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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 1 de dezembro de 2013

Os banqueiros centrais que afundaram o mundo - Liaquat Ahamed lido por Maurício Santoro Rocha

Já li esse livro, e recomendo os interessados comprar uma edição americana na abebooks.com: mesmo pagando três vezes mais o frete em relação a um preço provável de 4 dólares, ainda sai mais barato que uma edição brasileira, nova ou usada.
Por outro lado, Keynes pode ter sido um heroi nos anos 1920 e 30: mas ele construiu o sistema que vive em crise, desde pelo menos três ou quatro décadas.
Paulo Roberto de Almeida 
Durante a crise asiática, Liaquat Ahamed olhou com apreensão uma capa da revista Time com fotografias de autoridades econômicas com o título “o comitê para salvar o mundo”. Economista formado em Harvard e Cambridge, com longa carreira como banqueiro de investimentos, Ahamed pensou no fracasso dos titulares dos bancos centrais dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Alemanha em enfrentar a Grande Depressão da década de 1930. Do desconforto nasceu o excelente livro “Lords of Finance: The Bankers Who Broke the World”.
As biografias dos quatro protagonistas se entrelaçam com os dilemas de seus países. Montagu Norman, da Grã-Bretanha, era um aristocrata herói da guerra dos bôeres.Émile Moreau , da França, tecnocrata da prestigiosa Inspetoria de Finanças. Benjamin Strong, dos Estados Unidos, executivo de Wall Street que participara da organização tardia do Fed, após a sucessão de crises que afligiu“o primitivo, fragmentado e instável sistema bancário” (p.52) do país. O personagem mais interessante é Hjalmar Schacht, raro exemplo de self-made man da Alemanha imperial. Brilhante, mas de ambição desmedida, que o levou à aliança com os nazistas. O economista John Maynard Keynes foio contraponto ao quarteto, na qualidade de intelectual em ascensão cujas opiniões críticas desafiavam a ortodoxia com a qual os banqueiros tentaram lidar com a Grande Depressão.
Ahamed começa a narrativa com a crise financeira decorrente da Primeira Guerra Mundial. O conflito causou sérios distúrbios ao comércio internacional e ao funcionamento das economias européias. Para financiar gastos militares, os governos recorreram a aumentos de impostos, empréstimos (“O mais pernicioso e insidioso legado econômico da guerra foi a montanha da dívida na Europa”, p.100) ou simplesmente emissão monetária. A inflação disparou: os preços se multiplicaram por dois na Grã-Bretanha, três na França e quatro na Alemanha, abrindo caminho à catastrófica hiperinflação da década de 1920.
Outro problema: as excessivas reparações que os vencedores impuseram à Alemanha no Tratado de Versalhes. A impossibilidade de honrá-las levou a uma série de conflitos políticos, como a ocupação francesa da Renânia, fomentando o extremismo político. Tentativas internacionais de limitar as reparações – os Planos Dawes (1924) e Young (1929) – tiveram impacto positivo, mas criaram na Alemanha uma perigosa dependência ao capital estrangeiro. A fonte secou após a quebra da bolsa de Nova York e o medo de novo colapso da economia contribuiu para a vitória de Hitler.
Um tema que perpassa a obra é a dificuldade das autoridades financeiras em se adaptar às novas realidades. Ahamed examina de maneira magistral como os esforços para retomar o padrão-ouro (símbolo de confiança e estabilidade) após a I Guerra Mundial resultaram em erros e problemas de coordenação internacional. Uma das melhores anedotas do livro é a bronca que o ator Charles Chaplin deu no então secretário do Tesouro britânico, Winston Churchill, pela decisão de retornar ao ouro com um câmbio sobrevalorizado.
Porém, Ahamed presta homenagem a Benjamin Strong, que “mais do que qualquer um, inventou o moderno banqueiro central” (p.171), criando diversos dos métodos usados para tentar estabilizar economias, e o fez no contexto de um Fed ainda bastante frágil, cindido por conflitos internos. A história sobre como Schacht derrotou a hiperinflação alemã, por meio da criação de uma moeda indexada (o Rentenmark) é bastante conhecida, e narrada com competência pelo autor, bem como o posterior serviço de Schacht sob os nazistas, no qual conseguiu conciliar o combate ao desemprego com controle da inflação, mesmo em meio à Grande Depressão.
Ahamed é crítico do modo fechado pelo qual os banqueiros centrais – “o clube mais exclusivo do mundo” – operavam, e de como seus procedimentos estavam cada vez mais fora de sintonia com as pressões democráticas por transparência e prestação de contas à opinião pública. Tais fracassos ficaram evidentes na incapacidade de prevenir a crise de 1929 e na absoluta desordem e falta de cooperação que se seguiu, com os EUA, cada vez mais isolacionistas,culminando na conferência de Londres (1931) que “provou ser um completo fiasco, o último daquela longa lista de cúpulas desastrosas que começaram em Paris em 1919” (p.466).
Nesse sentido, Keynes é de fato o herói do livro, com sua atuação aberta por meio da imprensa e dos livros, construindo as idéias que resultaram nacúpula de Bretton Woods, em 1944, e na criação de instituições econômicas internacionais que colaboraram para a prosperidade sem precedentes do mundo do pós-guerra.
AHAMED, Liaquat. Lords of Finance: The Bankers Who Broke the World. Nova York: Penguin, 2009, 564 p. ISBN 978-I-59420-182-0
Maurício Santoro Rocha é Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro -  IUPERJ e Especialista em Políticas Públicas e Gestão (Mauricio.Rocha@mdic.gov.br).

O melhor regime de emagrecimento do mundo: em Cuba, vivendo como um cubano - Patrick Symmes

Grato a meu amigo Orlando Tambosi por me chamar a atenção para este artigo, que li, na versão completa, que ele indica ao final da sua seleção inicial.
Paulo Roberto de Almeida 
Trinta dias no inferno cubano

O escritor e jornalista Patrick Symmes passou 30 dias vivendo como um cubano, com 15 dólares por mês. Seu relato desmonta o discurso ideológico dos que defendem a revolução castrista, refutada pelo miserável quotidiano da população. 
Creo que en las dos primeras décadas de mi vida no pasé nunca más de nueve horas sin comer. Más tarde experimenté intervalos más largos – en China en los años ochenta, viajando con insurgentes en remotas zonas de Colombia y Nepal, cruzando Sudamérica en motocicleta, completamente arruinado – pero siempre volvía a casa, me daba un atracón, comía cualquier cosa, cuando quería, y recuperaba el peso que había perdido y más. Había experimentado la trayectoria habitual de la vida americana y ganado medio kilo al año una década tras otra. Cuando decidí ir a Cuba y vivir un mes con lo que los cubanos deben vivir, pesaba 105 kilos. Nunca había pesado tanto en mi vida.

En Cuba el salario medio es de 20 dólares al mes. Los médicos pueden ganar 30; mucha gente gana solo 10. Decidí premiarme con el salario de un periodista cubano: 15 dólares al mes, los ingresos de un intelectual oficial. Yo siempre había querido ser un intelectual, y 15 dólares era sustancialmente más que los 12 dólares que ganaban los muchachos que construían paredes de ladrillo o cortaban caña, y casi el doble de los 8 dólares recibidos por muchos jubilados. Con ese dinero tendría que comprar mi ración básica de arroz, frijoles, papas, aceite de cocina, huevos, azúcar, café y cualquier otra cosa que necesitara.

Sabía que me resultaría duro renunciar a la comida, así que empecé mi dieta cubana estando aún en Nueva York. Perdí cuatro kilos y medio en los dos meses anteriores a mi partida. Una y otra vez, mientras me preparaba para ese viaje, amigos horrorizados especulaban sobre la comida de la que me iba a atiborrar y los objetos que correría a consumir. Daban por hecho que verse privado de alguna cosa querida durante treinta días era una prueba insoportable. Temían por el helado. En mi experiencia, nadie que pase hambre quiere helado.


Mi primera media hora en Cuba la pasé en los detectores de metales. Después, como parte del nuevo régimen, desconocido para mí en los quince años que llevaba viajando allí, fui sometido a un intenso pero amateur interrogatorio. No era nada personal: todos los extranjeros en el pequeño turbohélice procedente de las Bahamas fueron separados y largamente interrogados. El gobierno cubano se mostraba nervioso con los extranjeros que viajaban solos porque Human Rights Watch había estado allí gracias a visados turísticos y un contratista del Departamento de Estado, que viajaba también con un visado de turista, había sido sorprendido distribuyendo lápices de memoria usb y teléfonos vía satélite a figuras de la oposición. Los turistas eran peligrosos.

Como en Israel, un agente de paisano me hizo preguntas sin importancia en busca de detalles (“¿A qué localidad va? ¿Dónde está eso?”), preguntas diseñadas para provocarme, revelar alguna incoherencia o para que me mostrara nervioso. No miró mi billetera ni me preguntó por qué, si iba a estar en Cuba un mes, llevaba menos de veinte dólares.

La mirada del supervisor se posó sobre los demás pasajeros. Había pasado.

–Treinta días –le dije a la mujer que selló mi visado de turista. El máximo.



Del techo del aeropuerto colgaba un cartel en el que había dibujado un autobús. Pero no había ningún autobús. No en ese momento, me explicó una mujer en el puesto de información. Habría un autobús –uno– esa noche, alrededor de las ocho, para llevar a los trabajadores del aeropuerto a casa.

Para eso faltaban seis horas. El centro de La Habana estaba a quince kilómetros de distancia. Como los taxis costaban 25 dólares –más que mi presupuesto total para el próximo mes– iba a tener que andar.

La misma mujer sacó del bolsillo de su uniforme un par de monedas de aluminio que me dio: 40 centavos, dos centavos de dólar estadounidense. En la autopista, a unos cuantos kilómetros de allí, quizá encontrara un autobús urbano. Y en La Habana podía encontrar, debía encontrar, la forma de sobrevivir durante un mes. Tuve que echarme la mochila a la espalda y ponerme a caminar. Las monedas de aluminio tintineaban en mi bolsillo. Salí de la terminal, crucé el aparcamiento, cogí una salida y giré por la única carretera dejando el mundo exterior tras de mí con cada paso. Cada pocos minutos se paraba un taxi tocando la bocina, o lo hacía un coche privado que me ofrecía llevarme por la mitad del precio oficial. Yo seguí caminando y dejé atrás la vieja terminal junto a campos llenos de maleza. Los carteles anunciaban viejos mensajes: “Bush terrorista”. Al cabo de cuarenta minutos pasé por encima de un cruce de vías de ferrocarril, salí de la autopista y tuve suerte. El autobús a La Habana estaba justo allí. Una hora más tarde estaba en el centro de La Habana y buscaba a pie a un viejo amigo. (Continua).

(...)
Ella escuchó impertérrita mientras le explicaba mi intento de vivir del racionamiento. “Es un gran plan para adelgazar”, dijo. Otro disidente que visitaba la casa, Richard Roselló, terció. Había estado llenando un cuaderno con el precio de bienes en los mercados paralelos, también llamados mercados clandestinos o negros. “Un problema es la comida”, dijo Richard, “pero otro es ¿cómo pagas la factura de la luz, del gas, la renta? El costo de la electricidad ha subido entre cuatro y siete veces, comparado con antes.” Elizardo pagaba casi 150 pesos mensuales por la electricidad, una cuarta parte del salario medio.
(...)
Una “cesta mensual” de comida racionada (que en realidad duraba doce días) costaba 12 pesos por persona, según el cálculo del gobierno. Durante los diez días siguientes la gente tenía que comprar la misma comida por unos 220 pesos en el mercado libre, el paralelo y el negro. Eso solo te daba veintidós días. Un mes costaba unos 450 pesos, más que todo el ingreso de millones de cubanos, y eso no incluía ropa, transporte o artículos domésticos. (...)
Se robaban de empresas estatales cuando era posible y se vendían en el mercado negro. La ropa tenía que comprarse usada, en reuniones de trueque llamadas troppingsen burlona alusión a los shoppings para divisa fuerte. Los que se quedaban sin comida la rebuscaban en contenedores o se convertían en alcohólicos para calmar el dolor, dijo.
(...)
La gente no se desmaya en las calles, muerta de hambre. ¿Por qué? Porque el gobierno garantiza dos kilos o tres de azúcar, que tiene muchas calorías, y pan cada día, y suficiente arroz. El problema de Cuba no es la comida ni la ropa. Es la falta total de libertad civil, y por lo tanto de libertad económica, que es la razón por la que tienes que tener libreta.
(...)
El Estado era propietario de todo. La gente se apropiaba de todo. Un sistema de racionamiento al revés. (...)
Otra cosa que yo tenía en común con casi todos los cubanos era que no trabajé absolutamente nada en mis treinta días. Es decir, trabajé mucho y frecuentemente en mis propios proyectos –cargué cemento y moví grava a cambio de dinero, y escribí mucho– pero no era trabajo estatal, ese trabajo que se cuenta en las columnas de la Cuba oficial, en la que más del 90 por ciento de la población es empleada del Estado. ¿Por qué iba a buscar trabajo? Nadie más se tomaba el suyo en serio, y el chiste más viejo de La Habana sigue siendo el mejor: Ellos simulan pagarnos, nosotros simulamos trabajar. (...)

Me había gastado una quinta parte del dinero que me quedaba impulsivamente. Ahora solo tenía 64 pesos para sobrevivir durante los diecisiete días siguientes. ¿Qué iba a ser de mí? ¿Cómo iba a comer cuando me quedara sin frijoles, de los que ya no había muchos? ¿Y si cometía otro error? ¿Y si me robaban? ¿Cómo llegaría al aeropuerto el último día si no tenía ni unos cuantos peniques para el billete de autobús? (...)

Una vez al día cedía a mi vanidad, me quedaba sin camisa delante de un espejo y miraba al hombre que no había visto en quince años. Había perdido dos, luego tres, luego ocho kilos. Pero el estómago y la mente se ajustan con una aterradora facilidad. La primera semana había estado asustado y muerto de hambre. La segunda, dolorido y hambriento. Ahora, en mi tercera semana, comía menos que nunca pero estaba bien física y mentalmente.
Había pasado mi peor día hasta el momento, con solo 1,200 calorías. Eso era lo que comía un prisionero de guerra americano en Japón durante la Segunda Guerra Mundial.
(...)
“Es imposible”, dijo de mi intento de ser oficialmente cubano. Para sobrevivir, todo el mundo tenía que tener “un extra”, algún ingreso fuera del sistema. Su marido alquilaba una habitación a un turista sexual noruego. Su vecina vendía comida a los trabajadores que habían perdido el almuerzo gratuito de las cantinas. Su madre vagaba por las calles con jarras de café y una taza, vendiendo dosis de cafeína. Su amigo de la esquina robaba el aceite de cocina y vendía a 20 pesos el medio litro. Otro vecino robaba pollo molido y vendía a 15 pesos el medio kilo. (“Buena calidad, a muy buen precio, deberías comprar”, y lo hice.)
(...)
Yo tenía por costumbre decir que un 10 por ciento de todo era robado en Cuba, para ser revendido o reutilizado. Ahora creo que la cifra real es un 50 por ciento. El delito es el sistema.
(...)
Mi última mañana: no desayuné después de no haber cenado. Utilicé la moneda de la prostituta para coger un autobús al aeropuerto. Tuve que caminar los últimos minutos hasta mi terminal y casi me desmayo en el camino. Se produjo un momento tragicómico cuando un hombre de uniforme me apartó de la fila en los detectores de metales porque un agente de inmigración creía que me había quedado más de los treinta días que me permitía el visado. Fueron necesarias tres personas, contando repetidamente con los dedos, para probar que seguía en el trigésimo día.
Cené y desayuné en las Bahamas y gané dos kilos. De vuelta en Estados Unidos, engordé otros tres y medio. Cambias de nacionalidad y cambias de peso. ~
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Traducción de Ramón González Férriz
© 2010 Patrick Symmes. Todos los derechos reservados

Um capitalista infeliz: Olacyr de Moraes e o Estado obstrutor do crescimento

Este homem já foi o rei da soja, em sua fazenda Itamaraty, invadida por "sem-terras" neobolcheviques e hoje sem qualquer produtividade, totalmente inoperante.
Agora ele tenta outros caminhos e encontra outro formidável obstáculo pela frente: o Estado companheiro, ineficiente, incompetente, corrupto.
Paulo Roberto de Almeida 
'O momento é preocupante. Quem é consciente está apreensivo com o que está ocorrendo, a exemplo da possibilidade', diz (Ana Rayssa/CB/D.A Press - 19/11/13)
'O momento é preocupante. Quem é consciente está
apreensivo com o que está ocorrendo, a exemplo da possibilidade' 


Paulo Silva Pinto
Sílvio Ribas
Publicação: 24/11/2013 

Ex-rei da soja, Olacyr de Moraes agora aposta todas as fichas no minério. O homem que já foi um dos maiores empresários do país e ficou conhecido por andar com belas mulheres tenta, aos 82 anos, voltar ao topo explorando minérios, mas esbarra na burocracia

O empresário Olacyr de Moraes, conhecido até os anos 1990 como o rei da soja, ainda não desistiu de buscar novas oportunidades de prosperar. Aos 82 anos, e afirmando ser hoje um “homem rico, mas sem dinheiro”, aposta todas as fichas em jazidas de terras raras — minerais estratégicos dos quais o país é importador e cuja produção pode ser dobrada com a liberação de suas minas. “A burocracia existe para atrapalhar e não para ajudar”, protesta, cobrando licenças ambientais para áreas na Bahia e em São Paulo.

Nesta entrevista ao Correio, o ex-agricultor e ex-banqueiro revela que, embora esteja mais comedido, não abandonou o hábito de ter belas e jovens mulheres em sua companhia. Morando sozinho, ele conta que sem elas morreria. Mas descarta o folclore criado em torno de sua figura, de exibicionismo na sociedade paulista. “Nunca gastaria R$ 50 mil numa noite, como esse tal de rei do camarote”, brinca.

Como o senhor avalia a atual situação econômica do Brasil?

O momento é preocupante. Quem é consciente está apreensivo com o que está ocorrendo, a exemplo da possibilidade de redução na nota de crédito do país. É tudo um contrassenso; vivemos uma situação de pleno emprego, mas com baixo crescimento. Somos gigantes, mas enfrentamos uma máquina pública paralisante. A burocracia existe para atrapalhar e não para ajudar. Há seis anos, descobri dois minerais de terras raras em Barreiras (BA) e em São Paulo, mas o licenciamento ambiental não sai. 

Os ambientalistas e órgãos de controle apontam riscos à biodiversidade. O senhor discorda?

Se a minha mina começasse a ser explorada poderia levar grande progresso para a região. É a mesma dificuldade enfrentada na construção de hidrelétricas na Amazônia.

O senhor começou a se dedicar a agropecuária em Mato Grosso durante o regime militar?

Foi em 1966, nas franjas da Amazônia. Não se produzia nada lá. Era preciso levar os garrotes de caminhão para engordar em São Paulo. Se fossem pelo chão perdiam metade do peso. Quando cheguei à Chapada dos Parecis, nem capim se podia plantar lá. Morreram 2 mil cabeças de gado da fazenda, em razão da acidez e da falta de micronutrientes na terra, hoje uma das melhores do país. Descobri uma jazida de calcário e começamos a usá-lo para corrigir o solo. Quando passei a produzir grãos, o problema era o escoamento da safra, que até hoje representa um custo muito alto.

Por aí que o senhor decidiu construir uma ferrovia?

Quando comecei a fazer a Ferronorte, chamaram-me de louco, que não teria carga. Hoje, a ferrovia está lotada todo o tempo. Meu plano era chegar até Porto Velho (RO), de um lado, e a Santarém (PA), do outro (o trecho mais novo, inaugurado há dois meses, chega a Rondonópolis, a 200km de Cuiabá). Com a ferrovia até Santarém, os grãos embarcariam muito mais perto de mercados consumidores da Europa. O produtor brasileiro ainda paga US$ 100 para chegar ao porto e o dos Estados Unidos,
US$ 10. 

Por que a ferrovia não deu certo? Acredita que ela será feita?

Claro. Quem vai abastecer de alimentos esse mundo todo senão o Brasil? Assinei um contrato com o governo em 1989 em que ele se comprometia a construir, com recursos da Sudam (Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia), uma ponte sobre o Rio Paraná. Fiz 200km de ferrovia e ainda recuperei o trecho paulista, que não era usado havia 40 anos. O governo levou oito anos para fazer a ponte. A Sudam não liberou um centavo. Preferiu fazer política, pulverizou o dinheiro. O governo me deve pelo menos R$ 1 bilhão. Nem sequer me pagou pela participação na obra da Usina de Xingó (SE).

sábado, 30 de novembro de 2013

Petrobras dos companheiros se afunda em dividas e nos prejuizos: que presente de 60 anos....

A Petrobras passou a maior parte da sua vida útil sem encontrar muito petróleo, mas sendo sugada por políticos, sindicalistas, oportunistas, e toda espécie de aproveitadores conjunturais.
Quando ela começou a melhorar, devido às reformas feitas por pessoas sensatas, e ser administrada como uma companhia comercial que é -- claro, deveria ter sido privatizada desde o início do processo, mas não foi, por causa dos mitos que cercam o petróleo no Brasil, e por causa da ignorância majestosa de políticos e jornalistas -- aí chegaram os companheiros e deram início ao processo de desmonte. Primeiro voltando a sugar a companhia, para alimentar ainda mais aproveitadores do que antes, porque os companheiros são insaciáveis em sua auri sacra fames...
Isso e mais a gestão incompetente de ministros, chefes de gabinete civil e ainda mais alto escalão, fizeram o resto, e a companhia é isso que vocês sabem, estão vendo e acham que algo aconteceu, mas não sabem como.
Eu conto: má gestão, incompetência, inépcia, burrice, desonestidade, e outras coisas mais...
A constatação está na primeira matéria; a incompetência, na segunda.
Paulo Roberto de Almeida

Petrobrás é a empresa com mais dívidas no mundo

Segundo relatório do BofA, a dívida da empresa cresceu muito por causa do programa para elevar a produção offshore


19 de outubro de 2013
FERNANDA GUIMARÃES - O Estado de S.Paulo
A Petrobrás é agora a empresa mais endividada do mundo, segundo relatório divulgado pelo Bank of America Merril Lynch. "A dívida da Petrobrás cresceu rapidamente com a empresa implementando um ambicioso programa de investimento de US$ 237 bilhões para o crescimento de sua produção offshore", informa o documento.
Segundo o BofA, um importante fator para a Petrobrás reverter a tendência de alta da sua alavancagem seria impulsionar o seu Ebitda (geração de caixa), o que ocorreria com um aumento de produção.
"Sem uma produção maior, a alavancagem continuará a crescer a menos que ocorra um forte aumento nos preços da gasolina e uma forte redução no programa de capex (investimento)", segundo o documento. Para a equipe de análise, a produção da estatal deveria crescer para 3,8 milhões de barris por dia para que a alavancagem da empresa comece a cair.
"Os próximos 6 a 18 meses serão, esperançosamente, o início de uma importante virada para a Petrobrás em termos de produção", ainda de acordo com o documento.
Outro ponto relevante é o aumento dos preços. "De acordo com a diretoria, um aumento adicional de preços é possível no curto prazo", afirma a analista que assina o documento, Anne Milne, que julga difícil "dada a fraqueza no crescimento da economia, pressão inflacionária, um real fraco e risco de protestos sociais".
Outro ponto que poderia ajudar na redução do endividamento da petrolífera seria a redução do programa de investimentos. "A empresa identificou US$ 29,5 bilhões em projetos que estão com baixa valorização", destaca a analista. Ela frisa que movimento de venda de ativos e de joint ventures pode ajudar a Petrobrás, além de um amplo programa de redução de custos.

Brazil raises fuel prices holds off changes to subsidies
By Samantha Pearson in São Paulo
Financial Times, November 29, 2013

Brazil’s state-controlled oil company, Petrobras, has agreed to raise fuel prices but failed to deliver a transparent pricing policy for the future, dealing a blow to investors and the country’s struggling ethanol industry.
The Rio de Janeiro-based company said late on Friday that it’s board had agreed to raise petrol and diesel prices by 4 and 8 per cent respectively as of Saturday morning.

Under Brazil’s unofficial fuel subsidies agreement, Petrobras is forced to import fuel and sell it at a loss in the domestic market to help the government control inflation.
The practice has cost its refining unit over R$40bn since the beginning of 2011, raising doubts about its ability to deliver its $237bn five-year investment plan. It has also caused great anger among minority shareholders around the world.
The moderate fuel price increases announced on Friday should help limit losses but investors had been hoping for more after the company had promised greater transparency on fuel subsidies.
Petrobras said in a surprise announcement last month that it had prepared a methodology that would help match domestic prices to international prices. However, the move needed the approval of the board, led by Finance Minister Guido Mantega.
In its statement on Friday, Petrobras said the price increases were part of the “implementation of its diesel and petrol price policy”. However, it said the policy would remain private, prompting criticisms that the company had, in fact, made no significant changes to its practices at all.
Brazil’s ethanol industry body, Unica, said on Friday that the announcement would not help as it gave no clarity on future fuel prices.
Producers of the biofuel have suffered widespread losses over the past few years as they are unable to compete with subsidised petrol prices. In Brazil, almost all cars are built to run on ethanol or petrol, leaving drivers to choose depending on which fuel is cheaper at the pump.
“We continue without any system, without a formula with clear and stable parameters, which would make it possible to understand the basis on which petrol prices are maintained or adjusted,” Unica said in a statement on Friday.
While Petrobras’s management have been keen to push through a transparent methodology, the government is concerned it would boost fuel already high inflation and decided to block the move, according to local media.
Annual inflation in Brazil was last recorded at about 5.8 per cent – below the 6.5 per cent ceiling of the tolerance range but above the 4.5 per cent target.
On Wednesday, the central bank raised the benchmark interest rate by 50 basis points to 10 per cent, adding to what has become the world’s biggest tightening cycle this year.

Anti-OGMs: os reacionarios e retardatarios, os regressistas e anticientificos perdem um aliado de peso

Cientistas sérios submetem suas pesquisas a mais de um experimento, de preferência independente, antes de publicar resultados que já partem de uma hipótese pré-concebida...
Paulo Roberto de Almeida

GM tumors study withdrawn
Shanghai Daily, November 30, 2013, Saturday

The publisher of a controversial and much-criticized study suggesting genetically modified corn caused tumors in rats has withdrawn the paper after a yearlong investigation found it did not meet scientific standards.
Reed Elsevier’s Food and Chemical Toxicology journal, which published the study by French researcher Gilles-Eric Seralini in September 2012, said the retraction was because the study’s small sample size meant no definitive conclusions could be reached.
“This retraction comes after a thorough and time-consuming analysis of the published article and the data it reports, along with an investigation into the peer-review behind the article,” the journal said in a statement.
“Ultimately, the results presented — while not incorrect — are inconclusive, and therefore do not reach the threshold of publication for Food and Chemical Toxicology.”
At the time of its original publication, hundreds of scientists across the world questioned Seralini’s research, which said rats fed Monsanto’s GM corn suffered tumors and multiple organ failure.
The European Food Safety Authority issued a statement in November 2012 saying the study by Seralini, who was based at France’s University of Caen, had serious defects in design and methodology and did not meet acceptable scientific standards.
Within weeks of its appearance in the peer-reviewed journal, more than 700 scientists had signed an online petition calling on Seralini to release all the data from his research.
In its retraction statement, the magazine said that, in light of these concerns, it too had asked to view the raw data.
Seralini “agreed and supplied all material that was requested by the editor-in-chief,” it said.
The journal said that, while it had received many letters expressing concerns about the findings, the proper use of animals and even allegations of fraud, its investigation found “no evidence of fraud or intentional misrepresentation of the data.”
However, it said there was legitimate cause for concern regarding both the number of animals in each study group and the particular strain selected.
Seralini, who works with a group called CRIIGEN, the Committee for Research and Independent Information on Genetic Engineering, said the journal’s criticisms of his work were “unacceptable.”
“Were FCT to persist in its decision to retract our study, CRIIGEN would attack with lawyers, including in the United States, to require financial compensation for the huge damage to our group,” he said in a statement.
Other scientists, however, welcomed the journal’s decision.
“The major flaws in this paper make its retraction the right thing to do,” said Cathie Martin, a professor at the UK’s John Innes Centre. “The strain of rats used is highly susceptible to tumors after 18 months with or without GMO (genetically modified organisms) in their diets.”

Professor David Spiegelhalter, of Cambridge University, said it was “clear from even a superficial reading that this paper was not fit for publication.”

Era uma vez um BRIC que fez tilt, e depois estilhacou - Marcos Troyjo

Marcos Troyjo
FOLHA DE S. PAULO
Sexta-feira, 29.11.13

Se países não têm boa performance, gestores mudam seu foco para outro grupo e assim por diante

Habita o futuro da economia global grande população de acrônimos. Bric, Brics, Ibas, N-11, Mist. E agora, Mint (conjunto de México, Indonésia, Nigéria e Turquia). É a novasigla elaborada por Jim O' Neill, primeiro formulador da ideia de Bric.
Por que essas siglas surgem aos montes? A aposta nos mercados de maior crescimento no futuro às vezes é jogada de marketing. Sofisticados fundos são montados por bancos de investimento quando um grupo de países está prestes a arremeter. E esses fundos ajudam na decolagem --percebida e real.
Foi o que aconteceu com o Bric a partir de 2001-2003, quando se organizaram os primeiros produtos financeiros agregando numa mesma cesta papéis desses países. Tudo isso é legítimo e faz parte do jogo.
Se países não têm boa performance, gestores mudam seu foco para outro grupo e assim por diante. Aqui, o termo forte é "mercados emergentes", e o desempenho é medido sobretudo em matéria de retorno sobre investimentos.
O "Bri" (Brasil, Rússia e Índia) de Bric tem decepcionado com crescimento baixo e imobilismo político. Excetuando-se a China, a média de crescimento recente do Mint é bem superior à do Bri. E o Mint apresenta ainda melhores perspectivas em termos de bônus demográfico.
Há também o tema da institucionalização de novos agrupamentos político-econômicos. Aqui, ao contrário do que supunham os céticos, os Brics (acrescidos de África do Sul) têm conseguido consistência. No ano que vem, em Fortaleza, realizarão sua sexta cúpula de chefes de governo.
Possuem densa agenda comum --com grupos de trabalho em áreas como saúde pública ou combate ao terrorismo. Lançam em breve o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 50 bilhões para infraestrutura. É irreal supor que o Mint venha a percorrer processo de construção institucional semelhante ao dos Brics.
A questão mais importante, no entanto, diz respeito ao conceito de "potências emergentes". É algo mais abrangente do que o critério majoritariamente financeiro com que se abordam "mercados emergentes".
É por isso que, quando surgem novos siglas a denotar o dinamismo das nações, logo se pergunta: "Brics são coisa do passado e serão substituídos pelo Mint?".
O maior risco para os Brics não vem de um outro acrônimo da moda. O perigo é o descolamento da China como superpotência a pactuar-se mais com EUA e Europa do que seus parceiros emergentes.
Pequim e Bruxelas iniciaram conversações para acordo de comércio e investimentos. Prosseguem tratativas entre Pequim e Washington para um acordo bilateral ou algo no âmbito da Parceria Transpacífico, que envolve também outros atores de Ásia, Oceania e América do Sul.
Focalizada em objetivos maiores, a China pode utilizar a plataforma Brics de forma decorativa. Isso será ruim para o Brasil.
Saltará aos olhos nossa ingênua aposta na OMC e na Cooperação Sul-Sul. Seremos cada vez mais percebidos como potência intermediária de crescimento insatisfatório, nenhum apetite para reformas e governo disfuncional.

Argentina: os aliados dos companheiros... na corrupcao

E onde mais seria?
Paulo Roberto de Almeida 

Entrevista - Jorge Lanata

Uma voz contra Cristina Kirchner

O apresentador de TV que mais denuncia a corrupção na Argentina revela que empresas são obrigadas a pagar propinas mensais ao governo. Corajoso, não teme represálias

Tatiana Gianini, de Buenos Aires
O apresentador de TV Jorge Lanata
As noites de domingo na Argentina são sempre tensas para a presidente Cristina Kirchner. Em abril de 2012, o canal de televisão aberta El Trece, do Grupo Clarín, estreou o programa Periodismo para Todos (PPT), conduzido pelo jornalista Jorge Lanata, de 53 anos. O título já é uma provocação ao discurso populista da presidente, que vive prometendo futebol, habitação e leite “para todos”. Com humor na medida e muita investigação, Lanata revela os mais escabrosos casos de corrupção do governo Kirchner. Sua fama está consolidada. No ano passado, uma pesquisa com 3 000 argentinos mostrou que ele tem o dobro de credibilidade da presidente. Por obra do governo, porém, o futuro do programa está ameaçado. Em outubro último, a Suprema Corte declarou constitucional a Lei de Mídia, que, entre outras implicações, pode forçar o Grupo Clarín a se desfazer do canal El Trece. Lanata recebeu VEJA em seu apartamento no bairro Recoleta, acompanhado de Salsa, uma fêmea de buldogue-francês, fumando sem parar.
As gestões de Néstor e Cristina Kirchner foram as mais corruptas da história recente da Argentina?
Há anos me perguntam qual governo foi pior e qual roubou mais. Sempre respondi que isso não interessa. Importa é quem está roubando agora. Estou convencido, porém, de que a corrupção hoje é até maior do que na gestão do presidente Carlos Saúl Menem (1989 a 1999). Os Kirchner criaram um novo tipo de corrupção. No governo Menem, os políticos pediam propinas para autorizar certas obras públicas ou direcionar licitações. O casal Kirchner foi muito além.
A esta altura, o dinheiro não importa tanto, porque já se acumulou muito. A grande questão é permanecer no poder
De que forma? 
Eles participam das empresas como se fossem sócios. A corrupção é muito mais estrutural. Se uma companhia quer vencer um leilão para construir uma ponte, eles concedem. No entanto, passam a cobrar 10% do lucro corporativo daquele momento em diante. Não basta o empresário pagar propina uma única vez. Todo dia 5, para sempre, um burocrata vai passar na recepção das empresas para pegar uma mala com o pagamento. Na lista de quem tem mais dinheiro na Argentina, além dos ricos de sempre, três nomes do sul do país, a região dos Kirchner, entraram para o grupo recentemente. Todos estão vinculados ao governo. São eles Lázaro Báez, empreiteiro, Cristóbal López, dono de empresas de petróleo, e Gerardo Ferreyra, da Electroingeniería, uma construtora de obras públicas.
Qual foi a denúncia mais grave que seu programa já divulgou? 
Foi a série de revelações que chamamos A Rota do Dinheiro K. Em abril, o Periodismo para Todos exibiu uma reportagem mostrando que Lázaro Báez, amigo e sócio do casal Kirchner e dono de uma empreiteira que realizava obras públicas na província de Santa Cruz, tirou do país 55 milhões de euros de forma ilegal. O dinheiro saía de Río Gallegos, na província de Santa Cruz, fazia escala operacional em Buenos Aires e seguia para ser depositado em contas na Suíça e de empresas em paraísos fiscais, como Belize. Mostramos que Báez está envolvido com lavagem de dinheiro, superfaturamento de obras públicas e evasão de divisas. Báez, um ex-funcionário do Banco de Santa Cruz, tornou-se nos últimos anos um empresário com investimentos nos setores imobiliário, hoteleiro e de petróleo. Tem 3 bilhões de dólares. Quanto disso é dele, quanto seria de Néstor e quanto é de Cristina? Não tenho ideia, mas estou certo de que uma parte foi para ela.
O enriquecimento pessoal é o principal propósito da corrupção no governo de Cristina Kirchner? 
A esta altura, o dinheiro não importa tanto, porque já se acumulou muito. Não estão nem aí para isso. A grande questão é permanecer no poder. Não duvido que a presidente renunciaria para preservar a mística se encontrasse um jeito de manter influência na Casa Rosada no futuro, já que não pode se reeleger.
O filho da presidente, Máximo Kirchner, pode tentar suceder a ela? 
Máximo é um dos principais conselheiros da presidente. Ele integra a chamada mesa chica, que toma as decisões. Essa cúpula é formada pela mãe, pelo filho, por Carlos Zannini, secretário para assuntos legais, e Héctor Icazuriaga, o secretário de Inteligência. Mas Máximo não tem carisma. É um homem que não fala. Outro dia, por casualidade, ele deu entrevistas sobre a doença da mãe, no aeroporto de Santa Cruz. Era difícil escutar sua voz. Ele não está capacitado para o cargo.
Qual será o legado dos Kirchner para a Argentina? 
Essa foi uma década desperdiçada. Nunca entrou tanto dinheiro na Argentina e nunca se perdeu tanto. O país passou dez anos gastando o que tinha, imaginando que depois alguém virá pagar a conta. Mesmo com os recursos vindos das exportações, a proporção de pobres continua em torno de 30% da população e a de indigentes, em 15%. Há muito clientelismo. A educação não funciona. A política exterior é absurda. Viramos amigos do Irã e brigamos com o Uruguai, nosso vizinho. O controle de câmbio fracassou e as reservas internacionais em dólares estão acabando. Um ajuste é urgente e necessário, mas ninguém quer fazê-lo.
A corrupção é muito mais estrutural. Não basta o empresário pagar propina uma única vez. Todo dia 5, para sempre, um burocrata vai passar na recepção das empresas para pegar uma mala com o pagamento
Qual é o real objetivo da Lei de Mídia, que o governo alega ter sido feita para democratizar os meios de comunicação na Argentina? 
Este governo se sente incomodado com a questão da audiência. Embora seus membros e empresários amigos tenham investido milhões de pesos em veículos de comunicação, nenhum programa chapa-branca consegue mais de 3 pontos de audiência. Eles têm dinheiro, mas não têm talento. O texto da lei limita para os meios privados um máximo de 35% do mercado de televisão aberta. As empresas também não podem alcançar mais de 35% da população em televisão a cabo nem possuir mais de dez licenças de rádio. Mas audiência não é algo que possa ser repartido assim, por decreto. Uma cidade pode ter 400 rádios que ninguém ouve e uma que concentra todo o interesse dos ouvintes. O que determina o público é a qualidade. Meu programa na Rádio Mitre alcança 52% dos ouvintes no seu horário. O que o governo espera que eu faça? Que peça às pessoas que não me escutem? Não posso fazer isso. Se o governo tivesse bons programas, eles teriam 50% da audiência. Não conseguem isso porque o povo não é idiota. O jornalismo oficialista só funciona quando não tem concorrentes. Em Cuba, o Granma vende jornais apenas porque não existem outras opções.
Seu programa dominical Periodismo para Todos vai deixar de existir quando a lei for implementada? 
Não consegui saber ainda quanto a Lei de Mídia vai nos afetar. Num primeiro momento, o governo ameaçou o Clarín com um ultimato. Diziam que as autoridades decidiriam com quais empresas o grupo ficaria. Depois, o Clarín apresentou um plano de adequação, que está sendo analisado. Neste ano, estaremos no ar até 8 de dezembro. A princípio, voltaremos em abril, mas o retorno é uma incógnita. Não sei se o canal continuará existindo ou se vamos sofrer intervenção do governo. Se for assim, eu não ficarei. Espero que eles façam direito as contas, porque neste momento o custo político de nos tirar do ar seria muito grande. Cinco milhões de argentinos nos veem todos os domingos. Temos uma audiência média de 20 pontos, um índice que é um delírio para um dominical jornalístico. Nenhum programa que fala de política na Argentina se compara a isso. O governo até mudou o horário do campeonato argentino de futebol, em maio passado, para que as partidas coincidissem com o início do PPT. Com televisores ligados nos jogos, achavam que perderíamos audiência. Nós levamos a melhor. Das vinte vezes em que competimos com o futebol, o placar foi favorável à nossa equipe em quinze.
O governo argumenta que o Grupo Clarín tem o monopólio das comunicações. Essa acusação faz sentido? 
O Clarín não é um monopólio. Tecnicamente, isso só acontece quando um fornecedor controla o mercado de um produto ou serviço. A Argentina tem vários canais de televisão aberta, centenas de jornais, milhares de rádios. Esses meios de comunicação pertencem a diferentes proprietários e há um cenário plural de opiniões.
Os argentinos concordam com as ações governamentais contra o Clarín?
Pesquisas recentes mostram que apenas uma minoria crê nos propósitos declarados das autoridades (de acordo com a consultoria Management & Fit, 30% creem que a lei busca democratizar os meios). A maior parte dos argentinos acredita que os meios de comunicação devem ter o direito de publicar ou transmitir o conteúdo que quiserem sem o controle do governo. É evidente que a Lei de Mídia foi feita contra um grupo em particular, o Clarín. Essa é a única empresa contra a qual o governo briga atualmente. Se a lei fosse aplicada de forma isenta, outros empresários teriam de se adaptar, mas eles não têm sofrido represálias por causa disso. Uma das cláusulas diz que uma empresa que oferece serviços públicos não pode ter um canal. No entanto, a emissora de televisão Telefé é controlada pela Telefónica da Espanha, que por sua vez provê serviços de telecomunicações. Nenhuma pressão foi feita. A desculpa é que a Telefónica argentina não tem nada a ver com a da Espanha. Outro exemplo: o Canal 9 é de um empresário da América Central, o mexicano Ángel González González, que produz novelas. Esse canal ignora a regra segundo a qual uma porcentagem dos programas deve ser produzida localmente. O governo nada faz. Permite que esse canal viole a Lei de Mídia com um monte de enlatados, contanto que exibam programas pró-governo.
O governo até mudou o horário do campeonato argentino de futebol, em maio passado, para que as partidas coincidissem com o início do meu programa. Achavam que perderíamos audiência. Nós levamos a melhor
Qual foi a pior ameaça pessoal que você já recebeu?
Ultimamente, não tenho recebido tantas. Na época em que eu dirigia o jornal Página/12, a redação recebeu cinco ameaças de bomba. O clima agora está mais calmo, mas não pacífico. Em outubro do ano passado, quando viajei à Venezuela para cobrir as eleições, fui acusado pelos chavistas de fazer espionagem. Nosso grupo tinha sete pessoas. Fomos presos e forçados a apagar toda a filmagem que tínhamos feito. Um desastre. Liguei para o embaixador argentino na Venezuela, mas o diplomata não nos ajudou em nada. Ele fez tudo o que era possível para agradar a Hugo Chávez. Só nos liberaram duas horas depois.
O governo argentino ataca jornalistas diretamente? 
Eles hostilizam os profissionais de uma maneira incrível. Se um jornalista menos conhecido descobre irregularidades no governo, geralmente decide não publicá-las. Tem medo da reação. Além disso, poucos querem brigar com o chefe, pois oito em cada dez veículos argentinos são fiéis à Casa Rosada. Essa situação obviamente gera muita autocensura.
Seu programa faz bastante uso do humor. Isso incomoda o governo? 
Claro! Mais até do que as denúncias. Os políticos querem ser respeitados. São muito solenes. Se alguém ri deles, ficam desarmados. Os gregos, com a sátira, faziam humor político. No Brasil, o Pasquim brigava com a ditadura usando o humor. Na minha carreira, sempre fiz isso. Quando dirigi o jornal Página/12, o então presidente Menem nos chamou de “imprensa amarela”. No dia seguinte, o jornal chegou às bancas todo impresso em páginas amarelas. O humor é essencial para nos aproximar dos jovens. Eles começam a assistir ao nosso programa para se divertir, mas acabam ficando e escutando a parte política. Rir é bom.
Como as denúncias chegam a seu programa? 
De todos os lados. Às vezes, até de funcionários do governo. Quanto mais briga interna há na máquina estatal, mais dados ficam disponíveis para os jornalistas. Em geral, nenhuma informação é inocente. Quando alguém me conta algo, é por algum interesse pessoal. Para mim, o que importa é investigar se a denúncia é verdadeira. Não tenho de proteger ninguém. Temos ainda mais denúncias esperando a hora para entrar no programa.
Quais? 
Espere para ver.

Constatacoes de um medico - Milton Simon Pires

AINDA ESTAMOS AQUI, SEUS DESGRAÇADOS

Milton Pires

As 3 frases que um médico brasileiro precisa conhecer para tornar-se chefe de seus colegas no serviço público são: “isso sempre foi assim”, “eu não estava sabendo disso”, e “desde que fique bom pra vocês; por mim tudo bem”. Foi esse tipo de gente que tornou possível o advento de uma aberração como o Programa Mais Médicos. Filiados ao PIP – Partido do Interesse Próprio – mais de uma vez meus chefes garantiram que não tinham qualquer ligação formal com o PT. Acredito piamente no que me disseram! Não tenho qualquer dúvida da sua “independência” e até mesmo aversão ao partido dos petralhas, mas mesmo assim afirmo que são o tipo de gente preferida por esses bandidos para manter a administração pública sob seu controle.
A característica fundamental dos chefes, coordenadores, diretores, gerentes, ou seja lá qual for o nome que tenham essas criaturas que coordenam os serviços públicos brasileiros no governo petista, não é o fanatismo, não é a convicção no socialismo nem a militância política, mas sim a mais completa indiferença, omissão e negligência com o que acontece no seu ambiente de trabalho. Um chefe, para servir ao PT, deve ser alguém completamente “apolítico”...sua integração com os interesses do partido deve dar-se de maneira silenciosa; não ativamente. É calando-se com relação a tudo aquilo que sabe estar errado que esse tipo de mau-caráter sobe na vida chegando aos altos cargos de direção. Sua consciência política é zero! Ele não tem – nem poderia ter – qualquer tipo de opinião a ser defendida perante os seus superiores. Trata-se normalmente de alguém tecnicamente medíocre e moralmente amorfo..de um burocrata que usa frases como “isso chegou até mim”...e “isso veio de cima, infelizmente não posso fazer nada”..
Desde 2003, toda máquina pública brasileira tornou-se refém desse tipo de gente. Nos hospitais brasileiros, mesmo que ocupem os cargos técnicos, essas criaturas curvam-se docilmente às ordens finais da legião de alcoólatras, militantes dos movimentos de minorias e sindicalistas que tem a palavra final em praticamente tudo que vai ser decidido.
Há muitos anos esse processo de aparelhamento vem acontecendo. A tomada de decisões nesse tipo de organograma é feita a partir do conceito de “centralismo democrático”..em outras palavras: uma ordem é dada por alguém que, muitas vezes, sequer é conhecido pelos subordinados e transmitida numa cadeia de hierarquia de forma que só se sabe que “veio de cima”...é a mediocridade, a covardia dos intermediários nesse “telefone sem fio” que garante o cumprimento rigoroso da estratégia do Partido-Religião. O efeito da administração dessa ralé na saúde pública do Brasil está cada vez mais evidente: falta tudo! Desde soro fisiológico até fio de sutura o que se observa dentro dos hospitais é uma carência total no que se refere às mínimas condições de trabalho. Os setores de compras dos hospitais públicos, por exemplo, são administrados (aí sim) por gente de confiança do partido que não saberia a diferença entre um litro de soro fisiológico e um de coca cola. Esse estado caótico de coisas é acompanhado, além do mal-estar, pela sensação terrível de que nada há a ser feito...pela ideia de que “não é culpa de ninguém” e pelo contínuo pavor de ver-se envolvido em sindicância e inquéritos administrativos sem fim...
É fundamental apontar entre os médicos brasileiros a existência de uma classe de canalhas, de um grupo de médicos capazes de fazer qualquer coisa (na prática deixar de fazer) a fim de receber uma “gratificação por cargo de chefia” no contracheque...1500 a 2500 reais por mês são suficientes para que essa ralé esqueça tudo que aprendeu..para que traia tudo que jurou e para que abandone seus colegas de profissão a mercê das patrulhas de “profissionais da saúde” dentro dos hospitais. Verdadeira legião de recalcados, esse último grupo serve para fazer o trabalho sujo do PT....para conduzir abaixo-assinados..para elaborar memorandos e fazer queixas capazes de colocar as notas das avaliações funcionais (dos famosos estágios probatórios) dos seus inimigos políticos em níveis vergonhosos...
Tudo isso que escrevi aqui eu enfrentei, e enfrento até hoje, pessoalmente. Meu caso está longe de ser o único. A guerra que os médicos brasileiros estão enfrentando dentro da administração públicaestá muito longe de ter um fim. Os efeitos todos nós sabemos quais são: tristeza, sensação de impotência, abandono e a já conhecida sensação de que “ser médico não vale à pena”...
Um recado meu e de todos os verdadeiros médicos brasileiros a essa escória que administra a saúde no Brasil: Ainda não desistimos...Ainda estamos aqui, seus desgraçados...

dedicado ao “Dignidade Médica”...rsss..

Porto Alegre, 30 de novembro de 2013

Marco Antonio Villa: "A decada petista e' a decada da falacia" - livro (Revista Epoca)

Marco Antonio Villa: "A década petista é a década da falácia"
Autor de um livro sobre os dez anos do PT no poder, o historiador diz que os êxitos do partido são menores que a propaganda faz crer e que o Brasil é um país de miseráveis
JOSÉ FUCS
Revista Época, 29/11/2013

O historiador Marco Antonio Villa, na sua casa, em São Paulo. “Classe média não mora em favela”


O historiador Marco Antonio Villa, de 58 anos, é uma exceção na academia. Ao contrário da maioria de seus pares nas ciências humanas, Villa é um crítico duro das práticas do PT e dos governos petistas. Em seu novo livro, Década perdida – 10 anos de PT no poder (Editora Record), ele resgata os principais acontecimentos do período e traça um retrato impiedoso dos governos Lula e Dilma. Nesta entrevista a ÉPOCA, Villa critica a gestão econômica do PT e analisa as prisões dos mensaleiros. Ele também critica o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por ter sido contra a abertura de um processo de impeachment contra Lula, em 2005. “Essa é uma dívida histórica que ele tem com o povo brasileiro”, afirma.

ÉPOCA – Em seu livro, o senhor chama os primeiros dez anos do PT no poder, entre 2003 e 2012, de “década perdida”. Por quê?
Marco Antonio Villa – Nesses dez anos, o Brasil perdeu uma oportunidade histórica de dar um grande salto. Não só em termos de crescimento econômico, que foi muito baixo nos governos petistas, como também para enfrentar os graves problemas sociais do país. Pela primeira vez na história, tivemos a chance de combinar uma alta taxa de crescimento com um regime de liberdades democráticas plenas. Até a explosão da crise financeira, no final de 2008, as condições externas eram muito favoráveis. A China crescia dois dígitos por ano. Puxava o preço das commodities e gerava uma renda extra ao país, um dos maiores exportadores mundiais de alimentos e minérios. Em vez de aproveitar o momento, a partir da âncora criada nos anos 1990, com a queda da inflação e a estabilidade fiscal e monetária, o governo abriu o baú da história. Desenterrou velhas leituras econômicas, um keynesianismo cheirando a naftalina, e ideias de presença do Estado na economia cheias de teias de aranha, dos tempos do governo Geisel, nos anos 1980, que tiveram um alto custo para o país. Provavelmente, os primeiros três anos do governo Dilma estarão entre os piores da história econômica brasileira, e a perspectiva de melhora no curto prazo é baixa.
ÉPOCA – Nos dez anos do PT no poder, a renda da população subiu, o emprego aumentou, a classe média se tornou maioria, e a economia teve grandes picos de crescimento no governo Lula. Faz sentido falar em década perdida?
Villa – Os êxitos do PT são bem menores do que se propala por aí. Eles são repetidos de forma tão sistemática e tão eficaz, sem nenhuma resistência da oposição, que acabam por adquirir um manto de verdade. Em 2010, o Brasil cresceu 7,5%, mas a partir de uma base muito baixa. Em 2009, houve uma recessão. Nos outros anos, o crescimento foi relativamente tímido. Em média, o Brasil cresceu menos que a América Latina e os países emergentes nesse período. Os argumentos do governo, de que a classe média se tornou maioria no país, são totalmente falaciosos. Classe média não mora em favela nem ganha dois ou três salários mínimos, ou até menos que isso por mês. Aconteceu é que o PT – como se fosse o Ministério da Verdade do livro 1984, de George Orwell – começou a criar novas categorias econômicas para dar êxito a um governo que é um fracasso. Inventou uma nova classe C, que seria uma outra classe média, diferente da classe média tradicional, e construiu a ideia de que o Brasil é um país de classe média. Não é. É um país de miseráveis.
ÉPOCA – O Bolsa Família não é uma saída para reduzir a miséria no país? Esse crédito não deveria ser dado ao governo petista? 
Villa – Ninguém discorda de que precisa haver programas assistenciais, mas não só para a população não morrer de fome. É preciso criar meios para enfrentar a miséria e a pobreza. Não meios que as petrifiquem, como os programas do PT. O governo gasta 0,5% do PIB com o Bolsa Família, mas não consegue transformar a vida das pessoas. Enquanto isso, metade do país não tem saneamento básico, a situação da infraestrutura é lamentável, e o analfabetismo funcional e real não para de subir.
"O PT estabeleceu uma sólida
aliança entre a base da pirâmide
e o grande capital"
ÉPOCA – No livro, o senhor dedica um bom espaço aos casos de corrupção, em especial ao mensalão, e diz que PT não combateu a corrupção como deveria. Só aconteceu coisa ruim nesses dez anos?
Villa – Como historiador, não tenho culpa de que o volume de casos de corrupção tenha sido o maior da história republicana do Brasil. Nunca antes na história deste país houve tanta corrupção quanto na década petista. Gostaria de que não fosse assim, mas a sucessão de problemas nos ministérios, de desvios de recursos, nos dois governos Lula e no governo Dilma, é um recorde. A década petista é a década do discurso, a década da falácia. Não há realização material. Que grande obra pública foi construída nesses dez anos? Que usina hidrelétrica foi construí­da nesses dez anos? Nenhuma. A transposição do São Francisco, um fracasso. Estradas, fracasso. Ferrovias, fracasso. Portos, fracasso. Aeroportos, fracasso. Há apenas a tentativa de construir alguns estádios de futebol, mas não resolveremos problemas sociais com coliseus do século XXI. O PT é bom no palanque, mas um péssimo gestor da economia.
>> Fernando Gabeira: "O Estado se tornou uma extensão do PT

ÉPOCA – Como o senhor explica, então, os altos índices de popularidade de Dilma nas pesquisas?
Villa – Essas pesquisas não servem para nada. Não permitem a compreensão da realidade, até pela forma como as perguntas são feitas pelos institutos de pesquisa e respondidas pelos entrevistados. As pesquisas dão apenas uma noção de como as pessoas veem o debate político. Mesmo tendo uma parcela considerável dos eleitores, o PT nunca venceu uma eleição presidencial no primeiro turno. Em 2002, quando era oposição, ganhou no segundo turno. Em 2006 e 2010, quando era governo, idem. Em 2010, até uma semana antes do pleito, diziam que Dilma teria 54% dos votos no primeiro turno. Teve 46%. Sempre há uma superavaliação da popularidade do governo. Se os índices de popularidade fossem tão altos, o PT teria ganhado as eleições no primeiro turno, especialmente em 2006 e em 2010. Em 2010, apesar da derrota, a oposição recebeu 44% dos votos no segundo turno.
ÉPOCA – Em sua opinião, o que levou o PT a ganhar três eleições seguidas?
Villa – Com o Bolsa Família e o “Bolsa Empresário”, bancado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o PT estabeleceu uma sólida aliança entre a base da pirâmide e o grande capital. Levando em conta que o Bolsa Família tem 13,5 milhões de famílias cadastradas, e cada família tem, no mínimo, três eleitores – o pai, a mãe e um filho com mais de 16 anos –, só aí são 50 milhões de pessoas, o equivalente a quase um terço do eleitorado. Ao mesmo tempo, o governo se aliou a grandes proprietários de terra, construtoras e aos setores mineral e industrial. O BNDES virou um instrumento de enorme eficácia para fortalecer essa aliança entre o PT e o grande capital. Essas alianças, no topo e na base da pirâmide, alcançaram tal solidez que, hoje, é muito difícil rompê-las. A oposição não consegue entender que essa estrutura precisa ser rompida, mas só pode ser rompida fazendo política. A oposição não sabe fazer política. Quer chegar ao poder sem fazer política. Não por acaso, foi derrotada nas eleições de 2002, 2006, 2010. Ao que tudo indica será derrotada em 2014 de novo.
ÉPOCA – A que o senhor atribui essa fragilidade da oposição?
Villa – De um lado, o PSDB, o principal partido de oposição, não é um partido de fato. Está na oposição, mas não é oposição. É curioso. No populismo, o símbolo maior da oposição era a UDN. Nos tempos mais recentes, o PT. Qualquer oposição age diuturnamente criticando o governo e buscando uma aproximação com a sociedade, pensando sempre na próxima eleição, como fazia o PT no governo Fernando Henrique. O PSDB, não. A impressão é que o PSDB se sente constrangido de ser oposição. Parece que executa essa tarefa com desagrado. A oposição tem de ser agressiva. Quando o governo apresentar seus projetos, a oposição tem de se levantar, falar que tudo aquilo está errado, como a gente vê na Inglaterra, na França, em Portugal, na Espanha, na Alemanha, nos Estados Unidos.
ÉPOCA – No livro, o senhor diz que o ex-presidente Fernando Henrique cometeu um erro grave, ao ser contra o impeachment de Lula em 2005, para investigar sua participação no mensalão. Por quê?
Villa – Para mim, Lula é o réu oculto do mensalão. Ele tinha ciência de tudo aquilo, chegou a ter até dois encontros com Marcos Valério. Pode não ter participado da organização do esquema, mas era o principal favorecido. Na estrutura do PT, o chefe da quadrilha, José Dirceu, não faria aquilo sem a concordância de Lula. Agora, o que fez Fernando Henrique? Saiu dizendo que um processo de impeachment de Lula criaria uma crise institucional, afetaria a economia, o crescimento do país. Essa é uma dívida histórica que ele tem com o povo brasileiro. No momento em que o PT estava nas cordas, em vez de levá-lo a nocaute, como o PT faria se estivesse do outro lado, o que o PSDB fez, por meio de seu principal líder, foi deixar Lula sangrando nas cordas, acreditando que o nocautearia facilmente nas eleições de 2006. A oposição teve medo, e esse medo é que deu combustível para que o PT virasse o jogo, estabelecesse uma aliança sólida com o PMDB e partidos satélites e criasse o novo Lula, no último ano do primeiro governo. Esse novo Lula é produto de uma leitura de conjuntura equivocada e danosa para o futuro do país. E essa leitura foi feita por Fernando Henrique e pelo PSDB.