sábado, 15 de junho de 2013

Governo tributa processo produtivo (burramente) - CNI

Tributar importação de serviços "atrasa" indústria, aponta CNI
Por Tainara Machado | De São Paulo
Valor Econômico, 14/06/2013

A tributação sobre a importação de serviços é um dos fatores que dificulta a inserção do Brasil nas cadeias globais de valor e afasta empresas de investimentos em pesquisa e tecnologia. Essas são as conclusões de um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregue esta semana ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e obtido pelo Valor.
A carga tributária sobre a importação de serviços é de no mínimo 41,1% sobre o valor da operação, mas pode chegar a 51,3% em alguns casos, de acordo com confederação. Para a CNI, a alta carga sobre importação de serviços é resultado não só dos seis tributos que incidem sobre as operações, entre os quais o mais importante é a cobrança de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF), mas também da sistemática de cálculo, com cobranças cruzadas e interpretações divergentes das normas.
Para a CNI, os altos custos tributários têm impacto sobre as condições de competitividade, sobre o aproveitamento de oportunidades para o desenvolvimento de projetos conjuntos com empresas estrangeiras e sobre a incorporação de tecnologia por empresas brasileiras em diversos tipos de situação. "É como se o sistema tributário não tivesse a capacidade de entender a nova forma de organização das cadeias produtivas globais", afirma José Augusto Coelho Fernandes, diretor de políticas e estratégia da CNI.
A CNI chama atenção para o fato de que o setor de serviços não apenas tem maior peso na economia do país, representando cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB), como influencia de forma "decisiva" a composição dos custos da indústria. "Há cada vez mais interdependência entre a manufatura e serviços", afirma o órgão.
Com base em dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os economistas Jorge Arbache e Victor Burns chegaram à conclusão que cerca de um quarto (23,1%) de todo o custo da produção da indústria do Brasil entre 2007 e 2009 é explicado pela aquisição de serviços.
A relevância desses custos é ainda mais evidente quando se analisa seu impacto sobre o valor agregado, ou seja, sobre a parcela que a indústria efetivamente transformou da produção. Nesse caso, representam 54,1% do consumo intermediário no valor adicionado na indústria total, e 56,5% na indústria de transformação. Esse valor é mais alto em setores intensivos em tecnologia ou com grande expressão exportadora, como produtos químicos, metalurgia e equipamentos de informática.
Os serviços, afirma o estudo, "tornaram-se parte muito relevante não apenas do custo total das empresas, mas principalmente do valor das exportações das manufaturas em geral e daquelas de mais alta tecnologia". A produtividade do setor de serviços, portanto, também afeta a capacidade de competição da indústria doméstica, afirma Fernandes.
O debate ganhou relevância a partir de encontros do Conselho de Investimentos e Tributação Brasil-Europa, liderado nacionalmente pela CNI, que identificaram na tributação de serviços um impasse para aprofundamento dos negócios entre países.
Para reforçar o argumento, o estudo da CNI cita casos de cinco empresas brasileiras para as quais a tributação da importação de serviços implica perda de competitividade do produto no exterior, ou mesmo o abandono de projetos por causa dos custos envolvidos.
Um dos casos é de uma empresa produtora de aeronaves, cuja principal atividade é a exportação de bens. Ao vender um avião, a companhia se compromete a fornecer uma série de serviços, como treinamentos técnicos dos pilotos e da tripulação. São serviços que só podem ser contratados no exterior, por causa da localização do comprador, e que acabam sendo incorporados aos custos na formação do preço final da mercadoria. Pelos cálculos da empresa, o IRRF sobre importações de serviços onera em 1,1% o preço do produto final, enquanto a carga tributária total eleva em 2,4% o preço.
Para uma empresa produtora de ônibus, obrigada a prover garantias, manutenção ou troca de peças nos ônibus vendidos, o custo da importação de serviços é em média de 3% do custo do produto vendido (CPV) sobre o custo de produção. Também é apresentado um caso, na área de softwares, em que a carga tributária inviabilizou parcerias com uma empresa argentina e uma multinacional, e portanto, a realização de operações de exportação de serviços de uma empresa a partir do Brasil.
Segundo a CNI, são seis as distorções encontradas na tributação das importações desses serviços: a inclusão de tributos na base de cálculo de outros impostos; não aplicação pela Receita Federal de tratados destinados a evitar a dupla tributação de lucro das empresas; incidência da Cide-Remessas ao exterior sobre importação de serviços técnicos, que não implicam transferência de tecnologia; não dedução das despesas incorridas na importação de serviços que implicam transferência de tecnologia; e, por último, não concessão de isenção do IOF-Câmbio, ao contrário do que ocorre para bens.

Entre as sugestões que constam no estudo, a CNI recomenda que a base de cálculos para a aplicação de cada um dos impostos seja o valor efetivamente remetido ao exterior para pagar pela importação dos serviços e que as remessas ao exterior para pagamento por contratos de serviços sem transferência de tecnologia sigam as disposições relativas ao "lucro das empresas" presentes nos tratados destinados a evitar a dupla tributação. Segundo Fernandes, na próxima semana representantes da CNI devem se reunir com a Receita Federal para discutir essas proposições.

Governo desperdicou bonanca economica do real e da economia internacional - Monica De Bolle

Caindo em desgraça
Monica B. de Bolle
O Estado de S.Paulo, 14/06/2013

É economista, professora da Puc-Rio e diretora do Iepe/Casa das Garças.

Como dilapidar uma herança. Assim se inicia o editorial da última edição do semanário britânico The Economist. Narra a triste história de um país latino-americano que, há vinte anos, fez uma dolorosa arrumação da casa. Um profundo ajuste macroeconômico possibilitou que, alguns anos mais tarde, usufruísse da extraordinária bonança externa, finda em 2011. A herança dilapidada assim, sem mais nem menos, lembra a história de Costa, "cidadão digno", "um dos mais estimados de Itaguaí", que herdara de D. João V vultosa quantia. Uma renda que bastaria para viver "até o fim do mundo". Costa não soube administrar sua sorte. Gastou toda a herança em investimentos duvidosos e acabou internado na Casa Verde pelo Alienista de Machado de Assis.
Não se sabe se a herança que o Brasil recebeu de Fernando Henrique Cardoso, cultivada pelo ex-presidente Lula no seu primeiro mandato, daria para viver "até o fim do mundo". Mas, decerto, se tivesse sido preservada com mais diligência pelo Lula do segundo mandato e, sobretudo, por sua sucessora, o País não estaria hoje "atolado no lamaçal", como disse a matéria da revista britânica. Tampouco se defrontaria com uma reavaliação negativa da agência de risco Standard & Poor's, que elevou o Brasil ao nirvana do grau de investimento em 2008, rebaixou os EUA em 2011 e acaba de dar um tom otimista à recuperação do país de Obama.
Enquanto chafurda no lodo de medidas que desarticularam as contas públicas brasileiras, motivo para que até os interlocutores mais próximos da presidente a critiquem duramente, o real se enfraquece. Há muito não se discutia o impacto de desvalorizações do câmbio, provenientes de problemas externos e internos, sobre a inflação. Afinal, faz pouco tempo, a moeda brasileira ganhava força e era, inclusive, vista como uma possível candidata, num futuro distante, ao nobre posto de moeda de reserva internacional, ao lado do iuane dos chineses. Não mais.
O câmbio e a inflação sempre foram os eternos sintomas de nossos desequilíbrios. Deixaram de sê-lo por um breve período - de 2008 a meados de 2011. Durante esse tempo, vivemos uma situação inédita no País: fomos capazes de reduzir os juros em resposta a um cenário externo adverso. No passado não era assim. Antes de 2008, sempre que enfrentávamos um forte contravento internacional, éramos forçados a elevar os juros para impedir que a desvalorização da moeda ocasionada pela saída de recursos do País prejudicasse demais a estabilidade de preços.
Dito de outro modo, país sólido é aquele que pode usar a política monetária - e, em certas circunstâncias, também a política fiscal - para evitar que um choque externo tenha fortes repercussões sobre a atividade, sem se preocupar com os estragos inflacionários do câmbio. Ou seja, país sólido é aquele que pode reduzir os juros quando enfrenta esse tipo de problema. Não é à toa que o Brasil é incansavelmente comparado ao México e ao Chile. Tanto um quanto outro têm sofrido com o fortalecimento global do dólar. Mas o México reduziu os juros em abril e manteve a taxa em maio, enquanto o Chile tem deixado os juros estáveis, porém acumula um espaço considerável para diminuí-los. A inflação por lá é de apenas 1% - dois pontos porcentuais abaixo da meta de inflação.
Se país sólido é aquele que pode reduzir os juros quando sua moeda se enfraquece, porque tem um quadro fiscal que ajuda a ancorar os efeitos inflacionários da desvalorização, o que é o Brasil de Dilma e de Guido Mantega? Decerto não é o país do déficit nominal nulo, que a presidente julga ser "rudimentar". É o país da infraestrutura que não sai do papel, das contas externas que se deterioram, do fiscal em estado de degradação, do crescimento que não deslancha. E, também, da inflação que não cede, do real que se desvaloriza, mesmo com a remoção dos controles de capital, e da bolsa que cai.

Talvez tudo isso force nossas autoridades a mudar de rumo. Talvez não. Afinal, diz o ditado: "Desgraça pouca é bobagem".

Governo nada em dinheiro, e oferece dinheiro por nada... - Capes e o turismo academico...

Como é bom ser da elite universitária pública...
PRA

Prezado (a) Professor (a),


O principal objetivo deste é convidá-lo e a sua Instituição para divulgar e participar do Programa Professor Visitante do Exterior - PVE, no âmbito do qual a CAPES publicou no dia 14/06/2013, edital para recebimento e seleção de novas propostas.
 Este lançamento marca a edição 2013 do PVE, em fluxo contínuo, e tem como principal objetivo selecionar projetos com vistas a incentivar a realização de visitas de curta, média e longa duração a Instituições de Ensino Superior e institutos ou centros de pesquisas e desenvolvimento públicos brasileiros, de professores e pesquisadores atuantes no exterior, em todas as áreas de conhecimento, cuja formação e experiência profissional representem uma contribuição inovadora para a pós-graduação brasileira.    
O Programa oferece como benefícios: bolsa de estudo e pesquisa (R$ 6.931,54 e R$ 8.905,42), passagem aérea e auxílio instalação.
Maiores informações de como participar estão no Edital CAPES Nº 36/2013, que pode ser acessado no seguinte endereço: http://www.capes.gov.br/cooperacao-internacional/multinacional/pve - onde estão também as formas de contatos disponíveis com a equipe técnica responsável pelo Programa.
Antecipadamente agradeço pela divulgação do Edital em referência e espero que as realizações a frente da gestão deste Projeto Conjunto de Pesquisa revertam em benefícios para a promoção cultural, educacional, científica e tecnológica – objetivo maior de todos os esforços desta Diretoria. 

                                                 Atenciosamente,

Luis Filipe de Miranda Grochocki
Coordenador-Geral de Programas

DRI/CAPES/MEC

Governo quer tsunami financeiro, e promove a guerra cambial para dentro... - Celso Ming

Os dois neurônios decididamente não se cruzam, não se falam, sequer se conhecem. Um promete que vai controlar a inflação, o outro despeja uma enorme massa de dinheiro na economia; um reclama do tsunami financeiro e da guerra cambial, sempre sob responsabilidade dos tais loiros de olhos azuis, o outro pede avidamente que as verdinhas venham para o Brasil, inundar nossos mercados, molhar nossas contas externas, que ameaçam morrer secas.
Seria pedir muito que os dois neurônios se falem, que eles obedeçam pelo menos a lógica elementar...
Paulo Roberto de Almeida

Mais uma tentativa

CELSO MING - O Estado de S.Paulo, 14 de junho de 2013
No início da noite de quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a remoção de mais um obstáculo à entrada de dólares no País. Além disso, esforçou-se por tentar convencer os brasileiros de que a inflação está sob controle e que tudo na economia segue dentro dos conformes.
Após a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% nas operações com derivativos (câmbio futuro), que começou a valer ontem, o dólar teve ligeira queda, de 0,46%. Fechou a R$ 2,142.
A medida foi adotada uma semana depois de ser zerado o IOF de 6% sobre entradas de dólares destinadas a aplicações em renda fixa, indicando que o governo está preocupado com a deterioração das contas externas e com a forte tendência de alta do dólar no câmbio interno (desvalorização do real).
Até há algumas semanas, o governo também estava preocupado com o câmbio fora do lugar, mas, ao contrário de agora, temia a enxurrada de moeda estrangeira. Essa pressão cambial fora objeto das queixas da presidente Dilma, quando denunciou o tal "tsunami monetário", e das reclamações do ministro Mantega, quanto aos efeitos causados no Brasil por aquilo que entendia como "guerra cambial" travada pelos grandes bancos centrais. O governo age agora no sentido de retirar os controles ao afluxo dos capitais que ele mesmo impôs.
A rigor, não há nenhuma reviravolta na ação dos grandes bancos centrais. Há apenas uma declaração de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de que considera a hipótese de suspender as operações de compra de títulos no mercado americano, na proporção de US$ 85 bilhões por mês. Não há prazo para o início do novo jogo, nem indícios do ritmo em que seria feito.
Bastou essa declaração para que voltasse a turbulência ao mercado financeiro internacional. O Brasil está sofrendo mais do que os outros países emergentes porque a novidade pegou a economia numa situação ruim: baixo crescimento, inflação crescente, desempenho insatisfatório das contas públicas e rombos preocupantes nas contas externas.
Será a suspensão progressiva dos controles de capitais suficiente para impedir a revoada atual e atrair dólares ao Brasil? Provavelmente, não - porque o maior problema são os desequilíbrios internos que, infelizmente, persistem.
Ainda na quarta-feira, o ministro Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, desdobraram-se para tentar convencer os brasileiros de que "tudo está sob controle".
Não é bem assim. O próprio Banco Central vem advertindo que as contas públicas estão se expandindo demais e que a inflação está espalhada e renitente. Não vai ser apenas porque o Banco Central recomeçou a puxar pelos juros que a inflação será reconduzida à meta, especialmente quando o governo continua gastando demais, continua criando renda e consumo acima da oferta.
Há apenas oito dias, uma das mais importantes agências de classificação de risco, a Standard & Poor's (S&P), avisou que se prepara para rebaixar a qualidade da dívida do Brasil, porque o crescimento econômico é ruim e o desempenho das finanças públicas não é lá essas coisas.
É improvável que a simples promessa do ministro Mantega de que o governo vai observar um superávit primário (sobra de arrecadação) de 2,3% do PIB, em vez dos R$ 155,9 bilhões a que antes estava comprometido, consiga convencer os agentes econômicos de que o governo deixou de ser um gastador e se converteu à responsabilidade fiscal.
Também na quarta-feira, a presidente Dilma fez o contrário: baixou um pacote de crédito subsidiado, no total de R$ 18,7 bilhões em dinheiro do contribuinte, destinado à compra de móveis e de aparelhos domésticos.
A economia brasileira está desequilibrada não apenas em relação à perspectiva de redução da oferta de dólares no mundo. Está descontrolada porque se mostra incapaz de cumprir os objetivos a que o próprio governo se propôs: crescer entre 4,0% e 4,5% ao ano; garantir um investimento de 24% do PIB; impedir um desemprego superior a 6%; reconduzir a inflação à meta; obter relativo equilíbrio nas contas externas e recuperar a indústria, prostrada pela baixa competitividade.

Governo promove ativamente a inflacao: injeta cada vez mais dinheiro de divida na economia - Editorial OESP

Parecem dois neurônios que não se comunicam: um, de um lado, proclama que não tolerará a inflação; o outro, do lado oposto, manda o Tesouro emitir 18 bilhões para deixar o povo comprar sua felicidade.
Será que os dois neurônios não conseguem fazer uma simples conexão, uma sinapse ainda que fraca, débil, como eles parecem ser, entre uma coisa e outra? Será que vamos ter de desenhar no quadro negro a relação entre M1, demanda efetiva e preços de mercado? Será que vamos ter de reinscrever certas pessoas nos bancos escolares (universitários mais adiante)?
Não precisa responder: eu já sei a resposta.
Paulo Roberto de Almeida

Editorial O Estado de S.Paulo, 14/06/2013

A fórmula é mais velha do que o Velho do Restelo. Quando as coisas vão mal e não há intenção efetiva, muito menos competência para endireitá-las, resta o surrado truque de fazer uma bondade para jogar areia nos olhos dos descontentes e fazer uma maldade para jogar nas costas alheias a culpa pelo descontentamento. Esses foram os movimentos que o preparador político da presidente Dilma Rousseff, o marqueteiro João Santana – o 40.º ministro do atual governo, como é chamado por quem sabe de sua importância junto à titular do Planalto -, a orientou a seguir para reerguer a popularidade abalada.
Nisso, ela foi rápida. Três dias depois da publicação da pesquisa do Datafolha segundo a qual o nível de aprovação do governo caiu inéditos 8 pontos porcentuais e o favoritismo de Dilma para 2014 ficou 7 pontos menor, a presidente já estava a postos para lançar o eleitoreiro programa Minha Casa Melhor. Trata-se da linha de crédito oferecida aos beneficiários do Minha Casa, Minha Vida, à razão de R$ 5 mil por família, para a compra de móveis e eletrodomésticos. Os juros foram fixados em 5% ao ano. O prazo para a quitação do empréstimo será de 48 meses. Para atender a cerca de 3,4 milhões de famílias, o Tesouro deverá desembolsar R$ 18,7 bilhões, com impacto óbvio sobre as contas públicas.
Montado em palácio o showroom do otimismo, conforme o roteiro traçado pelo marqueteiro da casa, Dilma deu especial atenção às mulheres – a parcela da população que se revelou, como seria de esperar, a mais insatisfeita com o governo por causa da carestia com que se defronta nas gôndolas do supermercado e nas barracas da feira. Caprichando no coloquial, a presidente celebrou a substituição do tanquinho, “que usa a energia braçal das mulheres”, pela “máquina de lavar roupa automática”. A troca, vai sem dizer, melhora a qualidade de vida das donas de casa. Mais difícil é explicar como isso pode poupá-las do desgastante encontro cotidiano com os preços remarcados.
A experiência própria é que lhes dirá – e a todos os brasileiros – de que valem as enfáticas juras da presidente sobre os rumos do custo de vida. “Não há a menor hipótese de que o meu governo não tenha uma política de controle e combate à inflação”, entoou. E caso alguém não tenha prestado atenção, repetiu: “Não há a menor hipótese”. Só que o ponto não é bem esse. A realidade – e aí já não se trata de hipóteses – é que aquilo que ela entende por política anti-inflacionária até agora tem sido incapaz de acuar o dragão. O Banco Central aumentou os juros, mas o descompasso entre o que deveria sair e o muito mais que sai dos cofres federais é um breve contra a estabilização dos preços.
Mas, evidentemente, Dilma estava ali para levantar o astral dos pessimistas com a evolução de seus rendimentos e as perspectivas do mercado de trabalho – uma coisa e outra captadas pelas recentes sondagens de opinião – e não para falar honestamente dos problemas e temores do povo.
Nessa hora é que entram em cena, no papel de inimigos do País, os críticos do governo. São os que ficam “azarando”, como o Velho do Restelo dos Lusíadas, de Camões, que ao ver zarparem os navios de Vasco da Gama, em busca do caminho das Índias, meneava a cabeça em desaprovação à “vã cobiça”. Ou, na paráfrase da presidente, profetizava que “não vai dar certo”. À parte a invocação do Velho do Restelo, ela nem sequer foi original. Lula já acusava os adversários de lançar “urucubacas” contra o Brasil.
O que desanima é constatar que esse palavrório desafiador (“O Velho do Restelo não pode, não deve e, eu asseguro para vocês, não terá a última palavra no Brasil.”) e a estudada estridência do seu enunciado parecem tudo o que Dilma tem a dizer seja aos eleitores que dela se distanciaram, seja aos que não se deixam levar pela retórica poliana do Planalto. Entre esses se inclui pelo menos um dos interlocutores habituais da presidente. Ela não há de achar, por exemplo, que, aos 85 anos, o economista Delfim Netto seja um Velho do Restelo quando destoa publicamente da linha oficial.

Mas que importa? Bem que ela avisou que, “na eleição, podemos fazer o diabo”. E, para Dilma, a eleição está em pleno curso.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Cesse tudo o que a antiga musa canta, enterrem a flor do Lacio, o poeta naufragou...

Sou persistente: estou sempre querendo entender...
PRA


“E o Camões, que criou a nossa língua portuguesa, tem uma parte, naquele livro dele, Os Lusíadas, que ele conta a seguinte história. E tinha um velho que ficava ali parado junto, especializado em falar o seguinte: “Não vai dar certo essa viagem. Vocês vão naufragar. Vocês vão encontrar…” ─ porque eles achavam que tinha um abismo no mar ─ “…vocês vão encontrar os monstros no abismo. Vocês estão é querendo expressar a vaidade de vocês, a glória vã da conquista”. E o velho, conhecido como Velho do Restelo, era esse azarador-mor. Azarava tudo! Se esse velho tivesse dominado aquele pessoal que ia para dentro das caravelas e atravessava o Atlântico ─ umas caravelinhas pequenininhas assim ─, se ele tivesse azarado, nós não seríamos o que somos hoje”.

Quem entendeu me conta, OK?

Estatismo chines, por Deepak Lal - Business Standard

Estou justamente lendo, desse autor, seu mais recente livro, sobre o qual já falei aqui: Poverty and Progress (ver este link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/06/pobreza-e-progresso-o-mais-recente.html).
Ele reexamina o caso da China.
Paulo Roberto de Almeida

China's statist turn: creating China Inc

China's state sector has assumed the guise of Western corporations, but it is little more than a Party-run patronage system
In my last column on China, I had noted how surprised I was on visiting that country after two years at its statist turn ("China's hubris", Business Standard, June 18, 2011) . There is an ongoing debate in China between "liberals" and "conservatives" over whether the country should continue with the statist model or return to the more private sector-led model of the 1980s championed by  and. The liberals' manifesto is outlined in a remarkable report titled China 2030, which was published in 2012 by the  and Wen Jiabao's Development Research Centre of the State Council. The collection of writings by Chinese authors on economic and foreign policy, titled China 3.0 (edited by Mark Leonard and published by the European Council on Foreign Relations, or ECFR, London, 2012), gives a flavour of the debate, which is elegantly summarised in Francois Godement's essay, "China at the Crossroads" (ECFR, April 2012). But in order to understand how China - which seemed to be progressing to a full-fledged market economy under Zhu Rongji till 2003-05 - has come to this statist pass (the subject of this and my next column), it is important to see the unintended consequences of various measures taken by the reformers in the 1990s.

The first measure was to reform the inefficient loss-making state-owned enterprises, which had hung like an albatross around the neck of the Chinese economy, by using the rising value of the land they owned to finance their privatisation. The rise in land prices was the result of fierce local competition among the municipalities for foreign direct investment (), which was leading China to become the workshop of the world (see my column "The mechanics of the Chinese miracle", October 29, 2008). With the help of revenue from land sales, all small and medium state-owned enterprises were privatised. The larger state-owned enterprises, which were deemed to be of strategic importance, were given monopolistic or oligopolistic rights - and, therefore, became profitable. Thus began the dual system: a non-state market economy and an increasingly state-led authoritarian capitalism in which the strategic industries controlled the commanding heights of the economy.

Mr Zhu also sought to transform state-owned banks into commercial banks by converting them into stock-holding banks and liberalising the interest rate, so that the stop-go cycles that had characterised China's financial policy could be ended. Instead, as detailed in an important book by Carl E Walter and Fraser J T Howe, titled Red Capitalism, what has been created is an opaque system that has the trappings of a market system but not substance.

These trappings include a stock exchange, a bond market, purportedly commercial banks that are listed on global stock markets. The complex system marshals the massive savings of thrifty Chinese households to purposes determined by the interests of the "princelings" who increasingly control the party. Mr Godement notes that "there are many indications that China's 'princelings' (the children of past leaders) have formed a quasi-union" due to "a 1992 decision inspired by Bo Yibo, a former close associate of Mao, that each leading 'family' would be able to promote one child into top politics". The list is now so large "it could fill a telephone directory". Thus, Mr Zhu's effort to push the banks towards an international model has been derailed, and the banks have reverted to their traditional role in communist economies of being "huge deposit-taking institutions, extending loans as directed by their party leaders" (Red Capitalism).

But how did China manage to create the facade of a market-based financial system? The opening step was Mr Zhu's decision in early 1993, at the suggestion of the chief executive of Hong Kong's stock exchange, to allow selected state-owned enterprises to list on Hong Kong's stock exchange. He realised that this would require the restructuring of state-owned enterprises to conform to international legal, accounting and financial requirements, which he hoped would improve their management.

Enter Wall Street bankers and lawyers. The model was provided by the creation of China Mobile in 1997 by Goldman Sachs "out of a poorly managed assortment of provincial post and telecoms entities" and the package was then sold to international fund managers as a national telecommunications giant. Subsequently, China's oil companies, banks and insurance companies, which raised billions through initial public offerings, "were imagined up, created and listed by American investment bankers". The government sought to have these companies listed on the Fortune Global 500 list, an aim Wall Street helped to achieve by 2009, with 44 of China's "National Team" listed.

As a result, if the stock exchanges of Shanghai and Shenzen are combined with Hong Kong's (dominated by Chinese companies), China has the second-largest equity capital in the world after New York, dwarfing those of Japan and India. From 1993 to early 2010, "Chinese state-owned enterprises have raised $389 billion on domestic exchanges and a further $262 billion on international markets, adding a total of $651 billion in capital to the $818 billion contributed by foreign direct investment".

These two sources of capital have had important political economy effects. The FDI flows created the private non-state economy, with transfer of technology and management techniques to Chinese entrepreneurs. The capital raised on domestic and international stock exchanges, by contrast, "has gone to creating and strengthening the companies 'inside the system' … the market capitalisation in Hong Kong, Shanghai and elsewhere belongs to companies controlled outright by China's Communist Party: only minority stakes have been sold".

Thus, Professors Walter and Howe note that while China's state sector has assumed the guise of Western corporations, this hides their true nature: that they are a patronage system centred on the Communist Party's nomenklatura. "These companies are not autonomous corporations; they can hardly be said to be corporations at all. Their senior management and, indeed, the fate of the corporation itself are completely dependent on political patrons."

Whether the reformers will be able to win against this opposition of what the Wen Jiabao-sponsoredChina 2030 describes as "vested interests", and reverse China's statist turn, remains an open question.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...