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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 19 de abril de 2010

2040) Diplomacia topa tudo - Carlos Alberto Sardenberg

Pessoalmente, não acho que a diplomacia brasileira tope tudo. Ela não topa intromissões do Império na América do Sul, por exemplo. Ela não topa o embargo imperialista contra a gloriosa ilha de Cuba, por exemplo. Ela não topa todos esses colonialistas pretenderem dar lições de moral a seus amigos, como o Chávez, por exemplo, ou talvez o Ahmadinejad. Ela não topa o FMI posar de controlador de políticas econômicas de países periféricos. Ela não topou, ainda como exemplo, o projeto imperialista de anexar a América Latina, sob disfarce de uma zona de livre comércio, que na verdade era para nos submeter econômica e politicamente. Ela não topa um Conselho de Segurança oligárquico, com apenas cinco membros permanentes: ela quer estender a oligarquia para pelo menos onze membros, talvez mais.
Ela não topa muitas coisas, que nem é preciso mencionar aqui.
Mas, ela também topa outras, como por exemplo financiar os amigos na região, e consentir na ruptura ou mudança de acordos, em detrimento de nossos interesses.
Ela topa muitas outras coisas mais, mas nem é preciso mencionar.
Paulo Roberto de Almeida (Xian, 20.04.2010)

A diplomacia topa tudo
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 19 de abril de 2010

Está certo que a diplomacia requer gestos de aproximação aos países com cujos governos se negocia. Mas o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, precisava aparecer sorridente diante dos fotógrafos entregando uma camisa da seleção brasileira para o também sorridente presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad?

Dirão: ora, foi uma simples gentileza, que não melhora nem piora a complexa questão de como lidar com o Irã.

Vá lá, aceitemos provisoriamente a desculpa.

Agora, se não estivesse escrito em documento oficial, pareceria uma gozação dizer que os governos brasileiro e chinês farão "um intercâmbio de experiências e de melhores práticas" na área de... direitos humanos!

Pois é, está cravado no documento que lança o Plano de Ação Conjunta Brasil-China. Portanto, cabe especular sobre quais práticas poderão ser trocadas.

Os chineses poderão nos ensinar técnicas de execução de condenados, pois são bons nisso. É o país em que mais se aplica a pena capital.

Também poderemos aprender com eles como calar a oposição política, como prender dissidentes e processá-los por crimes comuns.

O governo chinês detém ainda uma tecnologia que muita gente por aqui pode vir a gostar: como controlar e censurar a internet. Com inovadoras ferramentas, as autoridades chinesas conseguem bloquear todas as informações que consideram ser inconvenientes.

O presidente Lula vive reclamando que a imprensa não cobre corretamente os bons feitos do governo. Pois seu colega Hu Jintao não tem do que se queixar: a imprensa de lá só publica o que o chefe quer ler. O governo decide o que o público deve saber, assim como define o que sejam direitos humanos.

E que experiências o Brasil poderia enviar à China? Nosso sistema prisional, por exemplo, que solta rapidinho os condenados. Ou que tal um Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH) que, aplicado lá, tornaria obrigatória a abertura dos arquivos da Revolução Cultural da era Mao Tsé-tung, apontando-se os responsáveis por milhões de assassinatos, torturas e violações generalizadas?

Não se trata de brincar com coisa séria. Se é, então a brincadeira é anterior, de quem colocou em um documento oficial que o Brasil e a China trocarão experiências na área de direitos humanos.

Alguns dizem que é tudo por negócios. No mundo democrático, ninguém desconhece como age o governo chinês e todo mundo faz negócios com eles. Também muitos países ocidentais e/ou democráticos fazem negócios com o Irã.

Verdade, mas isso apenas prova que é possível fazer negócios sem gestos que denotem tolerância ou mesmo simpatia a posições indefensáveis.

Tome-se o Irã. Entre os principais países que exportam para lá estão Alemanha, Itália e França. Os três endossam e participam do processo de definição de sanções ao Irã, os três são críticos severos do programa nuclear e das declarações do presidente Ahmadinejad.

Se o Brasil tiver produtos e serviços importantes para o Irã, não precisa entregar camisas da seleção para vendê-los.

Do mesmo modo, o comércio com a China cresceu muito nos últimos anos, não por causa da diplomacia Sul-Sul, muito menos por causa da aceitação dos direitos humanos à chinesa.

Aconteceu, simplesmente, que os chineses precisam muitíssimo de minério de ferro, soja e petróleo, produtos disponíveis no Brasil. São esses três itens que compõem a maior parte das exportações brasileiras - e que continuariam compondo a maior parte das exportações mesmo se o presidente Lula fizesse uma homenagem especial ao dalai-lama.

Há sete anos, quando o presidente Hu Jintao esteve no Brasil pela primeira vez, prometeu bilhões de dólares em investimentos diretos em troca de o governo brasileiro declarar a China como "economia de mercado", condição importante para sua posição na Organização Mundial do Comércio (OMC).

As empresas chinesas não investiram e o governo brasileiro não concretizou a declaração. E as nossas exportações cresceram mesmo assim.

Os investimentos estão começando a chegar, mas são menores e vão especialmente para áreas que interessam diretamente aos negócios chineses. Eles estão entrando em minas de ferro, usinas de aço e portos que exportam para a China.

Já o agronegócio brasileiro tem muita vontade e condição de exportar carnes para lá, mas esbarra nas regras sanitárias aplicadas seletivamente pelo governo chinês. Há negociações, houve uma liberação parcial para exportação de frangos, mas vai tudo muito lentamente.

Os chineses não têm pressa, pois seu mercado é bem abastecido por carnes americanas, por exemplo. (E, por falar nisso, a Rússia, nossa colega de Bric, também dá mais espaço às carnes dos Estados Unidos.)

E se aqueles gestos da diplomacia brasileira não têm eficácia econômica, qual seu objetivo? O comando da política externa parece entender que consegue a liderança sendo tolerante e passivo diante das posições e atitudes dos outros.

O presidente Lula está seguro que deu certo, que ele é um grande líder mundial e que as exportações do Brasil cresceram por causa disso.

Porém o Brasil, economicamente estável, é um baita país, qualquer que seja o presidente ou a presidenta; todos os emergentes importantes aumentaram suas exportações e nem todos têm Lula.

JORNALISTA.
E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR CARLOS.SARDENBERG@TVGLOBO.COM.BR

2039) A nova estratégia nuclear dos Estados Unidos - José Goldemberg

A nova estratégia nuclear dos Estados Unidos
José Goldemberg
O Estado de S.Paulo, 19 de abril de 2010

A cada dez anos o governo americano publica um importante documento sobre os princípios - isto é, a "doutrina" - nos quais se apoia a sua estratégia nuclear. É um documento genérico, que fixa as diretrizes a serem seguidas por todos os órgãos do governo e pelas Forças Armadas.

O último deles, publicado há dez anos, refletia ainda a atmosfera da guerra fria e uma postura truculenta que se agravou durante os oito anos do governo do presidente George W. Bush.

Ela representava bem a influência dos elementos mais conservadores do Senado norte-americano, que já haviam bloqueado a aprovação de tratados internacionais que levassem a uma distensão política com a Rússia na área nuclear. Exemplo dessa atitude é o que ocorreu com o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBC), que não foi ratificado pelo Senado. Esses senadores, de modo geral, defendem interesses corporativos dos setores envolvidos na produção de armas nucleares, que geram milhares de empregos e que são muito poderosos em alguns Estados americanos.

Fazia parte dessa "doutrina" a noção de que até ataques convencionais aos Estados Unidos, por países que não possuíssem armas nucleares, provocariam um revide nuclear.

Por essa razão, o único progresso na área de desarmamento nuclear que ocorreu nos últimos 20 anos foi a redução gradual, mas lenta, dos estoques de armas nucleares das grandes potências, que chegaram a ser de mais de 30 mil em cada uma delas e que ainda são consideráveis.

A eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos parece ter mudado significativamente essa situação. No seu famoso discurso em Praga, em abril de 2009, Obama declarou que os Estados Unidos "procurarão promover a paz e a segurança de um mundo sem armas nucleares".

A nova estratégia nuclear americana, de abril de 2010, reflete essa intenção e abandona a visão ultrapassada de manter, modernizar e até aumentar os estoques de armas nucleares e realizar testes. Ela concentra agora as atenções do governo em duas áreas: impedir a proliferação nuclear e evitar o terrorismo nuclear.

Ao fazê-lo, o governo dos Estados Unidos adota a posição dos antigos "falcões da guerra fria", como Kissinger e outros que se convenceram de que armas nucleares - que garantiram no passado a segurança do seu país contra um possível ataque da União Soviética - não são eficazes contra o terrorismo nuclear, que não tem responsabilidades de governo.

Além disso, as ameaças resultantes da posse de armas nucleares nas mãos de governos problemáticos como o Irã e a Coreia do Norte tendem a se propagar, porque há outros aspirantes à posse de armas nucleares em várias regiões do mundo que desejam contrabalançar as ameaças criadas por eles.

Num certo sentido, o governo dos Estados Unidos "jogou a toalha" e, finalmente, se convenceu de que a única maneira de garantir a sua própria segurança é reduzir a importância das armas nucleares e começar a cumprir o artigo VI do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) de 1967, que prevê a adoção de medidas sérias que conduzam ao desarmamento nuclear.

Esse artigo foi adotado, na época, para encorajar os países não nucleares a não promoverem o desenvolvimento de armas nucleares e restringirem o uso de energia nuclear para fins pacíficos.

Vários países não aceitaram esse tratado porque o consideraram discriminatório e desenvolveram armas nucleares, como a Índia, encorajando o Paquistão a fazer o mesmo. Isso, aliás, é o que acontecerá se o Irã produzir armas nucleares, uma vez que o Egito e a Síria provavelmente desejarão fazer o mesmo para contrabalançar sua influência.

A nova estratégia nuclear americana abre caminho para uma discussão adulta sobre o problema do desarmamento nuclear, porque daqui para a frente a não-proliferação nuclear (dos países que não têm armas nucleares) e o desarmamento nuclear (dos países que as possuem) passam a marchar juntos.

A melhor indicação da seriedade dos Estados Unidos em adotar esse caminho é a decisão tomada de "não usar (ou ameaçar usar) armas nucleares contra países que são signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e que cumpram suas obrigações estabelecidas nesse tratado".

Seria muito útil que o Itamaraty estudasse com cuidado a nova estratégia nuclear dos Estados Unidos e abandonasse as tendências revisionistas que ainda existem no governo brasileiro.

O Brasil se tornou signatário do TNP em 1994, o que removeu o País da lista de "suspeitos" de tentar desenvolver armas nucleares, que é o caso do Irã hoje. A decisão brasileira reforçou os esforços mundiais para fazer com que os países nucleares seguissem o caminho do desarmamento nuclear, dos quais o próprio chanceler Celso Amorim participou no passado.

As vozes que se ouvem hoje - vindas inclusive do próprio Itamaraty - são que o Brasil abdicou da sua soberania ao aderir ao TNP, o que representa uma total incompreensão do que é o mundo real com ogivas nucleares programadas para atingir qualquer cidade do mundo, inclusive do Brasil.

A desnuclearização da América Latina, que se tornou realidade com a criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (Abacc) em 1992, e o abandono de programas nucleares semiclandestinos no Brasil e na Argentina estão dando frutos agora.

Nessas condições, uma política nuclear de aproximação com o Irã e o ceticismo a respeito das vantagens do Tratado de Não-Proliferação Nuclear são contrários aos interesses nacionais.

É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

domingo, 18 de abril de 2010

2038) Brasil: uma economia exportadora baseada no cafe - recomendacao bibliografica

Brazil as an Export Economy, 1880-1930
Marcelo De Paiva Abreu
Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Afonso S. Bevilaqua
Catholic University of Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Abstract link

Abstract:
The paper examines the Brazilian core coffee export economy from the 1880s to 1930. Analysis is centered on coffee because of its dominant role in the Brazilian economy and to the persistent high share of Brazilian exports in the world market, which has allowed Brazil to exploit its market power. The implications of Brazil's position as the main world supplier of coffee are analyzed empirically, particularly the links between domestic policy and world coffee prices. The fact that Brazil was the leading coffee producer and exporter implies that production costs in Brazil had a significant influence on world coffee prices. The relevance of this link is shown using econometric techniques for exchange rate fluctuations and tariffs. Due to the magnitude of Brazil's coffee exports in the world market, fluctuations of the Brazilian foreign exchange rate influenced world coffee prices. Most of the effects of the traditionally high tariff were also transferred with a lag to world coffee prices. This is a new interpretation of the political economy of coffee and industry in the golden age of the Brazilian export economy. The paper also looks at commodity exports outside the core: rubber, sugar, and cotton. A section on the export economy, 1930-1960 is included as a coda.

JEL Classifications: F14, N66
Working Paper Series
Date posted: July 21, 1998 ; Last revised: July 21, 1998
Suggested Citation

De Paiva Abreu , Marcelo and Bevilaqua, Afonso S., Brazil as an Export Economy, 1880-1930. Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=37857

2037) Como afundar um Estado sem ter consciencia disso: uma Republica Sindical

Calma, calma, não é do Brasil que estou falando, e sim de um outro Estado, que aliás possui um PIB superior ao do Brasil, mas que corre o risco de se esfarelar em pensões de aposentados e salários do setor público sindicalizado.
A Califórnia enfrenta o risco real de ser declarada um "Failed State", um Estado falido. Ela é o exemplo típico de um estado "progressista", que deu direitos a todo mundo -- não tem problema: se você precisar fazer uma operação de mudança de sexo, a California também paga... -- e que se afunda progressivamente na dívida pública, na deterioração dos serviços coletivos, no estrangulamente gradual (e talvez final) do funcionamento do Estado, tal como o concebemos.
Esse é o fruto da prodigalidade (na verdade irresponsabilidade) e da tolerância com a chamada República Sindical.
O Brasil talvez não esteja longe de entrar em trajetória similar. Basta olhar...
A matéria abaixo, transcrita de um site americano voltado para a vida nas cidades, deveria servir de alerta.
Paulo Roberto de Almeida
(Lanzhou, 19.04.2010)

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The Beholden State: How public-sector unions broke California
Steven Malanga
City Journal: A quarterly magazine of urban affairs, published by the Manhattan Institute, edited by Brian C. Anderson.
April 19, 2010

The camera focuses on an official of the Service Employees International Union (SEIU), California’s largest public-employee union, sitting in a legislative chamber and speaking into a microphone. “We helped to get you into office, and we got a good memory,” she says matter-of-factly to the elected officials outside the shot. “Come November, if you don’t back our program, we’ll get you out of office.’

Illustration by Sean Delonas.

The video has become a sensation among California taxpayer groups for its vivid depiction of the audacious power that public-sector unions wield in their state. The unions’ political triumphs have molded a California in which government workers thrive at the expense of a struggling private sector. The state’s public school teachers are the highest-paid in the nation. Its prison guards can easily earn six-figure salaries. State workers routinely retire at 55 with pensions higher than their base pay for most of their working life. Meanwhile, what was once the most prosperous state now suffers from an unemployment rate far steeper than the nation’s and a flood of firms and jobs escaping high taxes and stifling regulations. This toxic combination—high public-sector employee costs and sagging economic fortunes—has produced recurring budget crises in Sacramento and in virtually every municipality in the state.

How public employees became members of the elite class in a declining California offers a cautionary tale to the rest of the country, where the same process is happening in slower motion. The story starts half a century ago, when California public workers won bargaining rights and quickly learned how to elect their own bosses—that is, sympathetic politicians who would grant them outsize pay and benefits in exchange for their support. Over time, the unions have turned the state’s politics completely in their favor. The result: unaffordable benefits for civil servants; fiscal chaos in Sacramento and in cities and towns across the state; and angry taxpayers finally confronting the unionized masters of California’s unsustainable government.

California’s government workers took longer than many of their counterparts to win the right to bargain collectively. New York City mayor Robert Wagner started a national movement back in the late 1950s when he granted negotiating rights to government unions, hoping to enlist them as allies against the city’s Tammany Hall machine. The movement intensified in the early sixties, after President John F. Kennedy conferred the right to bargain on federal workers. In California, a more politically conservative environment at the time, public employees remained without negotiating power through most of the sixties, though they could join labor associations. In 1968, however, the state legislature passed the Meyers-Milias-Brown Act, extending bargaining rights to local government workers. Teachers and other state employees won the same rights in the seventies.

These legislative victories happened at a time of surging prosperity. California’s aerospace industry, fueled by the Cold War, was booming; investments in water supply and infrastructure nourished the state’s agribusiness; cheaper air travel and a famously temperate climate burnished tourism. The twin lures of an expanding job market and rising incomes pushed the state’s population higher, from about 16 million in 1960 to 23 million in 1980 and nearly 30 million by 1990. This expanding population in turn led to rapid growth in government jobs—from a mere 874,000 in 1960 to 1.76 million by 1980 and nearly 2.1 million in 1990—and to exploding public-union membership. In the late 1970s, the California teachers’ union boasted about 170,000 members; that number jumped to about 225,000 in the early 1990s and stands at 340,000 today.

The swelling government payroll made many California taxpayers uneasy, eventually encouraging the 1978 passage of Proposition 13 (see page 30), the famous initiative that capped property-tax hikes and sought to slow the growth of local governments, which feed on property taxes. Government workers rightly saw Prop. 13 as a threat. “We’re not going to just lie back and take it,” a California labor leader told the Washington Post after the vote, adding that Prop. 13 had made the union “more militant.” The next several years proved him right. In 1980 alone, unionized employees of California local governments went on strike 40 times, even though doing so was illegal. And once the Supreme Court of California sanctioned state and local workers’ right to strike in 1985—something that their counterparts in most other states still lack—the unions quickly mastered confrontational techniques like the “rolling strike,” in which groups of workers walk off jobs at unannounced times, and the “blue flu,” in which public-safety workers call in sick en masse.

But in post–Proposition 13 California, strikes were far from the unions’ most fearsome weapons. Aware that Proposition 13 had shifted political action to the state capital, three major blocs—teachers’ unions, public-safety unions, and the Service Employees International Union, which now represents 350,000 assorted government workers—began amassing colossal power in Sacramento. Over the last 30 years, they have become elite political givers and the state’s most powerful lobbying factions, replacing traditional interest groups and changing the balance of power. Today, they vie for the title of mightiest political force in California.

Consider the California Teachers Association. Much of the CTA’s clout derives from the fact that, like all government unions, it can help elect the very politicians who negotiate and approve its members’ salaries and benefits. Soon after Proposition 13 became law, the union launched a coordinated statewide effort to support friendly candidates in school-board races, in which turnout is frequently low and special interests can have a disproportionate influence. In often bitter campaigns, union-backed candidates began sweeping out independent board members. By 1987, even conservative-leaning Orange County saw 83 percent of board seats up for grabs going to union-backed candidates. The resulting change in school-board composition made the boards close allies of the CTA.

But with union dues somewhere north of $1,000 per member and 340,000 members, the CTA can afford to be a player not just in local elections but in Sacramento, too (and in Washington, for that matter, where it’s the National Education Association’s most powerful affiliate). The CTA entered the big time in 1988, when it almost single-handedly led a statewide push to pass Proposition 98, an initiative—opposed by taxpayer groups and Governor George Deukmejian—that required 40 percent of the state’s budget to fund local education. To drum up sympathy, the CTA ran controversial ads featuring students; in one, a first-grader stares somberly into the camera and says, “Pay attention—today’s lesson is about the school funding initiative.” Victory brought local schools some $450 million a year in new funding, much of it discretionary. Unsurprisingly, the union-backed school boards often used the extra cash to fatten teachers’ salaries—one reason that California’s teachers are the country’s highest-paid, even though the state’s total spending per student is only slightly higher than the national average. “The problem is that there is no organized constituency for parents and students in California,” says Lanny Ebenstein, a former member of the Santa Barbara Board of Education and an economics professor at the University of California at Santa Barbara. “No one says to a board of education, ‘We want more of that money to go for classrooms, for equipment.’ ”

With its growing financial strength, the CTA gained the ability to shape public opinion. In 1996, for instance, the union—casting covetous eyes on surplus tax revenues from the state’s economic boom—spent $1 million on an ad campaign advocating smaller classes. Californians began seeing the state’s classrooms as overcrowded, according to polls. So Governor Pete Wilson earmarked some three-quarters of a billion dollars annually to cut class sizes in kindergarten through third grade. The move produced no discernible improvements in student performance, but it did require a hiring spree that inflated CTA rolls and produced a teacher shortage. (The union drew the line, however, when it faced the threat of increased accountability. Two years later, when Wilson offered funds to reduce class sizes even more but attached the money to new oversight mechanisms, the CTA spent $6 million to defeat the measure, living up to Wilson’s assessment of it as a “relentless political machine.”)

During this contentious period, the CTA and its local affiliates learned to play hardball, frequently shutting down classes with strikes. The state estimated that in 1989 alone, these strikes cost California students collectively some 7.2 million classroom days. Los Angeles teachers provoked outrage that year by reportedly urging their students to support them by skipping school. After journalist Debra Saunders noted in LA’s Daily News that the striking teachers were already well paid, the union published her home phone number in its newsletter and urged members to call her.

Four years later, the CTA reached new heights of thuggishness after a business-backed group began a petition to place a school-choice initiative on the state ballot. In a union-backed effort, teachers shadowed signature gatherers in shopping malls and aggressively dissuaded people from signing up. The tactic led to more than 40 confrontations and protests of harassment by signature gatherers. “They get in between the signer and the petition,” the head of the initiative said. “They scream at people. They threaten people.” CTA’s top official later justified the bullying: some ideas “are so evil that they should never even be presented to the voters,” he said.

The rise of the white-collar CTA provides a good example of a fundamental political shift that took place everywhere in the labor movement. In the aftermath of World War II, at the height of its influence, organized labor was dominated by private workers; as a result, union members were often culturally conservative and economically pro-growth. But as government workers have come to dominate the movement, it has moved left. By the mid-nineties, the CTA was supporting causes well beyond its purview as a collective bargaining agent for teachers. In 1994, for instance, it opposed an initiative that prohibited illegal immigrants from using state government programs and another that banned the state from recognizing gay marriages performed elsewhere. Some union members began to complain that their dues were helping to advance a political agenda that they disagreed with. “They take our money and spend it as they see fit,” says Larry Sand, founder of the California Teachers Empowerment Network, an organization of teachers and former teachers opposed to the CTA’s noneducational politicking.

Illustration by Sean Delonas.

Public-safety workers—from cops and sheriffs to prison guards and highway-patrol officers—are the second part of the public-union triumvirate ruling California. In a state that has embraced some of the toughest criminal laws in the country, police and prison guards’ unions own a precious currency: their political endorsements, which are highly sought after by candidates wanting to look tough on crime. But the qualification that the unions usually seek in candidates isn’t, in fact, toughness on crime; it’s willingness to back better pay and benefits for public-safety workers.

The pattern was set in 1972, when State Assemblyman E. Richard Barnes—an archconservative former Navy chaplain who had fought pension and fringe-benefit enhancements sought by government workers, including police officers and firefighters—ran for reelection. Barnes had one of the toughest records on crime of any state legislator. Yet cops and firefighters walked his district, telling voters that he was soft on criminals. He narrowly lost. As the Orange County Register observed years later, the election sent a message to all legislators that resonates even today: “Your career is at risk if you dare fiddle with police and fire” pay and benefits.

The state’s prison guards’ union has exploited a similar message. Back in 1980, when the California Correctional Peace Officers Association (CCPOA) won the right to represent prison guards in contract negotiations, it was a small fraternal organization of about 1,600 members. But as California’s inmate population surged and the state went on a prison-building spree—constructing 22 new institutions over 25 years—union membership expanded to 17,000 in 1988, 25,000 by 1997, and 31,000 today. Union resources rose correspondingly, with a budget soaring to $25 million or so, supporting a staff 70 deep, including 20 lawyers.

Deploying those resources, the union started to go after politicians who didn’t support higher salaries and benefits for its members and an ever-expanding prison system. In 2004, for example, the CCPOA spent $200,000—a whopping amount for a state assembly race—to unseat Republican Phil Wyman of Tehachapi. His sin: advocating the privatization of some state prisons in order to save money. “The amount of money that unions are pouring into local races is staggering,” says Joe Armendariz, executive director of the Santa Barbara County Taxpayers Association. A recent mayoral and city council election in Santa Barbara, with a population of just 90,000, cost more than $1 million, he observes.

The symbiotic relationship between the CCPOA and former governor Gray Davis provides a remarkable example of the union’s power. In 1998, when Davis first ran for governor, the union threw him its endorsement. Along with those much-needed law-and-order credentials, it also gave Davis $1.5 million in campaign contributions and another $1 million in independent ads supporting him. Four years later, as Davis geared up for reelection, he awarded the CCPOA a stunning 34 percent pay hike over five years, increasing the average base salary of a California prison guard from about $50,000 a year to $65,000—and this at a time when the unemployment rate in the state had been rising for nearly a year and a half and government revenues had been falling. The deal cost the state budget an additional $2 billion over the life of the contract. A union official described it admiringly as “the best labor contract in the history of California.” Eight weeks after the offer, the union donated $1 million to Davis’s reelection campaign.

Even cops who run for office have felt the wrath of public-safety unions. Allan Mansoor served 16 years as a deputy sheriff in Orange County but angered police unions by publicly backing an initiative that would have required them to gain their members’ permission to spend dues on political activities. When the conservative Mansoor ran successfully for city council several years back in Costa Mesa, local cops and firefighters poured resources into helping his more liberal opponents. “I didn’t like seeing my dues go to candidates like Davis, so I supported efforts to curb that,” Mansoor says. “Union leaders didn’t like it, so they endorsed my opponents by claiming they were tougher on crime than I was.”

Even more troubling are the activities of the California Organization of Police and Sheriffs (COPS), a lobbying and advocacy group that has raised tens of millions of dollars from controversial soliciting campaigns. In one, COPS fund-raisers reportedly called residents of heavily immigrant neighborhoods and threatened to cut off their 911 services unless they donated. In another, a COPS fund-raiser reportedly offered to shave points off Californians’ driving records in exchange for donations. The group has dunned politicians, too. In 1998, it began publishing a voter guide in which candidates paid to be included. Pols considered the money well spent because of the importance of a COPS endorsement—or at least the appearance of one. “We all use them [COPS] for cover, especially in years when law enforcement is a big issue in elections,” one state senator, Santa Clara’s John Vasconcellos, admitted to the Orange County Register. “It stopped the right wing from calling me soft on crime.”

The results of union pressure are clear. In most states, cops and other safety officers can typically retire at 50 with a pension of about half their final working salary; in California, they often receive 90 percent of their pay if they retire at the same age. The state’s munificent disability system lets public-safety workers retire with rich pay for a range of ailments that have nothing to do with their jobs, costing taxpayers hundreds of millions of dollars. California’s prison guards are the nation’s highest-paid, a big reason that spending on the state’s prison system has blasted from less than 4.3 percent of the budget in 1986 to more than 11 percent today.

California’s third big public-union player is the state wing of the SEIU, the nation’s fastest-growing union, whose chief, Andy Stern, earned notoriety by visiting the White House 22 times during the first six months of the Obama administration. Founded in 1921 as a janitors’ union, the SEIU slowly transformed itself into a labor group representing government and health-care workers—especially health-care workers paid by government medical programs like Medicaid. In 1984, the California State Employees Association, which represented many state workers, decided to affiliate with the SEIU. Today, the SEIU represents 700,000 California workers—more than a third of its nationwide membership. Of those, 350,000 are government employees: noninstructional workers in schools across the state; all non-public-safety workers in California’s burgeoning prisons; 2,000 doctors, mostly residents and interns, at state-run hospitals; and many others at the local, county, and state levels.

The SEIU’s rise in California illustrates again how modern labor’s biggest victories take place in back rooms, not on picket lines. In the late 1980s, the SEIU began eyeing a big jackpot: tens of thousands of home health-care workers being paid by California’s county-run Medicaid programs. The SEIU initiated a long legal effort to have those workers, who were independent contractors, declared government employees. When the courts finally agreed, the union went about organizing them—an easy task because governments rarely contest organizing campaigns, not wanting to seem anti-worker. The SEIU’s biggest victory was winning representation for 74,000 home health-care workers in Los Angeles County, the largest single organizing drive since the United Auto Workers unionized General Motors in 1937. Taxpayers paid a steep price: home health-care costs became the fastest-growing part of the Los Angeles County budget after the SEIU bargained for higher wages and benefits for these new recruits. The SEIU also organized home health-care workers in several other counties, reaching a whopping statewide total of 130,000 new members.

The SEIU’s California numbers have given it extraordinary resources to pour into political campaigns. The union’s major locals contributed a hefty $20 million in 2005 to defeat a series of initiatives to cap government growth and rein in union power. The SEIU has also spent millions over the years on initiatives to increase taxes, sometimes failing but on other occasions succeeding, as with a 2004 measure to impose a millionaires’ tax to finance more mental-health spending. With an overflowing war chest and hundreds of thousands of foot soldiers, the SEIU has been instrumental in getting local governments to pass living-wage laws in several California cities, including Los Angeles and San Francisco. And the union has also used its muscle in campaigns largely out of the public eye, as in 2003, when it pressured the board of CalPERS, the giant California public-employee pension fund, to stop investing in companies that outsourced government jobs to private contractors.

Illustration by Sean Delonas.

Armed with knowledge about California’s three public-union heavyweights, one can start to understand how the state found itself in its nightmarish fiscal situation. The beginning of the end was the 1998 gubernatorial election, in which the unions bet their future—and millions of dollars in members’ dues—on Gray Davis. The candidate traveled to the SEIU’s headquarters to remind it of his support during earlier battles against GOP governors (“Nobody in this race has done anywhere near as much as I have for SEIU”); the union responded by pumping $600,000 into his campaign. Declaring himself the “education candidate” who would expand funding of public education, Davis received $1.2 million from the CTA. Added to this was Davis’s success in winning away from Republicans key public-safety endorsements—and millions in contributions—from the likes of the CCPOA.

Davis’s subsequent victory over Republican Dan Lungren afforded public-worker unions a unique opportunity to cash in the IOUs that they had accumulated, because Davis’s Democratic Party also controlled the state legislature. What followed was a series of breathtaking deals that left California state and municipal governments careening from one budget crisis to another for the next decade.

Perhaps the most costly was far-reaching 1999 legislation that wildly increased pension benefits for state employees. It included an unprecedented retroactive cost-of-living adjustment for the already retired and a phaseout of a cheaper pension plan that Governor Wilson had instituted in 1991. The deal also granted public-safety workers the right to retire at 50 with 90 percent of their salaries. To justify the incredible enhancements, Davis and the legislature turned to CalPERS, whose board was stocked with members who were either union reps or appointed by state officials who themselves were elected with union help. The CalPERS board, which had lobbied for the pension bill, issued a preposterous opinion that the state could provide the new benefits mostly out of the pension systems’ existing surplus and future stock-market gains. Most California municipalities soon followed the state enhancements for their own pension deals.

When the stock market slid in 2000, state and local governments got slammed with enormous bills for pension benefits. The state’s annual share, estimated by CalPERS back in 1999 to be only a few hundred million dollars, reached $3 billion by 2010. Counties and municipalities were no better off. Orange County’s retirement system saw its payouts to retirees jump to $410 million a year by 2009, from $140 million a decade ago. Many legislators who had voted for the pension legislation (including all but seven Republicans) later claimed that they’d had no idea that its fiscal impact would be so devastating. They had swallowed the rosy CalPERS projections even though they knew very well that the board was, as one county budget chief put it, “the fox in the henhouse.”

The second budget-busting deal of the Davis era was the work of the teachers’ union. In 2000, the CTA began lobbying to have a chunk of the state’s budget surplus devoted to education. In a massive rally in Sacramento, thousands of teachers gathered on the steps of the capitol, some chanting for TV cameras, “We want money! We want money!” Behind the scenes, Davis kept up running negotiations with the union over just how big the pot should be. “While you were on your way to Sacramento, I was driving there the evening of May 7, and the governor and I talked three times on my cell phone,” CTA president Wayne Johnson later boasted to members. “The first call was just general conversation. The second call, he had an offer of $1.2 billion. . . . On the third call, he upped the ante to $1.5 billion.” Finally, in meetings, both sides agreed on $1.84 billion. As Sacramento Bee columnist Dan Walters later observed, that deal didn’t merely help blow the state’s surplus; it also locked in higher baseline spending for education. The result: “When revenues returned to normal, the state faced a deficit that eventually not only cost Davis his governorship in 2003 but has plagued his successor, Arnold Schwarzenegger.”

Having wielded so much power effortlessly, the unions miscalculated the antitax, anti-Davis sentiment that erupted when, shortly after his autumn 2002 reelection, Davis announced that the state faced a massive deficit. The budget surprise spurred an enormous effort to recall Davis, which the unions worked to defeat, with the SEIU spending $2 million. At the same time, union leaders used their influence in the Democratic Party to try to save Davis, telling other Democrats that they would receive no union support if they abandoned the governor. “If you betray us, we won’t forget it,” the head of the 800,000-member Los Angeles County Federation of Labor proclaimed to Democrats. Only when it became apparent from polls that the recall would succeed did the unions shift their support to Lieutenant Governor Cruz Bustamante, who finished a distant second to Schwarzenegger. Taxpayer groups were euphoric.

But as they and Schwarzenegger soon discovered, most of California’s government machinery remained union-controlled—especially the Democratic state legislature, which blocked long-term reform. Frustrated, Schwarzenegger backed a series of 2005 initiatives sponsored by taxpayer groups to curb the unions and restrain government growth, including one that made it harder for public-employee unions to use members’ dues for political purposes. The controversial proposals sparked the most expensive statewide election in American history. Advocacy groups and businesses spent a staggering $300 million (some of it, however, coming from drug companies trying to head off an unrelated initiative). The spending spree included $57 million from the CTA, which mortgaged its Sacramento headquarters for the cause. All of the initiatives went down to defeat.

California taxpayers nevertheless received a brief respite, thanks to the mid-decade housing boom that drove the economy and tax collections higher and momentarily eased the state’s budget crisis. Predictably, state politicians forgot California’s Davis-era deficit woes and gobbled up the surpluses, increasing spending by 32 percent, or $34 billion, in four years. Then the housing market crashed in 2007, prompting a cascade of budget crises in Sacramento and around the state. Only too late have Californians recognized the true magnitude of their fiscal problems, including a $21 billion deficit by mid-2009 that forced the state to issue IOUs when it temporarily ran out of cash. In the municipal bond market, fears are rising that the Golden State could actually default on its debt.

Municipalities around the state are also buckling under massive labor costs. One city, Vallejo, has already filed for bankruptcy to get out from under onerous employee salaries and pension obligations. (To stop other cities from going this route, unions are promoting a new law to make it harder for municipalities to declare bankruptcy.) Other local California governments, big and small, are nearing disaster. The city of Orange, with a budget of just $88 million in 2009, spent $13 million of it on pensions and expects that figure to rise to $23 million in just three years. Contra Costa’s pension costs rose from $70 million in 2000 to $200 million by the end of the decade, producing a budget crisis. Los Angeles, where payroll constitutes nearly half the city’s $7 billion budget, faces budget shortfalls of hundreds of millions of dollars next year, projected to grow to $1 billion annually in several years. In October 2007, even as it was clear that the area’s housing economy was crashing, city officials had handed out 23 percent raises over a five-year period to workers. (See the sidebars on pages 22 and 26.)

In the past, California could always rely on a rebounding economy to save it from its budgetary excesses. But these days, few view the state as the land of opportunity. Throughout the national recession that began in December 2008 and carried through 2009, California’s unemployment rate consistently ran several points higher than the national rate. Major California companies like Google and Intel have chosen to expand elsewhere, not in their home state. Put off by the high taxes and cumbersome regulatory regime that the public-sector cartel has led the way in foisting on the state, executives now view California as a noxious business environment. In a 2008 survey by a consulting group, Development Counsellors International, business executives rated California the state where they were least likely to locate new operations.

More and more California taxpayers are realizing how stacked the system is against them, and the first stirrings of revolt are breaking out. Voters defeated a series of ballot initiatives last May that would have allowed politicians to solve the state budget crisis temporarily through a series of questionable gimmicks, including one to let the state borrow against future lottery receipts and another to let it plug budget holes with money diverted from a mental-health services fund. In a clear message from voters, the only proposition to gain approval last May banned pay raises for legislators during periods of budget deficit.

With anger rising, taxpayer advocates now plan to revive older initiatives to cut the power of public-sector unions. Mark Bucher, head of the Citizens Power Campaign, is pushing for an initiative that’s similar to propositions that failed in 1998 and in 2005—but their prospects may be brighter today, he argues, because the woes of municipalities like Vallejo have made citizens more aware of union power and more supportive of reform. “The mood has clearly shifted in California,” Bucher says. “You can see that in the rise of local Tea Party antitax groups around the state. People are fed up.”

Another initiative that could mend California’s broken politics is a 2008 vote that took the power to delineate electoral districts away from the state legislature—which had used it to make it difficult to defeat incumbents—and gave it to a nonpartisan commission. If this commission succeeds in making legislative races more competitive and incumbents more responsive to voter sentiment, the legislature would almost certainly become less beholden to narrow union interests, and a whole series of reforms would be possible: a new, cheaper pension plan for state employees; fewer restrictions on charter schools, which often educate kids more effectively and less expensively than public schools do; and regulatory reforms that would reduce the estimated $493 billion cost that regulations impose on California businesses each year.

It will take an enormous effort to roll back decades of political and economic gains by government unions. But the status quo is unsustainable. And at long last, Californians are beginning to understand the connection between that status quo and the corruption at the heart of their politics.

Steven Malanga is the senior editor of City Journal and a senior fellow at the Manhattan Institute. He is the author of The New New Left. Research for his article was supported by the Arthur N. Rupe Foundation.

2036) Reversao da adesao ao TNP?: uma revisao dos argumentos contrarios ao tratado

Dou aqui o devido destaque a um comentário recém postado no post precedente, sobre as posições brasileiras em matéria de política nuclear e em relação ao Tratado de Nao-Proliferação Nuclear, que alguns irredentistas jamais aceitaram; aliás, eles consideram ter sido erro, quem sabe uma "traição à Pátria", a decisão de aderir e de ratificá-lo.

Paulo Araújo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "2035) Advocacia diplomatica: pagando, fazemos qual...":

Caro

Relembrando, a ratificação do TNP aprovada no Senado em 1998 teve os votos favoráveis do PT. Em reunião da ESG em 2002, Lula afirmou a inflexão ao fazer publicamente seu primeiro ataque ao TNP. Hoje, a inflexão de 2002 firmou-se como doutrina de governo. E isso é grave.

Rememorando o que disseram alguns militares da reserva, todos vinculados ao golpe de 64 e à ditadura e contrários ao TNP, sobre a ratificação do TNP pelos “vira-latas” de 1998. Antes, algumas declarações mais recentes.

Nós temos de ter no Brasil a possibilidade futura de, se o Estado assim entender, desenvolver um artefato nuclear. Não podemos ficar alheios à realidade do mundo.” (general de Exército José Benedito de Barros Moreira. ESP, 16/11/2007)
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/general-defende-que-brasil-tenha-bomba-atomica/

Em um artigo de 2004, o Vice-Almirante da Reserva Othon L.P. da Silva expressou com todas as letras a crítica que é comum no núcleo Stangelove (personagem de um filme de Kubrick):
No governo Fernando Henrique, contrariando décadas de coerência em política externa, o Brasil aceitou ratificar o TNP - Tratado de Não Proliferação nuclear.”
http://ecen.com/eee44/eee44p/inpecoes_nucleares_othon.htm

Compare-se a crítica acima com o que os contrariados disseram em 1998, em reportagem da FSP de 10/06/1998:
Os militares da ativa não falam por saber que estariam confrontando a política oficial do governo. Os da reserva falam e não têm dúvida: o Brasil comete um erro ao ratificar o TNP (Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares). [...]

"A ratificação desse acordo é o golpe de misericórdia na possibilidade de o Brasil liderar uma proposta que trate de forma igual todos os arsenais nucleares", disse o brigadeiro Ivan Frota.

"Dá para ver que a assinatura do TNP é uma papagaiada. E o mais grave é que o tratado quebra a tradição de um país jamais aceitar em acordos internacionais cláusulas discriminatórias", Bernardino Pontes, ex-comandante da Marinha
htt.p://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft10069802.htm

Em 2002, Lula anuncia a inflexão ao atacar o TNP. O que declarou em 2002 constitui hoje uma doutrina governamental. Isto é, o atual governo é hoje sem dúvida nenhuma um aliado estratégico dos antigos bombistas. É preciso levar a sério a recusa do governo do brasileiro em assinar o Protocolo do TNP. As metáforas de 2002 reativadas por Lula em 2010 expressam indiscutivelmente posição favorável do atual governo à pesquisa nuclear para fins bélicos.

Em 13/09/2002, o candidato Lula criticou a ratificação do TNP. Há quem diga que foi só bravataria, retórica eleitoral oportunista. É? Quantos mil milhares (10.000.000 ?) de votos renderia agradar essa distinta plateia? Sendo bonzinho, talvez uns 20.0000 ou, exagerando, uns 100.0000 votos, se tanto.

Cito abaixo reportagem da FSP, de 14/09/2002. Nessas declarações de Lula, a origem das retóricas do estilingue e da “falta de moral”, reativadas agora por Lula et caterva. Em reunião organizada pela ESG com 160 militares da ativa, ex-ministros e militares da reserva:

"Só teria sentido esse tratado se todos os países que já detêm [armas nucleares" abrissem mão das suas. Ora, por que um cidadão pede para eu me desarmar, para ficar com um estilingue, enquanto ele fica com um canhão para cima de mim? Qual a vantagem que levo? O Brasil só vai ser respeitado no mundo quando for forte econômica, tecnológica e militarmente" [...] Por que só os países em desenvolvimento têm de ficar com um estilingue?". [Lula]

"Disse exatamente o que eu esperava. Foi claro nas propostas." [Leônidas P. Gonçalves].

Seis ex-ministros do regime militar participaram do encontro: Aureliano Chaves (Minas e Energia e vice-presidente de 1979 a 1985), Alfredo Karam (Marinha), Carlos Tinoco (Exército), Leônidas Pires Gonçalves (Exército), Ivan Mendes (Serviço Nacional de Informações) e Gibson Barbosa (Relações Exteriores).
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1409200212.htm

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Postado por paulo araújo no blog Diplomatizzando... em Domingo, Abril 18, 2010 5:31:00 PM

Dixit...
Sem comentários
Paulo Roberto de Almeida
(Lanzhou, 19.04.2010)

2035) Advocacia diplomatica: pagando, fazemos qualquer servico...

...ou talvez até sem pagamento, assim entre amigos, na base da simpatia...
As relações Brasil- Irã estão chegando ao ponto G, de ótimo, obviamente...

O advogado de Ahmadinejad
Editorial
O Estado de São Paulo, 18.04.2010

Se cobrasse honorários por desempenho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia apresentar uma alentada fatura ao seu homólogo iraniano Mahmoud Ahmadinejad pelos extenuantes serviços de advocacia que lhe prestou nos últimos dias. Desacreditando a própria versão oficial de que a intenção do governo brasileiro era mediar o conflito sobre o programa nuclear do Irã, Lula se comportou como patrono de Teerã nas suas reuniões bilaterais com os líderes estrangeiros vindos a Brasília para dois encontros de cúpula: o do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e o do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).

O chinês Hu Jintao, o indiano Manmohan Singh, o russo Dmitri Medvedev e o sul-africano Jacob Zuma ouviram dele o que ouviriam de Ahmadinejad: que a adoção, pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU, de uma nova rodada de sanções contra o Irã, buscada pelos Estados Unidos e a União Europeia, seria inútil ou contraproducente, e que o diálogo é a única via para o país prosseguir com o programa nuclear a que tem direito e a comunidade internacional se convencer dos seus fins pacíficos. Na véspera, de volta da Cúpula de Segurança Nuclear, em Washington, Lula já havia criticado abertamente o presidente Obama.

“O que acho grave é que ele até agora não conversou com o Irã”, acusou. Na realidade, o sexteto formado pelos EUA, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Rússia e China vinha conversando intermitentemente com a República Islâmica, sem resultados. Lula, que visitará Teerã daqui a um mês, temperou a sua defesa da posição iraniana com o reparo de que o país “tem de ser mais transparente para mostrar que a finalidade de seu programa é pacífica”. Pelo visto, ele acredita nas intenções declaradas do Irã: o problema estaria apenas na sua opacidade. Como se isso não fosse indício veemente de seus planos para, no mínimo, chegar ao limiar da produção da bomba.

Lula tem afirmado que em 2003 o mundo foi induzido a crer que o Iraque tinha armas de destruição em massa - e que isso não pode se repetir com o Irã. O fato é que Saddam agia como se as tivesse, ao passo que Ahmadinejad age como se não quisesse tê-las. Lula também anunciou que falará “olho no olho” com Ahmadinejad “e, se ele disser que vai construir (a bomba), vai arcar com as consequências do seu gesto”. Só mesmo a sideral soberba do presidente para levá-lo a imaginar que o seu anfitrião poderá se confessar com ele. Saindo do terreno da galhofa, o que o Brasil propõe é ressuscitar as negociações sobre a troca de urânio iraniano enriquecido a 3% pelo equivalente russo e francês de 20% de teor, para a produção de isótopos de uso medicinal.

A ideia, discutida em outubro passado na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), visava a reduzir os estoques iranianos de material passível de enriquecimento a 90%, necessário para a bomba. A tentativa de testar a boa-fé do Irã gorou quando Ahmadinejad exigiu que a troca fosse simultânea, o que a tornaria inócua para o objetivo desejado.

Foi a gota d’água para os Estados Unidos passarem a dar prioridade às sanções. Assim como as 3 anteriores, desde 2006, elas resultam das trapaças do Irã com a AIEA, sonegando informações requeridas e ocultando instalações e equipamentos sensíveis.

O retrospecto, é bem verdade, indica que as punições de nada serviram - ou porque saíram aguadas do Conselho de Segurança, sobretudo por obra da China, ou porque foram desrespeitadas até por empresas americanas. É incerto o efeito das próximas, se e quando forem aprovadas. Se forem robustas e receberem maciço apoio internacional, talvez levem os iranianos de volta à mesa, para uma negociação que poderia ser muito mais abrangente, como propõem especialistas em Oriente Médio e diplomatas - desde que o Irã deixe de pregar a destruição de Israel. A questão-chave é a posição da China, que mantém as suas cartas perto demais do peito para permitir prognósticos seguros do seu jogo.

Pequim reluta em punir o Irã que lhe vende 12% do seu petróleo e gás. Mas teria concordado em ao menos discutir as sanções com os outros membros do CS. Eis uma atitude mais madura - ou mais esperta - do que a do Brasil, advogando para Teerã.

2034) A diplomacia que diz nao: "agora nos podemos..."

Tem gente que se orgulha em dizer não ao Império, talvez por coragem, macheza, temeridade, whatever...
De fato, é uma demonstração de independência, até de soberba e arrogância.
A menos que seja de outra coisa, cujo nome me escapa, exatamente...

A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama
Por Paulo Sotero (*)
Estado de São Paulo, 18.04.2010:

As diferenças cada vez mais evidentes entre o Brasil e os Estados Unidos sobre como proceder para convencer o Irã a honrar suas obrigações de signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear contêm os ingredientes para transformar-se numa “crise real nas relações entre os dois países, com consequências nocivas que levarão anos para serem revertidas”, disse um funcionário do governo Obama, após a conclusão da Cúpula sobre Segurança Nuclear, em Washington, na semana passada. O desencontro de posições levou a Casa Branca a tirar o Brasil do roteiro preliminar de viagens internacionais do presidente Barack Obama em 2011, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o líder iraniano em Brasília, no final do ano passado.

As coisas só pioraram desde então. “A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama; não se trata de divergências como as do algodão ou a crise em Honduras, que podem ser tratadas em compartimento próprio, sem contaminar a relação.”

Na mesma linha, assessores legislativos manifestaram-se perplexos com o que um deles chamou de “a gratuidade” de certos gestos do Brasil, como o desprezo com que Lula referiu-se, em entrevista ao jornal espanhol El País publicada na véspera da cúpula, ao acordo de redução do arsenal de armas atômicas alcançado entre os EUA e a Rússia - o primeiro do gênero em duas décadas.

Ninguém entende tampouco em Washington a motivação do Brasil para assumir o papel de padrinho global do regime do iraniano na questão nuclear ou consegue vislumbrar o interesse brasileiro atendido por essa estratégia. “O Brasil entrou num jogo de altíssimo risco, no qual não tem fichas nem assento à mesa e suas chances de influir no desfecho são inexistentes”, disse uma fonte do governo. “Todos reconhecem o talento político de Lula, mas esse caso exige um milagre.”

O milagre provavelmente renderia o Prêmio Nobel da Paz a Lula em dezembro. Há quem acredite que esta seja a motivação do líder brasileiro. O pesadelo, considerado muito mais provável, pode começar no decorrer dos próximos 30 dias. Nesse período, Washington intensificará as negociações já iniciadas com os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com vistas à adoção de novas sanções para forçar Teerã a negociar.

Reconsideração. Paralelamente, estará ocorrendo em Nova York a conferência quinquenal de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Finalmente, dia 16 , Lula chegará a Teerã para retribuir a visita que lhe fez em novembro o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. A esperança nos círculos oficiais em Washington é que Lula reconsidere a visita a Teerã e some o Brasil ao crescente consenso em favor de mais pressão sobre o Irã, que conta agora com a participação da China e da Rússia. Preocupados em não dar pretexto para Brasília passar a impressão de que sua posição em relação ao Irã contaria com o respaldo da Casa Branca, como ocorreu após a visita do líder iraniano ao Brasil, funcionários do governo dos EUA desestimularam uma solicitação de encontro entre Lula e Obama. Na rápida conversa que acabou ocorrendo - durante uma breve reunião entre Obama e o premiê da Turquia, Recep Erdogan -, houve tempo apenas para Lula ouvir o rechaço de Obama ao seu pedido de mais tempo a uma solução negociada da questão nuclear com Teerã.

O quadro adverso que agora se desenha na relação bilateral era uma hipótese na cabeça do embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, nos dias que antecederam sua partida de Washington, em fevereiro. “Os esforços das diplomacias do EUA, do Brasil e de outros países em relação ao programa nuclear do Irã serão julgadas não pelos processos usados, mas pelo resultado”, disse Shannon na época. O resultado que pode desarmar a crise requer, obviamente, uma dramática volta atrás por parte do Irã, que não parece ser contemplada nos cálculos de Ahmadinejad.

Os danos, no entanto, começam a aparecer. O pouco caso de Lula ao acordo sobre desarmamento entre os EUA e a Rússia custará a antipatia ao Brasil do senador Richard Lugar, republicano de Indiana e um dos defensores do tratado no Congresso, que era, até recentemente, um político empenhado em ampliar a cooperação entre os dois países, principalmente na área de energia renovável.

A declaração que o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, fez em Teerã sobre a disposição do Brasil cooperar com o Irã na produção e fornecimento de biocombustíveis foi instantaneamente reproduzida por boletins eletrônicos e blogs voltados para a indústria do etanol de milho nos estados do Meio-Oeste e, com toda probabilidade, virará munição para a defesa dos subsídios ao setor e ataques contra o etanol brasileiro.

Há, por fim, o momento escolhido para a visita da missão comercial brasileira a Teerã, ou seja, durante cúpula convocada pelo presidente americano. Ele foi recebido como uma provocação por setores do Executivo e do Legislativo - uma provocação desnecessária que deve ficar sem resposta, para sublinhar a disposição do governo Obama em relação ao Brasil nesses meses finais do governo Lula.

(*) É jornalista e analista ao Woodrow Wilson International Center For Scholars, em Washington

2033) A diplomacia da Igreja Evangelica (ou quase...)

O bispo Lula e a polícia
Diogo Mainardi
Revista Veja, 21/04/2101

O presidente Lula conduz o Itamaraty da mesma maneira que o bispo Romualdo conduz a Igreja Universal. Os dois recomendaram procurar os bandidos nas cadeias e negociar diretamente com eles, dizendo: “Pô, a gente está fazendo um trabalho tão bacana. Pô, todo mundo armado. Pô, a gente é companheiro ou não é?”.

O bispo Romualdo, de acordo com a Folha de S.Paulo, resumiu candidamente o espírito desse seu empenho diplomático bilateral: “Nosso problema não é o bandido, nosso problema é a polícia”. É o que Lula tem repetido insistentemente nos últimos anos, em todos os encontros internacionais. Ele recomenda procurar os bandidos em suas cadeias e negociar diretamente com eles. Porque o problema, segundo Lula, não é o bandido de Cuba, o bandido de Gaza, o bandido da Coreia do Norte, o bandido da Guiné Equatorial, o bandido da Venezuela - o problema é a polícia.

Em 16 de maio, o bispo Lula emulará o presidente Romualdo e dará o passo mais ruinoso de sua carreira. Ele procurará Mahmoud Ahmadinejad em sua cadeia iraniana e negociará com ele “olho no olho”, prometendo ajudá-lo a escapar da polícia dos Estados Unidos e da Europa. Lula retribui assim a visita de Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil, no fim do ano passado. Um de seus acompanhantes naquela visita foi Esmail Ghaani, que entrou anonimamente no país. Ele era comandante interino das Forças Quds, a unidade de elite da Guarda Revolucionária iraniana. A caminho do Brasil, Mahmoud Ahmadinejad e Esmail Ghaani fizeram uma escala no Senegal. O jornal Al Qanat, publicado no Líbano, em árabe, relatou que Esmail Ghaani usou sua passagem por Dacar para adquirir uma série de docas no porto local, em nome da companhia de fachada IRISL. Nessas docas, a Guarda Revolucionária iraniana pretende armazenar os produtos triangulados da América Latina, a fim de furar o bloqueio comercial imposto pela ONU.

O contrabando é apenas uma das bandidagens praticadas pelas Forças Quds. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos denunciou-as por treinar, financiar e armar terroristas. O chefe de Esmail Ghaani, Qassem Suleimani, foi punido pela ONU, que congelou seus bens. A Europa acusou a Guarda Revolucionária de comandar o programa nuclear iraniano e passou a perseguir seu conglomerado de empresas por “proliferação de armas de destruição em massa”.

O que Esmail Ghaani fez no Brasil? Com quem ele se encontrou? Empresas nacionais negociaram com as empresas de fachada das Forças Quds? Para Lula, nenhuma dessas perguntas importa. Afinal, a gente é companheiro ou não é? Olho no olho com Mahmoud Ahmadinejad, em maio, Lula poderá dizer mais uma vez: “Nosso problema não é o bandido, nosso problema é a polícia”. Pô.

2032) Gincana diplomatica: tem quem goste...

A expressão é do Estadão, neste editorial, aliás, em todos, sempre cáusticos...

Só uma gincana diplomática
Editorial
O Estado de S. Paulo, Sábado, 17 de abril de 2010

Sobraram palavras e faltou conteúdo econômico e político nos comunicados e acordos firmados em Brasília, numa gincana diplomática, pelos chefes de governo do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul). Foi preciso comprimir os dois eventos na quinta-feira, porque o presidente chinês, Hu Jintao, teve de antecipar a volta a Pequim por causa do terremoto em seu país. O presidente Lula, como se previa, foi quem mais demonstrou entusiasmo em relação aos dois encontros. A consequência prática mais importante da conferência do Ibas foi um acordo para o lançamento de dois satélites de estudo climático. A declaração dos governantes do Bric não foi além de generalidades sobre o papel do Grupo dos 20 (G-20) e a ordem global em transformação.

A papelada mais extensa foi dedicada a um Plano de Ação Conjunta de brasileiros e chineses para o período 2010-2014. O plano inclui, entre outras ideias criativas, a promoção do intercâmbio e da cooperação entre os partidos das duas partes. O intercâmbio poderá ser instrutivo, mas desequilibrado, já que na China só existe um partido.

O comunicado do Bric contém uma convocação ao G-20 para formular uma estratégia coerente para o pós-crise, reafirma a solidariedade dos quatro governos ao Haiti, defende o diálogo entre civilizações, culturas, religiões e povos e anuncia o compromisso - cobrado igualmente de todos os Estados - de resistir a todas as formas de protecionismo comercial e combater restrições disfarçadas ao comércio.

Nenhum dos quatro países deixou de recorrer a barreiras e a outras formas de intervenção, desde o agravamento da crise, em 2008, e um deles é acusado por meio mundo de competir deslealmente, mantendo sua moeda desvalorizada (o yuan), e de prática habitual de dumping. Câmbio depreciado e práticas pouco transparentes de comércio têm sido apontados como fatores importantes para a conquista chinesa de mercados na América Latina. Parte desse avanço foi realizada à custa da indústria brasileira.

Mas, de acordo com o Plano de Ação Conjunta, as duas partes verão positivamente o engajamento de cada uma na cooperação com sua própria região. Além disso, apoiarão as trocas e cooperações entre a Ásia e a América Latina e o Caribe. Quem lê esse texto e desconhece os fatos pode até pensar num quadro de relações equilibradas e de competição equitativa. Quem sabe das coisas é tentado a repetir Nelson Rodrigues: há quem goste de apanhar. Mas Nelson Rodrigues, por machismo, dizia isso das mulheres, não dos governos.

Nas áreas de investimento e de comércio, a maior parte do plano se refere a ações interessantes principalmente para a China. Quando se menciona a cooperação nas áreas de energia, mineração, desenvolvimento, financiamento, serviços de engenharia e equipamento, os interesses facilmente identificáveis são os chineses.

Se a Petrobrás descobrir e explorar petróleo ou gás na China, o produto será destinado ao uso local. Se companhias chinesas participarem da mineração no Brasil, será para abastecer seu país. Não há nenhum crime nisso. Mas falta saber como isso afetará, por exemplo, a formação de preços no comércio bilateral. A mesma dúvida é justificável quando se fala sobre possíveis investimentos chineses na produção agrícola no Brasil. Para os chineses, Brasil e África não diferem muito nesse aspecto.

O plano abre caminho para a liberação das exportações de carne para a China, mas isso ainda vai depender de procedimentos técnicos e burocráticos sem prazo definido. É um passo positivo, mas muito modesto, quando se considera o circo armado pelo governo brasileiro para a visita do presidente chinês.

Segundo o documento, os Ministérios de Relações Exteriores dos dois países fortalecerão o diálogo para intensificar a confiança política mútua e ampliar a visão estratégica comum. Pelo menos essa passagem é quase realista: por enquanto, a estratégia comum existe nos discursos do presidente Lula. Na estratégia chinesa de médio e de longo prazos, o Brasil é sobretudo um fornecedor de matérias-primas e bens intermediários e, é claro, um grande e promissor mercado. O resto são devaneios de ficção diplomática que incluem até diálogo sobre direitos humanos.

2031) Reagindo contra a manipulaçao cambial

Imaginemos, por um momento, que a manipulacao do dolar, pelos americanos, estivesse provocando perdas comerciais e perdas de empregos, no Brasil; o que faria então a nossa diplomacia?
Isto é apenas uma hipótese, claro, uma especulação intelectual...
Paulo Roberto de Almeida


Reunião dos Bric ignora câmbio chinês
Alex Ribeiro
Valor Econômico, Sexta-feira, 16 de abril de 2010

A subvalorização da moeda chinesa provoca a perda de milhares de empregos industriais no Brasil, mas esse não foi um tema relevante na pauta da reunião de cúpula dos Bric, que trouxe ontem a Brasília o presidente Hu Jintao.

Esta semana, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve aqui em Washington para participar de uma reunião de cúpula de segurança nuclear. Foi uma oportunidade para questionar se o Brasil pretende fazer algo a respeito da manipulação do câmbio chinês.

Claro, mas talvez não com essas palavras, respondeu Amorim, rejeitando a expressão manipulação do câmbio, muito usada pelos industriais e sindicalistas americanos para designar a desvalorização artificial do yuan, a moeda chinesa. O Congresso dos Estados Unidos ameaça retaliar a China com tarifas mais altas, mas o Brasil prefere levar o assunto na base da negociação. Cada um tem sua maneira de agir, diz o ministro. A gente prefere mostrar como foi bom para o Brasil a experiência de câmbio flutuante, como isso ajudou também a combater a inflação.

Muito realista, o ministro acha que os chineses, por si só e para atender pressões de sua própria economia interna, terão que valorizar o câmbio mais cedo ou mais tarde. A China cresce rápido demais, e uma taxa de câmbio mais valorizada pode ajudar a conter pressões inflacionárias.

O câmbio subvalorizado da China faz com que o Brasil exporte menos produtos industrializados ao país asiático e se especialize em produtos básicos, além de sofrer a concorrência desleal de produtos chineses no mercado interno e também no comércio com outros países que compravam nossos bens manufaturados, como nossos vizinhos da América do Sul.

Também não é assim, protesta Amorim. Não dá para dizer que o Brasil virou um celeiro de commodities . Exportamos aviões, temos os investimentos da Marcopolo na China... Mas ele reconhece que é preciso avançar na diversificação da pauta de exportações para a China, já que, em sua opinião, o volume de negócios dos negócios com a China é adequado.

Nos Estados Unidos, a manipulação do câmbio pelos chineses é o mais importante tema da agenda econômica internacional. Alguns cálculos apontam que ele leva a uma perda de cerca de 2,5 milhões de empregos industriais. Há muita pressão da opinião pública para que o Departamento do Tesouro declare que a China manipula a moeda, e parlamentares apresentaram projetos de lei que permitem subir tarifas de importações de produtos chineses.

A China deu os primeiros sinais de que pode valorizar um pouco sua moeda, algo como 3% neste ano, percentual que talvez seja muito tímido para acalmar a opinião publica americana. Usando diferentes metodologias, os economistas calculam que a subvalorização do câmbio chinês em relação ao dólar esteja entre 20% e 40%.

No Brasil, surpreende que o assunto não tenha maior relevância. O Peterson Institute, um influente centro de estudos de Washington, calcula que o yuan esteja 40,7% subalorizado em relação ao dólar. Já o real brasileiro estaria valorizado em 15,7% em relação ao dólar. Tudo somado, o yuan estaria mais do que 50% subvalorizado em relação à nossa moeda.

Depois da crise financeira internacional, os Estados Unidos estão corrigindo um pouco de seu déficit externo e, porque a moeda chinesa é mantida artificialmente desvalorizada, o Brasil acaba sofrendo mais. A carga do ajuste da moeda americana, que deveria ser dividida com os chineses, está sendo carregada por países com taxas de câmbio flexível, como o Brasil. Visto de outra forma: os americanos estão consumido menos e exportando mais. Como os chineses impõem uma barreira cambial às exportações americanas, os Estados Unidos fazem seu ajuste externo despejando uma carga maior de produtos no Brasil.

Os prejuízos causados pelos chineses ao Brasil são um pouco obscurecidos pelo fato de que a nossa própria taxa de câmbio está sobrevalorizada. O real sobrevalorizado é um erro, que deveria ser corrigido com um aperto fiscal, mas um erro não justifica o outro.

Ironicamente, uma eventual apreciação do câmbio chinês significará, para o Brasil, uma taxa de câmbio ainda mais apreciada. Com uma moeda mais forte, a China ampliará a demanda por commodities exportadas pelo Brasil. Também permitirá à industria brasileira competir com os chineses com um pouco mais de igualdade tanto no nosso mercado interno como em outros mercados no exterior. A combinação desses dois fatores é o aumento dos dólares disponíveis no nosso mercado de câmbio, que levariam ao um real ainda mais forte.

Se é para ter um câmbio ainda mais apreciado, vale a pena o Brasil brigar por um câmbio chinês mais justo? Claro que sim. Hoje, a apreciação do câmbio é causada sobretudo pelo fluxo de capitais estrangeiros ao país. Mas o Brasil registra déficit em conta corrente, estimado em US$ 50 bilhões pelo mercado para este ano, e em US$ 60 bilhões no ano que vem. Se os chineses deixarem de manipular sua moeda, esse déficit tende a diminuir, deixando a nossa economia menos vulnerável a paradas súbitas no fluxo de capitais.

Com tantos interesses estratégicos em jogo em torno da moeda chinesa, é irônico que o principal assunto da agenda econômica na reunião com os Bric foram os mecanismos para substituir o dólar como moeda nas transações de países do grupo. Por enquanto, a ideia é apenas desenvolver os sistemas de pagamento em moedas locais, mas no longo prazo há a ambição de substituir o dólar como principal moeda de reserva internacional. Não há dúvida que, em algum momento, será adequado achar uma moeda mais estável e mais sólida do que o dólar para lastrear as relações econômicas internacionais. Mas é improvável que a solução vá nascer de entendimentos com um país que manipula sua própria moeda para tomar empregos de outras economias.

Alex Ribeiro é correspondente em Washington. A titular da coluna, Claudia Safatle, não escreve hoje excepcionalmente

E-mail: alex.ribeiro@valor.com.br

2030) Brasilia: cidada da gastanca irresponsavel

Poderosos gostam de viver em palácios, isso é conhecido desde a mais remota antiguidade. Geralmente se usavam escravos, na Antiguidade clássica, depois foi preciso recorrer a servos, e nos tempos recentes, burgueses e aristocratas tiveram de apelar ao seu próprio dinheiro para satisfazerem seus sonhos de luxo e ostentação.
O Brasil não tem escravos oficiais, apenas contribuintes amestrados, e totalmente passivos, que aceitam o tipo de ostentação nababesca que os novos magnatas impõem à sociedade.
Paulo Roberto de Almeida

Sede do TSE terá 115.500 m² para sete ministros
Coluna de Claudio Humberto
Brasilia, 16.04.2010

Uma obra pública estimada em R$ 328,5 milhões provoca indignação e perplexidade até em Brasília, cidade habituada a escândalos e extravagâncias: a nova sede do Tribunal Superior Eleitoral terá 115.500 metros quadrados de luxo e conforto para que sete ministros atuem, a rigor, apenas quando há eleições.
Advogados experientes atestam: a atual sede do TSE atende perfeitamente as necessidades do serviço."
Um escândalo!!!!!
Iniciado por S. Exª o Min. Marco Aurélio, o que significa que nesta província, chamada Brasília, sorve-se dinheiro público sem que a população fique sabendo. Esta província é um museu de Palácios para alimentar a vaidade dos parasitas que neles se encastelam.

2029) Tribulacoes da nova diplomacia financeira do Brasil...

Criando problemas onde eles não existiam. A demissão pelo representante brasileiro no FMI, com laivos de humilhação (ordem de evacuar os locais em 24 horas, por exemplo), da representante colombiana no FMI (que não deve sua nomeação a ele, e sim ao governo colombiano), foi mais uma demonstração de arrogância e inabilidade de Paulo Nogueira Batista Jr.
Se a Colômbia se retirar do grupo brasileiro e aderir a um outro, o Brasil poderá perder a cadeira que exibe no Board. Mais um exemplo daquela velha lei das "consequências involuntárias", que certas pessoas não se lembram que existe...
Paulo Roberto de Almeida

O realismo mágico do PT no FMI
Veja, 21 de abril de 2010

REALISMO MÁGICO DO PT
NO FMI O economista Paulo Nogueira Batista Júnior foi nomeado, em 2007, diretor executivo e representante brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI). Descrente do capitalismo e alinhado à ala mais atrasada do PT, ele é um estranho no ninho em Washington. Há dois meses, abriu um conflito diplomático com a Colômbia, país que divide com o Brasil e um grupo de outras economias menores uma cadeira no diretório do Fundo. Nogueira Batista demitiu a representante colombiana, María Inés Agudelo, alegando escassez de qualificações profissionais para o posto. Rodrigo Botero, ex-ministro da Fazenda da Colômbia e experiente analista da política latino-americana, revela que a demissão foi motivada pelo choque de visões a respeito de política econômica. "O fato é que Agudelo defendia políticas como as que são adotadas no Brasil com sucesso desde os anos 90", afirma Botero. "Mandar a Washington um representante que execra a própria política econômica de seu país é uma manifestação clara do realismo mágico latino-americano por parte do governo brasileiro." De Boston, onde vive, Botero conversou com o editor Giuliano Guandalini.

O INCIDENTE
"A destituição de María Inés Agudelo por Nogueira Batista viola o acordo de cavalheiros que existe há pelo menos quatro décadas entre o Brasil e a Colômbia. Nunca houve antes um incidente como esse. Nogueira Batista alega que ele, como diretor executivo da cadeira, teve amparo institucional ao demitir Agudelo. Foi o rompimento com uma prática saudável de convivência em que se cultiva a tolerância, com o respeito a profissionais nomeados por outros países. O Brasil adotou a atitude de tratar o incidente como uma questão exclusiva do ministro da Fazenda, Guido Mantega, responsável pela indicação de Nogueira Batista. Mas esse incidente afeta diretamente as relações bilaterais entre os países. Não estamos diante de uma questão meramente burocrática. O Planalto e o Itamaraty devem compreender que a grosseria de Nogueira Batista não colabora em nada para a boa vontade de outros países em relação à política internacional brasileira."

O CONFLITO
"Nogueira Batista não pode invocar o argumento de incompetência para destituir a colombiana. Agudelo possui mais credenciais acadêmicas que Nogueira Batista. As diferenças de Batista com Agudelo se devem a concepções incompatíveis sobre política econômica. Não é segredo para ninguém que Batista é crítico de uma política econômica que tenha um regime de metas de inflação, que empregue a flexibilidade cambial e que persiga metas de superávit fiscal primário. Esses são, em essência, os fundamentos da política econômica colombiana. São princípios que Agudelo, como representante de seu país, era obrigada a defender no FMI. Seria inconcebível que a Colômbia permitisse que um detrator de sua política econômica interviesse nas discussões do Fundo. Agora, se bem entendo, as políticas mencionadas são as mesmas que vêm sendo aplicadas com sucesso no Brasil desde os anos 90. Mandar a Washington um representante que execra a política econômica de seu próprio país é uma manifestação clara do realismo mágico latino-americano por parte do governo brasileiro. Mas isso é problema brasileiro, que não concerne à Colômbia."

RELAÇÕES ESTREMECIDAS "As relações entre Colômbia e Brasil, no FMI, foram tradicionalmente cordiais, baseadas no respeito mútuo. A afronta de Nogueira Batista constitui um desrespeito, um insulto. O governo colombiano notificou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, de que Nogueira Batista não está autorizado a interferir em assuntos relacionados à Colômbia. A manutenção da harmonia nas relações requer que o Brasil reconheça a validade do acordo de cavalheiros que acaba de ser violentado e ofereça garantias de que aceita restabelecer a situação que imperava antes da chegada de Nogueira Batista ao FMI."

DIPLOMACIA BRASILEIRA
"Existem aspectos desconcertantes na diplomacia brasileira na América Latina. Dou três exemplos recentes. Primeiro, ter declarado que Hugo Chávez é o melhor presidente que a Venezuela teve em 100 anos. Segundo, ter equiparado o preso político e mártir da ditadura cubana Orlando Zapata, falecido na prisão depois de uma greve de fome, a um delinquente comum. Isso é uma indecência, uma obscenidade. O terceiro foi permitir que a Embaixada do Brasil em Honduras servisse de palco para a ópera-bufa encenada por Manuel Zelaya. Além de revelarem falta de profissionalismo diplomático, esses episódios contribuem para a percepção de que a política regional tem um viés a favor do chavismo. Minha impressão é que essa aparente esquizofrenia tem uma explicação em função das tensões no interior do PT. Lula teve de repudiar a plataforma de seu partido e adotar uma política econômica ortodoxa. Esse alinhamento exigiu que Lula apaziguasse o descontentamento da extrema esquerda do PT. Como prêmio de consolação, delegou a gestão das relações latino-americanas a personagens como Marco Aurélio Garcia e seus seguidores."

2028) Paulo Freire - um pessimo pedagogo e a insistencia no atraso...

Dois comentaristas se deram ao trabalho de comentar um post meu sobre o arremedo de pedagogo e uma das muitas (estúpidas) unanimidades nacionais, que responde pelo nome do post:

quinta-feira, 8 de abril de 2010
2054) Celebrando o atraso - Paulo Freire nos EUA
Idiotas existem em todas as partes, como comprova a informação abaixo...

Universidade americana comemora 40 anos da tradução de Paulo Freire para o inglês

Um, o José Marcos veio em socorro do Paulo Freire, dizendo que teve, uma vez, a "oportunidade de assistir a uma palestra de Paulo Freire um pouco depois de seu retorno ao Brasil. Com sua voz mansa e pausada, Paulo Freire brindou a assistência com um convite para olharmos o mundo com uma visão mais crítica. Sugeriu que nos conscientizássemos mais da realidade em que estávamos inseridos."

Ela está contente que Paulo Freire faça sucesso nos EUA, afirmando a propósito dos americanos que: "Seduzidos pela magia mefistofélica da ciência, não percebem que, muitas vezes, causam sofrimento desnecessário aos povos que não comungam com os seus ideais."

Pois é, os americanos foram seduzidos por essa magia mefistofélica, menos aqueles, claro, que puderam ler Paulo Freire, e foram guiados pela luz da razão e pela promessa de libertação dos valores vis do capitalismo. Por isso que os americanos são tão atrasados, e os brasileiros, cuja educação é dominada de maneira intensiva e extensiva pelos ensinamentos de Paulo Freire, são tão avançados, progressistas, prósperos e cientificamente na vanguarda da humanidade.

Em seguida, o leitor Rubens perguntou, gentilmente, ao primeiro "se a doutrina Bush é prejudicial ao Direito Internacional, e o com certeza o é, o que dizer da Doutrina Mao Tse-Tung, que Paulo Freire tanto propagava? Não foi nem um pouco prejudicial a tudo aquilo o direito mais quer preservar?"
Rubens sabe bem as diferenças entre os EUA e a China de Mao, e por isso convida o primeiro comentarista a ser mais cauteloso:
""Visão mais crítica da realidade"? Pergunte aos morreram na China comunista se a visão crítica que eles tinham foi respeitada. E o que Paulo Freira achava da educação na China."

Voltou então o José Marcos com uma longa tergiversação formalística sobre o que tinha afirmado Rubens, colocando questões absolutamente superficiais, jamais tocando no âmago da questão.

Vou ajudá-lo na tarefa, resumindo o debate desta forma, ao risco de ser cruel com ambos, isto é, Paulo Freire e seu procurador voluntário José Marcos.

Paulo Freire, junto com outros representantes do marxismo universitário, é um dos muitos publicistas (avant la lettre, no seu caso) do "outro mundo possível". Existem, sim, muitos escritos nos quais ele celebra o sistema chinês -- provavelmente na ignorância completa do que se passava lá -- num momento em que a China era submetida, por aquele lunático econômico, a um dos maiores experimentos de engenharia social de que se tem notícia na história da humanidade.
Talvez o José Marcos não saiba, mas quando Paulo Freire escrevia suas maravilhas pedagógicas e celebrava os feitos do comunismo maoista, a China empreendia sob a liderança de Mao o "grande salto para a frente", que simplesmente resultou na morte -- por fome e outras endemias -- de aproximadamente 25 milhões de pessoas.
Pouco depois, a chamada Revolucao Cultural simplesmente destruiu o que tinha sobrado de universidade na China, mandando professores trabalhar no campo, em aldeias recuadas.

Mas, deixemos a tragédia maoista de lado, pois isso não nos concerne diretamente (embora os acadêmicos brasileiros escolham deliberadamente ignorar essas realidades) e voltemos para Paulo Freire.
Ele certamente foi uma pessoa bem intencionada, ainda que completamente equivocada. Ele queria o bem do povo, apenas que, como muitos outros marxistas vulgares, ele tinha uma visão deformada da realidade, que ele via sempre em preto e branco, conforme os ditames da luta de classes. Se era aristocrata, burguês, classe dominante, capitalismo, tudo isso era intrinsecamente perverso, maléfico para o povo. Se fosse do povo, das chamadas classes subalternas, dos oprimidos, então era literalmente bom, e deveria ser promovido.
O que faltava, ao povo, era uma consciência de classe, que era preciso promover, pela educação, para ele lutar pela sua libertação da opressão (capitalista, obviamente).
O mundo do socialismo -- chinês, ou outro -- era infinitamente superior ao mundo capitalista, odiado por qualquer marxista que se preze.
A educacao do povo deveria ser feita menos do be-a-bá tradicional, do tipo "Ivo viu a uva", e mais com as realidades simples do dia a dia: enxada, foice, martelo, sandálias, cabanas, em contraste com a opulência das elites. Tudo isso seria mudado um dia, se as pessoas do povo tomassem consciência de que eles eram pobres apenas porque os ricos os tinham explorado e roubado.

Estou simplificando um pouco, mas essa era a mensagem de Paulo Freira, um marxismo de botequim extremamente vulgar, para não dizer idiota, assim como são idiotas, ingênuos ou ignorantes aqueles que acham que sua mensagem tenha algo a ver com a atualidade e as necessidades de paises, ricos ou pobres.

O que essas pessoas não percebem é que o "paulofreirismo", dominante nos cursos de pedagogia do Brasil desde o final dos anos 1960 pelo menos, vem sendo praticado nos estabelecimentos de ensino de uma forma ou de outra, com os resultados que se conhecem: o Brasil é um dos últimos lugares em TODOS os exames comparativos de avaliação escolar que se possa fazer pelo mundo afora.

Se os leitores, especialmente o José Marcos, não conhece essa realidade, eu o convido a entrar na pagina da OCDE (www.oecd.org) e buscar por PISA: Program of International Student Assessment, e ver ali o lugar do Brasil nas três áreas selecionadas para avaliação: língua nacional, ciências básicas, matemáticas elementares. O Brasil consegue concentrar seus alunos nas seções inferiores, no que constitui uma tragédia nacional.

Não tenho nenhuma hesitação em atribuir a Paulo Freire uma grande, uma ENORME responsabilidade por essa tragédia.

Paulo Roberto de Almeida
(Dunhuang, China, 18.04.2010)

sábado, 17 de abril de 2010

2027) O economista presidente do Corecon-RJ deveria voltar para a Faculdade de Economia

Leiam primeiro a matéria abaixo e depois voltem para o meu comentário inicial:

Acredito que o presidente do Corecon-RJ precise estudar um pouco mais de economia, e também se informar melhor sobre a história da divida externa do Brasil, e sobretudo das condicoes macroeconomicas de sua divida interna, antes de escrever uma peça mal informada, mal refletida, mal argumentada.
Os tres elementos de politica economica que caracterizam o Brasil atualmente -- flexibilidade cambial, metas de inflacao, superavit primario, o que é falacioso, diga-se de passagem -- NUNCA foram exigencia do FMI e sim decisao nacional adotada em acordo com o FMI, desde o segundo acordo feito com o organismo, e que nao constava do primeiro em 1998.
No primeiro, o FMI tentou exigir, sim, é bom que se diga, desvalorização cambial, algo que suponho o articulista também recomende, como metade da burguesia brasileira, o que o Brasil se recusou a fazer. O FMI sempre recomenda desvalorizacao em caso de desequilibrios externos, talvez o presidente do Corecon-RJ não saiba.
O Brasil adotou o regime de metas inflacionarias quando decidiu, por realismo economico, deixar o regime de bandas cambiais pelo de flutuacao, esta é a simples verdade. Se substitui uma ancora pela outra, o que é demonstracao de simples racionalidade, e não de submissao ao FMI.
O que o FMI sempre exigiu, diga-se de passagem como qualquer mãe administrando um orçamento doméstico exigiria, foi equilibrio nas contas públicas, ou seja, não gastar mais do que se arrecada, ou se ganha, no caso familiar.
Isso o Brasil deveria fazer por interesse próprio, não por exigência de qualquer orgao externo, por simples medida de economia doméstica. Ele o fez de modo canhestro, primário, mistificador, com o tal de superavit primário, que só cobre uma parte do serviço da dívida total.
Diga-se de passagem também que a dívida externa não constitui problema, pois ela é pequena em relação ao PIB, e seus juros são menores.
A dívida interna é sim um ENORME problema e isso não tem nada a ver com o FIM, e sim com a capacidade do Estado de gastar mais do que arrecada.
A solução do calote, que o articulista preconiza, seria usada apenas uma vez, pois se supõe que, continuando a haer déficits, não haveria mais emprestadores de dinheiro para o Estado, que assim mergulharia o país na recessão.
O articulista é um irresponsável, ou um ignorante, por propor esta solução.
Sugiro que ele volte para a Faculdade, para estudar um pouco mais de economia...
Paulo Roberto de Almeida
(Dunhuang, 18.04.2010)

A dívida e as contas externas
Paulo Passarinho
Socialismo e Liberdade, Sexta, 16 de abril de 2010

Na última quarta-feira, 14 de abril, Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Henrique Meireles, presidente do Banco Central com status de ministro - "beneficiado" por Lula, em decorrência de acusações que lhe pesam de evasão de divisas, sonegação fiscal e falsidade ideológica - estiveram presentes na Câmara dos Deputados, em depoimento à CPI da Dívida Pública.

Conforme era de se esperar, destilaram otimismo. O endividamento não é preocupante. Para o ministro da Fazenda, a dívida líquida do setor público apresenta uma queda nos últimos anos, as taxas de juros foram reduzidas e o prazo dos títulos da dívida ampliados. A própria dívida externa também seria um problema superado, pois o acúmulo de reservas cambiais nos dá garantias, segurança e capacidade de pagamento. Sobraram elogios até mesmo para a política monetária e as suas metas de inflação, com Mantega enfatizando que não sofremos mais a ingerência do FMI e de bancos internacionais na gestão macroeconômica.

O ministro, que já teve um passado acadêmico com tinturas marxistas, desprezou fatos históricos banais. A adoção da política monetária baseada no modelo de metas inflacionárias, a política fiscal com o objetivo de se alcançar pesadas metas de superávit primário e o regime de câmbio flutuante - características da atual política macroeconômica - foram exigências do último acordo celebrado com o FMI, ainda no tempo de FHC. É verdade que o acordo não mais existe formalmente, mas as políticas recomendadas pelo Fundo deitaram raízes profundas nas cabeças dos nossos dirigentes, a ponto de fazê-los esquecer do passado recente. Com relação à ingerência dos bancos internacionais, talvez o ministro da Fazenda tenha razão: o comando do Banco Central do Brasil por um executivo, ex-presidente mundial do Bank of Boston, como é o caso de Meireles, talvez não se configure propriamente em uma ingerência, mas sim numa intervenção direta de um credor internacional.

Seria tudo apenas patético, não fora a tragédia que essa mesma política representa para milhões de brasileiros que continuam carentes de políticas públicas de qualidade e eficiência, em áreas básicas como a educação, a saúde, a habitação popular, os transportes públicos ou o saneamento.

Conforme tenho constantemente enfatizado, todas essas políticas têm se degradado a olhos vistos nos últimos anos. E dificilmente qualquer análise séria sobre as razões desse processo poderá deixar de lembrar que os recursos públicos para investimentos nessas áreas ficam extremamente prejudicados com as despesas crescentes que as políticas monetária e cambial em vigor acarretam para as contas públicas.

A carga de juros paga anualmente aos credores da dívida pública é gigantesca, nunca inferior a R$ 150 bilhões. No ano passado, por exemplo, chegou ao montante de R$ 169 bilhões, incluindo as despesas da União, de estados, e de municípios, de acordo com o próprio ministro.

Conforme o importante trabalho realizado pela Campanha pela Auditoria Cidadã da Dívida, no ano de 2009, 36% das despesas realizadas no âmbito do Orçamento Geral da União - equivalentes a R$ 380 bilhões!! - foram usadas no pagamento de juros e amortizações. Guido Mantega contestou esse dado, pois ele não considera adequada a inclusão das despesas com o pagamento das amortizações, nesse cálculo.

O deputado Ivan Valente, do PSOL de S.Paulo e proponente original da CPI, lembrou ao ministro que a própria MP 435/2008 permitiu que o Executivo desviasse bilhões de reais de diversas áreas sociais - incluindo recursos da União, arrecadados pela receita dos royalties do petróleo, objeto de recente e ferrenha disputa entre os estados, justamente para o pagamento de amortizações.

Mas nada disso parece abalar as convicções otimistas dos ministros.

A dívida interna em títulos do governo federal ultrapassa hoje a R$ 2 trilhões. Quando Lula assumiu o governo, em janeiro de 2003, a dívida era de R$ 687 bilhões. Se lembrarmos que em janeiro de 1995, quando do início dos governos de FHC, essa dívida era de apenas R$ 59,4 bilhões, dá para se ter uma idéia do que estamos falando em termos de comprometimento das finanças públicas. Com esse tipo de política, baseada em altíssimas taxas de juros, abertura financeira e todo tipo de incentivo à especulação, especialmente por parte de quem têm acesso aos mercados internacionais, não há condição de muita margem de manobra para que políticas voltadas para a maioria da população sejam contempladas com recursos financeiros suficientes.

Nossos atuais dirigentes não se importam com esse tipo de dado. Talvez lhes interessem mais os elogios que a banca internacional, e a tupiniquim, vivem a fazer ao atual governo brasileiro.

Talvez prefiram mesmo observar o crescimento econômico sustentado por uma economia de endividamento das famílias, a partir de mecanismos de crédito em expansão e a um custo financeiro extremamente elevado, com as maiores taxas de juros do mundo. Afinal, a política de valorização do salário mínimo, os programas de transferência de renda aos miseráveis e a geração de empregos de baixa remuneração e qualidade, atende aos mais pobres. Com uma enorme demanda reprimida por bens e serviços, esses setores impulsionam o mercado interno e ao menos até o momento permitem que os dirigentes da economia e da política possam capitalizar o relativo desempenho observado, em particular na comparação com FHC.

Contudo, nem tudo são flores.

O que permitiu essa aparente transformação dos efeitos do mesmo modelo, na comparação entre os governos FHC e Lula, foi a conjuntura econômica internacional e especialmente os resultados das contas externas do país.

Desde 2003, o furor exportador brasileiro de commodities agrícolas e minerais foi contemplado pela demanda asiática, puxada pela economia chinesa, e permitiu que o Brasil passasse a ter saldos positivo nas nossas transações correntes com o exterior, algo inédito na história recente do Brasil.

Porém, essa primavera se encerrou em 2008, quando voltamos a contrair resultados negativos em nossa conta corrente. De um saldo recorde, em 2005, de US$ 14 bilhões, passamos a um déficit de US$ 28,3 bilhões, em 2008, e um resultado novamente negativo, em 2009, de US$ 24,3 bilhões. Para esse ano, o próprio Banco Central projeta um déficit em conta corrente de US$ 49 bilhões, resultado de um saldo comercial que despenca - em 2006, chegamos a um resultado recorde de US$ 46,5 bilhões, e para 2010 a projeção é que tenhamos um saldo de apenas US$ 10 bilhões. Como a nossa conta de serviços é estruturalmente deficitária, e estimada em US$ 59 bilhões para esse ano, o Banco Central chegou a essa estimativa de déficit de nossas transações correntes, resultado da combinação das projeções feitas para os resultados da conta comercial e de serviços.

É interessante notar que, nessa projeção do déficit da conta de serviços, a estimativa do Banco Central é de uma despesa, somente com remessa de lucros e dividendos, em 2010, da ordem de US$ 32 bilhões, e, com o pagamento de juros da dívida externa - que para Lula acabou, e que para Mantega não é mais um problema - a conta fique em US$ 8,3 bilhões.

Seria talvez importante que ambos conversassem, com mais cuidado, com o banqueiro Henrique Meireles.

15/04/2010

Paulo Passarinho é economista e presidente do CORECON-RJ