terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tragedia educacional brasileira (2) - os problemas brasileiros

Na verdade, os problemas da educação no Brasil são muito mais graves do que indica esta matéria. Em todo caso, cabe falar, sempre, da gravidade do problema.
Paulo Roberto de Almeida

Os nós que terão de ser desatados para o país se desenvolver de fato
Paulo de Camargo
O Estado de S.Paulo, 3/10/2010

Pelo menos 75% dos brasileiros não dominam a leitura, a escrita e a matemática; e Brasil sofre com falta de mão de obra qualificada
Para pôr o Brasil num novo patamar de desenvolvimento econômico e social, o presidente eleito terá que desatar os nós que ainda emperram o crescimento sustentado do país. Investir fortemente em educação, saúde e segurança, aprovar reformas essenciais no Congresso e resolver os gargalos na infraestrutura. Os problemas na área social, na economia e na política aparecem em estatísticas e análises de especialistas.

Alguns foram abordados na campanha eleitoral, mas de forma superficial. No governo, o próximo presidente terá que arregaçar as mangas e usar o capital político tirado das urnas, se quiser, de fato, colocar o país definitivamente nos trilhos do desenvolvimento.

Em 2009, segundo o IBGE, 29,3 milhões de brasileiros, ou 20,3% da população, eram analfabetos funcionais. Essas pessoas sabem escrever o próprio nome, mas não conseguem compreender o que leem.

Só 25% dos brasileiros dominam a escrita, a leitura e a matemática para se expressar e entender o que está à sua volta no contexto econômico e tecnológico atual. O dado, do Indicador de Analfabetismo Funcional 2009, produzido pelo Instituto Paulo Montenegro, é esclarecedor para entender os graves problemas de falta de mão de obra qualificada que o país terá de superar na busca pelo crescimento sustentado.

No topo da lista de reclamações da indústria brasileira, a falta de mão de obra qualificada é apontada pelo governo como o principal desafio a ser enfrentado para atender às demandas crescentes da economia.

Ainda de acordo com o IBGE, apenas 37,9% dos jovens, com idade entre 18 e 24 anos, tinham 11 de estudo, em 2009, o que torna difícil o cumprimento da exigência constitucional de ampliação do ensino obrigatório, de nove para 14 anos, a partir de 2016.

- Está claro que o problema da educação no Brasil, principalmente o analfabetismo, tem endereço e confirma a exclusão histórica brasileira. Para levar o país ao mesmo nível de países como Chile e Argentina, é preciso resolver o gargalo do analfabetismo e ampliar o ensino superior.

Na velocidade em que vamos, vai levar muito tempo - afirma o diretor de estudos sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão.

Analfabetismo é face da exclusão

Ele lembra que existem 50 milhões de vagas no ensino médio, o que não é trivial, mas considera ser preciso ampliar a educação básica e melhorar sua qualidade.

O problema mais grave, na visão de Abraão, é o analfabetismo entre adultos: - Significa que determinada faixa etária não teve acesso aos bancos escolares no momento adequado. Isso deveria ser tratado como uma preocupação nacional pelos três níveis de governo.

Outro desafio a ser enfrentado de imediato, na visão do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, é uma reforma administrativa para melhorar os sistemas de governança na educação e em outras áreas básicas, como a saúde.

- Há graves problemas de governança na educação, com uma prestação de serviços muito assimétrica por parte da União, estados e municípios - destaca Barreto.
(Regina Alvarez e Vivian Oswald)

Educação para desenvolver o país

Transformar a profissão de professor em "objeto de desejo" e criar um indicador nacional capaz de medir o número de crianças alfabetizadas até 8 anos são, para Mozart Neves Ramos, conselheiro do Todos Pela Educação, os principais desafios que o próximo presidente terá de enfrentar. Leia entrevista:

- Quais os principais desafios para o próximo presidente?

Temos um déficit de 250 mil professores no ensino médio, área em que o Brasil estagnou nos últimos oito anos. Para mudar, o maior desafio é a valorização do professor. Em países como Coreia e Finlândia, os melhores querem ser professores, porque a carreira é pautada no mérito, a formação é excelente e as condições de trabalho são muito boas. Então, passa a ser objeto de desejo ser professor. É o que precisa acontecer por aqui. Além disso, o governo devia criar um exame que nos dê um indicador nacional do número de crianças alfabetizadas até os 8 anos. O Ideb e a Prova Brasil foram um avanço, mas é preciso mais.

- Como diminuir o analfabetismo funcional?

É preciso que sejam implantadas políticas públicas que possam ir além da educação formal em sala de aula. Bibliotecas promovem conhecimento, mas lan houses também podem ser importantes. Jovens com baixo nível de escolaridade costumam frequentar, o que mostra que a tecnologia chega antes da escolaridade. É preciso alinhar a escola com programas culturais, como cinema, música e teatro. Hoje, 40% dos alunos que deixam a escola, desistem porque estão desmotivados.

- O que é preciso para que mais pessoas tenham acesso à educação?

Entender que a melhor forma de desenvolver o país é a partir da educação, que pode consolidar o desenvolvimento econômico e o social. Um ano a mais de escolaridade impacta em 15% mais de renda. É essa riqueza que tem que ser distribuída.
(O Globo, 3/10)

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3. América Latina define plano para melhorar a educação

Acordo assinado por 22 países do continente prevê nove metas gerais e 27 específicas para 2021, além da criação de um fundo de US$ 5 bilhões
Pela primeira vez na história, 22 países latino-americanos assinaram um pacto em favor da qualidade na educação. O documento Metas 2021 foi firmado no mês passado, em Buenos Aires, por ministros e representantes de ministérios da Educação e será ratificado na cúpula de chefes de Estado em dezembro, na Argentina.

O documento foi costurado durante dois anos pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e prevê 9 metas gerais e 27 específicas, além da dotação de recursos e de um processo permanente de avaliação, que será coordenado pelo México.

Segundo o presidente da OEI, Alvaro Marchesi, os ministros se comprometeram a investir cerca de 10% do total de seu orçamento anual para alcançar as metas conjuntas, o que totalizará US$ 104 bilhões.

O acordo definiu a criação do Fundo Solidário de Coesão, que deve chegar US$ 5 bilhões, destinado a apoiar os países mais carentes. Alimentado por doações voluntárias de governos, empresas e ONGs, o fundo nasce com duas contribuições importantes. O presidente do BBVA, Henrique Iglesias, anunciou US$ 520 milhões - quantia semelhante será doada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

As metas definidas atendem a demandas comuns que afligem os países em diversos níveis: da educação infantil ao ensino superior, passando pela educação profissionalizante e o atendimento a portadores de necessidades especiais. Cada país definirá as estratégias para alcançar as metas, assim como as prioridades de investimento.

Para o secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Brasil, André Lázaro, o plano tem um desenho inteligente e acerta ao respeitar a livre iniciativa dos países, pois está focado em resultados, não em processos. Cada meta possui um indicador almejado. Assim, por exemplo, a terceira meta corresponde ao aumento da oferta de educação infantil.

Os países da região devem elevar até 100% o atendimento educacional de crianças de 3 a 6 anos até 2021. Espera-se também que o porcentual de formandos no ensino médio esteja entre 60% e 90% do total de alunos. Hoje, no Brasil, o índice está em torno de 50%.

Os governos aceitaram ainda elevar o rendimento dos alunos nos exames internacionais, diminuindo em pelo menos 20% a proporção de estudantes situados nos níveis mais baixos de provas como a do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, em inglês).

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