terça-feira, 9 de outubro de 2012

A "argentinizacao" economica do Iran - NYTimes

Parece que ambos países caminham para um inevitável desastre econômico. As apostas, agora, são sobre quem vai primeiro para o brejo da desvalorização completa, mudança de padrão monetário e ajuste severo...
Paulo Roberto de Almeida 

The New York Times, October 8, 2012

TEHRAN — Iranian police officers moved to arrest unlicensed currency dealers and increase patrols in the center of the capital on Monday to prevent unofficial trading from disrupting new government-imposed rates of exchange for the national currency, the rial.
Over the past days, Iran’s leaders have sought to stabilize the value of their currency after a market panic last week when the rial fell by about 40 percent against the United States dollar and other foreign currencies.
Now, only those traders licensed by Iran’s Central Bank may buy and sell the rial for foreign currency, and at rates that value the rial at 25,500 to the dollar — substantially more than last week, when it took as many as 37,500 rials to buy one dollar.
But the new restriction on unofficial trading also had an adverse effect, causing lines of customers who wanted to sell their rials at the better rate in anticipation that it would eventually weaken again. Several authorized money traders refused to sell foreign currency in large quantities, and some hired private security companies to regulate the flow of customers.
In another measure to help ensure that the state’s foreign currency would be used only to buy the most important imports, a Parliament member said all luxury imports had been forbidden.
The politician, Gholamreza Mesbahi-Moghaddam, also said that Parliament had been preparing to discuss the suspension of the second phase of President Mahmoud Ahmadinejad’s subsidy reform plan, Iran’s English-language state television channel Press TV reported. The lawmaker stressed that people would continue to receive a monthly cash payment, which the government is due to deliver in a week.
The monthly payment — about 450,000 rials a person to nearly 60 million people — is viewed by some economists as a contributor to inflation by raising the number of rials in circulation.
Iranian leaders have called the currency crisis a plot by Iran’s enemies to subvert the economy, which has faced acute problems that many economists in Iran and abroad attribute to government mismanagement and the effects of the sanctions imposed by the West over the disputed Iranian uranium enrichment program.
The sanctions, which have constricted Iran’s ability to sell oil and conduct international financial transactions, have sharply increased the price of imports and contributed to the loss of confidence in the rial, which in turn has fueled inflation. Though the Central Bank of Iran has said the annual inflation rate is about 25 percent, by some outside measures it is much higher. Steve H. Hanke, an economics professor at Johns Hopkins University and a senior fellow at the Cato Institute, a conservative research group in Washington, said he calculated that the rate was now as high as 196 percent.
Members of Parliament have garnered enough votes to call Mr. Ahmadinejad in for questioning over the currency crisis, the semiofficial Fars news agency reported, but it was not clear when or if this would happen.
All shops that had closed in Tehran’s grand bazaar, the scene of an angry demonstration against the falling currency on Wednesday by shopkeepers and passers-by, had reopened by Monday, but there were many fewer shoppers than normal. Many businessmen said they did not know what to charge for their products because of uncertainty over the foreign exchange rates.
“How can we sell enough to pay our debts?” asked Saeed Jalilian, a garment seller. “I have no customers. I will go broke.”
Still, in other Tehran shopping centers people could be seen having lunch and buying products, but most whispers of conversations were about the falling rial.
Experts agreed the government had to do something to stop the fall of the rial, but said they were worried that in the long term the downward pressure would be difficult to counteract.
“It is clear that these new rates are only sustainable if the Central Bank continues to feed foreign exchange into the market,” said Mousa Ghaninejad, an economy professor at Tehran’s Shahid Beheshti University. He said that lack of confidence in the rial, after inflation and sanctions, was not going away.
“My heart wishes for the fall of the rial to stop,” Mr. Ghaninejad said, “but economic rationale tells me otherwise.”
Ramtin Rastin contributed reporting from Tehran, and Rick Gladstone from New York.
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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Imperio ataca outra vez: destruir o Mercosul (nada menos que isso) - Samuel Pinheiro Guimaraes

Uau! Parece que o Império do Mal não descansa. Desta vez ele visa longe e alto, ou talvez baixo: nada menos do que o nosso querido Mercosul, que como todos sabem vai muito bem, obrigado.
Aliás, se trata de um império mau, que além de caçar terroristas, a torto e a direito (alguns dizem que mais a torto, e talvez à direita), ainda quer cassar o direto à existência deste tão simpático bloquinho, que não faz mal a ninguém (apenas a si próprio, mas esta é uma outra história), e apenas quer se constituir em alternativa real de desenvolvimento integrado, socialmente responsável, economicamente sustentável, politicamente autônomo, culturalmente diversificado, soberano, ativo e altivo e tudo o mais que já foi dito, por todas as glórias e loas que a antiga musa canta (algumas novas também).
Se não fosse o jornal Brasil De Fato, sempre imparcial e objetivo, e o vibrante Portal Vermelho, quase não tomaríamos conhecimento das posições, das denúncias e dos alertas deste indomitável defensor do Mercosul, contra todos os golpes baixos do imperialismo e seus asseclas associados (no caso a UE): eles realmente não se cansam, enquanto não conseguirem desmantelar, arrasar, destruir o Mercosul, que como todos sabem é um dinâmico bloco de integração, que está construindo uma "nova geografia do comércio internacional" e alterando a "relação de forças no mundo" (excusez du peu, mais il faut être modeste).
Com defensores como este, o Mercosul nem precisa de Forças Armadas, aliás dispensáveis num bloco como o Mercosul, que só consegue atirar no proprio pé...
Paulo Roberto de Almeida

Portal Vermelho, 7 de Outubro de 2012 - 7h26

EUA e UE querem desintegração do Mercosul, diz Samuel Pinheiro

Em entrevista, o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães, fala sobre o potencial do bloco sul-americano que se contrapõe aos interesses de controle comercial e industrial dos Estados Unidos (EUA) e da União Europeia sobre a região. Ele atacar o modus operandi dos países centrais do capitalismo na relação com a América Latina.

“Os EUA e os países altamente desenvolvidos têm tido, como meta geral de política econômica e diplomacia externa, a eliminação de todas as barreiras ao comércio e ao fluxo de capitais. Ao mesmo tempo, têm advogado a adoção de uma série de normas que impedem qualquer controle sobre o capital estrangeiro”.

Contundência. É dessa forma que o diplomata Samuel Pinheiro Guimarães costuma se expressar sobre os temas que bem conhece. Secretário-geral de Relações Exteriores durante sete anos do governo Lula (2003-2009), ele foi uma das vozes mais eloquentes no processo que ajudou a enterrar a Aliança para o Livre Comércio das Américas (Alca) – iniciativa que buscava apagar todas as fronteiras comerciais do continente, num claro favorecimento à indústria norte-americana.

Dono de uma sólida formação acadêmica na área jurídica e sociológica, e quadro do Itamaraty há quase 50 anos, Guimarães exerceu até junho desse ano a função de Alto-Representante do Mercosul, sendo articulador das políticas entre os países-membros do bloco. Professor de Economia Internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele analisa com propriedade os atuais desafios sul-americanos, especialmente a mudança geopolítica após a entrada da Venezuela no grupo. “Esse ingresso vai proteger o país das tentativas de golpe”, aponta. Sobre o Brasil, o diplomata detecta um perigoso processo de desindustrialização da economia e uma hegemonia do capital internacional no controle dos fluxos de capitais.

Brasil de Fato: Um dos fatos políticos mais importantes do ano para a América do Sul foi a entrada da Venezuela no Mercosul. Qual a importância disso para a geopolítica regional?
Samuel Pinheiro Guimarães: O ingresso da Venezuela no Mercosul foi um fato de grande importância, tanto do ponto de vista político quanto econômico. Do ponto de vista econômico, a Venezuela é o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, no momento. Além disso, os preços do combustível continuarão altos nos próximos anos. No mais, a Venezuela está engajada, desde que o presidente Chávez assumiu, num processo de desenvolvimento do país, de construção de uma economia nacional. Antes, havia uma economia puramente petroleira, exportando petróleo e importando todo o resto. Ele [Chávez] tem essa determinação. Para os outros países do Mercosul, tudo isso é extremamente importante porque a Venezuela estará disposta a dar uma preferência aos países do bloco no seu mercado interno. Cria-se uma oportunidade importante para os países exportadores de produtos primários (Uruguai e Paraguai) e, ao mesmo tempo, abre seu grande mercado para produtos manufaturados de Brasil e Argentina. A Venezuela pode contribuir de forma muito significativa para reduzir as assimetrias dentro do bloco, através do Focem [Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul].

Do ponto de vista político, é importante esse ingresso porque, como é notório, existe o interesse deliberado dos EUA e dos países alinhados aos norte-americanos para que haja uma mudança de regime na Venezuela. Trata-se de um esforço consistente, a nível internacional, tentando retratar o presidente Chávez como um ditador, uma pessoa não confiável, descontrolado e assim por diante. Essa não é a opinião do povo venezuelano. Mas eles conseguiram consenso da mídia internacional, na América Latina e no resto do mundo, de modo que há quase uma convicção de que existiria uma ditadura na Venezuela, que não há liberdade de opinião, etc. A Venezuela no Mercosul a protege de eventuais golpes.

Brasil de Fato: Embaixador, o senhor tem afirmado que há uma meta permanente dos países centrais do capitalismo, capitaneados pelos EUA, de desintegrar o Mercosul. Qual o sentido estratégico desse esforço e o que pode ser feito de forma mais agravante contra a consolidação do Mercosul?
SPG: Os EUA e os países altamente desenvolvidos têm tido, como meta geral de política econômica e diplomacia externa, a eliminação de todas as barreiras ao comércio e ao fluxo de capitais. Ao mesmo tempo, têm advogado a adoção de uma série de normas que impedem qualquer controle sobre o capital estrangeiro. Então, por exemplo, os acordos negociados no âmbito da Rodada Uruguaia [Acordo comercial internacional, iniciado em 1986, que criou a Organização Mundial do Comércio e estabeleceu redução de subsídios agrícolas] preveem que os países não podem impor certas regras ao capital estrangeiro, como metas de exportação, obrigação de transferência de tecnologia, obrigação de insumos locais. Para esses países, que sediam as maiores empresas multinacionais, isso é conveniente porque eles realizam lucros nos países periféricos e remetem esses lucros para as suas sedes. Sabemos que o banco Santander, recentemente, só não teve prejuízo em nível mundial por causa da sua filial no Brasil. Isso é comum. Por isso, é muito importante esse livre fluxo de recursos porque ele se transforma em dividendos para os seus acionistas e, portanto, para o bem-estar daquela sociedade de origem [dos capitais]. Naturalmente, nunca praticaram isso para o setor agrícola. É livre comércio para produtos industriais e não para produtos agrícolas, porque não aceitam [a concorrência com os exportadores agrícolas]. Eles também protegem setores da sua indústria que desejam proteger.

Então, diante de qualquer acordo econômico que estabeleça preferências para as empresas que estão situadas dentro do território daquele agrupamento, como é o caso do Mercosul, eles não são favoráveis. Para isso, utilizam a ideia do regionalismo aberto, em que pode haver processo de integração, mas seria importante negociar com a União Europeia, os EUA. Na época da negociação da Alca havia uma ideia de que o Mercosul seria um dos blocos de construção da área. O Mercosul se acabaria com a Alca, por uma razão lógica: a partir do momento que se eliminam as tarifas, não há mais preferência. Eles também receiam as preferências para as empresas que estão dentro do bloco, eles querem que isso não ocorra. O ideal melhor desses países não é investir, é exportar. Eles só investem na China porque lá se estabelecem condições.

Brasil de Fato: O senhor acredita que esse potencial do Mercosul já foi percebido por seus “inimigos”, mas talvez os protagonistas ainda não tenham notado a importância de consolidá-lo, politicamente, através, por exemplo, de um sistema de comunicação mais adequado, que desse um nível de consciência cultural da importância histórica dessa integração?
SPG: É verdade. Principalmente no maior deles, que é o Brasil. Não há essa consciência, apesar do Mercosul ser um mercado extremamente importante para o nosso país. Em primeiro lugar, porque o Brasil tem sua pauta de exportações, para a Europa, a China, focada nos produtos primários. Os países para onde o Brasil vende produtos manufaturados são os do Mercosul e da América do Sul, e os Estados Unidos. Nesse último caso, cumpre esclarecer, é por causa do comércio “intra-firma”. As filiais americanas daqui vendem para as suas unidades nos EUA, mas essas mesmas filiais não exportam para a China nem a Europa. O Brasil só exporta como Brasil quando são as empresas estatais. O restante das importações são empresas privadas que estão no país, mas não são nacionais [em termos de capital]. As pessoas não sabem o que é a questão do comércio dentro da firma. A Fiat do Brasil exporta para Itália uma quantidade x de automóveis, o mesmo acontece em outros casos. São poucas as empresas nacionais que fazem investimentos na Argentina, Uruguai, Peru, Chile. É o caso da estatal Petrobras ou os bancos, como o Itaú. Claro que a Ford do Brasil não investe na Argentina. Lá, é a Ford dos EUA que investe. Um problema complexo, de longo prazo, é a presença das megaempresas multinacionais no Brasil sem a possibilidade de controlá-las, a qual o Brasil abdicou na reunião da Rodada do Uruguai.

Brasil de Fato: Mas em que isso fragiliza o Brasil?
SPG: Não se pode diversificar as exportações. A grande presença das empresas multinacionais, sem maiores obrigações, faz com que elas exportem apenas para onde elas decidem exportar. Qualquer campanha ou tentativa de expandir exportações para a China é frustrada porque elas não vão exportar, ou porque já estão lá e não vão concorrer com elas mesmas, ou porque decidem abastecer a China, digamos, partir de outra unidade. Isso afeta todo o comércio exterior na área de manufatura. Muitas empresas de capital nacional trabalham com tecnologia estrangeira, mas mediante condições. Por exemplo, a empresa pode produzir no país, mas não pode exportar.

Brasil de Fato: A Embraer seria uma delas?
SPG: Não. Mas, veja, a Embraer, que é uma montadora, não pôde exportar aviões para a Venezuela porque as firmas norte-americanas que iriam fornecer as peças não forneceram. Mas pôde exportar para a Colômbia, uma decisão política para exportar para aquele país e não para outro.

Isso prejudica o comércio exterior, porque o processo de desenvolvimento é de acumulação de capital. Não de capital financeiro, mas de capital físico. Como uma empresa se desenvolve? Aumentando suas instalações, suas máquinas e assim por diante. De uma forma geral, para acumular o capital físico, tem que gerar excedentes, os lucros. Esse lucro tem dois destinos: são distribuídos, sob a forma de dividendos, aos acionistas daquela empresa ou são reinvestidos na compra de equipamentos. Se a empresa é nacional, em princípio, ela distribui dividendos para brasileiros e investem no Brasil. Se a empresa é estrangeira, obtém lucro e distribui dividendos aos acionistas estrangeiros e, apenas eventualmente pode aumentar ou não seu capital físico no Brasil.

Brasil de Fato: Mas isso não decorre de uma alteração constitucional feita sobre empresa brasileira?

SPG: Sim. Durante o período do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), “preocupado” com os destinos da empresa nacional [ironiza], resolveu igualá-la a empresa multinacional. Isso é uma coisa gravíssima. Claro que se pode utilizar o capital estrangeiro para induzir a transferência de tecnologia, diversificação das exportações, criação de tecnologia dentro do país. Na China, há centenas de centros de pesquisa de desenvolvimento de empresas multinacionais, induzidas pelo governo. No Brasil, isso não ocorre.

Brasil de Fato: Para legitimar o fiasco regional, existe um jornalismo de desintegração. O que nos impede de fazer o jornalismo da integração?
SPG: Dois dos mais importantes instrumentos de influência política das grandes potências são o setor financeiro e o de comunicações. São fundamentais. O setor de comunicações é o que faz o imaginário das pessoas. Fazem com que elas acreditem, por exemplo, que o presidente Chávez é um ditador. E muitas outras coisas. O Iraque foi atacado a pretexto de possuir armas de destruição em massa, mas verificou-se que isso não existia. Nesse caso, é importante até imitar os EUA no passado, isto é, impedir os monopólios e oligopólios nos meios de comunicação, democratizar as verbas oficiais de publicidade do Estado. Algo que a Argentina também fez, com a Lei de Meios. Isso permitiria haver concorrência nos meios de comunicação, o que não há no Brasil. Como está, a comunicação é um instrumento importante de exercício de poder da classe hegemônica local que está vinculada a classe hegemônica dos países altamente desenvolvidos.

Brasil de Fato: Não se sabe, por exemplo, que a Venezuela tem hoje o maior salário mínimo da América Latina, o equivalente a R$ 2,1 mil e a Argentina, o equivalente a R$ 1,4 mil.

SPG: Sobre isso, se silencia. E vão se criando uma série de factoides, ou seja, situações que não existem além de ocultar outras questões importantes.

Brasil de Fato: Voltando ao tema da economia, está em curso um processo de desindustrialização do Brasil?
SPG: Não tenho a menor dúvida. Quase todos os economistas estão de acordo com isso. Há um processo que tem uma dinâmica própria, que deriva de dois fatos. O primeiro é a emergência da China e sua enorme importância por produtos primários. Esse fato está diretamente ligado à necessidade de divisas do Estado, porque não equilibra o balanço de pagamento senão entrarem recursos, se não entrar capital. Como se tem enorme dificuldade em expandir o comércio de manufaturados, o comércio de matéria-prima acaba sendo direcionado para a China, o que torna atividade do agronegócio e da mineração altamente lucrativa.

Do outro lado, a China tem necessidade de exportar manufaturados, dos produtos mais simples aos mais complexos, como bens de capital. A China tem deslocado a posição dos EUA e da Alemanha no fornecimento de bens de capital para o Brasil e a Argentina, porque os preços [chineses] são mais baratos. Isso entra em competição com indústria instalada no Brasil. Contribui para reduzir os lucros dessa indústria, que começa a importar insumos para reduzir seus custos e depois acaba simplesmente importando e distribuindo o produto estrangeiro. Europa e EUA também procuram exportar manufatura porque precisam gerar divisas e criar empregos lá. Os EUA tem tido superávit grande com o Brasil. Ano passado, a vantagem comercial foi de oito bilhões de dólares. Isso contribui para tornar a atividade industrial no Brasil menos lucrativa e o agronegócio e a mineração, ao contrário, atividades mais lucrativas. Inclusive porque com a política cambial e o influxo de dólares, o real está supervalorizado, então é muito fácil exportar, mas difícil importar.

É uma dinâmica com interesse internacional muito forte. Na área do agronegócio, as exportadoras são multinacionais. Não é o produtor de soja que exporta. A Cargill, Dreyfus, a Bunge… as cotações da soja estão altíssimas e quem se apropria disso são as multinacionais. Teria que haver um imposto de exportação para usar esse recurso, para duas finalidades, em minha opinião. A primeira seria promover o processamento das matérias-primas no Brasil. O que acontece com a soja que vai para China? É transformada em farelo, óleo de soja, então teria que se promover a transformação aqui. O minério de ferro que vai para a China é transformado em aço que nós compramos sob a forma de trilho. Para isso, precisa de atuação do governo.

Brasil de Fato: Esse modelo não tem sido estimulado pelo próprio governo? Como o senhor avalia essas medidas recentes de concessão de rodovias e ferrovias, justamente em ramais que favorecem a economia agroexportadora?

SPG: Eu não estudei a questão das concessões em detalhes. Mas, tendo em vista a demanda que existe por esses produtos, não se pode simplesmente, por causa das restrições de balanço de pagamento, deixar de construir esse tipo de infraestrutura. A hipótese é que se precisa construir rodovia, até por causa do próprio desenvolvimento do mercado interno, porque não se transporta só produtos do agronegócio, mas todo tipo produto. Com a ferrovia, é a mesma coisa. A premissa é se o Estado vai ter empresas construtoras de ferrovias e rodovias ou se vai contratar a iniciativa privada. E se contratar a iniciativa privada, ela será nacional ou estrangeira?

Se for nacional ou estrangeira, definir quais serão as condições, o lucro que se pretende. Para constituir o mercado interno, é necessário construir as redes de comunicações, com ferrovias, rodovias, metrô, portos, até para permitir que a economia funcione. Não se pode prescindir. Se a economia cresce e a rede física não expande, gera problemas graves, como congestionamento de portos e aumento de custos de produção.

Brasil de Fato: O senhor tem escrito muito acerca da relação complexa do papel das empresas brasileiras nos outros países no curso de uma integração. E também da política externa brasileira, que facilitou e fortaleceu a presença brasileira na Ásia, no mundo árabe, na América do Sul e até na África. O papel das empresas brasileiras contraria interesses dos países nessas regiões?
SPG: Acho que isso se aplica mais à América do Sul, ainda tendo em vista que o número de empresas brasileiras com capacidade para operar fora é relativamente reduzido. Poderíamos citar a Petrobrás, Vale, o setor bancário. Por isso, essa expansão das empresas brasileiras se dá na zona mais próxima, na América do Sul, através da aquisição de empresas locais, situações que poderiam gerar conflito entre empresas brasileiras e governos, como já houve em alguns casos e podem se agravar e levar a casos delicados politicamente.

Brasil de Fato: Mas qual seria o papel possível, dentro de uma regra capitalista, para o Estado brasileiro impedir que as empresas cedam à tentação de um sub imperialismo?
SPG: Eu acho que podem ser estabelecidas condições preferenciais. Por exemplo, não acho que o governo brasileiro deve financiar a aquisição, por empresas brasileiras, de empresas dos outros países. O governo pode estimular um comportamento diferente, de financiar a formação de associação com empresas locais. Aí o governo dá juros mais baixos, linhas de créditos especiais. A diferença de tamanho da economia brasileira é tal em relação aos outros países vizinhos que a penetração de capital brasileiro nesses países é extraordinária. Na Argentina, hoje em dia, a presença do capital brasileiro é muito grande, no setor bancário, setor do petróleo, mesmo no setor de frigorífico, a presença é muito importante. Tudo isso faz com que, se o governo local decide, por exemplo, mudar a legislação de remessas de lucros, a empresas brasileiras vão ser afetadas por isso, vão querer influir sobre o governo local. Se não tiverem êxito, vão pedir auxílio ao governo brasileiro. É uma tendência muito grande. A tendência não é haver um influxo de empresas equatorianas ou peruanas no Brasil.

Brasil de Fato: Há 30 ou 40 anos, Brasil e China estavam em uma situação parecida em diversas áreas. Mas, de lá para cá, a China, que não tinha programa espacial, atualmente já lançou nave no espaço. Não havia programa nuclear, hoje isso é bastante desenvolvido por lá. O Brasil não avançou quase nada nesses dois setores. Qual a explicação histórica para isso?
SPG: Houve opção por um tipo de política econômica, especialmente a partir do governo Fernando Collor de Mello. Essa escolha de política econômica foi baseada, inclusive, nos princípios que estão consolidados no chamado Consenso de Washington. Havia a ideia de que o Estado seria a grande causa dos problemas que afligiam a economia brasileira, na área da dívida externa, inflação, entre outras. Esse consenso dizia, em primeiro lugar, que o Estado deveria abdicar de qualquer atividade econômica e industrial, o que refletiu um programa de privatização. Todas as atividades de produção deveriam ser privadas, não apenas a área produtos de consumo, mas todas. Não privatizaram todo o setor de energia porque não tiveram oportunidade. Em segundo lugar, o Estado também interferia na atividade econômica através de “regulamentos excessivos”, então deveria desregulamentar, ou seja, deixar as empresas “livres” para que, através do jogo das forças de mercado, houvesse melhor alocação possível de recursos. Três, deveria haver abertura da economia para o exterior. O Estado deveria deixar de interferir no comércio exterior, de preferência eliminando todas as tarifas [alfandegárias].

O que ocorreu com a China, comparativamente, é que o Estado participou e organizou o processo de desenvolvimento econômico. Houve participação do capital estrangeiro, mas de forma disciplinada, sob um modo de ver o sistema econômico. Uns acham que para um país subdesenvolvido se desenvolver, a presença do Estado é essencial, com o fortalecimento da sua estrutura produtiva, suas empresas, assim por diante. Outros achavam que não, que isso ocorreria naturalmente, a transferência de tecnologia aconteceria sem maiores problemas. Começou no governo Collor, foi freada na gestão Itamar Franco, mas aprofundada no governo Fernando Henrique Cardoso. Com o presidente Lula, essa política foi, aos poucos, sendo modificada. Quando se toma o programa como o Bolsa Família, trata-se de aperfeiçoamento da mão-de-obra porque, do ponto de vista econômico, faz com que as crianças tenham que ir para a escola, faz com que haja programa de saúde, controle de pré-natal, vacinas. Também houve impacto no mercado de consumo, aumento de demanda por produtos. O Programa Luz para Todos também estimulou isso. Onde não há luz, não há produto industrial. Vale citar os programas de crédito e os esforços na área de infraestrutura. Havia 20 anos que o Brasil não construía uma refinaria. Houve uma mudança progressiva em várias áreas.

Brasil de Fato: Mas o modelo econômico permanece o mesmo.
SPG: Sim, porém essa pressão tem que vir dos movimentos sociais. Se os movimentos não pressionam, as classes hegemônicas pressionam do outro lado, porque têm acesso mais fácil ao governo. Se não se faz pressão popular por outro modelo econômico, ele não vai ocorrer.

Fonte: Brasil de Fato

UFSC: Semana Academica de RI - Perguntas nao respondidas - Paulo Roberto de Almeida

No último dia 5 de outubro de 2012, estive na Universidade Federal de Santa Catarina, convidado que fui pelos alunos para proferir a palestra de encerramento desta terceira semana de RI (a primeira turma de graduação está recém se formando agora).
Agradeci muito o convite e até fiz um esforço para comparecer, pois passei a semana em Maceió, onde tinha ido para as comemorações dos cem anos de nascimento de meu colega diplomata (que não conheci, pois ele se aposentou no ano em que eu ingressava no Itamaraty) Renato Firmino Maia de Mendonça. Acordei as 5hs da manhã, para viajar direto a Florianópolis e proferir a palestra no final do dia. Fui muito bem recebido, aliás, pelos alunos encarregados da excelente organização do evento, e não tenho nenhuma reclamação a fazer, a não ser duas:
1) Não me lembrei de pedir, antes da palestra, que eles escrevessem os nomes e e-mails nas perguntas escritas que encaminharam à mesa para que eu respondesse, ao final de minha exposição; falha minha, portanto, pois sempre peço, em circunstâncias similares, que os perguntadores formulem suas perguntas, com as devidas coordenadas, para que eu possa, justamente, encaminhar depois respostas mais estruturadas caso falte tempo para abordar todas as questões;
2) Não houve tempo hábil para responder a todas as questões, e isso eu imputo aos organizadores. Não me avisaram antecipadamente que tínhamos de encerrar as 20h30 (sendo que sempre se começa mais tarde do que a hora marcada), e eu me alonguei, seja na palestra, seja nas respostas às primeiras perguntas e depois fui "confrontado"  com a falta de tempo, e não pude satisfazer aos demais. Ainda assim, terminei pedindo que me contatassem ao final da palestra, para passar os e-mails ou continuar a conversa, mas poucos o fizeram (enfim, preferiram comer os canapés e tomar os sucos, o que talvez tenha sido melhor: as causas alimentares sempre passam antes do intelecto).
Vou portanto, transcrever as perguntas feitas e tentar dar algumas indicações sobre elas, não sem antes informar aos navegantes, curiosos e interessados sobre a disponibilidade de alguns dos meus textos mais recentes que possam apresentar algum mérito para pesquisadores ou estudantes:

As relações Sul-Sul: um novo determinismo geográfico?
Renato Mendonça: um intelectual na diplomacia
Intervenção governamental: Von Mises e prática brasileira
A diplomacia da era Lula: balanço e avaliação
Falácias acadêmicas: ensaios sobre alguns mitos correntes

A Economia Política da Integração Latino-Americana 
Uma história do Mercosul: evolução e situação atual

Vejamos agora o que eu poderia ter respondido e não respondi: 

1) O Sr. acredita que o crescimento econômico dos países depende de fatores endógenos, como o fortalecimento das suas instituições, ou que tal situação dependa fundamentalmente dos cenários e interesses internacionais?
PRA: Em primeiro lugar, eu costumo não "acreditar" em fatores econômicos e sim consultar e constatar os dados empíricos, a pura materialidade das coisas. Claro, somos todos influenciados por uma ou outra teoria, inclusive na seleção e interpretação dos dados, mas o economista verdadeiro tenta ser o mais objetivo possível, sabedor, no entanto, que os homens atuam conscientemente (nem todos) e assim modificam sempre os dados do problema, já que reagem, racionalmente ou instintivamente, aos estímulos existentes, mudando, portanto, o comportamento dos agentes e consequentemente dos processos sociais, subjetiva ou objetivamente. 
Dito isto, nas economias modernas, globalizadas, fatores externos sempre influenciam a conjuntura interna, e portanto o crescimento, que pode ser sustentado ou não, dependendo de um número muito grande de variáveis para podermos traçar uma lei da predominância de uns (externos, digamos) sobre outros (domésticos, por exemplo) fatores de crescimento. Normalmente, as economias mais abertas são mais suscetíveis a choques externos, mas também, por se abastecerem e venderem a um número maior de parceiros, podem diluir o caráter errático de conjunturas adversas, tanto internas, quanto externas, e aí depende da diversidade e da complexidade desses impactos. 
Em qualquer hipótese, instituições sólidas, com normas claras, transparentes e estáveis são sempre melhores, MUITO melhores, do que alterações arbitrárias das regras que presidem ao jogo econômico. 
A despeito que se diga que os capitais financeiros externos produzem volatilidade, o que pode ser verdade, acredito que a volatilidade maior está embutida nas políticas econômicas nacionais. 

2) Por que se, durante décadas o Brasil fez alianças/parcerias muitas vezes quase exclusivas com o Norte, não somos mais avançados, tecnologicamente, por exemplo?
PRA: Muito simples, e talvez mais complicado. Não se deve confundir relações de compra e venda, ou de participação nos mercados internacionais, com "parcerias" e muito menos com "alianças".
Uma colônia de exportação atua sob o chamado "pacto exclusivo", ou seja, totalmente dominada pela métropole. Mas mesmo um país independente, que só exporta matérias primas -- que podem ser absolutamente estratégicas para "parceiros"  avançados, como o petróleo, por exemplo, inclusive com a "ajuda tecnológica"  de empresas desses "parceiro" -- pode continuar durante séculos um mero exportador de produtos não processados, não absorvendo em nada essas tecnologias. Um país pode -- e muitos o fazem obviamente -- continuar durante 5 séculos a colher cana no machete, ou café e algodão manualmente, já que dispõe de uma mão de obra abundante e barata, o que não obriga à capitalização. O mesmo ocorre na extração, mineral ou outra. 
Engano seu, portanto, achar que pelo fato de o Brasil ser um exportador de commodities a "parceiros"  mais avançados durante os últimos 5 séculos, ele tenha de se qualificar tecnologicamente. O desempenho nessa área, ou seja, a transformação produtiva depende de que os agentes primários em cada setor se convençam de que é melhor exportar produtos processados do que commodities, cujos preços não são fixados pelo produtor (mas isso, mais uma vez, depende dos mercados, pois os fatores abundantes podem estar nos recursos naturais e na mão de obra, não havendo estímulo para a capitalização). 
De toda forma, qualquer que seja a situação, isso não tem absolutamente nada a ver com Norte ou Sul, pois não é a relação Sul-Sul que vai mudar qualquer coisa no avanço tecnológico, e geralmente não o faz, pois de fato e historicamente o Sul é mais defasado tecnologicamente do que o Norte.
Elementar, não meu caro Watson?

3) Em seu blog, você mantém uma categoria de escritos chamada "falácias acadêmicas", onde se refere às distorções ideológicas que em sua opinião pululam pelas academias brasileiras. Um dos seus estudos lá presentes versa sobre o neoliberalismo, que você argumenta nunca ter existido em várias partes do mundo, inclusive no Brasil.
Tendo em vista que esta casa (UFSC) orienta-se, em sua predominância, à esquerda, o que faz com que a palavra neoliberalismo seja sempre acompanhada dos piores adjetivos, você poderia falar um pouco sobre a sua visão da política "neoliberal" no Brasil, especificamente de temas como a privatização, abertura comercial e o governo FHC (grande vilão neoliberal segundo alguns)? Obrigado [O autor identificou-se depois, mas eu preservo seu nome para evitar dele ser crucificado pelos mais fanáticos anti-liberais, depois.]
PRA: Meu caro: Eu creio NUNCA ter falado que o neoliberalismo NUNCA existiu, no Brasil ou alhures. O "neoliberalismo" não existe, ou existe apenas como renascimento do velho liberalismo clássico. Não conheço economistas (ou outros) liberais que se classifiquem a si mesmos de "neoliberais". Um liberal consequente, e corajoso, diria, simplesmente: "Eu sou liberal!" (ponto, sem adjetivos).
O que eu disse foi que o liberalismo NUNCA existiu no Brasil, e isso é muito fácil de provar. Dou um doce, ou melhor, dou metade da minha biblioteca, para algum desses fanáticos "anti-neoliberais" (eles mesmos se vêem assim, e podem ser professores ou não) se qualquer um deles conseguir me provar que em algum momento da história do Brasil, desde Cabral, algum governante, qualquer um, tenha pautado sua administração, e mais concretamente sua política econômica, pelos seguintes princípios: de agora em diante, o governo não interfere mais na economia, não impede a criação de nenhuma empresa, todos são livres para empreender e começar a trabalhar, sem qualquer permissão prévia do governo (salvo nos setores de defesa, justiça e policiamento), que o comércio é totalmente livre, com zero tarifas e zero proibições, que os capitais e as pessoas podem entrar e sair livremente, que todo mundo pode ser exercer em qualquer profissão (salvo naquelas que "matam" gente) sem qualquer tipo de regulamentação ou reserva de mercado, sem qualquer diploma, título ou certificado, que eu não preciso sequer de um diploma de alfabetização para prestar concurso público, bastando fazer concurso, com base no mérito, que nenhum governo jamais fixará taxa de juros ou taxa de câmbio, que eu posso usar a moeda que quiser nas minhas transações internas e externas, que eu posso ter contas em moedas estrangeiras no banco que eu escolher, que a carga fiscal que eu preciso pagar ao governo é a mais baixa possível, que a oferta de bens e serviços (salvo naqueles monopólios naturais, onde se atua por concessão regulada por agências públicas) é a mais livre e a mais competitiva possível, que eu tenho mil operadoras de telefonia e de televisão à minha disposição, que eu possa ler, assistir, ouvir qualquer livro, qualquer programa sem nenhum tipo de censura governamental, que nenhuma agência fascista de governo vai me dizer o que eu posso ou não consumir, enfim, que eu seja absolutamente livre de burocratas governamentais.
Isso é liberalismo, e se alguém conseguir me provar que alguma vez, algum governo, no Brasil, foi assim, eu entrego metade da minha biblioteca.
O que eu afirmo, com todas as letras, é que o tal de neoliberalismo é uma invenção de pessoas frustradas com a volta de uma economia não liberal, mas um pouco menos regulada, menos intervencionista do que a que existia até os aos 1970, e que essas pessoas têm saudados do socialismo (que na verdade elas nunca conheceram, para ver a miséria que era), que são na sua grande maioria preguiçosos que não gostam de competição, que gostam de empregos públicos bem remunerados (pelos capitalistas, claro), que eles adora redistribuição de renda a seu favor, que eles detestam os mercados e acham o capitalismo perverso.
O chamado "neoliberalismo" é o despeito dos ignorantes sobre as reais alavancas de funcionamento do jogo econômico, além de revelar, no plano daqueles que acham o governo FHC "neoliberal" uma desonestidade ideológica desprezível, pois o que ele fez foi simplesmente colocar em ordem uma economia absolutamente esquizofrênica e caótica por anos de estatismo e de intervencionismo governamental. Essas pessoas não mereciam dar aulas, pois estão simplesmente propagando mentiras.
Acho que está claro, não?
Mas se quiser saber mais, basta ir ao meu site e blogs, e clicar "neoliberalismo", ou suas derivações negativas e positivas, e haverá uma pletora de artigos meus sobre o assunto...


Existiram, também, perguntas que eu pude ler e responder, ainda que parcialmente e rapidamente. Quais eram?

4) Em 2006, você deu uma entrevista ao Estadão, que afirmava que os Brics eram uma mera construção intelectual...
PRA: Já respondi, mas também tenho, em meu site e blogs, muitos trabalhos e textos sobre essa questão, e portanto peço para ver lá.

5) A dinâmica da diplomacia brasileira desde a ascensão de Lula prioriza as relações Sul-Sul [como] resultado dos fracassos econômicos e políticos da década de 90... A política atual é soberana (...) e isso seria pragmatismo...
Bem, já remeti a um texto meu, acima, sobre a diplomacia de Lula, e tenho muitos outros disponíveis. Recomendo ler...

6) [Artigo] do Wall Street Journal sobre educação na China e na Índia, capaz de suplantar a norte-americano, e portanto seriam modelos a ponto de influenciar o Brasil...
PRA: Para mim, China e Índia não são modelos para absolutamente nada para o Brasil ou qualquer outro país, a não ser para o óbvio, quando ele existir: estudo de boa qualidade, abertura econômica, receptividade aos investimentos estrangeiros, estabilidade macroeconômica, competição microeconômica, boa governança, ou seja, puro bom senso, e apenas isto.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 8 de outubro de 2012

A Historia do Zero - Nils-Bertil Wallin


The History of Zero

  
 
How was zero discovered?
  
  
 
Nils-Bertil Wallin
 YaleGlobal, 19 November 2002
  
  
  
The phenomenon of zero. 

From placeholder to the driver of calculus, zero has crossed the greatest minds and most diverse borders since it was born many centuries ago. Today, zero is perhaps the most pervasive global symbol known. In the story of zero, something can be made out of nothing.
Zero, zip, zilch - how often has a question been answered by one of these words? Countless, no doubt. Yet behind this seemingly simple answer conveying nothing lays the story of an idea that took many centuries to develop, many countries to cross, and many minds to comprehend. Understanding and working with zero is the basis of our world today; without zero we would lack calculus, financial accounting, the ability to make arithmetic computations quickly, and, especially in today's connected world, computers. The story of zero is the story of an idea that has aroused the imagination of great minds across the globe.
When anyone thinks of one hundred, two hundred, or seven thousand the image in his or her mind is of a digit followed by a few zeros. The zero functions as a placeholder; that is, three zeroes denotes that there are seven thousands, rather than only seven hundreds. If we were missing one zero, that would drastically change the amount. Just imagine having one zero erased (or added) to your salary! Yet, the number system we use today - Arabic, though it in fact came originally from India - is relatively new. For centuries people marked quantities with a variety of symbols and figures, although it was awkward to perform the simplest arithmetic calculations with these number systems.
The Sumerians were the first to develop a counting system to keep an account of their stock of goods - cattle, horses, and donkeys, for example. The Sumerian system was positional; that is, the placement of a particular symbol relative to others denoted its value. The Sumerian system was handed down to the Akkadians around 2500 BC and then to the Babylonians in 2000 BC. It was the Babylonians who first conceived of a mark to signify that a number was absent from a column; just as 0 in 1025 signifies that there are no hundreds in that number. Although zero's Babylonian ancestor was a good start, it would still be centuries before the symbol as we know it appeared.
The renowned mathematicians among the Ancient Greeks, who learned the fundamentals of their math from the Egyptians, did not have a name for zero, nor did their system feature a placeholder as did the Babylonian. They may have pondered it, but there is no conclusive evidence to say the symbol even existed in their language. It was the Indians who began to understand zero both as a symbol and as an idea.
Brahmagupta, around 650 AD, was the first to formalize arithmetic operations using zero. He used dots underneath numbers to indicate a zero. These dots were alternately referred to as 'sunya', which means empty, or 'kha', which means place. Brahmagupta wrote standard rules for reaching zero through addition and subtraction as well as the results of operations with zero. The only error in his rules was division by zero, which would have to wait for Isaac Newton and G.W. Leibniz to tackle.
But it would still be a few centuries before zero reached Europe. First, the great Arabian voyagers would bring the texts of Brahmagupta and his colleagues back from India along with spices and other exotic items. Zero reached Baghdad by 773 AD and would be developed in the Middle East by Arabian mathematicians who would base their numbers on the Indian system. In the ninth century, Mohammed ibn-Musa al-Khowarizmi was the first to work on equations that equaled zero, or algebra as it has come to be known. He also developed quick methods for multiplying and dividing numbers known as algorithms (a corruption of his name). Al-Khowarizmi called zero 'sifr', from which our cipher is derived. By 879 AD, zero was written almost as we now know it, an oval - but in this case smaller than the other numbers. And thanks to the conquest of Spain by the Moors, zero finally reached Europe; by the middle of the twelfth century, translations of Al-Khowarizmi's work had weaved their way to England.
The Italian mathematician, Fibonacci, built on Al-Khowarizmi's work with algorithms in his book Liber Abaci, or "Abacus book," in 1202. Until that time, the abacus had been the most prevalent tool to perform arithmetic operations. Fibonacci's developments quickly gained notice by Italian merchants and German bankers, especially the use of zero. Accountants knew their books were balanced when the positive and negative amounts of their assets and liabilities equaled zero. But governments were still suspicious of Arabic numerals because of the ease in which it was possible to change one symbol into another. Though outlawed, merchants continued to use zero in encrypted messages, thus the derivation of the word cipher, meaning code, from the Arabic sifr.
The next great mathematician to use zero was Rene Descartes, the founder of the Cartesian coordinate system. As anyone who has had to graph a triangle or a parabola knows, Descartes' origin is (0,0). Although zero was now becoming more common, the developers of calculus, Newton and Lebiniz, would make the final step in understanding zero.
Adding, subtracting, and multiplying by zero are relatively simple operations. But division by zero has confused even great minds. How many times does zero go into ten? Or, how many non-existent apples go into two apples? The answer is indeterminate, but working with this concept is the key to calculus. For example, when one drives to the store, the speed of the car is never constant - stoplights, traffic jams, and different speed limits all cause the car to speed up or slow down. But how would one find the speed of the car at one particular instant? This is where zero and calculus enter the picture.
If you wanted to know your speed at a particular instant, you would have to measure the change in speed that occurs over a set period of time. By making that set period smaller and smaller, you could reasonably estimate the speed at that instant. In effect, as you make the change in time approach zero, the ratio of the change in speed to the change in time becomes similar to some number over zero - the same problem that stumped Brahmagupta.
In the 1600's, Newton and Leibniz solved this problem independently and opened the world to tremendous possibilities. By working with numbers as they approach zero, calculus was born without which we wouldn't have physics, engineering, and many aspects of economics and finance.
In the twenty-first century zero is so familiar that to talk about it seems like much ado about nothing. But it is precisely understanding and working with this nothing that has allowed civilization to progress. The development of zero across continents, centuries, and minds has made it one of the greatest accomplishments of human society. Because math is a global language, and calculus its crowning achievement, zero exists and is used everywhere. But, like its function as a symbol and a concept meant to denote absence, zero may still seem like nothing at all. Yet, recall the fears over Y2K and zero no longer seems like a tale told by an idiot.
References:
1. Kaplan, Robert (2000). The Nothing that Is: A Natural History of Zero. New York: Oxford University Press.
2. Seife, Charles (2000). Zero: The Biography
Rights:
© Copyright Yale Center for the Study of Globalization 2002

Intervencao dos governos na economia - Marcos Mendes


Por que o governo deve interferir na economia?

O funcionamento da economia, a princípio, não precisa de intervenções do governo. Por exemplo: quando uma seca destrói a safra de feijão, o preço do feijão sobe. Frente ao preço mais alto, as pessoas passam a comprar menos feijão, e o substituem por outro alimento mais barato. Isso significa que a demanda por feijão cai, diminuindo a pressão sobre seus preços. Por outro lado, comerciantes vão importar feijão, para aproveitar a oportunidade de lucrar com os preços mais altos. Ao colocarem no mercado essa importação, a escassez do produto diminuirá, com novo impulso à queda dos preços.
Há, portanto, um mecanismo de ajuste automático da economia: a escassez eleva os preços e o aumento de preços induz o fim da escassez. Em uma situação como essa, não há necessidade de o governo interferir na economia, pois ela se ajusta sozinha.
Há, porém, situações em que o mercado não se ajusta sozinho, são as chamadas “falhas de mercado”. Quando o mercado falha, a intervenção do governo pode ser importante para colocar a sociedade em um nível mais elevado de bem-estar. Mas existem, também, as “falhas de governo”: os problemas que o governo causa ao intervir na economia.
(...)
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Para ler mais sobre o tema:
Arvate, P., Biderman, C. (2006) Vantagens e desvantagens da intervenção do governo na economia. In: Mendes, M. (Org.) Gasto público eficiente: 91 propostas para o desenvolvimento do Brasil. Instituto Fernand Braudel/Topbooks. São Paulo, p. 45-70.
Andrade, E. (2004) Externalidades. In: Arvate, P., Biderman, C. (Orgs.) Economia do setor público no Brasil.FGV/Campus. São Paulo., p. 16-33
Stiglitz, J. (1999) Economics of the public sector. W.W. Norton & Company, 3rd edition. Capítulos 1 e 4.

Sobre o Autor:

Marcos Mendes
Doutor em economia – USP. Editor do site "Brasil, economia e governo".

Recomendações de artigos:



Produtividade, uma aula - Marcos Mendes (01/10)


O que é produtividade e como conseguir seu incremento?

(O presente texto constitui adaptação de capítulo do livro “Infraestrutura: os caminhos para sair do buraco” de autoria de Raul Velloso, César Mattos, Marcos Mendes e Paulo Springer de Freitas).
A teoria econômica mensura a produtividade de uma economia por meio do conceito de “Produtividade Total dos Fatores” (PTF). Parte-se da ideia de que o produto anual de uma economia (PIB) é criado pela interação entre os estoques de capital físico e de capital humano existentes. O capital físico é constituído por máquinas, equipamentos, edifícios e demais instrumentos utilizados na produção. O capital humano é dado pela capacidade produtiva da força de trabalho e normalmente é representado pela quantidade de pessoas em idade laboral ponderada pelo nível de escolaridade médio dessa força de trabalho (na suposição de que trabalhadores que passaram mais tempo na escola são mais produtivos).
Suponha duas economias hipotéticas que tenham igual dotação de capital físico e de capital humano. Se uma dessas economias tem um PIB maior que o da outra, conclui-se que ela foi mais eficiente no uso de seu estoque de capital. Logo, ela tem maior produtividade. Ser mais produtivo, portanto, significa fazer mais produtos a partir de uma dada disponibilidade de capital humano e físico disponível na economia.aixo]
(...) [ver ab

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  • Marcos Mendes
    Doutor em economia – USP. Editor do site "Brasil, economia e governo".

Governar o mundo?: uma idea liberal-utopista - book review

The Old, New World Order
Yascha Mounk
The Wall Street Journal, October 7, 2012

Over the course of the 19th century, the idea of a global government so powerful that it would make nations all but obsolete took hold of the European mind. Futurist writers like Felix Bodin in France and George Griffith in England popularized the notion that a single world order was "the only possible solution of the human problem," as H.G. Wells later put it. But unrealistic dreams bred exaggerated fears. Soon pessimists were convinced that powerful international institutions would usher in global despotism.
In "Governing the World: The History of an Idea," Mark Mazower gives a splendid account of these and other utopian dreamers and their adversaries. In his telling, the era of international government started after the Napoleonic wars. Prince Metternich, Austria's foreign minister, realized that the victorious forces of the old order needed to band together to contain revolutionary fervor. So he designed the "Concert of Europe," a kind of mutual-aid society for morose monarchies.

Governing the World

By Mark Mazower

(Penguin, 475 pages, $29.95)
Radicals of all stripes loathed the Concert's aims yet were inspired by its internationalism. A nascent peace movement hoped that a better set of institutions might do away with war. In England, Richard Cobden, a Radical member of parliament, argued that free trade would enrich every corner of the globe. Meanwhile, Giuseppe Mazzini, the Italian unifier, dreamed of a "brotherhood" of democratic, independent nations. These were partially competing visions. Even so, they were all important influences on the two most ambitious international institutions mankind has known: the League of Nations and the United Nations.
Mr. Mazower's intellectual history of world government is highly compelling. But his book's greatest merit is the author's treatment of the practical realities of the U.N. He gives clear-minded attention to a crucial, oft-neglected question: What real impact have international organizations had on the world? His answer implicitly challenges both the realist and liberal camps in international relations.
Many realists consider international organizations mere sound and fury. Powerful nations, they say, care about their ability to enforce their interests on the battlefield, not about the deliberations of a feckless body like the U.N.'s General Assembly. But this skepticism, Mr. Mazower argues, is hardly borne out by history. Even at the height of the Cold War, American leaders were loath to be isolated at the U.N. What's more, multilateral institutions have helped the United States influence its own allies: Over the past two decades, the International Monetary Fund and the World Bank have remade the international economic order much more radically than the White House could have done on its own.
In ascribing real importance to the U.N., Mr. Mazower's account dovetails with that of many liberal scholars. Yet, unlike them, he thinks that the U.N.'s influence is rather more sinister than meets the eye. He notes that many of the U.N.'s key features, like the veto held by the five permanent members of the Security Council, were designed to favor the winners of World War II. Going a big step further, he argues that we should see the partisan interests of the West lurking behind the high-minded, seemingly neutral language of documents like the Universal Declaration of Human Rights. Far from constraining the actions of the world's high and mighty, the U.N. has proved to be "a vital instrument for Washington in its pursuit of global power."
If this focus on the dark side of international norms and institutions is another of the book's strengths, it is also responsible for some of its greatest weaknesses. According to Mr. Mazower, for example, the 19th-century origins of international law were deeply influenced by a self-serving, arbitrary distinction between civilized and uncivilized nations—one that had the not-so-subtle aim of justifying Europe's brutal rule over its colonies. This is no doubt right. But to conclude that the fledging discipline of international law "translated into the massacres, aerial bombings, and systematic detentions that characterized European imperialism" is to put the cart before the horse.
Such exaggerations are particularly troubling because they prepare the ground for some contemporary conclusions. After the U.N.'s failure to stop genocides in Yugoslavia and Rwanda, the General Assembly in 2005 adopted the so-called Responsibility to Protect, a resolution that obliges the international community to stop genocide even when it is taking place inside a sovereign state. Most human-rights activists applauded. But Mr. Mazower writes off the Responsibility to Protect as a ploy to erode the sovereignty of weaker nations. So, while U.N. Secretary-General Ban Ki-moon hailed the West's intervention in Libya as the first real-world application of this new norm, Mr. Mazower was reminded of "Fascist Italy's cynical rationalization of its invasion of Ethiopia." The Responsibility to Protect, he concludes, is nothing other than "the old ghost of the standard of civilizations."
Great powers will always be tempted to twist international law to serve their own ends. Even so, Mr. Mazower's extreme comparisons obfuscate as much as they reveal. To equate a norm designed to protect vulnerable populations with a legal standard that was created to exploit them doesn't just play loose with history; it is also a curiously self-satisfied way to shove aside, in the name of anti-colonialist clairvoyance, our moral duty to prevent genocide.
"Universalism," Mr. Mazower concludes, "is in the eye of the beholder." But this is too extreme—and too easy—a lesson to draw. Though supposedly universalist norms have often been invoked in bad faith, it is not always impossible to distinguish just from unjust laws, or to extract colonialism from humanitarian intervention. Unless we resign ourselves to total moral relativism, there is little alternative to striving for relations between states that are governed by universal rules. Early enthusiasm about the emancipatory promise of world government now seems hopelessly naive. But the imperative to build an order capable of safeguarding peace and protecting individual rights has hardly become less urgent.
Mr. Mounk is a doctoral student in political theory at Harvard University and the founding editor of the Utopian.

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...