Aí está, com minha presença apenas virtual:
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Brasil: inflacao anual ja' ultrapassou o teto da meta
Como alguém disse que não iria sacrificar o crescimento brasileiro no combate à inflação, os intermediários e outros formadores de preços se sentiram autorizados a seguir adiante, com reajustes e demandas não previstas nos cálculos do Copom. Assim, a inflação sobe alegremente, tungando os brasileiros em mais de 6% da capacidade de compra.
Sacrificar crescimento? Boa preocupação. Como ele anda em torno de 1% (o que já crescimento negativo da renda per capita, ou seja, diminuição, de fato), poderíamos talvez numa zona de empobrecimento relativo.
Esta é a maravilha da política econômica que nos servem...
Apenas mais um alerta: redução seletiva e parcial de alguns impostos não vai diminuir o ímpeto da inflação, que já parece ter voltado a entranhar os nossos hábitos.
Bravo aos companheiros: conseguiram fazer o Brasil recuar duas décadas. Em matéria de protecionismo se trata de um recuo de três décadas ou mais. Mais um pouco estaremos nos anos 1930...
Paulo Roberto de Almeida
Brazil Macro Flash: March's CPI Shows Slight Improvement in Core Inflation
Citi group, April 10, 2013
March’s CPI inflation stood at 0.47% m/m, slightly below market consensus and our forecast. Despite that, annual inflation surpassed the upper limit of the target, by reaching 6.59% (from 6.3% in February). As expected, the main upward pressures came from food price increases, reflecting the supply shock in perishable food prices. Therefore, the favorable surprise came from non food prices, more specifically in apparel and transportation prices. In addition to that, the average of core inflation and the diffusion index fell slightly in the monthly result, although still pointing to widespread upward pressures in the economy. Overall, these results reinforce our call that the Copom will start hiking the Selic rate in May by 50bp.
In the monthly result, food prices increased 1.14% (from 1.45%), in line with our expectations. This was the fourth consecutive month that food inflation surpasses 1% m/m. Over the last 12 months, food inflation reached 13.5% (from 12.5% in February), representing one of the main upward pressures in CPI inflation for this period.
The average of core inflation measures fell to 0.43% m/m, representing 5.2% in annualized terms (from 5.6% in February), above mid point target of 4.5% but inside the target band. The diffusion index fell to 69.1% (from 72.4% in February). Excluding food prices, the diffusion index fell to 65.4% (from 74.3%). Moreover, services inflation retreated to 8.4% over the last 12 months (from 8.7% in February). Overall, the measures of trend inflation have improved slightly in March, but still point to widespread upward pressures throughout the economy.
Looking ahead, we do not expect services inflation to decline markedly in the near future, given the tight labor market. Regarding food inflation, the usually fast recovery of the perishable food supply and the downward trend in international food prices point to a slowdown in the coming months. For April, our forecast is currently set at 0.5% m/m, due to temporary upward pressures in monitored prices. For 2013, we see upward risks to our forecast of 5.6% at year-end, related to the unfavorable surprise in food inflation this year.
Sacrificar crescimento? Boa preocupação. Como ele anda em torno de 1% (o que já crescimento negativo da renda per capita, ou seja, diminuição, de fato), poderíamos talvez numa zona de empobrecimento relativo.
Esta é a maravilha da política econômica que nos servem...
Apenas mais um alerta: redução seletiva e parcial de alguns impostos não vai diminuir o ímpeto da inflação, que já parece ter voltado a entranhar os nossos hábitos.
Bravo aos companheiros: conseguiram fazer o Brasil recuar duas décadas. Em matéria de protecionismo se trata de um recuo de três décadas ou mais. Mais um pouco estaremos nos anos 1930...
Paulo Roberto de Almeida
Brazil Macro Flash: March's CPI Shows Slight Improvement in Core Inflation
Citi group, April 10, 2013
March’s CPI inflation stood at 0.47% m/m, slightly below market consensus and our forecast. Despite that, annual inflation surpassed the upper limit of the target, by reaching 6.59% (from 6.3% in February). As expected, the main upward pressures came from food price increases, reflecting the supply shock in perishable food prices. Therefore, the favorable surprise came from non food prices, more specifically in apparel and transportation prices. In addition to that, the average of core inflation and the diffusion index fell slightly in the monthly result, although still pointing to widespread upward pressures in the economy. Overall, these results reinforce our call that the Copom will start hiking the Selic rate in May by 50bp.
In the monthly result, food prices increased 1.14% (from 1.45%), in line with our expectations. This was the fourth consecutive month that food inflation surpasses 1% m/m. Over the last 12 months, food inflation reached 13.5% (from 12.5% in February), representing one of the main upward pressures in CPI inflation for this period.
The average of core inflation measures fell to 0.43% m/m, representing 5.2% in annualized terms (from 5.6% in February), above mid point target of 4.5% but inside the target band. The diffusion index fell to 69.1% (from 72.4% in February). Excluding food prices, the diffusion index fell to 65.4% (from 74.3%). Moreover, services inflation retreated to 8.4% over the last 12 months (from 8.7% in February). Overall, the measures of trend inflation have improved slightly in March, but still point to widespread upward pressures throughout the economy.
Looking ahead, we do not expect services inflation to decline markedly in the near future, given the tight labor market. Regarding food inflation, the usually fast recovery of the perishable food supply and the downward trend in international food prices point to a slowdown in the coming months. For April, our forecast is currently set at 0.5% m/m, due to temporary upward pressures in monitored prices. For 2013, we see upward risks to our forecast of 5.6% at year-end, related to the unfavorable surprise in food inflation this year.
Um frase de ferro, de uma dama idem... (adivinharam!)
Acho que serve para certas nações que se estão tornando excessivamente dependentes de um Estado todo poderoso, e deformando uma mentalidade que se converteu na assistência pública:
I came to office with one deliberate intent. To change Britain from a dependent to a self-reliant society, from a give-it-to-me to a do-it-yourself nation.
(...)
Things will get worse before they get better.
Margareth Thatcher, 1979
Acho que é isso. Mas quando, quem, como, no Brasil???
Sinceramente, não sei.
Por enquanto está distante. Vamos ter de afundar tanto quanto a Grã-Bretanha, ou a Argentina, antes de começar a retomada?
Talvez...
Paulo Roberto de Almeida
I came to office with one deliberate intent. To change Britain from a dependent to a self-reliant society, from a give-it-to-me to a do-it-yourself nation.
(...)
Things will get worse before they get better.
Margareth Thatcher, 1979
Acho que é isso. Mas quando, quem, como, no Brasil???
Sinceramente, não sei.
Por enquanto está distante. Vamos ter de afundar tanto quanto a Grã-Bretanha, ou a Argentina, antes de começar a retomada?
Talvez...
Paulo Roberto de Almeida
Notas de pesar do governo brasileiro - sempre respeitosas e adequadas.
Algumas notas recentes, com uma pequena particularidade, ao final.
Paulo Roberto de Almeida
Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à Imprensa nº 107
9 de abril de 2013
Terremoto no Irã
O Governo brasileiro tomou conhecimento com grande pesar das mortes e perdas materiais provocadas pelo terremoto de 6,3 graus na escala Richter que atingiu no dia de hoje a província de Bushehr, no sudoeste do Irã.
O Brasil transmite suas condolências e solidariedade aos familiares das vítimas, ao povo e ao Governo do Irã.
Nota à Imprensa nº 103
3 de abril de 2013
Tempestades na Argentina
O Governo brasileiro tomou conhecimento, com grande
pesar, dos efeitos das recentes tempestades na Argentina, que causaram,
até o momento, a morte de mais de 40 pessoas e graves perdas materiais.O
Governo brasileiro solidariza-se com as famílias das vítimas e
manifesta suas mais sinceras condolências ao Governo e ao povo da
Argentina.
Nota à Imprensa nº 73
6 de março de 2013
Falecimento do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, 5 de março de 2013
O Ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, se associa ao momento de dor do povo venezuelano e, muito especialmente, dos familiares do Presidente Hugo Chávez.
A Venezuela, sob a liderança do Presidente Chávez, viveu processo sem precedente histórico de aproximação com o Brasil.
O Presidente Chávez será lembrado como o líder venezuelano que maiores vínculos teve com o Brasil e que maior contribuição deu aos esforços de integração regional. Sob sua presidência, a Venezuela tornou-se parceiro estratégico do Brasil e sócio pleno do MERCOSUL.
O Reino Unido, sob a liderança da primeira-ministra Margareth Thatcher, empreendeu a mais formidável correção de rumos econômicos de que se tem notícia na história do capitalismo moderno, assentando as bases de uma nação próspera, novamente respeitada, na Europa e no mundo, que conseguiu reverter a decadência provocada por décadas de governos estatizantes e socialistas, que só trouxeram ruina, ao país e à sua economia.
Sob a clarividente conduta da primeira-ministra Margareth Thatcher, o Reino Unido emergiu novamente, no decorrer dos anos 1980, com seu centro financeiro revitalizado, totalmente aberto aos fluxos de capitais e a liberdade de investimentos, aumentando sua taxa de crescimento e reduzindo o desemprego. Recebeu, sozinho, mais investimentos estrangeiros do que toda a Europa reunida, e conseguiu debelar o ciclo de desindustrialização e de perda de competitividade, provocados por décadas de governos equivocados.
O povo brasileiro também acredita que mercados livres e abertura econômica, privatização de estatais ineficientes, constituem os mais poderosos estímulos a uma vibrante economia de mercado, compatível com uma democracia plena, sem qualquer traço autoritário e ranço estatizante. O povo brasileiro espera poder contar, um dia, com personalidade tão corajosa quanto a ex-primeira ministra Thatcher, para empreender o esforço de soerguimento econômico nacional.
(Bem, seria mais ou menos isso...).
Paulo Roberto de Almeida
Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete
Nota à Imprensa nº 107
9 de abril de 2013
Terremoto no Irã
O Governo brasileiro tomou conhecimento com grande pesar das mortes e perdas materiais provocadas pelo terremoto de 6,3 graus na escala Richter que atingiu no dia de hoje a província de Bushehr, no sudoeste do Irã.
O Brasil transmite suas condolências e solidariedade aos familiares das vítimas, ao povo e ao Governo do Irã.
Nota à Imprensa nº 103
3 de abril de 2013
Tempestades na Argentina
Nota à Imprensa nº 73
6 de março de 2013
Falecimento do Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, 5 de março de 2013
O Ministro das Relações Exteriores, Antonio de Aguiar Patriota, se associa ao momento de dor do povo venezuelano e, muito especialmente, dos familiares do Presidente Hugo Chávez.
A Venezuela, sob a liderança do Presidente Chávez, viveu processo sem precedente histórico de aproximação com o Brasil.
O Presidente Chávez será lembrado como o líder venezuelano que maiores vínculos teve com o Brasil e que maior contribuição deu aos esforços de integração regional. Sob sua presidência, a Venezuela tornou-se parceiro estratégico do Brasil e sócio pleno do MERCOSUL.
Nota à Imprensa sem nº
9 de abril de 2013
Falecimento da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher
O Governo brasileiro tomou conhecimento, com grande
pesar, do falecimento da ex-primeira ministra Margareth Thatcher e se associa ao momento de dor do povo britânico, e muito especialmente dos familiares da Baronesa Thatcher, a quem expressa suas mais vivas condolências. Falecimento da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher
O Reino Unido, sob a liderança da primeira-ministra Margareth Thatcher, empreendeu a mais formidável correção de rumos econômicos de que se tem notícia na história do capitalismo moderno, assentando as bases de uma nação próspera, novamente respeitada, na Europa e no mundo, que conseguiu reverter a decadência provocada por décadas de governos estatizantes e socialistas, que só trouxeram ruina, ao país e à sua economia.
Sob a clarividente conduta da primeira-ministra Margareth Thatcher, o Reino Unido emergiu novamente, no decorrer dos anos 1980, com seu centro financeiro revitalizado, totalmente aberto aos fluxos de capitais e a liberdade de investimentos, aumentando sua taxa de crescimento e reduzindo o desemprego. Recebeu, sozinho, mais investimentos estrangeiros do que toda a Europa reunida, e conseguiu debelar o ciclo de desindustrialização e de perda de competitividade, provocados por décadas de governos equivocados.
O povo brasileiro também acredita que mercados livres e abertura econômica, privatização de estatais ineficientes, constituem os mais poderosos estímulos a uma vibrante economia de mercado, compatível com uma democracia plena, sem qualquer traço autoritário e ranço estatizante. O povo brasileiro espera poder contar, um dia, com personalidade tão corajosa quanto a ex-primeira ministra Thatcher, para empreender o esforço de soerguimento econômico nacional.
(Bem, seria mais ou menos isso...).
A dama da recusa do euro: Lady Thatcher paga para ver (e ganha) - Celso Ming
Um artigo, desta vez fraquinho, do excelente colunista de economia do Estadão, que não menciona a liberalização financeira promovida por Thatcher, que fez de Londres, novamente, um grande centro financeiro mundial, desmantelando as crenças de que Frankfurt poderia oferecer notável concorrência financeira à praça londrina.
Ela tinha razão, embora não soubesse à época, mas como Churchill, se apegava à ideia da soberania monetária com a libra. Churchill presidiu a um desastre, em 1925-26, quando foi Lord of Exchequers, reintroduzindo a libra no padrão ouro no mesmo patamar do pré-guerra. MThatcher, por sua vez, não teve de enfrentar a séria crise do sistema monetário europeu, de 1992, quando a libra saiu do sistema (derrubado pela Alemanha, na verdade, embora não intencionalmente) e desvalorizou.
Mas ela tinha certos conceitos econômicos muito bem arraigados, o que poderia ter sido lembrado por Celso Ming: não gastar acima do que você ganha, era um deles, típico de quitandeiro, o que ela era, mas sólido e válido, inclusive para o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
Ela tinha razão, embora não soubesse à época, mas como Churchill, se apegava à ideia da soberania monetária com a libra. Churchill presidiu a um desastre, em 1925-26, quando foi Lord of Exchequers, reintroduzindo a libra no padrão ouro no mesmo patamar do pré-guerra. MThatcher, por sua vez, não teve de enfrentar a séria crise do sistema monetário europeu, de 1992, quando a libra saiu do sistema (derrubado pela Alemanha, na verdade, embora não intencionalmente) e desvalorizou.
Mas ela tinha certos conceitos econômicos muito bem arraigados, o que poderia ter sido lembrado por Celso Ming: não gastar acima do que você ganha, era um deles, típico de quitandeiro, o que ela era, mas sólido e válido, inclusive para o Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
A dama do não
09 de abril de 2013 | 2h 04
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
A ex-primeira ministra Margareth Thatcher, que ontem
faleceu, não será lembrada somente por ter sido coerente com seus
princípios liberais e nisso ter sido bem-sucedida. Também será louvada
por ter impedido o Reino Unido de aderir à área do euro. Neste momento
de profunda crise do bloco monetário, os ingleses repetirão que ela
estava coberta de razão por decidir esperar para ver.
Os líderes da Europa no final dos anos 80, especialmente o então chanceler da Alemanha, Helmut Kohl, e o presidente da França à época, François Mitterrand, tinham perfeita noção de que, sem união fiscal (controle central dos orçamentos) e sem união política (controle central do poder e das principais decisões de governo), o euro seria lançado com graves defeitos de fabricação.
O prêmio Nobel de Economia (de 1999) Robert Mundell, já então reconhecido como grande autoridade em moeda, havia deixado claro que o euro nasceria sem um Estado que lhe desse consistência. Os países que a ele aderiam não constituíam uma área monetária ótima - para ficar com a principal expressão criada por Mundell.
Kohl, no entanto, teve a percepção de que o defeito mais grave não era a inconsistência do euro, mas a ausência de unidade da Europa. E entendeu que a crise que eventualmente proviesse da inconsistência da moeda única acabaria por disparar as forças em direção à unidade orçamentária e política. A motivação de Mitterrand parece ter sido outra: uma vez adotada a moeda única, a Europa acabaria por absorver a Alemanha e as ameaças históricas que tantas vezes nasceram dentro dela.
Thatcher não ignorou que, apesar dos seus vícios de origem, o euro poderia ser bem sucedido, como previa Kohl. Nessas condições, a economia do Reino Unido corria o risco de perder densidade e os demais ganhos de escala que proviessem da circulação da moeda única.
Ainda assim, Thatcher preferiu não aderir ao euro. Decidiu abrir mão do direito de influenciar no processo de constituição do Banco Central Europeu e das demais instituições criadas com o euro. O Reino Unido haveria de renunciar à libra esterlina apenas quando o euro estivesse consolidado.
A decisão foi fortemente criticada na Inglaterra, sobretudo dentro do Parlamento. Dizia-se que a política de Thatcher consolidava a tendência a um perigoso isolamento, à custa de crescimento econômico e da perda de empregos. Mas ela permaneceu firme. O Reino Unido ficou de fora.
Depois de tudo o que aconteceu a partir de 2008; depois que se viu que economias tão pequenas, como Irlanda, Portugal e Grécia, foram capazes de abalar o euro; depois da paralisação da atividade econômica e do desemprego recorde no bloco, mais e mais os ingleses passaram a dar razão a Thatcher: "Foi quem salvou o Reino Unido do desastre".
Apesar de tudo, os sonhos de Kohl e de Mitterrand ainda se mantêm válidos. Ninguém mais duvida de que só a união dos orçamentos e a união política serão capazes de dar consistência ao euro. Quando isso acontecer, e apenas se acontecer, a política de cautela adotada por Margareth Thatcher poderá ser superada.
Os líderes da Europa no final dos anos 80, especialmente o então chanceler da Alemanha, Helmut Kohl, e o presidente da França à época, François Mitterrand, tinham perfeita noção de que, sem união fiscal (controle central dos orçamentos) e sem união política (controle central do poder e das principais decisões de governo), o euro seria lançado com graves defeitos de fabricação.
O prêmio Nobel de Economia (de 1999) Robert Mundell, já então reconhecido como grande autoridade em moeda, havia deixado claro que o euro nasceria sem um Estado que lhe desse consistência. Os países que a ele aderiam não constituíam uma área monetária ótima - para ficar com a principal expressão criada por Mundell.
Kohl, no entanto, teve a percepção de que o defeito mais grave não era a inconsistência do euro, mas a ausência de unidade da Europa. E entendeu que a crise que eventualmente proviesse da inconsistência da moeda única acabaria por disparar as forças em direção à unidade orçamentária e política. A motivação de Mitterrand parece ter sido outra: uma vez adotada a moeda única, a Europa acabaria por absorver a Alemanha e as ameaças históricas que tantas vezes nasceram dentro dela.
Thatcher não ignorou que, apesar dos seus vícios de origem, o euro poderia ser bem sucedido, como previa Kohl. Nessas condições, a economia do Reino Unido corria o risco de perder densidade e os demais ganhos de escala que proviessem da circulação da moeda única.
Ainda assim, Thatcher preferiu não aderir ao euro. Decidiu abrir mão do direito de influenciar no processo de constituição do Banco Central Europeu e das demais instituições criadas com o euro. O Reino Unido haveria de renunciar à libra esterlina apenas quando o euro estivesse consolidado.
A decisão foi fortemente criticada na Inglaterra, sobretudo dentro do Parlamento. Dizia-se que a política de Thatcher consolidava a tendência a um perigoso isolamento, à custa de crescimento econômico e da perda de empregos. Mas ela permaneceu firme. O Reino Unido ficou de fora.
Depois de tudo o que aconteceu a partir de 2008; depois que se viu que economias tão pequenas, como Irlanda, Portugal e Grécia, foram capazes de abalar o euro; depois da paralisação da atividade econômica e do desemprego recorde no bloco, mais e mais os ingleses passaram a dar razão a Thatcher: "Foi quem salvou o Reino Unido do desastre".
Apesar de tudo, os sonhos de Kohl e de Mitterrand ainda se mantêm válidos. Ninguém mais duvida de que só a união dos orçamentos e a união política serão capazes de dar consistência ao euro. Quando isso acontecer, e apenas se acontecer, a política de cautela adotada por Margareth Thatcher poderá ser superada.
terça-feira, 9 de abril de 2013
A travessa de spaghetti da OMC, ainda mais enrolada - Rubens A. Barbosa
A OMC na encruzilhada
O Estado de S. Paulo, 09 de abril de 2013
Rubens Barbosa *
A função negociadora da OMC, um dos pilares da organização, e a participação e o maior engajamento do setor privado nos entendimentos multilaterais foram dois dos principais temas tratados pelo grupo de peritos.
O grande número de países-membros tornou difícil o processo decisório baseado no consenso e deixou a negociação necessariamente mais arrastada e demorada, chegando muitas vezes a paralisá-la. Há uma forte demanda dos países-membros por maior participação, ao mesmo tempo que cresce o anseio por mais transparência nas decisões e pela redução das assimetrias na capacidade de absorção das informações, cada vez mais técnicas e complexas.
Estão sendo cogitados ajustes na regra do consenso, no tocante à tomada de decisão, para evitar que os entendimentos sejam bloqueados por um número reduzido de países. Maioria qualificada, massa crítica, geometria variável, acordos plurilaterais e setoriais são algumas das ideias colocadas sobre a mesa.
O impacto das decisões da OMC sobre as operações comerciais também ocupou boa parte das discussões do grupo. Afinal, as decisões tomadas pelos governos afetam diretamente o setor produtivo e exportador privado. Há um sentimento geral de que o empresariado não está devidamente informado a respeito das negociações multilaterais que ocorrem em Genebra nem está preparado para acompanhá-las, por sua complexidade. O fracasso da Rodada Doha nos últimos dez anos também contribuiu para o desestímulo do setor.
Os peritos reconheceram haver um crescente interesse de todos os países em propiciar uma maior participação do setor privado. Registrou-se a disposição dos governos de responder aos empresários com mais informação e explicações. Apesar disso, sendo a OMC uma organização intergovernamental, não está prevista a participação de empresas, associações ou federações nas delegações dos países-membros, nem a presença delas nas reuniões fechadas. Como aumentar o nível da informação sobre as negociações e da transparência nas decisões tomadas pelos governos para que haja um efetivo engajamento da comunidade privada? Como os governos poderiam aproveitar melhor a experiência e o conhecimento do setor privado? A OMC poderia receber contribuição diretamente desse grupo? Foram aventadas diversas possibilidades, como a criação de um Conselho Consultivo do setor privado ou de um Conselho Empresarial da OMC para fazer recomendações aos governos sobre os temas em discussão.
Em termos mais gerais, ficou claro em nossos debates que, com 159 membros, a OMC deixou de ser um clube que regula o comércio tradicional e busca a liberalização dos fluxos de intercâmbio pela redução ou eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias na fronteira. A negociação multilateral está entrando em nova fase. A elaboração de regras de comércio nos acordos regionais e bilaterais, nos últimos 20 anos, está marginalizando a OMC e vai obrigar os países-membros a adaptar a organização às novas demandas de transparência e tratamento justo exigidas pelos países que não fazem parte das negociações dos acordos de livre-comércio. Os acordos dos EUA com a Ásia e com a União Europeia vão criar uma dinâmica distinta no comércio internacional, baseada na integração das cadeias produtivas globais. A tendência atual nas negociações plurilaterais para promover a liberalização dos mercados é a redução das restrições existentes dentro do território ("behind the border rules") dos países que participam desses entendimentos. Além da redução das tarifas e das barreiras não tarifárias, o que está sendo discutido nos mega-acordos são regras que vão além daquelas existentes na OMC, como investimento, serviços, compras governamentais, propriedade intelectual, ou mesmo que nem estão reguladas pela organização, como controle de capital.
Como os países que estão discutindo e já aprovaram regras nos acordos regionais e bilaterais fora da OMC são também membros da organização, o momento é de perplexidade. Como será feita a transição da instituição para absorver o novo cenário que se abre com os mega-acordos? Será possível incorporar as novas regras à OMC? O esforço realizado nas grandes rodadas de negociações, como a de Doha, em que o princípio básico de que nada seria decidido sem que tudo estivesse decidido, parece esgotado, pois as expectativas agora são diferentes. Os países que não estão participando dessas meganegociações - inclusive os emergentes, nos quais se inclui o Brasil - relutam em encarar negociações futuras sobre essas regras. Outros, como a China, estão sendo deliberadamente excluídos por questões geopolíticas.
Não se trata, portanto, de uma questão menor de procedimento - como facilitar a tomada de decisões no âmbito da OMC, a manutenção ou não de "single undertaking" e do tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento e de menor desenvolvimento relativo. Trata-se de um problema de substância das negociações comerciais que abrem caminhos em áreas nunca antes reguladas.
As discussões no âmbito do grupo de peritos, depois de novo encontro em junho, serão resumidas num documento com propostas concretas a serem encaminhadas à reunião ministerial da OMC que ocorrerá em Bali, na Indonésia, em dezembro.
* Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.
Livro sobre os Estados Unidos no seculo 21 - Editora Elsevier
Os Estados Unidos e o século XXI
Cristina Pecequilo
EDITORA CAMPUS/ELSEVIER
Categoria: Universitários – Relações Internacionais
Formato: 16x23 cm
Páginas: 208
Preço: R$ 59,00
Press-release da Editora:
Cristina Pecequilo é Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Autora de A Política Externa dos Estados Unidos (Ed. UFRGS), Introdução às Relações Internacionais (Ed. Vozes) e do Manual de Política Internacional (Ed. FUNAG). É também organizadora das obras coletivas ([sic] A Rússia: Desafios Presentes e Futuros (Ed. Juruá).
Apesar de os EUA serem o principal parceiro político-econômico do Brasil, existe um vasto desconhecimento sobre a política externa e a sociedade norte-americana e pouca produção brasileira voltada à análise política. O livro Os Estados Unidos e o Século XXI, lançado pela Elsevier, enfoca o período contemporâneo da política externa dos EUA e faz uma contextualização dos mecanismos de formulação e implementação da política norte-americana, cobrindo um espaço pouco aproveitado no mercado por autores nacionais.
Os Estados Unidos emergiram como a potência hegemônica e tornaram o Século XX, sinônimo de um Século Americano. Superpotência, o país continua afetando de maneira profunda as relações internacionais e a política global. Mas, depois de 2001, com os atentados terroristas, o mundo descobriu a sua vulnerabilidade. Diante disso, o país encontra-se frente a um complexo reordenamento de forças nacionais e internacionais, com as nações emergentes em ascensão e as potências em crise. Será o século XXI ainda um Século Americano?
O questionamento do modelo capitalista norte-americano, e a competição por mercados e alternativas de agenda social-política compõem o desafio atual. A hegemonia do século XXI encontra-se dividida em debates sobre suas políticas domésticas e externas, o perfil de sua sociedade e valores, em sua percepção e análise de seu poder, das demais nações e as perspectivas de ordenamento do poder mundial.
Com questões para debate/prova, material complementar como filmes, sugestão de dinâmica e seleção de vídeos do Youtube, o objetivo do livro é discutir o futuro da hegemonia dos Estados Unidos no século XXI, examinando seus componentes estratégicos, mecanismos de projeção de poder, parcerias estatais e ação multilateral. Tais fatores afetam diretamente a dinâmica das Relações Internacionais e, consequentemente, o Brasil, cuja política externa percebe os Estados Unidos como um fator de definição de sua agenda em muitas oportunidades.
“Mesmo com todas as mudanças globais, compreender o mundo, passa, ainda, por compreender os Estados Unidos”, diz a autora.
Cristina Pecequilo
EDITORA CAMPUS/ELSEVIER
Categoria: Universitários – Relações Internacionais
Formato: 16x23 cm
Páginas: 208
Preço: R$ 59,00
Press-release da Editora:
Cristina Pecequilo é Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Autora de A Política Externa dos Estados Unidos (Ed. UFRGS), Introdução às Relações Internacionais (Ed. Vozes) e do Manual de Política Internacional (Ed. FUNAG). É também organizadora das obras coletivas ([sic] A Rússia: Desafios Presentes e Futuros (Ed. Juruá).
Apesar de os EUA serem o principal parceiro político-econômico do Brasil, existe um vasto desconhecimento sobre a política externa e a sociedade norte-americana e pouca produção brasileira voltada à análise política. O livro Os Estados Unidos e o Século XXI, lançado pela Elsevier, enfoca o período contemporâneo da política externa dos EUA e faz uma contextualização dos mecanismos de formulação e implementação da política norte-americana, cobrindo um espaço pouco aproveitado no mercado por autores nacionais.
Os Estados Unidos emergiram como a potência hegemônica e tornaram o Século XX, sinônimo de um Século Americano. Superpotência, o país continua afetando de maneira profunda as relações internacionais e a política global. Mas, depois de 2001, com os atentados terroristas, o mundo descobriu a sua vulnerabilidade. Diante disso, o país encontra-se frente a um complexo reordenamento de forças nacionais e internacionais, com as nações emergentes em ascensão e as potências em crise. Será o século XXI ainda um Século Americano?
O questionamento do modelo capitalista norte-americano, e a competição por mercados e alternativas de agenda social-política compõem o desafio atual. A hegemonia do século XXI encontra-se dividida em debates sobre suas políticas domésticas e externas, o perfil de sua sociedade e valores, em sua percepção e análise de seu poder, das demais nações e as perspectivas de ordenamento do poder mundial.
Com questões para debate/prova, material complementar como filmes, sugestão de dinâmica e seleção de vídeos do Youtube, o objetivo do livro é discutir o futuro da hegemonia dos Estados Unidos no século XXI, examinando seus componentes estratégicos, mecanismos de projeção de poder, parcerias estatais e ação multilateral. Tais fatores afetam diretamente a dinâmica das Relações Internacionais e, consequentemente, o Brasil, cuja política externa percebe os Estados Unidos como um fator de definição de sua agenda em muitas oportunidades.
“Mesmo com todas as mudanças globais, compreender o mundo, passa, ainda, por compreender os Estados Unidos”, diz a autora.
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O Brics vai de vento em popa, ao que parece. Como eu nunca fui de tomar as coisas pelo seu valor de face, nunca deixei de expressar meu pen...
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Textos sobre guerra e paz, numa perspectiva histórica e comparativa Paulo Roberto de Almeida 5136. “A Paz como Projeto e Potência”, Brasília...

