Absolutamente inédito, aliás ainda não aconteceu: é só o rascunho...
Paulo Roberto de Almeida
Fidel Castro: despedida da vida pública e do socialismo
Fidel Castro Ruz
Ex-Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba, Ex-comandante supremo da Revolução, ex-comunista, ex-socialista, ex-várias outras coisas...
Via Política, 24/04/2011
Fidel Castro, por Gon
(Esboço de último pronunciamento público a ser transmitido em rede nacional na única cadeia de televisão existente na República de Cuba; obtido antecipadamente.)
Caros amigos, caros irmãos, caros concidadãos,
Esta é, provavelmente, a última vez que me dirijo a vocês, e já não o faço, como antes, de um palanque na Praça da Revolução, obrigando vocês a ficarem horas sob o sol causticante de nossa ilha, enquanto eu desfilava meus argumentos em favor da revolução e do socialismo.
Não, o Fidel Castro que aqui aparece já não é mais o mesmo; não que eu já esteja velho de decrépito, o que também é o caso, mas não é por isso que eu escolhi falar a vocês em pronunciamento gravado por nossa única rede de televisão. É que, tendo chegado, de fato, ao ocaso de minha vida, e acabado de renunciar ao cargo de Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, cargo que eu já acumulei com o de presidente desta República, e tendo passado todos esses cargos a meu irmão mais jovem, resolvi que era chegada a hora de acertar contas com a História, e assim, de me despedir dignamente de vocês.
Este Fidel Castro que aqui se despede de cargos, de responsabilidades e de vocês, quer juntar-se a outras figuras históricas do século 20, mas quer fazê-lo na paz de sua consciência, e que por isso decidiu dirigir estas palavras sinceras a todos vocês.
Não sei bem o que farão depois deste pronunciamento, apenas espero que possamos realizar nossa transição política em paz, sem derramamento de sangue, sem vingança contra qualquer pessoa ou instituição, provando ao mundo que nós, cubanos, temos consciência e dignidade suficientes para tratar dos nossos próprios assuntos internos, sem interferências de qualquer poder estrangeiro.
Eis aqui, portanto, o que eu tenho a dizer a vocês.
Pronunciamento televisionado de Fidel Castro ao povo cubano
Pueblo de Cuba, hermanos, compañeros, ciudadanos...
Enquanto estávamos ocupados realizando o 6o. Congresso do Partido Comunista de Cuba, minha mente estava longe, muito longe. Eu estava pensando naquele longínquo 26 de Julho de 1953, quando teve início nossa revolução popular contra a ditadura de um caudilho do imperialismo, o coronel Fulgencio Batista.
Naquele 26 de julho, que depois virou, talvez equivocadamente, nossa data máxima, eu e meus companheiros fizemos o assalto ao quartel de Moncada, dando início à nossa luta contra um regime ditatorial, submisso ao imperialismo ianque. Não fomos felizes naquele primeiro assalto, ao contrário: os mercenários da ditadura conseguiram debelar o nosso intento e acabamos na prisão. No julgamento, que me condenou logo em seguida, eu disse aquelas palavras que ficaram na memória do nosso povo: “a História me absolverá”.
De fato, ela me absolveu, mas, antes dela me absolver, eu fui beneficiado com uma anistia do próprio ditador, e pude me refugiar no México e dar início assim à nossa luta, uma segunda vez. Quase fomos derrotados novamente: dos companheiros que desembarcaram do pequeno bote Granma, hoje o glorioso título de nosso único e aborrecido jornal, poucos se salvaram para buscar refúgio na Sierra Maestra e dali continuar a luta de guerrilhas até a derrota final das forças da ditadura.
Vivemos então dias majestosos e inesquecíveis: pela primeira vez em sua história multissecular, Cuba, que tinha sido colônia espanhola até quase o alvorecer do século 20, e que depois virou uma colônia americana por quase 60 anos, podia colocar-se de pé e começar a construir seu destino soberanamente. As promessas eram de libertação da ditadura, da dominação imperialista, do analfabetismo, justiça e liberdade para todos, a começar pelos campesinos e pelo povo pobre. Fomos saudados entusiasticamente em nosso desfile triunfal pelas ruas de Santiago e de Havana, todos estavam conosco, e os que se opunham buscaram o exílio ou se aliaram ao imperialismo para tentar derrotar-nos.
Fomos bem sucedidos na primeira tentativa de insurreição contra o poder popular, na invasão dos vermes de Miami, mercenários a soldo da CIA e esbirros da ditadura derrotada. Naquele mesmo momento, em 1961, Cuba dava início à construção do socialismo, tarefa que nos ocupou pelos últimos 50 anos. E que, a julgar pelos dizeres de meu irmão no congresso que acaba de se encerrar, ainda não terminou. Sinto discordar dele, para dizer claramente. Terminou, sim: a construção do socialismo acabou por aqui, e já não devemos persistir nesse caminho insano.
Pois bem, caros cidadãos de Cuba, o que eu tenho a dizer hoje a vocês é tão histórico quanto meu pronunciamento de abril de 1961, quando anunciei que Cuba era socialista, que estávamos fazendo nossa opção pelo marxismo-leninismo e que essa decisão era irrevocável. Muitos não concordaram, e se afastaram da revolução: o ritmo de saídas acelerou-se em poucas semanas. Todos os que não concordaram com a nossa opção se foram de nossa ilha e pudemos assim construir o socialismo com os que permaneceram. Foi uma decisão errada, pois dividimos a ilha, dividimos o povo, dividimos as famílias. Estima-se, hoje, que um quarto da população cubana tenha abandonado nossa bela ilha para ir viver no exterior, geralmente nos Estados Unidos.
Durante todo esse tempo, fomos sabotados pelo imperialismo, que manteve um duro embargo contra nossa economia, Não tivemos a compreensão de todos, mas persistimos em nosso ideal. Naquela oportunidade, o socialismo ocupava quase dois terços das terras emersas e grande parte da população mundial. Parecia destinado a enterrar o capitalismo, como vaticinou uma vez um líder da União Soviética, nosso principal aliado e financiador até seu pouco glorioso desaparecimento, 20 anos atrás. Nosso socialismo começou a patinar desde então, e nunca nos recuperamos.
Pensávamos que estávamos no sentido da História, e nisso, posso agora confessar, nos enganamos redondamente. O socialismo foi um sonho, um sonho nobre, em favor do qual tivemos de praticar algumas injustiças – fuzilamentos, restrições à liberdade dos burgueses, controle dos meios de comunicação e dos movimentos políticos e sindicais – mas que eram considerados incômodos passageiros, até atingirmos a situação ideal: um sistema igualitário, o homem novo, a abundância e um futuro radioso para todos. Belo discurso, não é mesmo?
Vejo agora, caros cidadãos, que nos enganamos terrivelmente, eu me enganei, e continuei enganando vocês durante muito tempo. Eu pensei, sinceramente, mas hoje reconheço que errei redondamente, que poderíamos conseguir realizar aquilo que pretendíamos, aquilo que tínhamos lido nos livros do marxismo-leninismo, nos textos que nos prometiam um futuro brilhante pela via do socialismo. Tudo parecia simples: bastava socializar a produção, construir o homem novo, e pronto: todos viveriam bem e satisfeitos na igualdade absoluta e na eliminação da pobreza.
Não é verdade: o sistema não funciona. E não funciona por um motivo muito simples, independentemente da falta de liberdade e do monopólio político no partido: faltam estímulos às pessoas para produzir e se enriquecerem. Como decretamos a propriedade coletiva dos meios de produção – de tudo o que fosse considerado patrimônio nacional, inclusive as habitações individuais das famílias cubanas – ninguém mais se sentia responsável pelo aumento da produção, pela criação de riquezas, pela acumulação de novos meios de produção. Todos queriam trabalhar o menos possível e esperar que o Estado, esse monstro insaciável, lhes desse tudo aquilo que necessitavam para viver. Muitos se acomodaram na mediocridade, mas os mais empreendedores foram embora, simplesmente foram buscar em outras terras os meios de enriquecer que lhes faltavam em Cuba.
Os companheiros chineses se aperceberam disso muito rapidamente, mas aquele ditador asiático que respondia pelo nome de Mao Tsé-tung não fez nenhuma reforma prática enquanto ocupou o poder. Todos sabem, hoje – embora os companheiros do Partido Comunista Chinês não o confessem de público – que as loucuras econômicas de Mao foram responsáveis pela morte direta ou indireta de dezenas de milhões de chineses, sem mencionar o sofrimento adicional trazido pela Revolução Cultural, que simplesmente destruiu as universidades chinesas.
Aliás, já matamos também muita gente: alguns de fome, muitos afogados ou comidos pelos tubarões, ao tentar escapar da ilha, outros de doença nas masmorras que herdamos da ditadura, vários outros, centenas deles, fuzilados nas primeiras horas da revolução. Talvez, proporcionalmente, tanto quanto os chineses. Chega!
Os companheiros chineses se aplicaram nos últimos 30 anos a construir um capitalismo de Estado, e nisso eles tiveram sucesso. Em sua versão oficial, eles dizem que construíram um socialismo com características chinesas, mas na verdade, como dizem os próprios chineses, se trata de um capitalismo com características chinesas, o que significa a preservação do monopólio do poder político do Partido Comunista.
Não creio que possamos fazer o mesmo em Cuba. Essa tentativa de meu irmão de introduzir o capitalismo, preservando o monopólio do Partido Comunista Cubano, simplesmente não vai dar certo. Só vamos prolongar os sofrimentos e as angústias de todos os nossos concidadãos, que esperam ver realizada a profecia de José Martí: homens livres, numa república democrática. O que temos hoje, vamos ser sinceros em reconhecer, são prisioneiros de uma ditadura, homens servos, numa ilha-prisão.
Caros irmãos, cidadãos,
A situação de penúria, de sofrimento, de falta de liberdade em nossa ilha já alcançou limites insuportáveis, até mesmo para mim, que gozo de uma condição relativamente privilegiada. O único lugar em que se come bem, nesta ilha, é naquela porção de terra ainda dominada pelo imperialismo: Guantánamo. Desculpem a ironia.
Não tenho mais para onde ir; nenhum país me estende convites; só me restam uns poucos ditadores espalhados pelo mundo, alguns em situação ainda pior do que a nossa, como vemos um pouco em todas as partes, sobretudo no Oriente Médio. De socialista, mesmo, só sobrou um canto recuado na Ásia, cujo povo vive uma situação de miséria e de opressão ainda pior do que a nossa, se isso é possível conceber.
Sei que nosso irmão socialista do Caribe, um coronel com jeito de Mussolini, que nos financia generosamente, agora que perdemos os subsídios da falecida União Soviética, esse líder político diz que o socialismo não acabou, que ele está apenas começando a se renovar. Isto não é verdade! Quem tem olhos para ver, sabe que o socialismo morreu, o dele tanto quanto o nosso, e estamos assistindo agora à lenta deterioração da situação econômica em seu país, que antecipamos inevitável.
Por isso minha decisão irrevocável, agora tomada, só pode ser uma. A partir de agora, Cuba volta a ser uma república democrática. Esta é minha última vontade.
O Partido Comunista tem de anunciar, imediatamente, que não mais detém o controle absoluto do Estado e do país. Serão organizadas eleições livres, todos poderão participar, de acordo com sua vontade organizada em partidos autônomos do Estado, e os eleitos comporão uma Assembleia Constituinte que decidirá soberanamente sobre o nosso futuro, fazendo tabula rasa dos últimos 50 anos. Os cubanos decidirão o que querem ser e como vão organizar a economia. Vocês são livres para se manifestarem e se organizarem como desejarem.
Eu devia isto a vocês, e só tenho um pedido a fazer: deixem-me morrer com dignidade em minha terra, sem ter de ir para algum exílio indesejado. Não quero para mim aquilo que obriguei outros a adotar: o caminho do exílio e da reconstrução de suas vidas. Eu não tenho mais vida para construir, apenas um nome para preservar na História. E não quero entrar para a História como esses outros ditadores que depois são vilipendiados nos livros. Qualquer que seja o julgamento da História, gostaria de terminar desta maneira: como o líder máximo que resolveu, ainda que tardiamente, desfazer todos os erros que cometeu ao longo da vida, e pedir sinceramente perdão pelos sofrimentos que causei.
Cidadãos de Cuba, levantem-se, vocês estão livres.
Que a História os proteja!
Fidel Castro Ruz
(com uma pequena ajuda de um escriba intrometido: Paulo Roberto de Almeida).
24/4/2011
Fonte: ViaPolítica/O autor
Diplomata, professor de Economia Política Internacional no Uniceub, Doutor em Ciências Sociais.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 26 de abril de 2011
Seminario Internacional de Historia do Tempo Presente - SC, novembro 2011
Chamada de trabalhos: I Seminário Internacional História do Tempo Presente
O evento ocorrerá entre 07 e 09 de Novembro de 2011, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Florianópolis (SC) e contará com a presença dos Professores François Dosse e Michèlle Lagny, além de vários convidados do Brasil e do Cone Sul.
Os trabalhos propostos serão apresentados nos Simpósios Temáticos previstos:
-Relações de gênero, família e infância
-Narrativas e registros audiovisuais
-Patrimônio Cultural e Tempo Presente
-Cidades: narrativas, fluxos e sentidos no Tempo Presente
-Diásporas, trânsitos e fluxos no contexto das migrações internacionais no tempo presente
-A voz e a canção na mídia: construção de memória e história
-Ensino de História no Tempo Presente
-História oral e memória
-Ditaduras e democracias na América Latina
Cronograma básico:
Envio de propostas de comunicações para os Simpósios Temáticos: até 15 de junho de 2011
Divulgação dos trabalhos aceitos: 01 de julho de 2011
Data-limite para envio dos textos completos: 01 de setembro de 2011
Inscrições:
O pagamento para inscrever trabalhos nos Simpósios Temáticos ocorrerá após a
aprovação dos mesmos pelos/as coordenadores/as.
R$ 50,00 sócios ANPUH
R$ 75,00 não sócios ANPUH
(isenção do pagamento para professores de educação básica da rede
pública de Santa Catarina)
Mais informações em www.seminariotempopresente.faed.udesc.br
O evento ocorrerá entre 07 e 09 de Novembro de 2011, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Florianópolis (SC) e contará com a presença dos Professores François Dosse e Michèlle Lagny, além de vários convidados do Brasil e do Cone Sul.
Os trabalhos propostos serão apresentados nos Simpósios Temáticos previstos:
-Relações de gênero, família e infância
-Narrativas e registros audiovisuais
-Patrimônio Cultural e Tempo Presente
-Cidades: narrativas, fluxos e sentidos no Tempo Presente
-Diásporas, trânsitos e fluxos no contexto das migrações internacionais no tempo presente
-A voz e a canção na mídia: construção de memória e história
-Ensino de História no Tempo Presente
-História oral e memória
-Ditaduras e democracias na América Latina
Cronograma básico:
Envio de propostas de comunicações para os Simpósios Temáticos: até 15 de junho de 2011
Divulgação dos trabalhos aceitos: 01 de julho de 2011
Data-limite para envio dos textos completos: 01 de setembro de 2011
Inscrições:
O pagamento para inscrever trabalhos nos Simpósios Temáticos ocorrerá após a
aprovação dos mesmos pelos/as coordenadores/as.
R$ 50,00 sócios ANPUH
R$ 75,00 não sócios ANPUH
(isenção do pagamento para professores de educação básica da rede
pública de Santa Catarina)
Mais informações em www.seminariotempopresente.faed.udesc.br
segunda-feira, 25 de abril de 2011
BRICS: solucoes pacificas, por favor, somos pelo dialogo...
Primeiro o artigo:
Ser radical é tomar as coisas
Celso Amorim
Carta Capital, 25 de abril de 2011
A Velha Ordem está morrendo. Viva a Nova! Já não será possível que um grupo de potências ocidentais dite a vontade do mundo.
Os líderes (no caso do Brasil, a líder) dos cinco países emergentes que, com a adesão da África do Sul, hoje compõem os BRICS reuniram-se em Sanya, na China, em 14 de abril último. A entrada da África do Sul é bem-vinda por trazer a África para esse grupo, cuja crescente importância no cenário internacional já não é mais contestada. Evidentemente, os pessimistas profissionais continuam a apontar diferenças de interesses entre os membros dos BRICS, traduzindo, em verdade, seu desconforto com a criação desse grande espaço de cooperação entre países até há pouco considerados subdesenvolvidos.
O mundo assiste à ascensão dos BRICS com um misto de esperança (de dividir encargos) e temor (de compartilhar decisões). Com o surgimento dos BRICS, chega ao fim a época em que -duas ou três potências ocidentais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, podiam reunir-se numa sala e sair de lá falando em nome da “comunidade internacional”.
Tive oportunidade de participar dos primeiros movimentos que deram origem ao nascimento dos BRIC (então sem o “S”). Ou para usar uma terminologia que tomo emprestada da filosofia, da passagem dos BRIC de uma realidade “em si”, identificada pelo analista de mercado Jim O’Neill, para uma realidade “para si”. Foram necessários quatro ou cinco anos para que esses países assumissem sua identidade como grupo. O primeiro passo nesse sentido foi o convite do ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, para que os chanceleres dos quatro países se reunissem à margem da Assembleia Geral da ONU. Foi um encontro pouco estruturado. Interação mesmo, se é que houve, ficou restrita ao ministro russo e a mim.
No ano seguinte, tomei a iniciativa de convidar meus colegas para um almoço de trabalho na residência oficial da nossa representante permanente junto à ONU, Maria Luiza Viotti. Foi durante esse encontro que se tomou a decisão, inicialmente vista com certa reserva pela China, de convocar reunião a ser realizada em um dos países – e não como mero apêndice da pesada agenda dos ministros durante a Assembleia Geral. Assim, em maio de 2008, realizou-se a primeira reunião formal dos BRIC, na fria cidade russa de Ekaterinbrugo, no limite da Europa com a Ásia, com direito a declaração final e tudo o mais, ainda em nível de ministros. No ano seguinte, teve lugar, também na Rússia, a primeira cúpula de líderes. Antes disso, houve a tentativa, que acabou limitada a uma foto, de um encontro dos quatro, à margem da reunião do G-8 com alguns países em desenvolvimento, no Japão. Em 2010, ocorreu a Cúpula de Brasília, que quase não mereceu -atenção da mídia -brasileira, mas que motivou um documentário da tevê franco-alemã, a ARTE. E agora tivemos a Cúpula de Sanya, na China
E o que se nota ao longo desse processo? Primeiro, obviamente, a consolidação do grupo. Quando o Brasil propôs sediar a reunião do ano passado, a oferta foi aceita quase como um gesto de cortesia para com o presidente Lula, já que se tratava do final do seu mandato. Agora, sem que nada equivalente esteja ocorrendo, já se fixou a próxima cúpula para o ano que vem na Índia. Em suma, os líderes dos BRICS já não têm dúvidas sobre a importância de se reunir para discutir a cooperação entre eles e temas de interesse global, das finanças ao comércio, da energia à mudança do clima. Mais significativo, vencendo uma inibição que se fazia notar, sobretudo da parte da China, não hesitaram em tratar de questões relativas à paz e segurança internacionais. Em relação à Líbia, reafirmaram o desejo de encontrar uma solução “por meios pacíficos e pelo diálogo”. De forma mais geral, referindo-se ao Oriente Médio e à África, reafirmaram que o uso da força deve ser evitado. Como assinalou o comentarista do Financial Times, Gideon Rachman (embora eu discorde de sua análise das motivações), a intervenção anglo-franco-norte-americana na Líbia talvez seja o último hurrah! do que ele chama de intervencionismo liberal. Lembrando que Brasil, Índia, Rússia e China se abstiveram da resolução que autorizou “todas as medidas necessárias” para o estabelecimento da zona de exclusão aérea e a proteção da população civil, Rachman afirma que esses países, “as potências econômicas em ascensão”, são céticas sobre tal conceito. Aliás, se o Conselho voltar a reunir-se sobre o tema, é muito provável que a África do Sul, recém-ingressada nos BRICS e tendo de levar em conta posições mais recentes da União Africana, acompanhe seus novos companheiros de grupo. Isso deixaria a coalizão que apoiou o uso da força dependente de um único voto para qualquer nova ação que deseje tomar.
Bem… quais as consequências disso tudo? É que, com reforma ou sem reforma do Conselho de Segurança, já não será mais possível, por muito tempo, que um grupo de potências ocidentais decrete qual é a vontade da comunidade internacional. Da mesma forma que já não é possível para o G-7 (o G-8, do ponto de vista econômico, é uma ficção) ditar as regras que depois restaria ao FMI, ao Banco Mundial ou à OMC implementar. É evidente que, enquanto o Conselho da ONU não for efetivamente reformado, tudo será mais complicado e as grandes potências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, especialmente os Estados Unidos, continuarão a barganhar apoios de Rússia e China, mediante concessões casuísticas, como fizeram por ocasião da adoção de sanções contra o Irã. Mas a tarefa será cada vez mais difícil. O surgimento dos BRICS no formato atual constitui uma verdadeira revolução no equilíbrio mundial, que se torna mais multipolar e mais democrático. Às vezes, as revoluções (refiro-me às verdadeiras, é claro) exigem tempo para se institucionalizarem. Mas isso acaba, inevitavelmente, ocorrendo.
Article printed from CartaCapital: http://www.cartacapital.com.br
URL to article: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/ser-radical-e-tomar-as-coisas.
==========
O que o ex-ministro está dizendo, em sintese, é que, na próxima vez que o CSNU se reunir para tomar alguma decisão, qualquer decisão, do tipo que se fez em relação ao massacre anunciado por Kadafy da população de Benghazi, os Brics vão propor que a situação seja resolvida por meios pacíficos, ou seja, pelo diálogo entre um ditador truculento e uma população sem armas.
Bela posição.
Funcionou em Ruanda.
Quando decidiram intervir, já se tinham ido 500 ou 600 mil pessoas.
Provavelmente os BRICS vão se opor a qualquer pressão sobre o governo da Síria, que vai continuar matando seu próprio povo, na indiferença geral. Se o CSNU quiser adotar qualquer solução a respeito, terá de ser por "uma solucao pacífica" e por meio do "diálogo entre as partes".
Bonito isto...
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Paulo Roberto de Almeida
Ser radical é tomar as coisas
Celso Amorim
Carta Capital, 25 de abril de 2011
A Velha Ordem está morrendo. Viva a Nova! Já não será possível que um grupo de potências ocidentais dite a vontade do mundo.
Os líderes (no caso do Brasil, a líder) dos cinco países emergentes que, com a adesão da África do Sul, hoje compõem os BRICS reuniram-se em Sanya, na China, em 14 de abril último. A entrada da África do Sul é bem-vinda por trazer a África para esse grupo, cuja crescente importância no cenário internacional já não é mais contestada. Evidentemente, os pessimistas profissionais continuam a apontar diferenças de interesses entre os membros dos BRICS, traduzindo, em verdade, seu desconforto com a criação desse grande espaço de cooperação entre países até há pouco considerados subdesenvolvidos.
O mundo assiste à ascensão dos BRICS com um misto de esperança (de dividir encargos) e temor (de compartilhar decisões). Com o surgimento dos BRICS, chega ao fim a época em que -duas ou três potências ocidentais, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, podiam reunir-se numa sala e sair de lá falando em nome da “comunidade internacional”.
Tive oportunidade de participar dos primeiros movimentos que deram origem ao nascimento dos BRIC (então sem o “S”). Ou para usar uma terminologia que tomo emprestada da filosofia, da passagem dos BRIC de uma realidade “em si”, identificada pelo analista de mercado Jim O’Neill, para uma realidade “para si”. Foram necessários quatro ou cinco anos para que esses países assumissem sua identidade como grupo. O primeiro passo nesse sentido foi o convite do ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, para que os chanceleres dos quatro países se reunissem à margem da Assembleia Geral da ONU. Foi um encontro pouco estruturado. Interação mesmo, se é que houve, ficou restrita ao ministro russo e a mim.
No ano seguinte, tomei a iniciativa de convidar meus colegas para um almoço de trabalho na residência oficial da nossa representante permanente junto à ONU, Maria Luiza Viotti. Foi durante esse encontro que se tomou a decisão, inicialmente vista com certa reserva pela China, de convocar reunião a ser realizada em um dos países – e não como mero apêndice da pesada agenda dos ministros durante a Assembleia Geral. Assim, em maio de 2008, realizou-se a primeira reunião formal dos BRIC, na fria cidade russa de Ekaterinbrugo, no limite da Europa com a Ásia, com direito a declaração final e tudo o mais, ainda em nível de ministros. No ano seguinte, teve lugar, também na Rússia, a primeira cúpula de líderes. Antes disso, houve a tentativa, que acabou limitada a uma foto, de um encontro dos quatro, à margem da reunião do G-8 com alguns países em desenvolvimento, no Japão. Em 2010, ocorreu a Cúpula de Brasília, que quase não mereceu -atenção da mídia -brasileira, mas que motivou um documentário da tevê franco-alemã, a ARTE. E agora tivemos a Cúpula de Sanya, na China
E o que se nota ao longo desse processo? Primeiro, obviamente, a consolidação do grupo. Quando o Brasil propôs sediar a reunião do ano passado, a oferta foi aceita quase como um gesto de cortesia para com o presidente Lula, já que se tratava do final do seu mandato. Agora, sem que nada equivalente esteja ocorrendo, já se fixou a próxima cúpula para o ano que vem na Índia. Em suma, os líderes dos BRICS já não têm dúvidas sobre a importância de se reunir para discutir a cooperação entre eles e temas de interesse global, das finanças ao comércio, da energia à mudança do clima. Mais significativo, vencendo uma inibição que se fazia notar, sobretudo da parte da China, não hesitaram em tratar de questões relativas à paz e segurança internacionais. Em relação à Líbia, reafirmaram o desejo de encontrar uma solução “por meios pacíficos e pelo diálogo”. De forma mais geral, referindo-se ao Oriente Médio e à África, reafirmaram que o uso da força deve ser evitado. Como assinalou o comentarista do Financial Times, Gideon Rachman (embora eu discorde de sua análise das motivações), a intervenção anglo-franco-norte-americana na Líbia talvez seja o último hurrah! do que ele chama de intervencionismo liberal. Lembrando que Brasil, Índia, Rússia e China se abstiveram da resolução que autorizou “todas as medidas necessárias” para o estabelecimento da zona de exclusão aérea e a proteção da população civil, Rachman afirma que esses países, “as potências econômicas em ascensão”, são céticas sobre tal conceito. Aliás, se o Conselho voltar a reunir-se sobre o tema, é muito provável que a África do Sul, recém-ingressada nos BRICS e tendo de levar em conta posições mais recentes da União Africana, acompanhe seus novos companheiros de grupo. Isso deixaria a coalizão que apoiou o uso da força dependente de um único voto para qualquer nova ação que deseje tomar.
Bem… quais as consequências disso tudo? É que, com reforma ou sem reforma do Conselho de Segurança, já não será mais possível, por muito tempo, que um grupo de potências ocidentais decrete qual é a vontade da comunidade internacional. Da mesma forma que já não é possível para o G-7 (o G-8, do ponto de vista econômico, é uma ficção) ditar as regras que depois restaria ao FMI, ao Banco Mundial ou à OMC implementar. É evidente que, enquanto o Conselho da ONU não for efetivamente reformado, tudo será mais complicado e as grandes potências que emergiram vitoriosas da Segunda Guerra Mundial, especialmente os Estados Unidos, continuarão a barganhar apoios de Rússia e China, mediante concessões casuísticas, como fizeram por ocasião da adoção de sanções contra o Irã. Mas a tarefa será cada vez mais difícil. O surgimento dos BRICS no formato atual constitui uma verdadeira revolução no equilíbrio mundial, que se torna mais multipolar e mais democrático. Às vezes, as revoluções (refiro-me às verdadeiras, é claro) exigem tempo para se institucionalizarem. Mas isso acaba, inevitavelmente, ocorrendo.
Article printed from CartaCapital: http://www.cartacapital.com.br
URL to article: http://www.cartacapital.com.br/destaques_carta_capital/ser-radical-e-tomar-as-coisas.
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O que o ex-ministro está dizendo, em sintese, é que, na próxima vez que o CSNU se reunir para tomar alguma decisão, qualquer decisão, do tipo que se fez em relação ao massacre anunciado por Kadafy da população de Benghazi, os Brics vão propor que a situação seja resolvida por meios pacíficos, ou seja, pelo diálogo entre um ditador truculento e uma população sem armas.
Bela posição.
Funcionou em Ruanda.
Quando decidiram intervir, já se tinham ido 500 ou 600 mil pessoas.
Provavelmente os BRICS vão se opor a qualquer pressão sobre o governo da Síria, que vai continuar matando seu próprio povo, na indiferença geral. Se o CSNU quiser adotar qualquer solução a respeito, terá de ser por "uma solucao pacífica" e por meio do "diálogo entre as partes".
Bonito isto...
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Paulo Roberto de Almeida
Misterio dos blocos comerciais: a Alba existe
Desafio a me provarem que a Alba existe...
Bloco "liberal" deve ser contraponto a hegemonia do Brasil
Países latino-americanos da costa do oceano Pacífico pretendem assinar acordo comercial no dia 2 de maio
PATRÍCIA CAMPOS MELLO, DE SÃO PAULO
O Estado de S.Paulo, 25/04/2011
Chamado de AIP, deverá reunir Peru, Chile, México e Colômbia; analistas veem reação a grupo "bolivariano"
Em 2 de maio, os presidentes de Peru, Chile, México e Colômbia vão oficializar em Lima a criação de um novo bloco econômico que vem sendo chamado de Área de Integração Profunda (AIP), ou "bloco do Pacífico".
Um dos objetivos é ser um contraponto ao poder regional do Brasil e ao Mercosul.
O Brasil vê com ceticismo a iniciativa, capitaneada pelo peruano Alan García, presidente em fim de mandato.
O governo brasileiro aposta na guinada da política externa da Colômbia, que, sob a égide do presidente Juan Manuel Santos, reaproximou-se da Venezuela.
A Colômbia tem também se distanciado um pouco dos EUA, diante da resistência do Congresso americano em aprovar o acordo de livre comércio entre os dois países.
Mas Santos, em entrevista ao jornal "New York Times" em março, deixou claro o objetivo estratégico do novo bloco. "De certa maneira, o bloco vai contrabalançar o Brasil", disse.
ESTRIDÊNCIA
"Trata-se de uma reação instintiva dos vizinhos formar um contraponto ao Brasil, que é a grande potência regional; é um movimento de defesa natural", diz Amado Cervo, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. "Eles estão procurando outras vias para atração de investimentos, dando uma dimensão mais atraente a seus mercados."
A AIP reúne os países "liberais" da região, em oposição à Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), mais à esquerda, cria do venezuelano Hugo Chávez.
A AIP vai conectar 200 milhões de pessoas, 16 mil km de costa no Pacífico e mais de US$ 2,5 trilhão de PIB.
Ou seja, é um bloco que se aproxima das dimensões do Brasil, que tem aproximadamente 200 milhões de habitantes e US$ 2,2 trilhões de PIB. O AIP também é três vezes maior que a Alba.
Os países participantes já mantêm acordos de livre comércio entre si, com a exceção de Peru e México. Todos têm tratados com os EUA, exceto a Colômbia.
"A Alba é muito estridente, mas não traz muitos resultados práticos; já esse bloco pode ter resultados bem mais palpáveis", diz Shannon O"Neil, do Council on Foreign Relations.
"O acordo vai dar a esses países maior poder de barganha para negociar com o Brasil, por exemplo."
Para Cervo, esse novo bloco "só dá continuação a uma dispersão que existe hoje na América Latina".
País nega estar preocupado com aliança
DE SÃO PAULO
O governo brasileiro diz que não encara o novo bloco econômico como um concorrente para o Mercosul.
Para Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, "alguns países vão querer dar um caráter mais político a esse bloco, criar um polo de oposição" ao Mercosul. "Mas eu não vejo a Colômbia tentando criar uma alternativa à Unasul ou ao Mercosul", disse.
Ele aproveita para dar uma alfinetada no presidente do Peru, Alan García.
"Para sabermos qual a transcendência desse bloco, deveríamos esperar as eleições de 5 de junho no Peru; qualquer decisão lá tem dois meses de validade."
O Brasil também mantém convite à Colômbia para integrar o Mercosul. Marco Aurélio esteve em Bogotá em fevereiro e levou ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e à chanceler, María Ángela Holguín, uma proposta para ingresso no bloco.
Ele afirma que a Colômbia "terá de avaliar suas opções".
Segundo o assessor, "não existe necessidade de contrabalançar o Brasil na região".
"Sim, temos problemas comerciais na região, a exuberância econômica brasileira causa tensões, mas nós tentamos equilibrar nossos superavits com os países e aumentamos investimentos brasileiros nessas nações."
Ele também aponta que o novo bloco poderia criar conflitos com a Comunidade Andina, formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.
"Não sei o que acontecerá com a Comunidade Andina. O grupo irá liberar também os outros integrantes a fazer o que quiserem?", pergunta Marco Aurélio.
(PATRÍCIA CAMPOS MELLO)
Bloco "liberal" deve ser contraponto a hegemonia do Brasil
Países latino-americanos da costa do oceano Pacífico pretendem assinar acordo comercial no dia 2 de maio
PATRÍCIA CAMPOS MELLO, DE SÃO PAULO
O Estado de S.Paulo, 25/04/2011
Chamado de AIP, deverá reunir Peru, Chile, México e Colômbia; analistas veem reação a grupo "bolivariano"
Em 2 de maio, os presidentes de Peru, Chile, México e Colômbia vão oficializar em Lima a criação de um novo bloco econômico que vem sendo chamado de Área de Integração Profunda (AIP), ou "bloco do Pacífico".
Um dos objetivos é ser um contraponto ao poder regional do Brasil e ao Mercosul.
O Brasil vê com ceticismo a iniciativa, capitaneada pelo peruano Alan García, presidente em fim de mandato.
O governo brasileiro aposta na guinada da política externa da Colômbia, que, sob a égide do presidente Juan Manuel Santos, reaproximou-se da Venezuela.
A Colômbia tem também se distanciado um pouco dos EUA, diante da resistência do Congresso americano em aprovar o acordo de livre comércio entre os dois países.
Mas Santos, em entrevista ao jornal "New York Times" em março, deixou claro o objetivo estratégico do novo bloco. "De certa maneira, o bloco vai contrabalançar o Brasil", disse.
ESTRIDÊNCIA
"Trata-se de uma reação instintiva dos vizinhos formar um contraponto ao Brasil, que é a grande potência regional; é um movimento de defesa natural", diz Amado Cervo, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. "Eles estão procurando outras vias para atração de investimentos, dando uma dimensão mais atraente a seus mercados."
A AIP reúne os países "liberais" da região, em oposição à Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), mais à esquerda, cria do venezuelano Hugo Chávez.
A AIP vai conectar 200 milhões de pessoas, 16 mil km de costa no Pacífico e mais de US$ 2,5 trilhão de PIB.
Ou seja, é um bloco que se aproxima das dimensões do Brasil, que tem aproximadamente 200 milhões de habitantes e US$ 2,2 trilhões de PIB. O AIP também é três vezes maior que a Alba.
Os países participantes já mantêm acordos de livre comércio entre si, com a exceção de Peru e México. Todos têm tratados com os EUA, exceto a Colômbia.
"A Alba é muito estridente, mas não traz muitos resultados práticos; já esse bloco pode ter resultados bem mais palpáveis", diz Shannon O"Neil, do Council on Foreign Relations.
"O acordo vai dar a esses países maior poder de barganha para negociar com o Brasil, por exemplo."
Para Cervo, esse novo bloco "só dá continuação a uma dispersão que existe hoje na América Latina".
País nega estar preocupado com aliança
DE SÃO PAULO
O governo brasileiro diz que não encara o novo bloco econômico como um concorrente para o Mercosul.
Para Marco Aurélio Garcia, assessor internacional da Presidência, "alguns países vão querer dar um caráter mais político a esse bloco, criar um polo de oposição" ao Mercosul. "Mas eu não vejo a Colômbia tentando criar uma alternativa à Unasul ou ao Mercosul", disse.
Ele aproveita para dar uma alfinetada no presidente do Peru, Alan García.
"Para sabermos qual a transcendência desse bloco, deveríamos esperar as eleições de 5 de junho no Peru; qualquer decisão lá tem dois meses de validade."
O Brasil também mantém convite à Colômbia para integrar o Mercosul. Marco Aurélio esteve em Bogotá em fevereiro e levou ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e à chanceler, María Ángela Holguín, uma proposta para ingresso no bloco.
Ele afirma que a Colômbia "terá de avaliar suas opções".
Segundo o assessor, "não existe necessidade de contrabalançar o Brasil na região".
"Sim, temos problemas comerciais na região, a exuberância econômica brasileira causa tensões, mas nós tentamos equilibrar nossos superavits com os países e aumentamos investimentos brasileiros nessas nações."
Ele também aponta que o novo bloco poderia criar conflitos com a Comunidade Andina, formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.
"Não sei o que acontecerá com a Comunidade Andina. O grupo irá liberar também os outros integrantes a fazer o que quiserem?", pergunta Marco Aurélio.
(PATRÍCIA CAMPOS MELLO)
O besteirol da semana: protecionismo linguistico (um dos mais estupidos)
Politicos costumam gastar (mal) o nosso dinheiro, isso sabemos todos.
Eles também costumam aprovar projetos absolutamente inócuos, verdadeiras jabuticabas ambulantes, que ficam por aí, pendurados na legislação, sem pegar, mas provocando uma tremenda poluição legal.
De vez em quando, a estupidez baixa com toda violência e ocorre exemplos deste tipo.
Surpreende que um dos estados mais diversificados em sua origem étnica e cultural, dotado de um dos maiores IDHs do Brasil, senão o maior, com escolas supostamente de qualidade, tenha sido capaz de aprovar, por meio de sua Assembléia Legislativa, uma das leis mais estúpidas de que já se ouviu falar no Brasil desde Cabral.
Só podia ser emanada de deputados do PCdoB, esse monumento stalinista ao atraso e à boçalidade cultural.
Claro, não vai pegar, e só vai ser objeto de gozação, sem deixar de provocar novas "contaminações" de estrangeirismo no gauchês -- que diga-se de passagem já contem vários --, por pura vontade de contrariar de quem for um pouco mais gozador.
Eu inscreveria os deputados responsáveis por essa legislação estúpida no Guinnes da burrice nacional e internacional, com prêmio "data venia" (se é que pode o latim...).
Enfim, lamento pelos gaúchos, que contam com mulas de gravata na sua Assembléia...
Paulo Roberto de Almeida
No RS, estrangeirismo serão proibidos
GRACILIANO ROCHA, DE PORTO ALEGRE
Folha de São Paulo, 24/04/2011
Assembleia gaúcha aprova lei proibindo estrangeirismo na escrita
Os deputados do Rio Grande do Sul aprovaram uma lei para banir o bullying, o spam, o pizzaiolo e qualquer outro vocábulo estrangeiro sem estar acompanhado tradução nas propagandas e documentos oficiais do Estado.
Aprovada por 26 votos a 24, a lei foi proposta pelo deputado Raul Carrion (PC do B) e institui a obrigatoriedade da do uso de expressões em português no lugar das estrangeiras "em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da palavra escrita" no Estado.
Ainda caberá ao governador Tarso Genro (PT) sancionar ou vetar a lei.
O principal alvo da regulamentação são estrangeirismos que poderiam ser facilmente substituídos por palavras em português, como os anúncios que trazem o termo "sale" no lugar de "liquidação", mas a lei vai além.
Quando não houver uma expressão equivalente em português, diz o texto aprovado, uma tradução deverá acompanhar com o mesmo tamanho e destaque o intruso linguístico.
Fosse aplicado tal qual o texto aprovado, o princípio obrigaria uma propaganda de restaurante japonês, por exemplo, a explicar que sashimi são fatias de peixe cru.
A reportagem não conseguiu falar com o deputado. No texto de justificativa do projeto, ele acusa a existência de uma "acelerada descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária".
Além de ser considerada inócua por linguistas, para quem idiomas são sistemas "vivos" em constante transformação, a iniciativa enfureceu o mercado publicitário gaúcho, potencialmente o maior prejudicado pela lei.
"É uma coisa insana querer engessar a língua. Mas, como não prevê punição, é mais uma lei que não vai pegar", diz Alfredo Fedrizzi, dono de uma agência de publicidade em Porto Alegre.
Eles também costumam aprovar projetos absolutamente inócuos, verdadeiras jabuticabas ambulantes, que ficam por aí, pendurados na legislação, sem pegar, mas provocando uma tremenda poluição legal.
De vez em quando, a estupidez baixa com toda violência e ocorre exemplos deste tipo.
Surpreende que um dos estados mais diversificados em sua origem étnica e cultural, dotado de um dos maiores IDHs do Brasil, senão o maior, com escolas supostamente de qualidade, tenha sido capaz de aprovar, por meio de sua Assembléia Legislativa, uma das leis mais estúpidas de que já se ouviu falar no Brasil desde Cabral.
Só podia ser emanada de deputados do PCdoB, esse monumento stalinista ao atraso e à boçalidade cultural.
Claro, não vai pegar, e só vai ser objeto de gozação, sem deixar de provocar novas "contaminações" de estrangeirismo no gauchês -- que diga-se de passagem já contem vários --, por pura vontade de contrariar de quem for um pouco mais gozador.
Eu inscreveria os deputados responsáveis por essa legislação estúpida no Guinnes da burrice nacional e internacional, com prêmio "data venia" (se é que pode o latim...).
Enfim, lamento pelos gaúchos, que contam com mulas de gravata na sua Assembléia...
Paulo Roberto de Almeida
No RS, estrangeirismo serão proibidos
GRACILIANO ROCHA, DE PORTO ALEGRE
Folha de São Paulo, 24/04/2011
Assembleia gaúcha aprova lei proibindo estrangeirismo na escrita
Os deputados do Rio Grande do Sul aprovaram uma lei para banir o bullying, o spam, o pizzaiolo e qualquer outro vocábulo estrangeiro sem estar acompanhado tradução nas propagandas e documentos oficiais do Estado.
Aprovada por 26 votos a 24, a lei foi proposta pelo deputado Raul Carrion (PC do B) e institui a obrigatoriedade da do uso de expressões em português no lugar das estrangeiras "em todo documento, material informativo, propaganda, publicidade ou meio de comunicação através da palavra escrita" no Estado.
Ainda caberá ao governador Tarso Genro (PT) sancionar ou vetar a lei.
O principal alvo da regulamentação são estrangeirismos que poderiam ser facilmente substituídos por palavras em português, como os anúncios que trazem o termo "sale" no lugar de "liquidação", mas a lei vai além.
Quando não houver uma expressão equivalente em português, diz o texto aprovado, uma tradução deverá acompanhar com o mesmo tamanho e destaque o intruso linguístico.
Fosse aplicado tal qual o texto aprovado, o princípio obrigaria uma propaganda de restaurante japonês, por exemplo, a explicar que sashimi são fatias de peixe cru.
A reportagem não conseguiu falar com o deputado. No texto de justificativa do projeto, ele acusa a existência de uma "acelerada descaracterização da língua portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária".
Além de ser considerada inócua por linguistas, para quem idiomas são sistemas "vivos" em constante transformação, a iniciativa enfureceu o mercado publicitário gaúcho, potencialmente o maior prejudicado pela lei.
"É uma coisa insana querer engessar a língua. Mas, como não prevê punição, é mais uma lei que não vai pegar", diz Alfredo Fedrizzi, dono de uma agência de publicidade em Porto Alegre.
A ultima a sair, apague a luz... (empresas, quero dizer)
A frase, obviamente exagerada, era repetida pelos opositores do regime militar, durante a fase mais negra da repressão política, no início dos anos setenta. Never mind...
Primeiro, foram os brasileiros a sair, nos anos 80 e 90, por causa das crises econômicas, da estagnação, do desemprego.
Agora, são as empresas que saem, porque não têm condições de competir, aqui dentro ou lá fora, com os nossos custos.
Agradeçam ao governo...
Emigrar para competir
Editorial - O Estado de S.Paulo
25 de abril de 2011
Em busca de competitividade, indústrias brasileiras estão fechando unidades no País e transferindo suas atividades para o exterior, por meio de investimentos em novas fábricas ou aquisição de empresas já em operação. Em parte desses casos, as indústrias não procuram mercados próximos de seus novos centros de produção, pois continuam a atender preferencialmente o mercado brasileiro. Mas, para competir internamente com os produtos importados, preferem produzir no exterior.
Escassez e custo muito alto de mão de obra, tributação excessiva, juros elevados, concorrência desleal, infraestrutura precária e cara e valorização do real estão entre os principais fatores apontados pelos dirigentes dessas empresas para reduzir ou encerrar as atividades no País e desenvolvê-las no exterior.
O caso relatado pelo Estado (18/04), da maior fabricante de calçados do País, a Vulcabrás, que decidiu comprar uma fábrica na Índia para ali produzir a parte do tênis de sua marca que mais emprega mão de obra, é o mais recente numa lista de empresas brasileiras que decidiram produzir no exterior. A empresa adquirida emprega mil trabalhadores e o plano da Vulcabrás é expandir o quadro de pessoal para 5 mil pessoas em 18 meses. Como a indústria trabalha também com empresas terceirizadas, é possível que, nesse período, sejam gerados até 8 mil empregos. Na unidade indiana, a Vulcabrás produzirá a parte superior do tênis, feita de tecido, couro e material sintético. Na fabricação de um tênis, essa é a parte que mais emprega mão de obra, cujo custo, para a fabricante, será bem menor na Índia, compensando o custo adicional do transporte desse componente até o Brasil, onde o produto será completado.
O governo brasileiro já adotou uma tarifa antidumping, de US$ 13,85 por par, contra o calçado proveniente da China, o maior concorrente do produto nacional, mas a medida não limitou a entrada do similar chinês no mercado doméstico, pois os exportadores daquele país adotaram a prática conhecida como "triangulação", de embarcar seus artigos em outros países - como Malásia, Vietnã e até Paraguai -, como se nesses tivessem sido fabricados. Essa também é uma prática condenada pelas regras internacionais, mas o processo de punição é demorado, daí a opção de indústrias brasileiras pela produção no exterior.
A balança comercial brasileira continua a registrar um superávit expressivo no comércio de bens tradicionais da indústria. Nos primeiros três meses do ano, esse segmento da indústria registrou superávit de US$ 8,5 bilhões. Mas o resultado deveu-se basicamente a duas categorias de produtos - alimentos, por causa do alto preço no mercado internacional e da alta eficiência da agroindústria brasileira, e produtos de madeira, papel e celulose. Nas categorias em que a competitividade é fortemente afetada pela mão de obra, como têxteis e calçados, pela primeira vez em mais de duas décadas a balança comercial no primeiro trimestre do ano registrou déficit, que alcançou US$ 342 milhões. Esse dado também explica a decisão das empresas do setor de produzir no exterior.
Uma empresa brasileira do ramo de cosméticos decidiu fazer parcerias com empresas do México, Colômbia e Argentina, como primeiro passo para estabelecer-se nesses países. O objetivo inicial é abastecer o mercado local, mas a empresa pode transformar essas unidades no exterior em base para sua expansão para outros países da América Latina. Outra empresa do setor de calçados, que chegou a operar 21 unidades industriais no Rio Grande do Sul, para produzir 4,5 milhões de pares por ano, com o trabalho de 3 mil pessoas, decidiu mudar-se para a Nicarágua, de onde continuará a exportar para os Estados Unidos, seu principal mercado. A empresa brasileira líder da América Latina na fabricação de índigo e brim anunciou recentemente o acordo com um grupo da Argentina para lá iniciar a produção de denim.
O fenômeno pode ser duradouro. Dirigentes das empresas que decidiram transferir a produção para o exterior consideram remota a reconquista pelo Brasil da produtividade que vem perdendo nos setores intensivos em mão de obra.
Primeiro, foram os brasileiros a sair, nos anos 80 e 90, por causa das crises econômicas, da estagnação, do desemprego.
Agora, são as empresas que saem, porque não têm condições de competir, aqui dentro ou lá fora, com os nossos custos.
Agradeçam ao governo...
Emigrar para competir
Editorial - O Estado de S.Paulo
25 de abril de 2011
Em busca de competitividade, indústrias brasileiras estão fechando unidades no País e transferindo suas atividades para o exterior, por meio de investimentos em novas fábricas ou aquisição de empresas já em operação. Em parte desses casos, as indústrias não procuram mercados próximos de seus novos centros de produção, pois continuam a atender preferencialmente o mercado brasileiro. Mas, para competir internamente com os produtos importados, preferem produzir no exterior.
Escassez e custo muito alto de mão de obra, tributação excessiva, juros elevados, concorrência desleal, infraestrutura precária e cara e valorização do real estão entre os principais fatores apontados pelos dirigentes dessas empresas para reduzir ou encerrar as atividades no País e desenvolvê-las no exterior.
O caso relatado pelo Estado (18/04), da maior fabricante de calçados do País, a Vulcabrás, que decidiu comprar uma fábrica na Índia para ali produzir a parte do tênis de sua marca que mais emprega mão de obra, é o mais recente numa lista de empresas brasileiras que decidiram produzir no exterior. A empresa adquirida emprega mil trabalhadores e o plano da Vulcabrás é expandir o quadro de pessoal para 5 mil pessoas em 18 meses. Como a indústria trabalha também com empresas terceirizadas, é possível que, nesse período, sejam gerados até 8 mil empregos. Na unidade indiana, a Vulcabrás produzirá a parte superior do tênis, feita de tecido, couro e material sintético. Na fabricação de um tênis, essa é a parte que mais emprega mão de obra, cujo custo, para a fabricante, será bem menor na Índia, compensando o custo adicional do transporte desse componente até o Brasil, onde o produto será completado.
O governo brasileiro já adotou uma tarifa antidumping, de US$ 13,85 por par, contra o calçado proveniente da China, o maior concorrente do produto nacional, mas a medida não limitou a entrada do similar chinês no mercado doméstico, pois os exportadores daquele país adotaram a prática conhecida como "triangulação", de embarcar seus artigos em outros países - como Malásia, Vietnã e até Paraguai -, como se nesses tivessem sido fabricados. Essa também é uma prática condenada pelas regras internacionais, mas o processo de punição é demorado, daí a opção de indústrias brasileiras pela produção no exterior.
A balança comercial brasileira continua a registrar um superávit expressivo no comércio de bens tradicionais da indústria. Nos primeiros três meses do ano, esse segmento da indústria registrou superávit de US$ 8,5 bilhões. Mas o resultado deveu-se basicamente a duas categorias de produtos - alimentos, por causa do alto preço no mercado internacional e da alta eficiência da agroindústria brasileira, e produtos de madeira, papel e celulose. Nas categorias em que a competitividade é fortemente afetada pela mão de obra, como têxteis e calçados, pela primeira vez em mais de duas décadas a balança comercial no primeiro trimestre do ano registrou déficit, que alcançou US$ 342 milhões. Esse dado também explica a decisão das empresas do setor de produzir no exterior.
Uma empresa brasileira do ramo de cosméticos decidiu fazer parcerias com empresas do México, Colômbia e Argentina, como primeiro passo para estabelecer-se nesses países. O objetivo inicial é abastecer o mercado local, mas a empresa pode transformar essas unidades no exterior em base para sua expansão para outros países da América Latina. Outra empresa do setor de calçados, que chegou a operar 21 unidades industriais no Rio Grande do Sul, para produzir 4,5 milhões de pares por ano, com o trabalho de 3 mil pessoas, decidiu mudar-se para a Nicarágua, de onde continuará a exportar para os Estados Unidos, seu principal mercado. A empresa brasileira líder da América Latina na fabricação de índigo e brim anunciou recentemente o acordo com um grupo da Argentina para lá iniciar a produção de denim.
O fenômeno pode ser duradouro. Dirigentes das empresas que decidiram transferir a produção para o exterior consideram remota a reconquista pelo Brasil da produtividade que vem perdendo nos setores intensivos em mão de obra.
Grande sucesso da politica estrategica energetica: apagao de combustiveis
Um comentário de um colega economista:
Eu não tenho nada contra as importações, muito pelo contrário. Mas o monopólio da Petrobrás não era vendido sob o argumento de que o petróleo e seus derivados são produtos estratégicos, que não poderiam ser deixados na mão do mercado, por causa do risco de desabastecimento? Ainda bem que a Petrobrás é a empresa "mais eficiente do mundo"!
Agora a matéria:
Falta de combustível causa rombo de US$ 18 bi na balança
Agência Estado, 24/04/2011
Com etanol em alta, motoristas migram em peso para a gasolina, provocando escassez do produto; produção local insuficiente obriga empresas a importar
Com a disparada do preço do etanol, que subiu mais de 30% nos postos de combustível desde o início do ano, os motoristas migraram em massa para a gasolina, provocando escassez do produto. Faltou combustível em alguns postos do interior de São Paulo. Petrobras e os usineiros chegaram a importar gasolina e álcool.
A situação é resultado da queda da produção de etanol provocada pela entressafra da cana e pela alta do preço do açúcar, que torna mais vantajosa a produção do alimento que do combustível. O quadro também reflete um problema estrutural do Brasil. Com o aumento da frota de veículos e o crescimento da economia, e sem investimentos compatíveis na produção de gasolina, diesel e etanol, o país começa a viver um "apagão" de combustíveis.
O consumo de derivados de petróleo (gasolina, diesel e nafta) ultrapassou a produção local, impulsionando as importações, que ficam cada vez mais caras com o aumento do preço do petróleo lá fora. Em geral, a Petrobras prioriza a produção de gasolina localmente e concentra as importações em diesel e nafta.
A situação vai provocar um déficit de 18 bilhões de dólares na balança de derivados de petróleo neste ano, conforme projeção da RC Consultores. Em 2010, as importações de derivados ultrapassaram as exportações em 13 bilhões de dólares, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Em 2000, o rombo era de 3,2 bilhões de dólares.
Diferente do "apagão" de energia elétrica, que interrompe a produção nas fábricas e deixa as cidades às escuras, a falta de combustível é sanada com importações desde que a situação não seja muito grave. "A população pode não perceber, mas vivemos um estrangulamento do setor de combustíveis, um apagão", disse Adriano Pires, diretor executivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Eu não tenho nada contra as importações, muito pelo contrário. Mas o monopólio da Petrobrás não era vendido sob o argumento de que o petróleo e seus derivados são produtos estratégicos, que não poderiam ser deixados na mão do mercado, por causa do risco de desabastecimento? Ainda bem que a Petrobrás é a empresa "mais eficiente do mundo"!
Agora a matéria:
Falta de combustível causa rombo de US$ 18 bi na balança
Agência Estado, 24/04/2011
Com etanol em alta, motoristas migram em peso para a gasolina, provocando escassez do produto; produção local insuficiente obriga empresas a importar
Com a disparada do preço do etanol, que subiu mais de 30% nos postos de combustível desde o início do ano, os motoristas migraram em massa para a gasolina, provocando escassez do produto. Faltou combustível em alguns postos do interior de São Paulo. Petrobras e os usineiros chegaram a importar gasolina e álcool.
A situação é resultado da queda da produção de etanol provocada pela entressafra da cana e pela alta do preço do açúcar, que torna mais vantajosa a produção do alimento que do combustível. O quadro também reflete um problema estrutural do Brasil. Com o aumento da frota de veículos e o crescimento da economia, e sem investimentos compatíveis na produção de gasolina, diesel e etanol, o país começa a viver um "apagão" de combustíveis.
O consumo de derivados de petróleo (gasolina, diesel e nafta) ultrapassou a produção local, impulsionando as importações, que ficam cada vez mais caras com o aumento do preço do petróleo lá fora. Em geral, a Petrobras prioriza a produção de gasolina localmente e concentra as importações em diesel e nafta.
A situação vai provocar um déficit de 18 bilhões de dólares na balança de derivados de petróleo neste ano, conforme projeção da RC Consultores. Em 2010, as importações de derivados ultrapassaram as exportações em 13 bilhões de dólares, segundo o Ministério do Desenvolvimento. Em 2000, o rombo era de 3,2 bilhões de dólares.
Diferente do "apagão" de energia elétrica, que interrompe a produção nas fábricas e deixa as cidades às escuras, a falta de combustível é sanada com importações desde que a situação não seja muito grave. "A população pode não perceber, mas vivemos um estrangulamento do setor de combustíveis, um apagão", disse Adriano Pires, diretor executivo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
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