domingo, 20 de março de 2011

Corrigindo Obama; sem querer, claro...

Leiam esta frase:

"Graças ao sacrifício de pessoas como a presidente Dilma Roussef, o Brasil saiu da ditadura para a democracia..."

Foi o que disse Obama, ontem, na solenidade do Palácio do Planalto.
Claro, ele não tem nada a ver com o seu conteúdo, pois a frase foi preparada por assessores e ele caiu numa mentira, simplesmente.
A frase é absolutamente equivocada, e quem afirma sou eu mesmo, que também, como a "presidenta" (ugh!) participou da "resistência à ditadura militar", como é a expressão consagrada nos meios de esquerda (de antes e depois, ou de agora mesmo, para os nostálgicos e os "retardados", ou seja, os que ficaram parados no tempo).
Com a "autoridade" (de mentirinha) de quem participou dessa "resistência", posso assegurar a vocês, que nós, ou seja, TODOS aqueles que estavam envolvidos na luta contra a "ditadura" não estávamos engajados em nenhuma luta pela democracia.

O que nós pretendíamos, de verdade, era a substituição seja da ditadura, seja da "democracia burguesa" -- aquela que supostamente existia antes do golpe militar -- por uma DITADURA DO PROLETARIADO.
Era isso, simplesmente, o que queríamos, um regime ao estilo cubano.
Reconheço, retrospectivamente, que foi bom que não tenhamos tido sucesso, pois do contrário provavelmente eu poderia não estar aqui escrevendo estas coisas. Ditaduras, do proletariado ou outras, não gostam muito de democracia e da liberdade de expressão...

As simple as that...

Mister Obama não tem culpa, embora devesse pedir a seus assessores que fossem fieis à verdade histórica. Apenas isto...
Paulo Roberto de Almeida

sábado, 19 de março de 2011

Politica Externa Brasileira (2): tentando entender, na Libia...

Explicações pouco explicativas...
Eu sempre procuro entender, mas não sei se consigo: a gente se opõe a bombardeios aéreos de um lado, contra alvos militares designados, porque existe um risco de civis serem vítimas. Mas, e as vítimas que eram alvo de outros bombardeios, antes? Não temos nada a dizer, a não ser lamentar? Acho que os mortos não vão reclamar da posição brasileira...
Paulo Roberto de Almeida

Itamaraty minimiza abstenção
Demétrio Weber - O Globo

BRASÍLIA. O Itamaraty minimizou ontem o impacto que a abstenção brasileira na votação do Conselho de Segurança da ONU que autorizou o uso de força militar na Líbia terá no encontro deste sábado entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O EUA queriam a licença para uma ação militar e foram um dos dez países a votarem a favor. O Brasil absteve-se, ao lado de Alemanha, China, Índia e Rússia.

O porta-voz do Itamaraty, ministro Tovar Nunes, afirmou que a posição brasileira no Conselho de Segurança da ONU não causou surpresa e que, de praxe, o país não apoia ações que ponham em risco a vida de civis. Ele negou que a abstenção brasileira, na quinta-feira, vá interferir nos rumos da conversa deste sábado:

- De forma alguma cria qualquer tipo de atrito ou constrangimento, pelo fato de as posições serem conhecidas de parte a parte. Não houve surpresa nenhuma - declarou o ministro Tovar Nunes. - O Brasil não tenciona apoiar ação militar que coloque em risco população civil - acrescentou

Mais cedo, em entrevista à Rádio CBN, o porta-voz afirmou que o motivo da abstenção do Brasil foi o texto da resolução aprovada. Ele enfatizou, contudo, que o país não votou contra a resolução:

- A razão principal é o texto da resolução. As medidas previstas vão muito além do que o Brasil acha necessário neste momento. A resolução abre caminho para ações militares e nosso entendimento é que o primeiro passo a ser dado é o fim da violência, a cessação das hostilidades.

Para embaixadora, há riscos para civis
Anteontem, a embaixadora Maria Luiza Viotti, que chefia a missão brasileira na ONU, apontou o trecho do texto que desagrada ao Brasil. Trata-se do "parágrafo operativo 4", que diz que os países poderão tomar "todas as medidas necessárias", à exceção do envio de uma força de ocupação estrangeira, para proteger a população civil da Líbia, inclusive na cidade-símbolo dos rebeldes, Benghazi.

- Estamos também preocupados com a possibilidade de que tais medidas tenham os efeitos involuntários de exacerbar tensões no terreno e de fazer mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos - disse a embaixadora.

Segundo Tovar, o conflito na Líbia será um dos assuntos na conversa de a presidente Dilma e Obama. Ele observou, porém, que isso ocorreria de qualquer maneira, com ou sem a votação de anteontem no Conselho de Segurança.

=================

Risco para civis levou à abstenção do Brasil
Gustavo Chacra - O Estado de S.Paulo

Para Itamaraty, medidas da resolução da ONU podem ""exacerbar as tensões no terreno""

Diferentemente do voto contrário às sanções ao Irã, no ano passado, desta vez a abstenção brasileira não teve motivação política. A decisão de não apoiar o texto foi resultado da avaliação do Itamaraty de que a resolução pode trazer mais riscos do que benefícios para o fim do conflito na Líbia.

A própria embaixadora Maria Luiza Viotti deixou claro a posição ao explicar o voto brasileiro. "Não estamos convencidos de que o uso da força, como dispõe o parágrafo operativo 4 (OP4) da presente resolução, levará à realização do nosso objetivo comum, o fim imediato da violência e a proteção de civis. Estamos também preocupados com a possibilidade de que tais medidas tenham os efeitos involuntários de exacerbar as tensões no terreno e de fazer mais mal do que bem aos próprios civis com cuja proteção estamos comprometidos", disse a diplomata brasileira na ONU.

Os diplomatas brasileiros buscam deixar claro que não estão ao lado de Muamar Kadafi. É uma situação distinta da do ano passado, quando o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para Teerã para se reunir com seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Também não houve divergência como em fevereiro, quando outra resolução contra a Líbia foi aprovada.

Na ocasião, o Itamaraty considerou hipócrita a inclusão de um parágrafo pelos EUA, que buscava, indiretamente, isentar cidadãos americanos da jurisdição do Tribunal Penal Internacional - assim como os líbios, Washington não é signatário do Tratado de Roma, que regula a corte.

Líbano. A votação de ontem chamou a atenção por ter colocado os quatro integrantes do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) no grupo dos que se abstiveram. Apesar da coincidência, não houve uma tentativa coordenada desses países para se contraporem a americanos, britânicos e franceses.

A abstenção da Alemanha, que tradicionalmente se coloca ao lado dos americanos e de outros europeus, também contribuiu para que não houvesse uma especulação de racha entre as potências do Ocidente e os países emergentes.

O envolvimento do Líbano na elaboração e aprovação da resolução foi um dos mais destacados. Com um governo considerado hostil pelos EUA por ter membros do Hezbollah, classificado como terrorista pelos americanos, Beirute atuou ao lado de Washington, Paris e Londres.

A posição firme contra Kadafi não foi apenas por causa do consenso na Liga Árabe. Os libaneses, em especial o Hezbollah, consideram o líder líbio responsável pelo desaparecimento, em 1978, de Musa al-Sadr, uma das maiores lideranças xiitas da história do Líbano. Agora, para os libaneses, chegou a hora de se vingar de Kadafi.

===============

A covarde omissão do Brasil
Clóvis Rossi - Folha de S. Paulo

Itamaraty recusa-se a defender o direito à vida na Líbia; abstenção difere de votos anteriores na ONU

FOI COVARDE a atitude da diplomacia brasileira de abster-se na votação da zona de exclusão aérea na Líbia.
As explicações dadas depois pelo chanceler Antonio Patriota e por seu porta-voz, Tovar Nunes, tornaram ainda mais patética a covardia de não dizer nem sim nem não.
Comecemos com um pouco de história sobre a posição brasileira: assenta-se na tese de que a força não é o melhor instrumento nas relações internacionais.
Se fosse um debate acadêmico, eu aplaudiria de pé.
Mas, na vida real e na situação da Líbia neste momento, torna-se um argumento sem nexo.
O que está havendo na Líbia é o uso desmedido da força bruta por um tirano ensandecido que, de resto, a utiliza contra seu próprio povo faz 42 anos e que, em certa época, utilizou-a também contra terceiros (atentados contra um avião da PanAm sobre os céus da Escócia e contra uma discoteca de Berlim).
Qualquer pessoa dotada de um mínimo de senso comum saberia que um governante desse calibre só entende a linguagem da força.
No entanto, Patriota prefere fechar os olhos e os ouvidos e dizer que o Brasil não descarta "um esforço de diálogo com Gaddafi".
Além de completamente desconectada da realidade, a declaração é inconsistente com os votos do Brasil em sessões recentes de órgãos da ONU. Votou, no Conselho de Segurança, pela imposição de duras sanções ao governo líbio, descartando, portanto, "um esforço de diálogo". Votou também pela suspensão da Líbia do Conselho de Direitos Humanos da instituição, igualmente sem diálogo.
Tovar Nunes explicou que o Brasil "não tem interesse em ação militar que redunde numa contrarreação que piore a situação dos cidadãos".
Ah, meu caro Tovar, a contrarreação já ocorreu por meio da ofensiva que Gaddafi empreendeu contra os rebeldes, bombardeando cidades que eles ocupavam, blindando Trípoli contra manifestações pacíficas (o que viola as liberdades públicas que o Brasil diz defender) e ameaçando uma caçada aos rebeldes casa a casa.
Fica ainda mais patética a posição brasileira diante do efeito prático imediato da decisão do Conselho de Segurança: o tirano anunciou um cessar-fogo. Não se pode confiar em ditadores, é verdade, mas fica a sensação de que o diálogo que o Brasil tanto diz defender só se tornou potencialmente viável a partir da ameaça de uso da força, a única linguagem que tiranos entendem.
Há ainda na abstenção brasileira um desmentido às reiteradas afirmações da presidente Dilma Rousseff de que os direitos humanos estariam no centro de sua agenda de governo. Ao contrário de intervenções militares anteriores (Iraque, Afeganistão, por exemplo), destinadas a caçar o tirano local de turno, a ação do Conselho de Segurança agora visa precisamente a preservar o mais básico direito humano, que é o direito à vida.
Não obstante, o Brasil de Dilma Rousseff omitiu-se covarde e vergonhosamente.

Politica Externa Brasileira (1): tentando entender, no Iemen...

(A) Situacão local:

Polícia mata manifestantes no Iêmen
Associated Press e Efe
SANAA - A polícia efetuou disparos com armas de fogo contra manifestantes na cidade de Áden, em mais uma medida de repressão contra os oposicionistas ordenada pelo presidente Ali Abdalá Saleh.
Ocorreram sangrentos confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes na capital do país, que deixaram pelo menos 46 mortos e centenas de pessoas feridas.

(B) Nota do Itamaraty:

INFO 108 - Situação no Iêmen
Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à Imprensa nº 108
18 de março de 2011

O Governo brasileiro manifesta grande preocupação com os episódios de violência registrados hoje no Iêmen, em que choques ocorridos durante manifestações resultaram em dezenas de vítimas fatais e centenas de feridos.
O Governo brasileiro reitera o repudio ao uso de violência contra manifestantes pacíficos e conclama o Governo e a oposição iemenitas a se engajarem em diálogo com vistas a uma solução negociada para a crise.

===============

Desproporção? Ou falta do sentido de proporção?
Whatever...

Italia: um pais na sua infancia... - Umberto Eco

Todo mundo acha que a Itália é velha. Pois não é, tem menos idade que o Brasil...
Ela só nasceu 150 anos atrás, quando o Brasil existe há quase duzentos anos...

Umberto Eco : "L’Italie, c’est avant tout une langue"
LE MONDE MAGAZINE, 18.03.2011

L'Italie fête les 150 ans de son unité. Anniversaire morose, galvaudé par les tensions récurrentes mais croissantes entre le Nord et le Sud, les scandales à répétition et les frasques de son président du conseil. Silvio Berlusconi ou la caricature d'une certaine Italie : truqueuse, comédienne, machiste, provinciale et vulgaire. Irritante et inquiétante. Mais une autre Italie demeure, géniale et envoûtante, l'Italie de l'harmonie du climat et des palais, des hommes et des choses.

Umberto Eco appartient à cette Italie-là, cosmopolite et éclairée, il est l'un de ces chefs de file, un monument d'érudition, professeur émérite de sémiotique, de linguistique et de philosophie, spécialiste d'esthétique médiévale et romancier à succès : dans la lignée du Nom de la rose et du Pendule de Foucault sort ces jours-ci en France son dernier opus, Le Cimetière de Prague (Grasset), une fresque riche en rebondissements, en complots antisémites et maçonniques dans l'Europe de la seconde moitié du XIXe siècle.

Umberto Eco ou l'élégance nonchalante, paraît-il italienne, qui m'ouvre la porte de son splendide appartement dominant le château des Sforza à Milan en peignoir, cigarillo – éteint – au bec : il avait oublié l'heure de notre rendez- vous. Umberto Eco, l'essayiste, ou le témoin éclairé : né en 1932, au mitan du Ventennio fasciste, dans le Piémont, le berceau de l'unité, il est depuis des décennies, par ses articles de presse et ses prises de position, le chroniqueur des heurs et malheurs de l'Italie.

Pouvait-on envisager meilleur cicérone pour célébrer son 150e anniversaire ?

Umberto Eco, que signifie être italien en ce 150e anniversaire de l'unité du pays ?

Umberto Eco : C'est appartenir à une nation jeune, immature, comparée à de vieux pays européens comme la France, l'Espagne ou l'Angleterre. Pour moi, l'Italie c'est avant tout une langue. Si un Français feuillette aujourd'hui un livre de Rabelais dans sa version originale, il aura des difficultés à comprendre le texte. Idem pour un Britannique s'il parcourt un ouvrage de Chaucer. En revanche, un chauffeur de taxi italien peut comprendre aisément La Divine Comédie, de Dante. La langue italienne a très peu évolué depuis mille ans.

Certes, mais, à l'époque du Risorgimento ["renaissance" ou "résurrection", la période où s'effectue l'unification], en 1860-1861, une infime minorité – 2 % ou à peine plus – de la population parlait l'italien. Ainsi, lorsque Garibaldi et ses hommes débarquent chez les Bourbons en Sicile en 1860, ils éprouvent les plus grandes difficultés à communiquer avec la population locale.

Le Sicilien est un grand mystère, encore aujourd'hui ! Plus sérieusement, c'est vrai qu'au moment de l'unité italienne l'italien est encore une langue de lettrés. C'est d'ailleurs la raison pour laquelle elle a très peu évolué au cours des siècles. Une langue change en se frottant à la réalité quotidienne de la population qui l'emploie. Ce statu quo linguistique a favorisé l'unification tardive de l'Italie au cours de ces cent cinquante dernières années. La langue italienne a fait les Italiens. Car l'Italie, avant d'être une nation – souvenez-vous que Metternich considérait l'Italie comme une "expression géographique" lors du Congrès de Vienne en 1814-1815 –, est d'abord une culture portée par une langue.

Une culture ? Pourtant, en Italie, chaque région, chaque ville se vante d'avoir la culture la plus brillante ou la meilleure cuisine. Depuis des siècles, le campanilismo, l'esprit de clocher des Italiens, est légendaire…

C'est exact. Cependant, il me semble qu'il existe une parenté entre Raphaël et les autres artistes de la péninsule du XVIe siècle. Au Louvre par exemple, même si les œuvres de Raphaël et du Caravage sont distinctes, on constate immédiatement que celles de Poussin sont d'un genre totalement différent. Aux XVIe et XVIIe siècles existent déjà une école de peinture italienne, et plus généralement une culture italienne, des siècles avant la fondation de l'Italie moderne. Mais c'est une culture des élites, présente notamment dans les livres depuis le Moyen Age. Dante appelle à la fondation d'une Italie. Quelques années plus tard, Pétrarque y fait aussi allusion puis, deux siècles plus tard, Machiavel. Au début du XIXe siècle, le poète Giacomo Leopardi aspire à la création de l'Italie. C'est un désir commun à de nombreux artistes et écrivains. Le néoclassicisme romantique d'Alessandro Manzoni est très influencé par la littérature de la Renaissance. Bref, il existe des constantes dans la culture italienne, en particulier une littérature pluriséculaire, qui vont permettre de faire émerger l'Italie unifiée et moderne.

Et puis il y a l'étincelle politique du milieu du XIXe siècle…

Bien sûr, l'unification de l'Italie s'inscrit dans le mouvement des nationalités qui balaie toute l'Europe – la Pologne, la Hongrie, l'Allemagne… – après la Révolution française et l'empire napoléonien. Mais cette aspiration à l'unité est véhiculée par une langue commune aux élites des Etats italiens et se nourrit d'elle. Ainsi, les généraux de Garibaldi, à défaut de comprendre le petit peuple, peuvent s'entretenir et s'entendre avec les bourgeois et les grands propriétaires terriens siciliens. Souvenez-vous du Guépard !

Comment l'italien s'est-il propagé dans la population pour devenir son élément le plus fédérateur ?

En trois phases. D'abord grâce à l'école, au service militaire et, surtout, à la première guerre mondiale. Cinq millions d'Italiens furent mobilisés. Ils apprirent à vivre et à mourir ensemble sous l'uniforme italien.

La guerre fut un creuset : pour la première fois, les gens du Nord et du Sud se côtoyaient. Puis la deuxième phase : ce furent les gigantesques migrations du Sud, agricole, vers le Nord, plus industrialisé. Des épreuves terribles attendaient les nouveaux arrivants, qui communiquaient très difficilement avec les autochtones. Cette deuxième phase se termine dans les années 1950.

Commence alors la troisième phase, la plus intensive : l'unification de la langue par la télévision, qui fournit aux Italiens un lexique et une syntaxe élémentaires. Elle a créé aussi des références communes à un pays qui en manquait. Je songe, par exemple, aux shows de Mike Bongiorno. A la fin des années 1950, son quiz, "Lascia o raddoppia ?" ("quitte ou double ?", en français ?), était si populaire que la vie s'arrêtait dans tout le pays chaque jeudi soir. Même les cinémas étaient fermés ! En propageant cette langue, la télévision a joué un rôle fondamental. Aujourd'hui, un chauffeur de taxi s'exprime comme un avocat des années 1930, il est même capable de citer des articles de loi parce qu'il a été exposé constamment à la télévision. Même Berlusconi parle un bon italien. Grâce à la télévision, certainement !

Vous m'étonnez : je pensais que si nous parlions de télévision vous seriez très critique à son égard…

Attention ! La télé italienne est "trash", elle a corrompu les valeurs, les mœurs et les idées des Italiens, mais reconnaissons qu'elle a largement contribué à l'unité de notre nation en favorisant l'émergence d'une langue commune. Dans les années 1950, un flic originaire du Mezzogiorno était pauvre comme Job, mal fagoté et son accent était terrible. Aujourd'hui, un policier du Sud est bien habillé, il parle un bon italien et, par la grâce de la télévision, il me reconnaîtra !

Malgré le succès de l'italien, l'Italie apparaît très désunie à l'occasion de ses 150 ans. Comment l'expliquez-vous ?

Que voulez-vous, cent cinquante ans, c'est insuffisant pour souder un peuple. Il nous manque un lien pluriséculaire, une certaine constance historique, à la différence des Français et, plus encore, des Britanniques et des Espagnols, qui ont un monarque à leur tête depuis des siècles. Nous n'avons eu que des "tuteurs" temporaires pour quelques décennies : Victor-Emmannuel II pour soixante ans, le fascisme pour vingt ans, la république depuis la fin de la guerre. De fait, nous n'avons jamais tué le père ! Or tuer le père est un acte fondateur pour une nation ! C'est un rite de passage capital. La décapitation de Louis XVI a forgé la nation française.

Vous avez pendu Mussolini, tout de même…

Oui, mais Mussolini n'était que le Duce d'un régime qui n'avait que vingt ans et des poussières. Il n'était pas l'incarnation d'une Italie de la longue durée comme le furent Louis XVI et Charles Ier en Grande-Bretagne, lui aussi décapité. Nous n'avons pas tué le père, faute d'en posséder un. En revanche, nous pratiquons le fratricide comme personne. Voilà une vraie spécialité italienne !

Comment ça, le fratricide ?

Nous sommes les rois des luttes intestines et des guerres picrocholines.

Notre histoire, c'est Florence contre Pise, Pise contre Livourne, Venise contre Milan… Et ça continue aujourd'hui ! Malgré sa situation dramatique, l'opposition de gauche est incapable de se rassembler. A droite, Fini [Gianfranco, leader de l'Alliance nationale, parti héritier du fascisme] s'est fâché avec Berlusconi.

Maintenant, c'est dans le parti de Fini qu'on s'entre-déchire…

Silvio Berlusconi tient quand même plus ou moins sa majorité depuis plus de quinze ans…

Oui, parce qu'il a suffisamment d'argent pour cimenter l'ensemble. Mais le jour où il disparaîtra, la droite s'entre-tuera comme la gauche. Je vous le dis, le fratricide est le grand sport italien.

Pour quelles raisons ?

Mille ans d'unité romaine nous ont certainement épuisés. Il nous en faudra peut-être deux mille pour reprendre notre souffle… Je crois aussi que nous nous entre-déchirons parce que nous n'avons jamais eu d'ennemis intimes. Un jour, j'étais à New York dans un taxi. Le chauffeur pakistanais me demande d'où je viens, quelle langue je parle et quel est l'ennemi de l'Italie. J'ai réfléchi pendant quelques minutes, puis je lui ai dit que l'Autriche, l'Allemagne et quelques autres nous avaient attaqués mais que nous n'avons jamais été fâchés très longtemps. Je lui ai expliqué que les Italiens sont différents des Pakistanais : nous n'avons pas d'ennemi mortel comme l'Inde. Il m'a regardé longuement, déçu, assez méprisant, comme si j'étais, moi, comme toute l'Italie, une lopette. En réalité, je n'ai pas osé lui avouer que mon principal ennemi, c'était le village d'à côté ! C'est ça, l'Italie !

Dans votre nouveau roman, Le Cimetière de Prague, votre "héros", Simonini, un antisémite fanatique, va rejoindre les Chemises rouges de Garibaldi en Sicile à l'occasion de l'expédition des Mille, qui lance l'unification du royaume. Quelle est aujourd'hui la place dans la conscience nationale des héros du Risorgimento (Cavour, Garibaldi, Mazzini, Victor-Emmanuel II) ?

Certains ne veulent pas en entendre parler. Les racistes de la Ligue du Nord en premier lieu. Ils prônent le fédéralisme et même la sécession, s'opposent à tout transfert de richesse vers le Sud. Ils ont fait émerger une littérature pour démontrer que le Risorgimento était une erreur considérable, un complot du royaume du Piémont contre les véritables aspirations des Italiens. De l'autre côté, dans le sud de l'Italie, on assiste à une résurgence culturelle "néo-bourbonnesque" assez étonnante.

Après l'expédition de Garibaldi et la création de l'Italie, beaucoup de Méridionaux ne se sont jamais reconnus dans le nouveau royaume d'Italie.

Pendant très longtemps, on nous a caché la vérité quant aux combats de la fin des années 1860, en Sicile notamment : on nous les a présentés comme une lutte contre le brigandage, alors qu'il s'agissait d'une véritable guerre civile.

Comme en Vendée après la Révolution française. Et, comme en Vendée, la révolte a été violemment écrasée : deux cent mille soldats ont été dépêchés dans le Sud pour combattre les insurgés. Aujourd'hui, des sites Internet prolifèrent pour dénoncer Garibaldi, considéré comme un salaud, parce qu'il a lancé l'OPA du Nord sur le Sud…

Et la majorité des Italiens, que pense-t-elle de l'épopée garibaldienne ?

Je dirais qu'il y a de sa part un désintérêt poli. Garibaldi, c'est un mythe, comme Jeanne d'Arc en France. Il est intouchable, chaque village possède une rue Garibaldi mais il fait partie du paysage. Les symboles du Risorgimento ne sont pas assez parlants dans l'imaginaire collectif. L'unité nationale ne renvoie pas à des symboles forts et immédiats, à un référentiel puissant. Ce n'est pas comme en France où, lorsqu'on évoque la République, on pense immédiatement à la Révolution et à la déclaration des droits de l'homme.

Par ailleurs, pendant très longtemps, ma génération, née dans les années 1930, et celles de l'après-guerre ne voulaient pas entendre parler de "nation" ou de "patrie"… Ces notions étaient associées au fascisme, à la guerre. Nous nous sommes volontairement détachés de cette histoire.

En va-t-il de même pour l'héritage romain, lui aussi surexploité par la propagande fasciste ?

Oui. Il y a eu indigestion de Rome sous Mussolini. Aujourd'hui, le Colisée est bon pour les touristes ou les péplums hollywoodiens !

Est-ce pour cette raison que l'Italie ne semble guère vibrer à l'occasion de ses 150 ans ? Ici, à Milan, on perçoit une indifférence de la population et un désintérêt des autorités publiques. Il n'y a ni affiche ni drapeau dans les rues. En France, pour le bicentenaire de la Révolution, c'était autre chose…

En effet, le gouvernement de droite a considérablement réduit le budget des commémorations. Il n'empêche qu'on sent poindre un certain intérêt pour cet anniversaire. Le 17 février, le comédien et cinéaste Roberto Benigni a fait un coup d'éclat au Festival de la chanson de San Remo. Il est apparu sur un cheval blanc avec, dans une main, le drapeau tricolore italien. Pendant près d'une heure, il a célébré le Risorgimento, ses valeurs, ses héros ainsi que l'Inno di Mameli, ("Frères d'Italie"), notre hymne national… Il a parlé d'orgueil national, d'amour de la patrie, du peuple, de tous ces jeunes qui sont morts pour la patrie, par idéal, il y a cent cinquante ans. Et il a été longuement applaudi. Peut-être que les choses évolueront après l'intervention de Benigni : un poète peut quelquefois changer bien des choses…

Certains Italiens seraient-ils finalement attachés à leur patrie ?

Pour la plupart des Italiens, l'Italie existe, elle est là, et basta ! Ils n'y pensent pas tous les jours, donc ils l'acceptent, ils ne remettent pas en question son existence. En fait, ce sont les positions extrémistes, antinationales, celles de la Ligue du Nord notamment, qui font réagir les gens.

Quand, il y a quelques années, Umberto Bossi, son président, déclarait qu'il "se netto[yait] le cul avec le drapeau national", eh bien oui, la majorité des Italiens a été blessée et a réagi. Les exagérations des extrémistes nous unissent davantage que les aspects positifs de notre histoire et de notre nation.

Le président Giorgio Napolitano, chantre de l'unité du pays, est aussi très populaire…

Compte tenu des tensions actuelles, on note un certain retour en grâce de l'idée nationale. Et je crois que, si Napolitano est respecté, c'est parce qu'il incarne l'unité. Chez les sympathisants de la droite, qui ont même oublié son passé communiste, comme chez ceux de la gauche, ce qui est assez remarquable.

C'est aussi lié à la personnalité de Silvio Berlusconi, qui divise profondément la société italienne…

Bien sûr, c'est lié à la situation politique actuelle. Dans la lignée de son prédécesseur Ciampi, mais plus encore, Napolitano incarne le bon sens, la légalité et la garantie de l'unité aux yeux de la population. Il est en train de donner un lustre nouveau à la fonction présidentielle. Une image paternelle a été créée. Ce n'était pas le cas il y a seulement dix ou vingt ans. A l'exception de Sandro Pertini – président de 1978 à 1985 – qui, pipe à la bouche, touchait le cœur de tous les Italiens, les présidents précédents ne jouissaient pas d'une telle popularité.

De l'extérieur, on a souvent l'impression que les Italiens ne s'unissent que pour supporter leur équipe nationale, celle de football notamment…

Ah, cette éternelle histoire de Calcio italien et de la Squadra Azzura ! Moi, je n'y crois pas ! Je veux dire que les Italiens ne sont pas différents des autres peuples en matière de sport. C'est la même chose depuis les premières compétitions organisées dans la Grèce antique. Voyez-vous, quelles que soient les latitudes, l'homme a conscience qu'il va mourir, il tombe amoureux et il admire en général les choses qui sont bien faites. Le sport, c'est ça : on s'enthousiasme pour les prouesses des athlètes. Les Italiens ne sont pas différents des autres peuples. Cela n'a rien à voir avec notre identité nationale. L'amour qu'on porte à une équipe permet de définir son identité, surtout si on manque de culture. Quelle que soit l'équipe, d'ailleurs : si on faisait jouer les Blancs contre les Noirs ou les moins de 1,60 m contre les plus de 1,80 m, ce serait exactement pareil !

Quel est l'héritage du fascisme dans l'Italie actuelle ?

C'est une question très difficile, notamment parce qu'il n'est pas aisé de définir précisément le fascisme. Il n'avait pas d'idéologie unitaire à la différence du nazisme et du communisme stalinien. C'était un collage de diverses idées politiques et philosophiques, fourmillant de contradictions, qui réunissait la monarchie et la révolution, l'armée royale et la milice personnelle de Mussolini, le contrôle absolu de l'Etat et le libre marché, le futurisme et l'art fasciste. Si le fascisme a été si populaire à une certaine période, c'est parce que la majorité des Italiens pouvait y piocher comme dans un supermarché. Par ailleurs, ce fourre-tout ne fonctionnait que selon la volonté du Duce. J'y vois par conséquent un double héritage pour l'Italie contemporaine : premièrement, le syncrétisme nébuleux séduit toujours ; deuxièmement, le chef charismatique est une composante importante de la culture politique italienne.

L'Eglise s'est longtemps opposée à l'unité italienne. Quelle est sa position aujourd'hui dans la société ?

Il a fallu attendre le règne de la démocratie chrétienne, à partir des années 1950, pour que les catholiques participent à la vie politique italienne. Quant à l'Eglise, elle a su conserver un rôle primordial dans la vie nationale. Cavour voulait faire du Vatican un protectorat italien. Eh bien, cent cinquante ans plus tard, l'Italie demeure un protectorat du Vatican. L'influence politique et financière du pape demeure immense. C'est d'ailleurs la raison pour laquelle l'opposition supplie aujourd'hui le Vatican de prendre position contre Berlusconi.

Parmi les problèmes de l'Italie, il y a les tensions croissantes entre le Nord et le Sud. A l'automne 2010, Giorgio Napolitano déclarait : "Le problème du Mezzogiorno et de l'unification réelle entre le Nord et le Sud reste le plus grand inachèvement du processus unitaire." Ces tensions finiront-elles par s'atténuer ?

Je n'en ai pas la moindre idée. La Ligue du Nord peut tenir des propos délirants, mais il est vrai aussi que le Sud a des faiblesses séculaires, notamment son incapacité à s'auto-administrer et la force du crime organisé et de la corruption. La Mafia existe depuis le Moyen Age.

Ces dernières semaines, les femmes italiennes se sont fortement mobilisées pour dénoncer le sexisme de la société. En écoutant leurs revendications, j'ai pensé à l'essai de Jean-François Revel Pour l'Italie (1958). Il y écrivait notamment : "L'Italie est un pays où la femme n'est pas considérée comme un être humain libre." Un demi-siècle plus tard, rien n'aurait changé pour la femme italienne ?

Au contraire ! Il y a eu d'immenses progrès. A l'époque, il n'y avait pas de ministres femmes, pas de PDG femmes, pas de femmes professeures d'université… Les femmes ont conquis le divorce et gèrent leur sexualité. A l'époque où Revel a écrit ces lignes, des rassemblements comme ceux qui viennent d'avoir lieu n'auraient pas été possibles.

A les entendre, l'Italie demeure un pays machiste…

Attention, le machisme n'a pas disparu, mais il n'est plus célébré. Il fait plus rire qu'autre chose de nos jours…

L'Italie est un Etat jeune mais à la population très âgée. Elle est menacée de scission, sa société est bloquée, elle connaît une fuite des cerveaux plus importante qu'ailleurs en Europe, et pourtant elle fonctionne toujours. Y aurait-il un génie italien ?

Vous vous souvenez de la scène mythique du Troisième Homme quand Harry Lime – Orson Welles –, au pied de la grande roue, au Prater de Vienne, rappelle que sous les Borgia, l'Italie a connu la guerre, la terreur, des meurtres et des massacres mais aussi Michel-Ange, Léonard de Vinci et la Renaissance ? La Suisse, par contre, poursuit Lime, malgré cinq cents ans d'amour fraternel, de démocratie et de paix, n'a produit que le coucou ! Ce qui est faux, par ailleurs, c'est une invention allemande. Bref, dans un pays en crise continuelle depuis 476, date de la déposition du dernier empereur romain, soumis aux caprices de l'histoire, aux luttes intestines, aux occupations étrangères, aux aventures militaires, à la pauvreté, au terrorisme et autres calamités, il a fallu être malin et imaginatif pour survivre. La clé de notre succès, depuis des siècles, ce sont nos crises et nos drames à répétition.

L'Italie n'est ainsi pas près de disparaître ?

Vue sous cet angle, l'Italie a effectivement de beaux jours devant elle.

Propos recueillis par Olivier Guez, envoyé spécial à Milan

O Imperio se curva ao Brasil - Paulo Sotero

Esse título não passaria pela cabeça de um anti-imperialista profissional, desses que pululam na academia. Mas ele é meu, não do jornalista que assina a matéria abaixo transcrita...

O que é novo e relevante na vinda de Obama
Paulo Sotero
O Estado de S.Paulo, 19 de março de 2011

Um fato distingue os dois dias que o presidente Barack Obama passará no Brasil, neste fim de semana, das 14 visitas que líderes dos Estados Unidos fizeram anteriormente ao País. Esta será a primeira vez desde a democratização que o diálogo entre os governos brasileiro e norte-americano será iniciado com a vinda do líder dos Estados Unidos ao Brasil. Até agora, o brasileiro ia primeiro a Washington. Três presidentes, Tancredo Neves, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva, foram aos Estados Unidos em busca de beneplácito antes mesmo de tomar posse.

Em diplomacia, liturgia é substância. Nesse sentido, a vinda de Obama neste início do governo de Dilma Rousseff, ainda que determinada por questões de protocolo, é um gesto significativo. Reflete o desejo dos dois governos de recolocar nos trilhos uma relação importante para ambos depois do descarrilamento provocado por trombadas entre Washington e Brasília em episódios como a crise constitucional em Honduras, em 2009, e a malsucedida mediação brasileiro-turca do impasse nuclear entre o Irã e a comunidade internacional, no ano passado.

Mais importante, talvez, a iniciativa de Obama de vir primeiro ao Brasil simboliza o reconhecimento por Washington da nova importância que o País assumiu nas Américas e no mundo desde que se tornou, há 17 anos, um país democrático e economicamente estável. "O Brasil não é mais um país emergente, o Brasil emergiu", costuma dizer o embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Thomas A. Shannon, quando fala sobre o desafio que as duas nações têm hoje de aprender a se relacionar de forma produtiva e mutuamente vantajosa num mundo em que ambas são atores centrais em questões regionais e globais, como a governança das finanças internacionais, as mudanças climáticas, a segurança alimentar, o combate à pobreza e a defesa da paz.

O contexto torna a mensagem implícita na visita de Obama ainda mais relevante. As dificuldades com que o presidente norte-americano e sua colega brasileira lidam hoje em casa para implementar seus respectivos programas de governo envolvem essencialmente as mesmas questões. Trata-se de reduzir as dívidas e os déficits governamentais, melhorar a qualidade do gasto público e investir forte em educação, infraestrutura e inovação a fim de aumentar a competitividade internacional de suas exportações, ampliar mercados e criar empregos. Com exceção do endividamento, menor no Brasil, são desafios certamente maiores aqui dos que nos Estados Unidos.

Guardadas as devidas proporções, as coincidências das pautas domésticas dos dois governos propiciam um ambiente para um estreitamento de laços que produza mais do que a criação de grupos de trabalho - destes já há mais de 20 - e leve a resultados reconhecíveis como proveitosos por seus beneficiários diretos em ambos os países, ou seja, investidores e empresários, cientistas, educadores, líderes cívicos envolvidos em projetos de promoção da justiça e de maior igualdade social. O primeiro presidente negro dos Estados Unidos e a primeira presidente mulher do Brasil certamente compartilham um interesse natural em fazer com que seus governos enfoquem questões cruciais como o combate à discriminação baseada em gênero e raça. Informações preliminares indicam que Obama e Dilma privilegiarão as áreas de energia e infraestrutura, nas quais há grande interesse de investidores de ambos países em ampliar negócios e abrir mercados. Apostarão, também, no aprofundamento da cooperação científica e tecnológica, uma área na qual os dois países têm história, bem como na cooperação para a assistência ao desenvolvimento na África, que atende a interesses de ambos.

A essa agenda positiva se contrapõem obstáculos que existem nos dois países para a resolução de antigas pendências, como as da política comercial, ou o atendimento da expectativa brasileira de apoio dos Estados Unidos à sua pretensão a uma cadeira permanente num Conselho de Segurança (CS) da ONU reformado e mais representativo da realidade internacional. Há, certamente, nos dois países, quem trabalhe para amplificar essas diferenças. Dedo em riste, um alto funcionário brasileiro disse há dias a um diplomata americano, em evento social, que se Obama não anunciar o apoio dos Estados Unidos a uma cadeira permanente para o Brasil no CS a visita será um fracasso.

Não é o que indica, porém, o empenho do Itamaraty para incluir no comunicado final da visita linguagem sobre uma visão comum a respeito de segurança internacional e desenvolvimento e a necessidade de reformar o CS. Trata-se de uma admissão tácita por parte da diplomacia brasileira da necessidade de, antes de insistir no endosso dos Estados Unidos à cadeira permanente, reconstruir a confiança mútua perdida principalmente no episódio iraniano. Há, por outro lado, uma mudança do rumo da discussão sobre o tema em Washington, alimentada pela reposicionamento do Brasil em relação ao Irã e pelo impacto das rebeliões populares contra tiranias no norte da África e no Oriente Médio.

Em recente reunião informal de ex-embaixadores e altos funcionários da diplomacia dos Estados Unidos, a maioria mostrou-se favorável a que Obama endosse a ascensão do Brasil ao CS durante a visita, como fez em relação à Índia, em visita a Nova Délhi, em 2010. "A reforma do CS e a ascensão do Brasil a membro permanente são inevitáveis e têm baixo custo para a Casa Branca, até porque não é questão em pauta na ONU no momento", disse um dos participantes. No ambiente positivo que se espera que a visita de Obama crie para as relações bilaterais, a manifestação do apoio dos Estados Unidos ao Brasil no CS da ONU produziria o efeito salutar e imediato de fortalecer o engajamento entre as duas maiores democracias e economias do continente. Não seria pouco para um líder que tem tido dificuldade em transformar sua grande popularidade internacional em resultados tangíveis para a política externa dos Estados Unidos.

DIRETOR DO BRAZIL INSTITUTE, WOODROW WILSON INTERNATIONAL CENTER FOR SCHOLARS

Matriz energetica brasileira: discutindo seriamente...

Raramente concordo integralmente com o que escreve esse jornalista, que encontro ecologicamente correto, o que para mim é quase sinônimo de fundamentalismo ambiental.
Mas ele toca nos pontos corretos -- não disse seus argumentos -- neste artigo que conclama à discussão ampla sobre nossas opções energéticas.
Paulo Roberto de Almeida

Energia - a chance de discutir sem soberba
Washington Novaes
O Estado de S.Paulo, 18 de março de 2011

É impressionante a atitude de soberba olímpica - para não falar em descaso ou desprezo - com que o Ministério de Minas e Energia (MME) encara as dúvidas da comunidade científica e da nossa sociedade a respeito da política energética nacional. Uma postura que se torna mais evidente e incompreensível no momento em que o mundo se interroga a respeito dos desdobramentos da série de acidentes nucleares no Japão, após o terremoto e o tsunami. O ministro Edison Lobão, por exemplo, questionado (Agência Estado, 15/3) sobre a possibilidade de estar em questão a segurança das usinas nucleares brasileiras - já que se debate a segurança nuclear no mundo todo -, "descartou a possibilidade de qualquer mudança". E o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear disse apenas temer "danos ao programa nuclear brasileiro", que prevê, além de Angra 3, em construção, mais quatro usinas nucleares até 2030.

Dá a impressão de que estamos fora - ou acima - do mundo, no momento em que a Alemanha suspende a decisão que tomara de prorrogar por 12 anos a vida de usinas que seriam fechadas até 2021 e decide desativar várias usinas antigas; a Suíça suspende o licenciamento de novas usinas; a Áustria pede à União Europeia que teste a segurança de todos os reatores em atividade em 14 dos seus 27 países; o Partido Verde da França (país que mais depende de energia nuclear) exige um referendo sobre o modelo; Bélgica e Polônia anunciam que reavaliarão seus caminhos nessa matéria; o governo da Grã-Bretanha pede reavaliação imediata de 11 usinas projetadas; nos EUA, senadores que defendiam a proposta do presidente Barack Obama de destinar US$ 36 bilhões para 20 usinas nucleares novas agora recomendam prudência (The New York Times, 13/5), já que 31 das atuais 104 usinas nucleares norte-americanas têm tecnologia japonesa, com 23 reatores iguais aos da usina de Fukushima.

Não é só. A secretária da Convenção do Clima, Christiana Figueres, não duvida de que "vai mudar o cenário mundial", tal como dizem especialistas em energia em vários países, inclusive no Brasil. "O acidente vai fazer todo o mundo repensar o uso de usinas nucleares", afirma o professor Aquilino Senra Martinez, da UFRJ, lembrando que o projeto de Fukushima é da década de 60 (Folha de S.Paulo, 13/5). "O desastre serve de alerta para o Brasil", acentua o ex-ministro José Goldemberg, lembrando que o risco na área nuclear é grande e "há melhores opções", que "o Brasil deveria discutir" (O Popular, 13/5). Tudo na mesma linha de editorial deste jornal (15/3, A3), lembrando que o desastre de Fukushima levanta dúvidas sobre a segurança e "deve estimular o debate internacional".

De fato, a tragédia no Japão ressaltou mais uma vez as grandes questões que há décadas permeiam a área nuclear:

Passado e presente evidenciam a alta dose de insegurança de operação de usinas nucleares e os riscos de desastres, quase invariavelmente de consequências dramáticas;

a energia nuclear é muito mais cara que outras formas de energia;

nenhum país conseguiu até hoje equacionar o problema da destinação dos altamente perigosos resíduos de reatores nucleares, que em geral se acumulam nas próprias usinas (como em Angra 1 e 2; em Angra 3, o então ministro Carlos Minc, que sempre criticara as duas primeiras usinas, condicionou o licenciamento da terceira a uma solução "definitiva" para os resíduos - o que não foi feito, mas não impediu o início das obras).

A própria Tepco, empresa que opera a usina acidentada no Japão, já fora multada anteriormente por falhas na segurança de suas usinas. Outras 11 usinas já apresentaram problemas (Estado, 15/3). Ainda assim, o país - que já teve acidentes graves antes - mantém 55 reatores nucleares, que fornecem pouco mais de 30% da energia consumida. Mas é também considerado desde 1990 exemplar em matéria de técnicas de construção resistente a terremotos. Em Fukushima, a usina resistiu ao tremor, mas não ao tsunami; a sequência interrompeu o funcionamento dos geradores de emergência e o resfriamento dos reatores. E é uma usina projetada para resistir a vibrações nas estruturas dez vezes mais intensas que as suportadas por Angra 1 e 2 (Veja, 16/3).

No nosso caso, é preciso lembrar ainda que Angra 1, 2 e 3 estão numa região sujeita a eventos climáticos extremos, que já provocaram no município deslizamentos e desastres. Não bastasse, num programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, o professor Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e hoje uma das principais figuras da área de ciência no governo federal, disse que o projeto de Angra 3 "deveria ser revisto", diante das informações de vários cientistas de que o nível do mar já está se elevando no litoral fluminense, acompanhando o que acontece em praticamente todo o mundo.

São muitas, portanto, as razões que deveriam levar a direção da nossa política de energia a discutir os rumos dessa área. Ouvir a comunidade científica, que, como já foi mencionado neste espaço mais de uma vez, tem dito que o Brasil pode tranquilamente viver com metade da energia que consome hoje - economizando 30% com projetos de conservação e eficiência (como conseguiu economizar no apagão de 2001); ganhando mais 10% com a redução das perdas nas linhas de transmissão, hoje em 17%; e outros 10% com repotenciação de geradores antigos, a custos menores que os de implantação de novas usinas. É o que diz há muito tempo, por exemplo, estudo da Unicamp e do WWF, de 2006. Mas fala ao vento.

Não faz sentido apregoar - como já pregam alguns - que sem a energia nuclear não haverá caminho senão o das mega-hidrelétricas na Amazônia, muito questionadas. Ou a ampliação das termoelétricas - que, na verdade, já está ocorrendo. O que faz sentido é, numa hora dramática como esta, convocar a comunidade científica e, diante da sociedade, debater livremente nosso modelo energético.

JORNALISTA
E-MAIL: WLRNOVAES@UOL.COM.BR

Crises financeiras: preparem-se para a proxima...

Pois é, sempre tem aqueles malucos que ficam passeando com os cartazes conhecidos: The End is Near...
Neste caso, estamos falando de um insider, ou seja, de um homem do sistema financeiro, que conhece as entranhas do monstro, como diria José Marti.

JAMES FREEMAN
Paul Singer: Mega-Banks and the Next Financial Crisis
This hedge-fund manager recognized the risks of subprime mortgages and bet against them. Now he warns that monetary policy could cripple American banks again.

THE WEEKEND INTERVIEW
Mega-Banks and the Next Financial Crisis
By JAMES FREEMAN
The Wall Street Journal, March 19, 2011 - page A11

Hedge-fund manager Paul Singer recognized the risks of subprime mortgages and bet against them. Now he warns that monetary policy could cripple American banks again.

At the height of the housing bubble, hedge-fund manager Paul Singer was shorting subprime mortgages. By the spring of 2007, he was warning regulators on both sides of the Atlantic that the world was facing a major financial crisis.

They ignored him. Now the founder of Elliott Management says the biggest banks are headed for another credit meltdown. Among the likely triggers for the next crisis, Mr. Singer sees one leading candidate: Monetary policy "is extremely risky," he says, "the risk being massive inflation."

In some areas gas prices have reached $4 per gallon, and now Americans must brace themselves for higher grocery bills. This week the Labor Department reported that February wholesale food prices posted their sharpest increase since 1974. News like that has driven Mr. Singer to the history books: He treats visitors to his 5th Avenue office to a copy of a 1931 treatise on German currency debasement, Constantino Bresciani-Turroni's "The Economics of Inflation."

Mr. Singer—who launched Elliott in 1977 and has delivered a 14.3% compound annual return (compared to the S&P 500's 10.9%)—is not comparing today's Federal Reserve to the Reichsbank of the early 1920s. Rather, he's once again warning financial regulators. This time the message is: Don't take for granted investor faith in a major currency.

While at Harvard Law School, Mr. Singer turned down a research job with his intellectual hero, Daniel Patrick Moynihan, to pursue a career in finance. Today, he's still looking for heroes among the stewards of the major currencies. Central bankers, particularly at the Fed but also in Europe, "seem to be acting as if they have unlimited flexibility to ease monetary policy," he says.

He specifically targets the Fed's "unprecedented" policy of sustaining near-zero interest rates and its exercise in money-printing, "Quantitative Easing 2," that has it buying medium- and longer-term securities from the Treasury. "In effect they're treating confidence in fiat money—in paper money—as inexhaustible, that it's a tool that's able to be used not just in the throes of crisis," but also as "a virtually complete substitute for sound fiscal, regulatory and taxing policy."

Fed officials, he adds, "really seem to think that inflation is something they can deal with very easily and very quickly. I don't believe they're right." He notes that, in the late 1970s, inflation was only in the high single digits yet curing it required interest rates of 20% and a collapse of the bond market.

Mr. Singer further warns that investors shouldn't misinterpret apparently bullish signals from a rising market. "Of course printing money is going to support asset prices," but "it's very dangerous" and is not a substitute for trade, tax and regulatory reforms that make America an attractive place for job creation.

"What would a loss of confidence in the dollar actually look like? Gold going absolutely nuts," adds Mr. Singer, who is also a major donor to conservative intellectual causes and think tanks such as the Manhattan Institute. He observes that prices for many commodities are already near all-time highs, even with "kind of a soft recovery" in the U.S. and Europe, and robust growth in Asia. "Imagine if hoarding, speculation, investment positions in [hard assets] accumulate to cause commodities and gold to go rocketing up. Wages, prices will follow," he says.

As destructive as raging inflation would be, why would it hurt the big financial institutions? It could wreak havoc on the ability of big banks' corporate customers to make good on their obligations, Mr. Singer believes—and financial reform did little to reduce risks.

"Dodd-Frank has made the system more brittle and has shaped the next crisis in a very negative way," he warns. "The opacity of financial institution financial statements has not been addressed or changed at all. . . . We have a very large analytical research effort here and we have not found anybody that can parse" the sensitivity of big banks to changes in interest rates, asset prices and the like. "You can't do it."

Even after the crisis, credit ratings "obviously provide no real clue," he says. "Rumor and feeling is all you have. You don't know the financial condition of [Citigroup], JPMorgan, Bank of America, any of them." Mr. Singer believes the big banks still carry too much leverage, and he doesn't trust regulators to monitor them effectively.

The largest financial institutions, he says, are "a random collection of survivors. Almost none of the survivors exist because of their perspicacity, risk controls and sound management—even the ones that are vaunted along those lines. . . . How and why do they exist? Mostly an accident, meaning who got bailed out first and who was saved next and how did people feel and what did people say the weekend Merrill was under pressure [in September 2008]."

Mr. Singer says he does as little business with big banks as possible. "Aside from a large position in Lehman as part of our bankruptcy investing, we have no significant positions in global banks."

"We institutionally have tried to—way before the crisis of '08—tried to insulate ourselves in every way we can from the counterparty problem," i.e. getting involved in a trade with a partner that might not be able to make good on its obligations down the line. But the nature of his business, he says, means that he can't sever all connections. "We've removed as many assets from the Street as we possibly can, and we think we're pretty well insulated. . . . If we could completely avoid being subject to the financial condition of any large financial institution, we would do so."

Most investors don't share this view, of course, and big banks are still able to borrow at lower rates than their smaller competitors. The reason, says Mr. Singer, is that right now the system "is underwritten by the United States government and the governments of Europe. And the system is perceived as underwritten or guaranteed." But, he warns, "at some point that guarantee, in some way that I can't really visualize today, will go away."

Will it really? The authors of Dodd-Frank claim that the law prevents the government from bailing out any particular firm, but the Fed can still provide emergency loans to a failing giant as long as it offers similar financing to other firms.

"It's a very important part of this equation that a few survivors exist in this peculiar relationship with government, having to kowtow to government, make relationships with regulators," says Mr. Singer. "Are they puppets of the government? Are they cronies of the government? Will their lending be affected by the perceived whims or beliefs of the particular government regulators existing at a particular time? Yes."

If the government deems a firm not "systemically important," Mr. Singer forecasts, it could spell its doom. "Small and medium-sized financial institutions may be disadvantaged, may be sacrificed in the next crisis to protect these behemoths," he says.

It gets even worse, Mr. Singer says, if the government ever deems a financial giant "in danger of default"—a judgment that can be made without the consent of the firm or its investors. The business is then taken over by the Federal Deposit Insurance Corporation, with its Orderly Liquidation Authority.

Once in charge of the firm, the government can discriminate among similarly situated creditors and transfer assets out of the business at will. Because of this, says Mr. Singer, creditors and trading counterparties might flee even faster than they would from a firm headed toward bankruptcy, where at least there is established law instead of regulator discretion.

Mr. Singer's fund specializes in distressed debt and bankruptcy situations, so perhaps he has reason to oppose changes to a system he knows so well. But he's also well-qualified to examine the government's reforms.

"You don't know how you will be treated," he says of financial institutions under the new FDIC regime. "If there are companies that are also counterparties alongside you but they've been designated systemically important, that's a clue. It's like a game of treasure hunt. It's a clue that you're going to get disadvantaged compared to them."

So maybe FDIC chairman Sheila Bair and the authors of Dodd-Frank were right about one thing: Perhaps their new process for resolving failing giants really will discourage some people from lending to the biggest banks—but only at the worst possible moment.

The problem, in Mr. Singer's view, will be the jarring shift from one day being an investor in a member of the "systemically important" club, to the next day being a creditor whose claim is determined by bureaucratic whim. This may be welcome news to government pension funds that will want to be bailed out, but certainly not for private investors.

The speed at which a firm will collapse as word gets around that it might be headed to FDIC resolution could be "amazing," says Mr. Singer. And that "speed will drive the size of the losses."

This "atmosphere of unpredictability" is harmful to America's place in the financial world, he says, and "it doesn't make the system any safer. . . . This is nuts to be identifying systemically important institutions." He views it as a poor "substitute for creating soundness and reasonable levels of leverage throughout the system."

Mr. Singer's views on systemic risk are particularly interesting given his prescience about subprime mortgages (to say nothing of his ability to build a firm from zero to $17 billion in assets). In a famous 2006 presentation at a conference hosted by Grant's Interest Rate Observer, he explained in painstaking detail the flaws in subprime-mortgage securitizations, and in the high grades awarded to them by government-anointed credit-rating agencies. In the spring of 2007, he warned the G-7 finance ministers about the grave threat to the banking system, but his words "fell on deaf ears," he says.

Not that Mr. Singer's analytical skills are perfect: In the aftermath of the crisis, he fingered derivatives as a key factor, and he maintains that they will also play a role in the next crisis, even though it's now clear that in 2008 banks were felled by more conventional housing bets, not derivatives. Also, since Elliott largely doesn't play in the derivatives market, Mr. Singer bears few of the costs if that market is regulated more heavily.

Still, Mr. Singer's testimony against Dodd-Frank and Fed monetary policy is compelling.

One reason his firm has survived for 34 years, he says, is that "we try to be very respectful of the unpredictability of markets. We try to at all times at least assume that the world is not being properly run." A safe assumption.

Mr. Freeman is assistant editor of the Journal's editorial page.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...