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domingo, 2 de maio de 2010
O que o Brasil deveria fazer, até 2022, e o que ele poderá fazer, de fato...
Pois bem, o que eu farei, neste post, é comentar alguns trechos do pronunciamento, tal como publicado no post abaixo indicado do Senado, do Ministro Chefa da Secretaria de Assuntos Estratégicos, meu colega diplomata Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
Como já trabalhei no que era então chamado NAE, Núcleo de Assuntos Estratégicos da PR, e conheço, em parte, o Plano 2022, por ter colaborado com o "Brasil 3 Tempos: 2007, 2015, 2022", sinto-me habilitado a comentar o que segue.
Vou apenas selecionar alguns trechos, para comentar. Quem desejar ler a integralidade da matéria, pode clicar no link abaixo.
Economía tendrá que crecer el 7% para reducir distancia a países desarrollados, dice ministro de Asuntos Estratégicos
Agência Senado, 30/04/2010 - 14h00
La economía brasileña tendrá que crecer al menos el 7% al año para promover una “reducción significativa” de la diferencia de renta entre el país y las naciones más desarrolladas, dijo el miércoles (28) el ministro Samuel Pinheiro Guimarães, jefe de la Secretaría de Asuntos Estratégicos. Con el objetivo de garantizar el crecimiento y, a la vez, reducir las emisiones de gases que producen el efecto invernadero, previó, Brasil deberá promover grandes inversiones en infraestructura, sobre todo en la ampliación de ferrovías y vías de transporte fluvial.
PRA: A economia brasileira nunca mais cresceu nesse ritmo desde os anos 1980, ou provavelmente desde os anos 1970, que produziram taxas "asiáticas" de crescimento. Na época, eram os asiáticos que visitavam o Brasil, para conhecer a "receita milagre" que permitia taxas de crescimento de 10% ou mais por ano. Fácil: uma combinação de demanda externa, investimentos estrangeiros e sobretudo investimento nacional, estatal ou privado. Mas era uma época em que o Estado arrecadava menos de 20% do PIB e investia perto de 4 ou 5%, sendo o resto a cargo do setor privado. A economia brasileira cresceu porque o investimento total ultrapassou 20% do PIB, por vezes a 24 ou 25% do PIB. Hoje, ela não alcança 19%, sendo que o Estado investe menos de 1% do PIB, mas arrecada mais de 38% do PIB.
Talvez exista uma relação de causa a efeito nesse quadro, e certamente não se pode esperar crescer muito com um investimento total medíocre, e um investimento estatal (necessário em grandes obras de infra-estrutura, ainda que não seja absolutamente indispensável, pois o dinheiro existe no setor privado também para grandes obras, bastando ter garantias adequadas de retorno) tão pífio como esse, entre 0,5 e 1%.
Se o Sr SAE tiver a receita para crescer a 7% seria interessante conhecer, mas quando ele fala em grandes investimentos em infra-estrutura, talvez esteja pensando exclusiva ou principalmente no setor público. Bem, para isso parece que o Estado vai ter de arrecadar um pouco mais, pois o que tem é insuficiente. Já para abastecer a Petrobras nos projetos megalomaníacos do pré-sal se precisou lançar mão de dívida pública, o que pensar então do resto?
La actual renta per capita brasileña, informó el ministro, es de alrededor de US$ 7 mil – contra US$ 46 mil de Estados Unidos, la mayor economía del planeta. Si la economía brasileña crece el 6% al año hasta 2022, la actual diferencia entre las dos cifras – de US$ 39 mil – sería reducida en sólo US$ 1 mil dentro de 12 años. Para garantizar una mayor reducción de esa diferencia, observó, el crecimiento deberá ser mayor.
PRA: Bem, essa diminuição talvez implique em que os EUA fiquem parados no lugar, e não cresçam mais, o que parece impossível de pedir. Uma economia capitalista como a dos EUA vai continuar crescendo, mesmo se a ritmo moderado. Teríamos então de crescer mais do que ela, talvez o dobro, ou o triplo, como os chineses, para reduzir a diferença.
No ritmo atual de crescimento, a China dobra o seu PIB per capita em 17 anos, ou seja, diminui a distância dos EUA, que dobram o seu em torno de 50 ou 60 anos. Mas o Brasil, com o ritmo de crescimento conhecido nos últimos anos, só consegue dobrar o PIB em mais de 60 anos. Como é que vai ficar, então?
Ainda estamos esperando a fórmula milagre. A dos chineses é muita poupança, muito investimento e inserção na economia internacional.
Qual é a nossa?
–Y hablar de 7% sería extraordinariamente modesto en los tiempos de Juscelino Kubtschek –dijo Guimarães, al contestarle al senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), quien recordó haber sido el ex presidente, en los años 50, un pionero en la planificación del país.
PRA: O presidente JK também foi um pioneiro da atração do capital estrangeiro no Brasil, e como tal execrado pelos nacionalistas e esquerdistas. O fato é que sem o capital estrangeiro o Brasil não teria indústria automobilística, como aliás ainda não tem. Sempre se pode tentar à base de planejamento e sem capital estrangeiro. Não creio que o resultado seria brilhante. A China cresce muito com base em tecnologia estrangeira, que ela copia, por certo, mas que ela admite, sem vergonha e sem restrições mentais. Mas a China talvez seja um país muito neoliberal para o gosto de certas pessoas.
Previsiones
Al esbozar un escenario del mundo en 2022, el ministro previó el fortalecimiento del sistema multipolar –con los principales polos en América del Norte, Europa y China –y el aumento de las diferencias de riqueza y poder entre los países. También proyectó gran aumento en la investigación científica y tecnológica, con “importantes consecuencias sobre toda la economía”.
PRA: Na verdade, as diferenças de riquezas entre os países estão diminuindo, não aumentando, e os únicos que conseguem se distanciar são aqueles -- como na África, na América Latina ou no Oriente Médio -- que recusam a globalização, como assimétrica, perversa, desigual, seja lá o que for, e pretendem crescer à base da "inteligência" nacional e da soberania plena sobre "nossos recursos naturais". Pois é...
Los Estados Unidos, recordó, invierten en investigación alrededor de US$ 400 mil millones anualmente –o el 2,6% de su Producto Interno Bruto (PIB). A la vez, ejemplificó, Brasil invierte lo equivalente a US$ 15 mil millones –o el 1% de su PIB.
PRA: Sim? Que pena a nossa. Mas por que será que não conseguimos atingir aquele patamar? Será por insuficiência de recursos públicos? Deve ser. Então é preciso aumentar a carga tributária. Apenas recordando, a dos EUA flutua em redor de 30% do PIB, a nossa já está em 38% e aumentando...
Al mismo tiempo, dijo Guimarães, contestándole al senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB), Brasil cuenta con “las mejores condiciones para el crecimiento sostenible” entre los llamados “Brics” –o sea, Brasil, Rusia, India y China, considerados los principales países emergentes del mundo. Entre los factores favorables a Brasil, mencionó el hecho de que el país utiliza actualmente sólo el 17% de sus tierras de cultivo. Aún sobre los Brics, el ministro destacó el gran esfuerzo de China en el desarrollo científico y tecnológico, que, en su opinión, “se reflejará en su sistema de producción y en su comercio exterior”.
PRA: Bem, se isso é verdade, deve ser uma injustiça o fato de que o Brasil é o país que menos cresce dentre os Brics. Uma maldição de nossa política econômica neoliberal, talvez. As nossas terras nos salvarão, por certo, isso se o MST não atrapalhar...
Guimarães admitió que Brasil aún posee “grandes disparidades sociales”. Más de 12 millones de familias, recordó, todavía dependen de la ayuda del programa Bolsa Familia. Para el año del bicentenario de la independencia del país, según informó, se están estableciendo objetivos como la erradicación del analfabetismo, la expansión de la educación de tiempo completo y la reducción a la mitad de los niveles de mortalidad infantil.
PRA: Curioso que antes de 2003 não havia 12 milhões de famílias dependendo do BF. Talvez todas elas estavam condenadas à extinção gradual, morrendo de fome sem que a gente sequer percebesse. Que grande tragédia nacional. Aposto que, se continuarem essas políticas, em 2022 teremos, não 12 milhões, mas algo como 30 milhões de famílias dependendo de programas como o BF. Fácil começar, difícil descontinuar, não é mesmo?
Bem, acho que não tenho mais nada a comentar, a não ser o que sempre venho dizendo. O governo é especialista em prometer muito e entregar pouco, em arrecadar muito e investir pouco, em criar um curral eleitoral do qual será dificil se desvencilhar no futuro. Será esta a sua herança maldita...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 2 de maio de 2010)
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Addendum em 4 de maio de 2010:
Recebido de um economista:
"Com um ministro desses, o Brasil não vai chegar muito longe. Ele desconhece até a matemática mais elementar.
Veja: "La actual renta per capita brasileña, informó el ministro, es de alrededor de US$ 7 mil – contra US$ 46 mil de Estados Unidos, la mayor economía del planeta. Si la economía brasileña crece el 6% al año hasta 2022, la actual diferencia entre las dos cifras – de US$ 39 mil – sería reducida en sólo US$ 1 mil dentro de 12 años. Para garantizar una mayor reducción de esa diferencia, observó, el crecimiento deberá ser mayor."
A renda per capita atual utilizada pelo ministro (U$7,000) é resultante da fração entre uma renda total (PIB) de U$1,350 tri e uma população de 193 milhões (dados do IBGE). Pois bem, um crescimento do PIB da ordem de 6% ao ano, durante 12 anos, elevaria o PIB do país para U$2,716 tri (U$1,350x(1,06^12)).
Já a população, em 2022, segundo estimativa do IBGE, será de aproximadamente 209 milhões. Portanto, a renda per capita brasileira, em 2022, seria de aproximadamente U$13,000, caso se confirmem as estimativas de crescimento do ministro para os próximos 12 anos.
Assim, ainda que a renda per capita dos EUA permaneça estagnada no mesmo período (o que, convenhamos, é quase impossível, haja vista a curva de crescimento do último século), a diferença será de aproximadamente U$33,000."
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