terça-feira, 29 de julho de 2025

Não é a soberania da nação que está em jogo: é a dignidade de sua diplomacia que está em risco - Paulo Roberto de Almeida

 A soberania brasileira não está em risco por causa das ameaças fúteis de um imperador demencial. 

O que está em risco é a segurança econômica do país inteiro por causa da incapacidade de certos dirigentes em compreender  como deve ser a postura diplomática compatível com a dignidade da nação.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 29/07/2025

As palavras importam na diplomacia - Marcelo Guterman

Uma postagem antiga, mas ainda válida em sua substância. O setor de notas do Itamaraty não precisaria tomar uma lição de moral de um leigo, ou um "paisano", em relação à diplomacia. O problema é que as notas nem sempre são feitas no Itamaraty, ou quando o são, elas podem ser "corrigidas" na presidência. PRA

As palavras importam na diplomacia

As diplomacias dos países escolhem cuidadosamente as palavras usadas em suas notas oficiais, de modo a expressar corretamente a mensagem que querem passar para a comunidade internacional. Estão aí, na íntegra, as notas do Itamaraty do dia 07/10/2023, condenando o ataque terrorista do Hamas, e a mais recente, condenando os ataques de Israel e EUA às instalações nucleares do Irã.

Na primeira nota, o governo brasileiro “condena” os ataques. Na segunda, “condena com veemência”. Na primeira nota, os autores do ataque não são nomeados. Na segunda, Israel e EUA são nomeados. Ou seja, a primeira nota condena os ataques em si, enquanto a segunda nota condena os autores dos ataques.

O Brasil é um dos países que reconhecem oficialmente o Estado da Palestina. Os ataques terroristas de 07/10, portanto, do ponto de vista da diplomacia brasileira, foram patrocinados por um Estado soberano, não por um agrupamento de rebeldes. No entanto, a nota do Itamaraty não cita o Estado da Palestina em nenhum momento como autora do atentado. A Palestina enquanto Estado só existe quando convém.

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segunda-feira, 28 de julho de 2025

Crise de 2008 e tarifaço de 2025: lições da história - Felipe Salto e Roberto Giannetti da Fonseca (FSP)

 Crise de 2008 e tarifaço de 2025: lições da história

Felipe Salto e Roberto Giannetti da Fonseca*
Colunista do UOL
FSP, 28/07/2025

A tarifa de 50% que se anuncia sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos coloca em risco a liquidez financeira de milhares de empresas exportadoras brasileiras de diversos setores da economia. O financiamento à exportação é um instrumento fundamental para garantir a liquidez destas empresas que empregam direta e indiretamente milhões de brasileiros. A boa situação do balanço de pagamentos do Brasil, notadamente, o elevado nível de reservas, dá suporte à tempestiva construção de boas estratégias para preservar as empresas exportadoras e seus empregos.
Os chamados Adiantamentos de Contratos de Câmbio (ACC) permitem antecipar receitas de vendas externas, garantindo às empresas exportadoras capital de giro para sustentar seus processos produtivos e compromissos que estão para vencer.
Na crise financeira de 2008, a maior desde 1929, o Banco Central atuou para ampliar a oferta de crédito aos exportadores brasileiros através deste canal. As instituições financeiras brasileiras tiveram acesso a um maior volume de dólares no mercado interbancário, a partir de leilões de reservas internacionais promovidos pelo Banco Central do Brasil com direito de recompra.
O Banco Central usa esse mecanismo para guarnecer o sistema financeiro. Para ter claro, o exportador firma um contrato de câmbio com o banco, a uma taxa (R$/US$) predeterminada, comprometendo-se a exportar bens no valor equivalente ao valor financiado e a saldar a dívida no prazo máximo de 180 dias a partir da entrada dos recursos oriundos das exportações.
O papel da autoridade monetária, por sua vez, não é o de emprestar diretamente às empresas, mas sim neste caso específico de oferecer maior liquidez às instituições financeiras, por meio de leilões, tendo como lastro os contratos de ACC. Ao realizar os leilões de reservas internacionais, o Banco Central promove a liquidez necessária para que os bancos brasileiros estendam o prazo de vencimento dos ACC que estão para vencer para os exportadores de 180 para 360 dias, de uma forma inteligente e com baixo custo.
Neste momento, às vésperas do início da nova política tarifária dos EUA em relação ao Brasil, crescem os riscos de problemas de financeiros para as empresas exportadoras brasileiras, cujo capital de giro vai ficar impactado nos estoques de produtos finais e de matérias-primas na cadeia produtiva afetada. Essas empresas em breve poderão estar inadimplentes junto aos bancos e fornecedores, atrasando salários e o recolhimento de tributos, e até demitindo em massa seus funcionários. O alongamento de prazos, o refinanciamento e o aumento da oferta de ACC podem pavimentar um caminho natural e seguro, dando fôlego a estas empresas até que se possível resolva-se satisfatoriamente este imbróglio tarifário. A exemplo do que já se fez em 2008 em crise de liquidez internacional, caberá ao Banco Central atuar novamente através desse mecanismo.
Segundo a Tabela 13 ("Movimento de Câmbio Contratado") da base de "Indicadores Econômicos Selecionados" do Banco Central, os ACC corresponderam a US$ 33,2 bilhões em 2024. A média anual para o período 2014-2023 foi de US$ 31,6 bilhões. De 1º de janeiro a 18 de julho de 2025, foram US$ 18,3 bilhões.
As intervenções da autoridade monetária no mercado de câmbio por meio de linhas com recompra totalizaram US$ 15 bilhões em 2024. Em 2025, até o dia 18 de julho, US$ 100 milhões, liquidamente. O nível de reservas internacionais, por sua vez, está em US$ 345,7 bilhões, conforme posição coletada na mesma data.
A saber, as reservas haviam diminuído de US$ 355 bilhões para US$ 329,7 bilhões, entre 2023 e 2024, sobretudo pelos movimentos ocorridos no final do ano passado. A necessidade de maior intervenção no mercado de câmbio deu-se pela volatilidade do dólar associada ao quadro externo e, em menor grau, às apreensões quanto à política fiscal doméstica.
Em qualquer métrica adotada, da menos à mais conservadora, esse patamar de reservas internacionais exibido pelo Brasil é considerado relativamente elevado. Ele é suficiente para sustentar, por exemplo, quase 16 meses de importações, se tomarmos os dados fechados de 2024, quando o país importou US$ 262,4 bilhões.
É preciso reconhecer que houve uma piora rápida do déficit em transações correntes, de US$ 17,6 bilhões para US$ 32,8 bilhões, entre o primeiro semestre de 2024 e o mesmo período do ano corrente, reflexo do aumento de importações. Mas os investimentos externos diretos seguem robustos. Passaram de US$ 37,8 bilhões para US$ 33,8 bilhões no mesmo período. Ainda cobrem, como se vê, todo o déficit externo.
Esse quadro geral das contas externas avaliza uma atuação precisa, intensa e bem calibrada da autoridade monetária para guarnecer o mercado e sustentar o financiamento aos exportadores. Independentemente dos desdobramentos do novo tarifaço, esse mecanismo precisa estar pronto para ser acionado a qualquer momento.
As negociações entre brasileiros e americanos começaram bem. A combinação de grupos importantes e representativos do empresariado com a eficiente diplomacia permanente do Itamaraty e a liderança do ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin poderá render bons frutos. Não será rápido, vale dizer, mas nos parece inescapável.
Nossos maiores aliados são os empresários e os consumidores americanos. A falta de produtos de boa qualidade aos quais estão habituados, o aumento repentino dos preços e a perda de bem-estar vão pressionar o governo americano ao diálogo com o Brasil.
Até lá, entendemos que não há pacote fiscal ou socorro a empresas brasileiras a ser precipitadamente engendrado. Cabe destacar que não se trata de subsidiar as exportações brasileiras por qualquer outro mecanismo, já que não se trata de caso de competitividade sistêmica, mas sim de liquidez financeira temporária. Ademais, não há qualquer espaço para isso. A mais óbvia atuação do poder público deve partir do Banco Central, na linha proposta neste artigo, amparado nos técnicos da instituição e à luz da exitosa experiência de 2008, guardadas as proporções.

*Roberto Giannetti da Fonseca, economista e empresário, ex-Secretário Executivo da CAMEX (governo FHC)

RELATÓRIO TÉCNICO: MEDIDAS UNILATERAIS DOS EUA SOB TRUMP CONTRA O BRASIL - Arko Advice

 Arko Advice sobre o tarifaço de Trump e as demais medidas de pressão econômica.

28/07/2025

RELATÓRIO TÉCNICO: MEDIDAS UNILATERAIS DOS EUA SOB TRUMP CONTRA O BRASIL

Introdução à Tarifa de 50% sobre Produtos Brasileiros

        Em 9 de julho de 2025, o governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Donald Trump, anunciou a imposição unilateral de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, efetiva a partir de 1º de agosto de 2025. Essa medida representa um marco inédito nas relações bilaterais, sendo a tarifa mais elevada já aplicada por Washington contra Brasília. A decisão foi comunicada via carta de Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgada em suas redes sociais.
        De acordo com o comunicado da Casa Branca, a tarifa se aplica a todas as remessas brasileiras, somando-se a eventuais tarifas setoriais existentes. Ela abrange desde commodities agrícolas e minerais até manufaturados e itens de alta tecnologia. Trump justificou a ação citando “graves injustiças” no regime brasileiro, com ênfase em desequilíbrios comerciais e práticas desleais, além de questões políticas relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à liberdade de expressão. Ele criticou o Supremo Tribunal Federal (STF) por ações contra Bolsonaro, chamando-as de “caça às bruxas”, e acusou o tribunal de censura ilegal contra plataformas americanas de mídia social, violando direitos de cidadãos e empresas dos EUA.
        Comercialmente, Trump alegou uma relação “injusta”, ignorando dados que mostram déficits brasileiros com os EUA desde 2009. Em 2024, os EUA tiveram superávit de US$ 1 bilhão, com o Brasil como 18º fornecedor de importações americanas. Apesar disso, a medida integra a estratégia de Trump de tarifas mínimas de 15%, elevadas a 50% para países com “más relações”.
        O Brasil foi enquadrado nesse patamar devido a tensões políticas, incluindo o processo eleitoral de 2022 e investigações do STF. Trump ordenou investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio, preparando possíveis ações na OMC.
        Essa tarifa marca uma ruptura no comércio bilateral, misturando geopolítica e economia, e inicia um período de tensão entre os países.

Outras Medidas Unilaterais Possíveis
Além da tarifa anunciada, especula-se sobre outras ações unilaterais dos EUA contra o Brasil, ventiladas por aliados de Trump ou meios políticos.

Sanções Econômicas e Pessoais: Washington pode aplicar a Global Magnitsky Act contra autoridades brasileiras, congelando bens e bloqueando transações por violações de direitos humanos ou corrupção. Aliados de Eduardo Bolsonaro sugerem uso contra ministros do STF. Já ocorreram revogações de vistos para Alexandre de Moraes e familiares, semelhantes a sanções contra Venezuela ou Rússia. Economicamente, há rumores de restrições a bancos públicos brasileiros ou elevação de tarifas a 100% em caso de retaliação, configurando embargo parcial.

• Restrições de Vistos e Imigração: O secretário de Estado Marco Rubio cancelou vistos de autoridades do STF como retaliação. Isso pode se estender a funcionários do governo Lula ou empresários. Restrições gerais a vistos brasileiros seriam extremas, afetando turismo e negócios, mas ecoam sanções a venezuelanos ou russos. Setores anti-imigração nos EUA poderiam defender deportações seletivas.

• Ações Diplomáticas: Cenários incluem expulsão de diplomatas brasileiros ou rebaixamento de representação, como recall de embaixadores. Fontes bolsonaristas mencionam expulsão de representantes em organismos como a CIDH. Isso degradaria relações, similar a confrontos com Rússia em 2018. O Departamento de Estado recusou contatos iniciais, sinalizando isolamento.

• Barreiras Sanitárias e Fitossanitárias: Os EUA poderiam impor restrições a importações agrícolas brasileiras alegando riscos sanitários, como embargos a carnes ou frutas. Historicamente, vetos à carne bovina ocorreram de 2017 a 2020. Isso atuaria como tarifa encoberta, impactando o agronegócio.

• Restrições Tecnológicas: Especulações incluem bloqueio de GPS ou satélites sobre o Brasil, prejudicando navegação e agricultura. Restrições a semicondutores ou software, como contra China, afetariam indústria e defesa. Suspensão de cooperações com NASA é hipotética.

• Outras Opções: Sanções coordenadas com OTAN ou bloqueio na OCDE. Rumores de asilo a Bolsonaro ou apoio à oposição brasileira. Aliados de Trump afirmam que “todas as opções estão na mesa”. Essas medidas indicam escalada potencial, inibindo respostas brasileiras imediatas.

Cenários de Rompimento Diplomático
        Analistas avaliam riscos de rompimento diplomático. Rumores bolsonaristas sugerem corte total após ações do STF contra Bolsonaro, vistas como “declaração de guerra”.
        Rompimentos variam: parcial (recall de embaixadores) ou total (fechamento de embaixadas), como com Cuba (1961-2015) ou Irã. Inédito para Brasil-EUA, aliados tradicionais.
        Fontes diplomáticas em Washington manifestaram surpresa com esses rumores, indicando que tal ruptura não fazia parte das discussões oficiais e seria vista como uma medida drástica e contraproducente.
        História mostra atritos sem rompimento, como críticas de Carter à ditadura brasileira em 1977.
        Interesses mútuos sugerem evitar ruptura, apesar de tensões.

Impacto Econômico nos Setores Brasileiros
A tarifa de 50% e sanções potenciais afetam setores chave.
• Agronegócio: 12% das exportações brasileiras vão aos EUA (soja, café, suco de laranja, carne). Tarifa torna produtos caros, levando a perdas. Barreiras sanitárias agravam. Queda de preços internos e redirecionamento para Ásia elevam custos.
• Energia: Petróleo representa 14% das exportações aos EUA. Tarifa força redirecionamento, reduzindo lucros da Petrobras e volatilizando preços domésticos.
• Tecnologia e Indústria: Embraer perde mercado em aviões (6,7% das exportações). Siderurgia (aço, alumínio) enfrenta suspensões de contratos. Projeções: perda de 44-120 mil empregos em SP, queda de 2,7% no PIB estadual.
• Macroeconomia Geral: Exportações aos EUA (US$ 40,3 bi em 2024) caem, pressionando câmbio (dólar a R$ 5,60) e bolsa. Investimentos postergados; diversificação reduz dependência. Choque pode desacelerar crescimento em 2025-2026, com medidas de emergência como créditos de R$ 100 mi no RS.

Respostas Brasileiras
        O Brasil responde em frentes diplomática, comercial, legal e estratégica.
Diplomáticas: Protestos formais e negociações. Lula criticou Trump; Alckmin conversou com Lutnick. Busca apoio no Mercosul, OMC e ONU.
Comerciais: Sem retaliação imediata para evitar escalada. Plano de contingência: créditos, fundos de compensação, novos mercados (China, Ásia). Substituição de importações americanas.
Legais: Disputa na OMC por violações. Leis internas contra conluio com estrangeiros. Denúncias em BRICS.
Estratégicas: Aproximação com Europa, China; diversificação via Mercosul-UE. Reforço em defesa e unidade interna.

Exemplos Históricos
Venezuela: Sanções desde 2017 (Trump expandiu), embargando petróleo. Colapso econômico, mas Maduro resiste com apoio russo-chinês.
China: Guerra comercial 2018-2019: tarifas de 25% em US$ 360 bi. Acordo Fase 1 parcial; China busca autossuficiência.
Cuba: Embargo desde 1962; enfraquece economia, mas regime persiste. Isolamento diplomático dos EUA.
Rússia: Pós-2022: exclusão de SWIFT, embargo energético. Resiliência russa via Ásia, mas danos cumulativos.
Turquia: 2018: tarifas dobradas por detenção de pastor. Queda da lira leva à liberação; Turquia diversifica.

Para maiores informações:
arko@arkoadvice.com.br

Boa notícia na educação: o país avança, como diria Galileu (eppur si muove) - Marcelo Guterman

 O copo meio cheio


É sempre mais fácil enxergar e criticar o copo meio vazio. É claro que é triste constatar que mais de 40% das crianças brasileiras de 7 anos são analfabetas funcionais, mesmo já tendo atendido a dois anos de cursos de alfabetização. Mas aqui vou preferir enxergar o copo meio cheio.

Pela primeira vez temos um indicador sério de alfabetização, e não um me-engana-que-eu-gosto. A barra do teste é alta para uma criança de 7 anos, e tem muito adulto no Brasil que não a ultrapassaria. Além disso, há meta para os Estados, de acordo com suas próprias condições, e os gestores estaduais podem, se quiserem, atrelar a remuneração dos professores a essa meta.

É incrível saber que um indicador básico como esse só foi implementado no ano passado, e esse é só o 2o ano de sua aplicação. Camilo Santana, ministro da educação, participou do esforço que colocou o Ceará no topo de todos os rankings nacionais de educação, certamente implementando ideias como essa. Trata-se de um trabalho de longo prazo, que exige foco e continuidade.

Cheguei a escrever aqui, quando Camilo Santana foi indicado para o ministério da Educação, que o grande selo de qualidade havia sido uma crítica de um professor aposentado de uma Federal qualquer, que afirmava que o Ceará “treinava os alunos para irem bem nas provas” e abria mão de uma “educação cidadã”. Concluí que estávamos no caminho certo, e este índice é uma prova disso.

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Slogans para dar e vender - Marcelo Guterman e Paulo Roberto de Almeida

 Governo populistas, ou popularescos, adoram criar slogans, que por vezes são criados espontaneamente – tipo "o petróleo é nosso" – mas geralmente são ativados pela propaganda dos governos (nos tempos do Getúlio Vargas era "o pai dos pobres"; depois veio JK, com "50 anos em 5", Jânio atacou de "vassourinha" que iria "varrer a corrupção do Brasil", durou 6 meses). Até na ditadura teve o "Brasil Ame-o ou Deixe-o" nos quatro duríssimos anos do Medici.

Agora, Marcelo Guterman faz o resumo do que andou por aí desde os tempos pós-ditadura:

"Foram os governos da Nova República, com exceção do governo Collor, que começaram a incluir o slogan no próprio logotipo do governo federal, como que a traduzir a sua missão. Tivemos então os seguintes slogans:

Sarney: Tudo pelo Social
Itamar: União de Todos
FHC: Trabalhando em todo o Brasil
Lula 1 e 2: Um País de Todos
Dilma 1: País Rico é País sem Pobreza
Dilma 2: Brasil, Pátria Educadora
Temer: Ordem e Progresso
Bolsonaro: Pátria Amada, Brasil
Lula 3: União e Reconstrução "

PRA: O que virá no próximo governo? Chega de polarização?
Acho que seria pedir demais...

O assalto do alto mandarinato ao orçamento público no Brasil, com destaque para a aristocracia do Judiciário - Marcelo Guterman

Esse é o Brasil


O Brasil é um país perfeito no papel. Sua constituição, mais do que um livro de regras, é uma carta de boas intenções. Até tabelar os juros tabelamos. No entanto, a sociedade brasileira, principalmente suas elites, convivem bem com a ideia de que o que está escrito não é o que realmente vale na vida real, ideia esta incompreensível para alemães ou japoneses, por exemplo. Trata-se de um arranjo conveniente: os legisladores respondem aos anseios purificadores da sociedade e, ao mesmo tempo, sabem que aquilo que escrevem não será implementado na realidade.

Os supersalários do serviço público encaixam-se nesse modus operandi que caracteriza a alma nacional. Já existe um teto remuneratório do funcionalismo público inscrito na Constituição. Portanto, essa questão sobre supersalários, a rigor, nem deveria estar sendo discutida. R$ 46 mil mensais são insuficientes? Então, que se aumente o teto de maneira transparente para a sociedade.

Ao invés disso, para não passar pelo desgaste junto à opinião pública, preferimos fazer puxadinhos. São vários, sendo que os penduricalhos do judiciário são apenas a ponta do iceberg. No Legislativo, aqueles que não conseguem sinecuras em estatais patrocinam rachadinhas em seus gabinetes. No Executivo, cargos em Conselhos de empresas complementam os salários, e advogados da AGU, por exemplo, participam dos honorários de sucumbência. E isso é o que vem a público, certamente há muito mais jeitinhos de complementar o salário.

Discutir se são 8, 32 ou 1.500 penduricalhos permitidos é dessas perdas de tempo a que se dedicam os nossos legisladores quando a tampa da panela de pressão da opinião pública começa a apitar. Cabe questionar, afinal, porque este novo “extra-teto” seria cumprido se o anterior, igualmente inscrito na Constituição, não o foi. Somos o país em que a regra escrita não vale de fato, mas quando exageramos na esculhambação, rasgamos as vestes e corremos a escrever uma nova regra que torna legal a esculhambação. Esse é o Brasil.

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Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...