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sábado, 26 de abril de 2014

Nunca antes no Brasil: a politica e a economia de tempos nao convencionais (1) - Paulo Roberto de Almeida

A economia e a política do Brasil em tempos não convencionais
(nunca antes mesmo...), 1

Paulo Roberto de Almeida
Palestra na UnB: 24/04/2014, 19hs
Em voo, de Bradley a Atlanta, e a Brasília, 17-18/04/2014

Na economia, a herança bendita da agricultura
Meio século atrás, quando se falava que o Brasil era um país essencialmente agrícola, essa era quase que uma expressão de culpa, um pedido de desculpas, era com certo sentimento de vergonha que reconhecíamos essa condição, pois nossa agricultura era extremamente atrasada. Aliás, toda a nossa economia se encontrava numa situação precária, com mais de 60% da população espalhada em zonas rurais dispersas, milhões de Jecas Tatus mal sobrevivendo às endemias, ao paludismo, ao bicho do pé. Na indústria, a crer num panfleto muito popular nessa época, Um Dia na Vida de Brasilino, que ainda pode ser encontrado no site do PCdoB, parece que devíamos tudo o que consumíamos às companhias estrangeiras: da manhã até a noite, Brasilino pagava royalties aos imperialistas, acordando e dormindo com a Light, escovando os dentes com Kolynos, tomando banho com Palmolive ou Lever, fazendo a barba com Williams e Gillette, comendo cereais americanos, comida feita com óleo americano, circulando em carros americanos, consumindo filmes de Hollywood e assim por diante.
Meio século depois, isto é, agora, o único setor verdadeiramente moderno da economia brasileira parece ser a agricultura, exportando milhões de toneladas de todos os tipos de produtos, garantindo o equilíbrio das transações correntes, com seus saldos anuais de dezenas de bilhões de dólares, compensando assim, pelo menos em parte, os crescentes déficits do setor manufatureiro. De fato, os agricultores no Brasil são modernos, conectados permanentemente aos mercados de futuros de Chicago e a outras bolsas de mercadores, para decidir, quase um ano antes o que plantar, quando plantar e, sobretudo, quando vender, no melhor momento dos picos de preços.
Parece que os únicos atrasados no campo, atualmente, são os militantes ignaros do MST, na verdade, quase totalmente urbanos, ou suburbanos, enganados criminosamente, usados como massa de manobra por reacionários de um partido neobolchevique que não tem nenhuma intenção de fazer reforma agrária, pois o que lhe interessa, de verdade, é viver das verbas do governo ou extrair dinheiro dos ONGs estrangeiras ingênuas, que pensam estar financiado um movimento que se preocupa com a justiça social. Não, a última coisa que interessa o MST é a reforma agrária, já que ele é um dos muitos movimentos autoproclamados sociais, que sobrevivem graças às riquezas produzidas pelo capitalismo, e que neste caso se dedica apenas a dificultar a vida do agronegócio, que é, cabe repetir, o único setor verdadeiramente avançado do Brasil atual.
Enfim, em pouco mais de meio século, demos a volta completa, e hoje podemos proclamar com orgulho que o Brasil é um país essencialmente agrícola.


(continua)

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A politica companheira atrasa o Brasil - Fernando Gabeira

Bom dia, Cinderela

Fernando Gabeira
O Estado de S.Paulo, 25 de abril de 2014

As pesquisas eleitorais recentes mostram Dilma Rousseff em queda. Quando se está caindo, a gente normalmente diz opa!. Não creio, porém, que Dilma vá dizer opa! e recuperar o equilíbrio. Além dos problemas de seu governo, ela é mal aconselhada por Lula nos dois temas que polarizam a cena política: Petrobrás e Copa do Mundo.
São cada vez mais claras as evidências de que se perdeu muito dinheiro em Pasadena. Lula, no entanto, não acredita nas evidências, mas nas versões. Se o seu conselho é partir para a ofensiva quando se perdem quase US$ 2 bilhões, a agressividade será redobrada quando a perda for de US$ 4 bilhões e, se for de US$ 6 bilhões, o mais sábio será chegar caindo de porrada nos adversários antes que comecem a reclamar.
Partir para a ofensiva na Copa do Mundo? Não é melhor deixar isso para os atacantes Neymar e Fred? Desde o ano passado ficou claro que muitas pessoas não compartilham o otimismo do governo nem consideram acertada a decisão de hospedar a Copa.
O governo acha que sufoca as evidências. O próximo passo desse voluntarismo é controlar as evidências. O papel do IBGE e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, começa a ser deformado pelo aparelhamento político. Pesquisas que contrariam os números de desemprego são suspensas. E o Ipea foi trabalhar estatísticas para Nicolás Maduro, que acredita ver Hugo Chávez transmutado em passarinho e, com essa tendência ao realismo mágico, deve detestar os números.
Controlar as evidências, determinar as sentenças pela escolha de ministros simpáticos à causa, tudo isso é a expressão de uma vontade autoritária que vê a oposição como vê os números desfavoráveis: algo que deva ser banido do mundo real. A visão de que o País seria melhor sem uma oposição, formada por inimigos da Petrobrás e por gente que torce contra a Copa, empobrece e envenena o debate político.
Desde o mensalão até agora o PT decidiu brigar com os fatos, e isso pode ter tido influência na queda de Dilma nas pesquisas. O partido foi incapaz, embora figuras como Olívio Dutra o tenham feito, de reconhecer seus erros. Está sendo incapaz de admitir os prejuízos que sua política de alianças impôs à Petrobrás ou mesmo que a Copa do Mundo foi pensada num contexto de crescimento e destinava-se a mostrar nossa exuberância econômica e capacidade de organização a todo o planeta. Gilberto Carvalho revelou sua perplexidade: achava que a conquista da Copa seria saudada por todos, mas as pessoas atacaram o governo por causa dela.
Bom dia, Cinderela. O mundo mudou. Dilma e o PT não perceberam, no seu sono, que as condições são outras. Brigar com os fatos num contexto de crescimento econômico deu a Lula a sensação de onipotência, uma crença do tipo "deixa conosco que a gente resolve na conversa". Hoje, em vez de contestar fatos, o PT estigmatiza a oposição como força do atraso. Ele se comporta como se a exclusão dos adversários da cena política e cultural fosse uma bênção para o Brasil. A concepção de aniquilar o outro não é vivida com culpa por certa esquerda, porque ela se move num script histórico que prevê o aniquilamento de uma classe pela outra. O que acabará com os adversários é a inexorável lei da história, eles apenas dão um empurrão.
Sabemos que a verdade é mais nuançada. O governo mantém excelentes relações com o empresariado que financia por meio do BNDES e com os fornecedores de estatais como a Petrobrás. Não se trata de luta de classes, mas de quem está se dando bem com a situação contra quem está ou protestando ou pedindo investigações rigorosas contra a roubalheira, na Petrobrás ou na Copa.
A aliança do governo é aberta a todos os que possam ser controlados, pois o controle é um objetivo permanente. Tudo o que escapa, evidências, vozes dissonantes, estatísticas indesejáveis, tudo é condenado à lata de lixo da História. Felizmente, a História não se faz com líderes que preferem partir para cima a dialogar diante de evidências negativas, tanto na Petrobrás como na Copa ou no mensalão. Nem com partidos incapazes de rever sua tática diante de situações econômicas modificadas.
Dilma, com a queda continuada nas pesquisas, sai da área de conforto e cai no mundo em que os candidatos dependem muito de si próprios e não contam com vitória antecipada pelo peso da máquina. Será a hora de pôr de novo em xeque a onipotente tática de eleger um poste. Nem o poste nem seu inventor hoje conseguem iluminar sequer um pedaço de rua. Estão mergulhados no escuro e comandarão um exército de blogueiros amestrados para nublar as redes sociais. Com a máquina do Estado, o prestígio de Lula, muita grana em propaganda e na própria campanha eleitoral, o governo tem um poderoso aparato para enfrentar a realidade. Mas essa abundância de recursos não basta. Num momento como este no País, será preciso horizonte, olhar um pouco adiante das eleições e estabelecer um debate baseado no respeito às evidências.
Esse é um dos caminhos possíveis para recuperar o interesse pela política. No momento, a resposta ao cinismo é a indiferença com forte tendência ao voto em branco ou nulo. Embora a oposição também seja parte do jogo, a multidão que dá as costas para a escolha de um presidente é uma obra do PT que subiu ao poder, em 2002, prometendo ampliar o interesse nacional pela política, mas conseguiu, na verdade, reduzi-lo dramaticamente. Para quem se importa só com a vitória eleitoral, essa questão da legitimidade não conta. Mas é o tipo de cegueira que nos mantém no atraso político e na ilusão de que adversários são inimigos. O PT comanda um estranho caso de governo cujo discurso nega o próprio slogan: Brasil, um país de todos. De todos os que concordam com a sua política.
Até nas relações exteriores o viés partidário sufocou o nacional, atrelando o País aos vizinhos, alguns com sonhos bolivarianos, e afastando-o dos grandes centros tecnológicos. Contestar esse caminho quase exclusivo é defender interesses americanos; denunciar corrupção na empresa é ser contra a Petrobrás; assim como questionar a Copa é torcer contra o Brasil.
Bom dia, Cinderela, acorde. Em 2014 você pode se afogar nos próprios mitos.
*Fernando Gabeira é jornalista.

Franceses apavorados (como sempre) com o livre comercio: acordo transatlantico - Le Monde

Il pourrait changer la face de l'Europe : le traité transatlantique décodé

Le Monde.fr |  • Mis à jour le  |Par 
Le traité transatlantique TAFTA vise à établir une zone de libre-échange entre l'Union européenne et les Etats-Unis, créant un gigantesque marché de plus de 800 millions de consommateurs.

Négocié dans le plus grand secret par les Américains et les Européens depuis bientôt un an, le traité de libre-échange transatlantique suscite une opposition de plus en plus virulente de la part des ONG et des partis politiques. En France, leFront de gauche a même décidé de placer le combat contre TAFTA au coeur de sa campagne pour les élections européennes en mai, qu’elle entend transformeren référendum pour ou contre le traité. Dans une moindre mesure, les écologistes et le Front national se sont également saisis du dossier, alors que l’UMP, le PS etFrançois Hollande restent très discrets sur le sujet.


De quoi s’agit-il ?

Un accord de libre-échange entre les Etats-Unis et l’Union européenne, préparé depuis une dizaine d’années, et officiellement négocié depuis l’été 2013. Il a pour but de constituer un marché commun de 820 millions de consommateurs, qui représenterait la moitié du PIB mondial et le tiers des échanges commerciaux : pourses défenseurs, il pourrait faire gagner jusqu'à 0,05 points de PIB par an aux économies américaine et européenne, boostant les échanges et les créations d'emplois.
Quatre rounds de négociation rassemblant à chaque fois une centaine de personnes ont déjà eu lieu à Bruxelles et Washington. Les négociations, menées par la Commission européenne de ce côté de l’Atlantique, sont censées aboutir en 2015. Le traité devra alors être validé par les Vingt-Huit Etats-membres de l’Union européenne, puis voté par le Parlement européen.

PTCI, TAFTA ou TTIP ?

Le traité devait originellement s’appeler TAFTA, pour Transatlantic Free Trade Area (zone de libre-échange transatlantique). Il a été depuis rebaptisé TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), car son nom ressemblait trop à celui du traité ACTA, rejeté par le Parlement européen en 2012 à l’issue d’un long combat politique. En français, cela donne PTCI : le « partenariat transatlantique de commerce et d'investissement ». Pour autant, ses adversaires, rassemblés depuis plusieurs mois sous l'étendard #STOPTAFTA, ont décidé de continuer à utiliser son nom original.

Qu’en sait-on exactement ?

Les négociations sur le traité transatlantique se déroulant dans le plus grand secret entre les responsables européens et américains, on en sait peu sur son contenu. Les seules sources à notre disposition sont les documents qui ont fuité sur Internet ou dans la presse depuis un an :
Tout juste sait-on donc que TAFTA/TIPP vise :
  • La suppression des tarifs douaniers
  • L’harmonisation progressive des règlementations de part et d’autre de l’Atlantique
  • La mise en place d’un mécanisme de règlements des différends entre lesentreprises et les Etats

4 affirmations sur TAFTA passées au crible

Pour démêler les mythes de la réalité, Les Décodeurs se sont penchés sur quatre affirmations couramment relayées, par les détracteurs et les promoteurs de TAFTA :

Energia eletrica: o governo joga sujo e age ilegalmente, totalmente contra a lei - Editorial Estadao

A estatização da CCEE

25 de abril de 2014 | 2h 06
Editorial O Estado de S.Paulo
Com certeza vão muito além dos formalmente alegados "motivos pessoais" as razões da demissão de três dos cinco conselheiros da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) no dia seguinte à aprovação, por esse órgão colegiado, da tomada de um empréstimo de R$ 11,2 bilhões para socorrer as distribuidoras. Não é mero acaso o fato de os três conselheiros demissionários serem representantes do setor privado. Os que permanecem no cargo, entre eles o presidente da CCEE, foram indicados pelo governo.
As finanças das distribuidoras foram abaladas pela desastrosa política energética do governo Dilma e agravadas pela falta de chuvas nas principais regiões produtoras. Para evitar uma crise ainda mais grave no setor, já afetado pela baixa capacidade de geração das usinas hidrelétricas, o governo poderia repassar paulatinamente para as tarifas o custo adicional em que incorreram as empresas ou utilizar recursos do Tesouro. A primeira alternativa, porém, seria prejudicial às pretensões eleitorais da presidente; a segunda oneraria os contribuintes e afetaria ainda mais a frágil política fiscal, marcada por mágicas contábeis e números de baixa credibilidade. Acabaria, também, afetando os planos eleitorais de Dilma.
Sem fazer o que deveria ter feito para tentar atenuar os efeitos nocivos de sua política energética, o governo decidiu montar uma operação de socorro financeiro às distribuidoras, endividando fortemente a CCEE. Trata-se de utilização de um órgão colegiado em finalidade não prevista na legislação que o criou nem em seus estatutos originais: uma operação financeira de grande vulto para a qual, por sua própria função, não tem como oferecer garantias - fato que deve ter sido levado na devida conta pelos conselheiros que se demitiram.
Ironicamente, quem propôs a criação da CCEE foi a então ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff - que assina, solitariamente, a exposição de motivos ao então presidente Lula para a edição de medida provisória (MP) instituindo mudanças na comercialização de energia elétrica. Assinada em dezembro de 2003, com o número 144, a MP foi aprovada com alterações pelo Congresso e se tornou a Lei n.º 10.848, de março de 2004.
O texto assinado pela então ministra de Minas e Energia é claro. A CCEE é pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, e entre suas finalidades estão a administração, o registro e a liquidação dos contratos de compra e venda de energia entre geradores e distribuidoras. Não há na MP nem no texto da lei (que, na parte relativa à CCEE, sofreu pouquíssimas mudanças em relação à MP) nenhuma referência a seu papel de tomador de empréstimos ou de emprestador de dinheiro para as empresas que dela fazem parte.
Ao anunciar que, por meio de uma estranha operação de engenharia financeira, a CCEE tomaria empréstimo de R$ 11,2 bilhões para socorrer as distribuidoras - que receberão R$ 4 bilhões do Tesouro, pois estão comprando energia das termoelétricas a um valor maior do que, por imposição do governo, podem cobrar dos consumidores -, as autoridades do setor elétrico e da área econômica imaginaram ter fechado o pacote de socorro para o setor.
Com isso, o plano alardeado pelo governo Dilma de redução de tarifas, além de ter desorganizado o setor, resultará em custos bilionários, que alguns especialistas estimam em R$ 50 bilhões. Por mero interesse eleitoral do governo, esses custos pouco afetarão as contas de luz nos próximos meses, mas implicarão aumentos de tarifas e gastos adicionais do Tesouro nos próximos anos.
A crise política na CCEE é um custo adicional da política energética de Dilma. Estatutariamente, o órgão tem um conselheiro indicado pelo Ministério de Minas e Energia, e que é seu presidente natural; os demais conselheiros são indicados pelas empresas geradoras, pelas distribuidoras, pelas comercializadoras e pelos agentes em conjunto. Permaneceram no cargo o presidente e um conselheiro que já ocupou a presidência em dois mandatos (o que é permitido por lei) - ou seja, também um representante do governo.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Eleicoes 2014: vem ai o guia genial dos povos (e da burguesia)


LULA OUVIU E FICOU MUDO
O Estado de S.Paulo, 16/2/2014

Os atritos na relação de Dilma com os empresários foram responsáveis, na sexta-feira, pelo recuo do usineiro Maurílio Biagi Filho no compromisso verbal assumido com o PT. Recém-filiado ao PR, Biagi anunciou a desistência de ser vice na chapa de Padilha. "É difícil ganhar a eleição em São Paulo com o agronegócio ruim como está", afirmou Biagi. "O problema é causado pela política do governo federal e não adianta mais promessa. O governo tem de propor solução para o setor."

Biagi promoveu um jantar com representantes do agronegócio em sua casa, em Ribeirão Preto, no dia 7. Ali seria dada a largada festiva da campanha de Padilha, ex-ministro da Saúde.

Diante de Lula e do candidato, porém, o clima foi de constrangimento com as críticas.

Um empresário que participou do jantar em Ribeirão Preto conta que assistiu o seguinte monólogo de um representante da indústria de base com o ex-presidente Lula:

"O senhor tem responsabilidade por esta crise pois colocou Dilma na Presidência da República. Esta mulher demonstrou total incompetência e prejudicou praticamente a todos os setores da economia brasileira. Ela quebrou a Petrobras e toda cadeia produtiva sucroenergética e vamos dar o troco nas urnas".

Disse mais: "Nem de energia ela entende, haja vista o colapso iminente em que está colocando todo o sistema elétrico nacional. Para piorar, depois de desmerecer a bioeletricidade, agora sequer haverá bagaço de cana para ajudar, como ocorreu durante o 'apagão' do governo Fernando Henrique".

Para concluir: "Se o senhor tem o prestígio que todos alardeiam, mande esta mulher pro inferno. Ou melhor, mande-a pra Cuba, Venezuela ou Argentina e seja o senhor o candidato nas eleições de outubro. Do contrário, vamos fazer campanha contra todos os candidatos da base de apoio a este que está sendo o pior governo da história do País. Chega!"

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O Brasil como inimigo do Brasil: produtividade e crescimento

Brasil improdutivo

Editorial Folha de S. Paulo, 22/04/2014


Aumento de riqueza gerado por trabalhadores nacionais avança de modo lento; país perde mercado para chineses até na vizinha Argentina

Não faltará quem se agaste, por aqui, com o tom um tanto derrisório da reportagem desta semana na revista britânica "The Economist" sobre a economia do Brasil. Será um erro, daqueles que se explicam quando a paixão turva o raciocínio e a objetividade.
"Você começa a perder tempo no momento em que pisa no Brasil", queixou-se à publicação o empresário texano Blake Watkins, que saiu de Nova York para abrir um restaurante fast food em São Paulo.
Não é preciso deixar de ser patriota para reconhecer que o empresário tem razão. Basta atentar para o trânsito infernal, a morosidade da burocracia, o custo e a qualidade incompatíveis dos serviços --públicos ou privados.
A "Economist" não se limita a juízos de valor, e talvez por isso cause tanto incômodo. O Brasil investe só 2,2% do PIB em infraestrutura, muito abaixo da média de 5,1% no mundo em desenvolvimento. De 278 mil patentes concedidas em 2013 pelos Estados Unidos, meras 254 foram para invenções brasileiras.
No domingo, reportagem desta Folha corroborou o descaso nacional com a inovação, mãe verdadeira do aumento sustentável de produtividade. O Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) consome em média 10 anos e 10 meses para conceder uma patente. No campo das telecomunicações, o prazo médio está em 14 anos e 2 meses.
Entre países desenvolvidos, esse intervalo não ultrapassa três anos: nos EUA são 2 anos e 7 meses; no Japão, 2 anos e 6 meses; na China, 1 ano e 11 meses. Não é difícil compreender por que um empreendedor descartaria o Brasil como opção para sediar um laboratório de desenvolvimento de semicondutores, por exemplo.
A chave do atraso, como aponta com exatidão a revista britânica, está na produtividade.
O produto anual do trabalho de um empregado brasileiro está na casa de US$ 20 mil (calculado pela metodologia de paridade de poder de compra). Nos anos 1960, era da ordem de US$ 15 mil, maior que o obtido por sul-coreanos --os quais, hoje, produzem quase US$ 70 mil. A China, que partiu de patamar muito inferior, já nos alcançou.
Não estranha, assim, que o Brasil esteja perdendo mercado para exportações chinesas até na Argentina, sua grande parceira de Mercosul. Em 2005, a participação brasileira nas importações argentinas estava em 36,5%; no primeiro trimestre de 2014, ficou em 24,8%. No mesmo período, a China saltou de 5,3% para 18,4%.
Indignação, apenas, nada pode contra essas cifras acabrunhadoras. É imperativo convertê-la em brio, algo muito mais produtivo.

Em busca do tempo perdido

Coluna / Vinicius Torres Freire


Patente leva 14 anos para sair; opressão da burocracia merece ser grande tema da eleição

Uma patente demora em média dez anos para sair no Brasil. Deu nesta Folha, no domingo.
O cidadão inventa um troço, processo, planta modificada, videogame, app, ou sabe-se lá, e recebe seu título de proprietário intelectual uma década depois. Se é criador da área de telecomunicações, pode esperar 14 anos.
O que são meros 14 anos? Jacó teve de trabalhar de graça por 14 anos a fim de casar com Raquel. Mas o caso era de um amor daqueles bíblicos, Jacó tinha paciência de Jó e, enfim, isso se passou em um tempo em que, como se sabe, não existiam telecomunicações.
Em 1993, o Cern, o centro de pesquisas europeu onde se inventou a web, tornou a tecnologia disponível, grátis, sem requerer pagamento de royalties, o que desencadeou a massificação da internet. Era uma internet movida a lenha, ligada por meio de chamada telefônica, de conexões e computadores velozes como o governo brasileiro.
Em 2007, 14 anos depois, aparecia o iPhone, por exemplo, internet fácil e outros mil badulaques na palma da mão.
Enquanto isso, em 14 anos, um papel entrava pela porta de uma repartição brasileira e saía pelos fundos, comido pelas traças e comendo a poeira da história tecnológica em revolução.
Proust levou 14 anos para escrever as milhares de páginas de "Em Busca do Tempo Perdido". Enfim, chega de piada.
O Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o INPI, que concede patentes, não tem funcionários bastantes. O salário não atrai os trabalhadores qualificados necessários, pois é menor que o de muito inútil da praça dos Três Poderes e cercanias.
Uma patente sai quatro vezes mais rápido nos EUA. Seis vezes mais rápido na China e na Coreia do Sul.
Estamos acostumados a esse tipo de estatística comparada deprimente. O Brasil é líder em perda de tempo para pagar tributos, tirar mercadoria do porto, preencher papel para exportar ou abrir um negócio etc.
No começo deste mês, Dilma Rousseff disse a empresários do comércio que seu governo está "totalmente comprometido com o processo de desburocratização". É uma frase burocrática: 1) a presidente fala de um "PROCESSO de desburocratização"; 2) o "processo" já leva mais de três anos e nada.
O que há? Em certos serviços, faltam mesmo funcionários (analistas no INPI, auditores fiscais etc.). Mas, em quase 20 anos de governos mais "modernos", não foi possível colocar servidores em lugares certos e encarregar um desses 171 ministérios de limpar a área burocrática?
A lista de perversões, ignorâncias e opressões que explicam a burocracia estúpida não cabe nestas colunas, para nem mencionar a grande burocracia privada que nos inferniza com as teias do 0800. Mas um motivo da paralisia merece menção honrosa: governos sem dinheiro favorecem a opressão burocrática.
Em deficit perigoso, o governante não vai bulir com leis fiscais e com funcionários que coletam o dinheiro escasso, isso quando não incentivam setores mais militantes do fisco a aumentar a barafunda.
Está aí um tema popular de campanha eleitoral e um projeto civilizatório de governo que custa muito pouco além de trabalho e inteligência: dar um jeito na opressão das burocracias públicas e privadas.

O Capital no Seculo 21: entrevista com o autor, Thomas Piketty

Já postei aqui uma resenha crítica de Guy Sorman sobre esse livro que encanta os igualitaristas, mas que deve deixar os economistas liberais (no sentido clássico da palavra) um pouco nervosos, dadas as distorções de ordem política que o livro apresenta.
Segue uma entrevista com o autor publicasa no Le Monde
Paulo Roberto de Almeida 


Thomas Piketty : « Le retour des inégalités inquiète aux Etats-Unis »

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Un mois après sa sortie aux Etats-Unis, le livre de l'économiste français, qui a notamment été reçu à la Maison Blanche, s'est classé mardi en tête des ventes aux Etats-Unis sur Amazon. | AFP/Ivan COURONNE

Un mois après sa sortie aux Etats-Unis, le livre de l'économiste français Thomas Piketty, consacré à la montée des inégalités dans le monde, Capital in the Twenty-First Century (Le Capital au XXIe siècle), s'est classé, mardi 22 avril, en tête des ventes aux Etats-Unis sur le site de distribution en ligne Amazon. Il fait également partie de la liste des meilleures ventes duNew York Times.
Reçu il y a quelques jours à la Maison Blanche et au ministère des finances américain, M. Piketty enchaîne les colloques et les conférences aux Etats-Unis aux côtés de Prix Nobel d'économie afin de dénoncer l'extrême concentration des richesses et plaider pour une plus forte taxation des hauts revenus.
La sortie de votre livre aux Etats-Unis suscite un large débat. Etes-vous surpris par son retentissement ?
C'est vrai qu'on est en train d'atteindre la borne supérieure à laquelle je pouvais m'attendre. En même temps, cela fait longtemps que notre travail, avec Emmanuel Saez, sur les inégalités, suscite beaucoup d'intérêt à chaque publication. Là, la nouveauté, c'est qu'il s'agit d'un travail plus global, il est donc normal que cela retienne plus l'attention. Mais si j'ai écrit une histoire de la dynamique des inégalités c'est pour qu'elle puisse être lue par le plus grand nombre. Je suis surpris du succès, mais en même temps le but était de toucher un maximum de gens.
Est-ce que vous vous attendiez à des critiques aussi élogieuses dans ce pays, et à la limite plus élogieuses que celles que vous avez reçues en France, alors que les Etats-Unis ont plutôt la réputation d'être moins réceptifs au thème de l'inégalité ?
La réalité, c'est que les inégalités ont beaucoup plus augmenté aux Etats-Unis qu'en Europe au cours des trente ou quarante dernières années. De ce point de vue, ce n'est pas étonnant que le problème soit très présent dans le débat américain. Le retour des inégalités inquiète ici.
Mais les Etats-Unis ont toujours une relation beaucoup plus compliquée avec cette problématique que ce que l'on imagine parfois en Europe. C'est un pays qui a une tradition égalitaire très forte, qui s'est construit autour de cette question en opposition à une Europe elle-même confrontées à des inégalités de classe ou patrimoniales. Ensuite, il ne faut pas oublier que ce sont les Etats-Unis qui, il y a un siècle, ont inventé un système de fiscalité progressif sur les revenus justement parce qu'ils avaient peur de devenir aussi inégalitaire que l'Europe.
Par rapport aux tendances longues que vous décrivez dans votre livre, celui-ci aurait pu être écrit il y a cinq ans voire dix ans. Pensez-vous qu'il aurait eu autant de retentissement aux Etats-Unis ? Finalement, n'arrive-t-il pas à un moment propice, au lendemain de la crise financière ?
Ce livre arrive effectivement à un moment où la question est particulièrement prégnante aux Etats-Unis, même s'il reste de difficile de savoir comment il aurait été reçu il y a dix ans. Mais ce dont on parle moins, mais qui me fait autant plaisir, c'est que la traduction en anglais a permis également d'ouvrir le débat au niveau européen.
On doit reconnaître aux Etats-Unis la capacité de s'emparer de débats qui dérangent. En même temps, on n'a pas le sentiment que les politiques publiques sont vraiment prêtes à bouger, même si Barack Obama fait preuve de volontarisme dans son discours. Est-ce que cela veut dire qu'il n'est pas déjà trop tard pour renverser cette tendance aux inégalités et que l'argent influence déjà la politique de manière irréversible ?
Ça, c'est la vision sombre du problème. Je me méfie de ce pessimisme. Toute l'histoire de la répartition des richesses et de l'impôt est pleine de surprises et les choses peuvent évoluer beaucoup plus vite qu'on ne l'aurait imaginé. Aux Etats-Unis en particulier. Qui, il y a un peu plus d'un siècle, aurait dit que l'impôt fédéral sur le revenu serait un jour créé ou qu'on aurait instauré une très forte progressivité à partir des années 1920 ? Pas grand monde, certainement. Pourtant, l'argument était déjà de dire qu'une grande partie de notre processus démocratique était capturé par une minorité. Mais les institutions démocratiques ont fini par répondre à ce constat.
Vous apportez une contribution majeure au débat sur les inégalités. Quelles peuvent être les retombées concrètes en termes de décision politique ?
Ce livre n'est qu'un élément dans un débat plus large qui contribue à s'interroger sur la concentration excessive des revenus et des patrimoines. Maintenant, il faut que les mesures qui pourraient être prises soient renouvelées : l'impôt progressif que j'appelle de mes vœux n'est pas le même que l'impôt sur les revenus ou sur les successions mis en place au XXe siècle. Par exemple, l'impôt sur le patrimoine est à repenser. Mais ce n'est pas un livre qui va changer le cours de l'histoire.
Même si le Prix Nobel d'économie Paul Krugman dit que c'est certainement le plus important de la décennie ? Ça finit par vous gêner, ce concert de louanges ?
Non, ça fait plaisir, même si c'est un peu tôt pour évaluer l'impact de ce livre.
On lit beaucoup moins de critiques virulentes sur votre travail. Comment interprétez-vous ce silence de façade alors que les contempteurs de votre théorie sont sans doute nombreux et ont un accès à la parole publique relativement facile ?
On les entend peu parce que mon livre n'est pas un ouvrage de théorie ou de spéculation. A la fin, je tire des conclusions avec lesquelles on peut ne pas être d'accord, mais la grande majorité du livre est constituée d'exposés sur l'évolution historique des inégalités du patrimoine. Je pense que c'est quelque chose qui n'est pas facile à écarter d'un revers de main. Il s'agit avant tout d'un livre d'histoire qui met sur la table des faits historiques. Après, les gens peuvent en tirer d'autres conclusions pour la suite, mais le constat est difficilement contestable. C'est d'ailleurs l'intérêt du livre de remettre l'histoire au centre d'un débat qui est souvent idéologique.
Pensez-vous qu'aux Etats-Unis le fait d'être Français relativise la portée de votre de travail, la France étant parfois caricaturée sur le plan idéologique ?
Cet argument n'est pas trop utilisé ici. Globalement, je crois que les commentateurs ont compris que je ne suis pas un atroce anti-Américain. Encore une fois ce sont les Etats-Unis qui ont inventé le système de l'impôt progressif sur les revenus et les successions et non pas la France ou l'Allemagne. J'essaye d'en appeler à cette tradition progressiste américaine et je pense que c'est ce message qui passe bien et évite d'être caricaturé comme le Français qui vient donner des leçons aux Etats-Unis.
Certains en France avaient qualifié votre théorie de « marxisme de sous-préfecture ». Maintenant que ce « marxisme de sous-préfecture » rencontre une certaine résonance aux Etats-Unis, qu'avez-vous envie de leur répondre ?
C'est sans doute toujours mieux de lire avant d'écrire. C'est amusant de voir que The Economist ou leFinancial Times se révèlent plus ouverts que certains journaux français. Ce qui me gêne, c'est que, d'une certaine façon, cette anecdote est révélatrice de l'état du débat dans notre pays. Il y a une telle peur du déclassement en France qu'on est en permanence dans un débat électrisé entre des gens de droite qui accusent des gens de gauche de vouloir tuer la compétitivité du pays et qui n'arrivent même plus à lire et à regarder ce que pense l'autre.
Par Stéphane Lauer (New York, correspondant)
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