O debate, já por si acrimonioso, promete continuar dividindo o país, criando aliás duas nações opostas: os defensores de cotas e seus opositores.
Triste destino para um país que se pretendia misturado, o fato de ter agora de dividir artificialmente sua população em "negros" e todo o resto, ou seja, os "não-negros", sendo que os primeiros, supostamente, totalizam mais da metade da população do país (isto segundo os dados da PNAD, já que 53% da população se auto-declararou "afro-descendente", pessoas que, obviamente, estão de olho nas cotas e outras facilidades oficiais, mesmo sem que anteriormente elas se considerassem negras ou afro-descendentes a qualquer título; agora elas o são, por oportunismo).
Caminhamos para o Apartheid, o que estimulará ainda mais o racismo, ainda que invertido.
Paulo Roberto de Almeida
Cotas: polarização continua
Marcelo Medeiros
Jornal da Ciência, 30.07.2010
O sistema de cotas deve ou não ser adotado nas universidades públicas do país? E por quê? As perguntas deram a tônica da sessão "Ciência em Ebulição" desta quinta-feira, penúltimo dia da 62ª Reunião Anual da SBPC
A favor da reserva de vagas estava o antropólogo José Jorge de Carvalho, da Universidade de Brasília (UnB), idealizador do sistema daquela instituição. De outro, Daltro José Nunes, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Enquanto o professor da universidade gaúcha embasava-se em afirmações de igualdade de competição entre indivíduos, apontando ser injusto oferecer condições favoráveis a uns e não a outros em um concurso público, Carvalho apontava a necessidade de reparação da opressão histórica à qual os negros brasileiros foram submetidos.
Para Nunes, o problema da desigualdade no acesso às universidades públicas é estrutural e não racial. Segundo ele, a diferença na qualidade da educação nas escolas públicas e privadas afeta a entrada no ensino superior. Caso ignorada, esta diferença poderia representar ameaças à excelência das universidades públicas. "Com as cotas, as universidades tendem, em média, a perder qualidade, pois alunos menos preparados tiram lugar de mais preparados", afirmou.
Logo, segundo ele, a questão deve ser debatida como provocador de política pública de melhoria da educação como um todo. "As cotas atacam o efeito [dessa falta de política] e não a causa. Os governos são os verdadeiros culpados, mas as universidades repassam a culpa para os indivíduos", argumentou.
Para o professor de informática, a função da universidade não deve ser reparar injustiças, mas formar bons profissionais, independente de classe social ou cor. "Não me interessa se meu médico é negro, branco ou índio, desde que ele seja bom", provocou.
Nunes não se furtou a apresentar uma solução para resolver o problema da entrada na universidade enquanto o acesso se torna universal. Para ele, o vestibular deveria dar lugar a um sistema de seleção baseado não no conhecimento de disciplinas básicas, mas na capacidade cognitiva do estudante. "Avaliaríamos o raciocínio para ver o quanto ele é capaz de apreender novos conteúdos e superar deficiências", explicou.
Carvalho, por sua vez, lembrou da importância da discussão do sistema de cotas para levantar a questão do acesso à universidade. "Os primeiros debates aconteceram em 1999, na UnB. As cotas geraram um forte debate sobre a inserção dos pobres no ensino superior, onde está a camada dirigente do país", afirmou.
O antropólogo se mostrou contrário a soluções uniformes e defendeu a pluralidade de sistemas, desde que voltados para a garantia de um mínimo de vagas para negros. "A questão é complexa, mas o foco da discussão deve ser o debate", ressaltou. Isso porque, em sua análise, argumentos favoráveis à inserção por níveis de renda e origem escolar apenas esconderiam o racismo estrutural existente na sociedade brasileira e, principalmente, nas universidades.
Apresentando dados que mostram que em nenhuma instituição de ensino superior pública a quantidade de professores negros ultrapassa 1% do total, o professor foi além do tradicional discurso em prol de ações afirmativas na graduação. "Precisamos de cotas na pós. Ou por acaso os negros não chegam à pós-graduação?", questionou. "Temos um passivo muito grande a compensar".
Mostrando que o tema ainda está distante de ser consensual no país, a plateia se dividiu em críticas e elogios. Alguns presentes contaram histórias pessoais para ilustrar a complexidade do tema. As principais questões faziam referências a definições de cor, reparação histórica e injustiça, mas os professores reafirmaram seus argumentos.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
domingo, 1 de agosto de 2010
EUA: plano de recuperacao funcionou, segundo economistas
Two economists say in new paper that TARP worked
By Ezra Klein
The Washington Post, Sunday, August 1, 2010; G01
TARP is horribly unpopular. The stimulus is pretty unpopular. But does that mean they were bad policies? Not according to a new paper by Mark Zandi, Moody's chief economist and a former adviser to both the McCain and Obama campaigns, and Alan Blinder, a Princeton economist who has served as vice chairman of the Federal Reserve's Board of Governors.
Zandi and Blinder offer the first comprehensive estimate of our full response to the crisis: Absent the financial rescue and the stimulus, "GDP in 2010 would be about 6 ½ percent lower, payroll employment would be less by some 8 ½ million jobs, and the nation would now be experiencing deflation." I spoke to both men last week about how they got to their estimates, why the economy is so bad if the response was so good, and where we go from here. What follows are edited excerpts from the two interviews.
Q. This paper is heavily based on the model Moody's uses for economic forecasting. But these models have come under some criticism: Some say that they're just abstract equations and that you can get whatever answer you want by tweaking the numbers. So what is this thing? Who uses it?
Mark Zandi: I developed the model almost 20 years ago. I'm an economic consultant. I've got clients in many large, private-sector institutions. And we provide macroeconomic forecasts for them. The model has been used by banks to stress test themselves. Bank of America, J.P. Morgan, SunTrust and others used it to run scenarios on their solvency under different conditions. The business community uses it to figure out how to account for macroeconomic changes in their own budgeting and planning.
And how is it built? What are the numbers based on?
Zandi: I've gone back to every recession and depression and looked at the policy efforts to address the downturn, and try to at least capture the different ways in which policymakers have tried to generate a recovery. And what we've done in the Great Recession, some of it is unique, but most of it has been done many times before. Tax cuts, emergency unemployment benefits, aid to state government: These are things we've done every single time.
Alan Blinder: Different models do give different answers. That's why we say we welcome others to try and estimate this. But you can't make anything come out that you want. These models are fitted to real data. They're not just made up. They describe how the U.S. economy worked in the past.
And the model says that what we did this time broadly worked. In particular, it says the financial rescue worked. In other words, George W. Bush, Hank Paulson and Ben Bernanke deserve some credit for what they did in the immediate aftermath of the crisis.
Zandi: Absolutely! I think TARP was incredibly important. The mistake was for Congress to vote it down initially. That eviscerated confidence and took the equity market down to a whole other level and exacerbated our problems. By that time, the damage was so serious that the intent of TARP had to shift. Originally, it was about buying bad assets, which would've been more graceful. But because of the "no" vote and the damage it did, they had to make TARP a source of capital for the financial system. The capital purchase program was ultimately the one key thing that was necessary for stabilizing the financial system and the economy.
So why is TARP so horribly unpopular then?
Blinder: People feel it was successful in ways they're not happy with: That is, the bankers are making a lot of money now. That part of the bailout cost the government less than nothing, as the government is turning a profit on it. But in some moral sense, these bankers did not deserve to be saved. The problem was that if they went down with the ship, we were going down, too. The right way to think about the banker benefits was collateral damage in a war to save the economy. Had we not done that, things would've been horribly worse for everybody. So I don't hesitate. To me, it's not close.
Do you think it was well-designed?
Blinder: TARP should've come with more strings attached -- a lending requirement, for instance. If banks were going to get this money, they should've had to lend with it. I would've put restrictions on banks' ability to pay dividends, and tougher restrictions on executive pay. I also think it was a very big mistake for Secretary Paulson to force this money on banks that didn't want it. I can hardly say his theory without laughing: He wanted to reduce the stigma of taking it. The market knew who was strong, and the strong banks, like JP Morgan, went to the media and loudly said that the government is forcing this down our throats.
And what about the stimulus? Famously, the Obama administration predicted it would keep us beneath 8 percent unemployment. That obviously didn't happen. Does that mean it was a failure?
Zandi: The original forecast was just a bad forecast. The unemployment rate was already at 8 percent by the time stimulus passed. We just didn't know it because the data lags. What really matters is what the unemployment rate would've been if we didn't do stimulus, and in my view, it would clearly have been higher.
If the response to the crisis was effective, then why do we seem to have stalled out in recent months? Since May, the recovery has been lagging, hiring hasn't been very strong, and there's a general sense that the economic momentum we saw earlier in the year has dissipated a bit.
Blinder: Well, I know why it is, though it pushes the question back one level: Given the growth of GDP and the amount of spending that's come online, the number of jobs created has been puny. That's mitigating the usual virtuous circle where spending creates jobs and those people spend and that creates jobs and so on. That process is going on, but not at the level we expected. That pushes the question back to how come there's not more hiring. My speculation is that it's doubts about the durability of the recovery and firms not wanting to hire more permanent workers until they're more confident this is for real.
So what would you do going forward?
Blinder: I would do two things, both aimed at jobs. I would do the so-called new jobs tax credit on a much bigger and better scale than the HIRE Act, which was a baby step. The second thing I would do is a WPA-like program of temporary, direct, public hiring. People could work in parks, in maintenance, the many paper-shuffling jobs there are in government. You could save a lot of state and local jobs that would otherwise be terminated.
Zandi: If the unemployment rate was peaking at 7 percent, I'd say no worries, no need for more stimulus. But I'm nervous about 9.5 percent unemployment when you have a zero percent interest rate and a huge deficit. If we're all wrong and we go into recession, we've got no policy response. So I think it's prudent to err on the side of doing too much rather than too little. And we can do that. We're not Greece or Britain or Germany. We have a 3 percent 10-year Treasury yield. We have always solved our fiscal problems, and the world has faith we will solve our future ones. So we have the resources.
By Ezra Klein
The Washington Post, Sunday, August 1, 2010; G01
TARP is horribly unpopular. The stimulus is pretty unpopular. But does that mean they were bad policies? Not according to a new paper by Mark Zandi, Moody's chief economist and a former adviser to both the McCain and Obama campaigns, and Alan Blinder, a Princeton economist who has served as vice chairman of the Federal Reserve's Board of Governors.
Zandi and Blinder offer the first comprehensive estimate of our full response to the crisis: Absent the financial rescue and the stimulus, "GDP in 2010 would be about 6 ½ percent lower, payroll employment would be less by some 8 ½ million jobs, and the nation would now be experiencing deflation." I spoke to both men last week about how they got to their estimates, why the economy is so bad if the response was so good, and where we go from here. What follows are edited excerpts from the two interviews.
Q. This paper is heavily based on the model Moody's uses for economic forecasting. But these models have come under some criticism: Some say that they're just abstract equations and that you can get whatever answer you want by tweaking the numbers. So what is this thing? Who uses it?
Mark Zandi: I developed the model almost 20 years ago. I'm an economic consultant. I've got clients in many large, private-sector institutions. And we provide macroeconomic forecasts for them. The model has been used by banks to stress test themselves. Bank of America, J.P. Morgan, SunTrust and others used it to run scenarios on their solvency under different conditions. The business community uses it to figure out how to account for macroeconomic changes in their own budgeting and planning.
And how is it built? What are the numbers based on?
Zandi: I've gone back to every recession and depression and looked at the policy efforts to address the downturn, and try to at least capture the different ways in which policymakers have tried to generate a recovery. And what we've done in the Great Recession, some of it is unique, but most of it has been done many times before. Tax cuts, emergency unemployment benefits, aid to state government: These are things we've done every single time.
Alan Blinder: Different models do give different answers. That's why we say we welcome others to try and estimate this. But you can't make anything come out that you want. These models are fitted to real data. They're not just made up. They describe how the U.S. economy worked in the past.
And the model says that what we did this time broadly worked. In particular, it says the financial rescue worked. In other words, George W. Bush, Hank Paulson and Ben Bernanke deserve some credit for what they did in the immediate aftermath of the crisis.
Zandi: Absolutely! I think TARP was incredibly important. The mistake was for Congress to vote it down initially. That eviscerated confidence and took the equity market down to a whole other level and exacerbated our problems. By that time, the damage was so serious that the intent of TARP had to shift. Originally, it was about buying bad assets, which would've been more graceful. But because of the "no" vote and the damage it did, they had to make TARP a source of capital for the financial system. The capital purchase program was ultimately the one key thing that was necessary for stabilizing the financial system and the economy.
So why is TARP so horribly unpopular then?
Blinder: People feel it was successful in ways they're not happy with: That is, the bankers are making a lot of money now. That part of the bailout cost the government less than nothing, as the government is turning a profit on it. But in some moral sense, these bankers did not deserve to be saved. The problem was that if they went down with the ship, we were going down, too. The right way to think about the banker benefits was collateral damage in a war to save the economy. Had we not done that, things would've been horribly worse for everybody. So I don't hesitate. To me, it's not close.
Do you think it was well-designed?
Blinder: TARP should've come with more strings attached -- a lending requirement, for instance. If banks were going to get this money, they should've had to lend with it. I would've put restrictions on banks' ability to pay dividends, and tougher restrictions on executive pay. I also think it was a very big mistake for Secretary Paulson to force this money on banks that didn't want it. I can hardly say his theory without laughing: He wanted to reduce the stigma of taking it. The market knew who was strong, and the strong banks, like JP Morgan, went to the media and loudly said that the government is forcing this down our throats.
And what about the stimulus? Famously, the Obama administration predicted it would keep us beneath 8 percent unemployment. That obviously didn't happen. Does that mean it was a failure?
Zandi: The original forecast was just a bad forecast. The unemployment rate was already at 8 percent by the time stimulus passed. We just didn't know it because the data lags. What really matters is what the unemployment rate would've been if we didn't do stimulus, and in my view, it would clearly have been higher.
If the response to the crisis was effective, then why do we seem to have stalled out in recent months? Since May, the recovery has been lagging, hiring hasn't been very strong, and there's a general sense that the economic momentum we saw earlier in the year has dissipated a bit.
Blinder: Well, I know why it is, though it pushes the question back one level: Given the growth of GDP and the amount of spending that's come online, the number of jobs created has been puny. That's mitigating the usual virtuous circle where spending creates jobs and those people spend and that creates jobs and so on. That process is going on, but not at the level we expected. That pushes the question back to how come there's not more hiring. My speculation is that it's doubts about the durability of the recovery and firms not wanting to hire more permanent workers until they're more confident this is for real.
So what would you do going forward?
Blinder: I would do two things, both aimed at jobs. I would do the so-called new jobs tax credit on a much bigger and better scale than the HIRE Act, which was a baby step. The second thing I would do is a WPA-like program of temporary, direct, public hiring. People could work in parks, in maintenance, the many paper-shuffling jobs there are in government. You could save a lot of state and local jobs that would otherwise be terminated.
Zandi: If the unemployment rate was peaking at 7 percent, I'd say no worries, no need for more stimulus. But I'm nervous about 9.5 percent unemployment when you have a zero percent interest rate and a huge deficit. If we're all wrong and we go into recession, we've got no policy response. So I think it's prudent to err on the side of doing too much rather than too little. And we can do that. We're not Greece or Britain or Germany. We have a 3 percent 10-year Treasury yield. We have always solved our fiscal problems, and the world has faith we will solve our future ones. So we have the resources.
Uma lagrima para... um grande economista
UM SENHOR ECONOMISTA.
Direto do obituário da FOLHA DE S. PAULO, com pesar, postamos a morte nesta semana do excepcional DIONÍSIO DIAS CARNEIRO(1945-2010) - Mentor de grandes economistas
Por 30 anos Dionísio Dias Carneiro deu aulas no Departamento de Economia da PUC-Rio, que ajudou a criar.
Formou alunos que hoje fazem parte do primeiro time da economia brasileira, como Gustavo Franco, Eduardo Loyo e Ilan Goldfajn.
Nas palavras do ex-aluno e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga: " Foi um grande mentor, um brasileiro com visão pública capaz de pensar os temas mais importantes para o país ".
Formado em economia pela UFRJ e considerado um dos grandes macroeconomistas do Brasil, Carneiro era conhecido por análises competentes e equilibradas.
Era sócio-diretor da Galanto Consultoria e um dos fundadores do Instituto de Estudos em Política Econômicada Casa das Garças.
O instituto é um centro de estudos formado por economistas da PUC-Rio destinado ao debate de temas da política econômica nacional e internacional.
Para Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, era um dos principais membros da geração de economistas que revolucionou o ensino de pós-graduação em economia no Brasil.
Além da PUC-Rio, foi professor também da UnB e da FGV e vice-presidente da Finep, Financiadora de Estudos e Projetos do governo federal.
Atuou como conselheiro e consultor de empresas e era membro do Conselho de Administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
Morreu ontem, aos 64, no Rio de Janeiro, após sofrer um derrame e ter descoberto um tumor no cérebro. Era viúvo e deixa três filhos e uma neta.
Direto do obituário da FOLHA DE S. PAULO, com pesar, postamos a morte nesta semana do excepcional DIONÍSIO DIAS CARNEIRO(1945-2010) - Mentor de grandes economistas
Por 30 anos Dionísio Dias Carneiro deu aulas no Departamento de Economia da PUC-Rio, que ajudou a criar.
Formou alunos que hoje fazem parte do primeiro time da economia brasileira, como Gustavo Franco, Eduardo Loyo e Ilan Goldfajn.
Nas palavras do ex-aluno e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga: " Foi um grande mentor, um brasileiro com visão pública capaz de pensar os temas mais importantes para o país ".
Formado em economia pela UFRJ e considerado um dos grandes macroeconomistas do Brasil, Carneiro era conhecido por análises competentes e equilibradas.
Era sócio-diretor da Galanto Consultoria e um dos fundadores do Instituto de Estudos em Política Econômicada Casa das Garças.
O instituto é um centro de estudos formado por economistas da PUC-Rio destinado ao debate de temas da política econômica nacional e internacional.
Para Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, era um dos principais membros da geração de economistas que revolucionou o ensino de pós-graduação em economia no Brasil.
Além da PUC-Rio, foi professor também da UnB e da FGV e vice-presidente da Finep, Financiadora de Estudos e Projetos do governo federal.
Atuou como conselheiro e consultor de empresas e era membro do Conselho de Administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
Morreu ontem, aos 64, no Rio de Janeiro, após sofrer um derrame e ter descoberto um tumor no cérebro. Era viúvo e deixa três filhos e uma neta.
Economia da droga: o lado da demanda
O grande, enorme, consumidor de drogas no mundo, os Estados Unidos, tem conduzido, desde os anos 1970, basicamente uma luta de retaguarda contra esse mal que consome o país: a chamada supply-side drug economy, ou seja, o combate aos centros produtores. Ora, como reconheceria qualquer economista iniciante, enquanto houver demanda, ricamente abastecida, haverá centros produtores, qualquer que seja o nível de esforço militar para suprimir essa oferta.
O livro abaixo retraça alguns aspectos da economia da droga nos EUA.
Paulo Roberto de Almeida
Drug of Choice
By ROBERT PERKINSON
The New York Times Review of Books, July 30, 2010
COCAINE NATION: How the White Trade Took Over the World
By Tom Feiling
351 pp. Pegasus Books. $27.95
The Drug Enforcement Administration Museum and Visitors Center may be America’s most uninspiring attempt at war commemoration. Its low-budget displays, stuffed into a sterile building near the Pentagon, strive for a good-versus-evil story line but exude uncertainty. Snapshots of officers atop piles of impounded narcotics fail to convey the urgency of battle. Confiscated drug paraphernalia showcase wily ingenuity as much as social menace. But across the Potomac, next to Congressional Cemetery, rises a more fitting tribute to the “war on drugs”: Washington’s city jail, through which 18,000 inmates pass each year, 89 percent of them black and three-quarters of them incarcerated for nonviolent offenses. With its X-shaped towers surrounded by razor wire, the sprawling complex devours resources but, most criminologists agree, does comparably little to protect the public. It stands as a monument to punitive government bloat.
Now four decades old, America’s drug war, initiated in its modern form by Richard Nixon, has burned through $1 trillion and helped make the United States the most locked-down country on earth. Yet victory still recedes from view. In 1970, some 20 million Americans had experimented with illegal drugs; by 2007, 138 million had. While drug purity has increased, street prices over the long term have dropped — precisely the opposite trajectory promised by drug warriors. Small wonder that a growing number of skeptics, from George Will to George Soros, have called for a serious change of course.
With a new regime in Washington, led by a president who admits to having used cocaine in his youth and a drug czar who rejects martial metaphors, this is a good time to look back on America’s first “war without end” and its pre-eminent target, as the documentary filmmaker Tom Feiling does in “Cocaine Nation.”
An impassioned and wide-ranging if occasionally jumbled survey of “the white trade” and its enemies, Feiling’s book (published last year in Britain as “The Candy Machine”) begins with the extraction of the ancient coca leaf’s most potent alkaloid, cocaine, in the mid-19th century. Possessing wondrous qualities — a pharmaceutical company boasted that cocaine could “make the coward brave, the silent eloquent, and render the sufferer insensitive to pain” — the product swept the globe as an additive to medicine, wine (Ulysses S. Grant was an early quaffer) and, of course, Coca-Cola, whose red and white colors, Feiling writes, pay homage to the Peruvian flag.
This initial cocaine craze petered out in the first half of the 20th century, in the wake of pharmacy regulation, drug control protocols and consumers’ second thoughts. But another, larger wave rose in the 1970s, as hedonists from Hollywood to Wall Street turned cocaine into “the Champagne of drugs,” as The New York Times declared in 1974. Because most users of the stimulant never became addicted, and because they had “upper-class cachet,” Feiling notes, its resurgence was at first greeted with a shrug by government. Gerald Ford’s White House observed that cocaine “does not usually result in serious social consequences, such as crime, hospital emergency room admissions or death.”
But when suppliers introduced a down-market product, crack cocaine, in the 1980s — “cocaine for poor people,” as one dealer described it to Feiling — social panic ensued. Crack is pharmacologically identical to powder cocaine, but its smokable rocks produce quicker, more intense highs (and harder falls). Attracting legions of users in decaying urban centers, it contributed to property crime, child neglect, homicidal turf battles and, not least, political reaction. Brandishing a bag of crack in the Oval Office, the first President Bush called illegal drugs “the gravest domestic threat facing our nation.” No-knock police raids and mandatory minimum sentencing followed. The drug war became total war, overstuffing jails and exacerbating racial inequality but failing to create a “drug-free America.”
This domestic tale of destruction has been well chronicled by journalists, social scientists and addicts-turned-memoirists. What sets Feiling’s book apart is his analysis of how America’s insatiable appetite for narcotics and its zealous determination to quash those cravings have spread misery and violence across the globe.
During cocaine’s postwar renaissance, mafiosi based in Cuba met demand in the United States, the world’s largest cocaine market. But after the revolution, coca capitalists dispersed, chartering new organizations, establishing new labs and supply lines, and demonstrating remarkable adaptability in response to law-enforcement pressure. Production shifted from Peru to Bolivia to Colombia, and is now shifting back to Peru. Snuffed out in one area, cocaine surges in another.
Feiling vividly describes the supply side of the cocaine business, which, he argues, “thrives on the poverty not just of individuals and communities, but of governments.” In Colombia, which remains the world’s leading producer of cocaine despite the $5 billion in anti-narcotics and counterinsurgency aid the United States has fed into the country since 2000, Feiling profiles campesinos in the rural Putumayo district whose primary source of income is coca, although they receive relatively little for their crops. In a region where markets are distant, roads are poor and the prices for legal produce like yucca and plantains are low, the coca farmers “become slaves of the mafia,” a Colombian congressman tells Feiling — the rural correlates of low-level street dealers in America who risk death and imprisonment to earn “roughly the federal minimum wage.” At the top of the cocaine hierarchy, drug barons make millions, but their careers tend to be short, their fortunes soaked with blood. Because of the violence perpetrated by traffickers and insurgents, and the more pervasive violence committed by right-wing paramilitaries and the government, Colombia’s population of internally displaced people ranks second only to Sudan’s.
As radar surveillance has pushed smuggling routes from the sky and sea to the land, the drug war’s front lines have moved to Mexico, where trafficking-related violence has claimed more than 22,000 lives since 2007. Although the Mexican government’s latest offensive may yet constrict supply, curtail corruption and reduce rather than provoke carnage, the length and complexity of the United States-Mexico border (and the money to be made breaching it) presents a daunting challenge. “Americans consume roughly 290 metric tons of cocaine a year,” Feiling writes, a load that “could be carried across the U.S.-Mexican border in just 13 trucks. Instead, it seeps in in thousands of ingenious disguises.”
Although Feiling doesn’t soft-pedal the harm of drug dependence — to addicts, mainly, but also to their families and communities — he argues convincingly that the remedy promoted most aggressively by the United States has proved far worse than the disease. As an alternative, he develops a lengthy brief for a solution he admits stands little chance of implementation: legalization. There would be costs, he acknowledges, including, perhaps, wider experimentation and addiction, but he contends that restrictions on marketing, elevated vice taxes and a proliferation of treatment beds instead of jail cells could hardly fail more spectacularly than has prohibition. Hard as it is to imagine, the least ruinous solution to the white scourge may be the white flag of surrender.
Robert Perkinson is the author of “Texas Tough: The Rise of America’s Prison Empire.”
A version of this review appeared in print on August 1, 2010, on page BR21 of the Sunday Book Review.
O livro abaixo retraça alguns aspectos da economia da droga nos EUA.
Paulo Roberto de Almeida
Drug of Choice
By ROBERT PERKINSON
The New York Times Review of Books, July 30, 2010
COCAINE NATION: How the White Trade Took Over the World
By Tom Feiling
351 pp. Pegasus Books. $27.95
The Drug Enforcement Administration Museum and Visitors Center may be America’s most uninspiring attempt at war commemoration. Its low-budget displays, stuffed into a sterile building near the Pentagon, strive for a good-versus-evil story line but exude uncertainty. Snapshots of officers atop piles of impounded narcotics fail to convey the urgency of battle. Confiscated drug paraphernalia showcase wily ingenuity as much as social menace. But across the Potomac, next to Congressional Cemetery, rises a more fitting tribute to the “war on drugs”: Washington’s city jail, through which 18,000 inmates pass each year, 89 percent of them black and three-quarters of them incarcerated for nonviolent offenses. With its X-shaped towers surrounded by razor wire, the sprawling complex devours resources but, most criminologists agree, does comparably little to protect the public. It stands as a monument to punitive government bloat.
Now four decades old, America’s drug war, initiated in its modern form by Richard Nixon, has burned through $1 trillion and helped make the United States the most locked-down country on earth. Yet victory still recedes from view. In 1970, some 20 million Americans had experimented with illegal drugs; by 2007, 138 million had. While drug purity has increased, street prices over the long term have dropped — precisely the opposite trajectory promised by drug warriors. Small wonder that a growing number of skeptics, from George Will to George Soros, have called for a serious change of course.
With a new regime in Washington, led by a president who admits to having used cocaine in his youth and a drug czar who rejects martial metaphors, this is a good time to look back on America’s first “war without end” and its pre-eminent target, as the documentary filmmaker Tom Feiling does in “Cocaine Nation.”
An impassioned and wide-ranging if occasionally jumbled survey of “the white trade” and its enemies, Feiling’s book (published last year in Britain as “The Candy Machine”) begins with the extraction of the ancient coca leaf’s most potent alkaloid, cocaine, in the mid-19th century. Possessing wondrous qualities — a pharmaceutical company boasted that cocaine could “make the coward brave, the silent eloquent, and render the sufferer insensitive to pain” — the product swept the globe as an additive to medicine, wine (Ulysses S. Grant was an early quaffer) and, of course, Coca-Cola, whose red and white colors, Feiling writes, pay homage to the Peruvian flag.
This initial cocaine craze petered out in the first half of the 20th century, in the wake of pharmacy regulation, drug control protocols and consumers’ second thoughts. But another, larger wave rose in the 1970s, as hedonists from Hollywood to Wall Street turned cocaine into “the Champagne of drugs,” as The New York Times declared in 1974. Because most users of the stimulant never became addicted, and because they had “upper-class cachet,” Feiling notes, its resurgence was at first greeted with a shrug by government. Gerald Ford’s White House observed that cocaine “does not usually result in serious social consequences, such as crime, hospital emergency room admissions or death.”
But when suppliers introduced a down-market product, crack cocaine, in the 1980s — “cocaine for poor people,” as one dealer described it to Feiling — social panic ensued. Crack is pharmacologically identical to powder cocaine, but its smokable rocks produce quicker, more intense highs (and harder falls). Attracting legions of users in decaying urban centers, it contributed to property crime, child neglect, homicidal turf battles and, not least, political reaction. Brandishing a bag of crack in the Oval Office, the first President Bush called illegal drugs “the gravest domestic threat facing our nation.” No-knock police raids and mandatory minimum sentencing followed. The drug war became total war, overstuffing jails and exacerbating racial inequality but failing to create a “drug-free America.”
This domestic tale of destruction has been well chronicled by journalists, social scientists and addicts-turned-memoirists. What sets Feiling’s book apart is his analysis of how America’s insatiable appetite for narcotics and its zealous determination to quash those cravings have spread misery and violence across the globe.
During cocaine’s postwar renaissance, mafiosi based in Cuba met demand in the United States, the world’s largest cocaine market. But after the revolution, coca capitalists dispersed, chartering new organizations, establishing new labs and supply lines, and demonstrating remarkable adaptability in response to law-enforcement pressure. Production shifted from Peru to Bolivia to Colombia, and is now shifting back to Peru. Snuffed out in one area, cocaine surges in another.
Feiling vividly describes the supply side of the cocaine business, which, he argues, “thrives on the poverty not just of individuals and communities, but of governments.” In Colombia, which remains the world’s leading producer of cocaine despite the $5 billion in anti-narcotics and counterinsurgency aid the United States has fed into the country since 2000, Feiling profiles campesinos in the rural Putumayo district whose primary source of income is coca, although they receive relatively little for their crops. In a region where markets are distant, roads are poor and the prices for legal produce like yucca and plantains are low, the coca farmers “become slaves of the mafia,” a Colombian congressman tells Feiling — the rural correlates of low-level street dealers in America who risk death and imprisonment to earn “roughly the federal minimum wage.” At the top of the cocaine hierarchy, drug barons make millions, but their careers tend to be short, their fortunes soaked with blood. Because of the violence perpetrated by traffickers and insurgents, and the more pervasive violence committed by right-wing paramilitaries and the government, Colombia’s population of internally displaced people ranks second only to Sudan’s.
As radar surveillance has pushed smuggling routes from the sky and sea to the land, the drug war’s front lines have moved to Mexico, where trafficking-related violence has claimed more than 22,000 lives since 2007. Although the Mexican government’s latest offensive may yet constrict supply, curtail corruption and reduce rather than provoke carnage, the length and complexity of the United States-Mexico border (and the money to be made breaching it) presents a daunting challenge. “Americans consume roughly 290 metric tons of cocaine a year,” Feiling writes, a load that “could be carried across the U.S.-Mexican border in just 13 trucks. Instead, it seeps in in thousands of ingenious disguises.”
Although Feiling doesn’t soft-pedal the harm of drug dependence — to addicts, mainly, but also to their families and communities — he argues convincingly that the remedy promoted most aggressively by the United States has proved far worse than the disease. As an alternative, he develops a lengthy brief for a solution he admits stands little chance of implementation: legalization. There would be costs, he acknowledges, including, perhaps, wider experimentation and addiction, but he contends that restrictions on marketing, elevated vice taxes and a proliferation of treatment beds instead of jail cells could hardly fail more spectacularly than has prohibition. Hard as it is to imagine, the least ruinous solution to the white scourge may be the white flag of surrender.
Robert Perkinson is the author of “Texas Tough: The Rise of America’s Prison Empire.”
A version of this review appeared in print on August 1, 2010, on page BR21 of the Sunday Book Review.
sábado, 31 de julho de 2010
Diplomacia do verbo: as vezes nao da certo...
O preço da verborragia
Editorial - O Estado de S.Paulo
31 de julho de 2010
Os iranianos que se manifestavam contra a fraude que permitiu a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho do ano passado, nada podiam fazer quando o presidente Lula comparou os seus protestos ao "choro de perdedor" dos torcedores de um time de futebol e reduziu os choques de rua em Teerã entre os opositores e as forças de repressão do regime a "apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".
Também os presos políticos cubanos não tinham como responder ao dirigente brasileiro quando, em março último, ele condenou a greve de fome que levou à morte o dissidente Orlando Zapata Tamoyo, por sinal na véspera de uma visita de Lula a Havana, onde considerou o seu sacrifício "um pretexto para liberar as pessoas" - e foi além. "Imagine", comparou, "se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade."
Muito menos poderia retrucar ao presidente a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento por alegado adultério. Perguntado dias atrás sobre a campanha "Liga Lula" para que interceda pela sentenciada junto ao seu bom amigo Ahmadinejad, ele reagiu: "As pessoas têm leis. Se começarem a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação."
Mas há quem possa dar-lhe o troco. Foi o que fez o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, depois que um leviano e boquirroto Lula desdenhou do agravamento das tensões entre Bogotá e Caracas. O protoditador Hugo Chávez rompeu as relações da Venezuela com o país vizinho em represália à decisão colombiana de apresentar na OEA as provas da presença de 1.500 membros da organização narcoterrorista Farc em território venezuelano, obviamente sob a proteção do caudilho.
Lula, cuja primeira manifestação a respeito já tinha deixado claro o seu alinhamento automático com Chávez - "as Farc são um problema da Colômbia, e os problemas da Venezuela são da Venezuela", sofismou -, reincidiu na quarta-feira, véspera da reunião dos chanceleres da ineficaz União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito. O tema do encontro, que deu em nada, era o conflito político entre os dois países. "Falam em conflito, mas ainda não vi conflito", minimizou Lula. "Eu vi conflito verbal, que é o que mais ouvimos aqui nessa América Latina."
Equiparar a um bate-boca um problema dramático para a Colômbia, que passou 40 anos sob o terror das Farc antes de serem reduzidas à mínima expressão possível pela firmeza com que as enfrentou o presidente Uribe, foi nada menos do que um inconcebível insulto a uma nação e ao seu governante. Uribe, que difere de Lula por falar pouco e fazer muito, não poderia fingir que não ouviu a afronta.
Ele replicou com a mais dura mensagem já dirigida a um chefe de Estado brasileiro, até onde chega a memória. "O presidente da Colômbia", dispara a nota, "deplora que o presidente brasileiro, com quem temos cultivado as melhores relações, refira-se a nossa situação com a Venezuela como se fosse um caso pessoal." Uribe ainda o acusou de ignorar a ameaça que a presença das Farc na Venezuela representa "para a Colômbia e o continente".
Trata-se da primeira demonstração da perda de respeito por Lula no exterior - e ele só tem a culpar por isso a sua irreprimível logorreia. Não terminasse o seu mandato daqui a 5 meses, a erosão de sua imagem internacional só se intensificaria. Não seria de espantar se um dia alguém o admoestasse, como o rei da Espanha, Juan Carlos, fez com o bravateiro Chávez, perguntando-lhe: "Por qué no te callas?" Não bastasse a grosseria, Lula nada fez para assegurar aos colombianos de que poderia ser um intermediário isento entre Bogotá e Caracas.
Ele parece ecoar a batatada do chanceler venezuelano Nicolas Maduro, que falou de "um plano de paz sul-americano" para resolver "a questão de fundo" da Colômbia com as Farc. Ao que o seu colega colombiano Jaime Bermudez contrapôs ironicamente a ideia de um hipotético "plano de democracia para a Venezuela". Pensando bem, talvez fosse mesmo melhor Lula se ocupar do Irã em vez de fazer papelão perante os vizinhos do Brasil.
Editorial - O Estado de S.Paulo
31 de julho de 2010
Os iranianos que se manifestavam contra a fraude que permitiu a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho do ano passado, nada podiam fazer quando o presidente Lula comparou os seus protestos ao "choro de perdedor" dos torcedores de um time de futebol e reduziu os choques de rua em Teerã entre os opositores e as forças de repressão do regime a "apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".
Também os presos políticos cubanos não tinham como responder ao dirigente brasileiro quando, em março último, ele condenou a greve de fome que levou à morte o dissidente Orlando Zapata Tamoyo, por sinal na véspera de uma visita de Lula a Havana, onde considerou o seu sacrifício "um pretexto para liberar as pessoas" - e foi além. "Imagine", comparou, "se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade."
Muito menos poderia retrucar ao presidente a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por apedrejamento por alegado adultério. Perguntado dias atrás sobre a campanha "Liga Lula" para que interceda pela sentenciada junto ao seu bom amigo Ahmadinejad, ele reagiu: "As pessoas têm leis. Se começarem a desobedecer as leis deles para atender o pedido de presidentes, daqui a pouco vira uma avacalhação."
Mas há quem possa dar-lhe o troco. Foi o que fez o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, depois que um leviano e boquirroto Lula desdenhou do agravamento das tensões entre Bogotá e Caracas. O protoditador Hugo Chávez rompeu as relações da Venezuela com o país vizinho em represália à decisão colombiana de apresentar na OEA as provas da presença de 1.500 membros da organização narcoterrorista Farc em território venezuelano, obviamente sob a proteção do caudilho.
Lula, cuja primeira manifestação a respeito já tinha deixado claro o seu alinhamento automático com Chávez - "as Farc são um problema da Colômbia, e os problemas da Venezuela são da Venezuela", sofismou -, reincidiu na quarta-feira, véspera da reunião dos chanceleres da ineficaz União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito. O tema do encontro, que deu em nada, era o conflito político entre os dois países. "Falam em conflito, mas ainda não vi conflito", minimizou Lula. "Eu vi conflito verbal, que é o que mais ouvimos aqui nessa América Latina."
Equiparar a um bate-boca um problema dramático para a Colômbia, que passou 40 anos sob o terror das Farc antes de serem reduzidas à mínima expressão possível pela firmeza com que as enfrentou o presidente Uribe, foi nada menos do que um inconcebível insulto a uma nação e ao seu governante. Uribe, que difere de Lula por falar pouco e fazer muito, não poderia fingir que não ouviu a afronta.
Ele replicou com a mais dura mensagem já dirigida a um chefe de Estado brasileiro, até onde chega a memória. "O presidente da Colômbia", dispara a nota, "deplora que o presidente brasileiro, com quem temos cultivado as melhores relações, refira-se a nossa situação com a Venezuela como se fosse um caso pessoal." Uribe ainda o acusou de ignorar a ameaça que a presença das Farc na Venezuela representa "para a Colômbia e o continente".
Trata-se da primeira demonstração da perda de respeito por Lula no exterior - e ele só tem a culpar por isso a sua irreprimível logorreia. Não terminasse o seu mandato daqui a 5 meses, a erosão de sua imagem internacional só se intensificaria. Não seria de espantar se um dia alguém o admoestasse, como o rei da Espanha, Juan Carlos, fez com o bravateiro Chávez, perguntando-lhe: "Por qué no te callas?" Não bastasse a grosseria, Lula nada fez para assegurar aos colombianos de que poderia ser um intermediário isento entre Bogotá e Caracas.
Ele parece ecoar a batatada do chanceler venezuelano Nicolas Maduro, que falou de "um plano de paz sul-americano" para resolver "a questão de fundo" da Colômbia com as Farc. Ao que o seu colega colombiano Jaime Bermudez contrapôs ironicamente a ideia de um hipotético "plano de democracia para a Venezuela". Pensando bem, talvez fosse mesmo melhor Lula se ocupar do Irã em vez de fazer papelão perante os vizinhos do Brasil.
Copa do Mundo 2014: o Brasil vai sair pior...
O artigo abaixo poderia entrar numa série chamada: "Depois não digam que eu não avisei".
Gostaria de expressamente cumprimentar sua autora, a quem não conheço, mas suponho ser uma egressa de algum curso de RI de São Paulo, pela sua clarividência, sensatez, objetividade, e sobretudo sentido de antecipação, pelo que efetivamente vai ocorrer em relação aos trabalhos, aos custos e às consequências da Copa de 2014 para nós, brasileiros.
Concordo inteiramente com ela, e iria mesmo mais além. Eu diria que tudo isso vai resultar em mais corrupção ANTES, DURANTE E DEPOIS da Copa de 2014, corrupção, aliás, que já começa agora, ao decretar o governo diversas medidas "facilitatórias" da construção de estádios ou obras de infra-estrutura sem critérios adequados de controle contra o (super)faturamento (que ocorrerá, disso estamos certos), de seleção dos melhores operadores, de redução de impostos de maneira seletiva, sem um estudo técnico abalizado sobre seus efeitos na cadeia produtiva, de "permissão" para "compras nacionais" mesmo quando a fatura for até 25% superior ao do concorrente importado, enfim, uma infinidade de medidas, públicas e menos públicas que certamente representam a riqueza de alguns e a dívida pública para todos. Que alguns lucrem com os negócios da Copa, isso é normal, mas que isso seja uma oportunidade, mais uma, para que alguns espertos se enriqueçam brutalmente, isso é um golpe planejado que combina inteiramente com certas máfias encasteladas em certas instituições e que conhecemos bem (ou deveríamos conhecer).
Concordo inteiramente com a consultora: esse trem-bala, antes de ser piada, vai ser um enorme desvio de verbas públicas, uma "desnecessidade", se ouso dizer, em face de tantas outras obras, urbanas, mais necessárias.
Ao fim e ao cabo, vamos sair dessa Copa com mais dívida pública, mais corrupção, menos organização adequada do Estado. Uma grande ilusão, eis o que é.
Paulo Roberto de Almeida
Cortina de Fumaça
Martha Ferreira - Economista e consultora de negócios
Prisma - Informativo Eletrônico
Edição 24 - Julho de 2010
Os gastos previstos para sediar a Copa do Mundo, na Alemanha, eram de R$ 2,2 bilhões. Até 2006, as obras subiram 50%, chegando a R$ 3,3 bilhões.
O que se viu por lá foi um povo alegre, orgulhoso por seu país moderno, eficiente e unido, além da já esperada organização e ótima estrutura dos estádios e transportes. A sociedade começou seu planejamento 10 anos antes do evento e essa foi a sua fórmula de sucesso. O total arrecadado pela Alemanha, durante a Copa, chegou a R$ 7,5 bilhões e os hotéis tiveram um faturamento de R$ 750 milhões.
Na África do Sul foram feitos investimentos em infra-estrutura, transportes, telecomunicações, construção e adequação dos seus estádios, que atingiram a cifra de R$ 7,5 bilhões. Essa quantia ultrapassou dez vezes o valor previsto, inicialmente, pelo governo.
Sua infra-estrutura evoluiu, substancialmente, em decorrência desses investimentos, houve benefício social à população e um sentimento de maior unidade nacional, graças à realização do torneio, no país.
Entretanto, uma visão analítica mais acurada, mostra o superfaturamento dos estádios; falta de controle mais severo sobre as obras, pelo maior financiador dos investimentos, o governo sul-africano; atraso nas obras, que precisaram ser apressadas e acabaram custando mais; e a ociosidade das novas arenas.
Além disso, o governo esperava receber 450 mil visitantes estrangeiros, mas a estimativa foi reduzida pela metade, por causa da crise econômica global e da imagem de violência associada ao país. Após a Copa do Mundo, a África do Sul mergulha no esquecimento e afunda, de novo, em suas profundas mazelas.
O Brasil, a 04 anos da Copa, prevê uma gastança de R$ 17,5 bilhões, ou seja, 120% a mais do que o montante investido no torneio sul-africano. Tudo isto, somente para adaptar nossos modestos estádios às recomendações técnicas internacionais, visto que nenhum deles cumpre os requisitos básicos.
Os projetos já deveriam estar prontos há dois anos, mas há cidades que nem sabem, ainda, onde vão ocorrer os jogos, lembrando o exemplo de São Paulo. Quando as obras começarem, já estarão atrasadas e as empreiteiras, com certeza, cobrarão mais caro para cumprir o prazo exigido.
Estudos apontam que a realização de Copas do Mundo contribui com um aumento de, no máximo, 0,2% no PIB dos países-sede. E, na grande maioria daqueles que não se planeja para tirar o melhor proveito do que o evento pode oferecer, os governos assumem todas as responsabilidades para sediá-lo, mas o lucro vai para a FIFA. Foi o caso da África do Sul e pode ser o que presenciaremos, aqui, se observarmos os nossos exemplos sistemáticos.
O principal desafio para todas as cidades-sede, desses eventos, é a capacidade de planejar, elaborar e executar um projeto para dotá-las de transportes urbanos, aeroportos, rodovias, segurança pública, hotéis e opções de entretenimento para o turista. No Brasil, está exatamente aí o nosso maior entrave para dar um eficiente suporte ao certame.
Como estamos sem investimentos, há décadas, temos uma demanda de R$ 180 bilhões em obras de infra-estrutura e a iniciativa privada só se interessa por 15% desse montante, porque o resto é inviável. Além disso, nossa mobilidade urbana é um caos e a solução proposta pelo governo, o trem de alta velocidade, não vai resolver o problema crítico de transporte público, apenas dar um golpe de misericórdia, no contribuinte, no valor de R$ 34 bilhões!
Em minha opinião, a Copa do Mundo é uma cortina de fumaça para desviar a atenção, do brasileiro crédulo e do resto do mundo, dos nossos gravíssimos problemas. Estamos num país assolado pela má gestão, dívida pública estratosférica, corrupção endêmica, violência desenfreada, impunidade crônica e carência de investimentos sociais, especialmente em saúde, educação e segurança.
A Copa do Mundo será boa enquanto os brasileiros estiverem curtindo uma atmosfera festiva. Mas o seu efeito vai passar, os problemas vão continuar e o déficit orçamentário será um legado devastador.
============
Addendum: Não bastasse a Copa do Mundo, logo em seguida vem as Olimpíadas. Leiam a nota no boletim eletrônico da revista Foreign Policy (30.07.2010):
Preparing for Olympics, Rio plans to raze favelas
Rio de Janeiro is undertaking a significant rebuilding and reconstruction effort before the 2016 Summer Olympics. The city will raze over 100 of the most "at risk" favelas and rebuild hundreds of others. According to the mayor of Rio, Eduardo Paes, about 13,000 families will be forced from their homes - and it's unclear where the people will be relocated and if they will be compensated.
For the local population, the Olympics are rarely about fun and games. In the last twenty years, the Olympics have displaced over 20 million people, despite the fact that international law stipulates protection from forcible eviction. People are either removed from their homes by the government or priced out: 720,000 at the Seoul Olympics; hundreds of families in Barcelona; 30,000 Atlantans; hundreds of Roma settlers in Athens; and 1.5 million people in Beijing.
Time to "think again"?
Gostaria de expressamente cumprimentar sua autora, a quem não conheço, mas suponho ser uma egressa de algum curso de RI de São Paulo, pela sua clarividência, sensatez, objetividade, e sobretudo sentido de antecipação, pelo que efetivamente vai ocorrer em relação aos trabalhos, aos custos e às consequências da Copa de 2014 para nós, brasileiros.
Concordo inteiramente com ela, e iria mesmo mais além. Eu diria que tudo isso vai resultar em mais corrupção ANTES, DURANTE E DEPOIS da Copa de 2014, corrupção, aliás, que já começa agora, ao decretar o governo diversas medidas "facilitatórias" da construção de estádios ou obras de infra-estrutura sem critérios adequados de controle contra o (super)faturamento (que ocorrerá, disso estamos certos), de seleção dos melhores operadores, de redução de impostos de maneira seletiva, sem um estudo técnico abalizado sobre seus efeitos na cadeia produtiva, de "permissão" para "compras nacionais" mesmo quando a fatura for até 25% superior ao do concorrente importado, enfim, uma infinidade de medidas, públicas e menos públicas que certamente representam a riqueza de alguns e a dívida pública para todos. Que alguns lucrem com os negócios da Copa, isso é normal, mas que isso seja uma oportunidade, mais uma, para que alguns espertos se enriqueçam brutalmente, isso é um golpe planejado que combina inteiramente com certas máfias encasteladas em certas instituições e que conhecemos bem (ou deveríamos conhecer).
Concordo inteiramente com a consultora: esse trem-bala, antes de ser piada, vai ser um enorme desvio de verbas públicas, uma "desnecessidade", se ouso dizer, em face de tantas outras obras, urbanas, mais necessárias.
Ao fim e ao cabo, vamos sair dessa Copa com mais dívida pública, mais corrupção, menos organização adequada do Estado. Uma grande ilusão, eis o que é.
Paulo Roberto de Almeida
Cortina de Fumaça
Martha Ferreira - Economista e consultora de negócios
Prisma - Informativo Eletrônico
Edição 24 - Julho de 2010
Os gastos previstos para sediar a Copa do Mundo, na Alemanha, eram de R$ 2,2 bilhões. Até 2006, as obras subiram 50%, chegando a R$ 3,3 bilhões.
O que se viu por lá foi um povo alegre, orgulhoso por seu país moderno, eficiente e unido, além da já esperada organização e ótima estrutura dos estádios e transportes. A sociedade começou seu planejamento 10 anos antes do evento e essa foi a sua fórmula de sucesso. O total arrecadado pela Alemanha, durante a Copa, chegou a R$ 7,5 bilhões e os hotéis tiveram um faturamento de R$ 750 milhões.
Na África do Sul foram feitos investimentos em infra-estrutura, transportes, telecomunicações, construção e adequação dos seus estádios, que atingiram a cifra de R$ 7,5 bilhões. Essa quantia ultrapassou dez vezes o valor previsto, inicialmente, pelo governo.
Sua infra-estrutura evoluiu, substancialmente, em decorrência desses investimentos, houve benefício social à população e um sentimento de maior unidade nacional, graças à realização do torneio, no país.
Entretanto, uma visão analítica mais acurada, mostra o superfaturamento dos estádios; falta de controle mais severo sobre as obras, pelo maior financiador dos investimentos, o governo sul-africano; atraso nas obras, que precisaram ser apressadas e acabaram custando mais; e a ociosidade das novas arenas.
Além disso, o governo esperava receber 450 mil visitantes estrangeiros, mas a estimativa foi reduzida pela metade, por causa da crise econômica global e da imagem de violência associada ao país. Após a Copa do Mundo, a África do Sul mergulha no esquecimento e afunda, de novo, em suas profundas mazelas.
O Brasil, a 04 anos da Copa, prevê uma gastança de R$ 17,5 bilhões, ou seja, 120% a mais do que o montante investido no torneio sul-africano. Tudo isto, somente para adaptar nossos modestos estádios às recomendações técnicas internacionais, visto que nenhum deles cumpre os requisitos básicos.
Os projetos já deveriam estar prontos há dois anos, mas há cidades que nem sabem, ainda, onde vão ocorrer os jogos, lembrando o exemplo de São Paulo. Quando as obras começarem, já estarão atrasadas e as empreiteiras, com certeza, cobrarão mais caro para cumprir o prazo exigido.
Estudos apontam que a realização de Copas do Mundo contribui com um aumento de, no máximo, 0,2% no PIB dos países-sede. E, na grande maioria daqueles que não se planeja para tirar o melhor proveito do que o evento pode oferecer, os governos assumem todas as responsabilidades para sediá-lo, mas o lucro vai para a FIFA. Foi o caso da África do Sul e pode ser o que presenciaremos, aqui, se observarmos os nossos exemplos sistemáticos.
O principal desafio para todas as cidades-sede, desses eventos, é a capacidade de planejar, elaborar e executar um projeto para dotá-las de transportes urbanos, aeroportos, rodovias, segurança pública, hotéis e opções de entretenimento para o turista. No Brasil, está exatamente aí o nosso maior entrave para dar um eficiente suporte ao certame.
Como estamos sem investimentos, há décadas, temos uma demanda de R$ 180 bilhões em obras de infra-estrutura e a iniciativa privada só se interessa por 15% desse montante, porque o resto é inviável. Além disso, nossa mobilidade urbana é um caos e a solução proposta pelo governo, o trem de alta velocidade, não vai resolver o problema crítico de transporte público, apenas dar um golpe de misericórdia, no contribuinte, no valor de R$ 34 bilhões!
Em minha opinião, a Copa do Mundo é uma cortina de fumaça para desviar a atenção, do brasileiro crédulo e do resto do mundo, dos nossos gravíssimos problemas. Estamos num país assolado pela má gestão, dívida pública estratosférica, corrupção endêmica, violência desenfreada, impunidade crônica e carência de investimentos sociais, especialmente em saúde, educação e segurança.
A Copa do Mundo será boa enquanto os brasileiros estiverem curtindo uma atmosfera festiva. Mas o seu efeito vai passar, os problemas vão continuar e o déficit orçamentário será um legado devastador.
============
Addendum: Não bastasse a Copa do Mundo, logo em seguida vem as Olimpíadas. Leiam a nota no boletim eletrônico da revista Foreign Policy (30.07.2010):
Preparing for Olympics, Rio plans to raze favelas
Rio de Janeiro is undertaking a significant rebuilding and reconstruction effort before the 2016 Summer Olympics. The city will raze over 100 of the most "at risk" favelas and rebuild hundreds of others. According to the mayor of Rio, Eduardo Paes, about 13,000 families will be forced from their homes - and it's unclear where the people will be relocated and if they will be compensated.
For the local population, the Olympics are rarely about fun and games. In the last twenty years, the Olympics have displaced over 20 million people, despite the fact that international law stipulates protection from forcible eviction. People are either removed from their homes by the government or priced out: 720,000 at the Seoul Olympics; hundreds of families in Barcelona; 30,000 Atlantans; hundreds of Roma settlers in Athens; and 1.5 million people in Beijing.
Time to "think again"?
Guerra de Venezuela contra Colombia?: no lo creo, pero nunca se sabe...
O texto abaixo, de um jornalista venezuelano, pode ter sido escrito com intenções de "burla", de comicidade, mas ele tem toda uma parte séria, antes de alinhar as tropas chavistas que iriam ao combate contra os perversos e vendidos colombianos, que o transforma em registro histórico das incontáveis vezes em que o caudilho histriônico de Caracas declarou rotas as relações entre os dois países, retirando seu "embaixador" de Bogotá, interrompendo relações comerciais entre os dois países (e com isso provocando enormes prejuízos aos agentes privados, às populações, ao seu próprio país), deslocando tropas para a fronteira comum, etc. A última vez foi quando as forças armadas da Colômbia efetuaram a famosa operação nas bases das FARC no Equador, junto à fronteira colombiana, provocando, como se sabe, a santa ira e a justa indignação de nossa diplomacia, sempre tão disposta, pronta, aguerrida quando se trata de condenar qualquer violação dos princípios da soberania territorial e da não-intervenção. Nossa diplomacia exigiu desculpas imediatas da Colômbia e armou uma operação na Unasul para condenar o gesto da Colômbia (mas em nenhum momento reclamou das forças armadas venezuelas agrupadas na fronteira com a Colômbia, como se isso fosse absolutamente normal).
Ditadores em perda de apoio político, ameaçados de derrota, são imprevisíveis, sobretudo ditadores desse tipo, que não hesitam nos gestos mais tresloucados, para evitar o que agora parece ser inevitável: a queda, a derrota, o exílio (se não a morte).
Tudo parece comédia, no texto do jornalista, até que se transforme em tragédia...
Paulo Roberto de Almeida
El próximo paso: declarar la guerra
Francisco Rivero Valera
El Universal (Caraca), Viernes, 30 de julio, 2010
Declarar la guerra a Colombia puede ser la idea catastrófica que está dando vueltas y revueltas en la cabeza de Chávez. Sería para matar dos pájaros de un tiro: suspender las elecciones de Septiembre y evitar, en consecuencia, la derrota inminente y mortal de su proyecto político. De paso, utilizaría la guerra como recurso para crear un falso nacionalismo en vista del fracaso de sus extremas cortinas de humo lanzadas últimamente al país con los honores simbólicos a Manuelita Sáenz y la exhumación de los restos de Simón Bolívar. Le importa un comino, por supuesto, la vida de 28 millones de venezolanos y de 45 millones de colombianos, hermanos bolivarianos por historia, por consanguinidad, por cultura, religión, idioma, geografía, genética y otras características indisolubles. Lo importante sería salirse con la suya para implantar su delirante proyecto político por las malas o por las malas.
Pero, la declaración de guerra ya no sería una sorpresa porque desde hace más de 6 años Chávez está intercambiando plomo verbal con Uribe, como juego de ping pong. Recordemos el 14 de Enero del 2005, Chávez anunció la ruptura de relaciones comerciales con Colombia por la captura de Rodrigo Granda, canciller de las FARC; el 25 de Noviembre del 2007,anunció la congelación de las relaciones por la suspensión colombiana de Chávez como mediador en la liberación de rehenes de las FARC; el 2 de marzo del 2008, Chávez ordenó la movilización de diez batallones hacia la frontera en protesta por la incursión colombiana contra un campamento de las FARC en Ecuador, con muerte de su líder Raúl Reyes; el 22 de febrero del 2010 Chávez y Uribe tuvieron un fuerte encontronazo en México, en la cumbre de Río, con piropos literarios incluidos como: sea varón, de Uribe, y váyase p'al carajo, de Chávez. La lista es interminable. Lo último fue el jueves 22 de Julio del 2010, con la ruptura de relaciones diplomáticas en rechazo a las supuestas evidencias colombianas presentadas en la OEA sobre la permanencia de los líderes guerrilleros de la FARC en Venezuela. La evidencia es clara: las FARC y alguien más son el problema.
Pero, tampoco sería sorpresa si Chávez aparece por enésima vez en cadena nacional para decir que ha decidido simplemente declarar la guerra sin tomar en cuenta la opinión de este pueblo manipulado. Y, a lo mejor, en su acostumbrada verborrea, hasta dirá algo sobre la alineación de sus fuerzas.
E imagino que ordenará: al frente Aristóbulo, Jaua, Rafael y Diosdado dirigiendo a los chavistas radicales del PSUV, esos mismos que dicen que entregarán la vida por su máximo líder; después los utilitys de este gobierno: los trabajadores de Pdvsa, pero sin franela roja porque resultarían muy evidentes en las zonas de combate.
En la cuarta línea irá el voluntariado obligado de las instituciones públicas, empleados que prefieren entregar la vida antes que perder sus puestos de trabajo; luego algunos compatriotas campesinos con machetes, palos, escobas y escupiendo chimó para acatar las órdenes del comandante.
Al final, como fuerzas de apoyo en retaguardia, los 10 batallones que Chávez ordenó movilizar el 2 de Marzo del 2008, con una pancarta: tardamos pero no olvidamos. Mientras tanto, las FARC estarán como zamuros, observando el desarrollo de los acontecimientos, listos para saltar y pescar en río revuelto.
Que Dios y la Virgen nos protejan. Amén.
===========
Aliás, deixou de ser piada, para se converter em realidade, como se deduz da matéria abaixo, um dia depois da que foi acima transcrita:
31/07/2010
Chávez manda soldados para fronteira com a Colômbia
BBC – 30/07/10
Venezuela – Subindo o tom da crise com a Colômbia, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou nesta sexta-feira o movimento de tropas para a fronteira entre os dois países, acusou o governo colombiano de ter invadido o espaço aéreo venezuelano e admitiu ter revisado “planos de guerra” para um eventual conflito.
Chávez disse que um helicóptero colombiano permaneceu durante “cinco minutos” no espaço aéreo venezuelano, na zona fronteiriça entre os Estados de Zulia e Tachira.
O líder venezuelano acusou o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de querer envolver a Venezuela no conflito armado colombiano.
“Há umas três noites, eu dizia ao vice-presidente (Elias Jaua). ‘Que tristeza me dá, confesso, estar revisando planos de guerra”, afirmou Chavez em declarações via telefone ao canal estatal de TV.
Paz
Chávez disse que a “política de guerra” de Uribe “penetrou” território venezuelano em referência a internacionalização do conflito armado colombiano.
“Por isso a imperiosa necessidade de que retomemos a paz (…) mas com o novo governo da Colômbia, não com este, cheio de ódio”, afirmou.
O presidente venezuelano disse as Forças Armadas estão em alerta e que foram enviadas tropas a extensa fronteira, de mais de 2 mil km, “para defender a soberania” do país.
“Não vão nos levar sob chantagem a uma guerra, a uma guerra que não e nossa, é melhor dizemos¨vamos bucar o caminho da paz”, afirmou Chávez ao anunciar o movimento de tropas, o primeiro desde o inicio da crise com a Colômbia.
Denúncia
O conflito binacional teve início há uma semana, quando Bogotá apresentou ao Conselho Permanente da Organização de Estados Americanos (OEA) supostas provas sobre a presença de guerrilheiros das Farc e do ELN na Venezuela.
Em seguida, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, qualificou de mentirosas as acusações e rompeu relações diplomáticas com a Colômbia.
Para Chávez, as acusações são parte de uma “desculpa” para justificar uma intervenção armada da Colômbia em seu país, que a seu ver, conta com o apoio dos Estados Unidos.
Ditadores em perda de apoio político, ameaçados de derrota, são imprevisíveis, sobretudo ditadores desse tipo, que não hesitam nos gestos mais tresloucados, para evitar o que agora parece ser inevitável: a queda, a derrota, o exílio (se não a morte).
Tudo parece comédia, no texto do jornalista, até que se transforme em tragédia...
Paulo Roberto de Almeida
El próximo paso: declarar la guerra
Francisco Rivero Valera
El Universal (Caraca), Viernes, 30 de julio, 2010
Declarar la guerra a Colombia puede ser la idea catastrófica que está dando vueltas y revueltas en la cabeza de Chávez. Sería para matar dos pájaros de un tiro: suspender las elecciones de Septiembre y evitar, en consecuencia, la derrota inminente y mortal de su proyecto político. De paso, utilizaría la guerra como recurso para crear un falso nacionalismo en vista del fracaso de sus extremas cortinas de humo lanzadas últimamente al país con los honores simbólicos a Manuelita Sáenz y la exhumación de los restos de Simón Bolívar. Le importa un comino, por supuesto, la vida de 28 millones de venezolanos y de 45 millones de colombianos, hermanos bolivarianos por historia, por consanguinidad, por cultura, religión, idioma, geografía, genética y otras características indisolubles. Lo importante sería salirse con la suya para implantar su delirante proyecto político por las malas o por las malas.
Pero, la declaración de guerra ya no sería una sorpresa porque desde hace más de 6 años Chávez está intercambiando plomo verbal con Uribe, como juego de ping pong. Recordemos el 14 de Enero del 2005, Chávez anunció la ruptura de relaciones comerciales con Colombia por la captura de Rodrigo Granda, canciller de las FARC; el 25 de Noviembre del 2007,anunció la congelación de las relaciones por la suspensión colombiana de Chávez como mediador en la liberación de rehenes de las FARC; el 2 de marzo del 2008, Chávez ordenó la movilización de diez batallones hacia la frontera en protesta por la incursión colombiana contra un campamento de las FARC en Ecuador, con muerte de su líder Raúl Reyes; el 22 de febrero del 2010 Chávez y Uribe tuvieron un fuerte encontronazo en México, en la cumbre de Río, con piropos literarios incluidos como: sea varón, de Uribe, y váyase p'al carajo, de Chávez. La lista es interminable. Lo último fue el jueves 22 de Julio del 2010, con la ruptura de relaciones diplomáticas en rechazo a las supuestas evidencias colombianas presentadas en la OEA sobre la permanencia de los líderes guerrilleros de la FARC en Venezuela. La evidencia es clara: las FARC y alguien más son el problema.
Pero, tampoco sería sorpresa si Chávez aparece por enésima vez en cadena nacional para decir que ha decidido simplemente declarar la guerra sin tomar en cuenta la opinión de este pueblo manipulado. Y, a lo mejor, en su acostumbrada verborrea, hasta dirá algo sobre la alineación de sus fuerzas.
E imagino que ordenará: al frente Aristóbulo, Jaua, Rafael y Diosdado dirigiendo a los chavistas radicales del PSUV, esos mismos que dicen que entregarán la vida por su máximo líder; después los utilitys de este gobierno: los trabajadores de Pdvsa, pero sin franela roja porque resultarían muy evidentes en las zonas de combate.
En la cuarta línea irá el voluntariado obligado de las instituciones públicas, empleados que prefieren entregar la vida antes que perder sus puestos de trabajo; luego algunos compatriotas campesinos con machetes, palos, escobas y escupiendo chimó para acatar las órdenes del comandante.
Al final, como fuerzas de apoyo en retaguardia, los 10 batallones que Chávez ordenó movilizar el 2 de Marzo del 2008, con una pancarta: tardamos pero no olvidamos. Mientras tanto, las FARC estarán como zamuros, observando el desarrollo de los acontecimientos, listos para saltar y pescar en río revuelto.
Que Dios y la Virgen nos protejan. Amén.
===========
Aliás, deixou de ser piada, para se converter em realidade, como se deduz da matéria abaixo, um dia depois da que foi acima transcrita:
31/07/2010
Chávez manda soldados para fronteira com a Colômbia
BBC – 30/07/10
Venezuela – Subindo o tom da crise com a Colômbia, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou nesta sexta-feira o movimento de tropas para a fronteira entre os dois países, acusou o governo colombiano de ter invadido o espaço aéreo venezuelano e admitiu ter revisado “planos de guerra” para um eventual conflito.
Chávez disse que um helicóptero colombiano permaneceu durante “cinco minutos” no espaço aéreo venezuelano, na zona fronteiriça entre os Estados de Zulia e Tachira.
O líder venezuelano acusou o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de querer envolver a Venezuela no conflito armado colombiano.
“Há umas três noites, eu dizia ao vice-presidente (Elias Jaua). ‘Que tristeza me dá, confesso, estar revisando planos de guerra”, afirmou Chavez em declarações via telefone ao canal estatal de TV.
Paz
Chávez disse que a “política de guerra” de Uribe “penetrou” território venezuelano em referência a internacionalização do conflito armado colombiano.
“Por isso a imperiosa necessidade de que retomemos a paz (…) mas com o novo governo da Colômbia, não com este, cheio de ódio”, afirmou.
O presidente venezuelano disse as Forças Armadas estão em alerta e que foram enviadas tropas a extensa fronteira, de mais de 2 mil km, “para defender a soberania” do país.
“Não vão nos levar sob chantagem a uma guerra, a uma guerra que não e nossa, é melhor dizemos¨vamos bucar o caminho da paz”, afirmou Chávez ao anunciar o movimento de tropas, o primeiro desde o inicio da crise com a Colômbia.
Denúncia
O conflito binacional teve início há uma semana, quando Bogotá apresentou ao Conselho Permanente da Organização de Estados Americanos (OEA) supostas provas sobre a presença de guerrilheiros das Farc e do ELN na Venezuela.
Em seguida, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, qualificou de mentirosas as acusações e rompeu relações diplomáticas com a Colômbia.
Para Chávez, as acusações são parte de uma “desculpa” para justificar uma intervenção armada da Colômbia em seu país, que a seu ver, conta com o apoio dos Estados Unidos.
Assinar:
Comentários (Atom)
Postagem em destaque
Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida
Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...
-
Uma preparação de longo curso e uma vida nômade Paulo Roberto de Almeida A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em ...
-
FAQ do Candidato a Diplomata por Renato Domith Godinho TEMAS: Concurso do Instituto Rio Branco, Itamaraty, Carreira Diplomática, MRE, Diplom...
-
Países de Maior Acesso aos textos PRA em Academia.edu (apenas os superiores a 100 acessos) Compilação Paulo Roberto de Almeida (15/12/2025) ...
-
Mercado Comum da Guerra? O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios memb...
-
Reproduzo novamente uma postagem minha de 2020, quando foi publicado o livro de Dennys Xavier sobre Thomas Sowell quarta-feira, 4 de março...
-
Itamaraty 'Memórias', do embaixador Marcos Azambuja, é uma aula de diplomacia Embaixador foi um grande contador de histórias, ...
-
Israel Products in India: Check the Complete list of Israeli Brands! Several Israeli companies have established themselves in the Indian m...
-
Pequeno manual prático da decadência (recomendável em caráter preventivo...) Paulo Roberto de Almeida Colaboração a número especial da rev...
-
O Brics vai de vento em popa, ao que parece. Como eu nunca fui de tomar as coisas pelo seu valor de face, nunca deixei de expressar meu pen...