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terça-feira, 15 de junho de 2010
Politica Externa do Brasil: pode perder varias, alias...
Por Mary Anastasia O'Grady
The Wall Street Journal, 14/06/2010
O Brasil pode estar ganhando respeito no front econômico, mas quanto à liderança geopolítica, Lula acaba preservando imagem de país ressentido e com complexo de Terceiro Mundo
Provavelmente não demorou muito depois que fomos expulsos do Jardim do Éden para o Brasil começar a sonhar em se tornar um país sério e um protagonista no cenário mundial. Agora, justo quando parecia que o eterno sonho brasileiro iria se tornar realidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está botando tudo a perder.
O Brasil pode estar ganhando algum respeito no front econômico e monetário, mas quando se trata de liderança geopolítica, Lula está fazendo horas extras para preservar a imagem que o país tem de ressentido e sofrer de complexo de Terceiro Mundo.
O exemplo mais recente de como o Brasil ainda não está pronto para ter um lugar de destaque nos círculos internacionais, foi dado na semana passada quando ele votou contra as sanções ao Iraque no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). A Turquia foi a única parceira do Brasil nesse exercício embaraçoso. Mas a Turquia pelo menos pode culpar a complexidade de suas raízes muçulmanas. Lula está prejudicando a reputação do Brasil em nome de sua própria gratificação política.
O Brasil defendeu sua posição na ONU alegando que "as sanções muito provavelmente levarão sofrimento à população do Irã e favorecerão aqueles, nos dois lados, que não querem que o diálogo prevaleça". Não há nada nessa declaração. As sanções não são direcionadas para a população civil, e sim para as ambições nucleares e de proliferação de mísseis do Irã. Quanto ao "diálogo", deveria ser óbvio a esta altura que é preciso um pouco menos de conversa com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Se o Brasil considerava seu voto uma posição de princípios em defesa da justiça, ele logo desistiu disto. Após protestar contra as sanções, ele rapidamente anunciou que vai honrá-las. Isso sugere que o país pode estar tendo um certo reconhecimento da diminuição dos retornos de suas políticas externas lunáticas.
O Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula é de extrema esquerda, mas ninguém deveria confundí-lo com um bolchevique determinado. Ele é apenas um político esperto que saiu das ruas e adora o poder e as limusines. Como o primeiro presidente brasileiro eleito pelo PT, ele vem tendo que contrabalançar as coisas úteis que aprendeu sobre os mercados e as limitações monetárias com a ideologia de suas bases.
Sua resposta a esse dilema tem sido usar seu Ministério das Relações Exteriores ? onde uma burocracia de inclinações esquerdistas é comandada por um intelectual notoriamente antiamericano e anticapitalista, Celso Amorim ? para polir suas credenciais esquerdistas. Com sua amizade com os "não-alinhados" proporcionando um escudo, ele vem conseguindo manter os ideólogos coletivistas fora da economia.
Mas a reputação do Brasil de líder entre as economias emergentes vem sofrendo muito. Para satisfazer a esquerda, Lula vem sendo solicitado a defender e elevar seus heróis, que são alguns dos maiores violadores dos direitos humanos do planeta.
Uma análise de seus dois mandatos presidenciais revela uma tendência de defender déspotas e desrespeitar democratas. O repressivo governo iraniano é apenas o exemplo mais recente. Há também o apoio incondicional de Lula à ditadura de Cuba e ao presidente da Venezuela Hugo Chávez. Em fevereiro, Cuba deixou o dissidente político Orlando Zapata morrer por causa de uma greve de fome, na mesma semana em que Lula chegou à ilha para se confraternizar com os irmãos Castro. Ao ser perguntado pela imprensa sobre Zapata, Lula comparou sua morte a mais uma entre as muitas pessoas que fizeram greve de fome na história e que o mundo ignorou. Ele obviamente nunca ouviu falar do militante irlandês Bobby Sands.
Lula também mantém-se fiel a Chávez, depois dele ter destruído as instituições democráticas de seu país e colaborado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que atuam no tráfico de drogas. Um Brasil adulto teria usado sua influência para liderar um esforço contra esse terrorismo patrocinado pelo Estado. Mas sob a análise dos custos e benefícios políticos de Lula, as vítimas da violência das FARC não têm importância.
Os hondurenhos não se saíram melhores durante a viagem de Lula pelo poder. O Brasil passou boa parte do ano passado tentando forçar Honduras a reempossar o presidente Manuel Zelaya, mesmo tendo ele sido destituído pelo governo civil por violar a constituição. As medidas brasileiras, inclusive abrigar Zelaya na embaixada brasileira por meses, criaram um sofrimento econômico imenso para os hondurenhos.
Na semana passada, a secretária de Estado americana Hillary Clinton pediu a volta de Honduras para a Organização dos Estados Americanos (OEA), observando que o país realizou eleições e voltou à normalidade. O Brasil foi contra. "O retorno de Honduras à OEA deve ser atrelada e meios específicos que garantam a redemocratização e o estabelecimento de direitos fundamentais", disse o vice-ministro das Relações Exteriores do Brasil Antonio de Aguiar Patriota. Uma observação ao Brasil: Está se referindo a Cuba?
O Brasil realiza eleições presidenciais em outubro e embora Lula esteja saindo com elevados níveis de popularidade, isso não é garantia de sucesso para a candidata do PT. Portanto, ele agora está agradando sua base partidária dando as mãos a Ahmadinejad e votando contra o Tio Sam.
Será que isso vai funcionar? Muita coisa vai depender se o número de brasileiros que acham que ele está prejudicando a emergente relevância do Brasil vai superar o número daqueles que apoiam a dança de Lula com os déspotas. Conforme alertou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a política de Lula está fazendo o Brasil "mudar de lado", mas não está nem um pouco claro se os brasileiros concordam com isso.
Mary Anastasia O'Grady é editorialista do Wall Street Journal
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