Partilho inteiramente da opinião do Belisário Arce aqui abaixo transcrita.
Assim como partidos políticos, que são entidades decdireito privado, têm decser sustentados por seus filiados , militantes e simpatizantes, ONGs têm de ser sustentados por quaisquer outras entidades que não o governo, de preferência a sociedade civil, como corresponde à sua vocação.
Paulo Roberto de Almeida
Prezados Amigos,
Tomo a liberdade de compartilhar meu ponto de vista sobre a celeuma decorrente da acertada decisão do Ministério do Meio Ambiente de suspender por 90 dias convênios com ONGs.
Já adianto que creio, firmemente, que nenhuma ONG deveria ser mantida com dinheiro público, independente dos supostos benefícios e importância que por ventura possa ter.
Considero, portanto, oportuna e necessária a decisão do Ministro Ricardo Salles.
Ora, se são Organizações Não Governamentais, deveriam funcionar com recursos igualmente não governamentais. Seria o ético e justo. Se setores da sociedade civil se organizam para defender determinadas causas, deveriam também se organizar para suprir os recursos necessários. ONGs, repito, não deveriam receber um centavo sequer do governo.
Não discuto que haja ONGs sérias e que prestam relevantes serviços à sociedade. Tampouco nego que seja oportuno o trabalho conjunto entre ONGs e o governo. Contudo, nessa cooperação entre o terceiro setor e o público, as ações do governo devem ser realizadas com dinheiro público e as das ONGs com seus próprios recursos privados. O que não é aceitável é manter ONGs com verbas do erário.
Financiar iniciativas da sociedade civil organizada com recursos públicos é, por princípio, um grave desvio. Em uma democracia verdadeira, setores da sociedade descontentes e que desejem mudar políticas públicas e ações governamentais deveriam procurar os caminhos institucionalizados de acesso ao poder político. De certo modo, as ONGs, ao se associarem aos governos e se tornarem dependentes de recursos públicos, contornam o caminho democrático para atingir seus objetivos, os quais podem ser de interesse da sociedade ou não.
A Associação PanAmazônia, da qual sou Diretor Executivo, funciona há nove anos sem acessar recursos públicos, só recorrendo a contribuições de particulares, pessoas físicas e jurídicas, que acreditam na nossa missão e objetivos. Conheço outras poucas que também procedem desse modo. Por que mais ONGs não podem agir assim? É muito difícil, dá muito trabalho, mas é o que é ético, o que é certo fazer. Se setores e grupos da sociedade desejam contribuir com a solução de problemas relegados pelo poder público, devem, para tanto, encontrar seus próprios meios materiais e financeiros PRIVADOS.
Torço para que o Governo de Bolsonaro não se deixe intimidar pela pressão e que cancelem, definitivamente, todos e quaisquer contratos e repasses de recursos do povo brasileiro para ONGs, muitas das quais, nem sabemos o que fazem ou para que servem.
Belisário Arce
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 18 de janeiro de 2019
O mundo em transformacao - Felipe Matias
Direito Internacional: 10 anos de um mundo em transformação
*Esta introdução é parte da retrospectiva de 2018 na área internacional. Clique aqui para ler o texto completo.
https://www.conjur.com.br/dl/direito-internacional-10-anos-mundo1.pdf
Eduardo Felipe Matias
Consultor Jurídico, 6 de janeiro de 2019, 7h05
*Esta introdução é parte da retrospectiva de 2018 na área internacional. Clique aqui para ler o texto completo.
Até 2008, parecia que a globalização, triunfante, era um caminho sem volta. Democracias liberais se espalhavam pelo mundo, a revolução tecnológica era acompanhada do surgimento de novos canais e ferramentas que levariam a uma aldeia multicultural global e gerariam riqueza para todos, o livre comércio contava com sistemas eficientes de promoção e proteção, a integração regional avançava em diferentes partes do Planeta e a impressão era que os Estados, antes tão ciosos de sua soberania, haviam chegado ao consenso de que a cooperação internacional era a solução para a maior parte de seus problemas comuns.
Naquele ano, no entanto, crise financeira internacional abalou alguns dos alicerces dessa construção. Desde então, os holofotes foram direcionados para os aspectos negativos da globalização, como a volatilidade econômica, o desemprego trazido pela adoção de novas tecnologias ou pela abertura dos mercados, e o aumento da desigualdade. A reação veio na forma de contestação à ordem liberal, aumento do protecionismo, ascensão do nacionalismo populista que catalisa o ressentimento com a imigração, organizações internacionais enfraquecidas, menos integração e mais fragmentação. Além disso, ficou claro que o surgimento do ciberespaço afeta os Estados dentro de suas fronteiras e em suas relações exteriores, causando efeitos significativos e ainda pouco compreendidos.
De lá para cá, tive a oportunidade de analisar essa crise da globalização, ano a ano, contribuindo para a retrospectiva da área internacional aqui na ConJur. Nesse período, foi possível acompanhar eventos recorrentes, como as reuniões do G20, as COPs da Convenção do Clima da ONU e, infelizmente, os diferentes conflitos em diversas regiões, bem como identificar alguns temas que foram ganhando importância, como a (re)ascensão da China, o isolacionismo dos EUA, as dificuldades da OMC e do Mercosul, a negociação de novos acordos de livre comércio, as contendas relacionadas a programas nucleares, os movimentos separatistas na União Europeia, a crise dos refugiados, o terrorismo, o fortalecimento do direito internacional da sustentabilidade, o Acordo de Paris, as ondas de protesto baseadas no uso das redes sociais e o surgimento de uma nova geopolítica, baseada na soberania tecnológica.
Esses e outros assuntos serão abordados nesta nossa Retrospectiva de 2018, que desta vez tem um caráter especial. Vejamos, então, quais os acontecimentos mais importantes deste ano, sob a ótica dos grandes temas que dominaram a última década.
Feliz 2019 para todos!
Ler o texto completo neste link:
O ano dos charlatães - Moisés Naim
Só o ano? Acho que Moisés Naim é modesto. Charlatães aparecem o tempo todo, da mesma forma como existem idiotas dispostos a segui-los.
Alguns charlatães são completos pamonhas, mas o mundo tem milhares, milhões de pamonhas, propensos a acreditar nas piores bobagens que eles são capazes de acreditar.
Outros são espertos, e lucram com a parvoice da maior parte da população, até serem desmascarados.
Alguém quer fazer a lista dos charlatães do momento?
Paulo Roberto de Almeida
Alguns charlatães são completos pamonhas, mas o mundo tem milhares, milhões de pamonhas, propensos a acreditar nas piores bobagens que eles são capazes de acreditar.
Outros são espertos, e lucram com a parvoice da maior parte da população, até serem desmascarados.
Alguém quer fazer a lista dos charlatães do momento?
Paulo Roberto de Almeida
O ano dos charlatães
A charlatanice está no apogeu em razão de problemas
ampliados pelas redes sociais
Moisés Naim, O Estado de S.Paulo
01 Janeiro 2019 | 05h00
Em 2018, foram completados 60 anos da
transmissão de um episódio da série de western chamada Backtrack,
na CBS, dos EUA. “O
fim do mundo”, foi o título do episódio que narra a história de um charlatão
que chega a um típico povoado do oeste longínquo e convoca a população para
ouvir a urgente notícia que ele traz.
Está para ocorrer uma “explosão cósmica” que acabará
com o mundo, diz aos moradores. Mas ele poderá salvá-los. Ele, e somente ele.
Para sobreviver, as pessoas devem construir um muro em volta de suas casas e
comprar guarda-chuvas especiais que desviam as bolas de fogo que choverão do
céu. O nome do charlatão protagonista desse episódio? Trump. Walter Trump.
No programa – que pode ser visto no YouTube – Hoby
Gilman, um Texas Ranger que representa o senso comum, procura convencer seus
vizinhos a não darem ouvidos a Trump. “É um vigarista. Está mentindo para nós”,
diz. Do mesmo modo que seu homônimo na vida real, que chama a atenção do mundo
meio século depois, o Trump da série costuma usar seus advogados para
neutralizar críticos e rivais: Walter Trump ameaça processar Gilman.
Os charlatães sempre existiram. São malandros que, com
grande habilidade verbal, conseguem vender aos incautos algum tipo de produto,
remédio, elixir, negócio ou ideologia que, sem grande esforço, os livrará de
suas penas, aliviará suas dores ou os tornará ricos.
Ultimamente, o mercado da charlatanice, especialmente
na política, chegou ao apogeu. Aumentou tanto a demanda como a oferta de
soluções simples para problemas complexos. A demanda é impulsionada pelas
crises e a oferta é potencializada pelas redes sociais.
As crises de todo tipo que afligem o mundo de hoje são
resultado de forças poderosas: tecnologia, globalização, precariedade econômica
e desigualdade, criminalidade, corrupção, maus governos, racismo e xenofobia,
entre outras. O resultado é a proliferação de sociedades com grandes grupos que
se sentem, como toda razão, humilhadas, frustradas e ameaçadas pelo futuro. E
que também constituem um apetitoso mercado para os charlatães que oferecem
soluções simples, instantâneas e indolores.
Na série de TV de 1968, um narrador anônimo relata o
que ocorreu: “A população estava disposta a acreditar. E, como cordeiros, as
pessoas correram para o matadouro. Ali, esperando-os, estava o sumo sacerdote
da fraude”. Meio século depois, essa frase soa atual. Há cada vez mais
sociedades dispostas a votar em quem lhes faça a promessa mais simples que,
além disso, proponha romper com tudo que é anterior e tirar do poder “os de
sempre”.
Os charlatães de hoje são, basicamente, similares aos
que sempre existiram, só que agora eles dispõem de tecnologias digitais que
lhes propiciam oportunidades inimagináveis. São os charlatães digitais.
A intervenção clandestina de um país nas eleições de
outra nação é um bom exemplo de práticas antigas que adquiriram novas forças.
Agora, os malandros digitais operam por meio dos famosos “bots”. São programas
que disseminam pelas redes sociais milhões de mensagens automáticas dirigidas a
usuários que foram selecionados por que têm certas características: uma
determinada idade, sexo, raça, localização, educação, religião, classe social,
preferências políticas, hábitos de consumo.
Como todos os bons charlatães, os administradores dos
bots sabem identificar as pessoas propensas a acreditar neles. Antes, eles
usavam sua intuição para identificar suas vítimas. Agora, usam algoritmos. Uma
vez identificadas suas presas, os criadores dos bots lhes enviam mensagens que
confirmam e reforçam suas crenças, temores, simpatias e repúdios.
Os charlatães digitais sabem como estimular certas
condutas daqueles que recebem suas mensagens (votar em um candidato e difamar
seu rival, apoiar um determinado grupo e atacar outro, disseminar informações
falsas, unir-se a um grupo, protestar, fazer doações).
Estas novas tecnologias digitais têm a propriedade de
serem, ao mesmo tempo, massivas e individuais. Quem as utiliza pode,
simultaneamente, contatar milhões de pessoas e fazer que cada uma delas sinta
que está interagindo de maneira direta, pessoal e quase íntima com uma pessoa
com a qual compartilha modos de pensar.
Foi exatamente isso que ocorreu nas eleições americanas
que levaram Donald Trump à Casa Branca. O consenso das agências de
inteligência dos EUA e de outros países é o de que foi uma operação
brilhantemente projetada e executada – a um custo muito baixo – pelo governo
russo sob a supervisão direta de Vladimir Putin.
Mas seria um erro supor que os charlatães
digitais só influenciaram as eleições americanas. Acredita-se que 27 países
foram vítimas da interferência política orquestrada pelo Kremlin. Tanto
na crise da Catalunha como
no caso do Brexit foram
detectadas intensas atividades dos bots e de outros atores digitais controlados
ou influenciados pelo governo russo. A finalidade desses esforços é semear o
caos e a confusão e agravar os conflitos sociais, debilitando as democracias
ocidentais.
De fato, uma das evidências mais reveladoras do
impacto dos charlatães atuais foram as buscas de informação que se verificaram
depois do referendo do Brexit, no qual, por uma margem de 4% do voto popular, a
Grã-Bretanha decidiu se separar da Europa.
Segundo o Google, uma das perguntas mais frequentes
das buscas no Reino Unido depois do resultado foi: “O que é o Brexit?” Também
se soube que muitas das afirmações e dados usados pelos que promoveram o Brexit
eram falsos. Mas, do mesmo modo que os habitantes do povoado na série de TV,
neste caso também “o povo estava disposto a acreditar”.
O mesmo ocorre com as mentiras de Trump.
Segundo o Washington Post, ele fez 5 mil afirmações falsas nos 601
dias desde que assumiu a presidência, uma média de 8,3 por dia. Recentemente,
ele bateu seu recorde e, em um único dia, disse 74 mentiras. Mas o presidente
sabe que “o povo está disposto a acreditar nele”.
Tudo isso aponta pra uma lamentável realidade: os
seguidores dos charlatães são tanto ou mais culpados pelo fato de uma sociedade
apoiar ideias ruins, eleger maus governantes ou acreditar em suas mentiras. Com
frequência, os seguidores estão desinformados, são indolentes e estão dispostos
a acreditar em qualquer proposta que os seduza, por mais disparatada que seja.
Isso precisa mudar. Nos últimos tempos, tornamos a
vida muito fácil para os charlatães e somos muito benevolentes com seus
seguidores. É preciso reconstruir a capacidade da sociedade de diferenciar
entre a verdade e a mentira, entre os fatos confirmados por evidências
incontestáveis e as propostas que nos fazem sentir bem, mas que oferecem
soluções que agravam o problema.
Precisamos de mais educação cidadã sobre o
uso e abuso da tecnologia digital e aceitar que a democracia requer mais
esforço do que ir votar de tempos em tempos. Temos de ficar mais bem
informados, manter a mente aberta para ideias que não são cômodas e
desenvolvermos o senso crítico que nos alerta quando somos manipulados. É
necessário também regulamentar as redes sociais. Sobretudo, é preciso recuperar
nossa capacidade de distinguir quem são os líderes decentes e quem são os
charlatães que nos mentem impunemente.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
quinta-feira, 17 de janeiro de 2019
Fogo cerrado contra o ministro: revista Época (21/01/2019)
Primeiro vi a chamada no Antagonista, um jornaleco provocador que leio invariavelmente todos os dias, pois é lá onde estão as novidades mais provocadoras possíveis.
Ei-la, se ouso mesoclisar impunemente:
https://www.oantagonista.com/brasil/o-chanceler-guerrilheiro/
Depois vi a chamada para a matéria da revista Época, cuja íntegra ainda não li:

Ernesto Araújo na posse de Bolsonaro no dia 1º de janeiro. Ele virou chanceler por contar com o aval de Olavo de Carvalho Foto: Ueslei Marcelino / Reuters
Ei-la, se ouso mesoclisar impunemente:
"O chanceler guerrilheiro
Em 2011, num evento nos Estados Unidos, o chanceler Ernesto Araújo defendeu os atos terroristas da guerrilheira Dilma Rousseff.
A Época citou um trecho de seu discurso:
“Especialmente entre os jovens não havia esperança de ver a democracia restabelecida por meios pacíficos. A impressão era que o governo militar ia ficar para sempre. Então muitas pessoas, a despeito das instituições, decidiram pegar em armas. Ela (Dilma) foi parte disso (…).
Não foi a luta direta com armas que derrubou os militares. Mas é claro que essa luta (guerrilha) foi importante como parte de um movimento geral em direção a mais democracia, que era basicamente um movimento pacífico.”
O vínculo de Ernesto Araújo com o círculo mais íntimo da diplomacia petista, prossegue a revista, somente encerrou-se com o episódio do impeachment”.
O QUE ESPERAR DE ERNESTO ARAÚJO NO COMANDO DA POLÍTICA EXTERNA DO PAÍS
As credenciais, as crenças e as crendices do chanceler
Juliana Dal Piva e Guilherme Evelin
17/01/2019 - 13:26 / Atualizado em 17/01/2019 - 17:17

Dois casamentos ajudaram a pavimentar o caminho do diplomata Ernesto Henrique Fraga Araújo, de 51 anos, ao posto de chanceler do governo Jair Bolsonaro. O primeiro foi a união estável com a colega Maria Eduarda de Seixas Corrêa, filha mais velha do prestigiado embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa. As conexões familiares valeram rápida ascensão na carreira e boas colocações.
A segunda união providencial foi com as ideias do polemista ultraconservador e autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, guru ideológico dos bolsonaristas e avalista da nomeação de Araújo para o comando do Ministério das Relações Exteriores.
A reportagem de capa de ÉPOCA desta semana conta como esses dois casamentos influenciaram a carreira de Araújo e o estupor entre os "itamaratecas" nestes primeiros dias de gestão do novo chanceler.

==============
Finalmente um editorial da revista Época, recém publicado:
Olavo
viu a uva
Editorial
da edição 1072 de ÉPOCA
ÉPOCA
17/01/2019
- 13:30 / Atualizado em 17/01/2019 - 13:32
Em
duas semanas de governo Jair Bolsonaro, ficou claro que o novo chanceler,
Ernesto Araújo, quer promover um rodopio de 180 graus na política externa
brasileira, rompendo com alguns dos princípios que têm guiado a presença
internacional do país. Esses princípios, que constituem também bases
operacionais da política externa, incluem a valorização do multilateralismo, o
respeito ao Direito Internacional e a prática de tentar manter boas relações
com praticamente todos os países do mundo. No lugar dessa política externa
tradicional, Araújo, segundo pode se depreender de seu intrincado e confuso
discurso de posse no Itamaraty, quer promover outra que seja a expressão de uma
forte identidade nacional.
O
fortalecimento da identidade brasileira, de acordo com o pensamento do
chanceler, passaria pela recuperação de valores baseados em Deus, na nação e na
família e pela rejeição do “globalismo” pelo Itamaraty. O “globalismo” é como
Araújo e outros seguidores, aqui no Brasil, do polemista ultratradicionalista
Olavo de Carvalho batizaram o que eles chamam de um projeto político de
imposição de um governo mundial pela ONU, pelas ONGs e por diferentes governos
considerados progressistas. Com suas pautas de defesa do feminismo, do ambientalismo,
da abertura das fronteiras às migrações, o “globalismo”, segundo a visão
defendida com fervor missionário por Araújo — o que já lhe valeu no Itamaraty o
apelido de Beato Salu —, estaria corroendo os tradicionais valores
judaico-cristãos que fizeram a grandeza do Ocidente.
Há
vários problemas nessa guinada no Itamaraty. Uma política externa consistente e
eficiente deve buscar objetivos de longo prazo para o país, o que recomenda que
ela seja previsível e executada com prudência e pragmatismo. Como observou
recentemente o cientista político Guilherme Casarões, da Fundação Getulio
Vargas, ninguém mais tem certeza sobre como o Brasil de Bolsonaro e Araújo
jogará no tabuleiro mundial. O discurso ultraconservador do novo chanceler, que
colocou o Brasil no mesmo eixo político de democracias iliberais como a Hungria
e a Polônia, com as quais temos pouquíssimos pontos em comum, já está custando
danos à reputação e à imagem do Brasil no exterior e poderá ter consequências
políticas negativas.
O
país poderá sofrer também com custos econômicos. Bolsonaro parece querer emular
o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em tudo. Copia Trump não só na
atividade intensa nas redes sociais, mas também no ataque à ONU e à ordem
internacional, na defesa estridente de Israel e nas críticas à China. Ainda a
maior potência econômica e militar do mundo, apesar da crescente sombra que a
China começa a lhe fazer no cenário internacional, os EUA são capazes de
suportar, sem danos irremediáveis, a diplomacia errática de Trump, equiparado à
salvação para o Ocidente por Araújo — outra bizarrice, vinda de um chanceler. O
Brasil, potência média, sem força militar e com economia repleta de
vulnerabilidades, não pode fazer o mesmo jogo dos EUA, pois depende da ONU, do
Direito Internacional e do multilateralismo para fazer avançar seus interesses
na arena internacional, onde quem costuma ter a força impõe as próprias regras.
Uma
atitude subserviente em relação aos EUA pode ser boa para os americanos, mas
não para o Brasil, cada vez mais dependente dos investimentos e das compras dos
produtos nacionais pelos chineses. A história registra como o Brasil, em outros
momentos em que se alinhou aos EUA, se frustrou na expectativa de benesses, que
não vieram, apesar das concessões feitas. As tradições da diplomacia brasileira
foram construídas ao longo do tempo por uma burocracia competente e
profissional formada na escola do barão do Rio Branco. Seria melhor para o país
que Araújo as revisitasse com cautela, em vez de tentar reinventá-las sob o farol
de Olavo de Carvalho, um grande sofista que nada sabe de relações
internacionais.
O futuro da direita na democracia brasileira - Matias Spektor
Duas direitas disputam futuro da democracia brasileira
Diversidade tende a ser disciplinada por uma clivagem fundamental
O campo da direita uniu forças para derrotar o petismo, mas a aliança nunca foi óbvia ou natural. Para acontecer, ela demandou que várias facções se resignassem ao peso eleitoral de Jair Bolsonaro.
Com o governo empossado, a disputa entre esses grupos voltará à superfície. Mas, desta vez, toda a diversidade da direita brasileira tende a ser disciplinada por uma clivagem fundamental.
De um lado, a direita formada na esteira da globalização. Trata-se de um grupo de talho liberal. Em política, seu compromisso maior é com o constitucionalismo, o Estado de Direito e a garantia de liberdades individuais e das minorias.
Na economia, essa turma vê no mercado e na abertura ao mundo os melhores mecanismos para lutar contra os grupos de interesse que inviabilizam o controle do gasto público.
Em relações internacionais, esse grupo advoga por instituições globais com peso suficiente para contrapor a força centrífuga dos nacionalismos. Para esse pessoal, o nacionalismo é usado por grupos que lutam para manter o Brasil arcaico como escudo de proteção de privilégios.
Do outro lado, está a direita conservadora. Hoje democrática, ela prega eleições livres e competitivas e dá provas de que pode ganhá-las com folga. Seu compromisso maior é com os ideais de nação, família tradicional e fé cristã. Ela rejeita o multiculturalismo, a normalização da família não-tradicional e a laicidade —marcas distintivas da direita liberal.
Em política exterior, a direita conservadora rechaça organizações internacionais por vê-las como títeres de uma elite global comprometida consigo mesma, ao arrepio das maiorias eleitorais de cada país soberano. Para esse pessoal, o nacionalismo é condição necessária para um mundo mais estável, justo e afluente.
A direita conservadora brasileira não é nova, é claro. Só que sua posição durante o longo condomínio tucano-petista foi periférica. Agora, ela volta com a autoconfiança de quem sabe ser parte de uma onda transnacional, da mão de Donald Trump(Estados Unidos), Viktor Orbán (Hungria) e Bibi Netanyahu (Israel).
Se a direita liberal é cosmopolita e tecnicista, a conservadora é nacionalista e populista. Nos últimos 30 anos, ambas provaram ter capacidade de ganhar no voto. Também foram capazes de costurar uma aliança entre si. Mas seus propósitos são irreconciliáveis.
Sua batalha agora é sentida na arena institucional do novo governo. Economia e Justiça por um lado. Educação, Relações Exteriores e Direitos Humanos por outro.
O fiel da balança será o establishment militar, onde há liberais e conservadores.
O resultado desse embate definirá o futuro da direita e da democracia brasileira, que poderá ser liberal ou não.
Nao sou paranoico, mas o Twitter anda me seguindo...
Sou um escritor compulsivo, mas relativamente refratário às interações sociais. Foi com extrema relutância que abandonei meu "natural reservoso" – nas palavras do personagem principal de "O Coronel e o Lobisomem" – para aderir a todas essas ferramentas sociais, sempre com a intenção de, seja obter notícias e informações, seja para disponibilizar alguns dos meus escritos e pesquisas, sem ter de responder uma a uma todas as consultas que me são feitas por alunos e pesquisadores, em consequência de meus muitos trabalhos especializados em relações internacionais, em economia mundial, integração, história diplomática e temas afins.
Por causa dessa timidez, e para evitar "perder tempo" com bobagens corriqueiras, retirando-me espaço de leituras, reflexões e escritos, justamente, que decidi abandonar o Facebook, um repositório de boas informações, mas também de muitas fofocas e, mal da nossa época, "fake news".
Fique só no Twitter, que é mais rápido e quase unilateral, mas agora descubro que o Twitter anda me vigiando, como revelado na transcrição abaixo.
Ou seja, não se consegue escapar da intromissão dessas ferramentas sociais em nossas vidas que já não são totalmente privadas, nem indevassáveis.
Parece que vou ter de sair do Twitter também...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de janeiro de 2019
Por causa dessa timidez, e para evitar "perder tempo" com bobagens corriqueiras, retirando-me espaço de leituras, reflexões e escritos, justamente, que decidi abandonar o Facebook, um repositório de boas informações, mas também de muitas fofocas e, mal da nossa época, "fake news".
Fique só no Twitter, que é mais rápido e quase unilateral, mas agora descubro que o Twitter anda me vigiando, como revelado na transcrição abaixo.
Ou seja, não se consegue escapar da intromissão dessas ferramentas sociais em nossas vidas que já não são totalmente privadas, nem indevassáveis.
Parece que vou ter de sair do Twitter também...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de janeiro de 2019
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