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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 1 de março de 2013

Petrobras: negocio nebuloso, talvez criminoso...

Que tal, leitor amigo, você intermediar um negócio, usando suas antigas relações, e embolsar alguns milhões de dólares, asi no más, como quem não quer nada, tendo feito quase nada, ou nada mesmo, para a valorização do negócio, ou a criação de riqueza?
Pois é, quando digo que os companheiros são Midas ao contrário, ainda acham que estou exagerando.
Paulo Roberto de Almeida 

Um negócio nebuloso

28 de fevereiro de 2013 | 2h 10
Editorial O Estado de S.Paulo
 
A representação contra a Petrobrás apresentada ao Tribunal de Contas da União (TCU) pelo procurador do Ministério Público junto ao TCU, Marinus Marsico, pedindo que seja investigada a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, pode ser o primeiro passo de um processo formal a respeito desse negócio tecnicamente injustificável e que, pelas informações disponíveis, e não contestadas pela empresa, pode resultar em prejuízo bilionário para o País.
Além de provocar a ação do Ministério Público, o caso - sobre o qual o Estado vem há tempos publicando reportagens - já vem sendo acompanhado por congressistas, entre os quais o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), que pediu investigação da Procuradoria-Geral da República. Pode, por todas as evidências já conhecidas, tornar-se um caso de polícia.
Depois de coletar, nos últimos meses, informações a respeito da compra, pela Petrobrás, de metade do controle acionário da refinaria texana em 2006 e, depois, da totalidade das ações por meio de acordo extrajudicial com a antiga sócia, o procurador Marinus Marsico decidiu encaminhar ao ministro José Jorge, relator da questão no TCU, pedido para que apure as responsabilidades da empresa nesse negócio, de grandes proporções e nenhuma transparência.
Na opinião do procurador, houve gestão temerária e prejuízo aos cofres públicos nessa compra. Caso o ministro aceite o pedido, técnicos do TCU examinarão a questão e poderão identificar responsáveis. O relatório técnico será depois julgado em plenário.
Ao anunciar a aquisição da refinaria de Pasadena, a Petrobrás - cujo Conselho de Administração era presidido pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - afirmou que, desse modo, iniciaria sua participação no mercado de refino de petróleo e comercialização de derivados no mercado americano. A meta então anunciada era de, por meio de novos investimentos, duplicar a capacidade da refinaria, que, na época, podia processar 100 mil barris de petróleo por dia. Era parte de seu plano estratégico, que previa também investimentos em pesquisa e produção de petróleo em áreas do Golfo do México.
Quando se conheceram os números do negócio, porém, o valor "estratégico" da refinaria para a empresa brasileira começou a ser contestado. A refinaria de Pasadena fora adquirida no início de 2005 pela empresa belga Astra Oil Company por apenas US$ 42,5 milhões. Os entendimentos da Astra com a Petrobrás começaram alguns meses depois e foram concluídos em setembro de 2006, quando a estatal brasileira confirmou a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões.
Ou seja, a Astra - da qual um ex-funcionário da Petrobrás era um dos principais executivos - recebia esse valor pela metade da refinaria, que lhe custara US$ 21,25 milhões. Seu ganho, portanto, fora de praticamente 1.600%. O negócio já seria totalmente injustificado se tivesse ficado só nisso. Mas não ficou.
Desentendimentos entre os sócios levaram a parte belga a recorrer à Justiça americana para obrigar a Petrobrás a comprar sua parte. Depois de perder na Justiça, a Petrobrás decidiu fazer um acordo extrajudicial com os belgas. Fechado em junho do ano passado, esse acordo previu que, para encerrar todos os litígios, deveria pagar mais US$ 820 milhões. Em resumo, a Astra vendeu para a Petrobrás, por US$ 1,18 bilhão, uma refinaria que lhe custara US$ 42,5 milhões.
O plano estratégico de 2012-2016 da Petrobrás prevê a venda de US$ 14 bilhões de ativos, sobretudo no exterior, operação indispensável para equilibrar suas finanças e executar o ambicioso plano de investimentos no pré-sal. A Refinaria de Pasadena estava entre os ativos que a estatal pretendia vender para fazer caixa, mas seu valor de mercado certamente é muito menor do que o desembolsado para adquiri-la.
Vendê-la pelo valor oferecido pelos poucos interessados implicaria à Petrobrás o reconhecimento de pesadas perdas financeiras, razão pela qual a empresa agora diz que fará investimentos para torná-la mais atraente. As perdas poderão aumentar. E quem é o responsável por essas perdas?

sábado, 31 de julho de 2010

Copa do Mundo 2014: o Brasil vai sair pior...

O artigo abaixo poderia entrar numa série chamada: "Depois não digam que eu não avisei".
Gostaria de expressamente cumprimentar sua autora, a quem não conheço, mas suponho ser uma egressa de algum curso de RI de São Paulo, pela sua clarividência, sensatez, objetividade, e sobretudo sentido de antecipação, pelo que efetivamente vai ocorrer em relação aos trabalhos, aos custos e às consequências da Copa de 2014 para nós, brasileiros.
Concordo inteiramente com ela, e iria mesmo mais além. Eu diria que tudo isso vai resultar em mais corrupção ANTES, DURANTE E DEPOIS da Copa de 2014, corrupção, aliás, que já começa agora, ao decretar o governo diversas medidas "facilitatórias" da construção de estádios ou obras de infra-estrutura sem critérios adequados de controle contra o (super)faturamento (que ocorrerá, disso estamos certos), de seleção dos melhores operadores, de redução de impostos de maneira seletiva, sem um estudo técnico abalizado sobre seus efeitos na cadeia produtiva, de "permissão" para "compras nacionais" mesmo quando a fatura for até 25% superior ao do concorrente importado, enfim, uma infinidade de medidas, públicas e menos públicas que certamente representam a riqueza de alguns e a dívida pública para todos. Que alguns lucrem com os negócios da Copa, isso é normal, mas que isso seja uma oportunidade, mais uma, para que alguns espertos se enriqueçam brutalmente, isso é um golpe planejado que combina inteiramente com certas máfias encasteladas em certas instituições e que conhecemos bem (ou deveríamos conhecer).
Concordo inteiramente com a consultora: esse trem-bala, antes de ser piada, vai ser um enorme desvio de verbas públicas, uma "desnecessidade", se ouso dizer, em face de tantas outras obras, urbanas, mais necessárias.
Ao fim e ao cabo, vamos sair dessa Copa com mais dívida pública, mais corrupção, menos organização adequada do Estado. Uma grande ilusão, eis o que é.
Paulo Roberto de Almeida

Cortina de Fumaça
Martha Ferreira - Economista e consultora de negócios
Prisma - Informativo Eletrônico
Edição 24 - Julho de 2010

Os gastos previstos para sediar a Copa do Mundo, na Alemanha, eram de R$ 2,2 bilhões. Até 2006, as obras subiram 50%, chegando a R$ 3,3 bilhões.

O que se viu por lá foi um povo alegre, orgulhoso por seu país moderno, eficiente e unido, além da já esperada organização e ótima estrutura dos estádios e transportes. A sociedade começou seu planejamento 10 anos antes do evento e essa foi a sua fórmula de sucesso. O total arrecadado pela Alemanha, durante a Copa, chegou a R$ 7,5 bilhões e os hotéis tiveram um faturamento de R$ 750 milhões.

Na África do Sul foram feitos investimentos em infra-estrutura, transportes, telecomunicações, construção e adequação dos seus estádios, que atingiram a cifra de R$ 7,5 bilhões. Essa quantia ultrapassou dez vezes o valor previsto, inicialmente, pelo governo.

Sua infra-estrutura evoluiu, substancialmente, em decorrência desses investimentos, houve benefício social à população e um sentimento de maior unidade nacional, graças à realização do torneio, no país.

Entretanto, uma visão analítica mais acurada, mostra o superfaturamento dos estádios; falta de controle mais severo sobre as obras, pelo maior financiador dos investimentos, o governo sul-africano; atraso nas obras, que precisaram ser apressadas e acabaram custando mais; e a ociosidade das novas arenas.

Além disso, o governo esperava receber 450 mil visitantes estrangeiros, mas a estimativa foi reduzida pela metade, por causa da crise econômica global e da imagem de violência associada ao país. Após a Copa do Mundo, a África do Sul mergulha no esquecimento e afunda, de novo, em suas profundas mazelas.

O Brasil, a 04 anos da Copa, prevê uma gastança de R$ 17,5 bilhões, ou seja, 120% a mais do que o montante investido no torneio sul-africano. Tudo isto, somente para adaptar nossos modestos estádios às recomendações técnicas internacionais, visto que nenhum deles cumpre os requisitos básicos.

Os projetos já deveriam estar prontos há dois anos, mas há cidades que nem sabem, ainda, onde vão ocorrer os jogos, lembrando o exemplo de São Paulo. Quando as obras começarem, já estarão atrasadas e as empreiteiras, com certeza, cobrarão mais caro para cumprir o prazo exigido.

Estudos apontam que a realização de Copas do Mundo contribui com um aumento de, no máximo, 0,2% no PIB dos países-sede. E, na grande maioria daqueles que não se planeja para tirar o melhor proveito do que o evento pode oferecer, os governos assumem todas as responsabilidades para sediá-lo, mas o lucro vai para a FIFA. Foi o caso da África do Sul e pode ser o que presenciaremos, aqui, se observarmos os nossos exemplos sistemáticos.

O principal desafio para todas as cidades-sede, desses eventos, é a capacidade de planejar, elaborar e executar um projeto para dotá-las de transportes urbanos, aeroportos, rodovias, segurança pública, hotéis e opções de entretenimento para o turista. No Brasil, está exatamente aí o nosso maior entrave para dar um eficiente suporte ao certame.

Como estamos sem investimentos, há décadas, temos uma demanda de R$ 180 bilhões em obras de infra-estrutura e a iniciativa privada só se interessa por 15% desse montante, porque o resto é inviável. Além disso, nossa mobilidade urbana é um caos e a solução proposta pelo governo, o trem de alta velocidade, não vai resolver o problema crítico de transporte público, apenas dar um golpe de misericórdia, no contribuinte, no valor de R$ 34 bilhões!

Em minha opinião, a Copa do Mundo é uma cortina de fumaça para desviar a atenção, do brasileiro crédulo e do resto do mundo, dos nossos gravíssimos problemas. Estamos num país assolado pela má gestão, dívida pública estratosférica, corrupção endêmica, violência desenfreada, impunidade crônica e carência de investimentos sociais, especialmente em saúde, educação e segurança.

A Copa do Mundo será boa enquanto os brasileiros estiverem curtindo uma atmosfera festiva. Mas o seu efeito vai passar, os problemas vão continuar e o déficit orçamentário será um legado devastador.

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Addendum: Não bastasse a Copa do Mundo, logo em seguida vem as Olimpíadas. Leiam a nota no boletim eletrônico da revista Foreign Policy (30.07.2010):

Preparing for Olympics, Rio plans to raze favelas

Rio de Janeiro is undertaking a significant rebuilding and reconstruction effort before the 2016 Summer Olympics. The city will raze over 100 of the most "at risk" favelas and rebuild hundreds of others. According to the mayor of Rio, Eduardo Paes, about 13,000 families will be forced from their homes - and it's unclear where the people will be relocated and if they will be compensated.

For the local population, the Olympics are rarely about fun and games. In the last twenty years, the Olympics have displaced over 20 million people, despite the fact that international law stipulates protection from forcible eviction. People are either removed from their homes by the government or priced out: 720,000 at the Seoul Olympics; hundreds of families in Barcelona; 30,000 Atlantans; hundreds of Roma settlers in Athens; and 1.5 million people in Beijing.

Time to "think again"?