Já é a segunda vez que vejo a publicidade nos jornais:
iPad2, a partir de R$ 1.649,00, em até 10x de R$ 164,90, sem juros no cartão de crédito.
Mas, se você pedir para pagar à vista, o preço é o mesmo, ou seja, estão chamando os consumidores de idiotas, pois só idiotas acreditam que um objeto pago à vista ou comprado em "suaves prestações mensais" durante dez meses custe a mesma coisa. Algo está errado, e não é a matemática, é a falta de vergonha de comerciantes e do próprio governo, que permite que tal propaganda enganosa, e tal fraude contra os consumidores, se mantenham impunemente.
Só em países ANORMAIS, esse tipo de coisa, "dez vezes sem juros", existe. Em países normais, existe um preço corrente, de mercado, de fábrica ou de loja, e depois, se você não pode comprar à vista, aplicam-se juros proporcionais ao tempo de financiamento, 3, 6, "n" vezes, subindo proporcionalmente o custo desse financiamento, segundo juros de 3, 3,5 ou 4 a 5% por cento.
Só em países ANORMAIS, o juro do financiamento eleva-se a mais de 50% ao ano, ou o do cartão de crédito e do cheque especial supera 100% ao ano.
O governo pretende nos tratar como IDIOTAS?
Infelizmente parece que sim...
Apenas para angustiar os aflitos, algumas evidências:
Esse iPad2, que é vendido aqui ao preço fixo de R$ 1.649,00 (ou seja, o equivalente mais de mil dólares, ou mais exatamente US$ 1.030), é oferecido nas lojas dos EUA a US$ 499, ou seja, apenas R$ 798,00.
Concluindo, caro consumidor, você está pagando mais do que o preço de DOIS iPads (que representariam, portanto, o valor total de R$ 1.596,80, nos EUA), mas levando só um para casa...
Você gosta de ser tratado como idiota?
Eu não...
Não posso fazer nada, apenas protestar mas mostrar a evidência de como os brasileiros são lesados todos os dias, em todos os assuntos econômicos.
E o governo ainda lança um "Brasil Maior" para ajudar a indústria.
Sabem o que isso vai significar para você, caro consumidor?
Um "Brasil Menor", bem menor no seu bolso, pois você vai pagar mais caro por bens de menor qualidade. Também vai ser um "Brasil Menor" para a indústria como um todo, pois o setor vai ficar defasado em relação ao resto do mundo, vai perder competitividade e, ao fim e ao cabo, vai ser destruída pela concorrência de qualquer forma, aqui e lá fora.
É isso que nos promete o governo com suas políticas extorsivas e protecionistas: está afundando a indústria e, por extensão, a economia brasileira.
Quando os brasileiros vão aprender?
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Economistas doidos: o caso especial de Nouriel Roubini
O sucesso, como se sabe, costuma subir à cabeça, inclusive dos melhores economistas.
Parece ser o caso, também, de Nouriel Roubini, tornado famoso depois que acertou a terceira previsão de crise do capitalismo, depois das dez anteriores que fez -- e pelas quais recebeu merecidamente a alcunha de Mr. Doom -- e que agora se tomou de amores por Karl Marx (que ele não deve ter lido, de verdade) e passou a dizer que o mercado não funciona mais.
Parbleu! Ele ficou maluco!
O mercado SEMPRE funciona, embora não no sentido desejado por ele, que talvez esperasse que o dito mercado se comportasse como em uma de suas previsões.
Se o mercado não funcionou como ele esperava, não adianta chamar Marx em seu socorro, ou reclamar do mercado, e sim reajustar suas previsões erradas, pois o mercado continua onde sempre esteve: funcionando direitinho, para remunerar uns, e punir outros, inclusive economistas metidos a besta que acham que sabem mais do que o mercado como este deve se comportar.
Eu creio que, tendo acertado, finalmente, três das dez crises que previu, Roubini vai começar a errar novamente, e seu valor de mercado vai inevitavelmente diminuir.
Sim, o mercado sempre se vinga daqueles que ousam afrontá-lo.
Vamos baixar o Roubini de Triple A, para B minus...
Mais um pouco ele fica na companhia de Karl Marx em matéria de previsões erradas sobre o capitalismo e a economia de mercado.
Menos, Roubini, menos...
Paulo Roberto de Almeida
CRISE
Roubini: mercado não está funcionando
Opinião e Notícia, 18/08/2011
'Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando', disse o economista
O economista Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York e um dos poucos que previram a crise há quatro anos, disse em entrevista ao Wall Street Journal que uma das críticas feitas por Karl Marx ao capitalismo estava certa, e que o sistema experimenta hoje, na atual crise financeira, o efeito de suas contradições.
“Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente é um processo autodestrutivo”.
‘Governos zumbis’
Roubini ressalta que as empresas, para economizar e fazer caixa em meio à crise, iniciam um processo que resulta em menos dinheiro nas mãos dos seus trabalhadores, deixando-os com menos dinheiro para gastar, o que por sua vez resulta na diminuição da receita das próprias empresas.
O economista considera que só uma outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal pode tirar o mundo da crise. Sem isso, temos hoje ”economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”.
Fontes: International Business Times - Nouriel 'Dr. Doom' Roubini: ‘Karl Marx Was Right’
Parece ser o caso, também, de Nouriel Roubini, tornado famoso depois que acertou a terceira previsão de crise do capitalismo, depois das dez anteriores que fez -- e pelas quais recebeu merecidamente a alcunha de Mr. Doom -- e que agora se tomou de amores por Karl Marx (que ele não deve ter lido, de verdade) e passou a dizer que o mercado não funciona mais.
Parbleu! Ele ficou maluco!
O mercado SEMPRE funciona, embora não no sentido desejado por ele, que talvez esperasse que o dito mercado se comportasse como em uma de suas previsões.
Se o mercado não funcionou como ele esperava, não adianta chamar Marx em seu socorro, ou reclamar do mercado, e sim reajustar suas previsões erradas, pois o mercado continua onde sempre esteve: funcionando direitinho, para remunerar uns, e punir outros, inclusive economistas metidos a besta que acham que sabem mais do que o mercado como este deve se comportar.
Eu creio que, tendo acertado, finalmente, três das dez crises que previu, Roubini vai começar a errar novamente, e seu valor de mercado vai inevitavelmente diminuir.
Sim, o mercado sempre se vinga daqueles que ousam afrontá-lo.
Vamos baixar o Roubini de Triple A, para B minus...
Mais um pouco ele fica na companhia de Karl Marx em matéria de previsões erradas sobre o capitalismo e a economia de mercado.
Menos, Roubini, menos...
Paulo Roberto de Almeida
CRISE
Roubini: mercado não está funcionando
Opinião e Notícia, 18/08/2011
'Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando', disse o economista
O economista Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York e um dos poucos que previram a crise há quatro anos, disse em entrevista ao Wall Street Journal que uma das críticas feitas por Karl Marx ao capitalismo estava certa, e que o sistema experimenta hoje, na atual crise financeira, o efeito de suas contradições.
“Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente é um processo autodestrutivo”.
‘Governos zumbis’
Roubini ressalta que as empresas, para economizar e fazer caixa em meio à crise, iniciam um processo que resulta em menos dinheiro nas mãos dos seus trabalhadores, deixando-os com menos dinheiro para gastar, o que por sua vez resulta na diminuição da receita das próprias empresas.
O economista considera que só uma outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal pode tirar o mundo da crise. Sem isso, temos hoje ”economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”.
Fontes: International Business Times - Nouriel 'Dr. Doom' Roubini: ‘Karl Marx Was Right’
Economistas doidos, com samba ou sem samba... - um complemento do Instituto Von Mises Brasil
Recebi, do Eduardo Rodrigues, do Rio, um complemento a este meu post:
O samba do economista doido - Luiz Carlos Mendonça de Barros
SÁBADO, 15 DE JANEIRO DE 2011
Posto diretamente aqui e recomendo seguimento deste blog:
Keynesiano confessa: "Era pra ter funcionado! Não tô entendendo o que se passa..."
por Leandro Roque
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, quinta-feira, 18 de agosto de 2011
(ver no link do post)
Agradeço ao leitor Maurício Gonçalves pela dica deste precioso vídeo. O keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros, no programa Entre Aspas, da Globo News, após começar com aquele discurso de praxe contra a necessidade de se cortar gastos na economia americana, acaba fazendo as seguintes confissões:
Aos 12:50 minutos:
Acho Krugman um sujeito inteligente, muito preparado, mas eu.... que bebo na mesma água que ele, keynesiana, esse negócio todo.... eu estou meio depressivo porque era pra funcionar! Tudo que o Banco Central fez, tudo o que o Obama fez ... [era pra ter funcionado]...
Aos 13:53 minutos, fazendo carinha de cachorrinho pidão:
Mas eu acho que [a estagnação americana] não explica a falência do modelo keynesiano... Eu acho é que ... o que tem é que... junto disso, você tem um colapso do sistema bancário americano e no mundo todo.
Exato, Mendonção. Tal colapso é uma consequência inevitável do atual arranjo monetário, preconizado por Keynes e também pela Escola de Chicago:
1) Bancos Centrais manipulando os juros por meio da irrestrita impressão de dinheiro de papel sem nenhum lastro, e obrigando — por meio do governo — as pessoas a utilizarem esse dinheiro.
2) Bancos Centrais cartelizando todo o sistema bancário de reservas fracionárias, protegendo-o contra qualquer tipo de concorrência monetária, e permitindo que eles expandam ainda mais a quantidade de dinheiro que os bancos centrais criaram, distorcendo ainda mais as taxas de juros.
Nesse atual arranjo monetário em que o mundo vive, o aumento do crédito na economia não mais se dá de acordo com aquilo que as pessoas poupam (deixam de consumir), mas sim de acordo com as políticas dos bancos centrais e de acordo com a propensão do sistema bancário em criar empréstimos por meio de suas reservas fracionárias. Essa contínua manipulação da oferta monetária — feita tanto pelos bancos centrais como pelo sistema bancário — altera toda a realidade das taxas de juros, as quais deixam de sinalizar se há escassez ou abundância de recursos, e passam apenas a estimular o endividamento excessivo. Os investimentos passam a ser financiados não pela poupança, mas pela simples impressão de dinheiro — como se um simples aumento na quantidade de dinheiro magicamente fizesse com que houvesse maior abundância de bens disponíveis.
Um sistema bancário que pratica reservas fracionárias é naturalmente insolvente, bastando apenas alguns calotes (como ocorreu nos EUA e está ocorrendo na Europa) para tornar explícita essa sua inerente debilidade — alguns calotes fazem com que todo o sistema bancário mundial fique em pânico. (Se um grande supermercado quebrar lá em Taiwan, será que toda a rede mundial de supermercados também virá abaixo e o mundo ficará sem comida?)
Uma vez que essa insolvência se torna explícita e o pânico toma conta dos mercados financeiros, governos e bancos centrais implementam sucessivas rodadas de pacotes de socorro para proteger esse setor privilegiado, jogando a fatura para os cidadãos comuns.
Mas você não vai ver Keynes explicando isso. Daí o espanto de Mendonça.
Finalmente, aos 14:40 minutos, ele confessa o fracasso intelectual dessa doutrina nefasta que vem destruindo as economias mundiais:
Eu particularmente nunca tive tão humilde na minha profissão como eu tô hoje. Eu não tô entendendo o que tá acontecendo...
Dica ao Mendonção: o senhor não está entendendo o que está acontecendo simplesmente porque desperdiçou sua vida lendo panfletos ideológicos, e não ciência econômica verdadeira. Passou a vida estudando aquilo que governantes gostam de ouvir, e não aquilo que eles realmente deveriam fazer. Caso tivesse se livrado de suas ideologias de juventude, poderia estar vendo o mundo com mais clareza hoje, e não estaria tão perdido assim.
O problema é que a evidência raramente consegue mudar a mentalidade de um indivíduo contaminado pela ideologia. Na melhor das hipóteses, a evidência serve apenas para validar a sua crença. Eu, por exemplo, deixei de ser keynesiano (ei, eu também já fui adolescente!) e passei a seguir os preceitos da Escola Austríaca de economia não porque quisesse me juntar a alguma corrente, mas simplesmente porque eu não estava viciado em nenhuma ideologia; eu não tinha um pacote de crenças pré-concebidas que eu deveria defender árdua e cegamente, por mais que as evidências me contrariassem. Eu simplesmente queria descobrir a verdade.
É perfeitamente possível entender essa fé cega que determinadas pessoas têm no keynesianismo. Se você investiu toda a sua vida e toda a sua carreira acadêmica ou profissional defendendo teorias keynesianas, ou se a sua fé no estado é aquilo que dá sentido à sua vida, divorciar-se da economia keynesiana seria um choque e tanto. Dependendo da idade do sujeito, o estrago pode ser irreparável (mais ou menos como a onda de suicídios que acometeu os comunistas românticos e bem intencionados quando eles souberam das chacinas promovidas por Stalin).
Se você quiser realmente aprender a verdade, entender como as coisas de fato funcionam (e isso vale para absolutamente qualquer área), seu estado de espírito não pode estar viciado; você não pode se deixar contaminar por nenhum "pré-conceito". Tenha sempre a mente aberta, não se deixe contaminar por vícios de juventude, não se prenda a ideologias e utilize sempre a razão.
Acima de tudo, siga sempre este princípio: para realmente descobrir a verdade, você tem de ter um estado de espírito que não se deixa afetar pelas consequências de suas novas descobertas. Não se permita um estado de espírito que provoque estragos em sua vida dependendo de suas novas conclusões.
Aparentemente, é esse conflito interno que vem afetando Mendonção.
Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.
O samba do economista doido - Luiz Carlos Mendonça de Barros
SÁBADO, 15 DE JANEIRO DE 2011
Posto diretamente aqui e recomendo seguimento deste blog:
Keynesiano confessa: "Era pra ter funcionado! Não tô entendendo o que se passa..."
por Leandro Roque
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, quinta-feira, 18 de agosto de 2011
(ver no link do post)
Agradeço ao leitor Maurício Gonçalves pela dica deste precioso vídeo. O keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros, no programa Entre Aspas, da Globo News, após começar com aquele discurso de praxe contra a necessidade de se cortar gastos na economia americana, acaba fazendo as seguintes confissões:
Aos 12:50 minutos:
Acho Krugman um sujeito inteligente, muito preparado, mas eu.... que bebo na mesma água que ele, keynesiana, esse negócio todo.... eu estou meio depressivo porque era pra funcionar! Tudo que o Banco Central fez, tudo o que o Obama fez ... [era pra ter funcionado]...
Aos 13:53 minutos, fazendo carinha de cachorrinho pidão:
Mas eu acho que [a estagnação americana] não explica a falência do modelo keynesiano... Eu acho é que ... o que tem é que... junto disso, você tem um colapso do sistema bancário americano e no mundo todo.
Exato, Mendonção. Tal colapso é uma consequência inevitável do atual arranjo monetário, preconizado por Keynes e também pela Escola de Chicago:
1) Bancos Centrais manipulando os juros por meio da irrestrita impressão de dinheiro de papel sem nenhum lastro, e obrigando — por meio do governo — as pessoas a utilizarem esse dinheiro.
2) Bancos Centrais cartelizando todo o sistema bancário de reservas fracionárias, protegendo-o contra qualquer tipo de concorrência monetária, e permitindo que eles expandam ainda mais a quantidade de dinheiro que os bancos centrais criaram, distorcendo ainda mais as taxas de juros.
Nesse atual arranjo monetário em que o mundo vive, o aumento do crédito na economia não mais se dá de acordo com aquilo que as pessoas poupam (deixam de consumir), mas sim de acordo com as políticas dos bancos centrais e de acordo com a propensão do sistema bancário em criar empréstimos por meio de suas reservas fracionárias. Essa contínua manipulação da oferta monetária — feita tanto pelos bancos centrais como pelo sistema bancário — altera toda a realidade das taxas de juros, as quais deixam de sinalizar se há escassez ou abundância de recursos, e passam apenas a estimular o endividamento excessivo. Os investimentos passam a ser financiados não pela poupança, mas pela simples impressão de dinheiro — como se um simples aumento na quantidade de dinheiro magicamente fizesse com que houvesse maior abundância de bens disponíveis.
Um sistema bancário que pratica reservas fracionárias é naturalmente insolvente, bastando apenas alguns calotes (como ocorreu nos EUA e está ocorrendo na Europa) para tornar explícita essa sua inerente debilidade — alguns calotes fazem com que todo o sistema bancário mundial fique em pânico. (Se um grande supermercado quebrar lá em Taiwan, será que toda a rede mundial de supermercados também virá abaixo e o mundo ficará sem comida?)
Uma vez que essa insolvência se torna explícita e o pânico toma conta dos mercados financeiros, governos e bancos centrais implementam sucessivas rodadas de pacotes de socorro para proteger esse setor privilegiado, jogando a fatura para os cidadãos comuns.
Mas você não vai ver Keynes explicando isso. Daí o espanto de Mendonça.
Finalmente, aos 14:40 minutos, ele confessa o fracasso intelectual dessa doutrina nefasta que vem destruindo as economias mundiais:
Eu particularmente nunca tive tão humilde na minha profissão como eu tô hoje. Eu não tô entendendo o que tá acontecendo...
Dica ao Mendonção: o senhor não está entendendo o que está acontecendo simplesmente porque desperdiçou sua vida lendo panfletos ideológicos, e não ciência econômica verdadeira. Passou a vida estudando aquilo que governantes gostam de ouvir, e não aquilo que eles realmente deveriam fazer. Caso tivesse se livrado de suas ideologias de juventude, poderia estar vendo o mundo com mais clareza hoje, e não estaria tão perdido assim.
O problema é que a evidência raramente consegue mudar a mentalidade de um indivíduo contaminado pela ideologia. Na melhor das hipóteses, a evidência serve apenas para validar a sua crença. Eu, por exemplo, deixei de ser keynesiano (ei, eu também já fui adolescente!) e passei a seguir os preceitos da Escola Austríaca de economia não porque quisesse me juntar a alguma corrente, mas simplesmente porque eu não estava viciado em nenhuma ideologia; eu não tinha um pacote de crenças pré-concebidas que eu deveria defender árdua e cegamente, por mais que as evidências me contrariassem. Eu simplesmente queria descobrir a verdade.
É perfeitamente possível entender essa fé cega que determinadas pessoas têm no keynesianismo. Se você investiu toda a sua vida e toda a sua carreira acadêmica ou profissional defendendo teorias keynesianas, ou se a sua fé no estado é aquilo que dá sentido à sua vida, divorciar-se da economia keynesiana seria um choque e tanto. Dependendo da idade do sujeito, o estrago pode ser irreparável (mais ou menos como a onda de suicídios que acometeu os comunistas românticos e bem intencionados quando eles souberam das chacinas promovidas por Stalin).
Se você quiser realmente aprender a verdade, entender como as coisas de fato funcionam (e isso vale para absolutamente qualquer área), seu estado de espírito não pode estar viciado; você não pode se deixar contaminar por nenhum "pré-conceito". Tenha sempre a mente aberta, não se deixe contaminar por vícios de juventude, não se prenda a ideologias e utilize sempre a razão.
Acima de tudo, siga sempre este princípio: para realmente descobrir a verdade, você tem de ter um estado de espírito que não se deixa afetar pelas consequências de suas novas descobertas. Não se permita um estado de espírito que provoque estragos em sua vida dependendo de suas novas conclusões.
Aparentemente, é esse conflito interno que vem afetando Mendonção.
Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Divida Publica dos Paises Avancados: e ainda querem aumenta-la...
Apenas retirado do blog do economista Mansueto Almeida.
Não preciso agregar nenhum comentário, tudo está dito:
Dois Relatórios Interessantes
Blog de Mansueto Almeida, 18/08/2011
Lí hoje o relatório “A situação fiscal dos países AAA” da Ventor Investimentos assinado pelos economistas Fernando Gonçalves e Felipe Gottlieb. Os economistas mostram que é muito provável vários outros países desenvolvidos serem rebaixados da categoria AAA como ocorreu recentemente com os Estados Unidos e, o próximo da lista, seria a França, que tem uma divida bruta/PIB que está muito próxima de romper a barreira de 90%. Mas além da França, países como Alemanha, Inglaterra e Canadá todos têm uma relação divida/PIB superior a 80% e entrariam na lista dos candidatos naturais a serem rebaixados pelas três maiores agências de risco (S&P, Moody´s e Fitch).
É claro que esses países poderiam fazer um ajuste fiscal para evitar serem rebaixados, mas aqui mora o problema. A magnitude do ajuste fiscal exigido (aumento de receita e/ou corte de despesas) entre 2010 e 2020 para trazer a divida desses países para 60% do PIB em 2030 é absurdamente elevada. No caso da França seria necessário um aumento do superávit primário equivalente a 6,2 pontos percentuais do PIB; no caso da Inglaterra uma melhora do primário de 9,3 pontos percentuais do PIB; 4,4 pontos percentuais do PIB para o Canadá e 2,2 pontos percentuais do PIB para Alemanha. Mas os dois países que precisariam fazer o maior ajuste para trazer sua razão divida/PIB para 60% em 2030 são os Estados Unidos (aumento do primário de 11.3 pontos percentuais do PIB) e Japão (aumento do primário em 13,3 pontos percentuais do PIB).
O que significa tudo isso? Primeiro, as estimativas acima são conservadoras como alerta os autores do trabalho, já que não incluem o aumento dos gastos que decorrerão do envelhecimento da população. Quando se faz esse ajuste o cenário é ainda muito pior. Segundo, acho impossível que haja ajustes fiscais tão fortes e, assim, a classificação de risco desses países deverá piorar que é a conclusão dos próprios autores. Terceiro, como os EUA tem uma carga tributária muito abaixo da média dos países desenvolvidos, teoricamente, esse país estaria em uma situação melhor que a França para promover os ajustes fiscais necessários, mas dado o ambiente político dos EUA acho isso difícil.
Em resumo, os países desenvolvidos vão experimentar o gostinho de crise fiscal que os Latino Americanos experimentaram nos anos 80. E no caso do Brasil, embora a sustentabilidade fiscal não seja um problema (o superávit atual leva a uma redução da divida/PIB), causou-me surpresa hoje um relatório da MetLife que mostra que o trabalhador brasileiro está muito mais preocupado com o seu futuro do que os trabalhadores americanos (ver pagina 28 do relatório), o que mostra que apesar do bom momento, muitos ainda não acreditam no futuro do Brasil e nem na qualidade da oferta de serviços públicos.
Não preciso agregar nenhum comentário, tudo está dito:
Dois Relatórios Interessantes
Blog de Mansueto Almeida, 18/08/2011
Lí hoje o relatório “A situação fiscal dos países AAA” da Ventor Investimentos assinado pelos economistas Fernando Gonçalves e Felipe Gottlieb. Os economistas mostram que é muito provável vários outros países desenvolvidos serem rebaixados da categoria AAA como ocorreu recentemente com os Estados Unidos e, o próximo da lista, seria a França, que tem uma divida bruta/PIB que está muito próxima de romper a barreira de 90%. Mas além da França, países como Alemanha, Inglaterra e Canadá todos têm uma relação divida/PIB superior a 80% e entrariam na lista dos candidatos naturais a serem rebaixados pelas três maiores agências de risco (S&P, Moody´s e Fitch).
É claro que esses países poderiam fazer um ajuste fiscal para evitar serem rebaixados, mas aqui mora o problema. A magnitude do ajuste fiscal exigido (aumento de receita e/ou corte de despesas) entre 2010 e 2020 para trazer a divida desses países para 60% do PIB em 2030 é absurdamente elevada. No caso da França seria necessário um aumento do superávit primário equivalente a 6,2 pontos percentuais do PIB; no caso da Inglaterra uma melhora do primário de 9,3 pontos percentuais do PIB; 4,4 pontos percentuais do PIB para o Canadá e 2,2 pontos percentuais do PIB para Alemanha. Mas os dois países que precisariam fazer o maior ajuste para trazer sua razão divida/PIB para 60% em 2030 são os Estados Unidos (aumento do primário de 11.3 pontos percentuais do PIB) e Japão (aumento do primário em 13,3 pontos percentuais do PIB).
O que significa tudo isso? Primeiro, as estimativas acima são conservadoras como alerta os autores do trabalho, já que não incluem o aumento dos gastos que decorrerão do envelhecimento da população. Quando se faz esse ajuste o cenário é ainda muito pior. Segundo, acho impossível que haja ajustes fiscais tão fortes e, assim, a classificação de risco desses países deverá piorar que é a conclusão dos próprios autores. Terceiro, como os EUA tem uma carga tributária muito abaixo da média dos países desenvolvidos, teoricamente, esse país estaria em uma situação melhor que a França para promover os ajustes fiscais necessários, mas dado o ambiente político dos EUA acho isso difícil.
Em resumo, os países desenvolvidos vão experimentar o gostinho de crise fiscal que os Latino Americanos experimentaram nos anos 80. E no caso do Brasil, embora a sustentabilidade fiscal não seja um problema (o superávit atual leva a uma redução da divida/PIB), causou-me surpresa hoje um relatório da MetLife que mostra que o trabalhador brasileiro está muito mais preocupado com o seu futuro do que os trabalhadores americanos (ver pagina 28 do relatório), o que mostra que apesar do bom momento, muitos ainda não acreditam no futuro do Brasil e nem na qualidade da oferta de serviços públicos.
A frase do mes - Ayn Rand
Copiado do excelente blog do meu amigo Kleber Pires, Libertatum
Ayn Rand - Uma frase útil aos brasileiros
Posted: 18 Aug 2011 04:47 AM PDT
Frase da filósofa russo-americana Ayn Rand (judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920), mostrando uma visão com conhecimento de causa:
“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
Ayn Rand - Uma frase útil aos brasileiros
Posted: 18 Aug 2011 04:47 AM PDT
Frase da filósofa russo-americana Ayn Rand (judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920), mostrando uma visão com conhecimento de causa:
“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
O Brasil como pais absurdamente caro (se colar, colou...)
Exploradores, impostos, fechamento do mercado explicam porque o Brasil está mais caro do que a Europa e os Estados Unidos. E se depender do governo, vai ficar ainda mais caro...
Paulo Roberto de Almeida
Um susto com os preços no Brasil
Heloisa Vilela, de Washington - repórter da Rede Record
11 de agosto de 2011
Foi um susto!
Em tantas idas e vindas norte-sul nesses quase 23 anos trabalhando nos Estados Unidos, nunca achei o Brasil tão caro. Entre o fim de junho e o começo de julho, passei três semanas em casa: Rio, São Paulo, Mato Grosso do Sul. Sempre paguei mais caro por livros em português. Para mim e pros meus filhos. Afinal, todo investimento nessa área é pouco! Compra-se livro bem em conta nos Estados Unidos. Ainda mais depois do advento da internet. Agora, tem sempre a oferta dos usados que saem por menos de um dólar. No Brasil, ainda é caro ler.
Mas se os livros sempre foram mais caros no Brasil, a comida, os sapatos, as roupas, os carros… Pensei: aí deve ter matéria. Saí com uma equipe da Record prá checar as diferenças e tentar entender o que está acontecendo. Fui parar no escritório de Joel Leite, jornalista especializado no mercado de automóveis que tem um site sobre o assunto (www.autoinforme.com.br). Joel estava escrevendo sobre o Lucro Brasil. Nada de Custo Brasil. Esse tempo já passou. Agora, as empresas estão faturando de verdade.
Pois o Joel se deu ao trabalho, ao longo de vários meses, de destrinchar a composição de preços dos automóveis. Nas ruas de São Paulo, qualquer pessoa repete a ladainha: por que os carros são tão caros aqui? Por causa dos impostos. Gente motorizada e gente a pé, no ponto de ônibus. Não importa. A certeza é a mesma. E ainda tem aquela história do Custo Brasil – seria mais caro produzir mercadorias no país por causa da infraestrutura engarrafada e do custo do capital.
Mas o Joel me explicou que não é nada disso. Ele tirou impostos, alíquotas, etc. e tal e no fim, o carro brasileiro continuava sendo o mais caro do mundo. É isso mesmo. O Brasil, que em 2010 ganhou o título de quinto maior produtor de automóveis e quarto maior mercado consumidor do mundo, em matéria de preços, ganha de todos os outros países. Tamanha produção e tamanho consume jogam por terra qualquer argumentação de que não se tem uma produção em escala suficiente para reduzir os preços.
Então o que?
“Se colar colou”, brincou o Joel meio a sério. Mas a idéia é a seguinte: joga-se o preço lá no alto. Se existe fila pra comprar, se a procura é grande, prá que baixar? O preço cola e fica. Exemplos?
O Honda City, fabricado em Sumaré, interior de São Paulo, viaja até o México, paga frete, tem que dar lucro para a revendedora, e tal. Bem, os mexicanos compram o carro pelo equivalente a R$ 25.800,00 enquanto os brasileiros desembolsam R$ 56.210,00 pelo mesmo modelo. Pelas contas do Joel, tirando toda a carga tributária, o lucro das concessionárias, e comparando com o preço no México, o fabricante tem um lucro de quase R$ 15.000, por unidade, no Brasil.
Outros exemplos prá matar de ódio o consumidor brasileiro:
O Corolla, que custa o equivalente a U$ 37.636,00 no Brasil, na Argentina sai pelo equivalente a U$ 21.658,00 e nos Estados Unidos, US$ 15.450,00. O Kia Soul, fabricado na Coréia do Sul, chega às lojas do nosso vizinho Paraguai pelo equivalente a US$ 18.000,00 e custa o dobro no Brasil. Haja viagem entre os dois países para explicar tanta diferença…
Paulo Roberto de Almeida
Um susto com os preços no Brasil
Heloisa Vilela, de Washington - repórter da Rede Record
11 de agosto de 2011
Foi um susto!
Em tantas idas e vindas norte-sul nesses quase 23 anos trabalhando nos Estados Unidos, nunca achei o Brasil tão caro. Entre o fim de junho e o começo de julho, passei três semanas em casa: Rio, São Paulo, Mato Grosso do Sul. Sempre paguei mais caro por livros em português. Para mim e pros meus filhos. Afinal, todo investimento nessa área é pouco! Compra-se livro bem em conta nos Estados Unidos. Ainda mais depois do advento da internet. Agora, tem sempre a oferta dos usados que saem por menos de um dólar. No Brasil, ainda é caro ler.
Mas se os livros sempre foram mais caros no Brasil, a comida, os sapatos, as roupas, os carros… Pensei: aí deve ter matéria. Saí com uma equipe da Record prá checar as diferenças e tentar entender o que está acontecendo. Fui parar no escritório de Joel Leite, jornalista especializado no mercado de automóveis que tem um site sobre o assunto (www.autoinforme.com.br). Joel estava escrevendo sobre o Lucro Brasil. Nada de Custo Brasil. Esse tempo já passou. Agora, as empresas estão faturando de verdade.
Pois o Joel se deu ao trabalho, ao longo de vários meses, de destrinchar a composição de preços dos automóveis. Nas ruas de São Paulo, qualquer pessoa repete a ladainha: por que os carros são tão caros aqui? Por causa dos impostos. Gente motorizada e gente a pé, no ponto de ônibus. Não importa. A certeza é a mesma. E ainda tem aquela história do Custo Brasil – seria mais caro produzir mercadorias no país por causa da infraestrutura engarrafada e do custo do capital.
Mas o Joel me explicou que não é nada disso. Ele tirou impostos, alíquotas, etc. e tal e no fim, o carro brasileiro continuava sendo o mais caro do mundo. É isso mesmo. O Brasil, que em 2010 ganhou o título de quinto maior produtor de automóveis e quarto maior mercado consumidor do mundo, em matéria de preços, ganha de todos os outros países. Tamanha produção e tamanho consume jogam por terra qualquer argumentação de que não se tem uma produção em escala suficiente para reduzir os preços.
Então o que?
“Se colar colou”, brincou o Joel meio a sério. Mas a idéia é a seguinte: joga-se o preço lá no alto. Se existe fila pra comprar, se a procura é grande, prá que baixar? O preço cola e fica. Exemplos?
O Honda City, fabricado em Sumaré, interior de São Paulo, viaja até o México, paga frete, tem que dar lucro para a revendedora, e tal. Bem, os mexicanos compram o carro pelo equivalente a R$ 25.800,00 enquanto os brasileiros desembolsam R$ 56.210,00 pelo mesmo modelo. Pelas contas do Joel, tirando toda a carga tributária, o lucro das concessionárias, e comparando com o preço no México, o fabricante tem um lucro de quase R$ 15.000, por unidade, no Brasil.
Outros exemplos prá matar de ódio o consumidor brasileiro:
O Corolla, que custa o equivalente a U$ 37.636,00 no Brasil, na Argentina sai pelo equivalente a U$ 21.658,00 e nos Estados Unidos, US$ 15.450,00. O Kia Soul, fabricado na Coréia do Sul, chega às lojas do nosso vizinho Paraguai pelo equivalente a US$ 18.000,00 e custa o dobro no Brasil. Haja viagem entre os dois países para explicar tanta diferença…
FHC e Pedro Malan reconhecidos como lideres de estatura mundial - Wall Street Journal
Uma justa homenagem a quem teve visão de estadista, contrariamente à obra de falsificação histórica que tantos militantes de causas fracassadas insistem em tentar colar nos dois brasileiros responsáveis maiores pela estabilização macroeconômica de que nos beneficiamos todos atualmente (e que vem sendo ameaçada por políticas irresponsáveis desde 2003).
Paulo Roberto de Almeida
Lições do Brasil e EUA para a crise na Europa
DAVID WESSEL
WALL STREET JOURNAL, AUGUST 18, 2011
Os europeus às vezes agem como se a única história que importa é a deles: Grécia e Roma, as tensões do período de paz depois da Primeira Guerra Mundial e a recuperação da devastação causada pela Segunda Guerra, a queda do muro de Berlim e o atual boom das exportações da Alemanha.
Mas algumas lições relevantes para a Europa podem ser encontradas do outro lado do Atlântico, na América do século 18 e no Brasil do século 20.
Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan (Associated Press)
Por meses, a Europa tem sido paralisada pelo que um observador temporário da economia mundial descreve como as três "nenhumas":
- Nenhuma desvalorização: nem a Grécia nem Portugal poderiam deixar o euro para depreciar suas moedas e voltar a ganhar competitividade.
- Nenhuma moratória: detentores de títulos do governo precisam receber o pagamento total.
- Nenhuma transferência: contribuintes em países ricos como Alemanha e França não podem financiar os rombos fiscais do sul europeu.
Nas últimas semanas, a Europa diluiu o segundo e o terceiro princípios para proteger o primeiro. Isso é compreensível. Se qualquer país da zona do euro quebrasse os grilhões da moeda única, o experimento europeu estaria ameaçado. A união monetária é o laço mais forte entre as economias europeias e o Banco Central Europeu, uma das poucas instituições pan-europeias que ainda funcionam.
Mas as tensões entre o compartilhamento de uma moeda e um banco central, em meio à busca de políticas fiscais nacionais independentes, agora são dolorosamente evidentes. Alexander Hamilton entendeu isso. Assim como Fernando Henrique Cardoso, que foi presidente do Brasil entre 1995 e 2002.
Uma lição de história para a Europa: Em 1790, o governo americano devia US$ 54 milhões e a dívida dos 13 estados individuais somava outros US$ 25 milhões. A dívida combinada era equivalente a 42% do produto interno bruto da nação. Hamilton, então secretário do Tesouro, propôs que o governo nacional assumisse as dívidas dos estados originárias da Guerra de Independência. Seria, disse ele, "uma medida de política sólida e de justiça substancial" e contribuiria para "uma acordo satisfatório, estável e ordenado das finanças nacionais."
"Admitindo... que uma provisão deva ser feita, de uma forma ou de outra, para a dívida total", disse Hamilton ao Congresso em seu primeiro Relatório sobre Crédito, "como consequência, nenhum aumento de receita será necessário, seja a provisão feita totalmente ou parcialmente pelos Estados Unidos, e parcialmente pelos estados separadamente."
James Madison e Thomas Jefferson foram contra Hamilton. Entre as questões: o Estado deles, a Virginia, tinha pagado uma parcela maior da sua dívida que outros estados. Mas Madison e Jefferson acabaram cedendo com a condição de que a capital do país fosse transferida de Nova York, Estado adotivo de Hamilton, para Washington. O resultado foi um governo central mais forte, o nascimento do que se tornou o maior mercado de bônus do mundo, e com um crédito sólido o suficiente para que os EUA financiassem a compra da Louisiana, que pertencia à França.
Depois de 200 anos, o presidente Fernando Henrique Cardoso, com o Brasil ofuscado pelas crises financeiras do México, da Argentina e da Ásia, confrontou os governos estaduais que emprestavam mais do que suas receitas fiscais seriam jamais capazes de pagar. "O governo federal se convenceu de que teria de assumir um papel ativo na reforma fiscal dos Estados para impedir uma crise sistêmica", de acordo com um relato dos economistas Fábio Giambiagi e Márcio Ronci, publicado pelo Fundo Monetário Internacional em 2004.
Fernando Henrique levou cinco anos para fechar um acordo com os Estados e principais municípios, mas o governo federal acabou refinanciando as dívidas em troca de mudanças nas práticas tributárias, de contabilidade e gastos no nível estadual. O Brasil teve seus altos e baixos desde então, e essa não foi a única alteração significativa na política econômica, mas a medida de fato ajudou o país a suportar melhor a crise financeira de 2008 do que muitos outros.
Em ambos os casos, o governo central usou a reestruturação das dívidas dos Estados para impor uma medida de disciplina fiscal e para aumentar o poder federal. Para a Europa, o preço da continuação de uma união monetária será uma aliança fiscal mais forte. No final das contas, o dinheiro sairá do mais forte para o mais fraco de alguma forma, seja diretamente ou pelo resgate de bancos de países ricos que emprestaram para governos de países mais frágeis. No final das contas, a autonomia fiscal dos países-membros será restringida.
Europeus conscientes sabem disso. Jon Hilsenrath, do Wall Street Journal, publicou uma reportagem este ano dizendo que o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, estava lendo a biografia de Hamilton, escrita por Ron Chernow.
E agora Angela Merkel, da Alemanha, e Nicolas Sarkozy, da França, falam sobre a necessidade de um centro europeu mais forte, apesar de que eles não estão indo muito rápido na direção de títulos da zona do euro, ou de outros aspectos de tal mudança.
Em meio a tantos problemas, a Europa tem um ponto forte. Como um todo, sua "aritmética fiscal é positiva", segundo um relatório recente de economistas do J.P. Morgan Chase. A dívida pública dos governos da zona do euro totaliza cerca de 85% do produto interno bruto. Como grupo, o continente tem um superávit fiscal (excluindo juros) que responde por 3,2% do PIB, um nível mais saudável do que o dos EUA ou o do Reino Unido.
O problema, claro, é político.
Ao contrário dos EUA e do Brasil, a Europa não tem — ainda — um governo central que funcione ou Estados prontos para criar um.
Nem tem outro ingrediente vital — um líder do século 21 com a coragem e a sagacidade de Alexander Hamilton ou de Fernando Henrique Cardoso.
Paulo Roberto de Almeida
Lições do Brasil e EUA para a crise na Europa
DAVID WESSEL
WALL STREET JOURNAL, AUGUST 18, 2011
Os europeus às vezes agem como se a única história que importa é a deles: Grécia e Roma, as tensões do período de paz depois da Primeira Guerra Mundial e a recuperação da devastação causada pela Segunda Guerra, a queda do muro de Berlim e o atual boom das exportações da Alemanha.
Mas algumas lições relevantes para a Europa podem ser encontradas do outro lado do Atlântico, na América do século 18 e no Brasil do século 20.
Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan (Associated Press)
Por meses, a Europa tem sido paralisada pelo que um observador temporário da economia mundial descreve como as três "nenhumas":
- Nenhuma desvalorização: nem a Grécia nem Portugal poderiam deixar o euro para depreciar suas moedas e voltar a ganhar competitividade.
- Nenhuma moratória: detentores de títulos do governo precisam receber o pagamento total.
- Nenhuma transferência: contribuintes em países ricos como Alemanha e França não podem financiar os rombos fiscais do sul europeu.
Nas últimas semanas, a Europa diluiu o segundo e o terceiro princípios para proteger o primeiro. Isso é compreensível. Se qualquer país da zona do euro quebrasse os grilhões da moeda única, o experimento europeu estaria ameaçado. A união monetária é o laço mais forte entre as economias europeias e o Banco Central Europeu, uma das poucas instituições pan-europeias que ainda funcionam.
Mas as tensões entre o compartilhamento de uma moeda e um banco central, em meio à busca de políticas fiscais nacionais independentes, agora são dolorosamente evidentes. Alexander Hamilton entendeu isso. Assim como Fernando Henrique Cardoso, que foi presidente do Brasil entre 1995 e 2002.
Uma lição de história para a Europa: Em 1790, o governo americano devia US$ 54 milhões e a dívida dos 13 estados individuais somava outros US$ 25 milhões. A dívida combinada era equivalente a 42% do produto interno bruto da nação. Hamilton, então secretário do Tesouro, propôs que o governo nacional assumisse as dívidas dos estados originárias da Guerra de Independência. Seria, disse ele, "uma medida de política sólida e de justiça substancial" e contribuiria para "uma acordo satisfatório, estável e ordenado das finanças nacionais."
"Admitindo... que uma provisão deva ser feita, de uma forma ou de outra, para a dívida total", disse Hamilton ao Congresso em seu primeiro Relatório sobre Crédito, "como consequência, nenhum aumento de receita será necessário, seja a provisão feita totalmente ou parcialmente pelos Estados Unidos, e parcialmente pelos estados separadamente."
James Madison e Thomas Jefferson foram contra Hamilton. Entre as questões: o Estado deles, a Virginia, tinha pagado uma parcela maior da sua dívida que outros estados. Mas Madison e Jefferson acabaram cedendo com a condição de que a capital do país fosse transferida de Nova York, Estado adotivo de Hamilton, para Washington. O resultado foi um governo central mais forte, o nascimento do que se tornou o maior mercado de bônus do mundo, e com um crédito sólido o suficiente para que os EUA financiassem a compra da Louisiana, que pertencia à França.
Depois de 200 anos, o presidente Fernando Henrique Cardoso, com o Brasil ofuscado pelas crises financeiras do México, da Argentina e da Ásia, confrontou os governos estaduais que emprestavam mais do que suas receitas fiscais seriam jamais capazes de pagar. "O governo federal se convenceu de que teria de assumir um papel ativo na reforma fiscal dos Estados para impedir uma crise sistêmica", de acordo com um relato dos economistas Fábio Giambiagi e Márcio Ronci, publicado pelo Fundo Monetário Internacional em 2004.
Fernando Henrique levou cinco anos para fechar um acordo com os Estados e principais municípios, mas o governo federal acabou refinanciando as dívidas em troca de mudanças nas práticas tributárias, de contabilidade e gastos no nível estadual. O Brasil teve seus altos e baixos desde então, e essa não foi a única alteração significativa na política econômica, mas a medida de fato ajudou o país a suportar melhor a crise financeira de 2008 do que muitos outros.
Em ambos os casos, o governo central usou a reestruturação das dívidas dos Estados para impor uma medida de disciplina fiscal e para aumentar o poder federal. Para a Europa, o preço da continuação de uma união monetária será uma aliança fiscal mais forte. No final das contas, o dinheiro sairá do mais forte para o mais fraco de alguma forma, seja diretamente ou pelo resgate de bancos de países ricos que emprestaram para governos de países mais frágeis. No final das contas, a autonomia fiscal dos países-membros será restringida.
Europeus conscientes sabem disso. Jon Hilsenrath, do Wall Street Journal, publicou uma reportagem este ano dizendo que o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, estava lendo a biografia de Hamilton, escrita por Ron Chernow.
E agora Angela Merkel, da Alemanha, e Nicolas Sarkozy, da França, falam sobre a necessidade de um centro europeu mais forte, apesar de que eles não estão indo muito rápido na direção de títulos da zona do euro, ou de outros aspectos de tal mudança.
Em meio a tantos problemas, a Europa tem um ponto forte. Como um todo, sua "aritmética fiscal é positiva", segundo um relatório recente de economistas do J.P. Morgan Chase. A dívida pública dos governos da zona do euro totaliza cerca de 85% do produto interno bruto. Como grupo, o continente tem um superávit fiscal (excluindo juros) que responde por 3,2% do PIB, um nível mais saudável do que o dos EUA ou o do Reino Unido.
O problema, claro, é político.
Ao contrário dos EUA e do Brasil, a Europa não tem — ainda — um governo central que funcione ou Estados prontos para criar um.
Nem tem outro ingrediente vital — um líder do século 21 com a coragem e a sagacidade de Alexander Hamilton ou de Fernando Henrique Cardoso.
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