O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

domingo, 29 de janeiro de 2012

Ah, esses mercadores de guerra, brasileiros inclusive...


BRASIL, PRODUTOR E EXPORTADOR DE ARMAS
27.01.12 Por Daniel Santini e Natalia Viana

De maneira pouco transparente, governo incentiva crescimento da indústria. Ênfase é nas armas leves: Brasil é 4º maior exportador mundial. Levantamento inédito do Exército revela que nos últimos 5 anos, exportamos 4,5 milhões de armas
Uma pequena lata metálica, arranhada e atirada ao chão, gerou o primeiro vexame diplomático brasileiro de 2012. Trata-se de uma lata de gás lacrimogêneo recolhida por ativistas pró-liberdade no Bahrein, no Golfo Pérsico, que estampava na lateral, em azul, a bandeira brasileira e os dizeres “made in Brazil”.
Há um ano o Bahrein tem sido palco de protestos pró-democracia da maioria xiita contra a monarquia sunita comandada pelo rei Hamad Bin Issa al-Khalifa. Os manifestantes têm sido reprimidos pelo exército do Bahrein e de países vizinhos. Pelo menos 35 pessoas morreram e centenas foram feridas.
Segundo os manifestantes, o gás brasileiro usado para reprimi-los teria até causado a morte de bebês. “Há algum tipo de ingrediente que, em alguns casos, leva as pessoas a espumarem pela boca e outros sintomas”, disse a ativista de direitos humanos Zainab al-Khawaja ao jornal O Globo.
Mas, quase um mês depois da denúncia, pouco se sabe como o gás fabricado pela empresa Condor Tecnologias Não Letais foi parar nas mãos de tropas que reprimem manifestações pró-democracia.
A empresa, sediada em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, afirma que não exporta para o Bahrein, mas diz que vende para outros países da região, sem identificá-los.
Toda exportação de armas, mesmo não letais, é aprovada pelo Itamaraty e pelo Ministério da Defesa. Mas, uma vez aprovada, o governo não pode fazer muito. O próprio Itamaraty reconhece que não tem poder de investigar: depois do escândalo do Barhein, a assessoria do Itamaraty informou que o ministério está apenas “observando com interesse” o desenrolar da história.
Fica a cargo da empresa averiguar o que aconteceu.
É um contrato entre partes privadas. Pode até envolver um governo estrangeiro, mas a responsabilidade pelo seu produto é da empresa”, diz a assessora de imprensa do Itamaraty. “Os contratos geralmente proíbem a revenda. A Condor está tentando rastrear o seu produto, estamos num diálogo permanente.”
A situação é pior porque não existe legislação internacional para o comércio de armas leves. “No caso de armas não convencionais, a atuação do Itamaraty é mais direta, mas no caso de armas convencionais, não existe um regime internacional para que a gente possa aconselhar em algum sentido”, reconhece.
Nesse contexto, é bem provável que casos como esse aconteçam cada vez mais. Enquanto o comércio de armamentos pesados, como os super tucanos, chama a atenção da imprensa, é no ramo de armas leves que o Brasil tem uma atuação crescente no mercado internacional.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o valor das exportações de armas leves triplicou nos últimos cinco anos: foi de US$ 109, 6 milhões  em 2005 para US$ 321,6 milhões em 2010 (em 2011, houve um recuo para US$ 293 milhões).
Contando apenas as armas de fogo, a quantidade impressiona. Foram 4.482.874 armas exportadas entre 2005 e 2010, segundo um levantamento inédito do Exército feito a pedido da agência Pública. Ou seja: 2.456 armas por dia.
O Exército se negou a dar detalhes como venda ano a ano, empresas exportadoras e países de destino.
Assim, cabe às ONGs internacionais tentar desvendar os detalhes da exportação brasileira.
Todo ano, o Instituto de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento, em Genebra, realiza o Small Arms Trade Survey, o mais respeitado estudo sobre essa indústria. Em 2011, o Brasil foi o 4º maior exportador mundial de armas leves, atrás apenas dos Estados Unidos, Itália e Alemanha.
No ranking de armamentos pesados, somos o 14º, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos da Paz de Estocolmo (SIPRI). Nos dois casos a liderança é dos Estados Unidos, com larga vantagem.
Por trás do crescimento, o apoio do governo
No dia 30 de setembro de 2011, a presidenta Dilma Rousseff enviou ao Congresso uma medida provisória (MP 544) – que deve ser regulamentada nos próximos meses -  com o objetivo de fortalecer a indústria nacional de armas. Entre as medidas fixadas pela MP está um regime especial de tributação que atende a uma reivindicação histórica da industria – a isenção do pagamento de IPI, PIS/PASEP e COFINS nas compras governamentais – e suspende a taxação sobre a importação de insumos para a fabricação de produtos de defesa.  O setor também foi incluído entre os que têm direito à cobertura pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE), seguro de proteção contra riscos em operações comerciais administrado pelo BNDES.
Três dias depois, o ministro da Defesa Celso Amorim, acompanhado dos três comandantes das Forças Armadas, participou de um jantar na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FOTOS) junto aos principais fabricantes de armas do país – uma clara sinalização de apoio à produção nacional, política que tem marcado o ministério nos últimos anos.
O antecessor de Amorim, Nelson Jobim (2007-2011), foi um dos principais defensores da “revitalização” da indústria de armas, que vinha em baixa desde o final da década de 80, quando deixou de exportar para o Iraque.
Sob seu ministério foi promulgada a Estratégia Nacional de Defesa, de 18 de dezembro de 2008, que incluiu o fomento da indústria de armas entre suas metas, priorizando a compra de produtos nacionais para as Forças Armadas e comprometendo-se com incentivos à exportação. “O Estado ajudará a conquistar clientela estrangeira para a indústria nacional de material de defesa”, explicita o documento, que acrescenta:
“A consolidação da União de Nações Sul-Americanas poderá atenuar a tensão entre o requisito da independência em produção de defesa e a necessidade de compensar custo com escala, possibilitando o desenvolvimento da produção de defesa em conjunto com outros países da região”.
O mesmo documento prevê linhas de crédito especial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) “similar às já concedidas para outras atividades”.
O professor Renato Dagnino, do Departamento de Política Científica e Tecnológica  da UNICAMP, que analisou o documento conclui: “a Estratégia Nacional de Defesa acata as principais reivindicações do lobby pela revitalização da indústria”.
E o lobby quer mais. O Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria de Defesa (Comdefesa), organizado pela Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), pleiteia uma cota fixa e inalterável de 3,5% do PIB para investimentos no setor. Alguns representantes pedem que uma parte dos royaltes do pré-sal sejam destinados ao setor de defesa.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Defesa informou através da sua assessoria que “tem feito gestões a entidades de fomento, como BNDES e FINEP, com o intuito de disponibilizar financiamento para empresas que se enquadram na chamada indústria de defesa”.
O BNDES informa que entre 2009 e 2011, fez empréstimos no valor de R$ 71 milhões para empresas do setor. A maior beneficiária foi a CBC – Companhia Brasileira de Cartuchos, seguida pela Forjas Taurus SA.  Clique aqui para ver a tabela.
A APEX – Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, também entrou em ação para “aumentar a exportação de materiais de defesa e segurança e a quantidade de empresas exportadoras”, segundo sua assessoria, promovendo a participação da indústria brasileira em feiras como a Latin America Defence & Security, a maior e mais importante do setor de defesa e segurança da América Latina.
Com esse apoio, as empresas se lançam à conquista de novos mercados, principalmente na África e Ásia. Como no caso da Condor, a fabricante de gás lacrimogêneo que se nega a divulgar com que países negocia, pouco se sabe sobre o destino dos armamentos fabricados no Brasil e não há nenhum debate público sobre isso. A regra, nesta indústria, é a falta de transparência.
Falta de transparência: preocupação nacional e internacional
Não existe nenhuma estimativa oficial sobre a produção de armas leves no Brasil. A indústria não informa o quanto produz, e – diferentemente de outros países – não há nenhum banco de dados do governo a esse respeito.
Quando se trata de comércio internacional, a transparência é ainda menor.
A Pública procurou o Exército, que forneceu dados gerais, mas não quis dar detalhes.
Desde outubro de 2010, existe um departamento que monitora as vendas para o exterior, o Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados de Exportação de Produtos de Defesa (SGEPRODE). Os dados nunca foram disponibilizados ao público.
Nos dias posteriores ao escândalo no Bahrein, chegou a se ventilar na imprensa que o Ministério da Defesa teria um projeto de lei para um banco de dados públicos sobre aquisições e vendas de armamentos.
Mas, procurado pela Pública, o ministério negou veementemente qualquer plano nesse sentido.
“O Ministério da Defesa desconhece o envio da legislação citada na matéria do jornal Folha de S. Paulo”, disse, por meio de nota. “A regulamentação da MP 544 prevê a elaboração de um cadastro de empresas. No entanto, ainda não está definido o formato em que se dará a divulgação dessa informação”.
O Instituto de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra tem um “barômetro” da transparência para avaliar as informações fornecidas por grandes atores globais no mercado de armas leves. Brasil nunca se saiu muito bem. Desde 2001, tem sido um dos piores avaliados entre os principais exportadores, perdendo apenas para a Rússia e a China.
No último estudo, de 2011, o país é o 38º colocado numa lista de 50 países. O problema, segundo os pesquisadores, é que o Brasil não produz relatórios oficiais nem envia dados para um instrumento chamado UN Register, que registra a transferência de armas leves.
O Brasil não publica nenhum relatório anual sobre exportação de armas e geralmente relata ao UN Register que houve ‘zero’ exportações de armas leves”, diz um relatório publicado em junho de 2010. “Os dados da alfândega não informam quantas licenças foram expedidas e quantas foram recusadas (…). No nível regional, o Brasil é o menos transparente”.
Além disso, diz o instituto, há evidências de que o Brasil registra “sistematicamente” de maneira errônea as exportações de revólveres e pistolas, como sendo “armas de caça”, o que gera confusão.
“Nós inferimos que o Brasil quer manter alguns segredos, porque fazer isso seria benéfico para as empresas. Mas a conseqüência é que se sabe menos do que devíamos sobre o que o Brasil está fazendo”, diz o pesquisador Nicholas Marsh, da Iniciativa Norueguesa em Transferência de Armas Leves.
Muitas vezes o Small Arms Survey tem que usar dados declarados pelos importadores para realizar sua avaliação anual. Os resultados muitas vezes são superiores aos declarados pelo Ministério do Desenvolvimento.
Em 2007, por exemplo, o relatório estimou as vendas de armas leves brasileiras em 234 milhões de dólares, enquanto o MDIC estima que tenha sido de 201 milhões. Em 2008, o valor do Small Arms Survey é de 273 milhões, enquanto o MDIC estima que tenha sido 260 milhões de dólares.
Como não existe legislação ou um órgão internacional que monitore esse comércio, não há uma base de dados mundial, e nenhum país é obrigado a reportar-se a ninguém. Os dados do UN Register são enviados de maneira voluntária.
“Isso significa que há grandes fluxos de armas acontecendo no mundo, e ninguém sabe disso. Assim as armas acabam indo parar em lugares onde não deviam”, diz Nicholas Marsh. “O pior é que armas duram muito. Se é bem cuidado, um revólver pode durar cem anos. Na Líbia, no começo dos conflitos, havia gente carregando armas da Segunda Guerra”.
—————————————————————————————————–
Daniel Santini é repórter e especialista em jornalismo internacional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Sua pesquisa de conclusão do curso de pós-graduação intitulada “A indústria de armas brasileira” será transformada em livro em 2012.

A disputa emocionante do numero 500: stop, stop! Valem dois livros

Alguns de vocês acompanharam a confusa determinação do seguidor número 500 deste meu blog, neste post: 



SÁBADO, 28 DE JANEIRO DE 2012


Surgiram dois aparentes candidatos ao posto, um certificado como número 501, Vinicius valentão, que prefere resolver a disputa no braço (digital, suponho): 



vinicius soares deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Uau: Existem dois seguidores numero 500: proponho ...": 
Prezado Wilson Júnior, deixemos de lado as armas e vamos para o mano a mano!
Um abraço.
Vinícius Soares 

O outro, Wilson Júnior, rapaz estudioso e pensador, justamente, é o vencedor moral e de fato, ainda que sua identidade não tenha aparecido no registro do Blog, por incompetência técnica, suponho.

Wilson Júnior deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Uau! Seguidor numero 500 atencao: concorrendo a um...": 
Olá senhor Paulo Roberto,
acompanho seu blog, assim como seu site, há alguns anos (3 anos mais ou menos), mas só agora fui me inscrever no blog, acredito que tenha sido o número 500 (me inscrevi por volta das 15:13, ou seja, alguns minutos após sua postagem). De qualquer modo, parabéns por esta importante marca! 
Postado por Wilson Júnior no blog Diplomatizzando em Sábado, Janeiro 28, 2012 3:23:00 PM


Proponho, portanto, dois livros, um a cada um dos contendores, e assim todo mundo fica em paz, inclusive o espertinho que acertou o quiz de Harry, a hiena...

Que todos entrem em contato comigo, para acertar as tecnicalidades.
O abraço e bons estudos a todos...
Paulo Roberto de Almeida 
(Lyon, 29/01/2012)

The Economist aborda a questao das cotas raciais no Brasil


The Economist, 28 January 2012

Race in Brazil
Affirming a divide
Black Brazilians are much worse off than they should be. But what is the best way to remedy that?
Jan 28th 2012 | RIO DE JANEIRO | from the print edition

IN APRIL 2010, as part of a scheme to beautify the rundown port near the centre of Rio de Janeiro for the 2016 Olympic games, workers were replacing the drainage system in a shabby square when they found some old cans. The city called in archaeologists, whose excavations unearthed the ruins of Valongo, once Brazil’s main landing stage for African slaves.
From 1811 to 1843 around 500,000 slaves arrived there, according to Tânia Andrade Lima, the head archaeologist. Valongo was a complex, including warehouses where slaves were sold and a cemetery. Hundreds of plastic bags, stored in shipping containers parked on a corner of the site, hold personal objects lost or hidden by the slaves, or taken from them. They include delicate bracelets and rings woven from vegetable fibre; lumps of amethyst and stones used in African worship; and cowrie shells, a common currency in Africa.

It is a poignant reminder of the scale and duration of the slave trade to Brazil. Of the 10.7m African slaves shipped across the Atlantic between the 16th and 19th centuries, 4.9m landed there. Fewer than 400,000 went to the United States. Brazil was the last country in the Americas to abolish slavery, in 1888.
Brazil has long seemed to want to forget this history. In 1843 Valongo was paved over by a grander dock to welcome a Bourbon princess who came to marry Pedro II, the country’s 19th-century emperor. The stone column rising from the square commemorates the empress, not the slaves. Now the city plans to make Valongo an open-air museum of slavery and the African diaspora. “Our work is to give greater visibility to the black community and its ancestors,” says Ms Andrade Lima.
This project is a small example of a much broader re-evaluation of race in Brazil. The pervasiveness of slavery, the lateness of its abolition, and the fact that nothing was done to turn former slaves into citizens all combined to have a profound impact on Brazilian society. They are reasons for the extreme socioeconomic inequality that still scars the country today.
Neither separate nor equal
In the 2010 census some 51% of Brazilians defined themselves as black or brown. On average, the income of whites is slightly more than double that of black or brown Brazilians, according to IPEA, a government-linked think-tank. It finds that blacks are relatively disadvantaged in their level of education and in their access to health and other services. For example, more than half the people in Rio de Janeiro’s favelas (slums) are black. The comparable figure in the city’s richer districts is just 7%.
Brazilians have long argued that blacks are poor only because they are at the bottom of the social pyramid—in other words, that society is stratified by class, not race. But a growing number disagree. These “clamorous” differences can only be explained by racism, according to Mário Theodoro of the federal government’s secretariat for racial equality. In a passionate and sometimes angry debate, black Brazilian activists insist that slavery’s legacy of injustice and inequality can only be reversed by affirmative-action policies, of the kind found in the United States.
Their opponents argue that the history of race relations in Brazil is very different, and that such policies risk creating new racial problems. Unlike in the United States, slavery in Brazil never meant segregation. Mixing was the norm, and Brazil had many more free blacks. The result is a spectrum of skin colour rather than a dichotomy.
Few these days still call Brazil a “racial democracy”. As Antonio Riserio, a sociologist from Bahia, put it in a recent book: “It’s clear that racism exists in the US. It’s clear that racism exists in Brazil. But they are different kinds of racism.” In Brazil, he argues, racism is veiled and shamefaced, not open or institutional. Brazil has never had anything like the Ku Klux Klan, or the ban on interracial marriage imposed in 17 American states until 1967.
Importing American-style affirmative action risks forcing Brazilians to place themselves in strict racial categories rather than somewhere along a spectrum, says Peter Fry, a British-born, naturalised-Brazilian anthropologist. Having worked in southern Africa, he says that Brazil’s avoidance of “the crystallising of race as a marker of identity” is a big advantage in creating a democratic society.
But for the proponents of affirmative action, the veiled quality of Brazilian racism explains why racial stratification has been ignored for so long. “In Brazil you have an invisible enemy. Nobody’s racist. But when your daughter goes out with a black, things change,” says Ivanir dos Santos, a black activist in Rio de Janeiro. If black and white youths with equal qualifications apply to be a shop assistant in a Rio mall, the white will get the job, he adds.
The debate over affirmative action splits both left and right. The governments of Dilma Rousseff, the president, and of her two predecessors, Luiz Inácio Lula da Silva and Fernando Henrique Cardoso, have all supported such policies. But they have moved cautiously. So far the main battleground has been in universities. Since 2001 more than 70 public universities have introduced racial admissions quotas. In Rio de Janeiro’s state universities, 20% of places are set aside for black students who pass the entrance exam. Another 25% are reserved for a “social quota” of pupils from state schools whose parents’ income is less than twice the minimum wage—who are often black. A big federal programme awards grants to black and brown students at private universities.
These measures are starting to make a difference. Although only 6.3% of black 18- to 24-year-olds were in higher education in 2006, that was double the proportion in 2001, according to IPEA. (The figures for whites were 19.2% in 2006, compared with 14.1% in 2001). “We’re very happy, because in the past five years we’ve placed more blacks in universities than in the previous 500 years,” says Frei David Raimundo dos Santos, a Franciscan friar who runs Educafro, a charity that holds university-entrance classes in poor areas. “Today there’s a revolution in Brazil.”
One of its beneficiaries is Carolina Bras da Silva, a young black woman whose mother was a cleaner. As a teenager she lived for a while on the streets of São Paulo. But she is now in her first year of social sciences at Rio’s Catholic University, on a full grant. “Some of the other students said ‘What are you doing here?’ But it’s getting better,” she says. She wants to study law and become a public prosecutor.
Academics from some of Brazil’s best universities have led a campaign against quotas. They argue firstly that affirmative action starts with an act of racism: the division of a rainbow nation into arbitrary colour categories. Assigning races in Brazil is not always as easy as the activists claim. In 2007 one of two identical twins who both applied to enter the University of Brasília was classified as black, the other as white. All this risks creating racial resentment. Secondly, opponents say affirmative action undermines equality of opportunity and meritocracy—fragile concepts in Brazil, where privilege, nepotism and contacts have long been routes to advancement.
Proponents of affirmative action say these arguments sanctify an unjust status quo. And formally meritocratic university entrance exams have not guaranteed equality of opportunity. A study by Carlos Antonio Costa Ribeiro, a sociologist at the State University of Rio de Janeiro, found that the factors most closely correlated to attending university are having rich parents and studying in private school.
In practice, many of the fears surrounding university quotas have not been borne out. Though still preliminary, studies tend to show that cotistas, as they are known, have performed academically as well as or better than their peers. That may be because they have replaced weaker “white” students who got in merely because they had the money to prepare for the exam.
Nelson do Valle Silva, a sociologist at the Federal University of Rio de Janeiro, says that the backlash against quotas would have been even stronger if access to universities were not growing so fast. For now, almost everyone who passes the exam gets in somewhere. It also helps, he says, that many universities have adopted less controversial “social quotas”. Mr Fry agrees that affirmative action has “become a fait accompli”. He attributes the declining resistance to guilt, indifference and the fear of being accused of racism.
The battle for jobs
For black activists, the next target is the labour market. “As a black man, when I go for a job I start from a disadvantage,” says Mr Theodoro. He notes that the United States, which is only 12% black, has a black president and numerous black politicians and millionaires. In Brazil, in contrast, “we have nobody”. That is not quite true: apart from footballers and singers, Brazil has a black supreme-court justice (appointed by Lula) and senior military and police officers. But they are exceptional. Only one of the 38 members of Ms Rousseff’s cabinet is black (though ten are women). Stand outside the adjacent headquarters of Petrobras, the state oil company, and the National Development Bank in Rio at lunchtime, and “all the managers are white and the cleaners are black,” says Frei David.


The shadow of the past

Some private-sector bodies are starting to espouse racial diversity in recruitment. The state and city of Rio de Janeiro have both passed laws reserving 20% of posts in civil-service exams for blacks, though they are yet to be implemented. If unemployment rises from today’s record low, job quotas are likely to create even more controversy than university entrance has.
What stands out from a decade of debate about affirmative action is that it is being implemented in a very Brazilian way. Each university has taken its own decisions. The federal government has tried to promote the policy, but not impose it. The supreme court is sitting on three cases addressing racial quotas. Some lawyers suspect it is deliberately dragging its heels in the hope that society can sort the issue out.
Society itself is indeed changing fast. Many of the 30m Brazilians who have left poverty over the past decade are black. Businesses are taking note: many more cosmetics are aimed at blacks, for example. The mix of passengers on internal flights now bears some resemblance to Brazil, rather than Scandinavia. Until recently, the only black actors in television soap operas played maids; now one Globo soap has a black male lead. Much of this might have happened without affirmative action.
The question facing Brazil is whether the best way to repair the legacy of slavery is to give extra rights to darker-skinned Brazilians. Yes, say the government and the black movement. Given the persistence of racial disadvantage that is understandable.
But the approach carries clear risks. Until the invasion of American academic ideas, most Brazilians thought that their country’s racial rainbow was among its main assets. They were not wholly wrong. Mr do Valle Silva, a specialist in social mobility, finds that race affects life chances in Brazil but does not determine them. And if positive discrimination becomes permanent, a publicly funded industry of entitlement may grow up to entrench it and to promote divisive racial politics.
There may be better ways to establish genuine equality of opportunity and rights. Brazil has had anti-discrimination legislation since the 1950s. The 1988 constitution made both racial abuse and racism crimes. But there have been relatively few prosecutions. That is partly because of racism in the judiciary. But it is also because judges and prosecutors think the penalties are too harsh: anyone accused of racism must be held in jail both before and after conviction. And in Rio de Janeiro the black movement’s preference for affirmative action led the state government to lose interest in measures aimed at attacking racial prejudice, according to a study by Fabiano Dias Monteiro, who ran the state’s anti-racist helpline before it was scrapped in 2007.
The hardest task is to change attitudes. Many Brazilians simply assume blacks belong at the bottom of the pile. Supporters of affirmative action are right to say that the country turned its back on the problem. But American-style policies might not be the way to combat Brazil’s specific forms of racism. A combination of stronger legal action against discrimination and quotas for social class in higher education to compensate for weak public schools may work better.

El colonel no tiene quien le trate (porque no quiere, no porque no puede): el ocaso de bonaparte...


El líder bolivariano renunció a viajar a Moscú para no perder el control del poder 
EMILI J. BLASCO / CORRESPONSAL EN WASHINGTON
ABC (España), 25/01/2012

El presidente de Venezuela, Hugo Chávez, debía ser tratado de su cáncer en Moscú a finales de noviembre. A última hora decidió no abandonar el país por temor a que una ausencia le hiciera perder el control de la situación política venezolana. Esa ha sido la crónica de su enfermedad: un constante aplazamiento de tratamientos que no ha hecho más que agravar el cáncer incurable que padece, de acuerdo con los informes de Inteligencia a los que ha tenido acceso ABC y a los que ya ayer hizo referencia.
Chávez ha optado por «un tratamiento hecho a medida para mantenerle vivo hasta las elecciones de 2012, más que orientado a prolongar su esperanza de vida», indica su equipo médico, según se cita en las informaciones confidenciales obtenidas, manejadas por Servicios de Inteligencia. En su última estimación, los médicos le conceden una esperanza de vida de entre 9 y 12 meses.
Ya su primera intervención quirúrgica en Cuba se produjo con gran retraso respecto al momento en que se le detectó el cáncer de próstata. Esto último ocurrió en enero de 2011, pero hasta mayo no encontró el tiempo ni la posibilidad de esconder una estancia de varias semanas a La Habana. Después de que los médicos determinaran que el cáncer se había extendido a huesos y colon, sin que una primera ronda de quimioterapia en julio tuviera los resultados esperados, los especialistas le recomendaron una inmediata segunda ronda. Chávez no se sometió a ella hasta el primer fin de semana de septiembre por no querer abandonar de nuevo el país y trasladarse a Cuba. Finalmente, los médicos rusos que se han hecho cargo de su caso tuvieron que trasladarse en secreto a Caracas.
Más estimulantes
Desde el comienzo se planteó la conveniencia de un viaje a Moscú. Chávez dio su provisional conformidad y se planificó el desplazamiento para la tercera semana de noviembre de 2011, disfrazado como una visita oficial. Una alternativa era recibir el tratamiento necesario en Cuba o en Brasil. Pero el presidente nunca se comprometió del todo y mantuvo la cuestión abierta hasta una semana antes de su prevista partida, en que rechazó dejar Caracas. Esa renuncia fue como quemar las naves. «Prefiere cortos tratamientos que le permitan estar al cargo», aseguran los informes. Eso explica que en las últimas semanas los esfuerzos médicos se hayan centrado en permitirle una gran actividad con el aumento de analgésicos y estimulantes.
..............................................................................

Venezuela Prepares as Chavez's Health Deteriorates
Stratfor, January 25, 2012

According to a report published by Spanish newspaper ABC on Monday and Tuesday, Venezuelan President Hugo Chavez may only have 9-12 months to live as a result of his decision to prioritize presidential duties over personal health. Chavez's prostate cancer was reportedly discovered in January of 2011, at which point his prognosis was five years. Since that initial diagnosis, Chavez has repeatedly postponed treatments or skipped them altogether in the interests of concealing his illness and protecting his political position.

The leaked report, which ABC says was given to the paper by "intelligence services" (much like a November leak to The Wall Street Journal), is dated Jan. 12 and reviews a medical examination Chavez underwent Dec. 30. According to the report, the South American president needs to undergo a painful, debilitating treatment that, while preventing him from working for more than a month, could extend his lifespan. If he defers the treatment, he will likely to die within the year. According to ABC, when presented with a similar conundrum in November, Chavez chose to stay in Caracas rather than travel to Russia for treatment -- out of fear that the political situation in Venezuela was not secure. We have no way to be completely certain that the report accurately represents Chavez's medical condition, but the tenor of the report matches a series of accounts given to Stratfor and other open sources.

Competition within the Chavista inner circle dominated 2011, as each of Chavez's closest associates sought to take best advantage of the turmoil that ensued when Chavez's bout of illness became public in June. The upcoming October elections have added urgency to this struggle. There is no clear successor to Chavez among the Chavista elite. However, Chavez in recent weeks appointed Diosdado Cabello as first vice president of the Venezuelan United Socialist Party and later named him President of the National Assembly. Clearly, a single faction has taken the lead. Cabello represents the pragmatic, militaristic wing of the Chavista elite. However, although powerful, Cabello is not particularly popular, and he is not likely to be a suitable replacement for Chavez in October.

The most believable political alternative to Chavez may actually come from the Venezuelan opposition. After years of disunity and infighting, the opposition is presenting its most credible challenge to Chavez since he came to office in 1999. Miranda Governor Henrique Capriles Radonski appears most likely to secure the backing of the opposition parties in the Feb. 12 primaries. Capriles has positioned himself as a man of the people, claiming he is the natural heir to Chavismo, but with a pro-business twist.

The most important thing to remember amid all this uncertainty is that the underlying processes driving Venezuela are not as dependent on Chavez as they might appear. The kind of change that truly shifts the nature of a country comes slowly. The attributes of Chavez's regime that are so criticized by opponents -- the networks of corruption, economic inefficiencies and low levels of international investment – are merely contemporary expressions of Venezuela's timeless patterns of patronage and influence.

Even if a prudent leader takes power in Chavez's wake, he will not likely make immediate changes to the system because the risk of destabilization is high. Capriles has made clear that he would make few major changes -- even saying he would maintain the controversial oil shipments to Cuba.

Assuming Chavez is as ill as this week's reports suggest, the next six months will likely be tumultuous. Nonetheless, there remains a good deal of room for compromise among Venezuela's power players, and a power transition over the next year will not necessarily translate to a severe destabilization of the country.
..........................................................................................

El cáncer de próstata del líder venezolano se complica con metástasis en los huesos, la espina dorsal y tumor en el colon, según informes médicos a los que accedió ABC
EMILI J. BLASCO / CORRESPONSAL EN WASHINGTON
ABC (España)24/01/2012

Entre nueve y doce meses le quedan de vida al presidente de Venezuela, Hugo Chávez, si insiste en rehusar el tratamiento adecuado que le obligaría a dejar temporalmente sus funciones presidenciales, según el último examen médico de los especialistas que le atienden. A partir de las nuevas pruebas realizadas el pasado 30 de diciembre, los médicos concluyeron que «su salud parece estar deteriorándose a paso más rápido; claramente ha habido metástasis en los huesos y la espina dorsal».

Así consta en uno de los informes confidenciales elaborados por informantes con acceso al equipo médico de Chávez, manejados por servicios de inteligencia y que ABC ha podido leer en su integridad. El último informe, del 12 de enero, especifica que el presidente venezolano «recibió en el último mes un incremento de dosis de calmantes y estimulantes», lo que explica la gran actividad pública que ha estado desarrollando.

Pero la gravedad de su estado quedó confirmada en el examen del 30 de diciembre, que localizó «un nuevo cultivo cancerígeno de aproximadamente 2 x 1,5 milímetros en el segmento superior del colon». El cuadro clínico reduce su esperanza de vida: en noviembre los médicos hablaban de un año, ahora el peor escenario es de solo nueve meses. Chávez podría morir antes de las elecciones del 7 de octubre o bien llegar a ellas en tal estado, con abundante suministro de morfina, que podría incapacitarle para ejercer un cargo público.

Optimismo oficial
El Gobierno venezolano mantiene la tesis oficial de la curación del cáncer. Pero los detalles ofrecidos por los citados informes confidenciales indican lo contrario. «The Wall Street Journal» ya se hizo eco hace meses de algunos de esos datos; ahora ABC está en condiciones de ampliarlos. Lo que aquí sigue son sus partes más concluyentes.

Detectado el cáncer de próstata en enero de 2011, Chávez es sometido en junio a dos intervenciones en La Habana, la primera dirigida por un médico venezolano, y la segunda por los médicos rusos que después han seguido con todo el tratamiento. Diagnóstico: «Cáncer de próstata complicado con metástasis en colon y huesos». Esperanza de vida: «Cinco años, posiblemente más con buena atención».

A Chávez se le hace una operación de extirpación de próstata, pero no se le toca el colon. Se decide tratar el cáncer de colon con quimioterapia y se lleva a cabo la primera ronda. Para aplicar los remedios adecuados se plantea un viaje secreto a Moscú .

Una revisión del 1 de agosto constata que la primera ronda de quimio no ha dado los resultados buscados, ya que «algunos cultivos cancerígenos continúan creciendo». Entre el 2 y el 5 de septiembre tiene lugar en Venezuela la segunda ronda de quimioterapia. En días posteriores, Chávez cae desmayado en dos ocasiones, y una de ellas requiere cierto tiempo de recuperación.

En octubre se lleva a cabo la tercera tanda de quimioterapia. Los médicos hablan de «tumor agresivo en región pélvica complicado con metástasis de huesos y espina dorsal». Esperanza de vida: «No más de tres años si el tumor no se puede erradicar». El tratamiento se aplica en la base militar venezolana de La Orchila, donde se ha acondicionado una zona como hospital para Chávez.

Desobedece a los médicos

A finales de octubre, el equipo médico anuncia un «claro y significativo crecimiento de las células cancerígenas en médula ósea». Concluyen que «la extensión de la enfermedad se está acelerando». El 19 de noviembre Chávez es sometido a una cuarta tanda de quimioterapia. No obstante, pero «el cáncer ha continuado la metástasis en los huesos». Esperanza de vida: «Aproximadamente doce meses, asumiendo que siga negándose al tratamiento más intenso recomendado».

Nuevas pruebas realizadas entre el 4 y el 6 de diciembre establecen que «el número de células cancerígenas en sus huesos es la más alta desde que comenzó la observación».

Chávez es examinado con más profundidad el 30 de diciembre. «Su salud parece estar deteriorándose a paso más rápido», consideran los especialistas. Declaran «sin éxito» los esfuerzos por «retardar y parar la metástasis a los huesos». «Claramente ha habido metástasis en los huesos y en la espina dorsal». Además se le localiza «un nuevo cultivo cancerígeno de aproximadamente 2 x 1.5 mm en el segmento superior del colon». Esperanza de vida: «De nueve a doce meses» si sigue rehusando un tratamiento adecuado.

De acuerdo con el último informe consultado, del 12 de enero, durante estas semanas Chávez ha recibido «un incremento de dosis de calmantes y estimulantes que le ha ayudado a dar la impresión de que está estabilizado y le ha permitido un nivel de visibilidad alto».

Petite randonnée en Europe: en Côte d’Azur, avec les impressionistes... - Paulo Roberto de Almeida


Petite randonnée en Europe: en Côte d’Azur, avec les impressionistes...

Paulo Roberto de Almeida
(Feito em Lyon, 29/01/2012)

Girona, a cidade setentrional mais importante da Espanha mediterrânea, foi nossa última etapa nesse país: deixando o hotel, pela manha, ainda visitamos a cidade, embora rapidamente, antes de retomar a autoestrada para finalmente cumprir nosso objetivo principal: a Provence e a Côte d’Azur, na França mediterrânea. Eu teria preferido viajar pelas pequenas estradas perto da costa, para refazer o caminho dos últimos combatentes brasileiros que participaram da guerra civil espanhola, da qual se retiraram, finalmente, em abril de 1939, junto com o que restou do exército e do governo republicano derrotados pelas forças franquistas. Eles se retiram por Figueras, depois Port-Bou, a fronteira imediatamente situada em frente à costa francesa, e ficaram internado num campo improvisado nas areias de Argelès-sur-Mer, até o início da guerra europeia (quando tomaram destinos diversos). Já escrevi sobre isso e meu trabalho é este:
“Brasileiros na Guerra Civil Espanhola, 1936-1939: combatentes brasileiros na luta contra o fascismo”, revista Sociologia e Política (Curitiba, PR; ano 4, nº 12, junho 1999, Dossiê: Política Internacional, pp. 35-66; ISSN 0104-4478; link: http://www.revistasociologiaepolitica.org.br/revista12/). Relação de Trabalhos n° 608. Efetuada versão resumida do artigo, publicada sob o título de “O Brasil e a Guerra Civil Espanhola: Participação de brasileiros no conflito” in Hispanista (vol. 2, nº 5, abril-maio-junho 2001; ISSN 1676-9058; link: http://www.hispanista.com.br/revista/artigo37esp.htm).
O roteiro político-sentimental ficou para outra oportunidade, e viajamos sem parar pela Autoestrada do Sol, passando por cidades que conhecíamos bem do sul da França. Ultrapassamos Marselha, Toulon e adentramos no Var, pouco antes dos Alpes Maritimes, onde está Nice, a antiga Nizza dos italianos despossuídos por Napoleão. No final da tarde, depois de 550 kms de estrada, aproximadamente, resolvemos ir em direção ao mar, escolhendo Saint Raphael, próximo a Saint Tropez, como nosso local de repouso e base de viagens. O hotel escolhido foi o Marina, da rede Best Western (a preços praticamente parisienses: 165 euros por noite, e resolvemos ficar só duas...).
Bem, como é nosso costume, e o sacrifício oblige, resolvemos nos dedicar a nosso esporte favorito: gastronomia. O próprio hotel tem um restaurante reconhecido, o Quai St. Raphael, e lá fomos nós. Eu fui de gambas finement persillées, e estavam realmente boas, quase italianas, como eu mesmo diria, e me repetiria; Carmen Lícia preferiu um Loup de Mer entier, grillé à la braise, do qual o maître fez questão de retirar a espinha para ela; como vinho um blanc, Côtes de Provence, Domaine des Planes, produzido a Roquebrune-sur-Argens, um village perto dali (por que passamos numa das nossas incursões). Mais sobremesa, café, etc., ficou tudo por 61 euros, o que achei razoável, tendo em vista o prazer gustativo, olfativo e bebitivo, se ouso a expressão.
Na manhã seguinte saímos em direção a Saint Tropez, para visitar um museu identificado. Antes, porém, como ninguém é de ferro, paramos para almoçar em Sainte Maxime, um village dependente de Fréjus, alguns quilômetros adiante, na costa. Em face do chamado embarras du choix, preferimos um restaurante italiano: San Marco. Eu fui de tagliatelli ai frutti di mare (ou aux fruits de mer, como estava no cardápio); Carmen Lícia pediu um escalopino di vitello alla milanese, também acompanhado de tagliatelli. Para beber, duas taças de Côtes de Provence, blanc et rouge; total: 48 euros, apenas (apenas?).
Musée de l'Annonciade, Saint Tropez, Côte d'Azur, France
Depois, fomos a nosso objetivo principal: o Musée de l’Annonciade, bem no porto velho de Saint Tropez, numa antiga igreja reformada em meados dos anos 1950. Não sei se a Brigitte Bardot frequentou o museu, que já estava aberto quando ela fazia furor nas praias não longe dali, mas ele vale uma visita, não tanto pelos quadros em si, mas pelo leque de artistas consagrados que ali comparecem com dois ou três quadros cada um. Realmente impressionante a amostra, embora, como eu digo, os quadros não estão entre os mais famosos dos impressionistas; mas praticamente 95% dos nomes mais famosos estão ali presentes.
Em St. Paul de Vence
No dia seguinte, já com as coisas empacotadas novamente, e o sol ainda brilhando, saímos (depois de passar no correio) para o objetivo principal: Saint Paul de Vence, e sua Fundação Maeght, uma outra coleção impressionante de impressionistas, se ouso a redundância, mas também comportando uma amostra variada de artistas contemporâneos, com forte ênfase no catalão Miró, que viveu nessa aldeia durante uma boa parte da sua vida.
Para não destoar do costume, antes de visitar a Fundação, almoçamos perto dali, no Restaurant La Terrasse sur Saint Paul (20, chemin des Trions); desta vez, fui eu quem comi Loup grillé, mas tive de retirar eu mesmo as espinhas, que não eram muitas. Antes um aperitivo à base de pasta de azeitona preta; os vinhos foram Muscadet e Bordeaux. Esses lautos almoços, ou jantares, estão destruindo minha linha retilínea, se vocês me permitem a expressão um tanto enganadora.
Um Miró farseur
Já conhecíamos a Fundação Maeght, mas desta vez estávamos sem tempo contado, como em outras viagens, por isso foi o ideal para percorrer calmamente suas várias salas e jardins (o labirinto de Miró, como designado), com muitas escultura de Calder e outros artistas conhecidos. Muitas fotos, não das obras, mas da construção, da arquitetura, das estátuas de jardim.
Dali, fomos visitar um outro impressionista, mas um gigante da escola, Renoir, que tinha uma casa em Cagnes-sur-Mer, numa colina acima da cidade. Era uma residência atelier, que ele alternava (nos meses de inverno) com sua outra casa a oeste de Paris, mas perfeitamente equipada para abrigar toda a sua família e artistas visitantes, que foram muitos nas duas décadas finais de sua vida, quando Renoir já era um ícone da pintura francesa contemporânea. Acabei roubando duas laranjas do jardim de Renoir, mas que, ao provar, revelaram-se muito amargas: bem feito, ninguém mandou praticar maus hábitos.

No retorno, subimos ao Bourg Medieval de Cagnes, encarapitado numa colina e com muitas casas antigas e ruelas tortas. O Cercle des Amis local organiza anualmente um campeonato internacional de “boules carrées”, a crer num cartaz formalmente colado na parede de sua sede. Gostaria de assistir a um campeonato desse tipo, mas ele só se desenvolve em agosto, ainda acreditando-se na palavra dos “cagneux”. 
Cumprida a etapa na Côte de Azur, começamos novamente a subir pela Provence. Nesse dia, 26 de janeiro, dormimos em Cavaillon, a caminho de Gordes, nosso próximo objetivo. O jantar foi no Novotel, à base de spaghetti aux fruits de mer, meu fetiche gastronômico.
Gordes é, provavelmente, uma das mais belas cidades medievais e renascentistas de toda a França, encarapitada, como muitas outras, na montanha, com um belo sol iluminando todas as paredes e janelas de suas muitas casas de pedra e de alvenaria. Os caminhos são estreitos, especialmente o que leva à Abbaye de Sénanque, nossa finalidade de viagem nessa etapa, a cerca de dez kms da aldeia.

Para “matar o tempo”, antes da visita à abadia, só permitida pela tarde, nos sacrificamos mais uma vez no restaurant et hostellerie Le Provençal, bem na praça principal de Gordes. Menu a 24 euros, e eu comecei com salade de chèvre chaud, com tomates sèches; depois colin (um peixe, para quem não sabe), en papillote croustillante et legumes e arroz; o vinho escolhido foi um do próprio Louberon, a região onde estávamos, um Chateau Les Eydins, appelation d’origine controlée, 2009; depois ainda tive um plateau de fromages au choix, e um café; preço final, para os dois: 56 euros.

A abadia de Sénanques foi construída pelos cistercianos no século XII, e conseguiu sobreviver (mas mal) a guerras de religião e à própria revolução francesa, não sem enormes desgastes em sua estrutura e patrimônio econômico. Hoje existem apenas sete monges ali residindo, supostamente em regime de clausura. Digo supostamente porque consegui encontrar dois no corredor e começamos uma conversa agradável, em italiano: sim os dois eram da Itália, um deles de Pisa, na Toscana (onde já estivemos várias vezes) e outro conhecia o Brasil. Acho que eles romperam a clausura porque são italianos, e não conseguem viver sem falar.

Em todo caso, foi uma boa surpresa, numa visita que teria ficando, essencialmente, em paredes quase nuas, grandes salas geladas e sombrias, mas com muita história em todas as partes, como nos explicou a guia que nos acompanhava. Acho que a deixei perturbada, fazendo muitas perguntas sobre a “economia política” dos monges trapistas, apenas para descobrir, depois, que eles também se globalizaram e viraram capitalistas do turismo. A livraria e loja de souvenirs da abadia vendia uma quantidade incrível de produtos, todos da melhor qualidade, a começar pela lavanda, produzida ali mesmo. Compramos um vidrinho, e mais alguns livros, que ninguém é de ferro também nesse particular.
Eu preferi estudar as regras monásticas e saí com uma coleção completa de Règles des moines, incluindo Pacôme, Agostinho, Benedito, Francisco de Assis e as do Monte Carmel. Pronto, agora posso estudar as 73 regras de São Benedito, e quem sabe fazer outras tantas para orientar a vida dos diplomatas, que são tão monásticos quanto. O outro livro que comprei foi de Petrarca, que morou na região, e compôs, em latim, uma série de ensaios “contra a boa e a má sorte” (de 1366). Pode ser que existam alguns bons conselhos para nós mesmos, setecentos anos depois...; em todo caso, entre os remédios “contra a boa sorte”, existem recomendações quanto à “abundância de livros”, o que para mim é realmente um problema. Imediatamente após, tem outra sobre a “reputação dos escritores” e creio que Petrarca pensava na sua própria; vou verificar para ver se tem algum bom conselho em minha intenção. Depois relato o que aprendi...

De retorno a Gordes, ainda visitamos algumas ruelas, mas o castelo da cidade, reformado pelo arquiteto húngaro Paul Vasárely, estava infelizmente fechado para visitas, até o começo do verão, o que é uma pena. Compramos alguns postais, tomei mais um café e retomamos o caminho da estrada provincial na saída da cidade, já com o marcador a mais de 26 mil kms, o que significa que ultrapassei 5 mil kms de randonnée europeia.
Como o tempo estava se fechando, resolvemos vir direto a Lyon, uma bela cidade do interior da França, de onde escrevo estas notas.
Aqui em Lyon, cidade também conhecida de outras etapas, visitamos essencialmente o museu dos tecidos e da seda, onde ocorria uma exposição especial sobre os vestidos da virgem Maria, na França e na Espanha: uma coleção muito interessante de roupas refinadíssimas, que coloca a virgem Maria na altura das melhores modelos de moda de todos os tempos. Antes, porém, nosso passatempo favorito: um almoço num “Restaurant des Vosges”; comida simples, apenas por instinto de sobrevivência; nem tomei vinho. Mas descontei logo mais a noite, com uma garrafa quase inteira de vinho da região, com um queijo de cabra também quase inteiro, e uma baguette quase inteira (estou exagerando, eu sei), mais quatro ou cinco mandarines deliciosas. No quarto tem uma máquina de Nespresso, várias vezes acionada, para diversos tipos de café. Hotel caro tem dessas compensações...
Como o tempo se fecha, com ameaça de neve e gelo por todo lado, resolvemos ir para Paris, para pelo menos degustar nosso zero grau em baixo das cobertas, sem pensar em ficar inventando passeios e descobertas gastronômicas. Mas isso eu contarei depois, quando me estabelecer em Paris. Por enquanto, encerro esta randonnée, e retomo meus “séjours en academie”.
Paulo Roberto de Almeida 
 (feito em Lyon, em 29/01/2012)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Zut! Encore une opportunite ratee: des livres par millions!

Passou-nos completamente, embora teria sido um pouco gelado visitá-la neste inverno: uma cidade dos livros.
Mas não escapa no meio da primavera...
Paulo Roberto de Almeida

Magical Montolieu, In Southern France

By Susan Norton


For the perfect vacation, some answer the call of big cities. Some crave an athletic trip, straining bones and brawn. Yet, for some, a Writers’ Workshop in a medieval town in the South of France pushes creative buttons and beckons them to join other writers and gifted teacher, Terry Wolverton, in Montolieu, an officially designated Historic Book Village. The trip was expertly organized by Anne Block and “Take My Mother, Please” Tours of Los Angeles. She occasionally puts together writers’ trips for a select number of lucky women every year or so to different locales, along with trips geared around shopping, eating, surviving, chocolate, and wonderful sightseeing excursions of L.A. in her pink cadillac convertible.
After four days in Paris, soaking up the delights of that marvelous City Of Lights, topped off by a Vivaldi concert in the Église de Sainte Chappelle, a stunning cathedral where all the walls are stained glass, the group headed out for six days in Montolieu: first flying to Toulouse, then a train to Carcassonne, and a traditional black English taxi for the twenty minute ride to Montolieu, passing fields of sun flowers, lavender and grapes.
     
Entering Montolieu, the magic began. Surrounded on three sides by rivers and the forth by a chateau built in 1146, it is much like falling into a French “Brigadoon”, a whimsical mountain top hide-away with a population of 800, completely isolated from the twenty first century.
First stop was La Café du Livre, where the workshops would meet twice a day, plus breakfast and dinner. Above the café, which is punctuated with book memorabilia and flower arrangements of heather and grapes, there is hidden The International Inkwell Hotel Of Writers, consisting of five small but wonderfully whimsical bedrooms, all unique and charming. All you have to do is close your eyes, and you can easily imagine someone the likes of Victor Hugo, happily cloistered here for solitude, inspiration and great food.
  
Our hostesses of both the hotel and the café, Poppy and Lucia, spoke flawless English, probably because they were from Boston and London, respectively. They organized all the extra curricula activities: a horse drawn cart ride through the town and surrounding area, berry picking, mushroom hunting, horseback riding, a picnic dinner at an abandoned abbey on top of a hill overlooking Montolieu and its valley, and visits to the Mediterranean port of Collioure, Carcassonne (one of the largest walled towns in Europe), the Cabardès winery and Le Moulin de Brousses, a paper mill since 1877. The food was quite wonderful, ranging from nettle soup to rabbit in a delectable prune sauce and a sinfully gorgeous chocolate cake. They even supplied last minute picnic lunches and mouth watering mushroom and cheese omelets.
Since The Inkwell was not big enough to hold everyone, some stayed at the Manufacture Royale, an eighteenth century textile company, transformed into large guest rooms. Guests were given three huge, old fashioned keys: one for the room, one for the outside entrance door, and an especially long one to jiggle the lock about if any of the other two keys failed. The rooms were painted bright lemon yellow with high ceilings, royal blue carpeting and eight foot tall doors that lead out to a huge balcony, overlooking a field of flowers and old ruins. The bathroom was also large and painted red, white and blue. On one wall, there was a granite fireplace. It was the perfect space and ambiance for a couple.
Montolieu was filled with ten book stores, paper shops, book binders, calligraphers and printers. In the center of town, stood the fourteenth century Gothic Cathedral St.-André. Like all French churches, it was massive, musty and memorable. The village square, adjoining it, had a beguiling fountain and was a marvelous place to read, write or watch the locals play pétanque, a combination of bowling and marbles, using heavy silver balls.  On the last evening there, the group sneaked out at midnight for their own rousing game, a bit raucous but such fun!
The villagers alone made the town unique. They were warm, gracious and charming. It must be against the law to fail to greet a passing stranger with a smile and a “Bonjour”. One can even meet villagers who remember the German occupation of the town, turning the residents into terrified servants.
But, for the past ten years, Montolieu was happy to be an official Book Village, joining only fifteen other towns throughout the world with that title. In the Eighteenth Century, it was dedicated to textiles and had a population of about 2500. The mills slowly closed and the young people moved away. Montolieu was left with a population of under one thousand hearty souls who banded together to make the change over from cloth to books.
Bells seemed to be ringing at all times of the day from either the church or from a near by abbey of cloistered nuns. Their tones gave off a solemn feeling, perhaps of continuity, since they had been ringing for hundreds of years.
Twice daily, the Mayor turned on his sound system, played music (this week, he was in his marching band mood), then announced what was going on in town, from poetry readings to the Book Fair in the town square, held the third Saturday of every month. Stalls were set up and people came from all around the area to sell, buy and socialize. Rare and second hand books were plentiful, along with honey, cheese and regional wines from the surrounding Languedoc Region. The mantra of the day was, “Blow your cholesterol levels on Wild Boar Pâté. It’s worth it!”
Montolieu was definitely a place of beauty from the inside to the outside, from its medieval portals to its quiet, loving population. Just strolling through the lazy streets calmed the frenetic souls of this group of writers and allowed creative juices to flow. By the Grace of God and the dedication of these delightful inhabitants, it will always remain a rustic Mecca for lovers of the printed word and a magical “Brigadoon” to many.
GUIDEBOOK to Montolieu
When:
The best months to go there are May thru October. Montolieu is located in a mountainous region of France and can get quite cold in the winter months.
Getting there:
Toulouse is one hour to the west of Montolieu where there is an inter-national airport, serviced by Air France, Air Inter, Air Liberté, etc.
You can make arrangements for someone to pick you up for the 50-minute ride straight to Montolieu.
Trains operate daily from Toulouse to Carcassonne every 40 minutes.
Trains to Carcassonne from Paris take 8 hrs., from Barcelona take 4 hrs.
The final 8 miles from Carcassonne to Montolieu can be accomplished by bus or by arrangement.
Paris is 8 hours by train and Barcelona is 3 hours.
Where To Stay:
The International Inkwell Hotel For Writers
Rue de la Marie
11170 Montolieu
Aude, France
Tel: +33(0) 46824 8117
FX: +33(0) 46824 8321
For November thru April: P.O. Box 477689
Chicago, IL. 60647
FX: (773) 278 3849
EMAIL: Inlink@compuserve.com
They also sponsor other writer workshops. 
18th Manufacture:
Tel: +33(0) 46824 8018
Rates: 300 francs ($60) per night
To Learn More:
Montolieu Information Center - (33-4) 68-24-80-04
FX. (33=4) 68-24-80-11
 “Take My Mother Please” - customer designed adventures in L.A. and elsewhere by Anne Block - (323) 737-2200 FX. - (323) 737-2229
www.TakeMyMotherPlease.com