Brazil's developing nuclear program shows its increasing global prominence.
The National Defense Strategy the government of Brazil released on 17 December 2008 provides little plausible military justification for the recently accelerated nuclear-powered submarine project.1 The document stresses that this traditionally peaceful country has no problems with its neighbors, acknowledging that it has been difficult, therefore, to find a rationale for building forces and training for defense. Brazil had not previously attempted to elaborate an explicit national defense strategy, so why does it need nuclear submarines? The answer is apparently more related to political and economic factors associated with grand strategy than to requirements of naval strategy.
Brazil's new national-defense concept lays out three maritime goals—sea denial, control of maritime areas, and power projection—and includes several references to the development of nuclear submarines. But it does nothing to provide an adequate naval justification of the enormous investment the project will require. President Luiz Inacio Lula da Silva has argued that Brazil "will have a nuclear submarine because it is a necessity for a country that not only has the maritime coast that we have but also has the petroleum riches that were recently discovered in the deep sea pre-salt layer."2
On 10 July 2007, the president announced plans to fund the construction of a nuclear-powered attack submarine. This project promised to fulfill a longstanding Brazilian aspiration for which considerable investments had already been made. The navy had begun a program in 1979 to build a dual-use nuclear reactor suitable to propel a submarine and generate electricity for civilian consumers. At the same time, the service undertook a fuel cycle project to give Brazil autonomy in the enrichment of uranium, which it produces domestically.
Speaking later to the chiefs of the armed forces, President Lula commented that when he took office in 2003, the country lacked credit, unemployment was high, and Brazil seemed to have lost hope of becoming a great nation. Since then the gross domestic product had grown, the budget had expanded, unemployment had decreased, and three decades of military downsizing could now be reversed.
In fact, Brazil's GDP grew at the rate of 5.7 percent in 2007, driven significantly by booming exports of minerals and foodstuffs to China and India. Those exports figured among the more than 95 percent of Brazilian foreign trade transported by maritime means. The nation has also recently enjoyed the euphoria of massive new offshore discoveries of oil and gas that could make it a major exporter of petroleum within a decade.
Lula asserted that Brazil's economy had developed enough for him to present a plan of recuperation for the armed forces and for the defense industry. He said he did not know any country desiring respect that did not have well-equipped and ready armed forces. Additionally, Brazil has a long-established, responsible, and peaceful nuclear power program that includes several plants.
The Submarine Project
The Brazilian program features three distinct phases. The first concentrates on the nuclear-fuel cycle. Currently, yellow cake produced in the first step of uranium enrichment is shipped from Brazil to Canada for processing into hexafluoride gas, which then goes to Europe for enrichment by a British-Dutch-German consortium. Admiral Julio Soares de Moura Neto, chief of the Brazilian Navy, estimates that his country will be able to complete the full uranium enrichment process by 2010.
Construction of a naval reactor, the second phase of the program, is under way. The government has committed some U.S. $525 million to be spent in installments over eight years.
The final phase is construction of the submarine itself. Despite Brazil's established record in shipbuilding, leaders recognize that the sophisticated technology required for a nuclear-sub hull will have to be acquired abroad. In pursuit of partners, the ministers of defense and of strategic affairs, Nelson Jobim and Roberto Mangabeira Unger, along with Admiral Moura Neto, have traveled to France and Russia to discuss cooperation on manufacturing in Brazil.
Reportedly, the Russians expressed a willingness to sell a submarine, but they disappointed Brazilian officials by refusing to share the technology to build one. Visiting Brazil in December 2008, French President Nicolas Sarkozy signed a "strategic partnership" agreement providing for transfer of technology to Brazil for construction there of four diesel-powered Scorpine attack submarines as well as joint development of the hull for a nuclear submarine. An announcement by the Brazilian Ministry of Defense emphasized that Brazil would develop all of the nuclear part. The naval component of the bilateral agreement was reported to be worth U.S. $5.7 billion.
Strategically Speaking
President Lula's comments about past difficulties in funding military modernization during economic lows reveal only one aspect of the history. Civilian political leaders, especially those of the center left including the President's Workers' Party, were not anxious to provide resources to the same military establishment that suspended democratic practices and ruled Brazil from 1964 until 1985. Many politicians still smart from that period's physical and political abuses.
Defense Minister Jobim explained to the Chamber of Deputies that nuclear submarines would be used to protect offshore oil platforms. Carrying the point further, Vice President Jose Alencar said that Brazil needed to "produce and employ nuclear submarines in its naval fleet to protect riches located on the continental shelf and discourage any aggressive foreign actions in Brazilian waters."3 He explained that the country was unprepared to patrol adequately an area of more than 4 million square kilometers, and that nuclear submarines would give the country a deterrent capability that it lacked. Alencar specifically rejected rumors in the press that the 2008 U.S. reactivation of it 4th Fleet, which had aroused intense concern in some circles, had figured in the Brazilian decision to acquire nuclear submarines. While Brazil's overall relations with the United States have been cordial, and the two countries enjoy a strong commercial relationship, fear of domination from the North is an enduring feature of the Brazilian political psyche.
The main characteristics that distinguish nuclear submarines from other naval platforms are their ability to stay submerged for long periods and to operate over great distances without refueling. So natural questions are whether these attributes are relevant to the proposed missions, and whether investment in these submarines is a cost-effective approach. Four missions seem possible: the two stated purposes plus two potential uses.
Protection of Offshore Oil Platforms: Submarines are not well suited to this task. Other options include surface ships and maritime patrol aircraft. Lula recently underscored the importance of constructing patrol boats for this purpose. A fleet of small, fast surface ships could be built for the price of a single nuclear submarine and would also present a visible deterrent to anyone attempting to jeopardize Brazilian control of the platforms. A submarine could be effective in collecting evidence of criminal activity against underwater installations, including oil pipelines, should that be a problem.
Patrolling the Exclusive Economic Zone: A nuclear submarine, with its stealth and speed, could exemplify the defense minister's concept of mobility by permitting an actual presence instead of merely "being able to be present."4 However, these attributes are not unique to nuclear submarines, which carry high costs for acquisition, training, and maintenance. Recognizing that the sub would be but one element of coastal patrols, Admiral Moura Neto described it as useful because it can "remain permanently under the water; only the human factor restricts it in terms of crew fatigue, etc."5
This mission has received high priority, as described by Rear Admiral Antonio Ruy de Almeida Silva. When he was director of the Brazilian Naval War College, he wrote:
The Navy has actually strongly defended a larger participation in the effort to protect the maritime area under national jurisdiction, suggestively named Amazania Azul (the Blue Amazon). Keeping control of this maritime area is a big challenge that grows as sea-related activities, connected to the exploitation of living and non-living resources, increase as happens with oil exploration in the Brazilian continental shelf.6
The term Blue Amazon picks up on the long-standing Brazilian preoccupation that a paucity of state presence in the vast Amazon Basin (the Green Amazon) represents a vulnerability to foreign exploitation. The navy has sought to make the parallel point that maritime domain awareness must be increased, along with other measures to defend Brazil's maritime space. The National Defense Strategy lays great stress on stronger defense of the Amazon region, both inland and offshore.
Deterrence of a State Threat: The stealth of nuclear submarines suits them ideally to the deterrence mission, a fundamental assumption of the National Defense Strategy according to Defense Minister Jobim. But there has been little, if any, public discussion of a threat that needs to be deterred in the way that might involve a nuclear submarine. Aside from its combat division fighting with the U.S. Fifth Army in Italy in 1944, the country has not engaged militarily with a foreign country in well over a century. Submarines are ideal platforms for defending against other subs, and a case could be made that Venezuela's recent agreement with Russia to acquire modern diesel submarines presents a hypothetical threat to Brazil during the next 40 to 50 years, the projected lifespan of new nuclear submarines.7 Latin American leaders have been reticent to discuss any anxieties about their neighbors. Not surprisingly, Jobim categorically denied that Brazil would start an arms race with Venezuela.
Power Projection and Protection of Sea Lines of Communication: Whatever has motivated Brazil's program, its success would give the country a strategic capability to project power to help friends or deter adversaries anywhere in the world. In current foreign policy, aspirations to use this capability at long distances from the coast are not evident. But the ability to do so could influence the thinking of a future government. One contingency that could be developed would be greater naval involvement with African countries bordering the South Atlantic, which participate in the South Atlantic Peace and Cooperation Area. This was created in 1986 at Brazil's initiative, through a resolution in the United Nations General Assembly.
Additional Likely Considerations
Technological Development and Military Exports: The new document identifies restructuring of Brazil's defense industry as a principal objective, calling it "inseparable from national development strategy." President Lula linked this to the nuclear submarine program, possibly hoping to replicate the success of Embraer (Empresa Brasileira de Aeronautica SA). That company developed an aircraft industry that adapted military technology to civilian uses. In 1969, the air force led the effort to create a company to build and export its military-designed Bandeirante commuter aircraft. In that case, "An aeronautics industry was justified as necessary to facilitate the continued growth and expansion of the nation. An aerospace complex was a sign of industrialization and international prestige."8
Recognizing a symbiosis between military and industrial development, the Franco-Brazilian agreement on submarine construction provides for the transfer of French technology to not only the navy but also Brazilian firms, of which there are 30 supplying 36,000 items. It also envisions construction of a shipyard dedicated to the manufacture of nuclear submarines, and a new base for their use.
The defense minister emphasizes the strategic importance of a capable national-defense industry with autonomous technology. Discussing the new strategy, the minister of strategic affairs, Mangabeira Unger, said Brazil "wants to build a state-of-the-art weapons industry, one that would become an active exporter of arms."9 That aspiration recalls the not-so-distant past. Arms exports have declined in recent years, but between 1975 and 1998, Brazil exported U.S. $963 million worth of military aircraft, along with armored vehicles valued at $1.7 billion. The nuclear submarine project, because of the dual-use nature of its reactor development, has been touted as holding the promise of enhancing both civilian and military exports.
Politics, Respect, and the United Nations Security Council: The new defense strategy can also be seen as a step in the implementation of an increasingly proactive foreign policy. One objective of this policy is to increase Brazil's international influence by fulfilling a longtime aspiration: a permanent seat on the U.N. Security Council. Since reform of the United Nations came to the fore under the sponsorship of Secretary General Kofi Annan in the early 2000s, Brazil emerged as a prime candidate, along with Germany, India, and Japan, albeit without the veto right of the original five permanent (P-5) members. All the new candidates made the case that their countries had far greater prominence than when the United Nations was founded. But in each case, regional rivals have posed objections to their selection as permanent members of the UNSC.
Opposition to Brazil's candidacy has come from Mexico, Chile, and Argentina. Argentina has proposed a permanent seat for Latin America, the occupancy of which would be rotated among regional countries.10 Brazil's leadership of the U.N. stabilization mission in Haiti was seen as a way to burnish its claim. Like Brazil, Argentina and Chile have participated in U.N. peacekeeping operations, but Mexico has not.
If permanent membership were increased to include Brazil, Germany, India, and Japan, the Security Council would encompass all of the 9 largest national economies in the world. India and Brazil represent the second and fifth most populous countries respectively. Together with the P-5, the 9 countries rank among the 12 with the largest military expenditures. Of the candidates, only India has nuclear weapons. The P-5 all have nuclear ballistic-missile and attack submarines in their force structures. India reportedly plans to lease a nuclear attack submarine from Russia while it builds another.
Brazil's acquisition of a nuclear submarine capability would add an argument to the case that it so far exceeds the strength of its regional neighbors that it is a natural choice for a permanent seat. Speaking on the Day of the Sailor, Lula said that with the sub, "in a few years, Brazil will be one of the select group of nations that possess this indispensable capability for effective deterrence."11 Brazil's sponsorship of the recently formed South American Defense Council can partly be seen as a diplomatic attempt to enhance its influence with neighbors. Figure 1 shows the relative strength of the countries' major attributes at this time.
A Challenge to Brazil: Building a nuclear submarine represents a substantial capital investment for a country still facing major developmental challenges, in which about a third of the population lives below poverty level. Expenditures for acquisition of the sub would be only the beginning of outlays, with the cost of educating the cadre required to develop and staff the vessels following closely.
Operation and maintenance would also pose challenges, especially in light of the considerable expense of maintaining safety in a nuclear propulsion plant. On this point, other countries with subs have an interest in the safety of Brazil's, because an accident could adversely affect the way nuclear propulsion is perceived elsewhere. On the other hand, the country has a positive record to date of handling nuclear power, as mentioned previously.
The resource requirements of the Brazilian program will compete with other priorities in its military. Some well-placed commentators have noted that the major powers resolved in the second half of the 20th century to reject conventional submarines and opt for nuclear propulsion. Yet, they argue, "conventional submarines are cheaper, more economical to maintain and operate, quieter and more versatile than nuclear submarines."12
In a democracy, those wishing to justify an expensive new public program employ all relevant arguments. For Brazilians, technological advancement and export potential are strong considerations, just as they are in the United States. The appealing symbolism of acquiring cutting-edge technology to enhance a country's international prestige is understandable and normal.
The fact that the implications of nuclear subs for Brazilian maritime strategy are not clear at this time does not mean that they will not be important in the future. Such platforms and especially their ability to project the lethal power of torpedoes and cruise missiles anywhere in the world would outflank other Brazilian naval capability and could provide the impetus for an aggressive program to acquire complementary assets to support a strategy of global power projection.
This development would reflect—or could drive—a major reformulation of Brazil's grand strategy. Conversely, the nuclear submarines could end up as symbols of a technological achievement without a correspondingly significant change in military strategy. That symbolism could be reminiscent of the world tour of Theodore Roosevelt's Great White Fleet, which heralded the arrival of a nascent power with the prosperity and industrial prowess to operate globally. Although a nuclear submarine is stealthy by nature, its surfacing in a distant port could rapidly signal Brazil's achievement of a new level of prominence.
Notes:
1. Ministerio da Defesa, Estrategia Nacional de Defesa, www.defesa.gov.br, 2008. Translations of documents from the Portuguese are by the author.
2. Luiz Inacio Lula da Silva, Discurso durante almoco de fim de ano dos Oficias-Generais da Marinha, Exercito e Aeronautica, 11 December 2007.
3. "Alencar defende submarinos nucleares para 'desencorajar aventuras' contra soberania: Vice-presidente diz que embarcacoes sao necessarias para proteger as riquezas brasileiras," Eleicoes 2008 19 August 2008.
4. Nelson Jobim, "A Defesa na Agenda Nacional: O Plano Estrategico de Defesa," Interesse Nacional, Ano 1, Edicoo 2, July-September 2008.
5. Quoted in Claudio Camargo, "Em busca da soberania," Isto e, 28 January 2008.
6. Rear Admiral Antonio Ruy de Almeida Silva, "The New Threats and the Brazilian Navy," Revista da Escola de Guerra Naval, English edition, June 2006, p. 37.
7. "Brazil's Pursuit of a Nuclear Submarine Raises Proliferation Concerns," WMD Insights, March 2008, p. 2.
8. Patrice Franko-Jones, The Brazilian Defense Industry (Boulder, Colo.: Westview Press, 1992), p. 118.
9. Bradley Brooks, "Brazil Spending $160 Million on Nuclear Propelled Sub," Associated Press, 29 August 2008.
10. Virgilio Caixeta Arraes, "O Brasil e o Conselho de Seguranca da Organizacao das Nacoes Unidas: Dos Anos 90 a 2002," Revista Brasileira de Politica Internacional, July-December 2005.
11. "Em mensagem, Lula defende necessidade de submarino nuclear," O Estado de Sao Paulo, 11 December 2008.
12. Defesa Brasil, Meios Futuros para a Marinha do Brasil, Parte 6, Submarinos, defesabr.com/Mb/mb_meios futuros_Parte6.htm, accessed 8 May 2008.
Sources: Stockholm International Peace Research Institute, Yearbook 2008: Armaments, Disarmament and International Security; www.SinoDefence.com; www.nti.org; Jane's Online, "World Navies Equipment in Service Inventory"; www.royal-navy.mod.uk; www.navy.mil; CIA, The World Factbook.
Ambassador Taylor, a retired foreign service officer and Navy veteran, is a senior strategic researcher in the Center for Naval Warfare Studies of the U.S. Naval War College. He appreciates the research assistance and invaluable insights provided by Captain George P. Norman, former commanding officer of the USS Maine (SSBN-741).
Werner Baer faz palestra em Brasilia sobre economia brasileira
será debatida em curso da Escola de Altos Estudos
A Escola de Altos Estudos para a Cooperação Acadêmica Internacional em Nível de Pós-Graduação Stricto Sensu do Ceppac realiza entre 19 e 24 de julho de 2010 o curso A Economia Brasileira em Perspectiva Histórica. O convidado é o professor do Departamento de Economia da Universidade de Illinois Werner Baer.
As atividades ocorrerão junto ao Décimo Congresso Internacional da Brazilian Studies Association (Brasa), que será realizado entre 22 e 24 de julho no Centro de Convenções e Eventos Meliá 21.
Voltado para estudantes de pós-graduação de Ciências Sociais e Economia e a funcionários de governos, o curso da Escola de Altos Estudos do Ceppac terá uma etapa de aulas presenciais, que serão realizadas na UNB entre 19 e 24 de julho, e uma etapa de aulas a distância, desenvolvidas através da plataforma Moodle, da UNB.
Gratuito, o programa poderá ser aproveitado como uma disciplina de quatro créditos, com 44 horas de aulas presenciais e 24, à distância. As atividades presenciais serão transmitidas também ao vivo pela internet.
A avaliação considerará a frequência, com exigência de no mínimo 80% de participação, e um trabalho final. O melhor trabalho integrará a publicação do curso. As inscrições poderão ser feitas no site do Ceppac, e as vagas são limitadas.
Ao realizar esse curso, o Ceppac dá continuidade a sua busca constante por promover o debate interdisciplinar entre cientistas de destaque nacional e internacional que tem contribuições relevantes para as Ciências Sociais no Brasil e na América Latina. A vinda de Werner Baer para ministrar aulas na Escola de Altos Estudos do Ceppac atende ainda aos objetivos do projeto Altos Estudos da CAPES.
Werner Baer
O professor Werner Baer, PhD em Economia por Harvard, trabalha na Universidade de Illinois e é reconhecido internacionalmente por sua profunda contribuição para a compreensão da história econômica brasileira. Seus trabalhos são fundamentais para se entender o Brasil a partir de uma perspectiva de sua história econômica.
A obra desse economista tem influenciado gerações de cientistas sociais brasileiros. Suas pesquisas sobre economia internacional, com foco na América Latina e especialmente em pesquisas sobre o Brasil, tem contribuído para entender as características socioeconômicas do nosso país e da região, assim como o papel do Brasil no contexto latino-americano.
Um dos aspectos originais do trabalho de Baer é a ligação que ele faz entre heranças históricas, sociais e institucionais do passado brasileiro e seu envolvimento direto e permanente com as questões mais atuais das políticas econômica e públicas.
Werner Baer é reconhecido também por seu papel na estruturação do Instituto de Pesquisas Econômicas da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, por seu incentivo à criação de inúmeros cursos de mestrado no país na década de 1970 e por seu trabalho em instituições brasileiras, como FGV/RJ, FIPE/USP, IPEA e IBGE.
O curso A Economia Brasileira em Perspectiva Histórica tem financiamento da Capes e os apoios de CEPPAC.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Brics e emergentes: uma visao menos complacente
¿Quién pide cuentas a los emergentes?
VICENTE PALACIO
El País, 03/07/2010
La reciente cumbre del G-20 en Toronto ha venido a confirmar la dificultad del llamado ascenso pacífico de las nuevas potencias. Esta idea, acuñada por los ideólogos chinos, se ha extendido a los otros BRIC, Brasil e India, aunque menos a la vieja Rusia. La bricmanía de Goldman Sachs ha hecho el resto, señalándoles como el destino prioritario para los inversores, los mismos, por cierto, que hoy especulan contra el euro. Pero los poderes emergentes siempre han entrado en la historia como elefantes en cacharrería, y esta vez no es una excepción. Ahora, los países más débiles -y los ambiciosos como Irán- se pegan a sus talones, mirando de reojo a Washington. Y con Europa asoma un conflicto sobre valores civilizatorios en asuntos como la reducción de emisiones de CO2, el libre uso de Internet o la cooperación con regímenes autoritarios.
En realidad, ninguno de los BRIC tiene ya nada de "emergente": tras sostener desde hace una década el despilfarro del Occidente rico, y a pesar de sufrir castigos ocasionales, este sistema viciado les ha proporcionado enormes reservas y ha multiplicado su inversión y su comercio. ¿Qué problema tenemos hoy? Que estos cuatro gigantes económicos aún son, en relación a la gobernanza global, enanos políticos, y hasta, probablemente, un poco gorrones. Agazapados tras el desgaste moral de norteamericanos y europeos, ninguno de ellos quiere pagar la factura que corresponde a su peso, escudándose tras sus enormes retos internos. Se puede comprender la simpatía en favor del grupo como tal: al fin y al cabo, juntos serían capaces de propiciar un cambio de un orden injusto. Pero la cuestión es: ¿un cambio hacia dónde? Con una mayor representación en el FMI o en el Banco Mundial, o con la regulación del sistema financiero, no se pone fin a los males del mundo; tan solo se establece una base más coherente para negociar las políticas, y Toronto nos ha mostrado que lo que falta es precisamente coordinación. Cuando a los BRIC se les mira de cerca y por separado, surgen serias dudas sobre si realmente quieren cambiar las cosas -o sea, el vínculo actual entre ciudadanos y gobernantes, multinacionales y gobiernos, medio ambiente y crecimiento- más de lo que le gustaría a Obama o a la baronesa Ashton.
El déficit de responsabilidad que padece el actual sistema internacional se refleja no solo en la negligencia de los ricos, sino también en el modo en que los BRIC se saltan normas internacionales en cooperación al desarrollo o en impacto medioambiental; en cómo en Naciones Unidas bloquean sanciones contra regímenes que arrollan derechos elementales o en cómo se relacionan con sus vecinos desde Georgia a Pakistán, desde Taiwan a Venezuela.
El mismo doble rasero que mantiene a norteamericanos y europeos sobrerrepresentados en el FMI o el Banco Mundial absuelve el dudoso comportamiento de los cuatro. A pesar del anuncio chino de flexibilidad cambiaria, su infravalorado yuan va a continuar erosionando durante un tiempo la economía global; lo mismo hará el programa nuclear indio con el Tratado de No Proliferación. Pocos se preguntan cuánto gastan los BRIC en misiones de mantenimiento de la paz; tampoco se sabe bien a qué juega Brasil en energía nuclear, ni qué beneficios reportaría al mundo tenerle como miembro permanente del Consejo de Seguridad y con derecho de veto.
Curiosamente, en sus encuentros de Ekaterinburgo y Río de Janeiro, no se vio a los manifestantes denunciar, por ejemplo, el encarcelamiento de activistas en China o Rusia, o la gestión de la biosfera del Amazonas. Hasta ahora, ser miembro de este club ha salido gratis. Sin embargo, la algarada altermundista en las calles de Toronto -antes reservadas al G-8 o al foro de Davos- podría resultar una premonición de lo que les espera a los BRIC en el inmediato futuro: un escrutinio implacable por la sociedad civil globalizada, tal vez incluso represalias. Suele decirse que todo el planeta debería poder votar a las elecciones presidenciales de EE UU; ahora quizá pidamos lo mismo para los demás.
Parece claro que las estrategias para salir de la crisis -ajustes fiscales, impuestos a la banca- no pueden ser las mismas para todos. Sin embargo, resulta preocupante la poca voluntad de los BRIC para someter a estándares internacionales sus desequilibrios económicos, sus carencias sociales, o su gigantesca banca, que figura ya en los puestos de cabeza mundiales.
De nuevo, en Toronto se ha pasado por alto un pequeño detalle: que la especulación a través de los derivados financieros se retroalimentaba con la inversión hacia los mercados emergentes: ¿acaso los BRIC no jugaban en el mismo casino? Lo importante ahora es no incurrir más en las malas prácticas del pasado, y no otorgar cheques en blanco a nadie. Precisamente cuando en EE UU y Europa se avanza hacia una mayor transparencia, ex ricos y ex emergentes deben promover una responsabilidad compartida en lo regional y lo global, al tiempo que se reforman los organismos multilaterales. No hay otro camino para evitar una eclosión multipolar, para poder llegar a resultados en la próxima cita de noviembre en Corea del Sur, y más allá. Lo mejor sería que el club BRIC pase a la historia cuanto antes, y una actitud constructiva en el G-20 sirva de ejemplo para los que vienen detrás: Suráfrica, Turquía, México.
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Niall Ferguson vs Paul Krugman (not this kind of battle)
Niall Ferguson: Sorry Krugman, We're Not In Keynes' World Anymore
Joe Weisenthal | Jul. 12, 2010, 11:07 AM | 1,436 | comment 13
One of the biggest intellectual rivalries today is between Harvard historian Niall Ferguson and Princeton economist Paul Krugman on the subject of austerity vs. stimulus.
In this interview, Ferguson's message to Krugman is simple: We're not in Keynes' world. The US is already starting off from a position of massive debt, and thus the value of levering up and spending is minimal, while the risks of a crisis in the years ahead is significant.
Read more: http://www.businessinsider.com/niall-ferguson-sorry-krugman-were-not-in-keynes-world-anymore-2010-7#ixzz0tUela4cx
See:
http://www.businessinsider.com/niall-ferguson-sorry-krugman-were-not-in-keynes-world-anymore-2010-7
Custo Brasil, protecionismo impedem acordos comerciais
Curioso que todos falam do famoso custo Brasil, mas ninguém cobra do nosso empresariado uma ação decisiva a esse respeito. Como tem o custo Brasil, então isso é desculpa para continuar protecionista, recusar acordos, etc.
Talvez o governo tenha um preconceito ideológico a favor de acordos com países pobres, o que não deixa de ser preconceito.
Qualquer preconceito é estúpido, inclusive o de pretender não ter preconceito.
Como alguém muito bem posicionado no assunto já disse: "todo mundo tem ideologia", o que é uma desculpa esfarrapada para continuar manifestando a sua...
Paulo Roberto de Almeida
Acordo comercial tem embaraço no Brasil
Sergio Leo
Valor Econômico, 12/07/2010
O possível acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia está de volta à lista de assuntos que nunca chegam ao fim que prometem. O retorno é boa oportunidade para desmistificar certos mitos, ideias que passam por verdades estabelecidas, mas não se sustentam ao se conhecer a realidade das negociações comerciais.
Dois mitos de fôlego são os de que: 1) preconceitos ideológicos do governo inviabilizam acordos comerciais com países ricos; e 2) a Argentina é o grande obstáculo às negociações para derrubada de barreiras de sócios comerciais do Brasil.
A Argentina exagera em seu viés protecionista, mas, em algumas negociações comerciais, age incentivada por associações empresariais brasileiras. A diplomacia brasileira, de fato, tem prevenção contra certos modelos de acordo dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - nações como os EUA e as principais potências europeias.
São acordos que vão além de comércio, enrijecem regras de propriedade intelectual e impedem prioridade a fornecedores nacionais nas compras do governo, entre outros pontos - questões de política econômica, não de mera ideologia, que merecem debate.
Há freios mais fortes às negociações do Brasil no próprio setor privado brasileiro. As associações empresariais são o veículo preferencial para o acionamento desses freios, mas elas agem somente quando se aproxima do fim alguma negociação importante - como foi o caso, anos atrás, do acordo quase assinado entre Mercosul e Conselho de Cooperação do Golfo (CCG). O acordo, que abriria mercado em uma das regiões de maior crescimento de
importações do mundo, era prioridade do governo, mas foi bloqueado por pressão da indústria química nacional, que teme os planos de produção petroquímica futura dos árabes.
Curiosamente, o acordo com o CCG é apontado entre as prioridades na agenda para os candidatos à Presidência formulada pela Confederação Nacional da Indústria (menosprezando o papel da Abiquim, a associação do setor químico, em bloquear a negociação). O documento da CNI cita, coerentemente, a necessidade de acordo com grandes mercados, como EUA e União Europeia.
Os EUA, porém, até hoje não aprovaram no próprio Congresso o acordo de comércio assinado com a Colômbia em 2006; não reúnem condições políticas para aceitar os pleitos do Brasil em agricultura e setores competitivos, como aço ou suco de laranja.
O caso dos europeus é ainda mais interessante. Embora entidades heterogêneas, como a CNI e a Fiesp, anunciem interesse no acordo com os europeus, uma variedade de associações empresariais batalha nos bastidores contra a negociação. Quem conversa com integrantes da Eletros, por exemplo, sabe que os fabricantes brasileiros de eletroeletrônicos querem mercado aberto com países na América do Sul e alguns emergentes, mas pedem distância dos europeus, americanos ou asiáticos. A Abiquim também se manifesta discretamente contra o acordo com a UE, assim como a Abinee, da indústria eletroeletrônica, e o Sindipeças, de peças e partes automotivas.
Até a Anfavea, do setor automotivo, está dividida na questão e, antes interessada no acordo, perdeu entusiasmo com as negociações. Os empresários sabem que são injustos quando atribuem apenas ao governo a timidez em acordos assinados recentemente com países como Índia e África do Sul. Os empresários do setor automotivo são os primeiros a apontar problemas em abrir o mercado brasileiro aos indianos e sul-africanos. O setor
têxtil endossa as prevenções contra a Índia.
As pressões que se manifestam quando o governo está prestes a concluir negociações não raramente incluem ameaça de bloquear o acordo no Congresso, se assinado. A última dessas manifestações foi feita pela Abit, do setor têxtil, que, em carta a vários ministérios, se recusa a fazer qualquer concessão para fazer andar a negociação em curso com o Egito, com países de menor desenvolvimento relativo como Camboja, com os países da chamada rodada São Paulo da Unctad, como Coreia do Sul ou Índia. Com a UE, pede firmeza na exigência de regras de origem, demanda legítima.
Submetidos a juros recordistas, ao câmbio valorizado em relação ao dólar, a concorrentes com preços artificialmente baixos, a tributos escorchantes e infraestrutura deficiente, não é por tara protecionista que empresários nacionais rejeitam os acordos (ainda que alguns busquem nas barreiras comerciais a solução para problemas de eficiência). A CNI cita estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), segundo o qual a melhoria da infraestrutura nacional garantiria vantagens maiores que um acordo de comércio com grandes parceiros. Uma queda de 10% no custo de transportes aumentaria em 30% as vendas aos EUA; uma queda de 10% nas tarifas elevaria
as exportações para lá em apenas 1,9%.
O necessário debate sobre o empenho comercial brasileiro exige que sejam deixados de lado os mitos, relevantes apenas para uso em palanque, e se discutam as verdadeiras questões que bloqueiam as negociações de comércio do Brasil com o mundo.
Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
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Addendum para tornar transparente o comentário do referido repórter à minha nota inicial, e os meus comentários em retorno:
2 Comentários
Sergio Leo disse...
Não, meu caríssimo diplomata e professor, o repórter, eu, não acha nem escreveu que o governo não tem preconceitos contra acordos nem que o protecionismo argentino seja um mito. Releia a coluna do repórter com menos preconceito, e verá que ele diz coisa distinta: não é a Argentina o único nem o principal obstáculo a acordos comerciais e não são os preconceitos do governo o que inviabiliza acordos com países ricos.
Segunda-feira, Julho 12, 2010 8:52:00 PM
Blogger Paulo R. de Almeida disse...
Então ficamos assim combinados:
1) O reporter não tem preconceito a favor do governo;
2) O governo não tem preconceitos contra países ricos e não tem preconceitos contra acordos comerciais em geral, com países ricos em particular;
3) Os empresários brasileiros, tão ativos e preparados, não tem preconceitos contra a competição em geral, a da China e dos países ricos em particular;
4) Os mesmos empresários tampouco tem preconceitos contra receber dinheiro favorecido do governo e sobretudo receber proteção especial do governo contra concorrência desleal, sobretudo quando ela é apenas concorrência;
5) Este escrevinhador não tem preconceitos contra preconceitos, e não tem restrições a governos e acordos comerciais em geral, com países ricos ou pobres em especial, sobrando só os do mesmo bloco, que são excepcionais, e podem praticar protecionismo a vontade;
6) O Brasil é um país sem preconceitos. Por isso mesmo, ele pode criar cotas para empresários, para negros, e outras minorias desfavorecidas, os empresários sendo apenas uma minoria favorecida, mas que não deixa de ser minoria...
Paulo Roberto de Almeida
Segunda-feira, Julho 12, 2010 11:14:00 PM
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Se ouso acrescentar mais uma pequena nota, seria esta:
O governo não tinha preconceitos contra a Alca: ele apenas desejava implodi-la, e conseguiu, vangloriando-se do fato depois em diversas ocasiões, pela boca de suas autoridades mais consagradas, a partir do presidente.
Não se tratava de preconceito, apenas oposição a um acordo que seria catastrófico para o Brasil, segundo o diagnóstico antecipado de seus ideólogos mais respeitáveis. Eles já sabiam que a Alca representaria o fim da soberania e da autonomia do Brasil para estabelecer, definir e implementar políticas públicas em geral e setoriais de comércio e indústria em particular.
Mas, isso não era preconcento. Apenas antevisão, premonição, certez de que a Alca seria um desastre para o Brasil.
Não era preconceito, era um pré-conceito, ou seja, um conceito formado antes.
O governo é um visionário, e encontra repórteres para justificar e explicar essas coisas pouco ideológicas.
Como disse uma vez o presidente do Bank of England a um economista:
"You are not here to tell us what to do, but to explain to us why we have done it."
Norman Montagu, cited by Liaquat Ahmad, Lords of Finance, p. 233.
All is said.
Paulo Roberto de Almeida
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Novo Addendum em torno de um debate essencial, para o jornalismo e a diplomacia
Transcrevo primeiro, for sake of transparency, novo comentário do jornalista ao meu comentário acima alinhado:
Sergio Leo disse...
Podemos combinar outra coisa, embaixador:
1) o diplomata tem preconceito já expressado neste blogue contra o repórter, que considera "linha auxiliar do governo". O repórter não concorda com essa avaliação e acredita que ela impede ao diplomata ler com isenção suas colunas e discutir o verdadeiro ponto expressado nelas.
O repórter tem preconceito, sim, contra explicações simplistas e definitivas, como a de que são os preconceitos do governo que impedem acordos com os países ricos. Já no governo FHC, sem preconceito, aparentemente, o governo brasileiro se insurgia contra propostas essenciais da Alca, como os dispositivos em propriedade intelectual, as determinações em compras governamentais e as disposições sobre solução de controvérsias, que, diziam as autoridades anteriores a Lula, não eram aceitáveis pelo Brasil. (Dispostitivos aceitos pela Colômbia, por exemplo, mas que não ajudam a tirar do limbo no Congresso americano o acordo de livre comércio assinado com os colombianos e até hoje não aprovado em Washington _ certamente não por causa do sabido preconceito acima do rio Grande contra cucarachos).
Dizer que o que impede um acordo Mercosul-União Europeia seriam os preconceitos do governo petista não faz jus à reconhecida inteligência do diplomata e professor, respeitada pelo repórter, que entende e encoraja seu papel no debate político e partidário nacional _ ainda que nesse papel revele preconceitos insultuosos contra o jornalista.
A coluna crítica o protecionismo do empresariado nacional, embora manifeste respeito as posições do setor privado e admita que o Custo Brasil desequilibra as condições de competição com a concorrencia estrangeira. Mas o preconceito do diplomata e professor contra o repórter não o deixa reconhecer isso, a ponto de atribuir ao jornalista a afirmação de que não haveria protecionismo entre empresários _ enquanto a coluna diz explícitamente que empresarios pedem barreiras para proteger suas ineficiencias.
O repórter, sem preconceitos, aplaude a vocação democrática do diplomata e professor, que publica o contraditório nestes comentários. E aceita combinação num ponto: compartilha as restrições a políticas de cotas e endossa suas observações sobre o protecionismo no setor privado, que deveria trocar suas reivindicações de facilidades oficiais por pressão mais efetiva contra o Custo Brasil.
Terça-feira, Julho 13, 2010 11:08:00 AM
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Agora, o diplomata-professor (talvez o inverso) vem novamente dizer que:
1) Credibilidade de informações e honestidade intelectual são duas qualidades essenciais aos jornalistas, aos professores, aos diplomatas. Nenhum deles conseguiria manter sua boa reputação dispensando qualquer grama de credibilidade e honestidade.
2) O professor-diplomata apresenta suas humildes desculpas se algo próximo da desconfiança e da subserviência pareceu transparecer de suas avaliações sobre as matérias do jornalista em questão. Não era essa a intenção, apenas a de exercer sua dose de ceticismo e de exame crítico sobre cada linha escrita sobre um governo que não preza muito essas qualidades, como revelado em inúmeros casos internos e externos.
3) Todos tem direito a exercer sua dose de anarquismo intelectual, o que é, aliás, uma atitude recomendável sobretudo para jornalismo, pois o Estado tem meios poderosos para construir sua verdade e defender suas razões (que muitas vezes não são nem de Estado, mas de pessoas).
4) O governo FHC nunca gostou da Alca, isso é público e notório, inclusive porque isso corresponde a um sentimento unânimo no Brasil, desde sempre: falou em livre comércio, somos contra, qualquer que seja a razão, só aceitável desde que seja a nosso favor...
5) Empresários estão submissos ao Estado, e pretendem continuar assim, e este por outro lado atende seus reclamos protecionistas.
6) A retirada dos APPIs do Congresso foi feita em dezembro de 2002, para atender aos reclamos do governo eleito, não necessariamente como iniciativa do governo FHC, causando assim desconforto e uma descortesia diplomática brutais entre os países parceiros nesses acordos, que não entenderam as razões do Brasil, senão como submissão a uma ideologia canhestra.
7) O principal fator de oposição aos acordos de investimento sempre foi essa ideologia difusa que faz com que o Brasil adore capitais estrangeiros, mas deteste capitalistas estrangeiros, se apoiando mais em empréstimos e financiamentos do que em investimentos diretos em toda a sua história, numa das demonstrações mais idiotas de nacionalismo econômico em vários continentes.
8) No caso da contraposicao Alca-UE, mais do que preconceito, existe ingenuidade, e uma inacreditável crença nas virtudes do modelo europeu, aliás manifestado até na constituição de um bizarro mecanismo redutor de assimetrias, como se o Brasil fosse a Alemanha do processo do Cone Sul.
AO fim e ao cabo, todas essas questões nos revelam apenas como o Brasil é um país de mentalidade atrasada e pouco preparado para crescer. OK, vamos continuar nos arrastando em direção da modernidade, que o progresso também é um fatalidade...
Paulo Roberto de Almeida (13.07.2010)
Questionario sobre o BRIC - Paulo R. Almeida
Questionário sobre o BRIC
Paulo Roberto de Almeida
Data da entrevista: 5 de maio de 2008
Ocupação do entrevistado: Diplomata e professor universitário
1) O conceito BRIC foi criado pelo Goldman Sachs para designar as potências, que segundo o relatório que eles elaboraram, serão as maiores em 2050. Você concorda que os quatro países que compõe o BRIC serão superpotências?
R: Não! Para ser mais preciso, apenas um dos BRICs, segundo esse estudo, se alçará à condição de primeira economia planetária, enquanto as outras três estarão em patamares diversos: será a China, supostamente à frente dos EUA a partir de 2040 se, por acaso, sua taxa de crescimento se mantiver num patamar razoável e a dos EUA continuar num ritmo moderado. As outras três ficarão atrás do Japão ou até da Alemanha. Supostamente, os quatro BRICs, conjuntamente, terão ultrapassado o G-6 do estudo – G-7 menos Canadá – em torno daquela data, mas isto não quer dizer que todas serão superpotências, uma vez que essa condição supõe uma capacidade de projetar poder externo que nem todas exibirão. Pode-se dizer que a Rússia e a China já são superpotências, detentoras de mísseis nucleares e alguma capacidade naval e aérea, mas não parecem dispor das mesmas condições de empreender grandes operações navais ou aerotransportadas como os EUA e a OTAN. Por outro lado, uma superpotência também dispõe de uma clara liderança tecnológica e certa dominação financeira, o que não parece o caso de nenhum dos BRICs.
2) Qual o caminho que o Brasil deve trilhar para que o Brasil possa acompanhar o crescimento dos outros países do BRIC?
R: Basicamente crescer a uma taxa sustentável e sustentada, o que significa manter uma taxa de investimento compatível com um nível razoável de crescimento. A atual taxa de investimento parece insuficiente para garantir isso. Por outro lado, a economia precisa ser capaz de desenvolver fontes próprias de inovação tecnológica, o que não depende unicamente da FBKF (formação bruta de capital fixo) e sim de uma cultura da inovação que ainda não está devidamente assentada nas instituições pertinentes, ou seja, empresas e universidades. Em outros termos, o governo precisa ser menos “extrator” de recursos do setor privado e participar dos investimentos produtivos – geralmente em infra-estrutura, educação e C&T --, assim como precisa reverter o processo de crescimento da carga fiscal, nitidamente em contradição com os requerimentos do crescimento. Isso significa uma profunda reforma fiscal – e não apenas tributária – com redução dos gastos correntes e aumento das alocações voltadas para a capacitação da mão-de-obra e educação da população em geral. Nenhum desses problemas tem a ver com o ambiente internacional – que ao contrário tem sido extremamente positivo com o Brasil – e sim com o ambiente interno.
3) Quais os empecilhos para o crescimento brasileiro?
R: Numa palavra: o Estado, ou seja, seu caráter predatório, extrator, obstrutor do direcionamento da poupança privada para o setor produtivo. Em detalhe, temos obstáculos sistêmicos ao crescimento – que são a elevada carga fiscal e o baixo volume de investimentos para as necessidades de crescimento – e elementos estruturais – que são o baixo nível de educação da população e a péssima infra-estrutura disponível. Temos ainda a visão introvertida das elites, que fazem com que o Brasil seja um país especialmente renitente a maior abertura externa, condição importante para modernizar a sua indústria e serviços e assim oferecer novas oportunidades de crescimento no contexto da economia global, onde estão hoje as maiores possibilidades de captação de recursos – capitais, know-how – para fins de desenvolvimento produtivo.
4) Por que é tão difícil para uma empresa brasileira se colocar como grande multinacional? O que deve ser feito para que isso mude?
R: Baixo grau de vinculação da economia brasileira à economia mundial e mentalidade introvertida dos próprios empresários. Ausência de mecanismos financeiros para a projeção externa dessas empresas, o que é válido no plano interno também, a despeito do apoio de uma agência pública como o BNDES. Poucos executivos possuem realmente os requisitos da internacionalização, sobretudo porque as universidades e outras escolas estão pouco conectadas com congêneres nos países desenvolvidos. Essas empresas foram, durante muito tempo, protegidas “contra” a competição externa, em vista de políticas públicas protecionistas e nacionalistas, ou basicamente introvertidas.
5) A Rússia tem realmente capacidade de se tornar tão grande quanto as projeções do Goldman Sachs mostram? O que a Rússia tem atualmente de superpotência e o que falta para ela?
R: Trata-se de uma potência nuclear, ou militar, e a esse título incorporada ao G-7, mas que carece de outras condições econômicas e tecnológicas para realmente liderar o mundo no sentido da interdependência ativa, em conformidade com a globalização. Ela tem muitos recursos naturais, alguns deles estratégicos, como petróleo e gás, mas tem uma população em declínio e condições de governança ainda deficientes.
6) A Índia tem uma população gigantesca e é a casa de grandes milionários, o que mais esse país tem a favor e o que ele tem contra seu crescimento?
R: A favor, uma inserção quase natural na globalização, graças à herança inglesa deixada pela antiga metrópole colonial, o que se manifesta no regime político democrático, no sistema jurídico “inglês” e em certas instituições universitárias. Uma diáspora indiana nos EUA permitiu fazer um link de negócios e de serviços com as empresas inovadoras desse país e associar mais estreitamente os indianos à economia global. De negativo, uma infra-estrutura pavorosa, uma população miserável, taxas de analfabetismo ainda enormes – o que a rigor não impede sua inserção na globalização – e um ambiente regulatório ainda negativo para os negócios de forma geral.
7) A China é hoje a fábrica mundial devido aos seus baixos custos? Essa posição é favorável para o país? E para o cenário mundial?
R: Certamente, para ambos. A principal vantagem comparativa, absoluta e relativa, da China, é sua grande população, daí a condição imbatível na produção de manufaturas de massa, especialmente eletrônicos, mas produtos industriais em geral. Isso é excelente para a China, elevando a qualificação profissional de sua população, trazendo renda e prosperidade para o país, e ainda melhor para o mundo, pois isso tem um efeito deflacionário, do contrário o custo de vida teria se elevado no plano mundial. Por outro lado, ela está fazendo um “favor” aos países avançados, ao obrigá-los a constantemente se elevar na escala tecnológica, ao dominar de modo quase absoluto as tecnologias disponíveis. Tudo isso é extremamente positivo para a economia mundial, ainda que possa “destruir” empregos nos países desenvolvidos (e em alguns intermediários, como o Brasil).
8) Como um país comunista chegou onde a China está hoje?
R: O comunismo foi um parênteses “passageiro” na história milenar da China, uma sociedade de grandes tradições culturais e científicas, uma grande economia, “temporariamente” diminuída por dois ou três séculos de decadência tecnológica e de dominação ocidental, atrasada ainda mais por um regime disfuncional como o socialismo centralizado, e agora operando uma volta em força para o centro da economia mundial, ainda que não totalmente de forma autônoma, na atual conjuntura. O comunismo foi um enorme atraso, embora um a mais, em dois ou três séculos de decadência contínua. A China está apenas recuperando o tempo perdido agora, da mesma forma que sempre fez nos períodos anteriores, isto é, de maneira autoritária, centralizada, imperial e despótica. O comunismo combina com a história secular da China, de governos centralizados e autoritários, sem respeito aos direitos humanos ou ao meio ambiente. Ou seja, a China continua fundamentalmente igual, mas agora incorporando tecnologia estrangeira, o que não era o caso anteriormente.
9) Não existe um acordo envolvendo os quatro países, um acordo assim pode vir a existir? Pode-se criar um bloco econômico BRIC?
R: Existem tentativas de criação de um grupo “diplomático” dos BRIC, out of this intellectual exercise made by Goldman Sachs. Ocorreram contatos diplomáticos, reuniões informais e até uma reunião formal de vice-ministros, preparando uma reunião formal de ministros do que pode ser o “lançamento” formal de um novo G-4, ou “the BRIC”. Trata-se provavelmente mais de impulso “narcisista” do que propriamente um grupo unido em torno de uma agenda comum, não fosse, talvez, o desejo inconfessado de contestar o “velho” G-7, do qual a Rússia faz parte, no G-8, mas numa posição que sempre foi “bizarra”, para dizer o mínimo. Cada um deles pode ter suas motivações peculiares para “opor-se” ao G-7, que pode ser o motivo mais evidente da constituição desse grupo, uma vez que não está visível, de imediato, que agenda comum “a favor” possa uni-los. Seria, de todo modo, um bloco bem mais político, ou diplomático, do que econômico, ainda que fundamentado no fato de que os quatro foram os “designados” – pela divina providência do Goldman Sachs – para “superar” o atual G-6.
10) Comparando-se os BRIC’s, qual a maior semelhança e qual a maior diferença entre os países?
R: São todos “emergentes”, ou seja, países de grande crescimento e de grandes possibilidades na economia mundial, mas como diferentes modos de inserção nessa economia. Dois grandes fornecedores de commodities, mas diferentes, como Brasil e Rússia – com commodities agrícolas e energéticos, respectivamente – e dois países voltados para as tecnologias inovadoras, como China e India, mas com diferentes capacitações nesses terrenos manufatureiros ou de serviços. De todos, o Brasil é inquestionavelmente o mais “capitalista” de todos, a despeito de suas deficiências regulatórias. Tambem, com a India, tem estruturas políticas formalmente democráticas, ainda que de baixa qualidade, tendo em vista o constante desrespeito à lei por parte das próprias autoridades. Sua taxa de corrupção pode não ser mais alta ou mais baixa do que os outros três, mas é certamente entranhada na máquina pública, como qualquer registro jornalístico poderia comprovar, mas essa característica parece ser igualmente partilhada pelos demais. Os outros três são potências nucleares reconhecidas, embora apenas Rússia e China sejam formalmente aceitas e “legitimadas” nessa categoria.
11) O que você tem a dizer sobre o BRIC?
R: Existem enormes diferenças estruturais, de dotação de fatores, de políticas públicas – macroeconômicas e setoriais – entre cada um deles, assim como eles ostentam agendas internacionais bastante dessemelhantes entre si, não sendo possível visualizar, prima facie, interesses comuns, a não ser, talvez, o já alegado “interesse” – mais presumido do que real, talvez – em contestar o poder das velhas potências (do G-7) para melhor assentar o seu próprio poder.
Mas esse tipo de “disputa” é irrelevante do ponto de vista de uma agenda positiva para o resto do planeta, ocupado em problemas de insegurança, de desenvolvimento deficiente em vários continentes – com pobreza disseminada em várias regiões – e as ameaças ambientais e de epidemias globais ainda remanescentes ou até crescentes.
Os BRICs dariam uma enorme contribuição ao mundo se pudessem apresentar agendas minimamente coincidentes sobre como resolver, ou pelo menos encaminhar, alguns desses problemas mais urgentes.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 maio 2008