sábado, 16 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (1): peco desculpas aos meus leitores

Este é um blog dedicado a temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, como explicitado acima, mas também de debate de ideias, se possível inteligentes, em áreas afins a meus campos de pesquisa acadêmica e de trabalho profissional: políticas públicas, desenvolvimento, relações econômicas internacionais e políticas comercial, financeira e tecnológica, de preferência em perspectiva histórica e em escala comparativa, no plano internacional.
Voilà, acho que isso o resume o que sempre fiz e o que sempre procuro fazer neste blog. Minhas preocupações primárias, essenciais, são essas, e o que coloco aqui tem motivações basicamente didáticas, e já explico por que.
Tendo começado na vida acadêmica muito tempo atrás, no século passado, sempre empreguei o essencial de meu tempo livre e de minhas reflexões intelectuais com essa orientação especificamente didática, ou seja, traduzir minhas leituras em linguagem compreensível para alunos de graduação e de pós-graduação.
Sobre isso acrescento minha experiência profissional, na diplomacia, o fato de ter vivido em muitos países, ter viajado intensa e extensivamente, e de ter recolhido, sempre, impressões e informações empiricamente embasadas sobre tudo o que eu vi, tudo o que eu li, tudo a que assisti e registrei nesses anos todos (todos os meus trabalhos, desde o início, estão relacionados em meu site pessoal).

Pois bem, a despeito de todas essas preocupações intelectuais, também sou um cidadão brasileiro e não por ser obrigado a votar nas eleições -- sou contra o voto obrigatório, mas mesmo sendo facultativo eu votaria, em qualquer circunstância -- sou a favor de tomadas de posição, pois é evidente que é o meu destino, o de meus familiares e descendentes que está em jogo a cada escrutínio eleitoral.
Cada eleição é o momento de delegarmos a alguém a faculdade de usar o nosso dinheiro para fazer alguma coisa que reputamos importante, para nós mesmos ou para o Brasil.
Assim, não sou de me eximir em nenhum momento, e o ato de renunciar ao dever eleitoral -- sendo o voto obrigatório ou não -- me parece uma renúncia de escolha, uma indiferença que pode ser fatal, pois, queiramos ou não, nosso dinheiro vai ser usado por políticos para fazer algo de bom ou de menos bom -- talvez até algo de ruim -- no quadro da democracia representativa -- por certo falha -- em que vivemos.

Pensando assim, e pedindo mais uma vez desculpas a meus leitores, por trazer um tema fora do foco deste blog a baila, vou tomar posição.
Não a favor de qualqer um dos candidatos do segundo turno, pois eu não os considero os candidatos ideais, pelo menos não são os que eu escolheria para me representar. Tenho restrições a ambos, mas um dos dois vai "sobreviver", e passar a decidir como gastar o "meu" dinheiro a partir de 1o. de janeiro de 2011.
Sendo assim, prefiro, numa escolha de simples bom-senso, ou de senso comum -- o que não é o meu hábito -- escolher pelo menos ruim, pelo que vai desperdiçar menos o meu dinheiro.
Mas isso não é tudo, e talvez não seja o mais importante. Também entram aqui considerações questões menos prosaicas, que não tem a ver com dinheiro e sim com valores, com princípios, com a tal de ética na vida pessoal.

Como sabem todos os que me lêem, eu tenho alergia à burrice -- alerto imediatamente: não à ignorância, pois todos nascemos igualmente ignorantes, mas alguns, infelizmente, não têm chances de estudar e de se aperfeiçoar --, e me refiro aqui à incultura deliberadamente cultivada, que é aquela escolha por permanecer ignorante mesmo tendo todos os meios à disposição para se informar e esclarecer questões que são importantes para todos nós. A burrice voluntária, se ouso dizer, é algo grave, quando todos os meios existem para alguém se informar e fazer escolhas inteligentes.
Mas, o que mais tenho horror, mesmo, ojeriza, asco, repúdio absoluto, é por desonestidade intelectual, ainda que o adjetivo intelectual não deveria ser aplicado neste caso. Explico. Desonestidade intelectual é quando a pessoa tendo todos os instrumentos à mão para fazer uma escolha racional e para declarar isso de público, prefere recorrer à mentira por escolha política, por vantagens pessoais, por oportunismo profissional, enfim, por uma série de razões que não são confessáveis de público, e que ela justamente procura esconder, pois aquela escolha racional contrariaria, digamos, sua situação pessoal, seu conforto material, suas vantagens financeiras, enfim, tudo, menos o compromisso com a verdade e com a honestidade.

Sendo assim, vou pedir desculpas a meus leitores e proclamar abertamente minhas escolhas, de maneira honesta, objetiva, sincera, como sempre procurei ser neste blog, ou em qualquer outro espaço público que me é oferecido para expressar meu pensamento.

Como também sabem todos os que seguem este blog, grande parte do que vai aqui circulado não é de minha lavra, mas de terceiros: notícias, informações, análises, artigos de opinião, estudos de institições de pesquisa, etc., enfim, tudo aquilo que alimenta minhas reflexões e esparsos comentários precedendo cada um dos posts.
Eventualmente eu também coloco algumas das minhas produções, mas pouco, pois para isso disponho do meu site pessoal, onde informo escrupulosamente tudo o que produzo, e coloco à disposição tudo aquilo que posso (à exclusão, eventualmente, de material copyrigtheado por alguma editora ou revista que exige exclusividade).
Vou também seguir os mesmos procedimentos aqui, ou seja, postar material de fontes diversas, tentando sempre distinguir o que é FATO e o que é OPINIÃO, e encimando, sempre quando possível, de comentários meus sobre o que segue no post, ou seja, tomando partido, cada vez que isso for necessário, em relação ao material divulgado.

Creio que assim estarei sendo honesto, em primeiro lugar comigo mesmo -- já que tenho opiniões e posições um pouco sobre tudo, sem querer parecer pretensioso -- e em segundo lugar com meus leitores, que me honram com suas visitas e comentários (sempre bem-vindos, mesmo alguns malucos e francamente ilisíveis).

Dou início, assim, a uma série de posts -- como sempre irregulares e alternados -- sob essa rubrica geral de "Interrupção eleitoral".
Este é o momento que estamos vivendo, e a escolha que fizermos agora -- AS escolhas, no caso de quem tem de votar para governador, também -- vai influenciar nossas vidas pelo menos pelos próximos quatro anos, e provavelmente mais além, pois ações governamentais possuem o que se chama de "lasting effects", ou seja efeitos prolongados no futuro.

Não vou me eximir, não vou me ausentar, farei o que todo cidadão deve fazer, em sua comunidade, em sua "ágora", em seu país, para fazer da nação (e quem sabe até do mundo) um lugar melhor do que o que recebemos, para que os que vierem atrás de nós não tenham de se bater com os mesmos problemas que enfrentamos hoje: uma nação ainda insuficientemente desenvolvida, um sistema político tremendamente corrupto, ausência de segurança para todos os que saem às ruas das grandes metrópoles (e de outras cidades também), ameaças de desemprego, de inflação, de aumento de tributos, de falhas nos serviços públicos, de péssima qualidade nos sistemas públicos de saúde, de educação, de transportes, os preços absurdos que pagamos para nos alimentar, para nos abrigar, nos comunicar, enfim, tudo isso que vocês reconhecem como problemas reais do Brasil.
Meu esforço de contribuir para uma melhor solução a esses problemas -- não a ideal, por certo, mas uma mais aceitável do que a outra -- vai refletida nos próximos posts.

Espero a indulgência dos que me lêem e paciência dos que não gostam desse tipo de assunto. Mas esses podem simplesmente "skipar" o post, ou até abandonar o blog.
Os que ficarem, e escolherem ler, saberão qual é o meu "partido", qual é a minha escolha. Na verdade, não tenho partido e nunca terei. Não sou de partido, sou apenas eu sózinho e minha consciência (e este computador e a conexão, como intermediários).

Saudações
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 16.10.2010)

Um comentário:

  1. Professor,

    Eu compartilho de suas preocupações com o Brasil, afinal sou patriota (não desses de figado). Mas, devo dizer que a questão religiosa selou a minha escolha nessa eleição.

    Não que eu seja tacanho como muitos irão pensar, mas por que a religião representa o "core" das minhas preferências morais (afinal não fosse assim eu não seguiria uma religião).

    Mas, não é por conta da questão do aborto que a meu ver é mais seara dos congressistas do que dos postulantes ao executivo.

    O que me irritou profundamente foi o uso de crenças que me são caras (posto que são sagradas) de forma desesperada e francamente desrespeitosa.

    A candidata oficialista escolheu fazer uma paródia da minha fé e isso é tão ofensivo a mim, quanto a questão do aborto em si.

    Sei que alguns me tratarão com pechas pouco elogiosas, mas c'est la vie...

    Abs,

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